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domingo, 17 de outubro de 2021

CNBB pede medidas "eficazes, legais e regimentais" após discurso de deputado

Deputado estadual por São Paulo, Frederico d'Avila ofendeu o papa Francisco e o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Em carta, CNBB repudia ataques

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de carta, repudiou os ataques sofridos pela instituição, pelo arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes e pelo papa Francisco em discurso do deputado estadual Frederico d'Ávila (PSL). Na última quinta-feira (14/10), o parlamentar chamou os religiosos de “safados”, “vagabundos” e “pedófilos” em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). [A CNBB tem o DEVER e o DIREITO de exigir providências enérgicas contra o parlamentar que covardemente agrediu o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes e o papa Francisco e o DIREITO se ser atendida.
Se o desconhecido parlamentar pretendia  se tornar conhecido, sair do anonimato e do ostracismo que o acompanham desde sempre, que usasse outros meios, sem envolver a Santa IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, Sua Santidade o Papa Francisco e o Arcebispo Dom Orlando Brandes. 
Nosso mais veemente repúdio ao parlamentar e a sua desprezível e repugnante conduta.
Se aquele individuo tem alguma coisa contra a instituição CNBB que se valha dos caminhos indicados para dar vazão aos seus sentimentos RESPEITANDO Sua Santidade o Papa Francisco e o Arcebispo Dom Orlando Brandes e demais sacerdotes  da Santa IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA.]
 
(..............)
 
 

Leia a íntegra da carta enviada pela CNBB

"A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes. Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade - sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar - protagonista desse lastimável espetáculo - serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem - de modo exigente nos termos da Lei. Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência - postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres."

 Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA
 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Lula e a censura anunciada - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Não vai haver golpe militar nenhum. Vai haver um regime totalitário se Lula voltar ao governo. O resto é fumaça para esconder a verdade

Está sendo executada neste momento no Brasil a manobra mais velha e possivelmente mais sórdida que existe na história da bandidagem política mundial acusar o inimigo de estar fazendo exatamente aquilo que você vai fazer de pior, assim que tiver a oportunidade de mandar no governo. 
 
O truque de hoje é a operação que anuncia todos os dias na mídia, na discussão política e na máquina pública, para não falar nos representantes da “sociedade civil”, ameaças terminais à democracia por parte “do governo”, “dos militares”, “do Bolsonaro” e por aí afora. É mentira em estado puro. A ameaça real e objetiva, que existe no mundo dos fatos e não na gritaria, é o ex-presidente Lula, agora candidato de novo à Presidência da República. É a vigarice de sempre: enquanto se fala do perigo falso, vai se montando peça por peça o perigo de verdade. Não vai haver golpe militar nenhum. Vai haver um regime totalitário se Lula voltar ao governo. O resto é fumaça para esconder a verdade.
 
Não se trata, aí, de um ponto de vista. É a simples exposição de fatos que estão ocorrendo aos olhos de todos: Lula é a única ameaça que existe no momento contra a democracia brasileira porque ele mesmo, Lula, e o seu entorno mais ativo anunciam abertamente projetos de destruir essa democracia se ele for eleito em 2022.  
O maior desses projetos, pelo que estão dizendo agora Lula e o PT, é liquidar a liberdade de imprensa no Brasil. Não falam assim, é óbvio; ninguém fala assim, nem na Coreia do Norte. Embrulham o seu propósito numa trapaça: a de que querem “melhorar” a qualidade da imprensa, ou torná-la mais “verdadeira”, mais “justa”, mais isso, mais aquilo, com novas regras para o seu funcionamento. Sai a liberdade de pensamento assegurada no Artigo 5 da Constituição do Brasil. 
Entra em seu lugar o “controle social da mídia”, como diz Lula. 
É um pacote de regras que tem um objetivo claro e um efeito inevitável: 
colocar a imprensa brasileira, na vida real, debaixo do comando do governo e dos “movimentos sociais” controlados por ele.

Controle social é isso: censura. Não é outra coisa, e nem pode ser, porque não existe na história humana, desde que Gutenberg inventou a máquina de imprimir 500 e tantos anos atrás, nenhum episódio nenhum mesmo em que um governo tenha feito leis sobre a imprensa sem reduzir, prejudicar ou acabar com a liberdade da imprensa. Não há como ser de outro jeito. Se o Estado dá a si próprio o direito de decidir o que o público pode ou não pode ler, ver e ouvir, vai acabar havendo censura. 

Como seria possível não haver? A partir do minuto em que uma comissão qualquer, criada pelo governo, ganha o poder de vetar esta ou aquela palavra em nome do “bem comum” — palavra, frase, assunto —, esse governo passa, queira ou não queira, a praticar censura. Os mecanismos de “controle social da mídia” propostos por Lula irão, em algum momento da sua existência, ampliar o que a imprensa pode dizer sobre isso ou aquilo? É claro que não. Só vão reduzir, é óbvio — cortar, diminuir, proibir. Com Lula, a publicação de conteúdo editorial no Brasil vai depender de licença. Quem dá a licença manda. Quem pede a licença obedece. Fim de conversa. A vida é isso, sempre.

Tudo o que o comissariado da comunicação social não aprovar será considerado “notícia falsa”.

A volta de Lula à Presidência não é apenas a volta das empreiteiras de obras públicas ao governo. 
Não é só o reinício dos assaltos aos fundos de pensão, nem o retorno triunfal dos ladrões da Petrobras, da Eletrobras, da Nuclebras e de todas as “bras” que são a paixão do ex-presidente. 
Não é só o regresso dos banqueiros tão estressados com a abstinência de poder que foram capazes, imaginem só uma coisa dessas, de pensar em aderir a um manifesto com críticas à política econômica do governo. (Depois recuaram, é claro.)  
Não é só a volta de Sérgio Cabral, condenado a 390 anos de cadeia por corrupção (Lula disse que votar em Cabral era um “dever político e moral”), dos que roubaram tanto que se ofereceram para devolver parte do que roubaram e dos vendedores de sondas para a extração de petróleo.  
Não é apenas a retomada das atividades dos “Ronaldinhos do mundo de negócios”, como Lula chama a um dos seus filhos. É tudo isso, sim — mas é principalmente a pior ameaça às liberdades públicas e privadas que o Brasil já conheceu depois de 1964.
A primeira delas é a liberdade de expressão. Lula, em suas declarações mais recentes, tem dito que o erro mais grave dos governos do PT, o seu e o de Dilma, foi não ter conseguido criar o “controle social dos meios de comunicação” no Brasil. Afirmou, a propósito, que se tivesse de fazer uma “autocrítica”, seria esse o seu arrependimento: deixou a imprensa livre. (É ele mesmo, Lula, quem está dizendo isso. Não é nenhum adversário político.) Liberdade de expressão, para o ex-presidente, é uma coisa errada. Seu mundo mental predileto é o da censura. 
 
E o que pode ser, na prática, a censura de Lula? É o tal “controle social” dos meios de comunicação — um sistema no qual, simplesmente, é proibido publicar o que o governo não quer que seja publicado. Ou o governo, diretamente, através dos seus Ministérios das Comunicações, secretarias de imprensa, comissariados e outros bichos, ou um “conselho” qualquer com “representantes da sociedade”uma aglomeração de OAB, CNBB, MST, CUT, UNE, procuradores, professores, mulheres”, “negros”, “índios” e o que mais você possa imaginar.

“Controle social da mídia” é isso — os membros de um organismo que está fora dos meios de comunicação passam a aprovar ou vetar qualquer coisa que a imprensa queira divulgar para o público. É simples. O que eles aprovam sai publicado. O que eles vetam não sai. Mais: esses órgãos de “controle” podem punir, com cassação de licenças, multas para veículos, penas para jornalistas e outras aberrações, quem não se enquadrar nas regras impostas pelo governo. Sua ferramenta de repressão preferida, pelo que tem sido dito até agora, será o “discurso do ódio”, uma criação multiuso da esquerda mundial. No caso, quando o governo estiver sendo criticado e não goste da crítica, os órgãos de controle dirão que ele está sendo vítima de “discurso do ódio”. Pronto: fica proibido publicar o que o governo não gosta
Outro pé de cabra da censura serão as utilíssimas fake news, ou “notícias falsas”. Tudo o que o comissariado da comunicação social não aprovar será considerado “notícia falsa”. Pronto: a notícia não sai. Se é falsa não pode sair, não é mesmo?

Numa e na outra circunstância, o governo dirá que está servindo ao bem comum, que precisa ficar acima da liberdade individual — com isso, vai salvar o povo brasileiro de ouvir palavras de ódio ou notícias falsas. Hoje as “agências de verificação” decidem o que é e o que não é fake news. No novo sistema, o órgão de “controle social” tomará a decisão — ou, então, as tais “agências” poderão ser terceirizadas para executar esse serviço (desde que declarem “notícia falsa” o que o governo quer que seja notícia falsa.) Está na cara o mundo de possibilidades de censura que esses truques irão permitir a quem manda na máquina do Estado. 

Imagine-se, por meio minuto, o que o atual governo poderia fazer se estivesse em vigor o sistema que Lula quer impor ao Brasil se for eleito. 
Nenhum governo brasileiro desde 1500 levou tanta pancada da imprensa quanto o de Jair Bolsonaro. 
Foi chamado de desordeiro, de psicopata e de genocida; não foi chamado de ladrão, mas no resto foi excomungado em tudo. 
Chegaram, inclusive, a desejar que o presidente morresse quando ficou doente, em letra de fôrma e impressa no papel. 
Se isso não é manifestação de ódio, o que seria? 
Os órgãos de imprensa ou jornalistas não sofreram absolutamente nenhuma punição por isso, nem foram incomodados de qualquer modo que fosse. Pelo sistema que Lula quer criar, nem um centésimo de nada disso poderia ser publicado.

O que Lula quer é isso: uma imprensa venezuelana no Brasil.

Lula, nas suas últimas aulas sobre como deve ser o Brasil daqui para a frente, achou que deveria falar da imprensa em Cuba ou na China para explicar o que pretende fazer com a imprensa do seu próprio país. Avisou, a respeito, que não vai fazer no Brasil a “regulamentação” que existe na China e em Cuba — ele chama assim, de “regulamentação”, duas das mais ferozes máquinas de censura hoje em operação no mundo. Que sorte a nossa, não é mesmo? 
Lula diz que não quer submeter o Brasil a uma situação de liberdade zero, como na China e em Cuba. O que quer, então? 
Ele veio, no começo, com uma história de fazer aqui como se faz na imprensa “inglesa” ou na imprensa “alemã”. Que diabo quer dizer uma coisa ou outra?  Desde quando Lula entende disso? 
Ele nunca leu um jornal alemão na vida, nem inglês; não sabe, simplesmente, o que está falando. Sua intenção real ficou clara, logo em seguida, quando dissertou sobre a situação da mídia na Venezuela — aí si, coisa que ele conhece e da qual gosta. 
O que Lula quer é isso: uma imprensa venezuelana no Brasil. Pode não ser a China ou Cuba, mas dá quase na mesma.

Na Venezuela, não há liberdade de imprensa praticamente nenhuma — os veículos de comunicação livres foram liquidados pelo governo durante as ditaduras dos presidentes Hugo Chávez, primeiro, e Nicolás Maduro, agora. (Sobra um jornal, El Nacional, no momento sob investigação por “questionar as autoridades”.) Foi uma necessidade, segundo Lula, pois a mídia queria acabar com o governo. “Eu vi como a mídia destruía o Chávez”, disse Lula. É o exato contrário da verdade, como é comum acontecer em tantas coisas que o ex-presidente diz em público. Por força, uma depois da outra, da Ley Organica, da Ley de Responsabilidad e da Ley del Odio y por la Tolerancia impostas aos meios de comunicação, e depois estendidas às redes sociais, quem foi destruída na Venezuela foi a imprensa livre. Ao longo dos anos, esses mecanismos de “controle social” dos meios de comunicação obrigaram os veículos a publicar notícias enviadas pelo governo, fecharam empresas de mídia por “questionar a autoridade legitimamente constituída” e cassaram licenças de funcionamento de emissoras de rádio e televisão. 

O resultado concreto disso tudo é que ao longo desses anos de ditadura, de 2004 para cá, o governo mandou encerrar as atividades dos seis maiores canais de televisão da Venezuela, três quartos dos jornais foram fechados e 40 emissoras de rádio tiveram suas licenças cassadas por “irregularidades”. A Ley del Odio, particularmente, prevê punições de até 20 anos de cadeiacabendo ao governo, é claro, o poder e definir quem pratica o “ódio”. Em geral, “odiar” é falar mal dos governantes, sobretudo nas redes sociais.

Os planos de Lula para a imprensa são apoiados com entusiasmo pela maioria dos jornalistas brasileiros e tratados com timidez, reverência ou silêncio pelos proprietários dos veículos de comunicação. Faz sentido. Os jornalistas são a favor do “controle social” da mídia, até porque quase nada do que dizem hoje desagradaria aos futuros censores; além do mais, acham que o “bem comum”, ou a “sociedade”, precisa de uma imprensa submetida ao controle do governo. Na sua opinião, é melhor que seja assim. Acreditam que a liberdade de expressão não pode ser “absoluta” — o Artigo 5 da Constituição deve ficar abaixo do “interesse maior” que é, no seu entender, “a democracia”. 
 
A liberdade de expressão está longe de ser absoluta no Brasil; 
todo cidadão ou veículo de comunicação são 100% responsáveis pelo que afirmam, e estão devidamente sujeitos a processos penais ou ações cíveis por tudo o que escrevem, dizem ou mostram. 
Mas realidades como essa foram suprimidas do debate. 
Num país em que um deputado federal em pleno exercício de seu mandato está preso por delito de opinião, contra o que estabelece de maneira indiscutível a Constituição, a liberdade de imprensa passou a ser artigo barato.

Não poderia haver estímulo melhor para Lula e para as suas ideias do que deve ser a comunicação social neste país.

Leia também “Manual prático do golpe”

J. R. Guzzo, colunista -  Revista Oeste

 

sábado, 17 de julho de 2021

PIRATARIA LEGISLATIVA - Percival Puggina

É inacreditável que um parlamento promova rapinagem de recursos públicos no montante de quase seis bilhões de reais sem que se possa identificar nominalmente a múltipla autoria.  
É como se o ato que garfou o orçamento da União tivesse sido praticado por um plenário em que todos usassem luvas e máscaras, para não serem reconhecidos e suas impressões digitais não ficassem registradas em painéis de votação. Na prática, manobras regimentais.

Há muito tempo, a moral entrou em recesso no Congresso Nacional. Na Câmara, a conduta de muitos deputados, de diferentes bancadas, leva aquela Casa do Povo a agir como um varejão dos negócios da política; no Senado, opera o atacado dos grandes affaires comerciais.

Varejo e atacado compõem o meu sentir sobre as duas Casas do parlamento brasileiro.

A decisão que quase triplicou, para 2022, o valor distribuído às campanhas de 2018 é consequência natural, sabe-se, da moral dominante naqueles plenários. E quanto pior o candidato, mais dinheiro ele precisa. Muito escrevi contra a artimanha do financiamento público nos anos que precederam a decisão de 2015 com que o STF declarou inconstitucional o financiamento privado. Era uma antiga tese petista, apresentada quatro anos antes pela OAB, com pressão de toda a poderosa máquina esquerdista nacional, incluídas a CNBB, CUT, UNE, MST, Contag e muitas outras organizações
Quando aprovada finalmente por sete votos contra três, com apoio unânime da bancada petista no Supremo, eu escrevi esta obviedade em artigo tratando do assunto: “Vão usar o dinheiro dos impostos que você paga para financiar as campanhas eleitorais de partidos e candidatos nos quais você jamais votaria!”.
A rapinagem praticada ontem teve agravantes de culpa, como se observou em 2018.  
Sente-se para ler isto, leitor: deputados federais e senadores são os caciques dos partidos e cabe a eles a distribuição desse butim que o STF franqueou à pirataria legislativa. 
Adivinhe, agora, quem são os principais beneficiados dela. Pois é, acertou. Mateus e os seus. Não é a regra da competência, nem a partilha fraterna que tanto encanta a postulante CNBB, apoiadora de primeira hora dessa insensatez. É a regra do compadrio, da obediência, da utilidade e da proteção ao partido, seus líderes e seus corruptos.

Dinheiro nosso para obter resultados eleitorais que não desejamos, para reeleger parlamentares que durante quatro anos votaram em favor do interesse próprio e contra o interesse público. Preserve os bons, como o deputado Marcel e mais uns poucos que se empenharam por votação nominal. Mas está aí um horrendo exemplo do que acontece quando a astúcia de uns se encontra com a ingenuidade de muitos e a sandice de tantos.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

sexta-feira, 18 de junho de 2021

O bem e o mal - Revista Oeste

Cuidado: você pode ser condenado de uma hora para outra como 'fascista', 'extremista de direita/inimigo da democracia', ou até como 'genocida', se não prestar atenção no que está dizendo

Num país onde a vida política se degradou a tal ponto que um cidadão com nove processos penais nas costas vira o relator de uma “CPI” que tem pretensões de restaurar a moralidade pública, o “novo normal” passou a ser tudo o que é anormal.  
Cabe na cabeça de alguém que uma substância química, por exemplo, ou um tipo de veículo sobre duas rodas possam se tornar questões de vida ou morte para determinar o que é politicamente certo ou errado, ético ou imoral, bom ou ruim? Não, não é — não pela lógica comum. 
Mas no Brasil de hoje é isso, exatamente, o que se pode esperar em matéria de ideias. Se uma “CPI” como essa da covid pode ter esse relator que está aí (para não falar do presidente, que foi investigado por corrupção pesada e teve a própria mulher e três irmãos presos pelo mesmo motivo), por que haveria problema com qualquer outra coisa? Vida que segue.
 
Aceita-se com a maior passividade do mundo, assim, que assuntos estritamente técnicos, ou da mais completa desimportância, se tornem o marco regulatório que define quem o sujeito é, dos pontos de vista político, moral e humano. Não é só no Brasil, é claro, que as coisas andam assim. Lá fora, por exemplo, o “bem” ou tudo o que recebe uma certidão de “coisa de esquerdaprevê que o sujeito assuma posições firmes a favor da inclusão de homens nas equipes femininas de esporte, ou contra o aquecimento da calota polar. O “mal” ou tudo o que leva o carimbo de “coisa de direita” — é o exato contrário. Aqui, a coisa fica pior por conta do ambiente cada vez mais envenenado que envolve a vida política. Trata-se, mais e mais, de um processo de degeneração. Os temas em que há divergências políticas legítimas vão sendo crescentemente contaminados por questões que são neutras por sua própria natureza, ou pelo bom senso mais elementar. O resultado é um desastre.

