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sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Globo inquieta - Revista Oeste

Cristyan Costa

[O FIM SE APROXIMA e será mais devastador que o da extinta TV Manchete.]

Demissões de jornalistas e artistas, dívida bilionária, queda de lucros e tombo de audiência expõem as dificuldades da emissora mais famosa do Brasil 

Trabalhar na Globo sempre foi o sonho da maioria dos estudantes de jornalismo. Eles eram assediados por familiares que esperavam um dia vê-los na TV segurando um microfone da emissora. Para quem já estava no ramo, ocupar cargos de importância na emissora era como um alpinista alcançar o pico do Monte Everest. A empresa cresceu para um status de conglomerado, reunindo, além da televisão, jornais, rádios e sites. Por anos, a Globo se manteve líder em vários desses segmentos.
 
 
Ilustração: Revista Oeste
Ilustração: Revista Oeste

Antes da chegada da internet, grande parte dos brasileiros acompanhava a programação da Globo e assistia religiosamente ao Jornal Nacional (JN). O que saía no JN era tido como a verdade absoluta. Logo depois, passava a novela das 21 horas, e a audiência era solidamente fiel no país inteiro. A rotina se repetia diariamente. A Rede Globo parecia eterna e indestrutível.

Mas as coisas mudam. A internet tirou o poder da TV tradicional. 
Os serviços de streaming se multiplicaram e roubaram boa parte da audiência. 
Ligar na Globo deixou de ser uma atitude automática. 
E as coisas só pioraram quando a emissora optou por ser um instrumento político, primeiro tentando derrubar o ex-presidente Michel Temer e agora encarnando uma oposição obsessiva ao presidente Jair Bolsonaro, numa atividade puramente política e descolada da realidade. 
O venerável Jornal Nacional perdeu seu maior patrimônio: a credibilidade.

Com a alta do dólar, a dívida da Globo passou de R$ 3,47 bilhões para R$ 5,4 bilhões

 

A nova realidade da Globo é o encolhimento.  
Artistas de novela e dramaturgos consagrados deixaram de renovar contratos. 
Funcionários veteranos, considerados intocáveis, estão sendo demitidos. A rede está perdendo direitos de transmissão, despesas estão sofrendo tesouradas impiedosas, sem contar a dívida bilionária. 
O canal de TV mergulhou na pior crise de sua história.

Queda de lucros e dívida bilionária
Os números são claros. O aumento de despesas e a queda na receita com publicidade fizeram o lucro líquido do Grupo Globo cair de R$ 752,5 milhões, em 2019, para R$ 167,8 milhões, em 2020. Foi uma queda vertiginosa de 78%. Com a alta do dólar no ano passado, a dívida da Globo passou de R$ 3,47 bilhões para R$ 5,4 bilhões.
Para piorar, a emissora deixou de contar com boa parte da ajuda que recebia do governo federal, o que explica em boa parte sua fúria oposicionista. De 2003 a 2019, nas gestões de Lula, Dilma e Temer, a Globo recebia, em média, R$ 450 milhões por ano para veicular propaganda estatal. 
Segundo levantamento do portal Terra, com base em dados da Transparência, o total foi de R$ 7,2 bilhões. Ao longo dos três anos de Jair Bolsonaro no Planalto, a Globo deixou de receber entre R$ 600 milhões e R$ 750 milhões em verbas publicitárias.

Apesar das dívidas, a emissora informou que tem caixa suficiente para honrar os compromissos: R$ 13,6 bilhões em investimentos.

“O passado não volta mais”
Na tentativa de driblar a agonia financeira e reduzir despesas, a Globo apelou para demissões no jornalismo. Nessa categoria estão os veteranos Alberto Gaspar (São Paulo) e Ari Peixoto (Rio de Janeiro), que deixaram o quadro de funcionários da TV no início do mês passado. Ambos tinham contracheques gordos. Gaspar trabalhou por quase quatro décadas na empresa, atuando como repórter e correspondente internacional. Em 34 anos de casa, Peixoto ocupou as mesmas posições que o colega. As cartas de despedida dos dois profissionais revelaram clima de “velório” nas redações da Globo, com a perspectiva de novos cortes.

Poucas semanas antes, a emissora demitira outros profissionais com a folha de pagamentos elevada. Fernando Saraiva, que estava na empresa desde 1999, foi um deles. O repórter especial Roberto Paiva, idem, além do produtor Robinson Cerântula. No fim de outubro, a Globo ainda desligou 20 profissionais de sua equipe na capital paulista, entre eles jornalistas, produtores, cinegrafistas, operadores de áudio e outros funcionários da equipe técnica. Não foi o suficiente. A empresa tem uma lista grande de degola e está demitindo a conta-gotas, com a finalidade de evitar conflito com sindicatos, noticiou o portal IG.

Nesta semana, a apresentadora do programa É de Casa, Cissa Guimarães, foi surpreendida com o aviso de que estava sendo desligada da Globo. O motivo: redução de custos. Cissa trabalhou 40 anos na emissora, participando de novelas e programas, como o Video Show. Seu salário chegava a R$ 100 mil, noticiou o portal Observatório da Televisão.

A dispensa mais simbólica e surpreendente foi a do casal Tarcísio Meira e Glória Menezes, demitidos em setembro de 2020 após 44 anos de casa. “Nos últimos anos, temos tomado uma série de iniciativas para preparar a empresa para os desafios do futuro”, salientou a Globo, em um comunicado. “Com isso, temos evoluído nos nossos modelos de gestão, de criação e de desenvolvimento de negócios.” O tom do documento era o mesmo do endereçado ao dramaturgo Aguinaldo Silva, que, em março daquele ano, recebera em casa o aviso de que a parceria terminara. Ele garante que não guarda mágoas: “A Globo me deu muito. E eu dei muito para eles.”

Para Aguinaldo, a situação da empresa e a de outras do ramo é reflexo das transformações pelas quais passa o mercado. “Os tempos são outros. As pessoas agora têm uma infinidade de escolhas de novas mídias, como o streaming.” Segundo ele, as adaptações têm de ocorrer por parte dos que quiserem sobreviver à atualidade e se preparar para o futuro. “As novas gerações não estão interessadas em gêneros de novelas que duram meses, histórias que se cruzam demais. Querem algo imediato e profundo. O passado não volta mais.”

A dança das cadeiras
Desligado da companhia neste ano, Silvio de Abreu, ex-diretor da Teledramaturgia da Globo, criticou as várias demissões que ocorreram ao longo dos últimos meses. Segundo Abreu, todas as vezes que uma dispensa era anunciada, ia parar no Departamento de Relações Humanas (RH). “Isso foi uma resolução que surgiu quando a Globo fundiu as várias empresas do grupo e resolveu enxugar seus quadros”, relatou, em entrevista publicada pela revista Veja, em outubro. “Fui totalmente contra. Sempre que alguém era dispensado, eu ia ao RH para discutir”, lembrou. “Com o enxugamento, esses profissionais estão na praça e vão acabar na concorrência.”

Embora não tenha sido demitido, o apresentador Fausto Silva se antecipou ao abate e deixou a Globo em junho, pouco antes de terminar seu contrato. Ele irá comandar um programa na Band, a partir de 2022. Em dezembro, será a vez do jornalista Tiago Leifert se despedir da casa que o abrigou por 16 anos. “Tem tanta coisa que quero aprender, quero estudar, cuidar da família”, disse Leifert, em entrevista ao Mais Você, ao justificar com antecedência por que sairá da Globo. “Era essa escolha que eu tinha que fazer. A missão aqui está cumprida.” Os atores Lázaro Ramos, Ingrid Guimarães, Reynaldo Gianecchini, Vera Fischer, Antônio Fagundes, Débora Nascimento, entre outros, também não quiseram renovar seus contratos.

A “dança das cadeiras” ocorreu ainda no alto escalão da emissora, tentativa vista pelo mercado como uma forma de “pôr ordem na casa”. O empresário João Roberto Marinho será o novo presidente do Grupo Globo, formado pela Editora Globo, a Globo, o Sistema Globo de Rádio, a Globo Ventures e a Fundação Roberto Marinho. Diretor de canais da emissora, Paulo Marinho vai assumir a presidência da Globo.

Segundo a empresa, as mudanças já estavam planejadas e fazem parte “da jornada de profunda transformação digital iniciada em setembro de 2018”. A transição total será concretizada a partir de fevereiro de 2022. O atual diretor da Globo, Jorge Nóbrega, ganhará um cargo no conselho editorial da companhia, responsável por dar o tom no jornalismo do conglomerado de mídia.

Jorge Nóbrega atua nas empresas do Grupo Globo desde 1996. Em 2017, assumiu a presidência do grupo, sendo o primeiro presidente a não fazer parte da família Marinho. Com a sua saída, João Roberto Marinho estará à frente do Conselho de Administração e também do Grupo Globo. João Roberto Marinho seguirá também no comando do Conselho Editorial e do Comitê Institucional, que tem o papel de acompanhar e propor linhas de atuação para as relações institucionais do Grupo Globo.

Tombos de audiência
Nenhuma mudança administrativa vai resolver a situação da empresa se os seus principais problemas não forem enfrentados. O jornalismo sem pluralidade, as novelas contaminadas pelo politicamente correto, com enredo pobre e elenco de segundo escalão, a linha de shows estagnada em fórmulas ultrapassadas, a militância esquerdista assombrando até as transmissões de futebol tudo isso está cobrando um preço nos índices de audiência.

Nem o Jornal Nacional foi poupado pelo público. Depois de atingir médias diárias acima de 35 pontos em 2020, no auge da cobertura da pandemia de covid-19, o JN viu 15% de seu público desaparecer. Os índices dos primeiros seis meses deste ano são os piores desde 2015. A média semestral foi de 25 pontos.

No Painel Nacional de Televisão (índice que mensura a audiência das 15 maiores regiões metropolitanas do país), a emissora teve o pior ibope de outubro desde 2015 ao registrar, por dois meses consecutivos, marcas negativas de audiência.

De acordo com os dados consolidados pelo TV Pop, a emissora cravou 10,79 pontos de média no acumulado das 24 horas nos 31 dias de outubro. Perdeu ainda mais telespectadores em relação ao acumulado de setembro — mês em que a Globo registrou média de 10,94 pontos e disse adeus a quase 2 milhões de pessoas que a acompanhavam. Para ter ideia, o índice de setembro foi menor que o obtido pelo canal em dezembro de 2020 (11,17 pontos), quando há menos televisores ligados.

O público não se animou com o novo Domingão do Huck. Estreou em 5 de setembro deste ano, com 19,1 pontos de audiência. Em 10 de outubro, registrou 12,7 pontos — uma queda de 33,5% em menos de dois meses. O número fica bem abaixo da média de 18 pontos do apresentador Faustão, que teve seu melhor momento em maio, com 21 pontos de audiência.

Fragmentação e pluralidade de ideias
O mesmo clima de decadência aparece num território em que a Globo era absoluta há poucos anos: os esportes. Perdeu a Fórmula 1 para a Band. Perdeu a transmissão do torneio Libertadores das Américas para SBT, Facebook, Fox Sports e Conmebol TV. Já não tem mais a Copa nem a Recopa Sul-americanas e a exclusividade dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2022, a ser realizada no Catar, nas plataformas digitais.

As transmissões da elite do tênis passaram para a ESPN. A Globo também já não transmite a Liga dos Campeões, que se transferiu para o TNT e o SBT. O Campeonato Carioca de futebol está fora da grade, assim como o Campeonato Baiano. Como se não bastasse, a Justiça de São Paulo manteve a multa de cerca de R$ 9,9 milhões aplicada pelo Procon à Globo por considerar que a emissora não informou os assinantes do canal Premiere sobre a redução na quantidade de jogos transmitidos do Campeonato Brasileiro de 2019.

Em contrapartida, emissoras como a Jovem Pan (JP), que conseguiu um canal de TV, surpreenderam na audiência em sua data de estreia — em 27 de outubro. A JP conseguiu superar a CNN Brasil, a BandNews e a Record News nos números da TV paga e só ficou atrás da GloboNews durante todo o dia. A Jovem Pan News marcou 0,2 ponto de média entre 6 da manhã e meia-noite no Ibope PNT da TV por assinatura. Na mesma faixa horária de competição, a GloboNews obteve 0,6 ponto. CNN Brasil, Record News e Band News empataram com 0,1 ponto.

O maior destaque na programação da Pan TV foi o programa Os Pingos nos Is, que já é sucesso no rádio. Obteve 0,8 ponto entre 18 horas e 20 horas, contra 1,1 da GloboNews. Quem também rendeu foi o Pânico, que conseguiu 0,3 ponto, contra 0,6 da GloboNews.

A queda da Globo é o maior símbolo de um novo tempo para o jornalismo e o entretenimento. A tendência é a fragmentação e a pluralidade de ideias. Quem não se adaptar ficará para trás.

Leia também “O tombo da velha mídia”

Jornal Nacional sobe o tom contra Bolsonaro em editorial

[Comentando:  o veneno que o jornalista Boner destila contra o presidente Bolsonaro é produzido pela angústia do ainda global, que o domina todo inicio de mês: não saber se será descartado no mês entrante ou no próximo - dúvida que nunca afligiu Cid Moreira, Sérgio Chapelin  e outros que o antecederam.
Uma sugestão para a Globo = algo tipo um 'tiro de misericórdia' antes de fechar as portas: reapresentar novelas da década de 70 e seguintes tipo Roque Santeiro, Bandeira 2, O Bem-amado, Saramandaia, A Fábrica  e outras - o custo é praticamente ZERO e o Ibope sobe Evereste.]
 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O estado americano onde médicos podem receitar ivermectina e outros - Mundialista

Vilma Gryzinski - Veja

É o Nebraska e decisão foi do secretário da Justiça; Brasil, Estados Unidos e Índia são quase únicos países onde esses tratamentos 

 A discussão nem existe em boa parte do mundo, mas onde existe pega fogo – sem falar em desdobramentos políticos explosivos, como está acontecendo no Brasil. Nos Estados Unidos, a politização é similar à do Brasil: de forma geral, direita a favor da ivermectina e da hidroxicloroquina, centro e esquerda contra, como se fosse uma partida de futebol.

