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quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Drone de Biden matou crianças? - Guga Chacra

O Globo

Saída do Afeganistão

Dez afegãos de uma mesma família, incluindo sete crianças, teriam sido mortos por um ataque de drone em Cabul ordenado por Joe Biden em 29 de agosto. 
É o que indicam investigações paralelas independentes do New York Times e do Washington Post
Naquele dia, o presidente dos EUA celebrou a ação militar porque, supostamente, havia impedido um novo atentado do Estado Islâmico
Era uma tentativa da Casa Branca de alterar a narrativa durante o fiasco na implementação da retirada das tropas do Afeganistão, dias depois de um outro ato terrorista matar 182 pessoas, incluindo 13 militares americanos, em meio ao caos no aeroporto da capital afegã.

Destroços de uma casa atingida por ataque de drone dos EUA em Cabul

Diante das evidências cada vez mais fortes de que a ordem de Biden para o ataque de drone resultou na morte de inocentes, o governo americano mudou mais uma vez sua versão. Em depoimento ao Senado, o acuado secretário de Estado, Antony Blinken, disse que o governo ainda “investiga” o que ocorreu. Como questionaram alguns senadores, se havia dúvida, por que o disparo foi ordenado? Por que Biden e sua equipe celebraram a ação como se tivessem eliminado uma célula do Estado Islâmico a caminho de realizar um atentado, quando, ao que tudo indica, tinham alvejado crianças? [Biden é o resultado, piorado, obtido com a soma da crueldade de Stalin, Mao e Kim Jong-un; já sua vice, Kamala Harris, é o mesmo material acrescido de Pol Pot
Biden, logo que assumiu, revelou sua capacidade assassina e imensa  crueldade, assinando ordens executivas favoráveis ao aborto.]

A resposta é simples. Muitos dos ataques de drones dos EUA matam civis, incluindo crianças e idosos sem nenhuma ligação com o terrorismo. Simplesmente, o governo dos EUA anuncia que “seis terroristas da Al-Qaeda foram mortos em um bem-sucedido ataque de drone no Iêmen”. Sem dúvida, em muitas ações, terroristas de fato foram mortos. Mas vários levantamentos de órgãos independentes indicam que alguns ataques acabam por matar civis, como no caso de Cabul.

Em junho, o Pentágono chegou a admitir algumas mortes no Iêmen, mas somente após enorme pressão de entidades independentes, como a Clínica de Direitos Humanos da Escola de Direito da Universidade Columbia. Segundo a diretora da entidade, Sarah Knuckey, "as Forças Armadas dos EUA continuam contabilizando um número bem inferior de vítimas civis em suas operações no Iêmen se levarmos em conta as ações documentadas por organismos independentes. Os EUA continuam se recusando a prover compensação ou pedido de desculpas para as famílias dos civis vítimas dos drones".

Alguns desses drones são pilotados a partir dos EUA pela CIA ou pelo Pentágono. Os "pilotos" acordam em algum subúrbio de Washington, tomam café da manhã, deixam os filhos na escola e se sentam para monitorar em uma tela os movimentos de supostos terroristas em lugares distantes como Afeganistão e Iêmen. Com base em informações de inteligência, fazem os disparos que, na maior parte das vezes, resultam na morte do que os EUA consideram terroristas. Em outras, civis são mortos, como agora no Afeganistão. Essa prática de matar com "aviões de controle remoto" começou com George W. Bush, intensificou-se com Barack Obama e foi mantida por Donald Trump.

No caso de Cabul, claro que Biden não sabia que havia crianças quando ordenou o bombardeio. A decisão foi tomada com base nas informações de inteligência. Mas, diante das evidências, o presidente dos EUA deveria pensar em ao menos pedir desculpas às famílias dos afegãos mortos, porque sua decisão provavelmente resultou na morte de inocentes. Além disso, já passou da hora de demitir o seu incompetente secretário de Estado, Antony Blinken.

Guga Chacra, colunista - O Globo

 


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O atentado silencioso - Guilherme Fiuza

Gazeta do Povo - VOZES

No dia 11 de setembro de 2001 o mundo achou que estava acabando. Ou pelo menos que estava chegando ao fim um determinado tipo de civilização. Aqueles aviões atirados contra prédios imensos em Nova York talvez não existissem, até então, nos piores pesadelos. E as notícias em tempo real indicavam que havia outros aviões sequestrados e prontos para ser usados também como dardos gigantes – a exemplo de outro que já explodira contra o Pentágono.


Foto: Big Stock

Os Estados Unidos da América estavam vulneráveis como uma casa de bonecas no meio de um bombardeio. A nação mais poderosa do mundo capitulando ao vivo daquela forma patética e chocante parecia mesmo a senha do fim do mundo. Mas não era. O mundo só acabou 20 anos depois.

A imagem terrível de aviões cheios de passageiros usados como dardos diabólicos parecia que jamais teria paralelo – mas aí está ele. Num arrastão totalitário e obscurantista, crianças são empurradas para tomar vacinas sem estudos conclusivos quanto a eficácia e nem mesmo quanto a segurança – num experimento hediondo que despreza os baixíssimos riscos infantis da doença contra a qual supostamente se quer imunizar.

Ninguém com vergonha na cara em 2021 consegue explicar a lógica de se vacinar crianças contra covid. Mas uma menina de 12 anos com sequelas neurológicas após se vacinar, apresentada por sua mãe em prantos no Senado dos EUA, não comove a humanidade – não a ponto de uma revisão severa neste plano de vacinação irresponsável. Segundo levantamento recente do epidemiologista John Ioannidis (Universidade de Stanford) a chance de morte por covid de 0 a 19 anos de idade é, em média, de 0,0027%.  

Quem tem coragem de afirmar que a menina Maddie, de Ohio, precisava tomar essa vacina como uma cobaia para “salvar” crianças e adolescentes de um risco de 0,0027% de morrer? O mundo acabou. Você tem à sua volta novos dardos diabólicos mostrando a face hedionda da humanidade – agora apontados para bilhões de pessoas. Um dos maiores propagandistas desta insana vacinação infantil contra covid é o mesmo que está sob investigação do Senado norte-americano – suspeito de bancar a manipulação do coronavírus no Instituto de Virologia de Wuhan, cidade chinesa onde surgiu a pandemia, Dr. Anthony Fauci. Anote este nome no seu diário do fim do mundo.

Vacinas que sequer impedem a transmissão do vírus entre pessoas vão sendo empurradas dentro de uma suposta ética de saúde. É claro que se uma vacina gera imunização individual (ao menos contra agravamento da infecção, como dizem) e não impede o contágio, não há ética coletiva alguma sustentando a tese de que todos precisam se vacinar para proteger o outro. E onde se alega ciência sem que exista ciência, pode haver qualquer coisa: propaganda enganosa, lobby, violência ou crime. Só que a humanidade se submete docilmente a esses perigosos princípios farsescos. O que houve com o mundo? É simples: ele acabou.