Bolsonaro está a favor? Então só pode ser ruim

Cuidado, portanto: você pode ser condenado de uma hora para outra como “fascista”, “extremista de direita/inimigo da democracia”, ou até como “genocida”, se não prestar atenção no que está dizendo e no que estão dizendo a mídia, as classes intelectuais e o circuito STF-OAB-MST-CNBB-PT-etc. É relativamente simples. Faça uma lista com as coisas que você, pessoalmente, acha corretas, lógicas e decentes; faça uma outra, ao lado, com tudo o que você acha que está errado, ou não concorda. 

Em dois minutos fica claríssimo que a esquerda brasileira e mundial é totalmente contra aquilo que está na primeira lista; é totalmente a favor do que está na segunda. E as questões — são tantas, não é mesmo? — em relação às quais o cidadão não sabe, honestamente, o que é certo e o que é errado? Para obter solução imediata, basta avançar para o passo seguinte: verifique o que a esquerda está dizendo a respeito e acredite no oposto. Pronto. Operação concluída com sucesso.

A variante brasileira desse vírus apresenta um elemento a mais: Jair Bolsonaro. Por motivos que em grande parte permanecem obscuros, tudo o que tem algum ponto de contato com a imagem do presidente da República fica automaticamente mais dramático, no Brasil ou no exterior. No caso, o volume de ódio acumulado contra ele nos circuitos mentais de seus inimigos (praticamente ninguém trata Bolsonaro apenas como adversário) tornou-se tão absoluto que o presidente acabou se transformando, em si mesmo, num divisor de águas entre o bem e o mal, o certo e errado, o que pode e o que não pode. Mais ainda que os sinais de “esquerda” ou “direita” é ele, hoje, que define as coisas. Bolsonaro está a favor? Então só pode ser ruim; você é obrigado a ficar contra. Bolsonaro está contra? Então só pode ser bom; você é obrigado a ficar a favor.

Serve para tudo. O grande clássico do gênero, naturalmente, é a cloroquina. 
O Conselho Federal de Medicina, órgão máximo para todas as questões ligadas à atividade médica no Brasil, decidiu, com clareza acima de qualquer objeção, que os médicos são livres para indicar a seus pacientes o tratamento que julgarem mais adequado para a covid, incluindo-se aí a aplicação de medicamentos como a cloroquina. 
Não é um palpite — é a palavra do CFM, a entidade encarregada pela Constituição brasileira de lidar com esse tipo de assunto. Mais: dezenas de milhares de médicos trataram seus clientes com cloroquina, ivermectina e outras substâncias farmacêuticas. A denúncia intransigente da cloroquina, apesar disso, tornou-se uma causa sagrada. Jamais um medicamento foi tão amaldiçoado como ela — pela ira das condenações, é melhor tomar uma dose dupla de formicida logo de uma vez.

Por que essa fúria toda? Uma coisa é certa: Bolsonaro disse lá atrás, assim meio por cima, que a cloroquina poderia ajudar. Ele e todos aqueles médicos inclusive um que foi secretário de Saúde de São Paulo, no tempo em que a cloroquina ainda não era maldita, e receitou a droga para si próprio. A coisa desandou aí, e depois disso não se arrumou mais. No exterior também houve e há objeções à utilização da substância nas fases iniciais da covid. A Organização Mundial da Saúde suspendeu as pesquisas que fazia a respeito (e depois recomeçou, quando se revelou que havia utilizado referências suspeitas para decretar a suspensão), e muita gente aponta a “inexistência de provas científicas” quanto à eficácia do medicamento. Não se trata, portanto, de exclusividade brasileira. Mas em nenhum outro lugar do mundo a cloroquina foi capaz de desencadear o vendaval de paixões que causou no Brasil. Apesar do CFM e dos resultados que os médicos apresentam a seu favor, é a “droga maldita” da nossa era; os monopólios norte-americanos que controlam as redes sociais no Brasil, inclusive, banem das suas operações quem se julga no direito de falar da cloroquina sem condenar expressamente o seu uso. Em nenhum outro lugar do mundo, ao mesmo tempo, há um Bolsonaro. Pense durante 30 segundos e chegue às suas conclusões.

Outro caso realmente extraordinário é esse do “voto impresso”, ou das demandas por um sistema de votação em que os resultados possam ser verificados de forma mais completa do que hoje. Bolsonaro é a favor — ele e mais centenas de políticos, mas esqueça essas centenas de políticos e fique só nele. Pronto: o voto impresso, que historicamente era uma reivindicação de políticos como o ex-governador Leonel Brizola, e que de qualquer maneira é uma questão essencialmente técnica, virou obra de Satanás, direto na veia, de um dia para outro. Não se permite, nem mesmo, o debate sobre o tema; a simples menção de que talvez, quem sabe, eventualmente, se possa falar a respeito — só falar, não mais — já é tida como uma tentativa de golpe de Estado. Argumentar por um sistema de votação mais seguro passou a ser uma ameaça à democracia. O sistema atual, segundo a visão anti-Bolsonaro da vida, é perfeito, e não pode ser tocado; o debate livre tornou-se um retrocesso. Como a tentativa de melhorar alguma coisa pode ser um “retrocesso”? Como seria possível destruir o estado de direito com o voto impresso? E o Congresso — não estaria autorizado a aprovar uma lei nesse sentido? É insano. Mas Bolsonaro está a favor — e isso explica qualquer insânia.

Até as motos entraram na lista negra. Apareceram na mídia, dias atrás, condenações de alto a baixo ao seu uso — elas geram poluição, consomem combustíveis fósseis, matam gente. Mas por que só agora as motos viraram a máquina do mal? Porque Bolsonaro, vestindo blusão de couro (e sem máscara), participou de um desfile em seu próprio apoio, em São Paulo. É como a cloroquina e o voto impresso: caíram de pau em cima de uma máquina. (Os juízes que condenaram as motos não têm nenhuma sugestão a fazer a respeito dos 300.000 motoboys que circulam todos os dias em São Paulo para ganhar o próprio sustento.)