Como os estados americanos têm grande autonomia, mais até do que no sistema federativo brasileiro, os tratamentos alternativos foram liberados na semana passada no Nebraska por decisão do secretário da Justiça, Doug Peterson. A decisão decorreu de um pedido da diretora da área médica do estado, baseada no argumento de que médicos e consumidores estão sendo inundados com informações sobre os tratamentos em questão e “pode ser difícil discernir a qualidade ou a validade dessa informação”.

Como no Nebraska cabe ao secretário da Justiça a palavra final sobre a penalização de médicos caso fujam dos padrões admitidos, coube Peterson se pronunciar. “Baseado na evidência que existe atualmente, o mero fato da prescrição de ivermectina ou hidroxicloroquina para a Covid-19 não resultará na abertura de ações disciplinares”, escreveu Peterson, ressalvando que os pacientes precisam consentir no tratamento e os médicos não podem receitar doses excessivamente altas ou sem se informar sobre os outros medicamentos tomados pelos doentes."Permitir aos médicos que considerem estes tratamentos precoces vai liberá-los para avaliar instrumentos adicionais que possam salvar vidas, manter os pacientes fora dos hospitais e aliviar o nosso já sobrecarregado sistema de saúde”.

É claro que é uma decisão sujeita a um altíssimo nível de debate. Associações de médicos e farmacêuticos dos Estados Unidos, além da FDA, a agência reguladora do governo, são contra o uso off label dos remédios.  A FDA inclusive tentou fazer humor com o assunto, em agosto, com um tuíte de gosto discutível: “Você não é cavalo. Você não é vaca. Parem com isso, pessoal”.

A ideia, equivocada, era dizer que a ivermectina é um vermífugo de uso veterinário. Na verdade, o que estava acontecendo é que o antiparasitário para uso humano havia acabado em algumas regiões americanas e pessoas mal informadas estavam comprando a versão para uso na desvermifugação de animais de criação.

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Como no Brasil, médicos divergem radicalmente sobre os tratamentos e os adversários procuram qualificar como “minoria marginal” os que os prescrevem. Segundo um levantamento da Scientifc American, o número de receitas de ivermectina emitidas semanalmente em agosto passado foi de 88 mil, em comparação com 3 900 no mesmo período de 2019. Detalhe: o vermífugo não é administrado em hospitais públicos do Nebraska, estado governado por Pete Ricketts, um republicano mais conhecido porque sua família é dona do Chicago Cubs, um time de beisebol.

Ricketts promove a vacinação (mas não a sua obrigatoriedade) e seu estado tem uma boa posição no combate à Covid-19: está entre os dez com taxa de mortalidade mais baixa. Defensores dos tratamento off label mencionam a Índia como exemplo de sua eficácia. A Covid-19, que atingiu proporções épica entre março e abril no segundo país mais populoso do mundo, realmente teve uma queda drástica, mas o uso da ivermectina e da hidroxicloroquina deixou de ser recomendado no fim de setembro pelo Conselho de Pesquisas Médicas pela Força-Tarefa Nacional para a Covid-19.

Nos Estados Unidos, os mais conhecidos médicos a favor da ivermectina estão reunidos num grupo chamado Aliança de Cuidados Críticos para a Linha de Frente da Covid, criada pelos intensivistas Pierre Cory e Paul Marik.  Kory já chamou a ivermectina de “remédio miraculoso” e defendeu seu uso em todos os estágios da infecção. De “médico respeitado”, Kory foi banido para o território dos curandeiros. Acabou deixando seu emprego no centro médico da Universidade de Wisconsin “porque não estavam me deixando ser médico”.

“Diria que eu e Marik somos provavelmente os maiores especialistas do mundo no uso da ivermectina para a Covid”, disse ele, nada modestamente, a Joe Rogan, comediante que teve a doença e fez o tratamento alternativo.

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Os argumentos contra são muito mais frequentes e embasados. Mas é possível desprezar os médicos que apostam suas carreiras e reputações na hipótese a favor? Por que fariam isso se não fosse a convicção de que assim podem combater uma doença tão perversa?

Ruim é quando a divergência atinge tal nível que acaba num caso como o acontecido em Ohio. A mulher de um paciente há três meses em UTI, com Covid, conseguiu na justiça autorização para que a ivermectina receitada por um médico particular fosse administrada a a ele. Um juiz embargou a autorização em instância superior. Jeffrey Smith acabou morrendo aos 51 anos. Ninguém ganhou nada.

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski - VEJA - Leia MATÉRIA COMPLETA

 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Ato esvaziado - Se nem [ele, o maior ladrão] embarca nas manifestações da esquerda, que dirá o povo - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo 

Ex-presidente Lula não foi ao ato programado pela esquerda na Avenida paulista  

[o medo de ser vaiado, até apedrejado, o levou a procurar a segurança de se esconder debaixo da cama.
Alegou, covardemente, temor de ser contaminado pela covid-19]

A esquerda brasileira em geral, e o PT em particular, têm uma dificuldade congênita para aprender com a realidade, mesmo a realidade recente. Em sua própria visão, eles estão sempre certos; nunca cometem um erro, de nenhum tipo ou tamanho, e tudo o que fazem é um sucesso. Olham e leem a mídia, e acreditam em tudo o que está dito lá — o que sai impresso, ou vai ao ar, é sempre a favor deles e da sua lista de desejos. Têm certeza, então, de que a vida é linda.

Até hoje continuam achando que Lula fez muito bem em inventar Dilma como presidente, e que ela fez um grande governo; só caiu porque era tão boa, e tão genial, que “a direita” teve de dar “um golpe” para enxotá-la do Palácio do Planalto
Foi, ao exato contrário, um processo legalíssimo de impeachment, causado do começo ao fim por um governo monstruosamente ruim. Mas o PT nunca permite que os fatos interfiram com as suas doutrinas, e até hoje estão convencidos de que nunca houve nada de errado com Dilma. Aí fica difícil.
 
O miserável fracasso das últimas manifestações de rua do partido e dos seus servidores da esquerda é mais uma prova de quanto, exatamente, é difícil. Em vez de anotarem que a manifestação deu errado, tentarem saber por que, e trabalharem para melhorar o desempenho na próxima, ficam dizendo a si mesmos, junto com os jornalistas-amigos, que tudo deu muito certo. Deu errado, pela simples observação física das ruas e pela aritmética, mas e daí? 
Os donos do PT e os seus militantes querem ver outra coisa. E é essa coisa que fica valendo, no seu mundo mental e nos relatos feitos para o público.

A manifestação na Avenida Paulista, que funciona hoje como o termômetro para medir sucesso e fracasso em matéria de povo na rua no Brasil, reuniu, segundo os cálculos da PM do governador João Doria, 8 mil pessoas — uma calamidade terminal, quando se compara com as mais de 200 mil que, no mesmo lugar, foram manifestar seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro no último dia 7 de setembro.

Os militantes se concentraram na frente do carro de som de luxo, alugado por mais de R$ 100 mil para servir de palanque e pousada para as celebridades — e foi isso.  
Nos quarteirões vizinhos, apenas algumas ilhas isoladas de gente; 
nas ruas paralelas, não foi preciso nem fechar o trânsito.
 