A mãe de Bruno Graf, morto aos 28 anos de idade de AVC hemorrágico após se vacinar contra covid, está encomendando exames no Brasil e no exterior para investigar exatamente a causa da morte. Foi a mesma vacina e a mesma consequência que matou Thaís Possati de Souza – levando a Anvisa a vetar essa vacina para grávidas. A mãe de Bruno, Arlene Ferrari Graf, tem recebido diversos relatos de famílias de vítimas das vacinas contra covid – todas vítimas da desinformação e da propaganda enganosa que vende a vacinação como um processo seguro e eficaz, sem que os estudos requeridos estejam concluídos.

O mundo acabou porque a humanidade entregou sua saúde e sua liberdade aos tiranos do falso humanismo. Virou refém de lockdowns, passaportes sanitários e outras atrocidades. Isso é terrível e pode ter consequências ainda mais profundas que quatro aviões sequestrados por terroristas carniceiros. Em setembro de 2021, o mal está vestido com as roupas do bem. Rasguem-nas, se acharem que ainda pode haver vida saudável depois do fim.

[o Blog Prontidão  Total, corrobora sua posição favorável ao uso de vacinas. Apenas nos parece que o uso em pessoas dos 12 aos 17 anos deve ser precedido de amplos estudos e realizado sob rigoroso acompanhamento dos que receberem o imunizante.
Não podemos deixar de destacar o comportamento estranho, dizendo o mínimo, do governador do DF,  que passou a priorizar a segunda dose, em detrimento da primeira - por óbvio, aplicar a primeira é essencial para que possa ocorrer a aplicação da segunda dose. Temos observado que a cada dia o número de 'completamente' vacinados se aproxima do número dos que tomaram a primeira dose = quando os vacinados com a primeira dose ainda não representam sequer 70% do total de vacinados. 
Se alguma  coisa não for feita para incrementar a primeira dose, logo o número dos vacinados com a segunda dose alcança o dos que receberam apenas a primeira e vai sobrar, digamos, um 'buraco'  entre 30% a 40% da população do DF que não tomaram nenhuma dose.]

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Um duelo perigoso - Revista Oeste

Jair Bolsonaro tem muita live, passeio de motocicleta etc. O STF tem o apoio cego de um Congresso morto de medo com o passivo penal de seus membros 

Morreu, foi enterrado em cova rasa e não será ressuscitado enquanto os ministros do Supremo Tribunal Federal não deixarem, o assunto político mais sensacional deste ano — a adoção, nas eleições de 2022, de modificações no sistema de votação, com o objetivo de torná-lo mais seguro e verificável. É onde anda a política brasileira de hoje. Quando uma questão dessas, que deveria ser absolutamente técnica, racional e neutra, se transforma, a exemplo dos antigos títulos de filme, num violento “duelo de paixões” entre as partes, fica-se com uma ideia sobre o baixo nível da vida pública praticada neste país. Fazer o quê? É assim que funciona. [há grande possibilidade dos ministros do STF se curvarem a "sua excelência, O FATO" = a invasão, nesse final de semana, do sistema do Tesouro Nacional. O acontecimento, reforça a posição dos que defendem que nenhum sistema de informática é totalmente invulnerável e torna recomendável a colocação de mais uma tranca = O VOTO AUDITÁVEL.]

A única vantagem, para o público pagante, é que a mídia finalmente vai parar de falar no assunto. Já deu, realmente, o que tinha de dar quem aguenta continuar ouvindo essa conversa? 
Por mais extravagante que pareça a ideia, chegaram a inventar, numa tentativa de manter as emoções em sua temperatura mais alta, que “os militares” tentaram intimidar a Câmara dos Deputados e o resto da politicalha nacional com um desfile de carros blindados no dia da votação do assunto
O desfile fez parte de uma operação que ocorre há 33 anos numa região de Goiás próxima a Brasília; 
já vinha rolando havia dias, mesmo porque é impossível montar um negócio desses de hoje para amanhã. Mas e daí? [a reforçar a  impossibilidade citada, tem, o fato que a coluna começou a se deslocar para Brasília no mês de julho e a votação alvo da mentirosa narrativa de intimidação dos deputados, foi marcada no inicio de agosto.]
Na guerra para manter o Brasil em atmosfera de catástrofe iminente e inevitável está valendo de tudo. 
O desfile virou ameaça à democracia no Brasil e no mundo.
Os blindados passaram por Brasília, foram embora e não aconteceu coisa nenhuma, é claro. Que raio poderia ter acontecido? Serviu, apenas, para encher página de jornal e permitir exibição de valentia por parte de político que se enche de coragem quando enfrenta general manso, mas que sai correndo apavorado assim que vê general bravo. “Ninguém vai nos intimidar”, etc. etc. etc. Querem enganar a quem? 
 
Em todo caso, é um fecho perfeitamente adequado para a coisa toda — farsa acaba em farsa. A questão nunca foi séria. De um lado, não se comprovou fraude na eleição de 2018 o sistema foi, sim, invadido por um marginal (chamam de hacker), mas até a Nasa, o Pentágono e a Santa Sé vivem sendo invadidos e não acontece nada. [aqui cabe apontar que não acontece nada pelo fato do hacker não desejar; se ele detém conhecimentos para invadir, pode promover alterações com dia e hora acerta para ativação. Antes que o otimismo do  ''se invadirem não vai acontecer nada" predomine, é bom registrar o recente sequestro do sistema que controla um dos maiores oleodutos dos Estados x Canadá.]  De outro lado, não se demonstrou com um mínimo de lógica por que um sistema físico não pode ser aperfeiçoado e muito menos por que a mudança proposta seria a destruição da democracia.
O que aconteceu, na verdade, não foi uma discussão honesta com o propósito de servir aos interesses do cidadão brasileiro. Houve, isso sim, mais um teste de força entre a Presidência da República e o STF e o STF ganhou mais uma vez, pela boa e simples razão de que é mais forte que o presidente. 
 
Jair Bolsonaro tem muita live, passeio de motocicleta etc. O STF tem o apoio cego de um Congresso morto de medo com o passivo penal de seus membros, o poder da caneta que coloca suas ordens em vigor e o aplauso incontrolável da mídia e da elite política, econômica, intelectual e de todos os outros tipos, num arco que vai do sistema OAB-CNBB-escritórios de advocacia para corruptos às empreiteiras de obras públicas que sobreviveram à Lava Jato. Os tanques de guerra do Exército, supostamente os tanques “de Bolsonaro”, passam por Brasília e vão embora. O ministro Luís Roberto Barroso fica, manda e todo mundo obedece general, marechal, almirante de esquadra, senador, deputado, presidente da República, Deus [retiramos DEUS dessa bagunça] e todo mundo. Isso é a vida como ela é. O resto é conversa fiada.
 
A Câmara, em seu conjunto, rejeitou a proposta de mudanças no voto para 2022 e se ajoelhou diante do STF em obediência ao instinto mais primitivo do político brasileiro ficar do lado que ganha.  
Os deputados já cheiraram há muito tempo que o Judiciário é mais forte que o Executivo, que um manda e que o outro obedece. 
Sabe que ele próprio, o Legislativo, fica de quatro diante do tribunal; 
num dos momentos mais baixos da sua história, aceitou há pouco que o STF enfiasse na cadeia, levado pela polícia, um deputado federal. 
Isso mesmoum deputado federal no exercício de mandato, que tem imunidade parlamentar por força da Constituição e cujos atos só podem ser apreciados pela própria Câmara. 
Imunidade parlamentar? Foro privilegiado? Qual? Por medo físico do Supremo, de quem dependem para sobreviver às suas tempestades diante da lei criminal, nada disso vale. 
O que vale é saber o que os ministros estão querendo e obedecer rapidinho.

Na votação final, o “voto impresso” teve até mais votos — 229 contra 218  [o que comprova que o presidente Bolsonaro está certíssimo quando diz que é inimpichável = para que um pedido de impeachment se transforme em processo,
são necessários 342 votos;
quanto aos demais atributos que ele disse possuir asseguramos que imorrível ele não é, imbrochável e incomível são temos fora da nossa jurisdição (a esquerda alegre costuma curtir tais temas)]

O próprio caso do “voto impresso” é um exemplo perfeito dessa subserviência que começa na presidência do Senado e da Câmara, passa pelas mesas e acaba no fundão do plenário. A Câmara havia aprovado, em ato legislativo impecável, uma lei estabelecendo a adoção de mudanças que permitiriam a impressão de comprovantes de votação que não seriam levados para casa com o eleitor, mas ficariam em cada urna, à espera de verificação posterior pelos partidos
 
O STF anulou a lei, pura e simplesmente. Segundo os ministros, ela seria “inconstitucional”, por dar chances de romper o sigilo do voto — um disparate que jamais conseguiram explicar até hoje de maneira minimamente compreensível. Se a Câmara pode ter uma decisão como essa jogada no lixo, qual a razão para alguém achar que a separação de Poderes está valendo no Brasil? Os deputados baixaram a cabeça, disseram “sim, senhor” e ficou por isso mesmo. Alguns parlamentares, tempos atrás, resolveram reabrir o assunto. Não era um grupo pequeno: na votação final, o “voto impresso” teve até mais votos — 229 contra 218. Mas não era grande o suficiente ficou abaixo dos 308 necessários para a aprovação do projeto. O caso, de qualquer forma, já estava resolvido. O STF, logo no começo da discussão, entrou em transe: nenhuma mudança seria permitida, informou o ministro Barroso. Ele chegou a ir à Câmara, pessoalmente, para convencer os deputados a rejeitar a proposta de mudanças. Convenceu.
 
Fica aberta, no atestado de óbito, uma questão até agora sem resposta: por que um problema essencialmente político como esse foi tratado como um teste de força entre Bolsonaro e Barroso, com xingamento de mãe e tudo o mais a que se tem direito? 
Na véspera da votação, Bolsonaro disse que, “sem negociação”, a proposta de modificações não iria passar. 
Por que, nesse caso, ele só foi lembrar de negociar quando Inês já estava morta? Por que, se estava mesmo disposto a ganhar a parada e acha que negociação é essencial, não começou a negociar em janeiro de 2019, logo que tomou posse? Não fica claro, do mesmo jeito, por que o presidente esperou tanto tempo para falar de fraude na apuração de 2018. Se está convicto de que roubaram voto, por que só veio tocar no assunto já na reta final?
 
A discussão enfim acabou, mas o saldo que fica disso tudo é um belo desastre. Com a não solução a que se chegou, fica criada, e não se sabe se irá embora mais tarde, a suspeita de que as eleições presidenciais de 2022 não serão limpas. Não adianta ficar falando que isso “é golpe”. Fama de eleição roubada é coisa difícil de ir embora com manchete no horário nobre e manifesto de artista. 
O fato é que continua sem resposta a pergunta-chave nessa coisa toda: por que não seria possível aperfeiçoar um sistema eletrônico de votação? O ministro Barroso insiste, e não muda nada em nenhum milímetro, que o TSE montou um aparato invulnerável e perfeito para as eleições brasileiras;  
não pode ser quebrado por ninguém e não há nenhum recurso na ciência digital capaz de tornar melhor um sistema eleitoral que só é adotado no Brasil, no Butão e em Bangladesh. 
Os bancos, sites de vendas on-line e cartões de crédito aperfeiçoam todos os dias seus sistemas de segurança; gastam bilhões nessa tarefa. 
Por que o TSE é melhor que eles? É uma estupidez.

O STF se apresenta como vítima e se coloca, ao mesmo tempo, nos papéis de acusador e de juiz

Sobra para o governo, agora, o dever que até o momento parece não ter sido examinado por ninguém — de fazer tudo o que a tecnologia permite para cobrir o máximo de vulnerabilidades do atual sistema
Agora não é mais discurso; é puro trabalho, silencioso e longe do picadeiro de circo armado em volta do assunto, coisa que exige cabeça e não dá cartaz para ninguém. O roteiro mostrando onde pode haver problemas existe. 
O que se pode fazer a respeito é colocar todo o potencial de conhecimento digital à disposição do governo, a começar pelo arsenal de recursos tecnológicos das Forças Armadas, no acompanhamento de cada passo do processo eleitoral de 2022 há mais de um ano para fazer isso, até o início da apuração. É um trabalho a ser feito em conjunto com os partidos — e quem mais estiver habilitado a auditar o sistema. Ou será feito ou não. Depende do governo.
É possível, também, que resulte alguma coisa de esforços que os políticos pretendem fazer para mudar alguma coisinha aqui e ali — nada que deixe nervosos os ministros e que carregue junto as odiosas palavras “voto” e “impresso”, mas que dê uma satisfação qualquer aos 229 deputados que votaram a favor das mudanças. 
 
É o que temos, além do descrédito quanto à honestidade dos resultados da eleição e do duelo pessoal cada vez mais perigoso entre o presidente Bolsonaro, de um lado, e o STF, do outro — no qual o STF se apresenta como vítima e se coloca, ao mesmo tempo, no papel de juiz. 
Abre os inquéritos e processos, aguarda uma denúncia do procurador-geral da República e, no fim, dá a sentença. 
É difícil uma coisa dessas acabar bem — a menos que se torne melhor, e não pior a cada dia que passa.
 
J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste 
 

sábado, 17 de julho de 2021

É proibido modernizar a urna eletrônica? - Revista Oeste

Cristyan Costa

A polarização política envenena o debate sobre mudanças que podem melhorar o sistema eleitoral, desde que o Brasil adotou o sistema de votação eletrônico, em 1996, a transparência e a segurança do processo eleitoral têm sido discutidas. 

 Por que ser contra algo que pode tornar a votação mais segura?

[Eis a pergunta que todos fazem e os ministros do TSE deveriam responder, antes de moverem uma verdadeira guerra contra a que o Congresso Nacional - Poder Legislativo - legisle sobre mudanças que tornarão as urnas eletrônicas mais seguras e mais confiáveis.
Só que eles insistem em não responder. Ao final, mais detalhes sobre a pergunta.]

O debate ganhou projeção há 21 anos, com Leonel Brizola (PDT), ex-governador do Rio de Janeiro, que durante a disputa pela capital fluminense em 2000 levantou dúvidas sobre a segurança das urnas. Na época, o pedetista foi derrotado, embora aparecesse bem posicionado nas pesquisas. “Perdemos o direito à recontagem”, queixou-se, ao mencionar a falta de um mecanismo que possibilitasse a verificação dos votos. A reclamação foi a mesma do PSDB, em 2014, quando Aécio Neves contestou o resultado da eleição. Sua equipe de campanha, entretanto, chegou à conclusão de que era impossível verificar as urnas, por causa da não materialização dos votos.

Há anos, partidos de diferentes matizes sentem necessidade de aperfeiçoar o sistema eleitoral com um dispositivo que não deixe dúvidas sobre sua lisura: a impressão do comprovante do voto, que nada tem a ver com a volta das cédulas de papel, anteriores às urnas eletrônicas.

Três projetos de lei sobre o tema chegaram a ser aprovados no Congresso Nacional em 2002, 2009 e 2015 — na terceira vez, a medida teve o apoio de siglas como PSDB, MDB, PCdoB, Psol e PDT, entre outras. No entanto, em todos os casos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se manifestou contra a implantação e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela inconstitucionalidade dos textos de 2009 e 2015. Por recomendação do TSE, o de 2002 foi derrubado pelo Congresso.

Atualmente, tramita na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135/19, de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). O projeto seria votado na quinta-feira 15, mas, por falta de consenso entre os deputados, a comissão especial responsável adiou a apreciação da matéria para agosto. Contrário à sua aprovação, o TSE argumenta que a medida é cara demais, custa cerca de R$ 2 bilhões na mesma quinta, os pagadores de impostos ficaram sabendo que a Comissão Mista de Orçamento aprovou o aumento do Fundo Eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões. Até agora, o TSE não se manifestou sobre o caso.

Já ministros do STF dizem que haverá violação do sigilo do voto. [ainda não se sabe por onde andava o notório saber jurídico dos ministros do Supremo, que disseram coisa tão absurda.
Tudo nos faz pensar que, no momento em que emitiram tal opinião, insustentável, o saber jurídico dos que afirmaram estava em recesso.] Contra esse argumento, a PEC de Bia Kicis estabelece que impressoras sejam acopladas às urnas eletrônicas. Assim, o eleitor pode ver em quem votou. Na sequência, o documento cai em uma urna lacrada. “Trazer o voto impresso auditável para a discussão não é, de maneira nenhuma, ressuscitar o voto de papel”, afirmou Kicis num artigo publicado no site Poder 360. “É, sim, fortalecer a nossa urna eletrônica. É uma bandeira suprapartidária.” No chamado voto impresso auditável — ou verificável —, o eleitor não leva nenhum comprovante para casa. O voto sai da urna eletrônica e é depositado num recipiente no qual ficará inacessível. O eleitor não tem sequer contato físico com o papel.

A PEC, contudo, não estabelece se todas as urnas poderão ser auditadas em uma possível contestação — o que demoraria muito — ou se apenas uma porcentagem delas. Outro ponto a ser esclarecido é o local de armazenamento das urnas com os comprovantes de votação e por quanto tempo eles ficariam guardados.

Em linhas gerais, ao criar um meio adicional de segurança às urnas, a PEC se propõe a dar mais transparência ao processo eleitoral. Num primeiro momento, vários partidos simpatizaram com a medida, entre eles, o PDT e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Com o avanço da PEC no Congresso Nacional, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, iniciou uma cruzada contra a medida afirmando que o processo eleitoral eletrônico é 100% seguro e transparente. “Já passou o tempo de golpes, quarteladas, quebras da legalidade constitucional”, declarou Barroso. “Ganhou, leva. Perdeu, vai embora. Não há lugar no Brasil para a não aceitação dos resultados legítimos das urnas eletrônicas.” Os ministros do STF Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Antônio Dias Toffoli engrossaram a ofensiva e costuraram um acordo com 11 partidos para barrar o que insistem em chamar de “voto impresso”.

A gota d’água para a polarização política do tema aconteceu quando o presidente Jair Bolsonaro afirmou que, caso não haja o voto impresso verificável, “corremos o risco de não ter eleições no ano que vem”. Ou seja, embora os dois lados digam que estão lutando por eleições limpas, nenhum deles joga limpo e, um ano e meio antes da eleição, criou-se um ambiente de desconfiança. Qualquer que seja o resultado, o lado perdedor já anunciou que acusará fraude.

Um raio X das urnas
O programa (software) que vai nas urnas eletrônicas é desenvolvido por seis técnicos da Seção de Voto Informatizado (Sevin), vinculada à Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) do TSE, durante os seis meses que antecedem o primeiro turno das eleições. Nesse período, partidos políticos, a Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério Público Federal podem acompanhar as fases de desenvolvimento dos sistemas e, depois, certificam se os programas que serão usados no processo eleitoral não foram violados. O programa é enviado por uma rede privativa de internet aos cartórios. [a classificação privativa em internet é sempre relativa - que o digam os administradores do oleoduto que no inicio de junho, foi paralisado por hackers que invadiram o sistema = até então classificado como seguro, privativo.] Lá, são baixados em flashcards (espécie de pen drives ou disquetes) que vão carregar as urnas para as eleições.

Amílcar Brunazo, engenheiro especialista em segurança de dados e voto eletrônico, afirma que a inviolabilidade das urnas eleitorais é questionável. “A equipe de Diego Aranha [professor associado de Segurança de Sistemas na Universidade de Aarhus, na Dinamarca] mostrou, de dentro do TSE, ser possível inserir no flashcard um código adulterado, que não foi feito pelo tribunal, e colocá-lo na urna eletrônica”, disse Brunazo, ao observar que os brasileiros acabam tendo de confiar no servidor público que vai inserir o dispositivo na máquina. “Muitas vezes é um profissional terceirizado. O processo eleitoral brasileiro depende da integridade de todos os funcionários envolvidos (cerca de 5 mil pessoas).”

Brunazo também critica o fato de o Brasil ainda utilizar urnas de primeira geração. Em quase todos os países que adotaram o voto eletrônico, modelos de primeira geração foram abandonados devido à falta de confiabilidade e absoluta dependência do software. A Argentina, por exemplo, passou a utilizar equipamentos de terceira geração, e o Equador, de segunda geração. No Paraguai, foram feitas experiências com as urnas eletrônicas brasileiras entre 2003 e 2006, mas seu uso foi proibido em 2008 por falta de confiança no equipamento.
Hoje, apenas Brasil, Bangladesh e Butão usam a urna eletrônica de primeira geração. Ou seja, sem o voto impresso.

Em resumo, urnas eletrônicas de segunda geração possibilitam o voto impresso. Nas urnas de terceira geração, esses votos são impressos com um registro digital, que certifica a autenticidade daquele voto — uma espécie de código de barras que pode ser verificado pelo TSE, pela OAB, pelos partidos políticos e pelo MPF.Modelo de urna de segunda geração -  Foto: Divulgação/Agência BrasilUrna de terceira geração utilizada na Argentina | Foto: Divulgação

O  TSE garante que as atuais urnas eletrônicas brasileiras são confiáveis e não podem ser fraudadas. De acordo com a corte, uma das barreiras de segurança dos equipamentos é o chamado Registro Digital do Voto (RDV), que armazena em ordem aleatória e criptografada o voto de cada eleitor, com a finalidade de preservar o sigilo da votação. Os estudos do professor Diego Aranha, entretanto, mostraram que o RDV também se baseia no software e, portanto, pode ser adulterado.  