Naturalmente, quem sabe o que está fazendo — Lula, por exemplo, sabe muito bem — desanca Bolsonaro porque quer ir para o lugar dele no governo. Aí é perfeitamente compreensível, porque política é isso mesmo. Mas muitas pessoas (e gente bem instruída, frequentemente) se jogam no furor anti-Bolsonaro com determinação de fanático religioso; abriram mão do hábito de pensar, e passaram a agir em obediência a uma compulsão. A questão, possivelmente, diz respeito tanto à psiquiatria quanto à política.

O presidente da República, ao que parece, está servindo de polo para atrair a culpa por tudo o que há de errado no mundo e principalmente, talvez, na vida individual de cada um. Frustrações, mágoas, problemas de trabalho, dificuldades do dia a dia, conflitos pessoais, falta de dinheiro — nada disso é culpa sua, ou das suas limitações, ou das circunstâncias, ou da vida; é tudo “culpa do Bolsonaro”. Fica imensamente mais fácil pensar assim.

Leia também “O bloqueio psicológico da imprensa”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Arcebispo é acusado de LGBTfobia ao recusar conceder entrevista a repórter

Situação aconteceu no Espírito Santo, município do Rio Grande do Norte. Dom Jaime, arcebispo metropolitano de Natal, só aceitou gravar depoimento se estivesse sozinho. "Tô achando que estão me usando para me ridicularizar", disse

[ao que percebemos na leitura da matéria não ocorreu nada que possa ser considerado homofobia ou algo do tipo.
Eventual recusa do Arcebispo metropolitano em conceder a entrevista, antes ou durante, é um direito de qualquer entrevistado - se recusar a conceder entrevista ainda não é crime, ainda que por analogia.]
O arcebispo metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, se envolveu em uma polêmica na última segunda-feira (1º/2). Isso porque, depois de presidir uma celebração no Espírito Santo, cidade da região do agreste potiguar, ele se incomodou com o repórter e se recusou a dar entrevista para o canal que transmitia a cerimônia pelas redes sociais. “Tô achando que estão me usando para me ridicularizar”, disse Dom Jaime. 

Na ocasião, o arcebispo foi convidado pela paróquia local para presidir a missa de encerramento da novena que celebra a Festa de Nossa Senhora da Piedade, padroeira da região. Terminada a cerimônia, o comunicador Ricardo Sérgio pediu para que Dom Jaime o concedesse uma entrevista para que pudesse falar as impressões de estar participando da comemoração em prol da Virgem da Piedade.

Quando Ricardo iniciou a apresentação de Dom Vieira, contudo, o arcebispo logo se mostrou incomodado com a fala do rapaz e, ao ser questionado sobre a festa, o clérigo expressou descontentamento: “Eu não 'tô' gostando dessa entrevista não. 'Tô' achando que estão me usando para me ridicularizar, é?”, perguntou o arcebispo. Prontamente o comunicador respondeu “não”, e perguntou como o pároco gostaria que a declaração fosse conduzida. Dom Jaime, então, agradece e pede para que a entrevista seja encerrada. “Deixe está”, afirmou.

Ricardo, desconfortável, começa a retirar o microfone de lapela que estava na roupa do sacerdote. Neste momento, outro integrante da equipe que conduzia a transmissão conseguiu convencer o clérigo a, ao menos, transmitir uma mensagem aos devotos. O arcebispo, contudo, só concorda em falar se for sozinho. “A gente vive num mundo complexo”, justificou. 

O que diz a Arquidiocese de Natal
Em nota, a Arquidiocese Metropolitana de Natal destacou que a recusa “não foi nada demais”. “Dom Jaime gravou a mensagem sobre a festa da padroeira, que foi postado ontem mesmo, nas redes sociais da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Espírito Santo”, enfatizou a Arquidiocese.Procurada, até a última atualização desta reportagem, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), não havia se pronunciado sobre o caso. 
 
MATÉRIA COMPLETA, Correio Braziliense
 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Há apenas duas cadeiras no jogo de xadrez - Percival Puggina

Engana-se quem pensa que os grandes noticiários ininterruptos dos principais veículos de comunicação mantêm o público a par do que está acontecendo e ajudam a formar um juízo sobre os fatos narrados. Infelizmente não é bem assim. A desinformação começa na escolha dos temas. Noticiar algo significa, frequentemente, não noticiar algo. Há notícias escolhidas para difusão e notícias escolhidas para omissão.

A pluralidade dos meios não significa pluralismo nos meios, notadamente quando estes se tornam militantes de uma causa política, como está acontecendo no Brasil.

Salvo exceções, os noticiários de TV e rádio provêm de uma redação. Apenas noticiários rápidos e variados, acríticos, como os de rádio, lidos por locutores, poderiam sintetizar, ao longo do dia, o conjunto dos acontecimentos. Não haveria recursos humanos para abastecer um jornalismo completo com textos, imagens e opiniões sobre todos os fatos importantes de cada jornada. São pautados, então, certamente, os mais interessantes, os que servem aos objetivos da empresa e assim as opiniões são emitidas, ou omitidas.  
Aqui no Brasil, há dois anos, as notícias que servem nunca são boas ao governo. 
Estas vêm por e-mail ou em pequenos vídeos na redes sociais. Na imagem diariamente transmitida em editoriais, colunistas selecionados, noticiários de TV e comentaristas cevados na casa ou convidados, o governo é formado por um grupo de malfeitores.

Que Bolsonaro não é o príncipe perfeito estamos cansados de antever e saber, mas é o disponível, como demonstram as peças no tabuleiro do xadrez da política nacional. Quando estamos jogando xadrez, de nada vale nosso desejo de que as peças estejam em posições diferentes. Elas são as que vemos, nas posições em que estão. A mesa tem uma cadeira de cada lado. O resto, em volta, é torcedor, é peru, é secador. As cadeiras, não obstante, são apenas duas.

Em menos de um par de anos teremos eleições e a posição das peças no jogo mostra que se ninguém chutar a mesa ou derrubar o tabuleiro da disputa presidencial, de um lado estará o príncipe imperfeito, com suas deficiências e qualidades; 
do lado oposto haverá alguém representando os derrotados na eleição de 2018: PT, PCdoB, Psol, PDT, Rede e outros afins. Nesse jogo, a vida me ensinou o que não quero.

Ora, se todo o empenho da mídia que considero militante, a que me referi no início deste artigo, vai a desfavor do lado onde joga o atual presidente, ela serve, então, doses diárias de suporte ao lado oposto. E o faz sem sequer precisar referir que esse lado existe. A CNBB fez a mesma coisa durante anos, atacando os governos não petistas e ajudando o partido a ponto de merecer, posteriormente, o público reconhecimento de Lula ao apoio recebido.

