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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Jornalista chinesa que cobriu a epidemia em Wuhan é condenada a prisão

A ex-advogada e jornalista chinesa Zhang Zhan foi condenada a quatro anos de prisão,  após divulgar reportagens nas redes sociais sobre a situação caótica dos hospitais em Wuhan, na China 

Uma jornalista cidadã que cobriu a epidemia de covid-19 em Wuhan foi condenada nesta segunda-feira a quatro anos de prisão, enquanto o governo chinês insiste no sucesso de sua gestão para combater a doença que em um ano se propagou por todo planeta. Zhang Zhan "parecia muito abatida quando a sentença foi anunciada", declarou à AFP um de seus advogados, Ren Quanniu, que expressou "muita preocupação" com o estado psicológico da cliente.

[Na China ocorrem alguns abusos, mas certas definições são claras e devem ser seguidas: Governar é com o Governo: Informar é tarefa da imprensa; comentar fatos, notícias, é função da imprensa, notadamente dos comentaristas. E por aí vai...... Algumas tarefas os chineses não conseguem acertar - uma delas, concluir a FASE 3 dos testes da vacina CoronaVac no Brasil.

Leiam, está  no Correio 'Tudo praticamente normal', diz brasileiro que mora em Wuhan, primeiro epicentro da pandemia de covid-19]

Os jornalistas e diplomatas estrangeiros que compareceram ao tribunal de Xangai em que a ex-advogada de 37 anos foi julgada foram impedidos de entrar na sala de audiências. Alguns simpatizantes de Zhan foram afastados pelas forças de segurança. Zhang Zhan poderia ser condenada a até cinco anos de prisão.

Natural de Xangai, ela viajou em fevereiro a Wuhan, na época o epicentro da epidemia, e divulgou reportagens nas redes sociais, a maioria delas sobre a caótica situação nos hospitais. De acordo com o balanço oficial, a metrópole de 11 milhões de habitantes registrou quase 4.000 mortes por covid-19, ou seja, a maior parte dos 4.634 óbitos contabilizados em toda China entre janeiro e maio.

A resposta inicial da China à epidemia foi muito criticada. Pequim só decretou a quarentena em Wuhan e sua região em 23 de janeiro, apesar da detecção de casos desde o início de dezembro de 2019. Há praticamente um ano, em 31 de dezembro de 2019, o primeiro caso foi comunicado à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Porém, ao mesmo tempo, os médicos que mencionaram o surgimento de um misterioso vírus foram interrogados pela polícia e acusados de "propagar boatos". Um deles, o médico Li Wenliang, morreu vítima da covid-19 no início de fevereiro, o que provocou indignação nas redes sociais.

Êxito "extraordinário"
Zhang foi detida em maio e acusa de "provocar distúrbios", uma terminologia frequentemente utilizada contra os opositores do regime do presidente Xi Jinping.
O tribunal a acusou de ter divulgado informações falsas pela internet, informou à AFP outro advogado de defesa, Zhang Keke. Zhang iniciou uma greve de fome em junho para protestar contra sua detenção, mas foi alimentada à força por uma sonda, segundo os advogados."Quando a vi na semana passada, ela afirmou: 'Se receber uma sentença pesada, vou recusar qualquer alimento até o fim'. Ela acredita que vai morrer na prisão", explicou Zhang Keke.

Nos textos que divulgava na internet, Zhang denunciava o confinamento imposto em Wuhan e mencionou uma "grave violação dos direitos humanos". Outros três jornalistas cidadãos, Chen Qiushi, Fang Bin e Li Zehua, também foram detidos após a cobertura dos eventos. A AFP não conseguiu entrar em contato com seus advogados. O processo de Zhang aconteceu um pouco antes da chegada de uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) a China, em janeiro, para investigar as origens da epidemia.

Os dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) elogiaram, após uma reunião do gabinete político, o que chamaram de êxito "extremamente extraordinário" no combate à pandemia, informou na sexta-feira a agência estatal Xinhua.

O governo chinês frequentemente condena os opositores durante as festas de fim de ano, quando diminui a atenção do resto do mundo.  Nesta segunda-feira também estava prevista a abertura em Shenzhen (sul) do processo de um grupo de ativistas de Hong Kong que foram detidos em agosto, quando tentavam fugir de barco da ex-colônia britânica, rumo a Taiwan.

AFP - Correio Braziliense


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O império dos sem-voto - Revista Oeste

J.R. Guzzo
 
Há cada vez mais pessoas que nunca receberam um único voto na vida, e não têm mandato nenhum, dizendo o que o cidadão deve ou não deve fazer

Nos jogos do campeonato brasileiro de futebol tornou-se praticamente obrigatória a observação de um minuto de silêncio antes de cada partida, em homenagem aos mortos da covid-19. É um hábito mundial; na última rodada da Premier League, por exemplo, houve até música fúnebre, executada por orquestra e dramatizada por soldados com uniforme tipo “guarda real”, em posição de sentido. É uma prova a mais de que governos em geral e o seu exército de burocratas, médicos assustados e um público ansioso por receber ordens de cima transformaram a tragédia trazida pela epidemia numa espécie de ato de heroísmo. Os mortos pela covid, pelo que se pode deduzir, estão valendo mais que os mortos por outras doenças; têm direito a minuto de silencio e banda marcial, enquanto os demais não têm direito a nada além do próprio enterro.

Neste ano de 2020, do dia 1º de janeiro até as 15 horas em ponto do dia 12 de novembro, as doenças cardíacas mataram no Brasil mais de 350.000 pessoas 350.122, para ficar nos números exatos, contra os 160.000 que morreram até agora de covid.  
Não se trata de informação vinda de nenhum desses Condomínios de Administração da Verdade que se multiplicam por aí. 
São os números oficiais do “Cardiômetro” da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que registra em tempo real, segundo a segundo, as mortes causadas por moléstias cardiovasculares no país. 
São cerca de 1.000 mortes por dia, ou uma a cada 90 segundos. É simplesmente o dobro das mortes motivadas por todos os tipos de câncer; nenhuma outra doença mata mais gente, no Brasil ou no mundo.

Você não vai ouvir um minuto de silêncio em homenagem a essas 350.000 vítimas (o total vai bater em quase 400.000 até o fim do ano), nem qualquer outra demonstração de simpatia oficial, particular ou científica. Da mesma forma, não é motivo de nenhum interesse o número de mortos por câncer, por problemas respiratórios ou outras causas. É como se nada disso existisse, ou importasse, ou pudesse merecer algum tipo de consideração. Na cabeça dos que governam os jogos de futebol — e em qualquer outra atividade deste mundo na qual uma autoridade possa mandar hoje em dia só se morre de covid. O resto é o resto. Não faz o menor sentido — mas as sociedades, cada vez mais, estão se acostumando a engolir decisões sem nexo por parte dos que mandam. É covid? Então vale tudo, aceita-se tudo e, mais ainda, se obedece a tudo.