Aranha participou de dois testes públicos de segurança do TSE, quando equipes de técnicos são convidadas a explorar o sistema e tentar encontrar vulnerabilidades. Em 2012, Aranha conseguiu acessar os registros digitais dos votos: embora os RDVs estivessem embaralhados, ele os colocou em ordem e, assim, quebrou o sigilo do voto foi possível saber como votou o primeiro eleitor, o segundo e assim sucessivamente.

Em 2017, ele dobrou a aposta, adulterou o programa de votação desenvolvido pelo TSE, colocou uma propaganda com o nome de um candidato na tela e impediu que os votos pudessem ser armazenados na memória da urna
O TSE reconheceu o problema e alegou ter corrigido as falhas. 
Aranha afirma que até testes do TSE em que hackers de fora da corte tentam burlar o programa das urnas são um instrumento de auditagem insuficiente. “Eles oferecem ambiente controlado e tempo restrito para os técnicos descobrirem as vulnerabilidades”, contou Aranha, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. “Na vida real, hackers e pessoas mal-intencionadas têm muito mais tempo e flexibilidade.” O TSE rebateu, argumentando que as urnas são não conectadas à internet. “Qualquer hacker racional vai tentar adulterar o software antes que ele seja instalado nas urnas. Por exemplo, durante a gravação dos flashcards ou depois de serem gravados.”

Franklin Melo, especialista em Tecnologia da Informação, afirma que pode haver brechas em qualquer canal de rede de internet, até mesmo na privativa do TSE. Crítico do atual modelo de votação do Brasil, ele diz que nenhum sistema digital é 100% seguro. “Qualquer software é passível de fraude”, constatou, ao dizer que programas de computadores são desenvolvidos por seres humanos, que cometem erros. “Nem a Nasa tampouco o Pentágono são 100% seguros”, acrescentou, ao dizer que não entende por que há tanta resistência no Brasil a adotar mais uma camada de proteção em seu sistema eleitoral. Segundo Melo, qualquer sistema tem de estar em constante aperfeiçoamento, como, por exemplo, ocorre com celulares e aplicativos, entre outros. “Atualizações garantem que eventuais vulnerabilidades possam ser sanadas”, diz, ao elogiar a impressão do comprovante do voto como meio de obter maior transparência.

Infográfico revisado pelos especialistas em tecnologia da informação Amílcar Brunazo e Carlos Rocha | Infográfico: Luiz Iria, Naomi Akimoto Iria e Cristyan Costa

Infográfico revisado pelos especialistas em tecnologia da informação Amílcar Brunazo e Carlos Rocha - Infográfico: Luiz Iria, Naomi Akimoto Iria e Cristyan Costa
 
Descentralização de poderes
A Justiça Eleitoral organiza, fiscaliza e realiza as eleições, regula o processo eleitoral, examina as contas dos partidos e dos candidatos, controla o cumprimento da legislação e julga os processos relacionados com as eleições. Em síntese, ela é a mandachuva do sistema. Além disso, ministros do STF se revezam em cargos de decisão dentro do TSE, como a presidência da corte.

Por que ser contra algo que pode tornar a votação mais segura?

Carlos Rocha, engenheiro formado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica e CEO da Samurai Digital Transformation, defende a descentralização do TSE. “Não é crível que a autoridade eleitoral cuide de tudo”, afirmou. Rocha liderou o desenvolvimento e a fabricação da urna eletrônica nos anos 1990 e acredita que seja necessário o aprimoramento do processo eleitoral.A democracia brasileira não pode continuar a depender de um pequeno grupo de técnicos do TSE, que têm o controle absoluto sobre o sistema eletrônico de votação, de todos os códigos e chaves de criptografia”, afirmou.

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Quem realiza eleições não pode, também, desenvolver software, certificar equipamentos e programas, auditar os resultados das eleições e julgar eventuais desvios”, disse Rocha. Apoiador do voto auditável, ele destaca a necessidade de materializar cada voto em um documento eletrônico certificado pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira, a ICP-Brasil, de modo a conceder validade legal. “O atual RDV [Registro Digital do Voto] reúne todos os votos em um único arquivo e não protege os votos contra apagamento ou alterações, no caso de quebra de segurança da urna”, observou Carlos.

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Dizer que o Estado brasileiro vai ser atacado por um hacker qualquer é uma bobagem tão grande quanto negar a possibilidade de modernizar a urna eletrônica. 
Afinal, por que ser contra algo que pode tornar a votação mais segura? 
A polarização política envenena o debate sobre mudanças que podem melhorar o sistema eleitoral.

Leia também “Uma crise encomendada”

Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA 


 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Ninguém foi censurado - Carlos Alberto Sardenberg

Polícia Federal não indiciou Glenn. Mas o MP não tem a obrigação de seguir exatamente o caminho da PF

O que ameaça a liberdade de imprensa é a censura, sobretudo a censura prévia. Jornalistas apuram suas notícias de diversas formas – pesquisando, vendo os fatos (numa guerra, por exemplo, numa manifestação de rua) ou consultando fontes que consideram confiáveis. E devem ter a liberdade plena de publicar o que apuraram sem pedir autorização a qualquer autoridade. Tem mais. Nas democracias, a lei garante o sigilo da fonte da informação e não apenas para o jornalista. Médicos, advogados, psicanalistas têm o mesmo direito.
  Logo, o jornalista não pode ser punido quando se recusar a revelar sua fonte. Mas o que acontece se a informação publicada for um tremendo erro, uma mentira, uma ofensa aos direitos de terceiros?
Fica por isso mesmo?
É claro que não pode ficar. O jornalista é responsável pelo que publica e pode ser processado pela parte atingida. Isso não é incomum por aqui. Há inclusive vários casos de jornalistas que processaram jornalistas e obtiveram condenações exemplares.  O jornalista processado sempre diz que é vítima de um ataque à liberdade de imprensa. Errado. Ele teve a plena liberdade de publicar – e o que foi publicado lá permaneceu. Mas tem que ser responsável pelo que publicou. Um engenheiro é responsável se a barreira se desmancha e mata centenas de pessoas. Por que o jornalista não seria responsável por destruir a reputação de uma pessoa que seja?

Essa responsabilidade não desaparece quando o jornalista alega o sigilo da fonte. Um exemplo clássico: a jornalista Judith Miller, que já tinha um Pulitzer, publicou no N.Y.Times que Valerie Plame, esposa de um ex-embaixador, era agente secreta da CIA. Obviamente, colocou em risco a vida e  destruiu a carreira de Valerie. A jornalista foi processada, recusou-se a revelar a fonte, foi condenada e presa. Um outro caso clássico também vem dos Estados Unidos. O N.Y.Times publicou documentos do Pentágono (sobre a guerra do Vietnã) que haviam sido subtraídos por um funcionário do órgão. Atenção, o jornal não havia participado do roubo – e isso foi um ponto importante do processo. Apenas recebera os documentos de um funcionário que julgou necessário divulgar aqueles fatos.
O jornal pode seguir publicando os documentos. Ou seja, o jornalista precisa checar a informação recebida de sua fonte e, sobretudo, não pode participar de nenhum  modo na produção da notícia. E muito menos não pode participar do roubo de uma informação, quer a financiando, quer ajudando a fonte de algum modo. [os diálogos comprovam que o verdevaldo ajudou os criminosos a ocultr informações diversas, entre elas as que poderiam identificar o receptador;
a turma do verdevaldo é tão sem noção que usa o argumento que O MP não poderia investigar o jornalista, tendo em conta que a PF não o havia investigado - teoria tão estúpida, digna dos que a elaboraram e produziram o 'escândalo que encolheu';
A ser acatado tão estapafúrdia tese, a PF passou a ter poderes que são exclusivos do Poder Judiciário = julgar;
Se a PF não investigou é sinal que decidiu, julgou, ser o não investigado inocente = sentença transitada em julgado, que nem a lei pode mudar.]