Note-se que a própria oposição sequer se movimenta politicamente junto à sociedade. Ela se beneficia mais com o cotidiano serviço que lhe é prestado por alguém supostamente “neutro”, interessado apenas no bem do país, como seriam os grandes meios de comunicação. Esse é o quadro. Quem não entendeu até agora, não entenderá jamais.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Voz de prisão! - Percival Puggina

Acompanhando a política brasileira ao longo de décadas, posso afirmar sem dar chance a equívoco que, durante muito tempo, a moda era responsabilizar a infidelidade partidária pelos maus caminhos da vida pública nacional. O Brasil, dizia-se, só tomaria jeito quando acabasse o troca-troca de partido que permitia aos detentores de mandato transitar de uma sigla para outra sem constrangimento e com bons ganhos adicionais. Aquilo, definia Boris Casoy, era uma ver-go-nha. Que me lembre, fui voz isolada a afirmar o quanto uma regra de fidelidade partidária seria inepta como solução para nossos problemas institucionais. E foi, não foi? Quem tem problemas de convicções ou caráter não muda o modo de ser, esteja em que partido estiver.  Ademais, são nossos partidos costumeiramente fiéis a algum princípio válido?

Passados alguns anos, os olhares ansiosos da sociedade foram desviados para a imperiosa e redentora necessidade de uma Lei da Ficha Limpa. Mobilização nacional. Faxina geral na nação. CNBB, OAB, suas coligadas habituais e a grande imprensa cerraram fileiras e forçaram a aprovação de Nova Lei Áurea que iria salvar o Brasil dos políticos desonestos. Se alguém mais além de mim se atreveu a dizer e escrever que era uma lei inepta, que se apresente. Em setembro de 2010, em artigo para o Diário do Comércio, antecipei que iríamos trocar fichas sujas por outras novas, mas estas, logo adiante, se sujariam porque o verdadeiro ficha-suja, corruptor incurável, era o modelo institucional brasileiro. Não foi isso mesmo que aconteceu? A que nos levaram, tanto a eleição de 2014 quanto a grande renovação do Congresso em 2018?

Oitenta e cinco por cento dos senadores que buscaram reeleição no último pleito foram derrotados nas urnas! Mas não há na Casa, passados dois anos, mais do que 22 ou 23 votos entre 81 para qualquer projeto moralizador ou transformador, tipo CPI da Toga, impeachment de ministros do STF, prisão após condenação em segunda instância, alteração do modo de compor o Supremo e por aí vai. Ou melhor, não vai. Lamento dizer que, de novo, eu estava certo. A ficha mais suja de todas é a do modelo institucional e do sistema eleitoral que regem nossa política.

Nosso tão louvado e preservado presidencialismo de cooptação merecia voz de prisão!

É ele que responde pelas escolhas dos ministros do STF. É ele que levou Bolsonaro a indicar – num entendimento com os notórios Toffoli, Gilmar e Alcolumbre – o incógnito Nunes Marques para a cadeira vaga daquela Corte. Pois foi esse novato que concedeu liminar para revogar artigo da Lei da Ficha Limpa, desobstruindo o caminho para retorno à cena de políticos cujas candidaturas foram por ela barrados.

Uma coisa é dizer que a lei seria inepta, como de fato foi, para os fins pretendidos. Outra, bem diferente, é reabrir porteira para maus políticos cujo retorno à cena só irá agravar os embaraços e reforçar o contingente de criminosos já instalados em posições de poder e influência sobre nosso cotidiano.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Grupo com 152 bispos [eméritos = aposentados] da Igreja Católica assina carta crítica ao governo

Correio Braziliense  

Um grupo de 152 arcebispos, bispos e bispos eméritos da Igreja Católica assinaram uma carta se posicionando contra o governo de Jair Bolsonaro. O texto estava em análise por um conselho da Confederação Nacional dos Bispos do brasil (CNBB), mas vazou este domingo (26/7). Na carta, os signatários pedem uma união por um diálogo antagônico às ações do governo. 

[Nota do Blog Prontidão Total:
Os signatários da carta, 152, são todos eméritos - aposentados - continuam sendo bispos, uma vez que receberam a ordenação episcopal, mas já não têm propriamente um ofício para exercer, como o comando de uma diocese. 
Continuam investidos do Poder do Sacerdócio, sacramento da ORDEM, porém, sem função na Igreja Católica Apostólica Romana.
De acordo com o Código de Direito Canônico (CDC), recebe o nome de “emérito” aquele bispo que “perder o ofício por limite de idade ou por renúncia aceite”.
O Brasil tem atualmente 171 bispos eméritos, dos quais 152 assinaram a carta, existindo no Brasil um total de 310 bispos.
Deixamos de publicar a 'carta' devido a mesma ter vazado quando estava em análise no Conselho permanente da CNBB, que desautorizou a publicação.] 

..........
O texto foi revelado pela Folha de São Paulo. Após o vazamento, a CNBB se isentou do conteúdo da carta, que disse ser “de responsabilidade dos signatários”
Por e-mail, o Planalto informou que não comentará a carta dos bispos. 

Correio Braziliense, saiba mais

domingo, 29 de março de 2020

Isolamento sim! - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo


Governo emite sinais trocados e Brasil começa a se dividir. Coronavírus agradece
Eta gripezinha que está custando caro! O presidente da República fala para um lado e os ministérios agem para o outro, anunciando montanhas de dinheiro para enfrentar o abandono dos miseráveis que precisam do Bolsa Família, a insegurança dos informais e a dramática ameaça aos empregos. Isolamento, sim, para salvar vidas. E medidas emergenciais para reduzir os danos na economia.

É a realidade se impondo, com as lições vindo assustadoramente de fora. Se não quer ouvir a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde, a ciência e as estatísticas, o presidente deve ao menos se informar sobre o que aconteceu nos dois países mais afetados pelo Covid-19 no mundo. Nos Estados Unidos, seu tão amado Trump foi obrigado a recuar e agora clama para os americanos ficarem em casa. Na Itália, o mea culpa do prefeito de Milão é um grito de alerta. [Em Brasília/DF, a capital do 'isolamento', a primeira morte por Covid-19, acontece dentro de um hospital público - HRAN, referência para tratamento da Covid-19 - paciente não estava sob isolamento, tendo a morte ocorrido em um andar do hospital - área não destinada ao isolamento.
Saiba mais, clicando aqui.]