Quem obrigará os brasileiros a tomar uma vacina genérica quando a Pfizer tem a sua?
É assim que muita gente está se acostumando a aceitar comportamentos irracionais, alguns já na fronteira da histeria, que se multiplicam na vida cotidiana. Dias atrás uma médica, de avental branco e tudo, foi vista no elevador de um edifício de consultórios de São Paulo apertando o botão do elevador com o cotovelo. 
 
Rapazes e moças de 25 anos de idade andam de bicicleta, ao ar livre e debaixo do sol do meio-dia, com máscaras último tipo; já se viu gente que, ainda por cima, usa viseira de plástico. Bares e restaurantes (mais um mundo de outros lugares) continuam tirando a temperatura dos clientes que chegam — como se fosse a coisa mais comum desta vida alguém sair de casa para tomar um chopinho com 40 graus de febre. Chegar perto de um outro ser humano é considerado um grave risco. Há pessoas que chamam a si próprias de “vetor” — e por aí vamos.

O governador Doria, com o apoio de seu companheiro de partido Aécio Neves — hoje refugiado na Câmara dos Deputados para escapar de acusações penais por crime de extorsão — quer socar na veia de todo mundo uma substância de origem chinesa que ele (além do laboratório “privado” da China com o qual o governo paulista se associou) define como uma vacina contra o coronavírus — a “vachina. (Aécio e outros deputados propõem, inclusive, punições legais para quem não se vacinar — com essa ou com alguma outra vacina, que eles não dizem qual será.) Nenhum país sério do mundo aceitou até agora esse negócio; no Brasil, inclusive, a Anvisa chegou a suspender (e depois permitiu de novo), os testes que vinham sendo feitos com a vacina chinesa, ou “do Butantã”. Qual é o nexo?

Isso ainda não é o pior. A Pfizer, indústria farmacêutica americana fundada em 1849, presente em 150 países e com indiscutível reputação científica em todo o mundo, acabou de anunciar que obteve êxito na sua vacina que, obviamente, é muito mais respeitada do que a tentativa de um laboratório chinês que nunca foi capaz de produzir com sucesso um único comprimido de Melhoral em toda a sua existência. E agora: vai continuar a guerra para obrigar os brasileiros, por lei, a tomarem a “vachina do governador Doria, ou qualquer vacina genérica, quando a Pfizer tem a sua — e outros laboratórios que desfrutam de imenso prestígio internacional vão pelo mesmo caminho?  
O que vai se fazer com os milhões de doses da droga chinesa a ser fabricada no Instituto Butantã, em São Paulo? Você vai pagar cada centavo disso tudo, é claro — e se, no fim das contas, a vacina Doria-China não rolar?
 
Eis aí, em toda a sua pureza, mais um absurdo dessa covid-19 — como a decisão, tomada pelos gestores da cidade de Los Angeles, de proibir que as pessoas cantem em suas próprias casas na próxima festa de réveillon. (Além do mais, só podem comemorar a passagem do ano durante 2 horas; depois disso, cama.) Aqui, em relação à vacina, temos uma situação de estupidez perfeita. A autoridade pública diz ao cidadão: 
“Você será obrigado a tomar a vacina”. 
O cidadão pergunta: “Qual vacina?” 
A autoridade responde: “Não sei.” 
O Brasil tido como “pensante”, esse Brasil que sabe das coisas melhor do que o Brasil que você vê em sua volta, acha que não há nada demais com isso. 
E daí que o sujeito tenha de tomar uma vacina que não existe? Qual é o problema? 
Está querendo que as pessoas morram? Está sendo “negacionista”?  Votou no Trump?

O debate, em suma, tornou-se não-compreensível dentro das categorias normais da lógica. Esse fenômeno acontece, sem dúvida, na sequência de uma crescente passividade de grande parte da população diante da postura cada vez menos racional, e cada vez mais autoritária, de quem nomeia a si próprio patrulheiro do bem comum e do movimento mundial contra a epidemia. 

A apatia com que se aceita os fatos descritos acima tem sido incentivada de maneira agressiva pelo complexo formado pela mídia, a politicalha, as classes intelectuais e o resto do sopão liberal-democrático-equilibrado-centrista-progressista-europeu-civilizado que sempre sabe o que é melhor para você — muito mais do que você próprio sabe. É tudo o que a vasta multidão de gente que se espalha por aí, com a alma de pequeno ditador, de inspetor de quarteirão e de guarda-da-esquina pediu a Deus e aos Doze Apóstolos.

Como escreve Theodore Dalrymple, articulista da revista inglesa Spiked e colaborador da OESTE, há pelo mundo afora cada vez mais gente obedecendo às ordens de pessoas que não foram eleitas para nada. Há cada vez mais pessoas que nunca receberam um único voto na vida, e não têm mandato nenhum, dizendo o que o cidadão deve ou não deve fazer, o que pode e o que não pode. Estão nas burocracias, nos organismos internacionais, na mídia, nas universidades, nas ONGs e nas fábricas de especialistas-técnicos-cientistas que se multiplicam por aí, e que querem decidir sobre tudo, do aquecimento global à definição do que é um queijo da Serra da Estrela. Estão sempre vigiando você, com um “protocolo” na mão. São, hoje, a pior ameaça à democracia que existe no mundo. Contam, sem dúvida, com o apoio de boa parte do público — são pessoas que querem obedecer, esperam o tempo todo que alguma autoridade (bem ou mal intencionada) lhes diga o que fazer, e se sentem mais confortáveis sempre que topam com uma nova regra para cumprir.

É curioso. Causa grande alarme nas classes intelectuais, nas elites de todas as naturezas e na imprensa em geral o “papel inferior” em que, na sua opinião, a política tradicional e as “instituições” se viram atiradas pelo “populismo” desses últimos tempos. Os políticos eleitos, dizem eles todos, podem ser muito ruins, mas receberam votos para exercer os seus cargos; é melhor conviver com eles do que com a “democracia direta” e “sem intermediários” que vem da multidão irracional e que é defendida pelos “populistas”. Pode ser. Mas o populismo, pelo menos, tem algo a ver com a ideia de povo — é algo popular, digamos assim. E os burocratas que fecham escolas, dizem a que horas você pode voltar para casa e têm direito de vida ou morte sobre o seu emprego foram eleitos por quem?

Leia também o artigo de Brendan O’Neill nesta edição, “A verdadeira resistência”

Revista Oeste - Transcrito em 20 novembro 2020


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A calamidade que mais importa é a do ensino básico na rede pública de educação



O fosso aumenta - J.R. Guzzo



De todas as tragédias trazidas pela covid-19 ao Brasil uma das mais angustiantes é a devastação que a necessidade de combater o vírus está causando nas escolas. Esqueça um pouco a universidade e os colégios particulares; a calamidade que mais importa é a do ensino básico na rede pública de educação. Estudam ali, hoje, cerca de 50 milhões de crianças e adolescentes. Basicamente, não tiveram aulas em 2020 – e estão simplesmente condenados a perder o ano. É claro que os governos sempre podem assinar um papel fazendo todo mundo passar para o ano seguinte do currículo. Mas é impossível ensinar alguém por decreto. O que esses 50 milhões de garotos não aprenderam em 2020 não será mais aprendido; 
a matéria que não foi dada pode ser socada em cima dos alunos, em forma de ensino “condensado”, quando as escolas voltarem a funcionar, mas uma hora perdida é uma hora perdida. Não há como criar o tempo de novo.




