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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Chamado de covarde, Moro rebate Bolsonaro: ‘Quer promover rebelião armada’ - VEJA


Acabou, acabamos - Fernando Gabeira

Em Blog

Ao aceitarem que caiam no seu colo milhares de mortes, Forças Armadas mostram que topam tudo por seu capitão

Acabou, porra! Esta frase de Bolsonaro, dita na porta do Palácio da Alvorada, me lembrou uma outra frase de um personagem de “Esperando Godot, peça de Samuel Beckett: “Acabou, acabamos.”
Esta lembrança surgiu porque há alguns dias fizemos uma live, eu e o querido embaixador Marcos Azambuja, cujo título era: “Esperando Godot, a tempestade perfeita.” Nesse encontro, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, defendi a tese de que a tempestade perfeita no Brasil era produzida pela associação da pandemia com a presença de Bolsonaro no poder. Há outras combinações no mundo: nos EUA, por exemplo, coronavírus e racismo.

[Perderam em 35;em 64; e PERDERÃO SEMPRE.QUE TENTEM.]


Bolsonaro disse esta frase porque não quer respeitar as decisões do STF, onde, no momento, tem duas preocupações: um inquérito sobre sua interferência na Polícia Federal e outro sobre a máquina de fake news montada por gente muito próxima a ele.  Filho de Bolsonaro, Eduardo entra no nosso ônibus e diz: eu poderia estar fritando hambúrguer nos Estados Unidos, mas vim avisar que haverá uma ruptura, não é questão de se, mas de quando acontecerá.

Juristas ultraconservadores acham o artigo 142 como saída. Se Bolsonaro não aceita as decisões do Supremo, as Forças Armadas têm de funcionar como Força Moderadora, obrigando o Supremo a aceitar tudo o que faz Bolsonaro. As Forças Armadas já mostraram até onde podem ir. Em primeiro lugar, ocuparam o governo. Isso era previsível, pois o espírito salvacionista que vem desde a Proclamação da República não morreu: só os militares conseguem dirigir este país caótico, pensam.
O mais grave é que as Forças Armadas, através de um general da ativa, ocuparam o Ministério da Saúde, encamparam a errática política de Bolsonaro e querem nos entupir de cloroquina. Ao aceitarem que caiam no seu colo milhares de mortes, mostram que topam tudo por seu capitão.

Como assim, nossas Forças Armadas? Outras forças também poderosas foram seduzidas por um simples cabo. A hora não é tanto de reflexões sociológicas, mas de organizar a resistência.Simplesmente não há tempo a perder. O tempo que perdemos esperando o coronavírus chegar representou muitas mortes. É hora de avisar a todos os brasileiros no exterior para que reúnam e discutam a necessidade de falar com partidos, organizações, imprensa, organizar núcleos de apoio na sociedade europeia e americana, entre outras.

As Forças Armadas não só encamparam a política da morte de Bolsonaro. Elas tiraram de centro da cena o Ibama e outros organismos que fazem cumprir nossa legislação ambiental, conquistada ao longo de anos de democracia. O governo brasileiro vai se tornar uma grande ameaça ambiental e biológica simultaneamente. Lutar contra ele em todos os cantos do planeta é uma luta pela vida, pela própria sobrevivência. Esse será nosso argumento.

Internamente, será preciso uma frente pela democracia. Já temos uma frente informal pela vida, expressa no trabalho de milhares de médicos e profissionais de saúde, nos grupos de solidariedade que se formaram ao longo do Brasil. O que a frente pela democracia tem a aprender com eles? Em primeiro lugar, ninguém perde tempo culpando o outro pela chegada do coronavírus. Em segundo lugar, a gravidade da morte onipresente não dá espaço para confronto de egos.

Uma frente pela democracia não é uma luta pelo poder, mas sim pelas regras do jogo. Quem estiver interessado no poder que espere as eleições. Foi assim no movimento pelas Diretas. Hoje uma frente pela democracia transcende as possibilidades do movimento pelas Diretas. As redes sociais colocam na arena milhares de novos atores, alguns deles capazes de falar com mais gente do que todos os partidos juntos. O espaço para criatividade se ampliou. O papel de cada indivíduo é muito mais importante do que foi no passado.

Não tenho condições num artigo de falar de todas essas possibilidades. Mesmo porque eles não se limitam à cabeça de uma pessoa. A única coisa que posso dizer produtivamente agora é isto: não percam tempo. É urgente falar com amigos, estabelecer contatos, discutir como atuar adiante, como resistir ao golpe de Estado. Posso estar enganado, mas jamais me perdoaria, com a experiência que tenho, se deixasse de alertar a tempo e também não me preparasse para esta que talvez seja a última grande luta da minha vida.

Fernando Gabeira, jornalista - Blog do Gabeira


Artigo publicado no jornal O Globo em 01/06/2020




Presidente usa símbolos militares e dinheiro público em campanha antecipada para 2022 - Míriam Leitão

O Globo

O fim de semana aumentou a intensidade da crise. Não parecia possível, mas os elementos das manifestações a favor do governo intensificaram a tensão e a crise política e institucional. O presidente Jair Bolsonaro novamente usou os símbolos militares em manifestação. Ele usou o helicóptero da Força Aérea, andou em um cavalo da PM. O presidente está fazendo campanha antecipada para 2022 usando dinheiro público. Ele nunca deixou o palanque. Todos os movimentos dele são filmados por servidores públicos para que sejam transmitidos nas redes sociais.   

[símbolos públicos possuem definição específica, não são o que queremos que sejam.
Helicóptero? simbolo militar? a FAB possui um símbolo que em nada lembra um helicóptero.
Cavalo da PM? simbolo militar? o símbolo da PM, do DF ou de qualquer outro estado, é bem diferente.
Dinheiro público? o presidente da República tem direito legal a utilizar meios próprios de transporte.
Não depende de carona e da boa vontade de nenhuma outra autoridade.

No mais, se ainda persiste dúvida sobre a conduta errada do presidente Bolsonaro, denunciem.
 Com certeza a denúncia será recebida e com alegria. nenhum ilícito será provado. 
Talvez o nosso presidente até tenha vontade de cometer algum, prevaricar, mas a marcação cerrada que sofre torna impossível o cometimento de algum crime.

Campanha eleitoral antecipada? para qual eleição? para 2022 ainda está muito cedo - no inicio do ano, ninguém, imaginava que o mundo estaria vivendo o que está sendo vivido.
E para prefeitos, ainda não se sabe se serão adiadas para 2022 - coincidindo os mandato e se economizado recursos públicos, sempre carente, mais agora que estamos vivendo uma pandemia.]

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, estava com o presidente no helicóptero. As Forças Armadas estão destruindo a imagem que construíram nos 30 anos desde a redemocratização. Nesse período, elas adotaram o profissionalismo, se dedicaram a cumprir suas funções dentro da sociedade e assim apagar a deterioração da imagem durante durante a ditadura que impuseram ao país. Os militares do atual governo passam mensagens dúbios a todo momento. É impossível não ver.  

Os oficiais com os quais converso tentam minimizar as falas e atos do presidente. “Ele é assim mesmo”, dizem. “Isso é só retórica”, como se fosse para não se levar a sério o presidente. Em entrevista ao “Valor”, o vice-presidente Hamilton Mourão tratou as falas do presidente e do seu colega general, Augusto Heleno do Gabinete de Segurança Institucional, como “retórica inflamada”. Bolsonaro “se irrita”, disse Mourão, o que seria “uma característica pessoal do presidente”. A fala e as ações de Bolsonaro são muito sérias.   

Um dos problemas é o uso dos recursos públicos por uma pessoa em campanha antecipada para 2022. Outro é que as Forças Armadas estão em simbiose com o governo Bolsonaro, e está sendo impossível separá-las dos recados de ruptura institucional num país que viveu uma ditadura militar por 21 anos. 

Nas manifestações de rua, pode-se tentar separar, dissuadir para que não haja conflito. Mas nas Forças Armadas essa separação não tem sido feita. As Polícias Militares também foram atraídas. Elas foram muito beneficiadas na reforma da Previdência de militares, que na realidade era um plano de carreira e salários para a categoria. [não pode ser esquecido que os militares não eram parte da Previdência a ser reformada.
A Constituição de 88, deixou os militares foram do RGPS e eles não são servidores públicos.
Constituição Federal:
Seção II
DOS SERVIDORES PÚBLICOS
.....
Seção III
DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
.....
CAPÍTULO II
DAS FORÇAS ARMADAS]

O presidente as atraiu concedendo benesses que serão pagas com recursos públicos. Os policiais terão vantagens que não tinham antes. Foi parte da construção desse apoio das polícias ao governo. É para se prestar atenção a todos esses detalhes.   

FIM DE SEMANA  
O grupo que carregou tochas com máscaras brancas era pequeno mas cometeu crime de fazer apologia da Ku Klux Klan, o grupo de criminosos americanos que tinha como objetivo matar negros. Além disso com frequência usam símbolos nazistas.  [O KKK que gerou a infundada associação com a Ku Klux Klan, é apenas o símbolo usado na internet para indicar gargalhada - em tempos de redes sociais, blogs e outros isto é público e notório.]

O dia de ontem foi marcado pela ida de outras vozes para as ruas. [vozes insignificantes em número, qualidade e com motivação absurda - integrantes, alguns, de torcidas organizadas e que quase sempre são manchetes pela prática de crimes.] Desta vez houve também nas ruas atos em defesa da democracia. O ideal seria que ninguém se aglomerasse nesse momento. A sociedade deveria se concentrar no combate à pandemia. 

Se dois grupos se encontram nas ruas num país polarizado sempre há o risco de confronto, mas por isso é fundamental um comportamento neutro das polícias militares. E o risco, neste momento, é que elas não sejam neutras. 

Míriam Leitão, jornalista - O Globo


Apoiar Bolsonaro não é uma opção. É uma necessidade - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

No último final de semana, assisti ao filme Dois Papas, “baseado em fatos reais”.

À direita da tela, é apresentado um alemão desconectado do mundo, sisudo, relutante a mudanças e com um passado ligado ao nazismo. À esquerda, um anjo latino americano, popular, leitor de Marx e de Paulo Freire, empenhado em reformar a igreja, inconformado com a desigualdade social e que – coitadinho − foi obrigado a se distanciar dos movimentos comunistas durante a ditadura militar na Argentina. Durante todo o filme, mensagens socialistas são levadas ao público, culminando na eleição do Papa moderninho que tolera ditadores comunistas, mas não presidentes cristãos, que tentam reconstruir o papel da igreja e da família em seus países.

O filme termina com ele indo visitar o ex-Papa atrasado. Veem juntos a final da Copa no Brasil. A seleção da Argentina perde para a da Alemanha, mas o Papa moderninho dá mais uma lição ao mundo: abraça o representante do país vencedor, demonstrando o quanto os socialistas são tolerantes. Que lindo! A principal mensagem do filme visto por milhões de pessoas: o marxismo é a modernização do cristianismo.

Ah, já ia me esquecendo: o filme foi dirigido por Fernando Meirelles, da família que controla o Itaú, de onde saiu o fundador de um partido que se diz liberal, mas que se mostra cada dia mais alinhado com a esquerda em defesa do maior programa de cerceamento da liberdade econômica da história do Brasil.  Por todo o tempo em que assisti ao filme, fiquei me lembrando das declarações de Jair Bolsonaro na reunião ministerial do último dia 22 de abril, registradas em vídeo. Dei-me conta de que eu havia sido infectado pelo purismo ideológico que tanto favorece a esquerda.

Na ocasião da demissão de Sérgio Moro, publiquei no meu perfil pessoal no Facebook e no site do Instituto Liberal textos registrando minha indignação com Jair Bolsonaro, retirando meu apoio a ele. Por quê? Porque ele tentou interferir na Polícia Federal. Uau! Palmas para o trouxa que vos escreve!  Mencionei o filme apenas para ilustrar o mundo em que vivemos. Um mundo em que praticamente toda a produção cultural, toda a grande imprensa, igreja, universidades, organizações civis, movimentos disso e daquilo, partidos vistos como de “centro” e até grandes empresas promovem o socialismo. Há décadas, a população é bombardeada por uma propaganda extremamente bem-feita, pela qual as pessoas são convencidas a confiar ao estado seu bem-estar.

 As liberdades individuais mais importantes estão sendo destruídas. Neste momento, metade da população brasileira encontra-se quieta em casa, esperando políticos decidirem sobre seu futuro. Uma minoria não concorda, mas não tem meios para reagir. Estamos numa situação muito pior do que nos anos em que o PT estava no poder, porque hoje o inimigo está invisível. Nunca estivemos tão perto de nos tornarmos uma ditadura socialista, porque agora não temos um alvo para apontar. Apenas sentimos uma rede se levantando sobre nossos pés.

Quais armas temos para lutar contra isso?  Meia dúzia de parlamentares sem voz na imprensa, textos na internet e mais nada. Opa! Temos sim! Temos um presidente da república que vem tentando dar mais liberdade para as pessoas trabalharem, criarem seus filhos e se defenderem.

Quando tivemos isso de um presidente da república? Nunca! Não podemos cair nas arapucas da esquerda. A melhor arma que temos contra o avanço do socialismo é Jair Bolsonaro.  Muitos liberais precisam entender que política é uma guerra; e essa guerra está quase sendo vencida definitivamente pelo outro lado. Nós, daqui de baixo, não temos condições de escolher armas e soldados. Temos apenas que apoiar quem está enfrentando nossos inimigos. Precisamos ser pragmáticos, avaliar friamente os acontecimentos.

LEIA TAMBÉM:  Benefício para compensar auxílio-moradia de parlamentares já rendeu R$ 3 bilhões a juízes

O fato é que nossas liberdades fundamentais estão sendo absurdamente reprimidas com apoio da imprensa e de toda a classe política e que Jair Bolsonaro vem há meses lutando contra isso, o que mereceria o apoio de qualquer liberal que se preze. Jair Bolsonaro deve ser avaliado pelas pautas liberais que defende, não pelas que ele deixa de lado. Não são suas frases grosseiras que devem ser consideradas, mas seu esforço em promover avanços em áreas realmente importantes. Como um cidadão comum que destina voluntariamente parte do meu tempo à militância liberal, não me vejo em condição de rejeitá-lo por ele não ser o liberal dos meus sonhos.

No tal vídeo da reunião ministerial, tivemos ainda o prazer de ver Weintraub xingando de vagabundos os membros do STF e Damares dizendo que prefeitos e governadores que estão destruindo a economia deveriam ser presos. Eles manifestaram os sentimentos de milhões de cidadãos comuns. Manifestaram o que eu mesmo gostaria de dizer na TV. As pessoas precisam ouvir coisas assim, para se encorajarem a reagir às agressões que vêm sofrendo.

Portanto, volto à minha posição de meses atrás em apoio a Jair Bolsonaro. Farei as críticas que precisar, mas não me desgastarei com suas imperfeições. Não me pendurarei no muro da covardia, com medo de ser chamado de “bolsonarista”. Enquanto o vir defendendo as liberdades mais fundamentais, relevarei quaisquer outros desvios.

Rodrigo Constantino, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


STF mira nas fake news e acerta a liberdade de expressão - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr. 

Devagar, sorrateiramente, a liberdade de expressão sofreu um ataque duríssimo - talvez fatal, se algo não for feito a respeito. Explico.
A CPI das “fake news”, que parecia mais um daqueles inúmeros inquéritos parlamentares que servem objetivamente - quando muito - para a produção de memes, gerou um inquérito judicial (bastante questionável) cujo desdobramento ganhou hoje um capítulo sinistro.
Mandados de busca e apreensão foram expedidos contra jornalistas independentes, blogueiros, ativistas e empresários. O que eles têm em comum? Eram todos apoiadores convictos do presidente Jair Bolsonaro e/ou conservadores. Também parlamentares próximos do Executivo como Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Filipe Barros (PSL-PR) e Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP) foram intimados a comparecer para prestar depoimentos em data próxima.

E o que esse inquérito (4781/DF) tem de tão diferente de tantos outros que obrigam a Polícia Federal a bater na porta de cidadãos brasileiros às 6hs da manhã?


Entre os muitos “furos” do processo que o fazem parecer tirado de um enredo kafkiano, poderia citar a ausência de “fato específico” (conceito jurídico fundamental porque ninguém pode ser condenado por cometer um “crime”, assim, de forma genérica, mas sim por algo objetivo e claramente determinado, como “desvio de dinheiro do órgão de governo X”), porém o que mais chama a atenção é que sequer o inquérito indica quem são os investigados. Em outras palavras, cidadãos brasileiros estão sendo levados para depor e tendo bens confiscados sem saber que parte são no processo. A deputada federal Caroline De Toni (PSL-SC) acrescentou muitos outros questionamentos jurídicos em seu Twitter pessoal para quem se interesse pelo assunto.

Mas não gostaria de discutir juridiquês, e sim valores. Boa parte dos “investigados”, se é que podemos chamá-los assim, trabalha com o que poderíamos chamar genericamente de “palavra”:
 Allan dos Santos mantém um canal do YouTube de notícias e comentários políticos que tem mais 800 mil inscritos;
 Bernardo Küster também é comentador de notícias políticas e de pautas ligadas à Igreja Católica, com número parecido de seguidores;
 Sara Winter é ex-feminista e hoje luta por pautas conservadoras, também de maneira muito presente nas redes sociais. A lista é extensa e pode ser vista no próprio inquérito, mas tem até humorista (Rey Biannchi).

Todas essas pessoas (com exceção dos parlamentares) tiveram seus celulares, computadores e outros dispositivos pessoais confiscados pela polícia para que o STF prossiga com essa estranha 
investigação.  Tudo isso por conta de “fake news”.
É preciso desmistificar um pouco esse termo que ganhou tanta notoriedade na última década. Lembro quando o finado e saudoso jornalista Ricardo Boechat afirmou que “essa história de fake news é a maior ‘fake news’ de todas”. O argumento era mais ou menos que as redes sociais, justamente por ter dado liberdade para as pessoas, é o que ajuda a desmentir as próprias notícias falsas. Se um jornalista comete algum equívoco, alguém nas redes pode apontar, e exigir uma correção. Da mesma forma, algum youtuber pode sofrer críticas por seu trabalho.

A pluralidade de meios de expressão aumenta a liberdade; e se isso aumenta a possibilidade de se espalhar mentiras, também aumenta a velocidade que a verdade dos fatos possa afinal vir à tona. Para os excessos a lei penal e civil brasileira já prevê a possibilidade de reparação. Muitos dos investigados do inquérito 4781/DF são cidadãos que exprimem opiniões que encontram eco em outras cidadãos, que por sua vez apoiam os primeiros das mais diversas formas. Quando o ministro Alexandre de Moraes manda apreender os equipamentos eletrônicos dessas pessoas acaba tirando o próprio ganha-pão deles.

Mas Alexandre de Moraes foi além. Acrescentou um pedido para bloquear os perfis de internet dos investigados, limitando ainda mais a possibilidade de virem a público para se defender.
Poderia chamar isso de censura?
Tentei entrar em contato com muitos dos “investigados”, para entender melhor o que estava acontecendo com eles, mas não tive sucesso. Em alguns casos a própria assessoria de imprensa estava sem comunicação com seu assessorado. Mas, felizmente, consegui falar com Bernardo Küster que é, entre outras coisas, diretor de Opinião do jornal online Brasil Sem Medo.

Ele informou que começou o trabalho na internet justamente para enfrentar os ataques à liberdade expressão no final de junho de 2017: “No Brasil você pode ser tudo, menos conservador e anticomunista. A própria CPI da fake news, que parece ter sido a origem desse inquérito, investiga exclusivamente conservadores e quem apoia o atual governo”, afirmou ele.É curioso como os antigos apoiadores do presidente, como Joice Hasselmann, Alexandre Frota e outros não são alvos desse inquérito, só quem o sustenta hoje. A impressão que fica é que apoiar o Bolsonaro é crime”, acrescentou.

Veja Também:     O inquérito das fake news nas mãos do plenário do STF

 Queria fazer piada com o STF, mas não tenho dinheiro para pagar advogado


Ao ser perguntado sobre a questão das fake news e da liberdade de expressão, Bernardo foi enfático: “D. Pedro II afirmava que só se combate os excessos da imprensa com mais imprensa. Ou seja, não pode existir alguém ou um órgão que decida o que é verdade ou o que é mentira nesse país. Para crimes contra a honra, existem leis. Agora, retirar os meios que as pessoas têm para se expressar, não é censurar notícias ou mensagens, mas pessoas. Em última análise, o que o STF está fazendo é impedir que vozes dissonantes falem. É absurdo!”, concluiu.

Toda a repercussão gerada pelo caso motivou o procurador-geral da República, Augusto Aras, a pedir ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, para que suspenda o inquérito das fake news. Por mais que seja batida, a velha frase atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o ultimo instante seu direito de dizê-la”, deveria ser um norte para todos os que prezam pela democracia.
Que o pedido de Augusto Aras seja aceito pelo bem e salvaguarda da liberdade de expressão no Brasil.

Paulo Polzonoff Jr, jornalista - Gazeta do Povo


https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/polzonoff/

A participação do ministro da Defesa em ato político rompe o apartidarismo dos militares - VEJA - Blog Thomas traumenn


O capitão Jair Bolsonaro tem mais ministros militares que qualquer governo anterior, incluindo os dos generais do regime ditatorial. Hoje, além do presidente e do vice, nove dos 22 ministros do governo são egressos das Forças, incluindo o general da ativa Eduardo Pazuello, que ocupa interinamente o Ministério da Saúde. São mais de 2.500 militares com gratificações e cargos de confiança – um recorde para qualquer tempo. Não é uma ocupação com respaldo na sociedade. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 52% dos brasileiros são contra a presença fardada no poder político.  [pesquisa realizada com 2069 entrevistados em 25 maio.Representatividade = 0 ZERO.]

O presidente se apropria da imagem das Forças Armadas para poder governar e intimidar. Quando tem um problema, nomeia um general. Assim, ao mesmo tempo reparte a sua responsabilidade de escolha com as Forças, tomando para si a credibilidade da instituição. Se der errado, ele acredita que não apanha sozinho. Esta tática está sendo usada com péssimos resultados no Ministério da Saúde. Os mais de vinte militares que ocupam os principais cargos da pasta têm experiência em logística e conhecimentos nulos em epidemiologia. Pessoas erradas no lugar errado no pior momento. Quando a pandemia se for e as famílias das dezenas de milhares de brasileiros mortos por Covid-19 forem procurar os culpados, os seus dedos vão apontar Bolsonaro, alguns governadores e, agora, também os militares que aceitaram uma missão para a qual não tinham capacidade. [o espaço para medidas de controle da pandemia foi fechado para Bolsonaro - O Supremo determinou que medidas de controle da pandemia, incluindo distanciamento e isolamento sociais, ficariam a cargo dos governadores e prefeitos.
Não há possibilidade da culpa ser atribuída ao presidente Bolsonaro que, sabiamente, visitou o STF em caravana, e deixou bem claro quem era responsável pela aplicação das medidas de controle da pandemia.
O presidente da República ficou de mãos atadas, já que medidas a serem adotadas pelo Governo Federal seriam contraditórias com as as determinadas por prefeitos e governadores.]

Tão grave para a reputação da Força é a licença que Bolsonaro se permite para ameaçar outras instituições, mídia e adversários com o espantalho do golpe militar. É fato que Bolsonaro convenceu a metade do Alto Comando do Exército de que existe um complô de ministros do STF, líderes do Congresso e empresários para impedi-lo de governar. A solidariedade desses militares com o que consideram uma perseguição ao presidente, no entanto, está se transformando em uma relação abusiva. Bolsonaro usa os militares como se fossem sua milícia, sua tropa particular para impedir vozes contrárias.

É preciso aprender com a história. Quando deixaram o governo com João Figueiredo em março de 1985, a imagem das Forças Armadas estava no chão. Eram os culpados diretos pela falência do Brasil, então o país com a maior dívida externa do mundo, inflação chegando a 200% ao ano e desigualdade social recorde. Foram necessárias décadas de trabalho sereno para as Forças recuperarem sua imagem junto à população. [recuperação que pouco adiantou, tendo em conta que continuaram desprestigiadas, suas demandas relegadas a planos secundários, desatualizadas e mesmo sucateadas.]  Essa reputação já se deteriorou nesses 500 dias de administração Bolsonaro. Quando Bolsonaro se for, a conta de ter apoiado de corpo e alma um governo tão incompetente cobrará o seu preço.

Thomas Traumann - Blog em VEJA


Após denúncias de corrupção, Rodrigo Maia mantém DEM no governo Witzel - Veja

Derrotado por Wilson Witzel no segundo turno da eleição de 2018, o ex-prefeito Eduardo Paes tem pressionado Rodrigo Maia para que o DEM deixe o Palácio Guanabara de vez. Em entrevista nas Páginas Amarelas de VEJA desta semana, Paes defendeu a saída imediata do partido. “O DEM entrou no governo contra a minha opinião. Quem perde eleição não deve assumir secretarias”, declarou Paes para, em seguida, criticar a gestão Witzel: “Alertei muitas vezes sobre a proximidade de um dos maiores prestadores de serviço (o empresário Mário Peixoto) do governo na era Cabral com o candidato Witzel”.

A pasta de Obras e Infraestrutura foi negociada por Witzel diretamente com Rodrigo Maia. O deputado federal indicou para o cargo Bruno Kazuhiro, presidente nacional da Juventude do DEM e ex-assessor do vereador Cesar Maia, pai de Rodrigo. A secretaria é estratégica e responsável, por exemplo, pela Empresa de Obras Públicas do Rio (Emop), pela Companhia Estadual de Habitação e pelo Instituto Estadual de Engenharia e Arquitetura.

Já a bancada do DEM na Alerj indicou o diretor-presidente Francisco Luiz do Lago Viégas à Imprensa Oficial. A autarquia cuida da publicação dos atos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os deputados estaduais do partido são Dr. Deodalto, Fábio Silva, Filipe Soares e Samuel Malafaia. Na última semana, André Corrêa, preso na Operação Furna da Onça, braço da Lava-Jato no Rio, reassumiu o mandato por decisão da Justiça. Filipe é filho do missionário R.R Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus. Samuel é irmão do pastor Silas Malafaia, dono da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Procurado por VEJA, Rodrigo Maia ainda não respondeu. Nos bastidores, políticos próximos ao parlamentar afirmaram que ele quer, primeiro, observar o desenrolar das investigações contra Witzel e os movimentos na Alerj em relação aos pedidos de impeachment que estão nas mãos do presidente da Casa, André Ceciliano (PT). Na última quarta-feira, Maia afirmou não ter visto a Operação Placebo realizada contra Wilson Witzel como uma ação politizada, ao contrário do que defendeu o governador, que culpou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). De acordo com Maia, porém, é preciso investigar o vazamento. Na véspera da operação, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse em uma entrevista que haveria operações focadas em governadores.

Interlocutores ouvidos por VEJA contaram que Rodrigo Maia gostou da demissão do ex-secretário estadual da Casa Civil André Moura. Os dois são desafetos desde a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB). À época, Maia articulou para ser o líder do governo, com o apoio do ex-ministro Moreira Franco. Mas quem assumiu a função foi Moura com a ajuda do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB). Enquanto isso, o Republicanos, agora ex-aliado de Witzel, divulgou uma nota em que anuncia a saída do secretário de Trabalho e Renda, Jorge Gonçalves. Ele apresentou uma carta-renúncia. O comunicado foi assinado pelo presidente estadual da legenda Luis Carlos Gomes. Nele, Gomes justifica: “A corrupção já é abominável em qualquer circunstância, mais terrível ainda em meio ao caos e sofrimento da pandemia, com milhares de infectados e óbitos”. Na Alerj, o partido conta com quatro parlamentares.

Recentemente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro e o irmão dele, senador Flávio Bolsonaro, filhos de Jair Bolsonaro, se filiaram ao Republicanos. Witzel é hoje um dos principais inimigos políticos da família presidencial. A legenda é a mesma do prefeito do Rio, Marcelo Crivella.

VEJA - Política


Política baseada na raiva vai chegando ao seu limite - Blog do Josias

As manifestações antissanitárias deste domingo foram marcadas por uma novidade. Jair Bolsonaro e seus apoiadores extremistas ganharam no Rio de Janeiro e em São Paulo o contraponto das extremadas torcidas organizadas de futebol, que se dispõem a sair no braço contra a volta da ditadura. [alguns bandidos integrantes de algumas torcidas organizadas - que só se destacam por atos criminosos que praticam enquanto torcidas, até mesmo fora do Brasil - são muito insignificantes em número e qualidade para fazer contraponto as pessoas de BEM, que acodem às ruas para defender e estimular o presidente Bolsonaro.
São perigosos - condição comum aos bandidos - tanto que apoiadores do presidente Bolsonaro, ficaram sob a guarda do efetivo regular da PM.
Já os pró-democracia - regime de governo que mais atrapalha do que ajuda (vide combate ao coronavírus na China - governo forte - e em outros países - que cultuam democracia em excesso) tiveram que ser contido pela tropa de choque.]

Na Avenida Paulista, a Polícia Militar dispersou os antípodas com uma chuva de bombas de gás. O pedaço do Brasil que se esconde do vírus constata de longe a falta que faz a sensatez. Bolsonaro ainda não notou. Mas a política da raiva vai chegando ao seu limite. O presidente tem diante de si duas decisões duras para tomar. Primeiro precisa resolver que preço está disposto a pagar para fugir das investigações que o enroscam. Depois, tem que decidir o que vai fazer com seus filhos.

No primeiro caso, Bolsonaro está numa situação delicada. Ainda não apareceu ninguém capaz de convencê-lo de que, ao regatear a crise, eleva o tamanho do prejuízo. No segundo, tem dificuldades para admitir que os filhos viraram fardos. Sabe que Flávio, Carlos e Eduardo encrencaram-se por agir em seu benefício. Com uma ignição instantânea instalada na aorta, o mais provável é que Bolsonaro reaja às adversidades com mais raiva. Para se blindar de eventuais pedidos de impeachment ou denúncias criminais, pagará mais caro pela proteção do centrão.

Os filhos, alvejados no inquérito sobre a PF e no caso das fake news, serão usados como peças do enredo em que Bolsonaro faz o papel de vítima de perseguição. Bolsonaro prioriza o destempero imaginando que, quando a poeira da pandemia baixar, o desemprego cairá no colo dos g
overnadores. [pergunta que não quer calar: quem autorizou o fecha total, isolamento e distanciamento?
quem autorizou os governadores e prefeitos a fechar, isolar, distanciar tudo?]  Aí estão, a um só tempo, seu erro e sua insensatez. 

Com os mortos do coronavírus roçando a casa dos 30 mil e o desemprego vitimando 13 milhões de pessoas, essa ideia de que o presidente não pode fazer nada além de expressar sua raiva está corroendo aos poucos a paciência nacional. Formam-se longe das ruas movimentos e alianças de resistência.

Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - Uol


Sem trégua, não avançamos

As chances de evoluirmos como nação serão pequenas enquanto aceitarmos que a Polícia Federal faz investigação e inquéritos contra e que o Judiciário abre processos contra. Justiça não se faz contra. Justiça se faz a favor de uma mais perfeita união entre pessoas convivendo em sociedade por meio da apuração de fatos objetivos. Mas, infelizmente, no Brasil, mais do que em outros países, prevalece a ideia de que os mecanismos judiciais se movem, a despeito dos fatos, sempre contra alguém, como vingança ou acerto de contas.

O espetáculo em cartaz com as duas ações em curso da Polícia Federal reafirma a imagem de que as rodas da Justiça se movem contra alvos escolhidos por razões obscuras. Primeiro, o presidente Jair Bolsonaro deu a entender, não sem certo orgulho, que Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, está sob a mira da PF por alguma arte pessoal sua. Depois, a muita gente pareceu que o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), reagiu, empatando o jogo até agora, com a abertura de um inquérito para apurar as atividades do grupo de ativistas digitais bolsonaristas que se organizam, nas palavras do próprio ministro, como um “Gabinete do Ódio”. Isso é tribalismo. Parece que o Brasil está regredindo aos tempos dos coronéis, cada um dono da verdade suprema em seu território. Não pode ser assim. Não precisa ser assim. 

Todos os alunos de Direito, em alguma altura do curso ou, depois, da carreira, lê uma obra fundamental para a profissão, “Dos delitos e das penas”, escrita pelo italiano Cesare Beccaria (1738-1794). Dos delitos ninguém esquece. Mas logo se apagam as lições do mestre italiano do iluminismo quando ele fala do efeito esperado das penas na promoção da paz geral. Beccaria diz, em essência, que a Justiça pune os criminosos não para tirá-los de circulação ou para fazê-los sofrer. A punição tem o objetivo de evitar que as vítimas dos criminosos tomem a justiça nas próprias mãos, abrindo caminho para longas e sangrentas vendetas que, se não contidas, podem degenerar até em guerra civil.

Por mais utópico que possa parecer, é crucial neste momento de alta tensão pelo qual estamos passando que a opinião pública seja assegurada de que os detentores do poder não estão envolvidos em um duelo de morte pela supremacia. É essencial que as pessoas estejam seguras de que quando o ministro do STF Celso de Mello encaminha à Procuradoria-Geral da República um pedido para que seja periciado o telefone do presidente Bolsonaro ele o faz não porque pode, mas porque deve. Da mesma forma, se a PGR decide não acatar o pedido do ministro o faz não porque pode, mas por não ver indícios suficientes a justificar a medida.

Para que as pessoas percebam dessa maneira, para alguns rósea, a relação entre os Poderes da República, é essencial que seus eventuais integrantes ajam movidos por fatos verificáveis. Intrigas, versões falsas, traições dão sabor às cortes há milênios. Mas a civilização só avança quando os interesses coletivos são servidos no decorrer dessas tramas teatrais.

Pelas últimas pesquisas e pelo apoio no Congresso, o presidente não está a caminho iminente do impeachment e nem reúne forças suficientes para fechar o Congresso ou o STF. Nenhum grupo tem poder de aniquilação sobre o outro. Poderiam decretar uma trégua e, uma vez que seja, pensarem no país. “Em qualquer democracia, queremos um debate vigoroso sobre nossos desafios e as políticas corretas. Mas o que acontece com a democracia se não podemos concordar sobre um conjunto de fatos em comum, se não podemos concordar sequer com o que constitui um fato?”, disse Martin Baron, editor-executivo do jornal “Washington Post”, em seu discurso aos formandos da Universidade Harvard, na quinta-feira passada. [pergunta pertinente e que deveria ser apresentada ao ministro Alexandre Moraes, condutor do 'inquérito do fim do mundo', já que se um supremo ministro entender que determinado COMENTÁRIO, que nada tem a ver com notícia, é FAKE NEWS, e determinar busca e apreensão na residência do autor, e até mesmo condução 'debaixo de vara' a quem o comentarista vai recorrer - se até o presidente da República é alvo de tentativas de constrangimento, seja por comentários divulgados por ministros do STF em redes sociais ou críticas apresentadas pela imprensa. Buscar o conjunto de fatos que nos unem como nação. Eis um bom objetivo comum para uma trégua em Brasília.

Eurípedes Alcântara - Instituto Millenium


O trunfo e a fragilidade - Alon Feuerwerker

Análise Política

O presidente da República opera a política de um jeito fixo, na ofensiva o tempo todo. Mais ainda agora quando entende que as instituições ensaiam cercá-lo. Para romper a tentativa de cerco ele mira no elo mais fraco, o desgaste delas junto à sociedade. E apoia-se na figura mais preservada da demolição institucional dos anos recentes: as Forças Armadas. Vai dar certo?
Depende também de como será executado. Mas é uma tentativa, sem dúvida.

Ganha a guerra não necessariamente quem tem mais recursos, ganha quem sabe empregá-los com mais eficiência. Algo que funciona é concentrar o fogo no ponto mais débil da linha de defesa adversária. Para um governo e um presidente acossados por subestimar o SARS-CoV-2 é ouro em pó ver introduzida a variável da corrupção nas iniciativas destinadas a enfrentar a pandemia. Jair Bolsonaro vem acumulando pontos na sacola. Livrou-se do festejado ministro da Saúde e do festejadíssimo ministro da Justiça. O custo de imagem foi baixo. O custo político foi próximo de zero. E decepou uma perna da resistência congressual quando dividiu o dito centrão e atraiu o presidente do Senado. O da Câmara dá sinais de entender a nova situação.

Quem tem o poder só perde a iniciativa por distração ou imperícia. Mas de vez em quando os súditos rompem a barreira do ponto crítico e passam a não mais suportar a dominação, se o custo de enfrentar o poder é menor que o de continuar passivo. As medições de popularidade nem sempre conseguem calcular isso. Muitas vezes o problema cresce silenciosamente. Você só percebe quando é tarde. Uma coisa que ajuda é olhar sempre para o ponto futuro, para onde caminham as tendências. A favor de quem opera a inércia. Se nada acontecer, acontece o quê? Se ninguém introduzir o fato novo relevante, no final dá em quê?

A inércia está em parte a favor do presidente. Os governadores, alguns disfarçando, organizam a reabertura das atividades econômicas mesmo na subida da Covid-19. Pois não há mais condições políticas de segurar, especialmente na população que ganha menos e na turma que depende das atividades informais. Só quem continua podendo ficar em casa são os de renda garantida. E os governadores e prefeitos têm um encontro marcado com o calendário eleitoral. Pode até atrasar umas semanas, mas vai acontecer. Mas a inércia também joga contra. O exercício do poder faz acumular descontentamentos, mágoas, ressentimentos, insatisfações. Em última instância é sempre o governo quem acaba organizando e engrossando a oposição. Acontece novamente agora na Praça dos Três Poderes.

Por enquanto, a dificuldade momentânea de os insatisfeitos juntarem-se todos contra ele ajuda Bolsonaro. O governo supõe que capturar um punhado de votos congressuais vai ser suficiente para neutralizar o cerco e a tentativa de aniquilamento. Ou que vai conseguir intimidar todos os potenciais inimigos o tempo todo, ou por tempo suficiente. 
Ou que as barreiras que separam os inimigos entre eles serão para sempre mais fortes que o desejo, de todos e de cada um, de se livrar de Sua Excelência. [o risco para os inimigos do presidente e também do Brasil é que todos são peçonhentos e todos não resistem a agir como escorpiões.
Já os aliados do presidente são leais, sinceros e mais numerosos se tornarão quando a pandemia for contida e a economia voltar a gerar riquezas e bem estar, A Turma do Mecanismo não vai aguentar.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política


Publicado originalmente na revista Veja 2.689, de 03 de junho de 2020


“LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS”. - Percival Puggina

Para dar título a este artigo peço emprestado o nome e o belo estribilho do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense no carnaval de 1989. A música e a frase poética, buscada no Hino da Proclamação da República, compuseram-se com uma beleza irretocável e estão em perfeita sintonia com meu sentimento em relação ao que vejo acontecer em nosso país. É preciso dar asas e vida ao que se ganhou nas urnas de 2018.

 Não voltarei a apontar a responsabilidade que atribuo à quase toda a grande imprensa do país em relação à atual instabilidade política. Nossa mídia tradicional fez-se militante de uma causa a desestabilização do governo – assumindo-a como seu dever perante a nação, permitindo que fluam acriticamente, como se fossem frutos naturais da democracia e do estado de Direito, as mais desviantes condutas do Congresso Nacional e do STF. Enquanto aquele chantageava o presidente, o Supremo cruzava uma linha amarela e fazia leis, cruzava outra, e pilotava o governo. As notícias a respeito eram redigidas sem expressar o mais tênue sinal de contrariedade ou reprovação. Os fatos correspondentes eram levados a débito do Poder Executivo e da pessoa do presidente.

No último dia 27, contudo, algo de imensa gravidade aconteceu. No berçário de um mal nascido inquérito sobre fake news e desfeitas ao STF, 29 cidadãos brasileiros foram objeto de uma ação de busca e apreensão da Polícia Federal, a mando do ministro Alexandre de Moraes, que vem atuando como xerife do Supremo. Mais uma vez, os noticiários optaram por tratar do impacto no território do governo, deixando de lado a agressão à liberdade de opinião e expressão, até recentemente um suposto valor de quem preze as práticas inerentes à democracia. O silêncio da “grande imprensa” sobre essas ocorrências deixou claro que se dependermos dela para defesa de nossas liberdades, estamos fritos. A única liberdade de opinião pela qual se empenha é a própria. E, pelo jeito, detesta reparti-la com quem quer que seja. Como se sabe, isso é próprio dos totalitarismos, onde a liberdade tem um caráter oficialista, concedida por alvará a “ciudadanos confiables” como é dito em Cuba.

Um crime imperdoável foi cometido nos três ou quatro anos anteriores ao pleito de 2018. O crescimento explosivo das redes sociais abriu um espaço para opinião que se constituiu na mais espetacular demonstração de vida inteligente fora do lado esquerdo do leque ideológico. 
 Conservadores pensam, descobriu-se. Liberais pensam, descobriu-se. Saídos dos subterrâneos do anonimato acadêmico, resgatadas suas obras das caixas de rejeitos das bibliotecas, dominaram o território. Ocorreu, então, uma explosão editorial semelhante à que conheci nos anos 60, quando a revista Civilização Brasileira e livros de autores da Escola de Frankfurt andavam embaixo do braço e mantinham grande intimidade com o sovaco de alguns colegas meus.

Na segunda década do século XXI, contar-se-á um dia, opinar sobre os fatos deixou de ser privilégio de poucos para se tornar direito de muitos. Firmou-se, assim, uma animosidade entre os livres-pensadores das redes sociais e os que, na mídia formal, exerciam com exclusividade o direito de formar a opinião alheia sobre tudo. Por isso, nossa liberdade está sendo jogada em dois tabuleiros. O oficial, onde a longa manus do Estado agindo através do STF e do Congresso se junta à “grande imprensa” e as redes sociais onde se dá o predomínio mobilizador de conservadores e liberais em sua afanosa busca pelas asas da liberdade.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.