Tudo considerado, o jornalista Glenn Greenwald não foi censurado. Publicou e continua publicando suas histórias. Não houve censura nem quando ficou claro que as informações, as conversas entre promotores e juízes da Lava Jato, haviam sido obtidas criminosamente por hackers.  A Polícia Federal encontrou e prendeu os suspeitos. Não investigou, nem indiciou o jornalista americano, que estava protegido por uma decisão do ministro Gilmar Mendes. Discutível. Jornalistas são imunes? Não devem ser.  Mas o Ministério Público resolveu denunciar Greenwald por entender que, investigando outras pessoas, os hackers, encontrara indícios de que o jornalista havia sido cúmplice ou tinha participado de algum modo da operação de roubo das informações.

A denúncia é o começo do processo. Pode ser desclassificada pelo juiz logo de cara.  Sim, é verdade que a Polícia Federal não indiciou o jornalista. Mas o Ministério Público não tem a obrigação de seguir exatamente o caminho da PF. Se não fosse assim, os casos já sairiam direto da PF para o juiz.  Muita gente diz que está claro que Greenwald não participou do processo. Pode ser, mas é o juiz que vai dizer isso. E pode ser assim porque o caso é grave. Se houve conluio entre jornalista e fontes, que cometeram crime, foi o jornalista que colocou em risco a liberdade e a independência da imprensa.
Enquanto isso, ninguém foi censurado. Glenn Greenwald continua publicando seu site e continua livremente se defendendo das acusações e, de sua parte, fazendo suas próprias acusações. E a imprensa continua contando e opinando de um lado e de outro.
A ver o que dizem os tribunais.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 



 Coluna publicada em O Globo - Economia 23 de janeiro de 2020



domingo, 12 de janeiro de 2020

O bunker do Rio Tigre - O bunker dos EUA em Bagdá - O Globo

Dorrit Harazim 

Embaixada dos EUA em Bagdá é um mastodonte, que ocupa uma área maior que a do Vaticano

No meio do caminho entre os Estados Unidos e o Irã tem mais do que uma pedra. Tem um país inteiro, o Iraque, à deriva entre esses dois graúdos senhores de sua autonomia. Não é de hoje que as fronteiras, identidade, paz ou governo iraquianos são movediços. O que muda são os protagonistas. “Ó povo de Bagdá, lembre-se que ao longo de 26 gerações vocês sofrem sob tiranos estrangeiros dedicados a insuflar árabes contra árabes e se beneficiar dessas dissensões”, proclamara já em 1917 o comandante em chefe das tropas britânicas, coronel Stanley Maude, ao capturar a capital Bagdá dos turcos e alemães, em nome dos aliados na Primeira Guerra Mundial.

Nada de que os próprios iraquianos precisassem ser lembrados, é claro. Tampouco agora precisam ser lembrados da fragilidade de sua soberania, quando foguetes iranianos atacam bases americanas no Iraque, e os EUA usam seu espaço aéreo para matar o general mais poderoso do Irã. Ainda na sexta-feira, o primeiro-ministro interino Adel Abdul-Mahdi reiterou cauteloso pedido a Washington visando a estabelecer algum mecanismo para a efetiva retirada das tropas americanas de seu solo. Como esta questão tem potencial para alterar todo o tabuleiro geopolítico da região, nada de imediato é esperado, sobretudo em tempos de alta tensão.


Em algum momento da história, porém, um último militar dos Estados Unidos haverá de embrulhar a bandeira e deixar a terra invadida e ocupada em 2003. E ficará em solo iraquiano um mausoléu do governo George W. Bush tão ilustrativo dessa era quanto o delirante palácio presidencial de Saddam Hussein, cujas entranhas de luxo e barbárie foram expostas à curiosidade mundial após a deposição do dono. Trata-se da Embaixada dos Estados Unidos em Bagdá. 

Quem a definiu em termos absolutos foi o britânico Martin Kemp, professor emérito de História da Arte na Universidade de Oxford. “A embaixada não deve ser olhada como ‘arquitetura’. Ela é um insulto a uma cidade de grande histórico cultural visual. Suas paredes são pontuadas por olhos sem alma. Seus ouvidos são surdos para o mundo. Trata-se de um monstro”, resumiu em artigo para o “New York Times” pouco após a inauguração do complexo, em 2009.

Kemp referia-se ao mastodonte emparedado de 21 edificações às margens do Rio Tigre, que ocupa uma área maior do que o Vaticano. Inaugurada ao final da fase militar da ocupação americana do Iraque, o empreendimento feito sem licitação teve o custo original de meio bilhão de dólares aumentado para U$ 750 milhões (equivalentes a R$ 3,02 bilhões) por um erro de cálculo elementar: nem o Pentágono nem o Departamento de Estado imaginaram que os 16 mil eventuais ocupantes do complexo (10% funcionários diplomáticos, 10% administradores, 30% pessoal terceirizado para serviços, 50% pessoal de segurança) não se sentiriam seguros sequer para circular pelo perímetro mais bem protegido de Bagdá a chamada Zona Verde que abriga tanto as embaixadas quanto o governo iraquiano. Resultado: foi construído um mundo estanque. Um bunker dentro de um bunker.

Hoje ocupado por apenas 1.000 funcionários regulares (descontando serviçais e aparato de segurança), ele tem desde restaurante à prova de morteiro e foguete até cinemas, shopping e escolas; de usinas elétrica e hidráulica a tratamento de esgoto e lixo, unidade de bombeiros, de fuzileiros navais, comissariado, nomes de ruas como Main Street e Broadway — ah, e a chancelaria, é claro. Os manifestantes pró-iranianos de dias atrás conseguiram invadir apenas um primeiro cinturão de acesso ao complexo, sem chegar à embaixada propriamente dita.

Há muito embaixadas deixaram de ser um intocável oásis de território soberano cravado mundo afora para abrigar a diplomacia e interesses comerciais, enquanto as bases militares tratavam do grosso. Adaptaram-se aos novos tempos, como demonstra Jane C. Loeffler no interessantíssimo “The Architecture of Diplomacy: Building America’s Embassies” (sem edição no Brasil). Para a historiadora, a arquitetura da embaixada de Bagdá transmite ausência de confiança dos Estados Unidos nos iraquianos, e portanto escassa esperança quanto ao futuro independente e soberano do país.

“Até quando esta fortaleza em solo estrangeiro vai poder ficar de pé sem ofender ou enfurecer a população?”, perguntava uma década atrás o coronel reformado Douglas Macgregor, que serviu na primeira Guerra do Golfo. Peter Van Buren, funcionário do Departamento de Estado e integrante da equipe do programa de reconstrução do Iraque, também narrou sua experiência em livro. O titulo é interminável — “Tínhamos boas intenções: como ajudei a perder a guerra pelos corações e mentes do povo iraquiano”. Seu autor não deve ter mudado de opinião sobre o mamute do Rio Tigre:
“É uma fortaleza destinada a manter o povo e a realidade do lado de fora”. Também uma pedra no caminho.
Dorrit Harazim, colunista - O Globo
 
 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O arquiteto do imprevisível - Fernando Gabeira

Em Blog
 

Tantos votos no fim de 2019 de que o ano novo fosse leve, e ele praticamente começou com as bombas sobre o carro do general Suleimani, no Iraque. De novo a tensão, o medo da guerra e tonitruantes ameaças. Com a humildade de quem não conhece os meandros da política no Oriente Médio, meu primeiro impulso foi entender a estratégia de Trump. Recorri aos especialistas, mas não foram poucos os que admitiram incompreensão diante dos passos do presidente dos EUA. O que ele quer adiante, como vai desdobrar esta crise por ele agravada?

O próprio Trump afirmou que não estava começando uma guerra, e sim tentando acabar com um conflito. Dois tipos de debate surgiram: os que valorizam ou condenam a ação do Trump e os que, simplesmente, se limitam a perguntar se foi sábia a sua decisão.  Há uma longa história de atritos entre EUA e Irã, mortes, sequestros, derrubada de aviões. Por que agora Trump deu um passo que nem Bush nem Obama ousaram arriscar?  Havia uma tensão crescente, morte de um americano, bombardeio das guerrilhas xiitas no Iraque, invasão da embaixada americana. Era uma sucessão de escaramuças, mas não completamente estranha às relações dos dois países.

Assim como é difícil entender por que Trump decidiu isso agora, também é difícil prever todas as consequências. Não creio que o Irã, apesar da pressão popular, vá retaliar cegamente ou mesmo abrir várias frentes de luta contra os EUA. Seus líderes são experientes, embora alguma resposta tenham de dar imediatamente.
Suleimani era um dos artífices da repressão interna aos manifestantes contra o regime iraniano. Sua morte uniu o país e, certamente, esvaziou, no momento, os anseios democráticos de uma parte da população. Sua influência se estendia às milícias do Iêmen e do Iraque, aos governos na Faixa de Gaza, na Síria e no Líbano, onde o Hezbollah também é forte.

No entanto, até agora houve apenas duas reações políticas consideráveis. No Iraque, houve a decisão da retirada das tropas americanas, decisão cujo modo de realizar ainda é incógnito. Por seu lado, Teerã anunciou que deixaria o acordo nuclear costurado por Obama com a participação da Europa. Trump já se desligou dele em 2018, abrindo o caminho para seu fracasso.Não só pela clássica hostilidade entre EUA e Irã, a política norte-americana na região não é fácil de ser formulada. Obama tentou um caminho conciliatório, baseado em negociação. Mas dois importantes aliados, Israel e Arábia Saudita, não aprovavam esse enfoque. O próprio Obama ordenou a execução de muitos oponentes usando drones. No seu governo, Osama bin Laden foi despachado deste mundo. Mas os executados por Obama eram considerados terroristas e, sobretudo, não tinham cargos em governo, como Suleimani, nem eram tratados como heróis nacionais.

É essa linha que Trump ultrapassou, linha que, submetida ao Congresso, talvez tivesse enormes dificuldades de aprovação.  Ainda não conhecemos as consequências. Mas Trump arriscou um passo perigoso quando ameaçou destruir os bens culturais do Irã. Apesar da simpatia que desperta entre seus adeptos e admiradores, incluído o governo brasileiro, Trump isolaria dramaticamente os EUA se rebaixasse o país ao nível dos taleban ou do Isis, que destruíam, sorrindo, obras caríssimas à humanidade.

Em primeiro lugar, romperia com a própria posição americana, que respaldou em 2017 a condenação ao bombardeio do legado cultural dos países em guerra. Mesmo dentro dos EUA, não sei se seria respaldado nessa decisão. Vi uma entrevista de fonte do Pentágono dizendo que não tinham planos de atacar alvos culturais. Não deixa de ser um apelo do tipo: não nos meta nessa empreitada.
Se um simples articulista tem de estudar e tomar certas precauções diante de um quadro complexo e dinâmico, imaginem um país. Se me lembro bem dos tempos da política, a fórmula clássica é estimular a distensão e reforçar os votos pela paz e pela solução pacífica dos problemas. Mesmo sem entender bem o quadro, é uma declaração que não tem como comprometer o País.É compreensível que Bolsonaro e seu ministro tenham tomado uma posição de apoio a Trump, se levamos em conta suas ideias. Entra aí uma questão que cansei de criticar no PT: a política externa não é uma decorrência direta das ideias de um presidente ou de um partido. Ela se move de forma mais cautelosa, porque representa uma política nacional, certo tipo de consenso que tem um passado e, certamente, um futuro.


Na cabeça de Bolsonaro, as coisas funcionam assim: o PT apoiava Cuba e Venezuela, ganhamos as eleições, temos o direito de apoiar os EUA de forma irrestrita. Essa é a dificuldade, supor que uma vez ganha as eleições o vencedor impõe ilimitadamente sua vontade. A suposição de que a política externa seja apenas uma decorrência da visão partidária se estende a outras áreas, com o mesmo potencial corrosivo. A produção artística, por exemplo. A ideia é a mesma: se o PT apoiou um determinado tipo de produção cultural, a hora é de mudar radicalmente e apoiar um campo simetricamente oposto. Em ambos os casos – política externa e produção cultural – uma visão desse tipo é perigosa.[toda atividade cultural apoiada pelo =perda total = deve ser combatida.]
 
No campo internacional, desfigura uma construção simbólica que o País levou décadas para afirmar. No campo cultural, simplesmente anula o estatuto independente da arte e a considera apenas petista ou bolsonarista, na realidade, uma extensão do populismo de esquerda ou de direita. É esse tipo de equívoco que talvez leve Trump a afirmar tão naturalmente que pode bombardear os bens culturais do Irã. A mesma ilusão dos aiatolás, que tentaram remover as ruínas de Persépolis por acharem ser símbolo de uma cultura decadente. Não conseguiram, mas a ideia é sempre a mesma: ou a cultura é uma propaganda ou merece ser destruída.

Fernando Gabeira, jornalista - Blog do Gabeira


Artigo publicado no Estadão em 10/01/2020 

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A moda pegou: o estilo performático de protestos ecológicos - Blog Mundialista

Milenaristas em suas crenças de que o mundo vai acabar e teatrais nas manifestações, adeptos do grupo Extinction Rebellion exportam modelo para mundo


Tem lá a sua graça as manifestações que militantes do Extinction Rebellion estão fazendo em Londres. Pelo menos enquanto os incautos não ficam presos no trânsito ou no metrô. Paralisar nós vitais da cidade é o objetivo tático. Sobre o estratégico falaremos mais adiante. O pendor britânico para a excentricidade e o histórico de militâncias exótica são expostos em todo seu esplendor. Ao contrário das manifestações habituais, mulheres e homens de cabelos brancos estão na linha de frente.

É uma forma de organização deliberadamente planejada pelos líderes do movimento.
Os “seniors” são convocados em todo o país como voluntários para se acorrentar, colar, amarrar ou simplesmente deitar no chão e exigir o esforço de quatro policiais, no mínimo, para serem removidos sem danos para as articulações ou outras partes mais sensíveis. A expressão de felicidade do pessoal da terceira idade parece ter saído diretamente dos tempos em que eram jovens e felizes, tipo anos setenta. O cheiro de maconha também. Mas nada tão radical quanto o pessoal que queria sentar, meditar e, movido a LSD, fazer o Pentágono levitar, como na grande marcha de 14 de abril de 1967 em Washington, contra a guerra do Vietnã.

Também não existem nomes como Allen Guinsberg, Timothy Leary ou Abbie Hoffman, poetas, intelectuais e ideólogos da era da chapação e da revolução dos costumes.
Tem umas estrelinhas e modelos, gente menos conhecida fora do mundo do showbusiness britânico.A mais famosa, Emma Thompson, uma espécie de Greta Thunberg da terceira idade, dessa vez não pegou um voo de primeira classe em Los Angeles para fazer proselitismo em Londres.
Essa história de simpatizantes milionários de causas ecológicas que cruzam o mundo em aviões particulares parece que finalmente está pegando mal.

(...)

O choro convulsivo também caracterizou manifestações recentes de Greta Thunberg. No caso dela, indicando que problemas de saúde mental já reconhecidos, inclusive depressão profunda, não estão recebendo tratamento adequado.
Uma menina de 16 anos no estado da jovem sueca deveria ter adultos responsáveis à sua volta.
Nem um Nobel da Paz daria jeito nessa realidade.

Charme anarquista
A preocupação legítima com a “crise ambiental”, o novo nome do aquecimento global, pode desencadear processos emocionais artificialmente estimulados.  Até o príncipe Harry já disse que tem dias em que acha difícil levantar de manhã da cama diante dos “problemas do mundo” – outro sinal clássico de depressão.
E também dos fenômenos milenaristas, a convicção de um apocalipse iminente, no passado movido por sentimentos religiosos; hoje insuflado por prognósticos climáticos catastróficos.  Crianças e adultos, na Inglaterra e outros países europeus, derramaram lágrimas sentidas ao verem que a “Amazônia está em chamas”.
Curiosamente, o assunto simplesmente desapareceu. Nem a grande queima de floresta virgem na Bolívia, um episódio de fato terrível, é discutida.


MATÉRIA COMPLETA Em Blog Mundialista - VEJA - Vilma Gryzinski

domingo, 23 de junho de 2019

Uma viagem com Moro e Petra Costa

Não se deve cobrar imparcialidade a uma cineasta. Imparcial seria o juiz Moro. Era?

O ministro da Justiça não cabe no papel do juiz exibido em documentário

No mesmo dia (19/6) em que o ministro Sergio Moro atravessava sua maratona de nove horas no Senado, estreava na Netflix o filme “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa. A cineasta de 35 anos acompanhou as multidões que foram para a rua a partir de 2013, o impedimento de Dilma Rousseff em 2016, a prisão de Lula em abril de 2018 e a eleição de Jair Bolsonaro em outubro.  Filmou o ex-presidente arrumando a mala a caminho da carceragem de Curitiba e a cena em que mediram sua pressão arterial (146x90).

Ao longo de todo o filme, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava Jato aparecem como o que foram, um instrumento eficaz de combate à corrupção. No dia de sua estreia, outro Moro, ministro de Bolsonaro, respondia aos senadores que o acusavam de ajeitar a bola com a mão em conversas impróprias com o Ministério Público. Entre o que aconteceu e o que está acontecendo, fechou-se um círculo. Ou quase, porque Petra Costa expõe momentos de corrupção explícita que foram varridos para baixo do tapete da política nacional depois do impedimento de Dilma. Além disso, não se sabe onde está o Queiroz.

Há no filme, narrado por Petra, um tom de lamento da vertigem em que entrou o processo político nacional. A proximidade da câmera com o comissariado petista mostra sua onipotência, a autossuficiência doutoral de Dilma Rousseff e o messianismo de Lula. Numa cena do comício que antecedeu sua ida para a prisão, do alto de um caminhão, ele disse: “Os poderosos podem matar uma, duas, ou cem rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”. Talvez ele acreditasse que elegeria um novo poste.

Da eleição, com 57,8 milhões de votos, resultou Jair Bolsonaro, o capitão primaveril daqueles que aplaudiam a condenação de Lula.  Tinha razão Nelson Cavaquinho: “Tira o seu sorriso do caminho (...)/ Eu na sua vida já fui uma flor/ Hoje sou espinho em seu amor”.  Depondo no Senado, Sergio Moro evitou discutir o conteúdo de suas conversas com o procurador Deltan Dallagnol, fortificando-se na denúncia da forma ilegal como elas foram coletadas pelo site The Intercept Brasil. Esse novo personagem não cabe no roteiro da vertigem mostrada por Petra Costa. Faz parte de outra história, na qual flores e espinhos crescem juntos.

Petra Costa é cineasta, e Moro era juiz. O documentário tem um explícito viés simpático a Lula, mas
não se deve cobrar imparcialidade a uma cineasta. Imparcial seria o juiz Moro. Era?

GLENN GREENWALD ABUSA DO CONTA-GOTAS
Num ponto o ministro Sergio Moro tem alguma razão: o site The Intercept Brasil deveria divulgar todo o acervo de grampos que amealhou. A divulgação parcial e seletiva, acompanhada por insinuações ameaçadoras do repórter Glenn Greenwald, é um feitiço que pode se virar contra o feiticeiro.

Antes da internet era comum que revelações jornalísticas fossem expostas em séries, mas Greenwald vem fazendo bem outra coisa. Promete isso ou aquilo, às vezes em tom de vaga ameaça. A divulgação de denúncias num regime de conta-gotas foi uma das piores táticas dos procuradores da Lava Jato.  Em 1971, quando o New York Times e o Washington Post publicaram os documentos do Pentágono, submeteram seus critérios editoriais ao juízo do público. Conhecido todo o papelório, viu-se que trabalharam direito.

Mesmo assim, William Buckley Jr., um brilhante jornalista conservador, fez uma das suas. Enquanto o país vivia o choque dos documentos do Times, ele publicou 14 páginas com telegramas e memorandos, chamando-os de “os documentos secretos que eles não publicam”. Num, o chefe do Estado-maior conjunto propunha “o lançamento de uma bomba atômica para efeito de demonstração” contra o Vietnã do Norte.

Tanto o Times como o Post noticiaram as revelações de Buckley. Dean Rusk, o secretário de Estado à época da sugestão, informou: “Não posso dizer que não escrevi isso. É possível que tenha escrito”. Três outros signatários de papéis foram pelo mesmo caminho.  Era tudo invenção de Buckley. Ele usou o truque para mostrar que “documentos forjados serão aceitos como genuínos desde que seu conteúdo seja plausível”.

Hoje se sabe que os hierarcas não desmentiram porque os papéis de Buckley podiam ser falsos, mas a ideia de jogar uma bomba atômica no Vietnã do Norte era verdadeira. Ela passou pela cabeça do governo americano em 1954, para ajudar os franceses, e em 1968, para responder a uma ofensiva dos comunistas.