Tudo o que esses 50 milhões de jovens não precisam, hoje ou em qualquer época, é perder um ano de escola. São os mais pobres – e, portanto, a imensa maioriae os que mais precisam adquirir conhecimento para ter alguma oportunidade objetiva de levar uma vida melhor que a dos seus pais. Como observou um editorial recente de O Estado de S. Paulo, citando palavras do secretário-geral da ONU, não há nenhuma esperança de se reduzir as desigualdades sociais, econômicas e culturais sem fornecer educação de qualidade aos jovens – é aí que está “o grande equalizador”. 
Não há distribuição de dinheiro, ou de casas, ou de “quotas” capaz de substituir o avanço que a educação pode trazer para a condição social de um ser humano; 
não há “programas sociais”, nem “políticas públicas”, com a potência que uma boa instrução tem para possibilitar o acesso ao trabalho mais bem remunerado, às oportunidades de realização pessoal e ao conjunto de condições que compõem uma existência distante da pobreza.

A perda do ano letivo de 2020 é com certeza uma das piores notícias que a questão social poderia receber no Brasil de hoje. Não há nenhum causador mais efetivo de pobreza, desigualdade, concentração de renda e injustiça do que a falta de instrução que castiga a maioria da população brasileira. Num país em que a atividade econômica está sofrendo como nunca, e continuará a sofrer nos próximos meses, a distância entre os brasileiros vai se tornar maior ainda do que já é. Não apenas os jovens das classes mais modestas sofrem um prejuízo real e imediato. Os alunos das escolas particulares, de um jeito ou de outro, vão acabar aprendendo mais durante este período de desgraça – e o fosso, em vez de diminuir, vai crescer.


Ouve-se falar muito, desde o início da paralisação trazida pela epidemia, da utilização de novos métodos de ensino, baseados no computador, que permitam um ensino a distância mais efetivo; fala-se em “inclusão digital”, “escolas virtuais” e outros portentos. 
Mas isso tudo, na vida real, tem significados diferentes de acordo com o dinheiro que as pessoas têm no bolso
 “ensino remoto” é uma coisa para a moçada que está em escolas particulares onde se cobram mensalidades de R$ 5 mil, ou por aí. Para a massa dos estudantes da rede pública é completamente outra. 
As duas realidades não têm praticamente nada a ver entre si. 
Como ensinar por computador alguém que não tem computador? 
Como dar aulas pela internet onde não há internet? 
De novo: está se falando de 50 milhões de alunos. Não há a menor possibilidade de que seja mantida a distância, já muito grande, que os separa dos que estudam na rede particular. Ela vai ficar muito pior, e a conta vai aparecer no futuro.

J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo



quarta-feira, 15 de julho de 2020

Ora, o impeachment - Nas entrelinhas

“O desgaste de Bolsonaro é mitigado pela estratégia de pôr os militares à frente da Saúde, e responsabilizar o Supremo, os governadores e os prefeitos pelo fracasso na pandemia

Um expressivo grupo de artistas e intelectuais subscreve o pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro encaminhado, ontem, ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entre os quais o cantor e compositor Chico Buarque, o escritor Fernando Morais, as atrizes Lucélia Santos e Dira Paes, o ator Gregório Duvivier, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira e os comentaristas esportivos Juca Kfouri e Walter Casagrande, todos personalidades relevantes da esquerda brasileira. Com 133 páginas, os autores citam ataques contra a imprensa, direcionamento ideológico de recursos no audiovisual, más condutas na área ambiental e atuação falha do governo durante a epidemia da covid-19 como motivos suficientes para caracterizar crime de responsabilidade.

[Apenas lembramos:
- não se trata de estratégia do presidente Bolsonaro apontar governadores e prefeitos, autorizados pelo Supremo, como responsáveis pelo fracasso do combate à pandemia.
Os governadores e prefeitos ansiosos por aparecerem e pelo dinheiro fácil para combater o coronavírus assumiram a linha de frente e o Supremo Tribunal Federal, em decisão colegiada, retirou o presidente da República do comando das ações de combate à covid-19.
É um fato e dele não como escapar. 
- para que um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro comece a tramitar na Câmara dos Deputados é necessário a aprovação prévia do andamento por 342 deputados - com 341 presente sequer se abre a sessão.]

Não é o primeiro nem será o último pedido de impeachment, porque não há a menor possibilidade de Maia acolher a proposta e abrir o processo agora. Houve até um momento em que um amplo conjunto de forças cogitou afastar Bolsonaro da Presidência, diante da agressividade com que atacava os demais poderes e mobilizava seus partidários contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Mas não o suficiente para transformar essa ideia num fato político concreto, não havia nenhuma garantia de que a iniciativa seria uma solução para a crise institucional iminente; pelo contrário, a possibilidade maior era que legitimasse a retórica autoritária e golpista de Bolsonaro e seus partidários.

Em política, entretanto, tudo tem suas consequências. Descolada de uma conjuntura favorável, sem povo na rua, a proposta submete o presidente da Câmara a um desgaste desnecessário, ao engavetar ou arquivar o pedido, e expõe a fraqueza da oposição na Câmara. Além disso, partindo de setores que classificaram o impeachment de Dilma Rousseff como um “golpe de Estado”, deslegitima essa narrativa, porque o reconhece esse instituto como um mecanismo constitucional legítimo para afastar um presidente da República incapaz. Não existe impeachment legítimo de direita ou de esquerda, o crime de responsabilidade tem amplo espectro, e o impeachment é um julgamento político previsto na Constituição.

Para usar uma linguagem futebolística, a oposição perdeu o tempo da bola. Bolsonaro safou-se desse risco quando recuou da escalada contra o Supremo Tribunal Federal (STF). As investigações em curso na Corte sobre as ameaças aos seus ministros e ao próprio tribunal e sobre as fake news chegaram muito perto do gabinete do presidente da República, envolvendo seus familiares, assessores e aliados próximos. A prisão do seu amigo Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa fluminense, teve um efeito catalisador no processo político: Bolsonaro foi obrigado a recuar; ao mesmo tempo, isso desanuviou o cenário adverso nos demais poderes.

Pandemia
Nesse processo, os militares do Palácio do Planalto conseguiram operar uma aliança com os partidos do Centrão, na base do velho toma lá, dá cá, que garantiu a Bolsonaro uma base parlamentar em condições de barrar qualquer proposta de impeachment. Os grandes partidos tradicionais — MDB, DEM e PSDB —, que não haviam aderido ao impeachment, se encarregaram de moderar o debate na Câmara e sepultaram de vez essa possibilidade a curto prazo. A estratégia desses partidos é manter a autonomia do Congresso e conviver com Bolsonaro, aos trancos e barrancos, até as eleições de 2022.


