Vacina contra a Covid deveria
ser uma opção livre, mas se transformou numa questão puramente política;
guerra declarada de Bolsonaro é incompreensível
De todas as violências feitas por governos, organizações privadas e outras aglomerações sociais contra a liberdade, talvez nenhuma se iguale em matéria de sordidez à militância pró-vacina obrigatória. É fascismo em seu estado mais puro – na verdade, é alguma coisa pior,
pois nem o regime fascista mais alucinado jamais pensou em obrigar as
pessoas, incluindo crianças de três anos, a se vacinarem contra o que
quer que seja. É falsa ciência, no sentido de que sustenta, como fato
provado, a existência de efeitos imunizantes que ainda se encontram em
observação por parte dos fabricantes e da comunidade científica. É,
enfim, uma violação grosseira de um dos mais elementares direitos
universais – aquele segundo o qual nenhum cidadão é obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa a não ser em virtude da lei.
É falso que “o direito de todos” deve
prevalecer sobre o direito do indivíduo, como prevê a legislação – por
este raciocínio, o direito à saúde, ou a não ser contaminado, seria
maior que o direito de não se vacinar. Isso poderia valer se a vacina
contra a Covid efetivamente impedisse a contaminação. Mas ninguém pode garantir isso, a começar pela indústria farmacêutica – tanto que o Brasil
já aplicou mais de 300 milhões de doses e rola por aí, à toda, uma
“terceira onda”, como haverá, no futuro, uma quarta, quinta ou trigésima
primeira. [comentando: somos decididamente favoráveis às vacinas, tanto que já tomamos a dose de reforço e estamos no aguardo do reforço do reforço. Destacamos que somos contrários a obrigatoriedade da vacina - se todos, ou a imensa maioria, querem a vacina,qual a razão de impor obrigatoriedade.
Nosso presidente é um ser humano, portanto, passível de errar, e nessa guerra contra a vacina erra feio.
Temos admiração pela Anvisa,mas cabe um reparo a sua conduta recente, adequada a uma busca por protagonismo e caindo na vala comum, dos inimigos do presidente = inimigos do Brasil, qual seja a de críticas desnecessárias.
Se a Anvisa liberou o uso do imunizante para crianças, qual a razão dos responsáveis procurarem ficar ocultos, no anonimato = como ficam a transparência e a publicidade? essenciais no serviço público?
Ao ensejo, lembramos ao excelentíssimo contra-almirante, oficial-general, duas estrelas, da Marinha, que na condição de presidente da Anvisa, com mandato, ele não é subordinado ao presidente da República.
Mas, sendo oficial da reserva, permanece sua subordinação ao presidente da República, o que torna oportuno evitar que suas entrevistas sejam maximizadas pela mídia militante e transformadas em showmícios contra o seu comandante supremo - acreditamos que o atual presidente da Anvisa não tem ambições políticas para a próxima eleição..]
É, também, uma agressão direta ao preceito de que
cabe ao médico, e só a ele, o direito de receitar medicamentos para os
seus clientes – da mesma forma que só o médico pode indicar uma
cirurgia, um tratamento de quimioterapia ou qualquer outro cuidado com a
saúde.
Não é um ministrinho do Turismo da Austrália, ou um governadorzinho qualquer, desses 27 que há por aí, que podem ir injetando substâncias farmacêuticas no seu organismo,
não é mesmo? É mentira, enfim, que a vacina contra a Covid seja a
“mesma coisa” que a vacina contra a pólio e outras doenças infantis, de
virtudes provadas além de qualquer dúvida; nem os laboratórios dizem que
é.
A vacina obrigatória é apenas a expressão dos anseios de ditadura que a epidemia espalhou entre autoridades e burocratas,
quase sempre gente que nunca foi eleita para nada, pelos quatro cantos
do mundo. Há dois anos eles tiram enorme proveito do poder que ganharam
para dar ordens a populações em pânico – abrem, fecham, permitem,
proíbem, mandam, desmandam, prendem, soltam. São tratados como gente
importante. Levam cada vez mais vantagem. O ministrinho da Austrália,
por exemplo, ganhou seus 15 minutos de fama mundial proibindo o tenista Novak Djokovic
de participar de um dos principais torneios do circuito internacional
de tênis. (Foi copiado de imediato pela França, onde o presidente da
República disse que um dos seus objetivos de governo é “irritar” quem
não tomou vacina.) Também virou, de um instante para o outro, um herói
da esquerda pelo mundo afora. (É claro: não há a mais remota
possibilidade, nunca houve, de se ver a esquerda a favor da liberdade,
qualquer tipo de liberdade, em qualquer causa e em qualquer lugar.) Hoje
querem que você tome duas doses de vacina; amanhã vão querer três,
depois de amanhã quatro e depois disso alguma outra coisa, até o fim da
vida.
A vacina contra a Covid, num mundo com mais equilíbrio e mais vergonha na cara, deveria ser uma opção livre:
quem quer toma, quem não quer não toma, ficando os governos obrigados a
fornecer para todos as duas doses básicas, mais a dose de reforço.
Qual
poderia ser a dificuldade com isso? Se os que não quiserem se vacinar
não ameaçam a saúde de ninguém, pois o vírus continua a correr o mundo
com vacina ou sem vacina, é problema deles, e só deles, se tomam ou não.
Mas o mundo, hoje, não é um lugar de equilíbrio. Na verdade, não há
nada mais distante da realidade do que a ideia de uma vacina abundante,
disponível para todos e voluntária, como qualquer outro tratamento
médico. A vacina contra a Covid, hoje, se transformou numa questão puramente política
para governos, partidos, mídia e quem mais pretende ter alguma
influência na sociedade.
A facção que aproveita a Covid, e o pânico
causado em torno dela através de autoridades e comunicadores, para impor
soluções de repressão, quer que a vacina seja obrigatória – é mais uma
arma para juntar-se ao lockdown, a exigência de testes, as proibições de
fazer isto ou aquilo, ao “passaporte” sanitário e ao resto da camisa de
força que querem impor à população. A esquerda, naturalmente, é a favor da vacina obrigatória – ela está sempre a favor de uma ditadura mundial permanente,
e não ia perder essa chance de suprimir direitos e liberdades
individuais. Não está nem aí para a imunização ou qualquer aspecto
médico-científico; quer o Estado dando ordens e pronto.
E o outro lado? O diabo, nessa
história, é que não há o “outro lado” – pode haver no mundo das ideias,
mas não há na vida real. É muito simples: lutar contra
a vacina, como programa de governo, é algo francamente absurdo. Pode
ser uma posição pessoal; não pode ser um objetivo oficial de quem
governa. A vacina anti-Covid é uma conquista científica de
primeira grandeza; em pouco mais de um ano, um prazo de rapidez inédito,
a indústria farmacêutica mundial desenvolveu um imunizante que
contribuiu de maneira decisiva para o combate à epidemia, sobretudo na
redução do número de mortos. Não funciona como um escudo
absoluto, capaz de oferecer 100% de proteção.
Mas tem sido extremamente
eficaz. Há poucos casos de efeitos colaterais graves. E os médicos, em
peso, recomendam que se tome a vacina – o que parece um argumento bem
decisivo a seu favor. As pessoas, com certeza, deveriam ter a liberdade
de tomar ou não a vacina. Mas não é assim que está sendo na vida como
ela é. Aí, no mundo das coisas concretas, as autoridades vêm impondo
cada vez mais a obrigatoriedade – e certamente têm fortes apoios na
opinião pública. Declarar guerra à vacina, à essa altura e nessas
condições, não faz nexo. Cada um tem pleno direito à sua opinião, é
claro, mas os governos não dispõem deste espaço. Sua obrigação é
fornecer as vacinas, apenas – e não ficar fazendo, ao mesmo tempo,
campanha contra.
Não há um único caso nesses 300 milhões, nenhum, de alguém que foi forçado a se vacinar
A vacina compulsória é um ataque à
liberdade individual, sem dúvida – mas existe, no caso, um fator que
muda a natureza da questão. O fato, indiscutível, é que as pessoas querem
tomar vacina; no Brasil, pelo menos, a grande maioria quer. Fizeram
fila para tomar vacina. Ficaram felizes quando receberam sua carteirinha
de vacinação. Ninguém aí achou que a sua liberdade estava sendo
ameaçada; o governo pode estar obrigando, mas e daí, se a população quer
ter essa obrigação?
A vacina, na verdade, foi um objeto de desejo
intenso. Todo mundo esperava ansioso a chegada das vacinas à sua “faixa
etária”; até houve, naturalmente, escândalos com peixes graúdos que
furaram a fila.
Era uma neura: o sujeito tomava a vacina e se achava o
autor de um ato heroico, ou o beneficiário de um favor do céu. Todo
mundo tirava selfies na hora da picada, mandava mensagens para causar inveja aos conhecidos do Whatsapp,
se orgulhava de ser um “vacinado”. O Brasil aplicou mais de 300 milhões
de doses da vacina anti-Covid – pouco mais de 160 milhões receberam uma
primeira dose e quase 150 milhões estão com a vacinação completa. Não
há um único caso nesses 300 milhões, nenhum, de alguém que foi forçado a
se vacinar. Por que raios, então, não deixar quieta essa história? Se todo mundo quer tomar a vacina, por que se meter numa cruzada contra a vacinação?
A guerra que o presidente da República declarou à vacina da Covid é incompreensível.
Ele diz que faz isso por uma questão de princípio – para defender “a
liberdade”. Não cola. Se estivesse realmente empenhado em lutar pela
liberdade no Brasil, já teria comprovado isso com ações em muitos
episódios anteriores, ao longo dos seus três anos de governo. Sua
posição deveria ser uma campanha popular; virou, rapidamente, apenas uma
implicância. O Brasil foi um caso de sucesso de categoria mundial na
aplicação da vacina – em pouco mais de um ano, vacinou quase toda a sua
população adulta, sem atropelos ou maiores problemas.
É algo para se
orgulhar, especialmente no caso do governo federal, de onde vieram as
verbas para pagar a conta toda. Mas não. O presidente decidiu ser o
líder de uma seita – e por conta disso arrumou para si próprio o papel
que seus adversários sonhavam: o do inimigo número um daquilo que foi e
continua sendo um dos maiores desejos da sociedade brasileira. Por que
isso? É um mistério.
Bolsonaro já se referiu a defensores da vacina como “tarados”. Pior: ataca violentamente um serviço do seu próprio governo, a Anvisa,
repartição que tem por dever funcional cuidar de questões como a
vacinação. É como se a agência fosse um departamento do PT – ou um órgão
de governo que faz oposição ao governo. Se a Anvisa é subordinada a
ele, por que não cumpre a orientação do presidente da República?
Faz
parte do governo do Paraguai, por acaso? O espaço de autonomia das
agências públicas não pode servir de desculpa para uma aberração dessas.
O ministro da Saúde, ao mesmo tempo, é um dos maiores incentivadores da
vacina anti-Covid; será que ele também está fazendo oposição?
É
impossível, enfim, estimar quantos votos Bolsonaro poderia ganhar para
as eleições presidenciais de 2022 com a sua cruzada contra a vacinação. Por que, se os eleitores são maciçamente a favor da vacina, ele simplesmente não fica calado e vai falar de outro assunto? É um mistério dentro do mistério.
J. R. Guzzo, comentarista - Jovem Pan