Trump, como o “amigo” brasileiro, minimizou o coronavírus até que os EUA passaram a ser o epicentro da doença, ultrapassando os cem mil infectados e beirando 1.500 mortos. Só aí ele se rendeu à única “vacina” contra a pandemia: o isolamento social. Na Itália, o prefeito de Milão desdenhou do tsunami, animando as pessoas a saírem. Agora admite: “Errei”. Tarde demais. Os italianos já contabilizam mais de 9 mil mortes, 919 só na sexta-feira.  “Infelizmente, algumas mortes terão. Paciência, acontece, e vamos tocar o barco”, conformava-se o presidente brasileiro no mesmo dia, ignorando alertas e estatísticas, a lógica, o bom senso, a humanidade. Pior: a responsabilidade. Tudo em nome do seu novo slogan político: “O Brasil não pode parar”. O problema é que, se milhões são contaminados e milhares morrem, aí é que o Brasil vai parar. Só não vê quem põe sua visão pessoal acima das evidências.
[Não isolamento = atividades econômica = letalidade = igual a da Covid-19 = estimada em um máximo de 3%.
Isolamento = economia parada = inanição = letalidade = 100%.

Num país dividido, com um governo que emite sinais trocados, governadores e prefeitos, em maioria, decidem deixar o capitão falando sozinho e se articulam para enfrentar a pandemia, acolher os infectados e evitar mortes, enquanto os do Nordeste lançam manifesto “pela vida”. Mas o efeito do comando do presidente contra o isolamento já se faz sentir, com governadores aliados de Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia e Roraima se assanhando para flexibilizar o isolamento. [articulação de governadores para derrubar o presidente? = impedir que o Presidente da República governe? 
A Constituição Federal,em vigor, tem a solução para essa  agressão a um dos Poderes da República = Poder Executivo federal.
A solução é: o presidente da República acionar o artigo 142, da CF.]

Na sociedade, o mesmo. CNBB (bispos), OAB (advogados), ABI (imprensa), SBPC (ciência), ABC (ciência) e Comissão de Direitos Humanos de São Paulo fazem alerta “em defesa da vida” e conclamam a população a “ficar em casa”, em respeito à ciência, aos profissionais de saúde e à experiência internacional.  Do outro lado, as falas e a campanha do presidente produzem aumento de pessoas nas ruas, shoppings de Minas reabrindo, a ofertazinha bacana da CNI em tempos de gripezinha: testes rápidos de coronavírus, de 15 em 15 dias, para 9,4 milhões de trabalhadores industriais. Isolamento social? “Só para pessoas com exame positivo.”

Bolsonaristas vão alegremente às ruas contra o isolamento. Mas de carro, que ninguém é besta, enquanto defendem que seus empregados se exponham ao vírus em ônibus e metrôs e garantam seu lucro. Só não entenderam ainda, e vão entender na marra, que, se os trabalhadores se contaminarem, eles também vão se contaminar, depois contaminar seus amores, famílias, amigos. E, “infelizmente, algumas mortes virão...”, lembram?

É profundamente importante, sim, reduzir os danos na economia, nos empregos, na pobreza. E é por isso que o Estado está devidamente flexibilizando a prioridade fiscal para tomar as medidas necessárias. O que não pode é desdenhar da morte em nome da economia. Até porque nada comprova a eficácia desse método ignorante e desumano (para não buscar adjetivos e referências pavorosas na história).

Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Os evangélicos e as eleições - Denis Lerrer Rosenfield

 O Estado de S. Paulo

Sua estratégia consiste em captar o maior número de eleitores em diferentes partidos

Os evangélicos estão no centro do debate nacional. Tornaram-se atores políticos, pautando sua ação em valores conservadores, incluindo desde costumes até questões dogmáticas, como a mudança da Embaixada do Brasil em Tel-Aviv para Jerusalém. Ao contrário dos católicos, que não seguem normalmente os dizeres políticos de seus padres, eles tendem a observar as orientações de seus pastores. É bem verdade que os católicos são numericamente superiores aos evangélicos, porém tal diferença não tem relevância eleitoral.

Ademais, por muito tempo os católicos abandonaram posições religiosas em benefício de posições esquerdistas da Teologia da libertação, apoiada pela CNBB. Criou, por sua Pastoral da Terra, o MST e sempre o apoiou desde então. Não mais respeitou o direito de propriedade, afastando a Igreja dos empreendedores rurais. Esses setores da Igreja foram firmes apoiadores dos governos petistas. O eleitorado evangélico considera os costumes sob uma ótica religiosa. Aí não entra em questão uma discussão propriamente racional, pois o seu fundamento se encontra num texto bíblico, que fornece os critérios do juízo e da ação. Assim é o caso do aborto, do casamento homoafetivo, dos textos didáticos sobre gênero e do que o PT considera politicamente correto. Aliás, esse partido começou a perder seu eleitorado evangélico ao contrariar essa pauta de valores. Quando Bolsonaro se manifesta sobre a pauta de costumes, tem em mente precisamente esse eleitorado.

Outro ponto de princípio dos evangélicos diz respeito à mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. Trata-se de uma questão dogmática, não sujeita a discussão: Jesus ressuscitará quando Jerusalém se tornar a capital do Estado judeu.[o tempo da Segunda vinda de Jesus  não depende de fatores controlados pelo homem.
“Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pai só” (Mc 13,32). Passa, então, a correr outro tempo, o do processo de conversão dos judeus, passando ambas as religiões a ser uma, sob os princípios do cristianismo, principalmente o reconhecimento de Jesus Cristo como Messias. Bolsonaro comprometeu-se com esse seu eleitorado a fazer tal mudança. Seu compromisso continua, embora por questões conjunturais tenha sido adiado. Muito provavelmente realizará essa mudança em 2021, um ano antes da eleição presidencial. [será? talvez a mudança se torne inconveniente e/ou inexequìvel.] Ao cumprir sua promessa, terá apoio maciço da comunidade evangélica. Note-se que Trump assim conquistou o apoio do eleitorado evangélico, ganhou as eleições e cumpriu a sua promessa.

O PT está aqui mal colocado, pois optou pelo politicamente correto de forma esquerdizante e se chocou de frente com os evangélicos. As contrariedades e os ressentimentos se traduziram no apoio ao candidato Bolsonaro em 2018. As posições antissemitas/antissionistas do PT igualmente tiveram papel importante no distanciamento. Lula tenta uma reaproximação, porém suas dificuldades são imensas. A visita ao papa tampouco atenua o problema, ao dirigir-se a outro eleitorado, além de seu caráter manifestamente inapropriado ao envolver o santo padre numa questão política, a da corrupção e do roubo em seus governos, sem arrependimento nem confissão.

Tomemos o exemplo da Assembleia de Deus. Essa confissão tem no Brasil em torno de 20 milhões de membros. São pessoas acima de 14 anos de idade, capazes de fazer a escolha de sua religião, quando então se tornam parte integrante dela, em sentido pleno. Considerando a idade eleitoral de 16 anos, quase todos são eleitores, em sentido estrito. Não barganham com questões dogmáticas, como certos preconceitos veiculam contra os evangélicos. Foram missionários suecos que a introduziram no País. São pessoas extremamente sérias e comprometidas com sua religião. A Igreja Universal do Reino de Deus, numericamente menor, tem, por sua vez, enorme importância midiática, por ser proprietária da Rede Record. Trata-se de uma rede de comunicação que abarca principalmente as classes C e D.

Qualquer PEC ou projeto de lei, para ser aprovado na Câmara dos Deputados, necessita passar pelo crivo da bancada evangélica. Após a bancada da agricultura e da pecuária, é a segunda em importância. A Câmara tem 513 deputados federais e a bancada evangélica, 86. Outras estimativas chegam a 106. O Senado tem 81 parlamentares e a bancada evangélica, 9. Outras estimativas chegam a 14. Qualquer articulação parlamentar de governo deve passar por tratativas com essa bancada, que sempre sustentará suas questões de princípio, mesmo quando não forem objeto específico de negociação.

Os evangélicos estão distribuídos em vários partidos, embora votem alinhados entre si. A sua estratégia consiste em captar o maior número possível de eleitores em diferentes configurações partidárias, atendendo a conveniências regionais. Ademais, escolhem candidatos preferenciais em cada Estado, concentrando neles os seus votos. Os candidatos escolhidos são pessoas próximas das lideranças religiosas e delas dependem, agindo organicamente. Muitos são “filhos espirituais”, assessores e discípulos. Bolsonaro extraiu bem essa lição. O PT não a levou em consideração. Os demais candidatos deverão enfrentar essa questão.
Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 3 de setembro de 2019

Governo critica encontro da Igreja sobre Amazônia; papa veta políticos - Estadão - Veja

Em entrevista, o general Eduardo Villas Bôas afirmou que Sínodo tem 'viés político' e usa 'dados distorcidos' sobre o que ocorre na floresta

[Em face de que o Sínodo se realiza em Roma, não há nada que possa ser feito pelas autoridades brasileiras, não cabendo considerar críticas feitas no exterior como reais agressões a Soberania Nacional.]

Ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Eduardo Villas Bôas criticou, nesta segunda-feira, 2, o Sínodo da Amazônia, e afirmou que o encontro dos bispos considera “dados distorcidos” e o que “não acontece na Amazônia”. Villas Bôas também disse que, independente do relatório apresentado, o governo não admitirá “interferência em questões internas” do país.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Villas Bôas disse que o governo Bolsonaro tem “preocupação” com os temas do Sínodo, que será realizado em outubro, em Roma, e como isso irá “chegar à opinião pública internacional porque, certamente, vai ser explorado pelos ambientalistas”. Na avaliação do atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o encontro “escapou para questões ambientais e também tem o viés político”.

Villas Bôas também rebateu uma carta escrita pelos bispos na semana passada, na qual afirmam que são tratados como “inimigos da pátria”. “Eles não são inimigos, mas estão pautados por uma série de dados distorcidos, que não correspondem à realidade do que acontece na Amazônia. Seria muito mais proveitoso que eles, institucionalmente, procurassem o governo brasileiro para se inteirar do que realmente está acontecendo, das intenções, das práticas e o progresso que o governo quer implantar para aquela região”, afirmou.

Questionado se o Sínodo pode interferir no clima da Assembleia Geral das Nações Unidas, Villas Bôas disse que há uma forte ligação “entre os organismos internacionais, sempre com esse viés crítico em relação ao que acontece no Brasil”. “Constatamos que há uma ação orquestrada. Depois da fala do Macron, por exemplo, houve uma do secretário-geral da ONU (António Guterres), na mesma linha do presidente francês”, explicou.

Veto a políticos
O Vaticano ainda prepara a lista final de convidados do papa Francisco para participar das discussões no Sínodo da Amazônia, mas, segundo o cardeal dom Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo, nomeado pelo pontífice, a participação de políticos com mandato está vetada. “Não virão políticos com mandato, nem militares. Não participarão”, afirmou.

O governo brasileiro havia manifestado interesse em enviar representantes para a assembleia, porque, na avaliação do presidente Jair Bolsonaro, há “muita influência política” no Sínodo.  O climatologista Carlos Nobre será um dos nomes brasileiros na lista. Ele participará das primeiras atividades do encontro, que será realizado entre os dias 6 e 27 de outubro.

Estadão Conteúdo - Transcrito de Veja

CNBB reage a críticas e defende Sínodo da Amazônia

O encontro é uma resposta do papa ao desmatamento e está sendo questionado por alas conservadoras da Igreja e por Jair Bolsonaro

(...)

O Sínodo da Amazônia é uma resposta do papa Francisco às queimadas e ao desmatamento na Amazônia. Segundo ele, “o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta.”

(...)

Alas conservadoras ligadas à Igreja questionam o Sínodo e veem interferência em “soberanias nacionais”. No sábado 31, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) confirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitora o evento. “Tem muita influência política lá, sim”, afirmou ele. Bispos do Sínodo dizem sentir-se “criminalizados”.
Inconformados com o tom dos organizadores do Sínodo, representantes de grupos conservadores ligados à Igreja Católica vão realizar nos dias 4 e 5 de outubro, também em Roma, um encontro para contestar a abordagem sobre a questão ambiental. Abaixo-assinado com 20.000 assinaturas colhidas na região amazônica será entregue à cúpula da Igreja e repete o discurso do governo ao falar em “inaceitável” atentado à soberania.

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