É óbvio que a maioria da população não está ouvindo o chamado do PT para ir às ruas; 
quem consegue fazer isso, hoje, é Bolsonaro. Chato, não é? 
Não só chato, porque nega todas as grandes teorias hoje à venda sobre “popularidade política” no Brasil. Além disso, é uma demonstração concreta de que o discurso usado pela esquerda para o público está errado.
 
Talvez nada tenha comprovado essa realidade de maneira tão clara quanto o cartaz vermelho exibido por um grupo de manifestantes; dizia-se ali que o sindicato dos professores de São Paulo apoiava Lula, etc, etc
É duro acreditar, mas o fato é que o PT e a esquerda estão achando que manter as escolas públicas fechadas por mais de um ano é uma causa popular, digna de ser louvada entre as grandes “pautas” da manifestação; acham que isso rende voto e deixa o povo encantado.

A esquerda brasileira está se mostrando incapaz de entender que as suas grandes causas “populares” não são populares, não junto à realidade atual da população brasileira; estão falando em latim para ela, com a ajuda do “centro liberal–limpinho–equilibrado” — e colhendo nas ruas, diretamente, o resultado dos seus erros.

O primeiro a perceber isso parece ter sido o próprio Lula — ele não foi, simplesmente não foi, à manifestação da Paulista. Deveria ser o personagem principal, o ídolo a ser adorado pela multidão: nem se deu ao trabalho de aparecer. Se isso não é uma prova objetiva do fracasso dessa manifestação — que deveria lotar a praça e competir pau a pau com o ato pró-Bolsonaro — o que, então, poderia ser?

É verdade que Lula não tem coragem de botar o pé na rua há anos; sabe muito bem (ou desconfia) que é odiado por milhões de brasileiros. Se não fosse assim, por que se esconderia desse jeito?  
Não consegue ir a um jogo de futebol do Corinthians, e não quer se arriscar a nada; 
obviamente, dá sinais de que não acredita numa única sílaba das pesquisas do Ibope e do Datafolha onde se garante que sua popularidade nunca foi mais alta.
 
Mas com toda a repugnância que tem para se misturar ao povo, Lula poderia, sem nenhum risco para sua saúde, ir à manifestação; 
chegaria de helicóptero e ficaria o tempo todo protegido por um exército de seguranças, tudo pago pelos milhões de reais que o PT coloca à sua disposição. Não quis ir nem assim. É o melhor atestado de óbito para a “estratégia de massas populares” do PT. Se nem Lula aparece, imagine-se as massas.
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

''Revolta e angústia'': homem denuncia abuso da PM em Belo Horizonte

[de uns tempos para cá, se tornou regra o cidadão não aceitar ser abordado pela autoridade policial.
Tal conduta exige uma pronta ação da autoridade, sob pena da desmoralização de malquerer ação que busca manter a     LEI e a ORDEM PÚBLICA. Reação agressiva à ação policial, exige que a Polícia aja dentro do necessário ao cumprimento do estrito DEVER LEGAL.]

Fotógrafo e coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) na Região Leste de BH, André Cavaleiro chegou a desmaiar após golpe de de cassetete

(crédito: Reprodução/ WhatsApp)
(crédito: Reprodução/ WhatsApp)

A Polícia Militar (PM) é foco de nova denúncia de abuso de autoridade por conta de uma abordagem ocorrida na tarde desse domingo (3/10), no Bairro Alto Vera Cruz, Região Leste de Belo Horizonte.  O coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) na regional, André Cavaleiro, foi o alvo da corporação desta vez. Ele denuncia que levou um jato de spray de pimenta no rosto, um soco e um golpe de cassetete sem cometer qualquer crime. “A gente tinha acabado de chegar do campo, onde nosso time tinha se classificado. Estávamos comemorando com um churrasco, ao lado das esposas e crianças. Todo mundo da comunidade na rua, tomando banho de mangueira. Um clima bastante festivo”, diz André.

O que era para ser um domingo de alto astral terminou na delegacia, no entanto. “Não tinha situação alguma de violência. Quatro viaturas chegaram, e (os policiais) pediram para encostar a mão na parede. Como eles demoraram, eu tirei a mão na parede e olhei pra trás”, conta o também fotógrafo. [o cidadão ordeiro, cumpridor das leis, tem o DEVER de ao ser abordado pela autoridade policial e convidado a encontrar as mãos na parede deve obedecer. Infelizmente, virou rotina no Brasil, o abordado em vez de assumir uma postura condizente com a necessidade da ação policial, questionar as razões da conduta policial. 
Temos convicção que se o abordado facilitar a operação policial, nada acontecerá.
Inaceitável é o cidadão confrontar o policial que está apenas cumprindo seu dever e cuidando da SEGURANÇA PÚBLICA.
O spray de pimenta é um recurso não letal e que facilita em muito a contenção de eventuais e indevidas reações.]

Foi nesse momento que Cavaleiro recebeu a primeira agressão dos militares. “O policial disse: ‘Ô, desgraça, encosta a mão na parede’. E me deu um soco. Daí, eu virei e perguntei: ‘por que você está me batendo?’. Ele falou para encostar a mão na parede e jogou spray de pimenta no meu olho, muito de perto, a (cerca de) 10 centímetros”, afirma o morador do Alto Vera Cruz.

Como resultado do spray de pimenta, André diz ter limpado o rosto com sua camisa de futebol. Neste momento, ele afirma que recebeu um golpe de cassetete e desacordou. “Eu só recobrei (a consciência) na hora que eles estava me carregando igual porco para jogar dentro da viatura”, relembra o líder comunitário.

De acordo com André, outra viatura da PM interceptou a inicial e o levou até a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Leste, na Avenida dos Andradas. Lá, ele passou por exames de raio-x, que não constataram lesão grave, segundo ele.

Delegacia e advogado
Após passar pela UPA, André Cavaleiro conta que os policiais o levaram até a Central de Flagrantes (Ceflan) 1, no Bairro Floresta, também no Leste de BH, onde ficou cerca de 30 minutos. Ele diz ter assinado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi liberado. 

Familiares, representantes da Cufa e advogados também se deslocaram ao Ceflan. Agora, André planeja, com assessoria de um profissional do direito, procurar a Corregedoria e a Ouvidoria da PM para punir os militares envolvidos na denúncia. [punir? qual crime foi cometido pelos policiais militares.]A reportagem procurou a Polícia Militar, por meio do Comando de Policiamento da Capital, para obter um posicionamento, mas não recebeu resposta ainda. O espaço segue aberto à corporação.

Brasil - Correio Braziliense

 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Futebol, tardiamente, premiou Messi = - timinho de Tite perdeu mais uma - A demissão de Tite é necessária e urgente

O gol de Ángel Di Maria aos 21 minutos de partida pautou o restante da final da Copa América. O toque de cobertura sobre Ederson após ótimo lançamento de Rodrigo de Paul e falha grave de Renan Lodi permitiu à Argentina assumir a vantagem no placar, levando o Brasil ao desconforto de ter que buscar uma reação.

Lionel Scaloni e Tite são técnicos que têm características em comum, colocam seus times em campo com uma prioridade: não sofrer gols. Depois pensam em como marcá-los. E são assim mesmo contando, cada um deles, com jogadores do calibre de Messi e Neymar. [o digno articulista deu uma escorregada: comparar o perna de pau nascido no Brasil a  LEONEL MESSI.!!!]  Um conservadorismo que deixa de explorar o potencial disponível.

[A demissão do Tite, cidadão ainda chamado de técnico,  é urgente, inadiável e patriótica; em épocas passadas, já longínquas, se considerava a SELEÇÃO BRASILEIRA a digna representante do Brasil e a PÁTRIA DE CHUTEIRAS.
Agora, vergonhosamente, depois que figuras cômicas tipo Dunga,Felipão e Tite, passaram a ser técnicos da Seleção - envergonhando os verdadeiros técnicos - o 'timinho'  perdeu o direito de representar o Brasil, de ser chamado de Seleção e até mesmo de ser lembrado quando joga.
Cada jogo do timinho mais desmoraliza o futebol brasileiro, aquele futebol que nos deu um TRI CAMPEONATO,  uma JULES RIMET. (o Tetra e o Penta , não foram conquistados e sim recebidos por incompetência dos adversários) 
Demitam Tite, assim evitarão colher no próximo certame  mais uma derrota e mais um título perdido. POR FAVOR, PAREM DE CONVOCAR  mercenários, convoquem jogadores que estejam atuando no Brasil. CHEGA DE CONVOCAR mercenários. E, por favor, NÃO CONVOQUEM Jogadores do Flamengo, do Mengão, eles já integram uma SELEÇÃO = a SELEMENGO. 
Demitam Tite, sumariamente. Sigam o exemplo do Clube de Regatas do Flamengo =  técnico ruim, burro, igual o que treinava o Flamengo pensando no Fortaleza, tem que levar um chute no traseiro, igual o que   aquele técnico,  que não merece sequer ser chamado pelo nome - levou.]

Dona da vantagem, a seleção argentina ficou mais confortável. Com calma e aproximação, saiu inúmeras vezes da pressão brasileira com toques curtos, picotando o jogo, cozinhando-o, conduzindo os rumos da peleja ao seu bel prazer. Mas e o time brasileiro, por que não reagiu? Por que não sabe, não parece treinado para isso.

Se na Copa do Mundo da Rússia o Brasil sofreu ao ver a Bélgica abrir 2 a 0, sábado voltou a mostrar suas deficiências quando encara um placar adverso. E Tite se perdeu completamente. Suas substituições fugiram ao próprio perfil do treinador, a ponto de, no segundo tempo, o time não ter mais meio-campo, acumulando atacantes.

A Argentina levou o jogo sem grande sofrimento, mesmo com Messi em noite apagada, chegando a desperdiçar uma chance claríssima em ótimo passe feito por De Paul, o melhor em campo. Título merecido para o melhor jogador do certame, que não poderia passar toda a carreira sem erguer um troféu pela sua seleção.

Quanto à seleção brasileira, perdeu uma final, viu a rival quebrar um jejum de 28 anos sem título, mas tem lições importantes a extrair da noite no Maracanã. Tite precisa de novas ideias, deixar um pouco sua tribo de auxiliares que lhe dizem o que espera ouvir, abrir a mente, buscar novas formas de jogar, ousar, ou poderá ser vítima do próprio conservadorismo.

Mauro Cezar Pereira, colunista - Gazeta do Povo


segunda-feira, 28 de junho de 2021

EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO - Percival Puggina

A livre expressão de ideias sujeitava-se a um eloquente silêncio. O direito de opinião fora escriturado em nome dos grandes meios de comunicação, seus teleguiados formadores de opinião, palpiteiros e consultores filtrados a dedo. Os cursos de jornalismo, adequadamente instrumentalizados, desovavam todos os anos levas de militantes preparados para cumprir sua missão. Nem o futebol ficava fora do serviço cotidiano de veneno ideológico disponibilizado à “massa”. Os espaços abertos à divergência eram oferecidos em doses homeopáticas nas monitoradas seções “Fale conosco” e “Opinião do leitor”, e por raríssimos colunistas entre os quais me incluí, durante muitos anos, nas páginas de diversos jornais do Rio Grande do Sul.

Em Zero Hora, substituí o Olavo de Carvalho no ano de 2007. Ali permaneci, solitário e semanal durante, dez anos.  Depois veio o Constantino e, agora está o Guzzo. A seu tempo, cada um de nós significou o semanal “pluralismo” do veículo, sufocado  em meio a dezenas de outros editores e colunistas diários. Não era e não é diferente no resto do país.

As redes sociais não revolucionaram os grandes meios de comunicação, mas abriram um espaço paralelo, no qual o direito de opinião saiu da teoria e ganhou efetividade. Sábios e néscios, cientistas e palpiteiros, políticos e eleitores, religiosos e ateus, passaram a desfrutar de uma liberdade que rapidamente reduziu o poder ditatorial da grande mídia e dos aparelhos ideológicos nelas atuantes.

Trump venceu nos EUA; Bolsonaro venceu no Brasil. Indesculpável! Para agravar a situação, jornais perderam leitores; emissoras perderam audiência; seus candidatos amargaram derrotas. Os donos das plataformas perceberam que um poder imenso escapara de seu controle. Por que não supervisionar e regrar os conteúdos?  
E veio a censura privada, o bloqueio provisório e permanente de contas por motivo de opinião. A censura leva à autocensura. Nela, a liberdade algema a si mesma e discrimina o pensamento.

O “politicamente correto”, o falso progressismo e a Nova Ordem Mundial impuseram sua ditadura também sobre as plataformas.

Numa evolução natural, dado o rumo tomado no Brasil pelas redes de TV, foram surgindo as lives e os noticiários autônomos. Era uma nova forma de comunicação, tão caseira quanto livre, oportuna e necessária. Parcela crescente do público foi mudando sua sintonia habitual para canais do YouTube. Até que... o YouTube reagiu e passou a bloquear canais de seu maior desagrado. Quer mais? 
Pense na insistência com que se denomina discurso de ódio o antagonismo ao mau legado dos governos de esquerda.  
Pense na corrupção, nos assassinatos de reputação, na violência verbal e material com que conduziram sua trajetória. Pense em agências de checagem, em Inquérito do Fim do Mundo, em prisão de parlamentar e jornalistas.
A defesa da liberdade é, sempre, parte inseparável das cenas políticas
Nenhum dos projetos em curso contra os valores do Ocidente tem compromisso com a liberdade indispensável numa era de conflitos.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

O ‘mau exemplo’ da Copa América - O Estado de S. Paulo

 J.R. Guzzo

Doria arrependeu-se de ter feito um acerto e optou pelo erro ao vetar campeonato entre seleções enquanto permite torneios como o Campeonato Brasileiro

De duas uma: ou a decisão inicial do governador João Doria de aceitar a disputa de jogos da Copa América em São Paulo estava certa ou estava errada. Não há, realmente, uma terceira possibilidade. Se estava certa, não há motivo para proibir os jogos agora – e fazer exatamente o contrário do que ele havia decidido. Se estava errada, por que o governador não pensou no que estava dizendo antes de mudar, cinco minutos depois, o que tinha acabado de resolver?

Errar é humano, claro, e voltar atrás nos erros é uma excelente virtude. Mas no caso da Copa América em São Paulo o governador conseguiu o oposto: arrependeu-se de ter feito um acerto e optou pelo erro. Conseguiu o mais difícil, que era separar com sucesso o joio do trigo – mas, imediatamente em seguida, jogou fora o trigo para ficar com o joio. Doria, num primeiro momento, fez a única coisa que deveria ter feito: não tem nenhum sentido, disse ele, proibir os jogos da Copa América em São Paulo, com estádios fechados, enquanto se permite com a maior tranquilidade do mundo que sejam disputados os jogos do Campeonato Brasileiro. Parabéns.

Mas, no Brasil de hoje, as “autoridades locais” não gostam de acertar – e quanto por acaso acertam, voltam para trás, correndo, e caem de novo na sua vidinha de sempre. Resumo da ópera, neste caso: enquanto Brasil e Argentina, por exemplo, jogam em Goiânia, ou qualquer outro lugar onde o exercício da lógica continua legal, Corinthians e Chapecoense jogam em São Paulo. Pelo que deu para entender da decisão final de Doria, o primeiro jogo é um “mau exemplo”. Já o segundo ninguém saberia dizer o que é.

O governador, mais uma vez, deixou o Estado de São Paulo ser governado não por quem foi eleito para executar essa tarefa ele mesmo – mas pelo comitê de “cientistas” que administra a covid. Cedeu, na verdade, à confederação nacional pela proibição de tudo, por tempo indeterminado, e de preferência até o Dia do Juízo Final. Ela é reforçada, no caso, pelo coletivo dos comentaristas de futebol, que há mais de um ano está recebendo remuneração sem sair de casa e, ao mesmo tempo, não quer que haja jogos – ainda que o público não possa entrar nos estádios. (Com público, então, acham que o futebol seria genocídio direto na veia.)

A covid, com o tempo e a vacinação em massa, dá sinais de que pode estar cedendo. É de se esperar, em troca, um esforço permanente para resistir à melhoria e manter tudo igual nos comissariados que mandam no país sem terem recebido um único voto, nas CPIs da vida e no mundo do “home office”.

J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

'Hoje, qualquer coisa que se possa dizer contra um negro é sempre sinal de racismo', diz Jorge Jesus: 'Está na moda'

O Globo

Técnico do Benfica falou sobre o caso que paralisou partida da Champions entre PSG e Basaksehir na última terça-feira

Não sei o que aconteceu, o que se falou, o que se diz, mas hoje está muito na moda isso do racismo. Como cidadão tenho direito de pensar à minha maneira e só posso ter uma opinião concreta se souber o que se disse naquele momento. Porque hoje qualquer coisa que se possa dizer contra um negro é sempre sinal de racismo. A mesma coisa dita contra um branco já não é sinal de racismo. Está se implantando essa onda no mundo. Se calhar, até houve algum sinal de racismo com esse treinador, mas eu não sei o que disseram disse o português em entrevista coletiva.

Uma fala do quarto árbitro da partida mobilizou as duas equipes a sairem de campo e obrigou o adiamento do jogo, além de gerar um onda de manifestações antirracistas fora dele. O confronto válido pela última rodada da fase de grupos da competição europeia foi remarcado para esta quarta-feira, às 14h55, no Parque dos Príncipes.

Entenda o caso
A situação ocorreu aos 13 minutos do primeiro tempo, quando o senegalês Demba Ba, do Basaksehir, reclamou de uma ofensa racista feita pelo quarto árbitro. Segundo relatos de vários veículos da imprensa francesa, espanhola e italiana, Sebastian Coltescu falou "vai embora, preto" para Webó.

Webó se revoltou e questionou Coltescu: "O que você falou? Por que você falou preto?". O árbitro principal, Ovidiu Hategan, se aproximou e deu um cartão vermelho em direção ao camaronês. Demba Ba fez gestos para os companheiros deixarem o gramado.

A partida será retomada nesta quarta com outra equipe de arbitragem. A Uefa afirmou que "está ciente de um incidente ocorrido durante o jogo desta noite da Liga dos Campeões entre o Paris Saint-Germain e o Istambul Basaksehir e vai conduzir uma investigação aprofundada. O racismo e a discriminação em todas as suas formas não têm lugar no futebol".

O Globo - Esportes


domingo, 6 de dezembro de 2020

Júnior conhece a caixa-preta da saúde - Elio Gaspari

 Folha de S. Paulo - O Globo

Ministro Luís Roberto Barroso poderá homologar a papelada da colaboração do empresário José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à Procuradoria-Geral da República (PGR)

Nesta semana, o ministro Luís Roberto Barroso poderá homologar a papelada da colaboração do empresário José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à Procuradoria-Geral da República (PGR). Há mais de uma semana, a repórter Bela Megale revelou que Júnior, como ele é conhecido, concordou em pagar R$ 200 milhões à Viúva pelas transações em que se meteu, alimentando caixas de políticos. Em julho, ele passou três dias na cadeia, e sua colaboração foi antecedida pela de um sócio.

Chegando a valer cerca de R$ 4 bilhões, a Qualicorp tornou-se uma campeã organizando planos coletivos de saúde. Como uma jabuticaba, ela nunca foi uma operadora, mas Júnior tornou-se um bilionário trabalhando num mercado onde se misturam capilés para políticos que colocam jabutis nas leis e azeitam-se promiscuidades com as agências reguladoras.

Finalmente, o Ministério Público acercou-se desse mercado. A Lava-Jato chegou perto, mas distraiu-se. Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa, recebeu pelo menos R$ 580 mil fazendo palestras para plateias da Unimed. Ele explicou que repassava os valores a entidades filantrópicas.

Quando a colaboração de Júnior for conhecida, será possível avaliar a sua profundidade. A operação Lava-Jato começou com muito menos, pois nela o fio da meada foi puxado a partir de um posto de gasolina que lavava dinheiro. A memória da Qualicorp, ou de qualquer grande operadora, guarda muito mais que isso. Os procuradores de Curitiba puxaram os fios e deu no que deu. A PGR está com o novelo na mão. Sabe-se que negociou uma multa milionária, mas a questão está também em outro lugar: na máquina desse mercado.

Pode-se dar de barato que a colaboração de Júnior levará para a mesa alguns políticos, provavelmente figurinhas fáceis de outros escândalos, alguns confessos, ou notoriamente mentirosos. Pelo cheiro da brilhantina, cairá na roda um doutor que queria cobrar os serviços do SUS.

O valor da colaboração de Júnior poderá ser avaliada se ela tratar do funcionamento da porta giratória pela qual maganos saem do mercado e vão para as agências reguladoras, ou fazem o caminho inverso, sempre enriquecendo. Noutra vertente, pode-se vir a saber como se enfiou um jabuti numa Medida Provisória de 2015. Ele reduzia o valor unitário das multas aplicadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar quando o volume passasse de certos limites. Em bom português: quem delinquir muito pagaria menos que quem delinquiu pouco. Dilma Rousseff vetou o jabuti. Trata-se de perguntar, ouvir, anotar o nome do magano e chamá-lo a depor. Se for o caso, remetê-lo à carceragem.

Seripieri Júnior fez todo o caminho do mercado, conheceu suas vísceras e no ano passado começou a montar uma empresa fechada. Nela, ao contrário das operadoras que cobrem despesas com centenas de médicos, laboratórios ou hospitais, as operadoras fechadas têm suas listas e, sobretudo, seus hospitais. Graças a isso, controlam seus custos e acabam cobrando menos.

A PGR está diante da oportunidade de abrir a caixa-preta dos planos de saúde. Basta expandir a operação abrindo um capítulo em que se fazem perguntas estranhas ao ritual, porém essenciais para o propósito da investigação. Assim foi com a Lava-Jato e assim foi com a investigação da Receita Federal e do FBI americano, que detonou as roubalheiras da cartolagem internacional do futebol.

A ideia segundo a qual se combate a corrupção com multas milionárias é pobre. Acaba criando uma espécie de pedágio, caro, porém imunizante. A turma dos planos de saúde, acossada pela perda de clientes e pela reação aos reajustes selvagens, já tentou dois saltos triplos. Num, no escurinho de Brasília, queriam mudar a lei que regula seu mercado. A elas, tudo, aos consumidores, nada. Noutro, querem privatizar serviços do SUS. Isso durante uma pandemia na qual tentaram negar cobertura para os testes de coronavírus.

Madame Natasha e o general
Madame Natasha não perde entrevistas do general Eduardo  Pazuello e admira os momentos em que ele fica calado. Outro dia, falando a parlamentares, o ministro da Saúde incomodou a senhora quando disse coisas assim: “Se o processo eleitoral nas cidades, com todas as aglomerações e eventos, não causa nenhum tipo de aumento da contaminação, então não falem mais em afastamento social.”
“Precisamos compreender de uma vez por todas que nós só aplicaremos vacinas no Brasil registradas na Anvisa.”

Com décadas de serviço nos quartéis, o general Pazuello aprendeu a falar como comandante. Como ministro da Saúde, deveria aprender que não manda nas suas audiências. Dizer a quem quer que seja que não deve mais falar em afastamento social é uma indelicadeza, se não for uma bobagem. Quando ele diz que “precisamos compreender de uma vez por todas” que o governo só patrocinará vacinas aprovadas pela Anvisa, diz uma platitude. O problema é outro: cadê a vacina federal? [preferimos perguntar: cadê uma vacina? vale de qualquer país.] 
 
Natasha recomenda gentilmente ao general entender que seu desempenho terá uma avaliação cronológica. A vacina chegará a diversos países em janeiro, inclusive à Inglaterra e ao México, cujos governos foram negacionistas. Pazuello não sabe precisar o mês do início da vacinação no Brasil e acha razoável que metade da população de Pindorama só consiga ser imunizada no segundo semestre do ano que vem. Em São Paulo, a vacinação vai começar em janeiro, a menos que Pazuello e Bolsonaro queiram atrapalhar, metendo-se numa ridícula Revolta da Vacina 2.0.

Quando Natasha era uma mocinha e os generais se metiam onde não deviam, ela teve que ir a Montevidéu para ver o filme “Último Tango em Paris”. (Achou-o muito chato.)
Natasha morre de medo de ter que viajar ao exterior para ser vacinada.
 
Coisas de Pindorama
Um marciano passou pelo Brasil em 1821 e gostou das gazetas que defendiam a independência da Colônia. Voltou em 1823 e soube que ela fora proclamada, com o filho do rei de Portugal coroado imperador.

Imortal, o marciano foi ao comícios das Diretas de 1984 e encantou-se. Voltou em 1985 e soube que a campanha havia resultado na eleição indireta de Tancredo Neves, mas quem estava na Presidência era José Sarney, presidente do partido do governo em 1982.

O marciano resolveu nunca mais voltar ao Brasil. Ele vive em Washington e soube que o doutor Sergio Moro é novo sócio-diretor da firma em cujo portfólio de clientes está a Odebrecht com seu processo de recuperação judicial. 
 
Kerry e os agrotrogloditas
A nomeação do ex-senador John Kerry para a posição de czar na política de meio ambiente do governo de Joe Biden deve acender um sinal de alerta no Planalto.

Ex-secretário de Estado, Kerry não conhece agrotrogloditas, mas tem boas relações com alguns ambientalistas brasileiros.Seria útil que os çábios do bolsonarismo parassem de pressionar empresas multinacionais que pararam de comprar soja plantada em áreas de conflito ambiental. As filiais comunicam essas pressões às suas matrizes. [Curioso é que Bolsonaro ao manter boas relações com Trump - tendo sempre presente que nações não possuem amigos e sim interesses, vale o mesmo para seus governantes - acusavam do nosso presidente adotar uma postura de submissão do Brasil. 
Agora já aceitam que os chamados ambientalistas fiquem de 'quatro' para Kerry.
As filiais das empresas americanas agem corretamente quando passam informações, ainda que desfavoráveis, as suas matrizes; já os inimigos do Brasil = os traidores brasileiros que traem o Brasil para ter boas relações com Kerry =  agem como 'judas' e sempre terão nosso desprezo e fiquem que são também desprezados pelos  norte-americanos.
De qualquer modo as empresas dos EUA façam o melhor para eles e deixem que os brasileiros façam o melhor para o Brasil.]

O Globo - Elio Gaspari, jornalista


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O império dos sem-voto - Revista Oeste

J.R. Guzzo
 
Há cada vez mais pessoas que nunca receberam um único voto na vida, e não têm mandato nenhum, dizendo o que o cidadão deve ou não deve fazer

Nos jogos do campeonato brasileiro de futebol tornou-se praticamente obrigatória a observação de um minuto de silêncio antes de cada partida, em homenagem aos mortos da covid-19. É um hábito mundial; na última rodada da Premier League, por exemplo, houve até música fúnebre, executada por orquestra e dramatizada por soldados com uniforme tipo “guarda real”, em posição de sentido. É uma prova a mais de que governos em geral e o seu exército de burocratas, médicos assustados e um público ansioso por receber ordens de cima transformaram a tragédia trazida pela epidemia numa espécie de ato de heroísmo. Os mortos pela covid, pelo que se pode deduzir, estão valendo mais que os mortos por outras doenças; têm direito a minuto de silencio e banda marcial, enquanto os demais não têm direito a nada além do próprio enterro.

Neste ano de 2020, do dia 1º de janeiro até as 15 horas em ponto do dia 12 de novembro, as doenças cardíacas mataram no Brasil mais de 350.000 pessoas 350.122, para ficar nos números exatos, contra os 160.000 que morreram até agora de covid.  
Não se trata de informação vinda de nenhum desses Condomínios de Administração da Verdade que se multiplicam por aí. 
São os números oficiais do “Cardiômetro” da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que registra em tempo real, segundo a segundo, as mortes causadas por moléstias cardiovasculares no país. 
São cerca de 1.000 mortes por dia, ou uma a cada 90 segundos. É simplesmente o dobro das mortes motivadas por todos os tipos de câncer; nenhuma outra doença mata mais gente, no Brasil ou no mundo.

Você não vai ouvir um minuto de silêncio em homenagem a essas 350.000 vítimas (o total vai bater em quase 400.000 até o fim do ano), nem qualquer outra demonstração de simpatia oficial, particular ou científica. Da mesma forma, não é motivo de nenhum interesse o número de mortos por câncer, por problemas respiratórios ou outras causas. É como se nada disso existisse, ou importasse, ou pudesse merecer algum tipo de consideração. Na cabeça dos que governam os jogos de futebol — e em qualquer outra atividade deste mundo na qual uma autoridade possa mandar hoje em dia só se morre de covid. O resto é o resto. Não faz o menor sentido — mas as sociedades, cada vez mais, estão se acostumando a engolir decisões sem nexo por parte dos que mandam. É covid? Então vale tudo, aceita-se tudo e, mais ainda, se obedece a tudo.

Quem obrigará os brasileiros a tomar uma vacina genérica quando a Pfizer tem a sua?
É assim que muita gente está se acostumando a aceitar comportamentos irracionais, alguns já na fronteira da histeria, que se multiplicam na vida cotidiana. Dias atrás uma médica, de avental branco e tudo, foi vista no elevador de um edifício de consultórios de São Paulo apertando o botão do elevador com o cotovelo. 
 
Rapazes e moças de 25 anos de idade andam de bicicleta, ao ar livre e debaixo do sol do meio-dia, com máscaras último tipo; já se viu gente que, ainda por cima, usa viseira de plástico. Bares e restaurantes (mais um mundo de outros lugares) continuam tirando a temperatura dos clientes que chegam — como se fosse a coisa mais comum desta vida alguém sair de casa para tomar um chopinho com 40 graus de febre. Chegar perto de um outro ser humano é considerado um grave risco. Há pessoas que chamam a si próprias de “vetor” — e por aí vamos.

O governador Doria, com o apoio de seu companheiro de partido Aécio Neves — hoje refugiado na Câmara dos Deputados para escapar de acusações penais por crime de extorsão — quer socar na veia de todo mundo uma substância de origem chinesa que ele (além do laboratório “privado” da China com o qual o governo paulista se associou) define como uma vacina contra o coronavírus — a “vachina. (Aécio e outros deputados propõem, inclusive, punições legais para quem não se vacinar — com essa ou com alguma outra vacina, que eles não dizem qual será.) Nenhum país sério do mundo aceitou até agora esse negócio; no Brasil, inclusive, a Anvisa chegou a suspender (e depois permitiu de novo), os testes que vinham sendo feitos com a vacina chinesa, ou “do Butantã”. Qual é o nexo?

Isso ainda não é o pior. A Pfizer, indústria farmacêutica americana fundada em 1849, presente em 150 países e com indiscutível reputação científica em todo o mundo, acabou de anunciar que obteve êxito na sua vacina que, obviamente, é muito mais respeitada do que a tentativa de um laboratório chinês que nunca foi capaz de produzir com sucesso um único comprimido de Melhoral em toda a sua existência. E agora: vai continuar a guerra para obrigar os brasileiros, por lei, a tomarem a “vachina do governador Doria, ou qualquer vacina genérica, quando a Pfizer tem a sua — e outros laboratórios que desfrutam de imenso prestígio internacional vão pelo mesmo caminho?  
O que vai se fazer com os milhões de doses da droga chinesa a ser fabricada no Instituto Butantã, em São Paulo? Você vai pagar cada centavo disso tudo, é claro — e se, no fim das contas, a vacina Doria-China não rolar?
 
Eis aí, em toda a sua pureza, mais um absurdo dessa covid-19 — como a decisão, tomada pelos gestores da cidade de Los Angeles, de proibir que as pessoas cantem em suas próprias casas na próxima festa de réveillon. (Além do mais, só podem comemorar a passagem do ano durante 2 horas; depois disso, cama.) Aqui, em relação à vacina, temos uma situação de estupidez perfeita. A autoridade pública diz ao cidadão: 
“Você será obrigado a tomar a vacina”. 
O cidadão pergunta: “Qual vacina?” 
A autoridade responde: “Não sei.” 
O Brasil tido como “pensante”, esse Brasil que sabe das coisas melhor do que o Brasil que você vê em sua volta, acha que não há nada demais com isso. 
E daí que o sujeito tenha de tomar uma vacina que não existe? Qual é o problema? 
Está querendo que as pessoas morram? Está sendo “negacionista”?  Votou no Trump?

O debate, em suma, tornou-se não-compreensível dentro das categorias normais da lógica. Esse fenômeno acontece, sem dúvida, na sequência de uma crescente passividade de grande parte da população diante da postura cada vez menos racional, e cada vez mais autoritária, de quem nomeia a si próprio patrulheiro do bem comum e do movimento mundial contra a epidemia. 

A apatia com que se aceita os fatos descritos acima tem sido incentivada de maneira agressiva pelo complexo formado pela mídia, a politicalha, as classes intelectuais e o resto do sopão liberal-democrático-equilibrado-centrista-progressista-europeu-civilizado que sempre sabe o que é melhor para você — muito mais do que você próprio sabe. É tudo o que a vasta multidão de gente que se espalha por aí, com a alma de pequeno ditador, de inspetor de quarteirão e de guarda-da-esquina pediu a Deus e aos Doze Apóstolos.

Como escreve Theodore Dalrymple, articulista da revista inglesa Spiked e colaborador da OESTE, há pelo mundo afora cada vez mais gente obedecendo às ordens de pessoas que não foram eleitas para nada. Há cada vez mais pessoas que nunca receberam um único voto na vida, e não têm mandato nenhum, dizendo o que o cidadão deve ou não deve fazer, o que pode e o que não pode. Estão nas burocracias, nos organismos internacionais, na mídia, nas universidades, nas ONGs e nas fábricas de especialistas-técnicos-cientistas que se multiplicam por aí, e que querem decidir sobre tudo, do aquecimento global à definição do que é um queijo da Serra da Estrela. Estão sempre vigiando você, com um “protocolo” na mão. São, hoje, a pior ameaça à democracia que existe no mundo. Contam, sem dúvida, com o apoio de boa parte do público — são pessoas que querem obedecer, esperam o tempo todo que alguma autoridade (bem ou mal intencionada) lhes diga o que fazer, e se sentem mais confortáveis sempre que topam com uma nova regra para cumprir.

É curioso. Causa grande alarme nas classes intelectuais, nas elites de todas as naturezas e na imprensa em geral o “papel inferior” em que, na sua opinião, a política tradicional e as “instituições” se viram atiradas pelo “populismo” desses últimos tempos. Os políticos eleitos, dizem eles todos, podem ser muito ruins, mas receberam votos para exercer os seus cargos; é melhor conviver com eles do que com a “democracia direta” e “sem intermediários” que vem da multidão irracional e que é defendida pelos “populistas”. Pode ser. Mas o populismo, pelo menos, tem algo a ver com a ideia de povo — é algo popular, digamos assim. E os burocratas que fecham escolas, dizem a que horas você pode voltar para casa e têm direito de vida ou morte sobre o seu emprego foram eleitos por quem?

Leia também o artigo de Brendan O’Neill nesta edição, “A verdadeira resistência”

Revista Oeste - Transcrito em 20 novembro 2020