Só há uma variável que pode reacender a chama do impeachment antes disso: a pandemia da covid-19 sair completamente do controle, e o país o país entrar em colapso econômico. [Não esqueçam: a epidemia não vai sair de controle - DEUS é brasileiro e, apesar dos brasileiros, protege o Brasil.
Mas,caso saísse seria por incompetência dos responsáveis pelo combate à covid-19 - que não é, não foi de responsabilidade do presidente.
Ao contrário, ele sempre pugnou por medidas que reduzissem os prejuízos econômicos.] - O Brasil, logo logo, ultrapassará 2 milhões de casos confirmados e 100 mil mortos. A média móvel de mortes continua num patamar acima de mil, e mais de 29 mil infectados por dia. É muita coisa. [lembramos ao ilustre articulista que a imprensa não divulga o número de recuperados - só raramente e sem destaque.
No DF, o número de contaminados atingiu os 70.000, só que o número de recuperados está próximo aos 59.000 = pouco mais de 80% = havendo um saldo próximo aos 14.000 de pessoas ainda doente.
Foi só o número de recuperados em 24 horas superar o de contaminados no mesmo período, aquele número não é mais divulgado.] O relaxamento desordenado e descoordenado da política de distanciamento social ainda pode ser desastroso para os estados onde a epidemia estava entrando em descenso. O Distrito Federal e nove estados apresentaram alta de mortes: PR, RS, SC, MG, GO, MS, RO, TO e CE.

O desgaste de Bolsonaro, porém, está sendo mitigado pela estratégia de pôr os militares à frente do Ministério da Saúde, responsabilizar o Supremo, os governadores e os prefeitos pelo fracasso no combate à pandemia e naturalizar o número de mortes, banalizando o conceito de grupo de risco, idosos e portadores de comorbidades. De certa forma, a polêmica entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e os militares da ativa, liderados pelo ministro da Defesa, general Fernando de Azevedo e Silva, traz no seu bojo essa questão.
O ministro põe o dedo na ferida ao afirmar que a presença de quase três dezenas de oficiais e um general da ativa no comando interino do Ministério da Saúde é uma extravagância administrativa. O uso do termo genocídio pelo ministro, porém, foi um exagero. A dura cobrança de retratação do vice-presidente Hamilton Mourão, ontem, refletiu o estado de ânimo da corporação, mas é chumbo trocado na política. Quem está nela não pode ter canela de vidro.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense



sábado, 6 de junho de 2020

De quem é a culpa na catástrofe da Covid-19 no Brasil? J.R. Guzzo

Gazeta do Povo

Houve até agora muito pouca cobrança – no mundo oficial, entre os “formadores de opinião” e no resto do Brasil que costuma se manifestar a respeito de tudo – sobre as responsabilidades pela catástrofe da Covid-19 no Brasil. Alguém tem alguma culpa nessa tragédia?

Os fatos estão aí, à vista de todos. O número de mortos, segundo os números oficiais, já passou dos 33 mil. A economia do país está em ruinas; as estimativas mais moderadas calculam que o PIB de 2020 vai cair em torno de 7%. As medidas de controle tomadas até agora paralisaram a produção, o trabalho e a vida em sociedade, sem afetar em nada a evolução da doença. Três meses depois de ter começado, a epidemia está matando mais de mil pessoas por dia. O que os responsáveis pela administração pública têm a dizer sobre isso tudo? “Fique em casa”. Só isso e nada mais.

As responsabilidades em torno da Covid-19 estão muito claras: o STF, desde o começo, entregou aos estados e prefeituras a exclusividade na administração da epidemia; 
ninguém, no governo federal ou no Legislativo, tem o direito de mexer uma palha a respeito do assunto. 

O governo pode tirar dinheiro do Tesouro para pagar as despesas que as “autoridades regionais” mandam para cima dele; não há nenhum limite quanto a isso. Mas está proibido de fazer qualquer outra coisa, e se tenta fazer é ignorado, simplesmente, pelos 27 governadores e 5.500 prefeitos do Brasil.

Muito bem: na conta de quem, então, devem ser debitados as mais de 33.000 mortes da epidemia? 

Muito bem: na conta de quem, então, devem ser debitados as mais de 33.000 mortes da epidemia? Se as “autoridades locais”, como decidiu o STF, têm poderes de ditadura para fazer o que lhes dá na telha em relação à doença, também tem de ter a exclusividade nas culpas.

Quem manda e desmanda em relação à epidemia (no Brasil de hoje o cidadão morre de “coronavírus” por decreto do governador) acha que a culpa é da cloroquina, da população que não entende o “distanciamento social”, da falta de patriotismo e sabe lá Deus o que mais – de qualquer um, em suma, salvo deles próprios, que tomam todas as decisões. É óbvio que governadores e prefeitos estão obtendo resultados calamitosos na sua ação de combate ao vírus.

Os seus três meses seguidos de plenos poderes, seus confinamentos e proibições, suas multas e ameaças, suas agressões aos direitos individuais e suas compras sem licitação produziram, até agora, uma montanha de mortos. Talvez seus nomes fiquem na memória da população, quando vierem pedir votos outra vez.

J.R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


sábado, 30 de maio de 2020

Demétrio Magnoli: Substitua-se na bandeira o lema ‘Ordem e Progresso’ por ‘Não repara a bagunça’

Folha de S. Paulo - Uol

Nossa epidemia seguirá crepitando, enquanto o mundo vira uma página

Na bandeira, substitua-se o lema positivista “Ordem e Progresso” por “Não repara a bagunça”, a inevitável saudação brasileira às visitas, escrita assim mesmo, do jeito bagunçado que as pessoas falam. A sugestão irônica, triste e afetuosa, circulava entre nós, nos tempos de faculdade. Hoje, 40 anos depois, a crise do coronavírus revela sua atualidade.

Um presidente negacionista decidiu que a Covid é “uma gripezinha”, recusou-se a organizar o respaldo econômico à emergência sanitária, fechou o Ministério da Saúde, engajou-se em atos de sabotagem das regras de distanciamento social. O STF reagiu transformando o país numa confederação de 27 entidades territoriais mais ou menos independentes. Na ausência de coordenação nacional, governadores, prefeitos e até juízes intrometidos costuraram uma colcha de retalhos de medidas sanitárias incongruentes. A bagunça esvaziou menos as ruas que o sentido das palavras. Do Maranhão ao Ceará, quarentenas parciais ganharam o nome de “lockdown”.

O governo paulista anunciou uma “quarentena inteligente”, confessando involuntariamente que experimentamos dez semanas de quarentena burra. Na etapa da burrice, fechou-se às pressas a economia de centenas de cidades do interior quase livres da epidemia. Na da inteligência, essas áreas serão desconfinadas, justamente na hora da chegada do vírus. A bagunça é, às vezes, cálculo eleitoral. O prefeito paulistano, um administrador que executa antes para depois planejar, o gênio de bloqueios viários e megarrodízios, clamou por um “lockdown” imposto pelo governador, sobre quem recairia o peso do fracasso, antes de girar 180 graus, temendo a paralisação de obras de apelo eleitoral.

Na capital paulista, ninguém pode andar em parques, atividade saudável e segura, mas todos já podem visitar os shoppings. No Rio, cidade que declina sem elegância, as praias continuam proibidas, mas o prefeito puro e santo excetuou as igrejas, permitindo aglomerações nos templos. Há jornalistas que culpam o povo pela dissolução das quarentenas. [o governador Ibaneis, eficiente administrador e governador do DF, foi o primeiro a declarar quarentena meia boca; - agora,  passo a passo, diante do crescimento (INFELIZMENTE) contínuo e crescente da curva que ele prometia achatar antes do final de abril, aderiu à politica do abre tudo combinada com o isolamento vertical (este defendido por Bolsonaro e repudiado pelos 'especialistas' =  e agora começando a ser aceito pelos que foram vítimas sem direito a ser ouvidos.

Comparando: isolamento vertical defendido por Bolsonaro = tudo aberto com restrição aos integrantes dos grupos de risco;
O do Ibaneis e sendo adotado por outros estados =  tudo aberto, mas com restrição aos integrantes dos grupos de risco. 
Exemplo: igrejas abrem a partir de 3 de junho, sendo proibido o ingresso de maiores de 60 anos e outros que integram o grupo de risco.]
Às vezes, a bagunça é método. No estado do Rio, sob um governador-juiz que prega a eliminação extrajudicial de suspeitos, a corrupção adaptou-se celeremente ao cenário epidemiológico. Seguindo a clássica receita de autoajuda dos investidores, de converter crises em oportunidades, firmaram-se contratos fraudulentos para a construção de hospitais de campanha.

Saúde antes de tudo. O extinto Ministério da Saúde, reduzido à condição de acampamento militar, foi colonizado por curandeiros charlatães. Curvado às ordens presidenciais, ele recomenda o uso indiscriminado da cloroquina em pacientes de Covid, contrariando as conclusões de investigações científicas abrangentes. Às vezes, a bagunça é crime. Não damos sopa para o azar. Os países europeus, bagunceiros, só exigem o uso de máscara em lugares fechados. No Brasil, somos ordeiros, rígidos, implacáveis: a Câmara estendeu a obrigação aos espaços abertos. Obedientes, as pessoas percorrem as calçadas com o apetrecho na testa ou no pescoço, manuseando-o irrestritamente, enquanto as máscaras dos motoqueiros se cobrem de películas de fuligem. Fazemos leis para chinês ver.

Nunca relaxamos. O fechamento geral de escolas é medida de eficácia improvável no combate ao coronavírus, concluiu um estudo publicado pela Lancet, revista médica de referência. Na Europa, a reabertura escolar figura entre as medidas pioneiras da flexibilização, pois a longa interrupção atinge devastadoramente famílias e alunos pobres. Mas, por aqui, isso foi relegado ao epílogo do cronograma das autoridades. “Vire-se, povinho!” —eis a mensagem de governantes tementes a Deus ou à “Ciência”.
Nossa epidemia seguirá crepitando, enquanto o mundo vira uma página. Temos tempo para substituir o lema que atravessa a esfera azul celeste da bandeira tão amada. 

Demétrio Magnoli, sociólogo - Folha de S. Paulo



terça-feira, 5 de maio de 2020

Emergência e fricção - Nas entrelinhas


“Bolsonaro agrega à epidemia de coronavírus um ambiente político de conflitos desnecessários e estresse institucional, com crises criadas dentro do governo”


Nunca vivemos, desde a gripe espanhola de 1918, uma emergência sanitária como a que o mundo atravessa. O problema do novo coronavírus é que ainda há mais dúvidas do que certezas em relação à doença, exceto que se propaga muito rapidamente, é letal para um contingente significativo de suas vítimas e não se tem previsão de quando e se teremos uma vacina que o previna, nem um remédio realmente eficaz para combatê-lo. O que tem sido mais eficiente no combate à epidemia é o distanciamento social e um sistema público de saúde robusto, para tratar os casos graves e salvar vidas.

Ninguém estava preparado para enfrentar o coronavírus, essa é a verdade. Mas talvez nenhum outro governante no mundo tenha revelado tanto despreparo para lidar com a situação como o presidente Jair Bolsonaro. Até hoje, não se deu conta de que a volta à normalidade é impossível enquanto o vírus estiver se propagando numa velocidade maior do que a capacidade de atender as pessoas que necessitam de assistência médica, pois isso significa pôr em colapso o sistema de saúde e, consequentemente, toda a economia.

Os números revelados até ontem são eloquentes: 7.321 mortes e 107.780 casos confirmados, dos quais 32.187 em São Paulo, com 2.654 mortes. Com a subnotificação, calcula-se que o número de pessoas contaminadas no país pode se aproximar de 1 milhão. Uma conta simples, usando como base o índice otimista de que 3% necessitarão de internação, projeta uma demanda próxima de 30 mil vagas em leitos hospitalares nos próximos 30 dias. Essa é a bucha na mão de governadores e prefeitos de todo o país. Em Manaus, Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro, já há gente morrendo por falta de vagas nas UTIs, o que pode se reproduzir nos demais estados, a começar por Santa Catarina, a bola da vez.

É inequívoco que o país está sofrendo as consequências do relaxamento da política de distanciamento social, que é estimulado sistematicamente pelo presidente Jair Bolsonaro, com eco no desespero da parcela da população que perdeu suas fontes de renda. Com o agravante de que os R$ 600 aprovados pelo Congresso ainda não chegaram à parcela considerável dos que têm direito ao benefício, por dificuldades operacionais da Caixa Econômica Federal, que centralizou, desnecessariamente, o cadastramento dos beneficiados e a distribuição dos recursos. O desespero nas filas das agências da Caixa revela a outra face do drama humano que estamos vivendo. [o mais grave é que grande parte dos que fizeram o tal cadastramento no primeiro dia, via aplicativo, ainda não receberam e quando consultam o tal sistema, consta apenas: EM ANÁLISE.
As filas são quilométricas, sem espaço para distanciamento social e grande parte sem máscaras - o mais absurdo é o governo do Distrito Federal, que tem a pretensão de multar em R$ 2.000,00, por não uso de máscara,  pessoas que passam a noite em uma fila para tentar receber R$ 600,00.
As máscaras são essenciais, mas, grande parte dos que dormem na fila não tem como comprar e nem tempo para ir buscar o acessório, quando ocorre distribuição grátis.]

Entretanto, o custo econômico do colapso total do sistema de saúde, provocado pela volta atabalhoada às atividades do comércio e dos serviços, seria muito maior do que o da atual política de distanciamento social. Essa dimensão do problema o presidente Bolsonaro não quer aceitar, assim como a bolha de apoiadores fanatizados com a qual interage. Ninguém sabe como sairemos dessa crise. Com certeza, porém, teríamos perspectivas mais otimistas se não houvesse tanta fricção no combate à epidemia, principalmente política. [é preciso que certos deputados e senadores e também partidos políticos e  outras autoridades da República, parem de usar a pandemia para se tornaram protagonistas, ainda que tal posto resulte   da 'desgraça alheia'.]

Protagonismo
Quem mais protagoniza essa fricção é o presidente da República, que parece sabotar os próprios esforços do governo para combater a epidemia e criar um ambiente de cooperação entre os Poderes e demais entes federados, para mitigar seus efeitos econômicos e sociais. [o que dificulta é um entendimento e nos projetos para mitigar os efeitos econômicos e sociais dos entes federados, a União sempre é escalada para ficar com o ônus e os estados e municípios com o bônus.] Até mesmo as relações com os parceiros internacionais, dos quais dependemos para obter mais equipamentos e insumos, notadamente, a China, sofre os efeitos dessa fricção. Na cena internacional, o Brasil voltou a ser um país exótico e, agora, politicamente isolado. A construção de gerações de diplomatas do Itamaraty está sendo implodida pelo chanceler Ernesto Araújo.

Essa fricção agrega à epidemia de coronavírus um ambiente político de conflitos desnecessários e estresse institucional, deteriorado por crises criadas dentro do próprio governo, pelo presidente da República. Ontem, Bolsonaro nomeou a toque de caixa o novo diretor da Polícia Federal, delegado Rolando Alexandre de Souza, que decidiu trocar a chefia da superintendência do Rio de Janeiro. Carlos Henrique Oliveira, atual comandante do estado fluminense, foi convidado para ser o diretor executivo da Polícia Federal, deixando a Superintendência do Rio, cuja direção Bolsonaro sempre quis indicar. Por sua vez, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que autorize novas diligências no inquérito que apura suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.

Relator do caso, cabe ao ministro Celso de Mello autorizar a oitiva de pessoas citadas por Moro em depoimento; a recuperação de áudio ou vídeo que comprove a suposta tentativa de interferência; e a perícia nas informações obtidas a partir do celular de Moro. Dez pessoas do alto escalão do governo serão ouvidas, entre as quais os ministros Luiz Eduardo Ramos (Governo); Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Casa Civil); a deputada Carla Zambelli (PSL-SP); o ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo; e os delegados da PF Ricardo Saadi, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, Alexandre Saraiva, Rodrigo Teixeira e Alexandre Ramagem Rodrigues. O que se investiga? “O eventual patrocínio, direto ou indireto, de interesses privados do Presidente da República perante o Departamento de Polícia Federal, visando ao provimento de cargos em comissão e a exoneração de seus ocupantes”. Mais fricção à vista.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo,jornalista - Correio Braziliense




domingo, 3 de maio de 2020

Brasil não vai tão mal na epidemia - Folha de S. Paulo

 Vinicius Torres Freire 

Dado o tamanho da população, país tem menos mortes que Europa, mas situação desanda

O Brasil não vai tão mal no ranking mundial da pandemia de coronavírus, embora faça força para subir na tabela do morticínio. O horror é grande, mas há piores, quando as comparações são feitas de modo mais preciso. Não se trata de menosprezar as já mais de 6 mil mortes, mas de pensar melhor o ritmo da epidemia e o que se pode fazer a respeito. Quarenta dias depois da décima vítima da Covid-19, o Brasil contava 23,6 mortes por milhão de habitantes. EUA, 66,8. Alemanha: 63,5. Itália: 254. Reino Unido: 298. Espanha: 363. Coreia: 3,6 mortes por milhão. Japão: 1,3. A Europa inteira: 62,4. [O Japão não adotou o isolamento - destaque para que os japoneses usam habitualmente, mesmo antes da Covid-19, máscaras.]

Como é fácil perceber, a comparação pondera o número de mortes pelo tamanho da população. Considera também o número de mortes em estágios similares da epidemia: dias equivalentes depois da décima morte. Um país pode ter mais ou menos mortes apenas porque está no início ou em fase mais tardia do espalhamento da doença. Este exercício é baseado em trabalho de Pedro Hallal, epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas. Hallal também coordena o primeiro estudo brasileiro que tenta estimar a taxa real de infecção por coronavírus no Brasil, por testes em amostras da população. Duas rodadas da pesquisa já foram realizadas no Rio Grande do Sul. O estudo nacional começa na semana que vem.


Hallal vai publicar seu artigo na revista “Ciência e Saúde Coletiva”. Quando terminou seu trabalho, contava com dados relevantes até 9 de abril. As contas feitas por este jornalista consideram as estatísticas publicadas até 1º de maio, sexta-feira passada. O pesquisador prefere utilizar dados de mortes a fim de medir os avanços da epidemia, mesmo assim com ressalvas. O número oficial de casos confirmados, além de subestimar o alcance da doença, são díspares por diferenças internacionais de critérios de contagem.

O número de mortes também pode estar especialmente subestimado no Brasil? Chutemos que sim. Suponha-se que seja 40% maior _seria o caso se colocássemos todas as mortes por SRAG na conta da Covid-19 (SRAG: Síndrome Respiratória Aguda Grave). Ainda assim, o número relativo de mortes no Brasil seria inferior aos de Europa, EUA ou Canadá.

Na América Latina, a epidemia não está em fase tão avançada quanto noPeruNo trigésimo dia, o número de mortes por milhão de habitantes era similar ao de México e Chile e metade do que se registrava no Peru. Mas era o triplo da taxa argentina e pouco mais que o dobro da colombiana. “Os resultados brasileiros são consistentemente melhores do que os da maioria dos países europeus e consistentemente piores do que a maioria dos países asiáticos”, afirma Hallal.

Foram relativamente melhores em especial pela adoção precoce do distanciamento social, afirma o pesquisador. Ter um SUS também ajuda muito. A evolução do número relativo de mortes no Brasil ainda foi mais lenta do que na Europa do 30º para o 40º dia da epidemia (o Brasil está hoje no 44º), similar à de França e Itália, bem melhor que no Reino Unido e bem pior que nos EUA, na Alemanha e na Espanha.

Nos últimos dez dias, o ritmo do número total de mortes parou de desacelerar, porém. O presidente da República sabota o distanciamento social e a política anti-Covid em geral. Brasileirices fúnebres, aquelas que nos fazem ter as mais altas taxas de morte no trânsito, por exemplo, parecem se expressar também na avacalhação do isolamento, que tem diminuído e é objeto de campanha de ignorância necrófila, vide as carreatas da morte.


