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sábado, 3 de julho de 2021

Precisamos falar sobre a CoronaVac - Revista Oeste

Paula Leal

A vacina recebida pela maioria dos brasileiros enfrenta um surto de perguntas sem resposta

O que esperar de uma cidade que já vacinou mais de 95% da população contra a covid-19? Comércio e escolas abertos, bares e restaurantes funcionando normalmente, gente praticando esportes e andando nas ruas sem máscara. Aquela vida normal que tínhamos até sermos atingidos pela maior e mais devastadora pandemia do século. Em boa parte dos Estados Unidos, Israel e nações do continente europeu, esse é o cenário real desde que o ritmo da vacinação acelerou-se. Mas a pacata Serrana, no interior paulista, mesmo depois de imunizar quase toda a população, continua na mesma. O município segue estritamente as regras do Plano São Paulo estabelecidas pelo governador João Doria (PSDB) e seu conselho de “especialistas em ciência” que formam o Centro de Contingência. Por lá, a vida permanece no “modo pandêmico”: comércio, bares e restaurantes com horários restritos, controle de ocupação, uso de máscara obrigatório até mesmo ao ar livre, nada de eventos, festas, comemorações. A ordem é manter as orientações de quem ainda não recebeu nenhuma dose de vacina.

O estudo clínico, batizado de Projeto S pelo Instituto Butantan, foi estruturado de maneira sigilosa ainda no ano passado e implementado entre fevereiro e abril de 2021. Ao longo de oito semanas, pouco mais de 27 mil moradores foram imunizados com a CoronaVac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Butantan — o equivalente a 95% da população-alvo da pesquisa e aproximadamente 60% da população total de Serrana, de quase 46 mil habitantes. Os resultados do experimento foram divulgados numa coletiva de imprensa mais de um mês depois do término da vacinação: as mortes por covid-19 caíram 95%, as internações recuaram 86% e os casos sintomáticos foram reduzidos em 80%. Até agora, no entanto, o Butantan não apresentou os dados brutos da pesquisa nem informações sobre faixa etária. A justificativa é que eles serão publicados num artigo científico — futuramente. Segundo especialistas, a prática de não divulgar os detalhes de um estudo científico numa coletiva de imprensa é comum, mas ajuda a engrossar o caldo de desconfiança que ronda a CoronaVac desde a sua origem.

Um festival de erros
Primeiro, o relacionamento do governo paulista com o gigante farmacêutico chinês Sinovac continua um mistério. O contrato firmado envolve cláusulas sigilosas que não podem ser compartilhadas com a comunidade médica. Pela parceria, o governo do Estado diz que pagou R$ 85 milhões em junho do ano passado. Em setembro, foram US$ 90 milhões — o governador João Doria não esclareceu se esse valor se soma ao que foi pago anteriormente. No último dia 23, a presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo solicitou os termos da negociação entre o Butantan e o fabricante. Em relatório elaborado pelo órgão de controle, o instituto é criticado pela falta de transparência no fornecimento de informações ao tribunal.

Depois, a divulgação de dados sobre a vacina foi um show de tropeços. Após três adiamentos, coletivas que forneciam números incompletos e cálculos questionáveis, a população brasileira ficou sabendo que a CoronaVac atingiu 50,38% de eficácia global, no limite exigido para aprovação pela Organização Mundial da Saúde e pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). A demora em divulgar o estudo completo e a frustrante repercussão dos resultados deram a impressão de que o governo do Estado já sabia da baixa eficácia da vacina e represava informações, ou, pior, tentava omitir dados.

Para além de uma vacina que bateu na trave nos critérios da Anvisa, são poucos os países que fazem companhia ao Brasil na escolha da CoronaVac: além da China,  Turquia, Indonésia, Chile e Uruguai apostaram no laboratório Sinovac. No mês passado, a Costa Rica recusou a compra do imunizante chinês sob alegação de que o produto não atingiu os 60% de eficácia mínima exigida pelo Ministério da Saúde local. Por fim, ainda não há notícia de que alguma autoridade científica da comunidade internacional tenha respaldado os estudos do fabricante chinês.

Largada da vacinação no Brasil
Com a autorização do uso emergencial de duas vacinas — a CoronaVac e o imunizante do laboratório anglo-sueco AstraZeneca, em 17 de janeiro, foi dada a largada para a vacinação no país. Pouco mais de cinco meses depois, já foram aplicados mais de 100 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. Dos 100 milhões de CoronaVac adquiridos pelo Ministério da Saúde (MS) ao custo unitário de R$ 58,20, 43 milhões já foram aplicados. Valor total da negociação: R$ 5,8 bilhões. Por algumas semanas, a vacina chinesa foi a única opção dos brasileiros, e boa parte dos grupos prioritários recebeu as duas doses do imunizante. Agora, resta saber se quem já gastou sua vez na fila com o produto chinês está realmente imunizado. Como escreveu o jornalista Augusto Nunes, colunista de Oeste, num artigo recente, “ninguém torce tanto pelo sucesso da CoronaVac quanto os que receberam duas doses do maior trunfo eleitoral do governador João Doria.” Só que torcida, em ciência, não funciona. Os fatos são teimosos.

O estudo final sobre a CoronaVac, divulgado em abril deste ano, mostrou que a eficácia da vacina para casos sintomáticos de covid-19 atingiu 50,7%, ante os 50,38% divulgados anteriormente. Os resultados foram enviados à revista científica Lancet para revisão por pares, mas ainda não foram publicados. Entretanto, outra pesquisa realizada pela Vebra Covid-19 (sigla para Vaccine Effectiveness in Brazil against covid-19), grupo que reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros, avaliou o desempenho da vacina em pessoas de 70 anos ou mais vacinadas no Estado de São Paulo. A média de efetividade foi de 42% na totalidade do grupo e de apenas 28% nos idosos acima dos 80 anos. O trabalho envolveu 15,9 mil voluntários e foi o maior já feito nessa faixa etária. Questionado sobre a diferença nos resultados, o Instituto Butantan respondeu a Oeste: “O estudo em questão não fala em eficácia. Com dados secundários, ele mediu a positividade de casos nessa população, sem, no entanto, esclarecer quantos dos infectados evoluem para quadros graves ou óbitos, que é justamente o que a vacina visa a prevenir.”

Independentemente de paixões políticas, o resultado do estudo da Vebra contestado pelo Butantan indica uma realidade que precisa ser encarada pelas autoridades de saúde no país: a CoronaVac tem baixa eficácia e, ao que parece, não tem se mostrado capaz de frear a transmissão da doença.

A realidade em outros países
O dilema de quem confiou em imunizantes chineses não é exclusividade do Brasil. Uma reportagem recente publicada pelo jornal The New York Times mostra que outros países que também compraram vacinas produzidas na China enfrentam novos surtos de contaminação. Na Mongólia, Bahrein, Chile e nas pequenas Ilhas Seychelles, entre 50% e cerca de 70% da população foi totalmente vacinada, ultrapassando inclusive os Estados Unidos, segundo o site Our World in Data. Entretanto, todos eles foram parar na lista dos dez países com os piores surtos de covid-19 registrados na terceira semana de junho, de acordo com levantamento de dados feito pelo jornal norte-americano. Mongólia, Bahrein e Seychelles escolheram majoritariamente a fabricante Sinopharm. Já o Chile aderiu à vacina do laboratório Sinovac Biotech, o mesmo que produz a CoronaVac envasada pelo Butantan.

O caso do país sul-americano é emblemático. Com 54% da população totalmente imunizada e 65% vacinada com a primeira dose (dados do Our World in Data), o Chile segue com medidas rígidas de isolamento. No mês passado, a capital Santiago e outros municípios entraram novamente em lockdown para conter o avanço da contaminação. O confinamento restrito se estendeu até ontem, quinta-feira 1º de julho, quando se iniciou um programa gradual de flexibilização. No Chile, a CoronaVac corresponde a 77% do total das doses aplicadas até agora. Em fevereiro, quando o programa de vacinação começou, foram registrados 515 novos casos por 100 mil habitantes. Em junho, a taxa de novas contaminações atingiu a marca de 922 por 100 mil. A ocupação de leitos de UTI segue acima de 90% no país.

Pessoas ligavam para amigos e parentes para avisar: “É Pfizer, pode vir”

Em nota publicada no site da instituição em 18 de junho, o Butantan nega que o aumento de casos de covid-19 no Chile esteja relacionado à vacinação com a CoronaVac. Segundo Dimas Covas, presidente do instituto, dois relatórios divulgados pelo Ministério da Saúde chileno sobre o desempenho da vacina mostraram alta eficiência. Covas também ressaltou que “os novos casos que têm aparecido no Chile afetam majoritariamente as populações que não receberam a vacina, principalmente os mais jovens”. A nota informa ainda que, apesar do alcance da cobertura vacinal com as duas doses de 50%, “é necessário ter ao menos uma parcela de 70% das pessoas imunizadas para que se tenha um efeito indireto da vacinação”.

No começo, atribuiu-se a culpa ao relaxamento das medidas de proteção, à chegada de novas variantes e ao início do outono. Mas o conjunto de evidências só reforça o fato de que as vacinas chinesas, embora apresentem eficácia na redução de internações e de mortes, não conseguiram reduzir a transmissão do vírus.

A CoronaVac no Brasil
Se os gestores públicos não querem enfrentar o assunto, muitos brasileiros já estão tomando providências por conta própria. Em visita a um posto de saúde na Bela Vista, bairro no centro de São Paulo, no último dia 21 de junho, a reportagem de Oeste conversou com mais de 15 pessoas que aguardavam sua vez na fila para se vacinar com a Pfizer, marca do imunizante oferecido naquele dia. Roberto Andrade, administrador, 56 anos, disse ter ido a três postos de saúde perguntar qual era a vacina disponível. Ao saber tratar-se da AstraZeneca, virou as costas e foi embora. “A CoronaVac também não quero tomar. A taxa de eficácia ficou abaixo das outras duas [Pfizer e AstraZeneca]”, afirmou. “Resolvi esperar para tomar a Pfizer, tenho mais confiança no laboratório.” No fim da fila, por volta das 10h30, Cristian Vieira da Silva, 38, desempregado, disse não se importar de esperar, já que a vacina era a da Pfizer. “Já fui a cinco postos. Não tomo AstraZeneca. Tenho medo porque sou portador de comorbidade. E a CoronaVac é fraca.” Enfileiradas à espera de uma picada, pessoas ligavam para amigos e parentes para avisar: “É Pfizer, pode vir”.

Seis idosos vacinados com duas doses da CoronaVac morreram de covid-19 num asilo em Arapongas

Segundo especialistas, as taxas de eficácia divulgadas pelas desenvolvedoras das vacinas não podem ser comparadas diretamente porque cada estudo tem sua metodologia própria e, principalmente, um período de desenvolvimento do ensaio clínico distinto. Mesmo assim, quem manifesta preferência por determinado imunizante já ganhou o apelido desommelier de vacinas” e, embora a prática seja criticada por atrasar o avanço da vacinação, é bastante comum em vários postos de saúde.

Outra situação frequente nesta fase da pandemia é recorrer a exames sorológicos para saber se o organismo desenvolveu anticorpos contra a covid-19 após duas doses de vacina. “Não existe até agora uma validação de exame contra o Sars-Cov-2 sorológico que possa confirmar que uma pessoa está imunizada”, explica a médica infectologista Patrícia Rady Muller. Entretanto, seja por curiosidade ou recomendação médica, um dos testes mais recorrentes é o de anticorpos neutralizantes, que avalia se houve produção de anticorpos contra a covid-19 no organismo e mostra o porcentual deles com capacidade de neutralizar o vírus. Oeste teve acesso ao exame de anticorpos neutralizantes do oftalmologista Luiz Roberto Colombo Barboza, vacinado com duas doses da CoronaVac. O resultado: reagente 21%. Entre várias observações constantes no laudo laboratorial, uma delas chama atenção: “resultados entre 20% e 30% de inibição são considerados reagentes fracos e devem ser interpretados com cautela”.

“Desde o início, era sabido que a CoronaVac era uma vacina que não tinha grande eficácia, principalmente em idosos”, diz o médico-cirurgião oncológico com pós-doutorado em epidemiologia estatística, Luiz Bevilacqua. “Só que era o que tinha no momento, a gente não pode se arrepender.” Diante da realidade que se impõe, ele defende uma reavaliação no plano de imunização para priorizar a proteção da população de risco com vacinas mais eficazes. Outro fator importante, apontado pela médica infectologista Patrícia Rady Muller, é que a taxa de eficácia de uma vacina interfere em políticas públicas para definir a extensão da cobertura vacinal. “Quanto menor a eficácia, mais pessoas precisamos vacinar para evitar transmissão de uma pessoa a outra.”

Em junho, seis idosos vacinados com duas doses da CoronaVac morreram de covid-19 num asilo em Arapongas, no Paraná, em meio a um surto que atingiu 32 dos 43 residentes do Lar São Vicente de Paulo. Além disso, oito dos 16 funcionários que trabalham na instituição, todos com imunização completa com a vacina chinesa, foram diagnosticados com a covid-19 no mês passado — até o momento, nenhum deles desenvolveu quadro grave da doença. A Revista Oeste questionou o Instituto Butantan a respeito do caso, e obteve, por e-mail, a seguinte resposta: “É prematura e temerária qualquer afirmação sobre hospitalizações ou óbito pela covid-19 de pessoas vacinadas contra a doença, uma vez que cada caso, individualmente, deve passar obrigatoriamente pelo processo de investigação, que não considera apenas a imunização de forma isolada, e sim o conjunto de aspectos clínicos, como comorbidades e outros fatores não relacionados à vacinação”.

De volta ao caso de Serrana, a cidade paulista com 95% dos moradores vacinados com a CoronaVac, os números indicam que o vírus continua se espalhando. “Quem eu conheço, mesmo vacinado, ainda tem medo do vírus”, disse a comerciante Eliana Maria Máximo, dona de uma lanchonete no centro da cidade. A vacinação em massa terminou em 11 de abril. Em maio, registraram-se 333 casos, um aumento de cerca de 42% em relação ao mês anterior (235). Em junho foram 299 casos. O pico de mortes relacionadas à covid-19 ocorreu em março deste ano, quando se verificaram 18 óbitos. Em abril foram oito; em maio, sete; e em junho, seis.

Oeste também solicitou ao Ministério da Saúde informações sobre o número de mortos em razão da covid-19 por faixa etária para cruzar com os dados de pessoas imunizadas com duas doses de vacinas. Em resposta, por e-mail, o MS informou “que ainda é precoce fazer esse tipo de análise e cruzamentos de dados". O pedido foi feito em 19 de abril.

Ao cenário de incertezas, soma-se o fato de que os imunizados com a CoronaVac continuam proibidos de entrar nos Estados Unidos ou cruzar as fronteiras dos principais países da Europa. Isso porque algumas autoridades sanitárias ainda não chancelaram a fabricante Sinovac. A situação não mudou com a inclusão do imunizante chinês na lista dos liberados pela OMS para uso emergencial. Enquanto as principais agências regulatórias do mundo não aprovam o uso da CoronaVac, a vacina segue em aplicação no Brasil com autorização de uso emergencial pela Anvisa. Os imunizantes da AstraZeneca/Oxford e Pfizer já possuem o registro definitivo. O Butantan informou que “está encaminhando as informações ao órgão, dentro do processo de submissão contínua”, mas, segundo a Anvisa, o instituto ainda não fez o requerimento para registro do produto.

Outra questão que intriga é entender por que o Butantan resolveu apostar em outra vacina, a ButanVac, quando já envasa quase 1 milhão de doses da CoronaVac por dia e investiu em nova fábrica para produzir o IFA (insumo farmacêutico ativo) nacional. Por certo, a iniciativa de ter uma vacina desenvolvida no Brasil (sem depender de insumos importados) para ampliar o cardápio vacinal aumenta a segurança. Mas é possível que a pressa em produzir um imunizante em três meses, como prometido pelo Butantan, seja justificada pela preocupação em ter na manga uma alternativa caso a CoronaVac se mostre ineficaz.

A polêmica da terceira dose e a combinação de vacinas
Há meses discute-se a necessidade de uma dose extra da CoronaVac para quem já tomou duas injeções. Alguns fabricantes, como a Pfizer, anunciaram a possibilidade de uma dose anual de reforço. Afinal, é bem provável que a imunização contra a covid-19 repita o esquema vacinal contra a gripe. O que incomoda é a falta de clareza e transparência no caso da CoronaVac. Ainda em abril, o diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, confirmou que havia estudos sobre uma eventual terceira dose. “Existem grandes preocupações sobre como melhorar a duração da resposta imune, e uma das alternativas que têm sido consideradas é uma dose de reforço, seja com a própria CoronaVac, seja com outros imunizantes." No mês passado, Dimas Covas disse, primeiro, que não havia motivo para preocupação. “A vacina é eficiente e, neste momento, não existe necessidade de se preocupar com uma terceira dose, como foi propalado recentemente.” No dia seguinte, voltou atrás e admitiu que a entidade trabalha com a possibilidade de um reforço vacinal para ser aplicado anualmente em todas as faixas populacionais.

Em entrevista a Oeste no ano passado, quando as vacinas ainda eram uma promessa no meio científico, o médico pediatra e toxicologista Anthony Wong, falecido em janeiro de 2021, explicou que a tecnologia do vírus inativo utilizada na produção da vacina chinesa requer três ou até mesmo quatro doses para produzir efeito. Segundo  Wong, a oferta de apenas duas injeções teria relação com o encurtamento das etapas de estudo da CoronaVac. “Eles não completaram a fase 2”, disse. “Então, não sabem se será necessária ou não uma terceira dose. E garanto que precisa. Não existe uma única vacina de vírus inativo que não exija três doses. A única explicação para oferecer apenas duas doses é a pressa.” O diretor do Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Gao Fu, chegou a admitir que as vacinas chinesas contra a covid-19 têm baixa eficácia e que o governo chinês estuda misturar diferentes vacinas de modo a aumentar a proteção. Já o diretor do laboratório Sinovac, Ying Weidong, afirmou que uma terceira dose da vacina depois de três ou seis meses poderia multiplicar por dez a resposta de anticorpos em uma semana e por vinte em 15 dias, mas os resultados ainda precisam de mais estudos.

Outros países estão alerta. O governo do Chile avalia a aplicação de uma terceira dose da CoronaVac. Bahrein e os Emirados Árabes Unidos já anunciaram que vão oferecer uma dose de reforço. Na Turquia, a revacinação da população inicia-se em julho. No Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o governo federal ainda analisa a necessidade de nova vacinação contra a covid-19 no ano que vem — ou se bastará apenas uma dose de reforço para a população brasileira.

Mais uma possibilidade na mesa é a mistura de imunizantes. Nesta semana, o Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a oficialmente autorizar a combinação de vacinas para grávidas. Segundo a prefeitura, gestantes e mulheres que acabaram de ter filhos e tomaram a primeira dose da AstraZeneca estão autorizadas a receber a segunda aplicação da Pfizer. Na Coreia do Sul, a decisão de adotar o “mix” de vacinas deu-se em razão dos atrasos no envio das doses pelo consórcio global Covax Facility. Medidas semelhantes já foram adotadas por países como Dinamarca, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Noruega, Espanha e Suécia.

A vacinação em massa tem se mostrado a melhor saída para emergir da pandemia. Mas, se no início da campanha de imunização a melhor vacina era aquela que chegava logo ao braço, agora os números mostram que a disparidade de resultados em razão do uso de diferentes fórmulas no mundo tem consequências. Enquanto alguns países já deram adeus às máscaras e estão livres de restrições, outras nações, com os mesmos índices de vacinação, amargam medidas de isolamento e enfrentam novos surtos de contaminação. O Brasil dispõe hoje de quatro vacinas em aplicação: AstraZeneca/Oxford, CoronaVac, Pfizer e Janssen — o que minimiza os riscos de depender de um único produto. Mesmo assim, cerca de 34% da população já vacinada recebeu a CoronaVac e quer respostas. Detalhe: esse porcentual é formado em sua maioria por idosos, que têm mais risco de desenvolver formas graves da doença, e por profissionais da saúde, altamente expostos à carga viral.

Essa é mais uma discussão para a ciência. “Na medicina, somos treinados. Se o tratamento B é melhor que o A, tenho que oferecer o B, porque senão corro o risco de fazer um tratamento inadequado”, afirma o médico Luiz Bevilacqua. “Antes não tinha vacina, agora tem. Por que insistir em algo menos eficaz?” Empurrar o problema para a frente só vai arrastar ainda mais os efeitos da pandemia, que já ceifou tantas vidas, sobrecarregou o sistema de saúde e devastou a economia. Se perdermos a capacidade de questionar fatos sob risco de ser tachados de partidários, negacionistas e antivacina, então estaremos todos correndo risco. Não há vacina para a dúvida. Por isso, precisamos falar sobre a CoronaVac.

Com reportagem de Artur Piva

Leia também "Crachá de cobaia"

Revista Oeste 

sábado, 27 de março de 2021

Uma verdade inconveniente: cada governo responde em primeiro lugar a seus próprios eleitores - Alon Feuerwerker

Fala-se muito em frente ampla oposicionista, mas por enquanto a única consolidada é uma contra a atual condução - e o atual condutor - da política exterior brasileira. 
Será necessário, porém, notar que a frente não é homogênea. São pelo menos duas grandes tendências. E elas irão se chocar mais adiante. 
Segundo a primeira, o principal erro do atual Itamaraty foi o forte alinhamento a Donald Trump. Para a segunda, o equívoco foi ter abandonado o nosso tradicional esforço pelo não-alinhamento a países ou blocos.

Parece a mesma coisa, mas não é. Para a primeira, basta trocar "Donald Trump" por "Joe Biden" e a encrenca estará resolvida. Será suficiente, por exemplo, o Brasil aceitar os ditames do Partido Democrata dos Estados Unidos para a nossa política ambiental e enquadrarmo-nos na estratégia de Washington nas mudanças climáticas. Restariam outros ajustes, mas o grosso da confusão teria sido resolvido. E a reunião global de abril convocada por Biden sobre o tema será uma oportunidade.

Vista de modo mais abrangente, essa flexão implicaria admitir uma espécie de "multilateralismo do Tio Sam". Um mundo em que as instituições multilaterais seriam a fachada perfeita para o exercício de hegemonia da maior, por enquanto, superpotência. Quase uma volta aos anos 50 do século passado. Quando, por exemplo, a Organização das Nações Unidas funcionava como "rubber stamp" do Departamento de Estado. O mundo mudou muito desde então, mas é o que tenta o governo Biden.

Ocorre que a atual crise envolvendo o Itamaraty foi desencadeada pelo problema das vacinas contra a Covid-19. Antes, o alinhar incondicional aos EUA incomodava parte do mundo político, mas como a China continua a comprar fortemente nossas commodities – até acelerou, para formar estoques, o incômodo não tinha consequências práticas. A hostilidade ao governo chinês era criticada, mas a crítica nunca chegou às vias de fato. A explosão de casos e mortes por aqui por Covid-19 mudou isso.

A cristalização de convicções sobre a centralidade das vacinas para liquidar a epidemia expôs a insuficiência da política atual. Diferente dos países dos Brics de dimensão comparável à nossa (China, Índia e Rússia), somos a única nação da tétrade a não dispor ainda de uma linha de produção própria de vacinas contra o novo coronavírus. E aí, reconheça-se, todos os governos das últimas décadas são sócios na culpa. Assim como os porta-vozes da obsolescência de ter política industrial. Agora, o governo federal e o de São Paulo correm para virar a página.

Que tenham sucesso, para o bem do Brasil.

Voltando. Se recompensar o bom comportamento fosse a regra das relações internacionais, então seria hora de ver os Estados Unidos e o resto do Ocidente retribuírem nosso recente alinhamento estratégico a esse campo geopolítico mandando para cá as vacinas necessárias. Acontece que Biden nesta pandemia segue a máxima trumpista do “America First”. Segurou o grosso das vacinas por ali. O mesmo fez o outro grande fabricante do “mundo livre”: o Reino Unido. Nem para o resto da Europa estão aliviando.

Pois cada governo é eleito unicamente pelos seus próprios nacionais. E na hora do aperto responde em primeiro lugar a eles. São a fonte da reprodução de seu poder político. Ignorar isso é um erro primário. Eis uma verdade inconveniente, como diria o ex-vice-presidente Al Gore.  E cá estamos nós a depender agora de países com quem vínhamos arrumando encrenca gratuitamente, apenas para agradar um que agora nos dá as costas. Serve de lição. Poderemos debater isso com mais calma depois. Mas agora precisamos mesmo é de vacinas. E precisamos de chineses, indianos e russos. Está exposta, como nunca, a insuficiência da atual política exterior. Mas não só. Está provado também que trocar “Trump” por “Biden” não será suficiente. Pois os americanos não estão mandando vacina nem para a turma da Otan.

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Vai-se a segunda pomba - Fernando Gabeira

In Blog

Na politização da pandemia, vermífugo nitazoxamida é a polêmica da vez

 Correio Braziliense

Uso do antiparasitário nitazoxamida contra a covid-19 tem apoio de grupo de médicos, mas desperta ceticismo na comunidade científica

Os esforços no combate ao novo coronavírus dividem-se com a polarização ideológica. Vacinas com potencial latente têm a credibilidade questionada devido à origem, num cenário de embate político entre os articuladores dos imunizantes. Na politização da pandemia, entram não só as vacinas, mas medicamentos e discussões de tratamento. Substituindo o debate em torno da cloroquina, a figura da vez é o antiparasitário nitazoxanida, apresentado pelo governo federal como remédio eficaz contra a covid-19. O anúncio foi interpretado como uma forma de tirar dos holofotes a “vacina chinesa do Doria”, como se refere o presidente Jair Bolsonaro ao imunizante chinês CoronaVac, e despertou uma onda de expectativa, com certo ceticismo, na comunidade científica. [sem nenhum viés ideológico, destacamos que tanto a Coronavac, quanto qualquer outra vacina - são muitas em diversas fases de testes - não apresentam garantia de que são SEGURAS - não apresentam risco aos seres humanos - e possuem EFICÁCIA comprovada - garantindo alto índice de proteção contra à covid-19.
O vermífugo nitazoxamida, pode até não ter - ainda - sua eficácia comprovada, porém apresenta a 'vantagem' de seu uso - pelas características inerentes aos vermífugos - não ser prejudicial a saúde humana.]
Em coletiva na última semana, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) afirmou que o vermífugo cujo nome comercial é Annita, é eficaz no tratamento da covid-19. De acordo com a pesquisadora responsável pelo estudo clínico do MCTI, Patrícia Rocco, doutora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi aplicada a metodologia randomizada, quando se controlam dois grupos em situações semelhantes, em que um recebe a dose da substância avaliada e o outro, não. Nesse caso, nem o médico nem o paciente sabiam quem estava recebendo a medicação e quem estava recebendo o efeito placebo, método chamado duplo-cego. “A nitazoxanida, em comparação com o placebo, acarretou, ao final da terapia, redução significativa da carga viral em um maior número de pacientes”, disse Rocco. Foram administrados nitazoxanida 500mg ou placebo três vezes ao dia, durante cinco dias, em 1,5 mil voluntários diagnosticados com covid-19, ainda no início da manifestação dos sintomas.
[uma curiosidade: o  governador de São Paulo adotou  em relação à vacina chinesa uma postura de embaixador da China, representante comercial - usando de forma clara recursos públicos e a influência do cargo público que ocupa para ações de marketing em relação à coronavac.
Nos parece que tais ações deveriam ser realizadas pela Embaixada da China ou por representante comercial dos chineses.]

No entanto, não houve nenhum detalhamento dos resultados, inclusive sendo usada, para ilustrar a apresentação, uma imagem simbólica e genérica, disponível na internet, de um gráfico em queda. A justificativa para não apresentar os dados foi a de que o estudo ainda seria divulgado em uma revista internacional, o que exigia o embargo das informações até a publicação. Doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natalia Pasternak ressalta que é difícil debater o tema sem os dados do estudo, atitude incomum no meio científico. “A publicação dos dados preliminares é incentivada pelas melhores instituições e revistas científicas. Isso tem sido, inclusive, encorajado durante a pandemia, para que a comunidade científica conheça os dados mesmo que eles não tenham passado ainda pela revisão de seus pares”, ressalta.

A infectologista Joana D’Arc Gonçalves ressalta que o Nitazoxanida é semelhante a outros tipos de antiparasitários que apresentam bons resultados in vitro, mas não possuem a mesma eficácia na análise in vivo. “Ainda é cedo para se falar sobre a eficácia desse antiparasitário e ver quais os benefícios que ele vai trazer. Algumas metodologias de análises no caso da covid são complexas. Por exemplo: se eu falo que o remédio diminuiu a carga viral do paciente, os métodos que temos para poder mensurar isso são controversos, pois o teste de diagnóstico RT-PCR tem uma sensibilidade que vai variar com o tempo e com a técnica”, justifica a médica. “Temos que ter cuidado para não gerar uma expectativa muito alta em relação ao tratamento, porque isso leva a uma corrida desesperada das pessoas e os fármacos chegam a faltar”, pontua.

A apresentação do MCTIC com a  falta de dados publicados é vista, ainda, como uma estratégia política para tirar dos holofotes o anúncio dos resultados da vacina CoronaVac, que ocorria no mesmo momento da coletiva sobre a nitazoxanida. “Agora, Bolsonaro pede provas científicas (para debater a vacina), mas, ao que parece, já se esqueceu da cloroquina”, critica o médico e doutor em saúde pública Flávio Goulart, referindo-se à defesa do presidente da República ao uso do medicamento no tratamento da covid-19, mesmo sem estudos que comprovem a eficácia. [são inúmeros os casos de pessoas que se curaram da covid-19, sem internação e sem sequelas, com o uso de azitromicina + cloroquina + ivermectina =  recuperação rápida, sem necessidade de internação e sem sequelas.

Nos casos que conhecemos, os três medicamentos foram devidamente prescritos por médico.]  Para ele, o anúncio do ministro Marcos Pontes vem como uma nova ação publicitária de mais um remédio sem comprovação contra a doença.

Quem também critica o viés ideológico por trás da apresentação do MCTIC é o diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) no DF, José David Urbaez. “Isso não é uma pesquisa, é a construção de uma narrativa. Uma pesquisa para ser avaliada apresenta resultados, tabelas, estatísticas, informações de diferentes estratos segundo idade, procedência, as comorbidades dos voluntários do estudo, isso é discutir pesquisa. O que o ministério fez não tem nada a ver com discutir um tratamento”, afirma.


Defesa
O Ministério da Ciência e Tecnologia
não foi o único a conduzir análises sobre os efeitos do nitazoxanida em pacientes com covid-19. Em Volta Redonda (RJ), um grupo independente de médicos realiza um estudo clínico que administra a droga, já nos primeiros sintomas da doença, em pessoas de grupos de risco. “A minha conduta clínica em Volta Redonda (RJ) não tem relação com o governo federal, mas os dados informados pelo ministério estão em linha com aquilo que observamos”, explica o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e infectologista Edimilson Migowski, que lidera o estudo.

No município fluminense, 415 pacientes leves e de grupos de risco foram tratados precocemente com nitazoxanida e, até o momento, o levantamento indicou que a droga foi capaz de frear o agravamento da doença e todos estão bem, sem internação, intercorrência ou óbito. “Temos dados clínicos muito sugestivos que o tratamento precoce é seguro e eficaz para salvar vidas. Junto minha experiência prática com a de médicos que já trataram da mesma forma. Mais de mil pessoas foram salvas, inclusive pacientes de elevadíssimo risco, como renais crônicos, passando por hemodiálise”, defende Migowski, que há mais de 10 anos estuda os efeitos positivos deste princípio ativo, no Brasil.

“O medicamento foi, inicialmente, licenciado para tratamento de vermes, parasitose intestinal, mas mostrou uma ação antiviral bem interessante. Inclusive consta na bula que ele pega rotavírus, norovírus e adenovírus. Uma pesquisa que fiz em 2010 mostrava uma ação também na emissão da replicação do vírus da dengue e da febre amarela. Vários outros estudos foram publicados, mostrando que pega, também, Hepatite B e C, influenza, zika, chikungunya, ebola, HIV. Apesar de não ser o melhor produto para tratar algumas dessas doenças, para algumas viroses tem se mostrado bastante eficaz”, afirma Migowski.

Correio Braziliense


O “PACTO DO CORONAVIRUS”, entre Doria, lula e Xi Jinping - Sérgio Alves de Oliveira

 Para que se “mergulhe” antecipadamente no objetivo da  matéria aqui contida, o “Pacto do Coronavirus”, a que me refiro nesse artigo,  trata-se  simplesmente da repactuação,a partir de 2020, do chamado “Pacto de Princeton”, firmado entre  Lula e FHC, nos Estados Unidos, em 1993,e que proporcionou  à esquerda/socialismo, não só a dominação política e o “aparelhamento” esquerdista do Estado, e das leis, como também a presidência da República do Brasil, de 1995 a 2016. E para que compreenda o que está acontecendo hoje na política central brasileira, há que se  voltar um pouco na história, mais precisamente, ao  ano de 1993, que hoje se repete, com novos atores, exceto  Lula da Silva, que se mantém “íntocável”.

Nessa “operação” (Pacto de Princeton), FHC representava o “Diálogo Interamericano”, de fundo socialista-fabiano, ligado ao Partido Democrata americano, e Lula o “Foro San Pablo”. Esse  verdadeiro “arreto” político indecente que está acontecendo presentemente entre o Governador de São Paulo, João Doria, o ex-Presidente, e ex- presidiário, Lula da Silva, e o ditador da China e do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, que estão mancomunados e formando quadrilha  na montagem de uma estratégia política para a  esquerda/socialismo vencer as eleições de 2022, retornando ao poder, sem dúvida trata-se de re/ratificação do PACTO DE PRINCETON, de 1993, que de certa forma adotou a “Política das Tesouras”, de Lenin.

Explicando melhor essa “lambança” : os chineses  estão fazendo  um esforço descomunal  para vender ao Brasil a vacina imunizante contra o novo coronavirus (Covid-19),com registros de “nascimento”, tanto do maldito vírus, quanto da citada  vacina, na própria China (Wuhan),e que seria produzida  em cooperação do respectivo  laboratório chinês com  o Instituto Butantã, do Brasil.   Mas ao invés de se utilizarem da embaixada chinesa no Brasil para essas negociações, o governo chinês optou  pela “intermediação” do  polêmico político brasileiro ,atualmente governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, pretendente ao trono presidencial e virtual candidato à presidência da república em 2022. Em última análise, Doria foi nomeado “embaixador” da China para essa negociação . E fala como se fosse o próprio.

Mas como bom oportunista que sempre foi, João Doria, o “embaixador” chinês, voou à Brasília e ali acabou conseguindo, parece que “furtivamente”, a assinatura de um protocolo de intenções, com o Ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello, que acabou sendo contestado e desautorizado pelo Presidente Bolsonaro, que declarou publicamente  que “o povo brasileiro não seria cobaia da vacina chinesa”, o que gerou   um clima de desconforto interno no governo. Aproveitando as críticas de Bolsonaro ao Ministro da Saúde, Lula não perdeu tempo em se “solidarizar” com o General Pazuello. Com essas “nuances”, o circo sucessório para 2022 começou a ser desenhado . Como já havia sido acertado lá no “Pacto de Princeton”, em 1993, parece se repetir que a eleição presidencial novamente contará com dois candidatos fortes de esquerda, um “oficial”, e outro “disfarçado”, e qualquer deles que vencer garantirá à esquerda a presidência da república para o próximo período, atendendo plenamente aos interesses chineses.

Tudo leva a crer, portanto, que João Doria, pelo PSDB, será o candidato da esquerda “disfarçado” (de direita), e provavelmente Lula será liberado pelo “seu” STF, para também concorrer, pela esquerda “oficial”. E o dia está chegando !!!  Os interesses do Partido Comunista Chinês estariam plenamente atendidos, tanto com a vitória de Doria, quanto com a vitória de Lula. Por essa razão, não satisfeito  em investir   e comprar cada vez mais “Brasil”, como    fez  em quase todo o mundo, o objetivo de Xi Jinping tornou-se  mais ousado: quer a presidência da República do Brasil, seja com Doria,Lula, ou “assemelhados”.

Bem sabem “eles” que o “Pacto de Princeton” funcionou como  deveria ,e que o Brasil é um dos países do mundo que podem comprar com pouco dinheiro, bastando “investir” nos políticos “certos”, que têm corruptos e traidores da pátria no seu meio para “ninguém botar defeito”. O “sucesso” do famigerado “Pacto de Princeton”, de 1993, pode ser medido pelo relativo alcance de algumas das  suas metas, agora  transferidas  ao “Pacto do Coronavirus”, quais sejam, o controle da população pelo incentivo às relações homossexuais (não geram filhos), o enfraquecimento, ou aparelhamento socialista da Igreja Católica e,  finalmente o desmantelamento das Forças Armadas, começado por FHC, que extinguiu os 3 ministérios militares  (Guerra, Marinha e Aeronáutica), substituindo-os por uma “ministro da defesa” qualquer, [abundantes na era Temer e antecessores]  que sempre poderia  recair num político e ainda a destruição dos valores judaico-cristãos e da organização da  família tradicional. Todas essas “estratégias” para tomada do poder foram propostas antes por Antonio Gramsci, do Partido Comunista Italiano, e  de certo modo pela ala “menchevique” ,da Revolução Russa de outubro de 1917.

Com certeza, os “chinas” farão chover  dinheiro, gastando  um pouco da sua fantástica “poupança”, fruto da “mais-valia” comunista, construída desonestamente, pelo aspecto social, às custas da escravidão do seu povo, na tentativa de comprar a eleição brasileira de 2022. E “eles” têm consciência que essa eleição  não custará muito caro para “eles”, imaginando  que os brasileiros se vendem barato. E se isso de fato acontecer, estejamos seguros que o Brasil passará a integral o “rol” de colônias que a China já tem espalhadas pelo mundo, ao mesmo tempo em que o  criticado “imperialismo” norte-americano passará a ser considerado “ultrapassado”, um verdadeiro “brinquedo-de-criança”, se comparado ao novo imperialismo do PCCh.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A teoria do dano e a vacina - Nas entrelinhas

Bolsonaro não leva em conta que uma pessoa infectada, por se recusar a tomar a vacina, pode contaminar as outras, com consequências trágicas e irreparáveis

A ideia de que um presidente eleito por maioria pode tudo é profundamente autoritária e colide com os fundamentos do liberalismo moderno, apesar de agora ter virado moda em algumas democracias do Ocidente, inclusive a nossa. O filósofo e economista John Stuart Mill, um liberal utilitarista britânico que se inspirou nas ideias dos iluministas franceses, em meados do século XIX já classificava essa visão como uma “tirania da maioria”, expressão que causa certo espanto, porque muitos acham que maioria e democracia são exatamente a mesma coisa. Não são.

                               Correio Braziliense - Nas Entrelinhas
[a ilustração expressa com brilhantismo e sem deixar dúvidas, o que o mundo sabe, tem de concreto, sobra a vacina contra o coronavírus = INTERROGAÇÕES]

Sobre a Liberdade (Saraiva), um clássico da ciência política, é um libelo de Mill em defesa da liberdade de expressão e da autonomia dos cidadãos. Nascido em Londres, em 1806, destacou-se também pela defesa do civismo público e dos direitos das mulheres. Era um liberal progressista. Acabou preso por defender o direito ao aborto, a reforma agrária e a democratização da propriedade por meio de cooperativas, ideias social-liberais. Tentou definir um modelo para regular as ações entre os cidadãos, a sociedade e o Estado, que deveria ser capaz de preservar a autonomia individual e, ao mesmo tempo, evitar a “tirania da maioria”, a partir de um conceito simples: tudo é permitido ao indivíduo, desde que as suas ações não causem danos a terceiros.

Mill defendia a legitimidade da mobilização da opinião pública para convencer as pessoas a não tomarem certas atitudes, mas condenava a repressão direta a ações individuais que afetam apenas a própria vida. É possível desenhar a sua “teoria do dano”: todas as pessoas podem desenvolver de maneira autônoma o seu projeto de vida; a sociedade deve proteger a liberdade de indivíduos se desenvolverem de modo autônomo e, em troca, os seus membros não devem interferir nos direitos legais alheios; os danos eventualmente causados por um indivíduo a outras pessoas têm como consequência uma punição proporcional. Mill morreu em 1873, mas suas ideias sobre a liberdade individual continuam atuais.

Rebanho
No Brasil, a “teoria do dano” foi introduzida na nossa jurisprudência no Código Civil de 1916, que estabeleceu um nexo causal entre o dano e o fato que o produziu, e foi consagrada no artigo 403 do Código Civil de 2002. Segundo a teoria do dano direto e imediato, o Estado pode ser processado pelos prejuízos causados aos cidadãos. Por ironia, em tempos de pandemia e de “imunização de rebanho”, ou seja, da necessidade de vacinação em massa para combater o novo coronavírus, um caso analisado pelo jurista Robert Joseph Pothier, um dos autores do Código Civil francês de 1808, é estudado ainda hoje nas escolas de direito: a aquisição de uma vaca pestilenta, que contamina os bois do comprador, impedindo-o de cultivar suas terras. Ciente do vício oculto, o vendedor responde pelo perecimento da vaca como também pela morte do restante do rebanho do comprador.

No caso da vacina contra o coronavírus, que na sua opinião não deve ser obrigatória, o presidente Jair Bolsonaro não leva em conta o dano que pode ser causado voluntariamente por uma pessoa infectada, ao contaminar as outras, por se recusar a tomar a vacina. [ defendemos que todos devem se vacinar contra o coronavírus e contra qualquer doença, obviamente, havendo vacina = o que ainda não ocorre no caso do coronavírus.
A obrigatoriedade deve se limitar aos pais de menores de 18 anos - fácil de controlar a exemplo das outras vacinas já disponíveis.
Quanto a responsabilidade do não vacinado que contaminar outro nos parece discutível, já que o outro, contaminado, é também responsável, já que existindo vacina e alguém sendo infectado se deve a que não se vacinou.
A discussão do  presidente Bolsonaro com o governador paulista, o bolsodoria, se deve a que o presidente não conseguiu suportar a conduta não ética daquele  mandatário ao buscar vantagem política em cima de uma vacina que AINDA NÃO EXISTE.
O estilo do nosso presidente - bateu, levou - complica muito. É exatamente controlar o surgimento de oportunidade para que seja usado o bateu, levou,- acabando definitivamente com entrevistas de corredor,  no cercadinho do Alvorada e coisas do tipo - é que defendemos a presença efetiva de um porta-voz.]

O governo também pode ser responsabilizado por não utilizar uma vacina disponível.[?]  Apesar disso, cancelou o acordo feito entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantã, do governo de São Paulo, para a compra de 46 milhões de doses da vacina da Sinovac, que serão produzidas por aquela consagrada instituição científica, em parceria com o laboratório chinês, com previsão para estar pronta para imunização já em dezembro.

Anulou o protocolo assinado pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, com todos os governadores, para aquisição e aplicação da vacina, com o argumento absurdo de que o “povo brasileiro não será cobaia” da “vacina chinesa do João Doria”, o governador tucano de São Paulo. Alguém precisa avisar ao presidente que isso pode gerar uma enxurrada de pedidos de indenização por “dano direto e imediato” e caracterizar um “crime de responsabilidade”. [lembrando sempre que a causa das ações será o NÃO USO de um PRODUTO INEXISTENTE .]

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Cuidados com a agenda de comércio no pós-pandemia – Editorial - Valor Econômico

Não será surpreendente se, ainda neste ano, a participação da Ásia atingir o patamar de 50% da pauta exportadora

A recessão global causada pela pandemia de covid-19 dá tração a uma mudança no perfil do comércio exterior brasileiro, acelerando o espaço da China e de outros países asiáticos como destino das nossas exportações. De 39,4% no primeiro quadrimestre do ano passado, a Ásia passou a absorver 47,2% dos produtos vendidos ao exterior entre janeiro e abril de 2020. Houve crescimento de 15,5% dos embarques (em valores) na comparação anual.
Para cada US$ 1 exportado à União Europeia, segundo maior receptor de bens produzidos no Brasil, já são US$ 2 para o mercado chinês. Malásia e Cingapura são exemplos de outros países que ganham relevo na agenda comercial, além do tradicional Japão, sobretudo com petróleo e produtos do agronegócio (como carnes).
Não será surpreendente se, ainda neste ano, a participação da Ásia (excluindo o Oriente Médio) atingir um emblemático patamar de 50% da pauta exportadora. Por um lado, muitos asiáticos se encontram em fase mais adiantada do que o Ocidente na saída do pico da emergência sanitária e podem escapar de uma crise econômica duradoura. Por outro lado, em um momento de perda da renda global, deixa-se de consumir chapéus de feltro ou tesouras de jardinagem - mas os alimentos se mostram mais resilientes e economias de volta ao crescimento, como é o caso da China, devem continuar comprando mais proteína animal.

Diante do novo quadro comercial, algumas posturas se fazem necessárias. A primeira e mais urgente é barrar atitudes como a do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que não apenas têm efeitos negativos para a política externa como são um exemplo literal de antidiplomacia, no sentido de distribuir grosserias. Enquanto os ministérios da Economia e da Agricultura adotam uma posição de pragmatismo e de respeito, Weintraub tratou como “bem alta” a possibilidade de uma nova pandemia surgir na China ao longo dos próximos dez anos porque, segundo seu raciocínio, os chineses comem “tudo o que o sol ilumina”. Sabe-se lá que outros insultos haveria nos trechos cortados do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril tornado público na sexta-feira.
No entanto, a política comercial deve ter horizontes muito além da manutenção de boas relações com o gigante asiático. Cerca de 55% das exportações brasileiras para os Estados Unidos são de bens e serviços de alto valor agregado. O diplomata Todd Chapman, que assumiu no fim de março a embaixada americana no Brasil, traçou como meta duplicar o intercâmbio bilateral - hoje em US$ 106 bilhões anuais - em um prazo de cinco anos (Valor, 22/6).
A conjuntura atual não permite grandes expectativas sobre negociações de livre comércio: o mandato do presidente Donald Trump está acabando, bem como o “Trade Promotion Authority” (TPA) dado à Casa Branca, e a atenção em Washington se concentra agora em questões domésticas, da pandemia às eleições. Porém, como esclareceu o próprio embaixador, há outras iniciativas que podem prosperar no curto prazo: convergência regulatória, facilitação de procedimentos aduaneiros, redução das barreiras não tarifárias e, quem sabe, até um acordo para evitar a dupla tributação de empresas com negócios nos dois países.
O governo brasileiro deveria se engajar na ratificação dos tratados de livre comércio fechados com a União Europeia e com o EFTA (bloco formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein). O acordo com a UE garantirá cotas abaixo do que se desejava, sem tarifas, para produtos como carnes e açúcar. Mas tudo indica que foram resguardados os interesses nacionais em temas como patentes, indicações geográficas e aplicação de salvaguardas contra eventuais aumentos bruscos de importações.
Já novos tratados comerciais, assim como a possibilidade de redução unilateral da Tarifa Externa Comum (TEC), requerem cuidado redobrado agora. Como sabe qualquer cidadão que já tenha viajado para o exterior, as elevadas alíquotas deixam mais caros os preços no Brasil e diminuem a oferta para os consumidores. No entanto, a recessão global provavelmente ampliará a capacidade ociosa nas economias industrializadas e o risco de uma sobreoferta de importados no país.

A maior inserção competitiva do Brasil nas cadeias internacionais de valor exige um dever de casa: simplificação tributária, melhorias na infraestrutura, fluidez de crédito. São problemas temporariamente mitigados pelo dólar nas alturas, mas cuja solução fica mais incerta em meio à economia parada e ao ambiente de impasse político.

Editorial  - Valor Econômico


sábado, 18 de abril de 2020

O futuro incerto de Tereza Cristina no comando da Agricultura - Veja - Radar






Como antecipou a coluna Radar, o secretário de Assuntos Fundiários da pasta, Nabhan Garcia, anda costurando para derrubá-la do comando da Agricultura do país. Garcia foi uma indicação da área ideológica do governo e flerta com o cargo de ministro desde a assunção de Tereza — ele se apresenta como “vice-ministro”, cargo inexistente que aparece no cartão pessoal do secretário. No Congresso Nacional, a permanência da ministra no governo ainda é considerada uma incógnita. Parlamentares do DEM avaliam que as relações entre o Palácio do Planalto e o partido ganharam novos contornos nos últimos dias com o aumento do tom das críticas de Bolsonaro à atuação do presidente da Câmara, correligionário do DEM, Rodrigo Maia, e a resposta à altura dada pelo deputado em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA. A ministra, porém, não foi indicação direta do partido — como foi o caso de Mandetta, com a costura do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Ela tem o apoio da Frente Parlamentar do Agronegócio — coisa que, sabe Bolsonaro, Garcia não tem.

A avaliação sobre a permanência de Tereza Cristina passa pela avaliação de que a ministra é mais importante para Bolsonaro do que para o partido. Em condição de anonimato, parlamentares admitem que a atuação de Tereza é mais relevante para o presidente do que para o DEM, principalmente para conduzir os diálogos com parceiros comerciais e garantir o abastecimento em meio à devastadora crise causada pela pandemia do coronavírus (Covid-19). Nos bastidores, ela defendia o trabalho de Mandetta e, apesar de as duas famílias serem próximas — os avós de ambos os ministros, de Campo Grande, eram amigos —, ela não faz parte da mesma vertente política dentro do partido. Porém, suas relações com a estrutura partidária garantem a permanência da ministra no DEM. Da mesma forma que os trabalhos técnicos da ministra no comando da Agricultura, por ora, estão mantidos. “Se você me perguntar daqui duas semanas, já não sei”, afirma um alto executivo do Ministério da Agricultura.

Radar - VEJA


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Entre dois polos - Nas entrelinhas

“A China continuará sendo o nosso principal parceiro comercial, mas não temos o mesmo poder de barganha dos EUA para defender nosso parque produtivo no novo cenário global”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, assinaram, ontem, a primeira fase do acordo comercial entre os dois países, depois de uma guerra comercial que durou um ano e meio e abalou a economia mundial. O ponto central do acordo é uma promessa da China de comprar mais US$ 200 bilhões em produtos dos EUA ao longo de dois anos, para reduzir o deficit comercial bilateral com os norte-americanos, que chegou a US$ 420 bilhões em 2018. A China se compromete a comprar produtos manufaturados, agrícolas, energia e serviços dos EUA.  “Hoje (ontem), demos um passo crucial, que nunca tínhamos dado antes com a China”, disse Trump durante a cerimônia na Casa Branca. O pacto entre os dois países pode ter o papel de desanuviar não somente o ambiente econômico, mas também o ambiente político mundial, que vive uma escalada de tensões, a principal, agora, entre os Estados Unidos e o Irã, tendo por epicentro o controle do Iraque. A guerra comercial resultou no aumento das tarifas alfandegárias por ambos os lados, no valor de centenas de bilhões de dólares em mercadorias, o que afetou mercados financeiros, cadeias de fornecimento e o crescimento global.

Em números, a situação é a seguinte: os Estados Unidos vão manter tarifas de 25% sobre uma vasta gama de US$ 250 bilhões em bens e componentes industriais chineses usados pela manufatura norte-americana, até a segunda fase do acordo, mas a China deve comprar US$ 12,5 bilhões em produtos agrícolas dos EUA no primeiro ano e US$ 19,5 bilhões, no segundo ano; US$ 18,5 bilhões em produtos de energia no primeiro ano e US$ 33,9 bilhões, no segundo ano; US$ 32,9 bilhões em manufaturados dos EUA no primeiro ano e US$ 44,8 bilhões, no segundo ano; e US$ 12,8 bilhões em serviços dos EUA no primeiro ano e US$ 25,1 bilhões, no segundo ano.

O que vai acontecer depois, ninguém sabe ainda, mas as repercussões e projeções do que já foi acertado certamente serão discutidas na reunião de Davos, à qual o presidente norte-americano Donald Trump anunciou que pretende comparecer. De certa forma, o acordo roubará a cena do Fórum Econômico Mundial, que completa 50 anos e cuja pauta está focada na questão ambiental. Muitos chefes de Estado estarão presentes, além de grandes executivos e personalidades. Qual será a repercussão do acordo entre os Estados Unidos e a China para o Brasil? De certa forma, o acordo favorece os norte-americanos em relação ao nosso agronegócio, seja pela demanda cativa, seja pela vantagem estratégica em termos logísticos.

Rota do Pacífico
No seu livro Sobre a China, o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger já apontava o deslocamento do eixo do comércio mundial do Atlântico para o Pacífico e advertia sobre os riscos da disputa comercial entre os Estados Unidos e a China. Dizia que, no século passado, houve duas guerras mundiais por causa da disputa entre a Inglaterra, uma potência marítima, e a Alemanha, uma potência continental, pelo controle do comércio no Atlântico. A grande questão, agora, é como essa disputa entre a maior potência marítima do planeta, os Estados Unidos, e a maior potência continental, a China, vai se resolver.

A grande contribuição do livro de Kissinger quanto a isso é seu esforço no sentido de construir pontes diplomáticas do Ocidente com a China, a partir de sua própria experiência, pois foi o grande artífice da reaproximação entre os dois países em plena guerra fria. A conduta chinesa nos âmbitos dos direitos humanos e de seu “imperialismo” regional sempre foi alvo de ataques por parte dos países ocidentais, a partir da aproximação entre os dois países houve uma mudança de eixo de percepção do Ocidente sobre os chineses, que deram uma guinada econômica em direção ao capitalismo excepcionalmente bem-sucedida, a ponto de a percepção da opinião pública mundial mudar completamente em relação aos chineses. No lugar da imagem dos guardas vermelhos da Revolução Cultural de Mao Tse Tung, surgiram os grandes grupos de turistas ávidos pelo consumo da cultura ocidental, com suas roupas, bolsas e tênis de marcas, além de smartphones de última geração.

Entretanto, ninguém se iluda, o regime político continua sendo uma ditadura do Partido Comunista, o status autônomo de Hong Kong não será restabelecido e a China tornou-se uma potência econômica com crescente projeção militar sobre o Pacífico, o Índico e a costa africana do Atlântico Sul

No caso do Brasil, continuará sendo o nosso principal parceiro comercial, mas não temos o mesmo poder de barganha dos Estados Unidos para defender nosso parque produtivo nesse novo cenário criado pelo acordo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

sábado, 17 de agosto de 2019

O efeito Hong Kong - Nas entrelinhas

“A redução do crescimento chinês, agravada pela guerra comercial com os Estados Unidos, é a principal ameaça à economia brasileira”

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China começa a ganhar uma nova dimensão política por causa de Hong Kong, a ex-colônia britânica incorporada ao território chinês , que mantém um status diferenciado em relação ao regime comunista vigente desde 1949 no continente. A situação é muito diferente da de 1997, quando a ilha passou do domínio do Reino Unido ao chinês, mas a região administrativa especial continua sendo um importante centro financeiro da economia asiática, do qual a China não pode abrir mão como segunda potência comercial do planeta. Por isso, as sucessivas manifestações de protesto contra o governo local, nomeado por Pequim, que pleiteiam mais autonomia e eleições livres, são uma ameaça ao regime.

Pequim procura mostrar ao mundo que a repressão aos jovens manifestantes, que há dois meses não saem das ruas, é “contida”, limitada às necessidades de funcionamento de vias e equipamentos públicos, como o Aeroporto de Hong Kong. Entretanto, ontem o governo concentrou tropas em Shenzhen, cidade próxima da fronteira com Hong Kong. Talvez o objetivo não seja empregá-las na ilha, mas evitar que outra onda de protestos surja na cidade que simboliza o Vale do Silício chinês, um legado de Deng Xiaoping, que a transformou na primeira zona econômica especial do país em 1980, ou seja, antes mesmo que Hong Kong voltasse ao controle chinês.
Destinada ao desenvolvimento industrial para atrair investimentos estrangeiros, Shenzhen saltou de 30 mil habitantes para 12 milhões de pessoas. Além de atrair empresas de todo o mundo, transformou-se num grande centro de inovação em hardware. Gigantes da economia chinesa nasceram e têm sede na cidade. Apenas Baidu, Tencent, Alibaba e Xiaomi (BATX) já valem mais de US$ 1 trilhão e lançaram mais de mil negócios em 20 setores nos últimos anos.

Essas empresas chinesas estão no centro da guerra comercial com os Estados Unidos, batem de frente com gigantes norte-americanas: Tencent versus Facebook, Alibaba versus Amazon, Baidu versus Google, Wiaomi versus Apple. Mas o nome da encrenca é a gigante Huawei, fundada em 1988 por Ren Zhengfei, cujas atividades principais são pesquisa e desenvolvimento, produção e o marketing de equipamentos de telecomunicações, e o fornecimento de serviços personalizados de rede a operadoras de telecomunicações. Essa gigante chinesa começou a se expandir a partir de Hong Kong, e hoje está em todo o mundo, inclusive no Brasil.


Guerra cambial
Após dois meses de protestos em Hong Kong, o presidente chinês Xi Jiping deu a entender que poderia empregar a força para restabelecer a ordem na ex-colônia britânica. Donald Trump se aproveita da situação e vincula um eventual acordo comercial com Pequim a uma resolução “humana” do conflito em Hong Kong. “Milhões de empregos estão sendo perdidos na China para países sem tarifas. Milhares de empresas estão indo embora. Com certeza, a China quer alcançar um acordo. Deixem que trabalhem humanamente com Hong Kong primeiro!”, disse no Twitter.

A inclusão da gigante de telecomunicações Huawei numa lista negra dos EUA aumenta importância estratégica de Hong Kong, onde o investimento direto chinês totaliza US$ 620 bilhões70% a mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) da ilha. Os depósitos de yuan em Hong Kong valem cerca de US$ 100 bilhões. A ilha é parte integrante da “Grande Baía”, que inclui ainda Macau (ex-colônia portuguesa) e as nove principais cidades da província de Guangdong, que somam 70 milhões de habitantes e um PIB de US$ 1,5 trilhão. A redução do ímpeto de crescimento chinês, agravada pela guerra comercial com os Estados Unidos, tem repercussão em todo o mundo.

Hoje, essa é a principal ameaça à retomada do crescimento brasileiro, mesmo com a aprovação da reforma da Previdência e outras medidas. A China é o nosso maior parceiro comercial; os Estados Unidos, o segundo. Em tese, o agronegócio brasileiro poderia vender mais para a China com a política de Trump, mas esse seria um ganho setorial, que pode não compensar as perdas gerais em consequência da dimensão cambial da disputa: os Estados Unidos aumentam a tributação dos produtos chineses, a China desvaloriza a sua moeda e, ao fazê-lo, desvaloriza também o real. Afora a questão puramente econômica, existe uma esquizofrenia política: embora a China seja o principal parceiro comercial do Brasil, Bolsonaro abomina o regime chinês e tem no presidente Trump seu aliado principal.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB