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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A estrela do xerife - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza 


 

Era uma vez uma democracia graciosa e frágil como uma donzela inocente, bonitinha e ordinária como uma santa de Nelson Rodrigues. Ela vivia vagando por aí cheia de dúvidas e vulnerabilidades, muito instável e inconstante. Até que surgiu o xerife.

O xerife era um personagem decidido, resoluto, que não precisava de nada nem de ninguém para fazer acontecer e mover a roda da história com energia e impetuosidade. Ele então dirigiu-se à democracia, aquela donzela frágil e hesitante, e determinou: fica sentadinha ali no canto, sem dar alteração, que agora é comigo.

Foi maravilhoso. Toda aquela instabilidade decorrente da existência errática da mocinha débil foi corrigida e substituída pelos poderes resolutos do xerife.  
A confusão de opiniões díspares que poluíam o senso comum foi erradicada num instante. 
Instaurando o regime da lisura informacional, com tolerância zero para comentários impuros, insolentes e antidemocráticos, o homem da estrelinha prateada botou ordem na bagunça. 
Quem dissesse coisa errada perdia a língua - e ponto final. [cuidado Fiuza... não começa a dar ideia..]  Como ninguém tinha pensado nisso antes?

Talvez até tivessem pensado, mas ainda não tinha aparecido ninguém com a desenvoltura e a objetividade suficientes para acabar com as gracinhas no recinto. O xerife era o homem certo no lugar certo, porque não tinha problema de inibição. Nem de timidez. Nem de vergonha. Nem de juízo. Nem de semancol. Como diriam William Shakespeare e William Bonner, todo herói é meio sem noção.

Enquanto redigimos este texto, chega um pedido de direito de resposta de Shakespeare, que somos obrigados a acatar e passamos a transcrever: “Me tira dessa, companheiro. Não tenho nada com isso. Me erra. Ass: Will”.

Pronto, está feita a reparação em favor do dramaturgo inglês. Se chegar um pedido do Bonner e a Justiça do Xerife considerar procedente, acataremos da mesma forma, sem discussão. Tudo pela lisura informacional.

A salvação da democracia acabou levando também à salvação da imprensa. 
Os jornalistas andavam meio perdidos, sem saber direito o que panfletar e a quem bajular. 
O xerife preencheu essa lacuna. Era tudo falta de um comando firme. Daí em diante foi um show de liberdade de expressão. 
Confiante de que o xerife era a lei, a imprensa formou um consórcio para ratificar, legitimar e exaltar tudo o que ele fazia. 
Assim surgiu uma prodigiosa onda de manchetes triunfais sobre quebras de sigilo, arrombamentos, pés na porta, mordaças, intimidações, coações, atropelos e perseguições por um mundo melhor.
Políticos, empresários, banqueiros, médicos, advogados, juízes e demais categorias aderiram ao gigantesco bloco de legitimação dos poderes magníficos do xerife
É bem verdade que a sociedade ficou dividida, mas não havia polarização: metade era de cúmplices e a outra metade era de covardes. Como acontece em toda democracia absolutista, a cumplicidade e a covardia se complementam - e confluem para a harmonia do todo. 
Na hora da eleição, por exemplo, não houve espaço para desavenças e ondas de ódio. O xerife esclareceu de saída: vai ser o que eu quiser, como eu quiser.

Alívio geral. Covardes e cúmplices se abraçaram e foram felizes para sempre lambendo as botas do xerife.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O ladrão e o jabuti - Gazeta do Povo

VOZES - Guilherme Fiuza 


Novo modelo de urna eletrônica.| Foto: Abdias Pinheiro/divulgação TSE

Dez motivos para você confiar cegamente na lisura das eleições:

1 - O juiz do jogo disse que as regras atuais eram suficientes contra ilegalidades. Chegou a ameaçar os que pusessem em dúvida a segurança do sistema (negacionismo, desinformação, ódio à democracia etc). Aí termina o primeiro tempo e surge uma montanha de infrações documentadas em vídeo. Que bom que você estava de olhos fechados e não teve que ver essas cenas desagradáveis.

2 - Outra coisa boa da sua confiança cega é que você não precisa ficar tentando enxergar o que não pode ser visto. Por exemplo: como aferir o impacto no resultado eleitoral desses múltiplos casos em que o eleitor chegou à seção e já tinham votado no lugar dele? 
Não dá para aferir, porque a votação não pode ser auditada.

3 - Por que a eleição não pode ser auditada? Porque o Barroso não quis. O Fachin também não. O Alexandre idem. O William Bonner não podia nem ouvir falar nisso. O pessoal da MPB também não. Precisa de mais algum motivo? Eu, hein?

4 - A vantagem de a eleição não poder ser auditada é que não dá polêmica. Polêmica gera desavença, que gera conflito, que gera ódio, que pode gerar violência política. Por isso o melhor mesmo é o resultado ser o que o xerife disser que é e ponto final.

5 - Alexandre de Moraes passou décadas inconformado com um jogo do Corinthians – e só agora desabafou sobre isso. Foi um momento importante da Justiça brasileira: ele disse que assim como não pôde contestar a derrota do seu time do coração, ninguém vai poder contestar o resultado da eleição. Tá certo, tem que se vingar mesmo.

6 - O presidente do TSE disse que é corintiano “como todos sabem”. E você aí reclamando de falta de transparência.

7 - Como todos sabem, não existe ladrão biônico.

8 - Como todos também sabem, se o jabuti apareceu no alto da árvore alguém o colocou lá.

9 - Como todos sabem, só um jabuti biônico poderia chegar ao alto de uma árvore por seus próprios meios.

10 - Como todos sabem, um jabuti seria incapaz de roubar alguém. C
omo todos também sabem, um ladrão seria capaz de roubar tudo, menos uma eleição. A não ser que roubassem para ele, mas aí ele não teria nada com isso. Nem você. [por tal razão é que o candidato petista sempre tem dito, desde os tempos do mensalão, nada saber, nada ter a ver.] Fecha os olhos e confia.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 24 de setembro de 2022

Pandemia de intolerância - Revista Oeste

Augusto Nunes Edilson Salgueiro

A Jovem Pan está na mira dos democratas de manifesto 

A ofensiva contra a liberdade de expressão juntou um grupo de militantes esquerdistas disfarçados de especialistas em malandragens digitais, um jornal que vai naufragando por falta de comando e excesso de passageiros sem neurônios, figurões da campanha presidencial de um corrupto solto por amigos togados, uma revista mantida na semiclandestinidade pela tiragem anêmica e companheiros infiltrados no Tribunal Superior Eleitoral. O alvo principal era um canal de notícias que ousa contestar o pensamento único estabelecido pelo consórcio da imprensa velha, e o ataque deveria começar por um programa jornalístico condenado à morte por democratas de manifesto. Confiada a uma tropa brancaleônica, o que deveria ser uma operação devastadora produziu tantos estragos quanto um rojão de festa junina.

Ataque à Jovem Pan | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação

Ataque à Jovem Pan | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação

A marcha da insensatez começou com a divulgação pela Folha de S.Paulo de um estudo produzido por ativistas homiziados na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Julgavam-se sumidades em malandragens digitais. Não passavam de cientistas de botequim. 
Depois de algumas incursões pelo universo cibernético, os jalecos a serviço do PT concluíram que era para privilegiar uma emissora reduzida a bolsão bolsonarista que o YouTube vinha recomendando aos internautas, com suspeitíssima frequência, uma visita aos vídeos da Jovem Pan. Nenhum dos acadêmicos sequer desconfiou que o algoritmo do YouTube se limita a remeter os usuários aos conteúdos com maior número de visualizações.  
Como a íntegra do programa e trechos extraídos de Os Pingos nos Is são campeões nacionais de audiência, é natural que liderem o ranking dos mais indicados.
 
Tampouco sabia disso a jornalista da Folha premiada pelos autores com uma cópia da pesquisa mambembe.  
Ela viu numa ode à ignorância a prova mais robusta de que o YouTube agia em cumplicidade com o veículo jornalístico qualificado pelo jornal onde trabalha de “voz do bolsonarismo”. 
A divulgação do besteirol devolveu à frente de combate a repórter da revista piauí que, em agosto, enxergara na Jovem Pan “o braço mais estridente do bolsonarismo”. Esse apoio ao candidato à reeleição, garantiu, era uma forma de encurtar o caminho que leva às verbas publicitárias da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom).
 
A realidade estraçalha a fantasia. Desde o início do governo Bolsonaro, a Jovem Pan recebeu R$ 4 milhões em verbas publicitárias. Tal valor é inferior ao registrado nas gestões de Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. No primeiro mandato de Lula, foram R$ 6 milhões. Entre 2007 e 2010, mais R$ 8 milhões. Dilma destinou ao grupo empresarial R$ 7,5 milhões no primeiro mandato. Entre 2015 e 2018, foram R$ 8 milhões. Em contrapartida, o Grupo Folha abocanhou R$ 371 milhões nos dois mandatos de Lula. Dilma e Temer, somados, transferiram R$ 156 milhões.  
No governo Bolsonaro, a catarata de reais secou: apenas R$ 2 milhões irrigaram o caixa da Folha. O fim da farra ajuda a entender a hostilidade do jornal ao presidente da República.

Foto: Cortesia JovemPan/Reprodução
O batalhão de trapalhões foi engrossado por advogados do ex-presidente Lula, que acionaram o Tribunal Superior Eleitoral “para impedir que o YouTube siga privilegiando os vídeos da Jovem Pan”. 
Confiante no pronto socorro dos juízes de estimação, o ex-presidiário também exigiu que a Google Brasil, proprietária do YouTube, adote as medidas necessárias para “cessar a irregularidade”
Incontrolavelmente ansiosa, a repórter da piauí jurou que o YouTube havia limitado a publicidade do canal de Os Pingos nos Is. “Isso se deve à inadequação do conteúdo para os anunciantes da plataforma”, explicou. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, celebrou a colunista social da Folha. O bloqueio jamais ocorreu.

“O Grupo Jovem Pan repele, enfaticamente, as falsidades divulgadas em suspeita parceria pela revista piauí e pela Folha de S.Paulo”, começa o editorial com que a emissora rasga as fantasias. “Ao contrário do que afirmam a publicação semiclandestina que se arrasta em menos de 30 mil exemplares e o jornal decadente, as relações entre a Jovem Pan e o YouTube são exemplarmente normais.”  
Esses textos derivam da indignação provocada em tais publicações pelo sucesso de uma instituição que completou 80 anos de existência. 
É compreensível o inconformismo da Folha, reduzida a 60 mil exemplares por dia, com o êxito da TV Jovem Pan News, que, com menos de um ano, se consolidou como o segundo maior canal de notícias e se aproxima rapidamente da liderança.”

A imprensa velha desmorona
Além dos concorrentes diretos, jornais e revistas de papel contemplaram com desdém o nascimento da TV Jovem Pan News, em 27 de outubro de 2021.  
Aos olhos estrábicos da imprensa velha, o caçula dos canais de notícias tinha tudo para dar errado. Aparentemente, faltavam estúdios, equipamentos e gente. A programação era insuficiente para fechar a grade, sobretudo nos fins de semana. 
Como enfrentar os colossos alojados no topo do ranking liderado pela balzaquiana GloboNews? 
Como desbancar da segunda colocação a CNN, fruto de investimentos siderais, que entrara no ar em março de 2020, depois de trabalhos de parto que consumiram quase seis meses de ensaios?
 As previsões agourentas foram revogadas já na primeira semana pela performance da emissora recém-nascida.

Um dos bordões publicitários da Jovem Pan repetia havia muitos meses que a rádio virara TV. Nenhum exagero, confirmou a sequência de proezas. O uso intensivo de imagens ampliara extraordinariamente a audiência de atrações como o Jornal da Manhã, Pânico e Os Pingos nos Is. Nesses horários, pouco depois da estreia a Jovem Pan News já tinha desbancado a CNN por larga margem e encostado na GloboNews.      Hoje, consolidada no segundo lugar, a emissora recém-nascida alcança com extraordinária frequência o topo do ranking. Paralelamente, publicações impressas despencam. Pouco mais de 430 mil exemplares foram colocados em circulação nos primeiros seis meses de 2022. Há sete anos, eram 1,3 milhão. A queda mais perturbadora foi protagonizada pela Folha: 16%. A tiragem oscilava pouco acima de 60 mil exemplares. Desabou para desoladores 55 mil.

Tampouco as revistas impressas vão bem das pernas. Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a circulação sofreu uma queda de 28% ao longo de 2021. A Veja, por exemplo, já foi a terceira maior do mundo ao imprimir 1,2 milhão de exemplares. O tombo mais recente levou-a a perder 51 mil — e amargar, pela primeira vez desde o nascimento, uma tiragem que mal atinge a faixa dos 90 mil. Todas as revistas hoje lutam pela sobrevivência. Menos a piauí, que não depende de leitores. Depende da herança do dono, o banqueiro João Moreira Salles. A bolada parece muito longe do fim. Tanto assim que, mesmo bancando os rombos mensais da revista, tem dinheiro de sobra para figurar na lista dos dez maiores doadores da campanha de Lula. É compreensível que sonhe com o desaparecimento de quem é suspeito de inclinações bolsonaristas.

Escravos da ideologia ignoram fatos
Decidido a silenciar a Jovem Pan, o bando que agrupa advogados do candidato e jornalistas devotos do ex-presidiário alega que os programas jornalísticos ora mobilizam comentaristas que alternam elogios a Jair Bolsonaro e fake news concebidas para manchar a imagem de Lula.        Como sabem até os microfones já aposentados, a emissora é a única que mantém em seus quadros profissionais que criticam fortemente o presidente da República. Não há na GloboNews, na CNN, nas páginas da piauí ou da Folha, por exemplo, uma única e escassa voz que recorde alguma das incontáveis ladroagens em que Lula se meteu. Todo o tempo é consumido pela pancadaria imposta ao adversário fascista, homofóbico, misógino, inimigo da democracia e golpista de nascença.

Nenhuma surpresa. Um levantamento recente da Universidade Federal de Santa Catarina constatou que 80% dos jornalistas brasileiros se declaram de centro-esquerda, esquerda ou extrema esquerda. Só 4% se consideram de centro-direita, direita e extrema direita. O escritor e analista político Flavio Morgenstern afirma que a proliferação de jornalistas engajados deformou o comportamento profissional: “Não se vigiam mais os políticos. Age-se com os políticos para vigiar a sociedade”. Para Morgenstern, o objetivo da Folha “vai além da tentativa de monopólio das narrativas: quer-se criar uma versão ‘oficial’ dos fatos — e isto só pode ocorrer censurando-se desabridamente quem não siga a cartilha”.

“O jornalista de hoje quer demonizar seus concorrentes ideológicos, para que sejam perseguidos pelo estamento judicial”, acrescenta Morgenstern. “As críticas da Folha querem ter peso de lei, e seus jornalistas agem como esbirros a apontarem quem deve ser constrangido pela lei.” A esses tumores se soma a doutrinação marxista nas universidades de jornalismo”, acredita Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação e especialista em Jornalismo Brasileiro e Comparado. “Educação é formação em um ambiente de liberdade, de abertura, de diálogo, de debate”, lembra Di Franco. “A universidade e o ensino básico estiveram, e penso que ainda estão, muito dominados por uma matriz marxista. Uma matriz militante, ativamente militante, samba de uma nota só. Isso tem consequências. Quando a ideologia domina o processo de conhecimento, o que desaparece é o conhecimento.”

Sem espaço para divergência
No faroeste à brasileira, é o bandido que persegue o xerife.
Não chega a ser surpreendente que também no jornalismo prevaleça o avesso das coisas. A TV Jovem Pan News abriga comentaristas de todos os espectros ideológicos, mas é qualificada pelos arautos do pensamento único de “bolsonarista”, “disseminadora de fake news” e “propagadora de discurso de ódio”. A Folha, que torce pela morte de Bolsonaro, proíbe contestações à verdade oficial e inventa verbos delirantes para esconder os avanços econômicos do país, apresenta-se como “imparcial”, “fiel aos fatos” e “defensora da democracia”.

Na GloboNews e na CNN Brasil, não há comentaristas políticos “de direita”, “liberais” e “conservadores”. Nas duas concorrentes, ninguém murmura algum contraponto ao incessante bombardeio que alveja o atual chefe de governo. “Se antes, pela falta de termo de comparação, o público talvez não notasse os truques sujos e as manipulações perpetrados diariamente pela imprensa autoproclamada ‘profissional’, hoje ele percebe”, acredita o escritor e antropólogo Flávio Gordon. “Quando a redação se torna uma bolha na qual o radicalismo ideológico de uns retroalimenta o dos colegas, o senso de cumprimento de uma missão política em vista de um mundo melhor sobrepuja qualquer preocupação com a prática jornalística tradicional, que, nessas condições, passa a ser vista até mesmo como reacionária.”

Como observa J.R. Guzzo, o “crime” da Jovem Pan é não se submeter ao pensamento único que a esquerda quer impor a todos os brasileiros. Virou uma religião, com pecado mortal, excomunhão e o castigo do inferno”, constata o colunista. “Trate de obedecer — caso contrário, você será denunciado por subversão da ordem politicamente sagrada.” Com notável clareza, Guzzo localiza a questão-chave escancarada pelo surto autoritário:

“E se a Jovem Pan e seu programa condenado forem mesmo a favor do presidente Bolsonaro — ou de qualquer outro personagem da cena pública, ou de qualquer posição política? Qual seria o problema? Por acaso é proibido ser a favor de Bolsonaro? Ou ser contra seus adversários? É isso, exatamente, o que propõem os autores da agressão: um veículo de comunicação, segundo eles, não tem o direito de publicar aquilo que seus editores decidem levar ao público, conforme lhes está garantido na Constituição. A liberdade de imprensa, na sua maneira de ver as coisas, não pode existir para todos. Veículos como a Jovem Pan, o programa Os Pingos nos Is e os colegas que ali trabalham são tidos como algum tipo de delinquente, gente fora da lei que deve ser denunciada e, em consequência dos seus delitos, proibida de se manifestar”.

É isso. O resto não passa de conversa fiada. Discurseira de intolerantes mal cobertos pela fantasia de democrata em frangalhos.

Leia também “Corporativismo midiático”

 Augusto Nunes e  Edilson Salgueiro

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Bolsonaro oferece saída honrosa ao STF

Rodrigo Constantino

O presidente Jair Bolsonaro (PL) protocolou nesta terça-feira (17) no Supremo Tribunal Federal (STF) uma queixa-crime contra o ministro da Corte Alexandre de Moraes por abuso de autoridade. Segundo o advogado Eduardo Magalhães, que representa o mandatário na ação, a inclusão de Bolsonaro no inquérito das fake news é "injustificável". Leia a íntegra do processo aqui.

No documento, o chefe do Executivo alega que Moraes teria realizado "sucessivos ataques à democracia, desrespeito à Constituição e desprezo aos direitos e garantias fundamentais". A notícia-crime foi encaminhada ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux.

O presidente pede "a instauração de investigação em face do ministro Alexandre de Moraes para apurar cinco fatos e o possível cometimento dos delitos". Bolsonaro apresentou cinco justificativas que, segundo ele, fundamentam a ação contra o ministro na própria Corte em que atua.

O primeiro motivo alegado pelo presidente é a "injustificada investigação no inquérito das Fake News, quer pelo seu exagerado prazo, quer pela ausência de fato ilícito". O segundo é, de acordo com o mandatário, o fato de o ministro "não permitir que a defesa tenha acesso aos autos". O terceiro motivo apontado é que "o inquérito das Fake News não respeita o contraditório".

"Ou o Inquérito no 4.781 (fake news) está, injustificadamente, sendo estendido em prejuízo dos investigados, uma vez que após mais de trinta e seis meses não há nem mesmo um relatório parcial das investigações. Ou, então, há relatórios parciais e justificativas para prosseguimento do Inquérito que estão sendo ocultados das defesas”, consta na queixa-crime.

A ação ajuizada pelo presidente oferece bom embasamento para responsabilizar o ministro Alexandre de Moraes por abuso de poder. [infelizmente, para a Justiça, o ministro Fux indeferiu de imediato o pedido do presidente Bolsonaro. As raquetes alegadas por Fux não se sustentam, mas temos que ter em conta que o presidente do STF é autor do mote: "mexeu com um, mexeu com todos."] Moraes tem agido como um "xerife", segundo um de seus próprios pares, ao arrepio da lei, perseguindo bolsonaristas no que mais se parece com uma vendeta pessoal do que qualquer senso de Justiça.  
O problema, claro, é que quem julga a ação é quem abusa do poder!
 
Não podemos esquecer que o plenário do Supremo tem chancelado várias das decisões absurdas de Moraes. O próprio "inquérito do fim do mundo" foi validado, apesar do "vício de origem", eufemismo para ilegalidade. 
Dá para esperar, então, uma decisão imparcial dos colegas do "xerife"? 
A esperança está no que a imprensa noticiou recentemente: que os demais ministros estariam insatisfeitos com a postura de Moraes e teriam feito essa informação chegar ao Palácio do Planalto.

Se o STF quiser preservar o que resta de sua frágil reputação, então precisa acatar a ação do presidente. Entregaria assim a cabeça de um só, o que mais abusa do poder, e manteria uma aura de legitimidade, apesar da cumplicidade do plenário com o “xerife” em diversas ocasiões. Moraes não é o único problema no STF de hoje, que tem Barroso conspirando contra o presidente, Fachin alfinetando as Forças Armadas, ministros que mais parecem advogados de defesa de corruptos, entre outras aberrações. Mas Moraes é, hoje, o maior problema.

Bolsonaro está dando ao Supremo o que o PSDB está oferecendo a João Doria após a reunião com outros partidos nesta terça: uma oportunidade para uma saída aparentemente digna e honrosa. A alternativa é o confronto sem muita chance de vitória. 
O Brasil está atento ao clima instaurado por ministros do STF no afã de derrubar o presidente eleito, impedir sua reeleição. As Forças Armadas têm demonstrado preocupação com o quadro. A conspiração do "sistema" não vai prosperar.
 
Nesse contexto, chama a atenção o esforço midiático para inverter a realidade e impor narrativas furadas. 
Por isso não possuem qualquer engajamento ou relevância. 
Vejam a inversão! Vera Magalhães, no Globo, trata como normal um presidente do Senado e um presidente do STF conspirarem contra o presidente que é candidato a reeleição. É um escárnio!

De onde vem o golpe mesmo?!

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 21 de abril de 2022

Salve-se quem puder! - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino


O advogado de Daniel Silveira, Dr. Paulo Faria, expôs na cara dos inquisidores a quantidade enorme de ilegalidades no processo contra o deputado.  
Não é preciso ser da área de Direito para compreender o absurdo do julgamento político comandado pela Corte. 
Quem escolhe compactuar com esse tribunal de exceção, só porque odeia o bolsonarismo, está flertando com um regime totalitário como o soviético.
 
Mas foi tudo em vão, como esperado. Os "argumentos" apresentados pelos ministros supremos carecem de embasamento jurídico, e cada fala exalava o forte cheiro de política - ou melhor, politicagem.  
Até o risinho da vice-procuradora, ao mencionar um dos apelidos colocados em Alexandre de Moraes pelo deputado, revela a farsa: a "terrível ameaça" foi recebida com deboche pelo próprio alvo, que sorriu de volta!

Alvo das "ameaças", não custa lembrar, que portanto é vítima, investigador e juiz de si mesmo, tudo acumulado numa única pessoa, o "xerife", segundo um de seus antigos pares, que comanda um "inquérito do fim do mundo", ainda segundo o mesmo ministro agora aposentado. Mas o "xerife" mostrou sua força: como relator do processo, determinou uma pena de quase dez anos de prisão ao deputado, pelo "crime" de opinião!

Alexandre falou muito, criou leis novas de sua cabeça, distorceu outras, só não mostrou um único crime concreto cometido pelo deputado. A lei agora pode retroagir, o flagrante pode ser perpétuo por meio de vídeo, nada mais é garantido.  
Trataram Daniel Silveira como se ele fosse uma espécie de Cesare Battisti, como se comandasse células terroristas clandestinas que, de fato, colocassem em risco a integridade física dos ministros supremos.

Liberdade de expressão tem que ter responsabilidade, sem discurso de ódio ou "ataques" à ordem democrática, disse Alexandre de Moraes, sem apontar onde consta essa definição em nossa Constituição

Resta explicar como defensores da ditadura do proletariado seguem soltos e até mesmo pregando o comunismo no Parlamento...

Moraes ignora questionamentos sobre violação de prerrogativas e OAB entrará no caso 

Rússia diz que tomou Mariupol, mas admite resistência ucraniana em siderúrgica
   
Alexandre de Moraes ficou revoltado com as ofensas do deputado, o seu "discurso de ódio", e por isso lançou mão até de Einstein para chamar Daniel Silveira de "estúpido". A lição do dia foi muito clara: manda quem tem poder, e dane-se a lei. Salve-se quem puder! Pois sem um critério objetivo, estão todos à mercê da subjetividade de poucos ministros, quase todos indicados pela quadrilha petista.

"Calúnia é crime em qualquer lugar do mundo", disse aquele ministro que pretende "empurrar a história" e que se enxerga como o Bem encarnado, a própria voz da democracia.  
Mas para isso há o devido processo legal, e não o arbítrio supremo!  
Sejamos sucintos para resumir o quadro: Daniel pegou pena de quase uma década e está inelegível, enquanto Lula está solto e fazendo campanha, costurando acordos com notórios corruptos nos bastidores. O Brasil acabou.
 
Como tudo pode piorar, a cada voto vinha novo absurdo. Na hora de Dias Toffoli, que celebrou seus quase 13 anos de STF - número sugestivo - vimos o ex-advogado de Dirceu se colocar como o porta-voz da democracia mundial. "Um julgamento muito além de um indivíduo ou um parlamentar", disse Toffoli, o eterno advogado do PT. Ou seja, o homem admite usar o deputado para dar um recado. Não se trata de julgar o caso em si, mas sim a "ameaça à democracia global". 
Quem precisa de uma Constituição Nacional nesse contexto?

Melhor forrar o canil dos cachorros com a Constituição Federal do Brasil, uma vez que o livrinho não serve para absolutamente mais nada, não fornece qualquer critério objetivo para compreender decisões supremas, dos supostos "guardiões da Constituição". Melhor colocar em seu lugar uma folha em branco, que pode ser preenchida de acordo com a vontade desses ministros.Vale notar que a grande esperança era o ministro André Mendonça, aquele "terrivelmente evangélico"

Mas Mendonça, em vez de pedir vistas, atendeu o telefone no meio do seu voto, e votou acompanhando o relator. Mendonça, não custa lembrar, já lançou livro com Alexandre de Moraes em homenagem a Toffoli. 
É o "sistema" contra o povo, companheiro.[Rodrigo!PARABÉNS PELA MATÉRIA. Só não era necessário que xingasse seus leitores, ao nos chamar de companheiros. Encerrastes um artigo magnifico com uma palavra que é a preferida  do maior ladrão do Brasil.] Apague a luz o último que sair...
 
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 

sábado, 26 de março de 2022

Aberração jurídica - Revista Oeste [TSE quer pensar por você]

O artigo segundo da Constituição de 1988 determina que “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. A harmonia está em crise
Na Praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal subiu num pedestal. E mostra cada vez menos respeito pela Constituição que jurou defender.
Essa frouxidão jurídica afasta investidores, porque o Direito se tornou um terreno pantanoso. Soma-se a isso a instabilidade política permanente. Boa parte do combustível dessa instabilidade é produzida pela velha imprensa. Ela já foi dominante, e hoje busca sobrevida em formato de consórcio. A única instância capaz de confrontar o império da toga está de joelhos. O Senado tem medo — muito medo.
A última aberração jurídica foi cometida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Numa caçada pessoal para tentar prender o jornalista Allan dos Santos, o xerife do STF decidiu proibir o funcionamento do aplicativo Telegram no Brasil
Moraes bloqueou um aplicativo usado por milhões de brasileiros pelo mundo porque seus inimigos — especialmente os aliados do presidente Jair Bolsonaro — utilizam a rede com frequência.

A caneta cheia de tinta no coldre
Proibir aplicativos de mensagens não é novidade no Brasil. Em fevereiro de 2015, um juiz do Piauí determinou a suspensão temporária do WhatsApp. Argumentou que o aplicativo não teria fornecido informações sobre um inquérito policial para apurar um crime de pedofilia em Teresina. A decisão, contudo, foi derrubada por dois desembargadores. No ano seguinte, outro bloqueio ocorreu, a mando de uma juíza do Rio de Janeiro. O WhatsApp não teria interceptado mensagens de criminosos em Duque de Caxias a pedido da magistrada. Mas nunca uma decisão de censura havia partido de um ministro da mais alta Corte do país.“Restringir um veículo de troca de informações não é medida constitucional nem democrática, pois somente países com regimes ditatoriais ou autocráticos já baniram ou restringiram o aplicativo de mensagem Telegram”, afirmou, em um artigo, a procuradora Thaméa Danelon.

O Telegram foi uma saída usada pelos “cancelados” há muito tempo para fugir da patrulha estabelecida pelas redes tradicionais, como Twitter, Instagram e YouTube. Com a caneta cheia de tinta no coldre, o magistrado disse que pessoas físicas e jurídicas seriam multadas em R$ 100 mil por dia caso utilizassem o Telegram — rede à qual reduziu em despacho como “subterfúgio tecnológico”. Deu cinco dias para o aplicativo ser bloqueado no Brasil.

Segundo o ministro, alguns países já seguem essa diretriz, porque não detêm monitoração suficiente sobre os cidadãos. A régua de Moraes assusta: os países que servem como exemplo são Bahrein, Belarus, China, Cuba, Irã, Paquistão, Rússia e Tailândia. Recentemente, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, flertou com essa ideia e disse que o Telegram seria um “acelerador para extremistas de direita, teóricos da conspiração e outros agitadores”. Recuou no dia seguinte.

Depois da canetada, Alexandre de Moraes apareceu muito irritado nos corredores do STF, segundo relataram a Oeste jornalistas que acompanham o dia a dia do Supremo. A repercussão foi negativa. Havia dois problemas: 1) como amparar uma decisão de bloqueio tão ampla com o argumento de que há casos de pornografia infantil e venda de armas? Eles acontecem com muito mais frequência em aplicativos mais populares, como o WhatsApp; 2) o que isso tem a ver com fake news e “milícias digitais”, o inquérito sem pé nem cabeça que até hoje ele mantém aberto na Corte?

Em seu despacho de 18 páginas, Moraes usou trecho de uma reportagem exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo, algo que não existe no Direito. “Foi explicitado que grupos no Telegram violam leis e abrigam negociações de drogas, armas, pornografia infantil e outros crimes”, tais como: estelionato, propaganda neonazista, venda de notas de dinheiro falas e falsificação de documentos e de certificados de vacinação contra a covid-19.

Não há no Marco Civil da Internet um dispositivo que autorize o bloqueio de serviços das plataformas. O próprio Supremo começou a debater esse assunto na ação 403, relatada pela ministra Rosa Weber, mas não houve decisão por causa de um pedido de vista.

A ditadura da toga
“Para abrir uma investigação, antes é necessário haver indícios de crimes, que, no caso, não ocorreram”, afirma o jurista Dircêo Torrecillas Ramos, membro da Academia Paulista de Letras Jurídicas.

O jurista Ives Gandra Martins avalia que as decisões de Moraes beiram o ativismo judicial. “A liberdade de expressão não poderia ser atingida, tampouco teria de ser matéria examinada pelo Supremo, mas, sim, por um juiz de primeira instância”, diz.

Para o jurista Adilson Dallari, os arroubos de Moraes configuram crime. “Os abusos praticados pelo ministro estão tipificados como crimes de responsabilidade no artigo 39, itens 3 e 5, da Lei n. 1.079, respectivamente, por exercer atividade político-partidária e proceder de modo incompatível com a honra, dignidade e decoro de suas funções”, diz.

O desembargador Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça de São Paulo, vai além e aponta uma “ditadura da toga”, expressão que, se for usada por outros críticos nas redes sociais, poderia terminar em prisão ou quebra de sigilos.Estamos a ponto de alcançar essa situação, porque a esquerda usa o STF para prejudicar o governo. Há cerca de 200 intromissões do STF no Poder Executivo.”

“Os abusos praticados pelo ministro estão tipificados como crimes de responsabilidade”

Em meio ao entrave jurídico, o presidente Jair Bolsonaro disse que a Polícia Federal não pediu ao ministro o bloqueio do Telegram. A empresa respondeu rapidamente às exigências do STF e voltou a funcionar. O show de Alexandre de Moraes, contudo, está longe de acabar.

Apesar das críticas no meio jurídico, nada afaga mais o ego de Moraes que uma capa de revista ou os elogios dos seus jornalistas favoritos. Ao contrário de metade da atual composição da Corte, ele conversa com frequência com jornalistas — e opina. Manda mensagens por WhatsApp aos comentaristas de TV durante programas ao vivo e telefona para a direção dos veículos de comunicação para se queixar de reportagens. Fez isso, por exemplo, quando Roberto Jefferson usou apelidos depreciativos sobre ministros da Corte em entrevistas. No pedido de prisão do ex-deputado, aliás, constam trechos de um programa da Jovem Pan.

O desejo autoritário de um Poder Moderador
Moraes foi um dos ministros abraçados pelo consórcio de imprensa que não aceitaram a vitória de Bolsonaro em 2018. No último dia 18, quando a crise do Telegram chacoalhou brasileiros, um comentário do correspondente da TV Globo Jorge Pontual, ao vivo, deixou os colegas atônitos. O jornalista criticou a decisão, porque o aplicativo (que por sinal foi criado na Rússia) era a melhor ferramenta para acompanhar a guerra no Leste Europeu. A turma do consórcio ruborizou.

“Uma autoridade não pode decidir o que é verdade ou mentira, o que é fake news”, afirmou Jorge Pontual, no ar. “Cabe às pessoas, ao público, aos cidadãos decidirem. Infelizmente, os nossos colegas no Brasil não vão mais poder cobrir a guerra como deveriam, porque não vão ter acesso à informação. Fico surpreso em ver um jornalista defender a censura.”

A insegurança jurídica no Brasil também é um problema para o mundo dos negócios. Quando a lei não é clara ou pode ser relativizada, ninguém quer arriscar. Prejudica a competitividade e confunde marcos regulatórios.

De acordo com um ranking produzido pela World Justice Project, uma organização que estuda o assunto, o Brasil ocupa a 67ª posição num universo de 168 nações. O país vem despencando desde 2019. O estudo analisa desde casos de corrupção, compliance, transparência de gastos públicos até leis econômicas. Não é surpresa que a Dinamarca apareça em primeiro lugar, seguida de Suécia e Holanda. Mas vale ressaltar que o Brasil está muito distante de Uruguai, Argentina e Chile, apenas para citar os vizinhos do cone sul-americano.

Resta ainda mais um fator perturbador. Desde fevereiro, a Justiça Eleitoral brasileira é chefiada por Edson Fachin. Seu vice, Alexandre de Moraes, assumirá em agosto. É ele que conduzirá a mais acirrada disputa presidencial desde a vitória de Fernando Collor de Mello, em 1989.

Fachin é um advogado paranaense ligado ao MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e amigo da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi ele quem anulou parte das condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato. Com Moraes ao lado, é previsível que a campanha eleitoral não seja tranquila.

Não é de hoje que os ministros do Supremo Tribunal Federal manifestam o desejo totalitário de instaurar um Poder Moderador no país. Dias Toffoli, ex-presidente da Corte, já afirmou isso abertamente no ano passado, durante um fórum em Lisboa. A Constituição de 1988 não prevê nada disso. Fica cada dia mais claro quem é responsável pela instabilidade no Brasil.

Leia também “Toffoli e o Poder Moderador que não existe”

 


sábado, 26 de fevereiro de 2022

A fraqueza ocidental - Revista Oeste

 Rodrigo Constantino

Quando o xerife do mundo livre se mostra pusilânime, os inimigos da liberdade ficam mais ousados

Joe Biden, ao lado de Boris Jonhson, na Conferência do G7 (10/06/2021) | Foto: Wikimedia Commons
Joe Biden, ao lado de Boris Johnson, na Conferência do G7 (10/06/2021) | Foto: Wikimedia Commons

A Rússia invadiu a Ucrânia nesta quinta-feira. Putin avaliou que toda a retórica dos líderes ocidentais não passava disso: pura retórica. O autocrata russo decidiu, então, avançar com seus planos imperialistas, para resgatar parte da configuração territorial que a então União Soviética tinha lembrando que Putin, um ex-agente da KGB, considerou a queda da URSS uma “catástrofe geopolítica”.

Largado à própria sorte pelo Ocidente “progressista”, resta ao povo ucraniano “ucranizar”, como fez contra seu próprio governo e ficou documentado no filme Winter on Fire, e demonstrar algum heroísmo na resistência ao imperialismo russo de Putin. Mas todos sabem que, na prática, os ucranianos, sem uma ajuda concreta ocidental, não possuem nenhuma chance de vitória.

Existem várias causas para essa guerra, mas não podemos descartar como um dos fatores que desencadearam esses eventos a fragilidade cada vez maior do Ocidente. Quando o xerife do mundo livre se mostra pusilânime, os inimigos da liberdade ficam mais ousados. O Ocidente precisa urgentemente de um novo Churchill, que conhecia a natureza humana e estava disposto ao sacrifício para defender a civilização ocidental.

Diante da política de “apaziguamento” com os nazistas, Churchill profetizou: “Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra, e terão a guerra”. Churchill sabia que “um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado”. Essa percepção se aplica perfeitamente ao caso atual envolvendo a Ucrânia.

Rússia, Estados Unidos e Grã-Bretanha assinaram, em 5 de dezembro de 1994 com a Ucrânia, um acordo segundo o qual os três países garantem a unidade territorial desta ex-república soviética, em troca de que a mesma renuncie às armas nucleares. No documento, Rússia, Grã-Bretanha e Estados Unidos elogiam a adesão da Ucrânia ao tratado de não proliferação de armas nucleares e preveem que aquele país destrua todas as armas que ainda possuir, em troca da garantia de sua integridade territorial. Pelo visto, a política desarmamentista não funcionou muito bem para os ucranianos…

Ben Shapiro foi direto ao ponto: “Os britânicos entregaram o controle de Hong Kong à China em 1997 com a promessa de que a China manteria a autonomia da área. A China mentiu. A Ucrânia entregou suas armas nucleares em 1994, com apoio americano, em troca da promessa da Rússia de não invadir. A Rússia mentiu”. A moral da história é bem simples: “não confie nas promessas de ditadores. E as nações ocidentais que facilitam concessões em troca de promessas de ditadores também não são confiáveis ​​a longo prazo”.

É como achar que cantar Imagine e soltar bolas de sabão em favelas levará a paz ao local

Para Shapiro, “o que a Rússia e a China estão demonstrando é que desafiar uma hegemonia global não exige que você seja particularmente forte. Requer apenas que a hegemonia seja fraca, inchada e obcecada por si mesma”. O que estamos vendo tem relação com mudanças nas placas tectônicas da geopolítica, mas não necessariamente pelo fortalecimento de Rússia e China, e sim pelo enfraquecimento ocidental.

No momento, após a invasão russa, as prefeituras de Berlim e Paris iluminaram monumentos com as cores da Ucrânia. Talvez não exista símbolo melhor para ilustrar a fraqueza ocidental. É como achar que cantar Imagine e soltar bolas de sabão em favelas levará a paz ao local. Essa gente vive no eterno jardim de infância, com uma visão estética e romântica da vida, desconectada da realidade como ela é. Deveriam assistir O Deus da Carnificina”, de Polanski, para entender melhor que o mundo não é o Central Park de Nova Iorque.

Podemos até imaginar a nota que a Otan gostaria de soltar numa hora dessas: “Nosses soldades estão prontes e com moral elevade para ajudar a Ucrânia”. Enquanto isso, Putin sorri aquele sorriso de Mona Lisa, de quem sabe mais. Será que as feministas ucranianas já sentem falta da “masculinidade tóxica” ou ainda esperam que homens como o imitador de focas e Justin Trudeau ofereçam proteção contra os russos? A emasculação no Ocidente vem cobrar seu preço.

Isso sem falar das estranhas prioridades. Podemos vislumbrar a reação das lideranças ocidentais diante de Putin: “Mas que absurdo! O Exército russo tem pouca minoria, nenhum trans, negro ou mulher, sua artilharia não é ecologicamente correta e, pasmem, há soldados não vacinados e sem máscaras nos pelotões. Onde já se viu isso?!”. A ironia aqui serve como válvula de escape para o desespero de quem enxerga essa tendência faz tempo, mas se sente impotente diante dela.

Olavo de Carvalho, em fevereiro de 2021, escreveu: O Putin parece ser o último governante que ainda conhece a realidade: Quem manda é quem tem as armas, não quem tem o computador. Quero ver algum desses fresquinhos do Silicon Valley se meter a besta com ele. Na Hora H, o único poder real que existe não é o poder de mentir. É o poder de matar. O velho Stalin perguntaria: Quantas divisões armadas tem Bill Gates?Olavo tem razão.

Enquanto isso, vejamos a “análise” do correspondente internacional do jornal O Globo, Guga Chacra, quando Joe Biden venceu as eleições suspeitas contra Trump: “O mundo ficará mais suave sem Trump. Acabou o pesadelo da era Trump. Pode-se criticar Biden (e tenham certeza de que criticarei muito quando for necessário). Mas é uma pessoa normal. Trump era mau”. O “adulto na sala” versus o malvadão: eis a “análise” do jornalista. Logo depois veio aquela saída atabalhoada do Afeganistão, que entregou de bandeja o poder aos terroristas do Talibã.

Minha colega de revista Ana Paula Henkel alfinetou essa mídia militante assim que Putin declarou guerra à Ucrânia: “Quando Trump saiu da Casa Branca, um apresentador da CNN norte-americana chorou no ar e disse que o mundo agora viveria tempos de paz. Outro da GloboNews escreveu que ‘o mundo ficará mais suave sem Trump’. Abandonem a imprensa de pompom na mão. Eles não fazem mais análise. E há muito tempo”.

O choro ocidental não vai parar as pretensões imperialistas da Rússia e da China. Homens “fofos” e cada vez mais afeminados não vão enfrentar soldados forjados na Sibéria ou na China rural.  
Se o preço da liberdade é a eterna vigilância, o preço da paz é o poder e a determinação de defendê-la. 
É preciso estar preparado para o pior, ainda que possamos esperar o melhor. Diplomacia sem a sombra da espada não tem força. E cá entre nós: diante dessa fraqueza toda do Ocidente, se sou morador de Taiwan, começo a fazer as malas hoje mesmo…

Leia também “Os limites democráticos”


Rodrigo Constantino,  colunista - Revista Oeste

 


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A viagem de Bolsonaro à Rússia e a normalidade burocrática - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Visita do presidente estava marcada há muito tempo. Mas tentaram fazer as pessoas acreditarem nas possibilidades mais extravagantes

Não é a primeira vez em tempos recentes, e nem deve ser a última, que a opinião pública mundial é levada a acreditar, por força de algum repente neurótico de governos em busca de causas, que o mundo vai acabar daqui a quinze minutos. A assombração que levantam é de mais uma “guerra” nos 
Estados Unidos, na Europa e de preferência no planeta inteiro.
Trata-se de uma impossibilidade material; guerra de verdade, no século XXI, é coisa privativa de país subdesenvolvido. Mas nada detém o impulso de criar pânico, e por conta disso temos essa gritaria histérica que se
formou em torno da “invasão” da “Ucrânia” pela “Rússia”.
Alguém invadiu alguém, com tropa, tanque e bomba atômica? Não. Poderia ter invadido? Não. Resultado: quem se preocupou com isso perdeu completamente o seu tempo.

Foi a mesma coisa, tempos atrás, quando a Coreia do Norte ia disparar o seu “arsenal nuclear” em cima de Nova Iorque e Donald Trump ia apertar um botão capaz de detonar não só a Coreia e vizinhanças, como o resto da Terra. Na ocasião, os “analistas internacionais”, esses que a televisão chama para falar depois do horário nobre, garantiam, com caras de agente funerário, que a “guerra mundial” estava ali, batendo na porta. A humanidade, lamentavam, estava à beira de ser destruída por dois débeis mentais que para a nossa desgraça, comandavam sabe lá Deus quantos mísseis e outras armas de “destruição em massa”.  Não aconteceu rigorosamente coisa nenhuma, como não poderia mesmo ter acontecido, e hoje ninguém se lembra mais do assunto. Coreia do Norte? Trump?

Foi a vez da Rússia e da Ucrânia, nesses últimos dias. Os “peritos em política externa” vem prometendo, com toda a seriedade do mundo, uma guerra mundial — mais uma — por divergências militares na Europa. A Ucrânia quer entrar na organização armada que existe para “conter” a Rússia. A Rússia não quer que ela entre; levou tropas para fronteira, exibiu fotos de tanques de guerra andando pelas estradas, e o resto do roteiro que se escreve para esse tipo de ocasião. É óbvio que a Ucrânia se declarou disposta a mudar de ideia, a Rússia deu uma recuada nas tropas e o que sobrou foi o presidente Joe Biden, que passou os últimos dias tentando representar o papel do xerife que vai defender os coitadinhos, dizendo que a invasão “ainda pode acontecer”. Daqui a pouco ele desiste, a mídia vai mudando de assunto e o público em geral fica no prejuízo — ameaçado, mais uma vez, por um monte de nadas.

A excitação nervosa, nesta guerra anunciada e não entregue, ganhou um reforço particularmente cômico, com a visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia. Até uma criança de dez anos de idade sabe que uma viagem dessas não é marcada de véspera, com a intenção expressa de coincidir com um bate boca militar entre governos; tem de ser preparada longamente, e estava marcada há muito tempo. Mas tentaram fazer as pessoas acreditarem nas possibilidades mais extravagantes. Bolsonaro seria um irresponsável, ao “jogar o Brasil” no meio de uma “guerra entre potências estrangeiras”. Ou, ao contrário, seria um demagogo, querendo fingir que sua visita à Rússia segurou a barra geral, e evitou um “conflito armado” — mais ou menos como Lula e o seu “acordo de paz”, anos atrás, entre o Irã e ninguém. Falaram, com todas as letras, que “se” não estourasse a guerra durante a visita — assim mesmo, com esse “se” — o Brasil teria tido muita sorte, e outras bobagens do mesmo tamanho. Como seria possível pensar a sério que a Rússia, ou qualquer outro país, vai se preocupar com Bolsonaro para começar ou não uma guerra?

É óbvio que a visita se passou na normalidade burocrática de sempre. É esperar, agora, pela próxima crise mundial.

J. R.Guzzo,  colunista - O Estado de S.Paulo

 

domingo, 31 de outubro de 2021

Moraes chegará à presidência do TSE com estrela de xerife no peito - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Pontes não é burro
O ministro Marcos Pontes, da Tecnologia, levou na esportiva o fato de seu colega Paulo Guedes tê-lo chamado de “burro”.  Ex-aluno do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e coronel da reserva da FAB, é provável que burro ele não seja. [temos que concordar que Pontes não é burro. Afinal, conseguiu ser astronauta, sendo que até hoje não se sabe as razões do feito e o único resultado é que a FAB nada ganhou, menos ainda o Brasil.] 
 
Em abril do ano passado o doutor anunciou a descoberta de dois remédios com 94% de eficácia contra o coronavírus: — No máximo na metade de maio, um momento crítico, nós teremos aqui uma solução de um tratamento.

Pontes não é burro, acha que os outros são.
 
Esteves errou a conta
O banqueiro André Esteves lida com números. Noves fora outras impropriedades cometidas em sua fala aos clientes do BTG, ele disse que “no dia 31 de março de 1964 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram para escola, o mercado funcionou.”

O dia 31 de março, quando o general Olímpio Mourão Filho se rebelou em Juiz de Fora, foi relativamente normal, com umas poucas prisões. Como disse o marechal Cordeiro de Farias, “o Exército dormiu janguista”. Cordeiro, um revoltoso desde 1924, foi um patriarca das conspirações do século passado e sabia o que aconteceu naquelas horas. No dia seguinte, acrescentou o marechal, o Exército “acordou revolucionário”. Foram presas centenas de pessoas, entre as quais o governador Miguel Arraes, de Pernambuco, mandado para Fernando de Noronha. Estádios e navios foram usados como cadeias. [as prisões foram necessárias e oportunas; tomando como exemplo o preso citado na matéria, governava um estado que sediava as 'ligas camponesas', lideradas por Francisco Julião.]

Mais: no dia 1º de abril morreram sete pessoas.

Para os padrões, foi um golpe incruento mas, como lembrou a Central Intelligence Agency ao presidente Lyndon Johnson na manhã de 7 de abril: “Cresce o medo, não só no Congresso, mas mesmo entre aliados da revolta, que a revolução tenha gerado um monstro.”


O aviso do xerife de 2022
Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro

Um ano antes do pleito de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral escreveu uma boa página de sua história. [Livrou a chapa de Jair Bolsonaro da cassação*] e avisou aos interessados que se repetirem o golpe das notícias falsas e das milícias eletrônicas, pagarão pelos seus delitos. Nas palavras do ministro Alexandre de Moraes, que presidirá a Corte em 2020: “Irão para a cadeia”.

A decisão unânime do TSE acompanhou o voto de 51 páginas do corregedor Luiz Felipe Salomão. No ambiente envenenado da política nacional, Salomão apresentou uma peça redonda e cirúrgica na demonstração das malfeitorias cometidas e equilibrada na conclusão de que [*faltaram provas e as impressões digitais necessárias para justificar a cassação de uma chapa três anos depois de sua posse.] O magistrado mostrou a letalidade do vírus e abriu o caminho para a advertência de Moraes.

Passados três anos do festival de patranhas de 20018, Alexandre de Moraes chegará à presidência do TSE em agosto, com a estrela de xerife no peito. Salomão fez sua carreira na magistratura; Moraes, no Ministério Público, com uma passagem pela Secretaria de Segurança de São Paulo. Além disso, na condução do inquérito das notícias falsas conhece as obras e pompas das milícias eletrônicas e mostrou-se rápido no gatilho ao mandar delinquentes para a cadeia. Zé Trovão, o caminhoneiro foragido, decidiu entregar-se à Polícia Federal. Na estrela de xerife de Moraes brilha o destempero com que Jair Bolsonaro investiu contra ele, chamando-o de “canalha”.

Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro. Salomão, por seu turno, já firmou a jurisprudência que congela os recursos que as alimentam. As conexões internacionais dessas milícias, um fato que há três anos estavam no campo da ficção cibernética, hoje estão mapeadas. Se há um ano elas tinham o beneplácito do governo americano, hoje têm o FBI no seu encalço,

Com Moraes na presidência do TSE é possível prever que entre o início dos disparos propagadores de mentiras e a chegada dos responsáveis à carceragem passarão apenas dias ou, no máximo, poucas semanas. Basta ler o voto de Salomão e acompanhar as decisões de Moraes para se perceber que os reis das patranhas de 20018 são hoje sócios de colônias de nudismo. [os brasileiros que são realmente democratas e que não atacam a democracia sob o pretexto de preservá-la, consideram:
- em 2022, Bolsonaro terá mais de 90.000.000 de votos.
Para tanto, esperam e confiam que eventuais prisões sejam realizadas com estrita observância do texto da legislação vigente e não fundamentas em interpretações da mesma legislação.
Que as prisões não impeçam os eleitores de exercerem o constitucional DIREITO DE VOTAR,  inerente a todos os cidadãos brasileiros.]

(........)
 
Elio Gaspari, colunista - Folha de S. Paulo - O Globo - MATÉRIA COMPLETA