 Vinicius Torres Freire, colunista - Folha de S. Paulo/UOL



quinta-feira, 30 de abril de 2020

Dos meios e dos fins - Nas entrelinhas


“No Estado de direito democrático, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) não se discute, cumpre-se. Quando isso não acontece, é um mau agouro


O presidente Jair Bolsonaro vive num mundo só dele, que não é bem o país que governa. É difícil fechar um diagnóstico sobre as razões, mas é possível identificar os sintomas de que idealizou uma agenda, um governo e um Estado centralizador e agora se vê diante de uma realidade muito diferente daquela que imaginava. Primeiro, a agenda do país não é a sua, focada nos costumes e nos interesses imediatos de sua base eleitoral. [a agenda que o presidente Bolsonaro tentou seguir e não permitiram, é compatível com o desejo de quase 60.000.000 de eleitores.] Já lidava com dificuldades na economia quando a pandemia de coronavírus virou tudo de pernas para o ar.

Todas as suas prioridades foram alteradas. Ninguém sabe exatamente quando e como voltaremos à normalidade, mas sua insistência em antecipar esse processo de retomada da economia, num momento de aceleração da epidemia, vem se revelando um desastre do ponto de vista da saúde pública. É como aquele sujeito que erra de conceito: seus bons atributos, como iniciativa, coragem, combatividade, criatividade, força etc. só servem para aumentar o tamanho do desastre. A agenda do país é epidemia, epidemia e epidemia, pelo menos nas próximas duas semanas.

Também idealizou um governo no qual seu poder seria absoluto, como vértice do sistema. Está descobrindo que não é assim que funciona. Na democracia, há uma tensão permanente entre os que governam e a burocracia de carreira, responsável pela legitimidade dos meios empregados na ação político-administrativa. A ética das convicções, que motiva os políticos, não basta; ela é limitada pela máquina do governo, que foi organizada, treinada e instrumentalizada para observar as leis antes de agir, ou seja, zelar pela ética da responsabilidade. Bolsonaro não consegue lidar com isso. Em todas as frentes, tenta atropelar, substituir ou desmoralizar os que não aceitam decisões que são equivocadas tecnicamente e/ou contrariam a boa política e o interesse público.

Bolsonaro também tem dificuldade de lidar com os mecanismos de freios e contrapesos do Estado democrático de direito. Ontem, levou uma invertida do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que sustou a nomeação do novo-diretor da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, por desvio de finalidade. Diante da decisão, revogou a nomeação para mantê-lo à frente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o que gerou uma situação de perda de objeto da ação do mandado de segurança acolhido por Moraes. Foi por essa razão que a Advocacia-geral da União desistiu de recorrer ao plenário do Supremo.
[O ato que nomeava André Mendonça e Alexandre Ramagem, foi suspenso na parte que cuidava da nomeação do Ramagem por ato do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Na sequência, o presidente Bolsonaro torna sem efeito, via decreto, a nomeação de Ramagem e com isso a ação no STF perde o objeto.
Pergunta que não quer calar: o que impede agora que Alexandre Ramagem seja nomeado, via Decreto, para o cargo de Diretor-Geral da PF?]

Mesmo assim, Bolsonaro não caiu na real de que a Polícia Federal (PF) é técnica e judiciária, em cujas investigações não pode interferir. Ontem, após a decisão do ministro do STF, mesmo assim, Bolsonaro disse que pretende recorrer da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e voltar a nomear Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. “Eu quero o Ramagem lá. É uma ingerência, né? Vamos fazer tudo para o Ramagem. Se não for, vai chegar a hora dele, e vamos colocar outra pessoa”, declarou. Questionado sobre o posicionamento da AGU, disse que recorrer é um “dever do órgão”. E disparou: “Quem manda sou eu”. Se isso ocorrer, é muito provável que haja uma decisão unânime do STF contra a nomeação.

Recado claro
O que houve, ontem, foi um recado do Supremo Tribunal Federal (STF) de que o sistema de freios e contrapesos da Constituição de 1988 está funcionando e que o Supremo ainda exerce o papel de Poder Moderador, em decorrência do fato de que cabe àquela Corte dar a palavra final em matéria constitucional. Como o STF é um poder desarmado, Bolsonaro provavelmente não se conforma muito com isso. Afinal, historicamente, esse papel foi exercido pelos militares, tanto na República Velha quanto na Segunda República. E seu governo tem mais generais do que qualquer outro no primeiro e no segundo escalões, mesmo comparado aos do regime militar. Quando diz que ainda vai nomear o Ramagem para o cargo de diretor-geral, Bolsonaro desnuda sua inconformidade, nos dois sentidos.


No Estado de direito democrático, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) não se discute, cumpre-se. Quando isso não acontece, é um mau agouro. No governo Castello Branco, ou seja, após o golpe militar de 1964, o primeiro conflito sério com o Supremo ocorreu em 19 de abril de 1965. A Corte concedeu um pedido de habeas corpus impetrado pelo famoso jurista Sobral Pinto, católico e liberal, em favor do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, que estava preso na ilha de Fernando de Noronha, na costa daquele estado, desde a deposição do presidente João Goulart. Dias antes, o coronel Ferdinando de Carvalho, já prevendo a decisão, havia transferido o político pernambucano para a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói (RJ).

O chefe do estado-maior do Exército, general Édson de Figueiredo, recusou-se a cumprir a decisão. O presidente do STF não teve outra alternativa a não ser mandar prendê-lo, o que provocou uma crise, somente debelada devido à intervenção pessoal de Castello, que chamou o magistrado e o general para uma conversa a três. Nesse meio tempo, um grupo de militares da chamada “linha-dura”, liderado pelo coronel Osneli Martinelli, sequestrou Arraes e levou-o para um quartel da Polícia do Exército. Foi preciso que Castello interviesse novamente, mandando soltá-lo. Arraes, que não era bobo, vendo que havia em marcha um golpe dentro do golpe, liderado pelo ministro da Guerra, o general Costa e Silva, tratou de pedir asilo na embaixada da Argélia. Era o começo de um processo que desaguou no Ato Institucional No. 5, em 13 de dezembro de 1968, mas isso isso já é outra história.


Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


sábado, 18 de abril de 2020

Financiar e evitar o pior – Opinião - O Estado de S. Paulo

É preciso continuar olhando também as empresas menores e as famílias pobres

Bancos devem lançar nos próximos dias um novo pacote de financiamento, estimado inicialmente em cerca de R$ 50 bilhões. Depois de recusar apoio a micro, pequenas e médias empresas no começo da crise, o setor financeiro poderá entrar para valer no esforço para impedir uma devastação dos negócios. “Nenhum banco tem interesse em que uma empresa quebre. É o pior cenário”, disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, numa entrevista da série Economia na Quarentena, promovida pelo Estado. 

De fato, é o pior cenário, mas os dirigentes do setor bancário nem sempre têm agido segundo esse ponto de vista. Neste momento as palavras do entrevistado são especialmente oportunas. Hoje é preciso enfrentar ao mesmo tempo uma epidemia de alta letalidade e desafios econômicos muito diferentes daqueles da crise financeira de 2008-2009. Nenhuma família pode julgar-se perfeitamente segura em relação ao novo coronavírus. Da mesma forma, nenhuma empresa – ou setor de negócios – pode considerar-se imune aos efeitos da retração no mercado interno e nos mercados globais.

Qualquer ação para atenuar os danos da recessão tem duplo valor. Serve como socorro aos atingidos e, ao mesmo tempo, tem um sentido preventivo. Sem ser exatamente igual, assemelha-se ao esforço para achatar a curva de progressão da covid-19. Trata-se de evitar o risco de uma quebradeira descontrolada. Materializado esse risco, todos serão afetados. Mesmo os maiores grupos, incluídos os financeiros, pagarão pelo desastre. Na melhor hipótese, serão forçados a operar por longo tempo em ambiente de retração muito severa, e, portanto, com oportunidades bem menores de lucro.  Pelo menos inicialmente, segundo o Estadão/Broadcast, o novo programa será executado por um grupo de grandes instituiçõesBanco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander lideradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Também se considerava, nos últimos dias, a participação de algumas instituições menores. O pacote foi concebido para aliviar prioritariamente alguns dos setores mais afetados pela crise. O dinheiro deve ser dirigido em primeiro lugar a empresas de energia, de transporte aéreo e do setor automotivo. Também se considera a oferta de recursos a firmas do varejo, excetuadas aquelas, como farmácias e supermercados, autorizadas a funcionar com portas abertas durante o período de isolamento social.

Parte das empresas, com faturamento anual de até R$ 10 milhões, foi contemplada com um pacote de R$ 40 bilhões elaborado pelo governo. Não está claro, ainda, se esse crédito especial proporcionou alívio suficiente ao enorme número de empresas com menor fôlego financeiro. A maioria das firmas, segundo levantamento divulgado nos primeiros dias da crise, mal teria caixa para aguentar um mês sem receita.

Bem visíveis no dia a dia da maior parte das pessoas, essas empresas modestas – oficinas, lojas, quitandas, consultórios, açougues, mercadinhos, escritórios e pequenas indústrias – são as maiores geradoras de emprego e de sustento para as famílias brasileiras. Têm visibilidade muito menor, no entanto, quando a economia é contemplada através das lentes do mercado de capitais e do sistema financeiro. No primeiro ano do atual governo esse mundo ficou fora do foco da política econômica. Foi notado quando se reconheceu a gravidade da crise e o pessoal do Ministério da Economia se dispôs a olhar os detalhes do Brasil real. Também foi preciso, nesse momento, incluir nas preocupações o drama dos trabalhadores de baixa renda, formais e informais.


Com o novo pacote, inicialmente estimado em cerca de R$ 50 bilhões, grandes empresas, muito importantes para a vida nacional, poderão sair do sufoco. Mas será preciso continuar olhando, até com maior atenção, as condições das empresas menores e das famílias mais vulneráveis. Não basta proporcionar socorro por um trimestre ou pouco mais, mesmo na hipótese de alguma retomada a partir de julho. A reação poderá ser lenta e difícil e com risco de recaída.

Opinião -  O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Hamburgo, 1892 - No século 19, negacionismo dos notáveis de Hamburgo durou pouco, até elite ser vítima da doença - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

O andar de cima sabia mais, e assim a cólera matou 10.000 pessoas na última epidemia do bacilo na Europa


No século 19, negacionismo dos notáveis de Hamburgo durou pouco, até elite ser vítima da doença     

Há os conservadores e há os atrasados, mas os comerciantes e banqueiros de Hamburgo achavam que eram conservadores iluminados, mas eram também atrasados. Em agosto de 1892, a cidade era administrada pela plutocracia local. Tinha o maior porto da Alemanha e macaqueava os ingleses. Morreu gente nos bairros pobres, mas não podia ser cólera, pois essa peste já teria sido controlada na Europa. 

A cidade tinha lindos prédios, mas não havia começado a obra para tratar sua água. Em 1871 seus notáveis haviam recusado a obrigatoriedade da vacina contra a varíola, porque ofenderia o direito das pessoas. (33 anos depois, Rui Barbosa usou o mesmo argumento, estimulando a rebelião de alguns militares e a maior revolta popular do Rio de Janeiro.) Tudo em nome dos princípios do liberalismo político e econômico que administrava a cidade.

Os plutocratas de Hamburgo acreditavam que a cólera disseminava-se por miasmas do ambiente, mais perigosos nos bairros de gente pobre e suja. Nove anos antes, o médico Robert Koch havia demonstrado que a cólera era transmitida por um bacilo e circulava com a água. Como eles acreditavam nos vapores, recusaram-se até a endossar a obrigatoriedade de fervê-la. (Em 1904, quando Oswaldo Cruz fumegava as casas do Rio para matar o mosquito da febre amarela, vários médicos ilustres insistiam na teoria do miasma.)

Até o verão de 1892 os plutocratas de Hamburgo entendiam que tudo dependia da higiene individual. O negacionismo dos notáveis durou pouco, até que começou a morrer gente no andar de cima. A imprensa havia evitado o assunto e a imediata instituição de uma quarentena foi descartada, pois prejudicaria os negócios. Quando as ruas estavam tomadas por cadáveres, o governo de Berlim mandou Robert Koch a Hamburgo e ele contou: “Senhores, eu esqueci que estava na Europa”. Oito anos antes, Nápoles, velha cidade insalubre com seu porto, havia derrubado a cólera com uma quarentena.

Uma médica americana que estava em Hamburgo escreveria: “Treze epidemias leves não haviam conseguido mostrar aos governantes da cidade que deveriam botar a casa em ordem.” A história dessa epidemia, com dez mil mortos, foi contada pelo historiador inglês Richard Evans (“Death in Hamburg: Society and Politics in the Cholera Years, 1830–1910.” De 1988, infelizmente só existe em papel.)

Sir Richard evitou atribuir o desastre a um mero interesse econômico. Ele foi mais fundo, mostrando que as opiniões dos médicos não são autônomas, mas têm raízes e funções sociais. Os donos das teorias do miasma eram médicos, como o doutor Osmar Terra. Aos 72 anos, numa entrevista ao repórter Isaac Chotiner, Evans rebarbou a teoria segundo a qual ditaduras e democracias lidam com epidemias de maneiras diferentes.

“[Epidemias] exigem grandes intervenções dos governos. Seja qual for a sua forma, seja qual for o tipo do Estado ou o partido que está no poder. De certa maneira, é a epidemia quem dá as cartas.”  Hoje, na praça em frente à Bolsa e à prefeitura de Hamburgo, um monumento lembra os mortos da epidemia de cólera. Ele foi esculpido em 1896. Oito anos depois, no Brasil, ainda se falava em miasma. O presidente Rodrigues Alves e o médico Oswaldo Cruz tiveram que enfrentar uma revolta contra a vacina obrigatória. Grande presidente, esse Rodrigues Alves.

Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista