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domingo, 7 de janeiro de 2024

Não vale a pena perder tempo com o suposto plano para enforcar Alexandre de Moraes - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo - VOZES

Desde os seus primeiros instantes, um ano atrás, os tumultos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 têm sido um assombro.  
quebra-quebra nos palácios dos Três Poderes, que acabou assim que a polícia chegou e do qual ninguém saiu machucado, foi imediatamente apresentado como uma tentativa de “golpe de Estado”. 
A presidente do Supremo Tribunal Federal, num certo momento, chegou a dizer que a democracia brasileira tinha sofrido ali o seu Pearl Harbour – o ataque aéreo do Japão contra a ilha americana do Havaí, que deixou 2.400 mortos e fez os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial.
 
O “golpe”, oficialmente certificado como golpe pelo STF, o complexo Lula-PT e a maior parte da imprensa, é um clássico em matéria de crime impossível: não poderia materialmente ter sido cometido pelos acusados. É a velha fábula do sujeito que dá três tiros na cabeça de um cadáver.  
Ele não pode ser julgado por homicídio, pois é impossível matar uma pessoa que já está morta
A partir daí, passou a valer tudo – a começar pela abolição dos direitos civis dos réus.
 
    O ministro, na entrevista, disse que houve uma “tentativa de planejamento”. 
 O que poderia ser, mais exatamente, uma “tentativa de planejamento”? 
 
O caso acaba de ganhar um intenso “plus a mais” na véspera de completar seu primeiro aniversário. 
O ministro Alexandre de Moraes, segundo ele próprio afirmou numa entrevista ao jornal O Globo, seria enforcado pelos supostos golpistas na Praça dos Três Poderes, ou assassinado na estrada de Brasília a Goiânia. É a acusação mais grave de todas as que já foram feitas desde o começo dessa história.
 
Seria, na verdade, o pior ato de violência contra um homem público brasileiro desde a facada que quase matou o ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 – com a diferença, felizmente, que o enforcamento do ministro, ao contrário da facada, não aconteceu. 
É mais um assombro. Como um crime dessas proporções ficou em sigilo até hoje? 
Por quebrarem umas vidraças e tirarem do lugar as cadeiras dos ministros no STF, as pessoas estão sendo condenadas a até 17 anos de cadeia. Um possível homicídio, então, estaria clamando a vingança dos céus. 
Em todo caso, não poderia ser reduzido a uma declaração em jornal.

    O fato é que está sendo feito um esforço concentrado para dar novas vidas à ficção de que houve uma tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro.

Infelizmente para o conhecimento do público, a melhor oportunidade para se esclarecer isso tudo era a própria entrevista – mas não ocorreu a ninguém perguntar nada ao ministro Moraes. 
Quem planejou o enforcamento, ou o assassinato na beira da estrada? “Eles”? “Eles”, só, não basta
Quem iria cometer os crimes? 
O ministro, segundo sua denúncia, seria levado para uma prisão em Goiânia, ou morto no caminho para lá. Qual prisão? 
Um quartel do Exército? 
Uma delegacia de polícia? 
Cárcere privado? 
Há alguma prova para as acusações feitas? 
Por que Alexandre de Moraes só falou disso agora, quase um ano depois dos fatos? 
É alguma coisa que as investigações só descobriram nestes últimos dias?
 
O ministro, na entrevista, disse que houve uma “tentativa de planejamento”. O que poderia ser, mais exatamente, uma “tentativa de planejamento”? Algum dos “golpistas” tentou planejar os crimes, mas não conseguiu? 
A única pista para a ausência de perguntas e respostas é uma afirmação do próprio Moraes: “Tenho muito processo para perder tempo com isso. E nada disso aconteceu, então está tudo bem”.

O fato é que está sendo feito um esforço concentrado para dar novas vidas à ficção de que houve uma tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro. 

Fica mais patente, a cada dia, que os processos criminais contra os participantes do quebra-quebra – e mesmo contra quem estava a quilômetros de distância, protestando diante do QG do Exército em Brasília – são o maior monumento ao absurdo que a Justiça brasileira jamais construiu ao longo de sua história.

Os réus tinham tanta possibilidade concreta de dar um golpe naquele dia quanto a de invadir o planeta Marte; é por isso, entre outras razões, que começa a crescer no Congresso a ideia de uma anistia.  
É essencial, então, impor a imagem de que são os criminosos mais hediondos do Brasil – embora o linchamento do ministro Moraes em praça pública, segundo ele mesmo diz, seja algo com que não vale a pena perder tempo. É mais um espanto.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


Bandido em saidinha de Natal consegue arma mais rápido que cidadão honesto - Alexandre Garcia

Vozes

Criminalidade 

 Bandido em saidinha de Natal consegue arma mais rápido que cidadão honesto
Bandido em saidinha de Natal consegue arma mais rápido que cidadão honesto
| Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo

Terça-feira foi Dia Internacional da Polícia
Eu homenageei os policiais que deram a vida pela lei, na defesa de outras pessoas. 
E lembrei, no comentário anterior, que o Brasil deve ser o lugar mais perigoso do mundo para ser policial, talvez só comparável ao México ou à Colômbia. 
O crime está aí, os criminosos são soltos, já mencionei aqui o perigo dessas saidinhas de Natal. 
Vejam o que aconteceu agora no litoral de São Paulo: um motorista de aplicativo foi abordado por três pessoas, e depois entrou mais um passageiro; eles queriam pagar R$ 300 para ele levá-los ao litoral, mas em dinheiro, e não pelo aplicativo. 
Ele desconfiou, mas aceitou; viu que eles estavam fazendo sinais, um estava com uma dor na costela, perguntaram se havia barreira policial no caminho. 
Ele foi desconfiando, e a certa altura começou a entrar numa rua escura. 
A estratégia dele foi dirigir o carro como se fosse colidir com uma viatura da polícia; chamou a atenção da polícia, que abordou o carro. 
Um dos ocupantes conseguiu fugir, e encontraram uma metralhadora dentro do carro. Depois viram que era gente da saidinha de Natal.
 
O sujeito sai da prisão no Natal e já está com uma metralhadora. 
Aqui em Brasília o bandido saiu, já conseguiu uma arma e deu cinco tiros na mulher que não havia ido visitá-lo no presídio. 
Essas pessoas conseguem armas na hora, enquanto os atiradores, caçadores e colecionadores tiveram um ano de dificuldade em 2023: 43 mil deles perderam o emprego em clubes de tiro por causa de restrições àqueles que ficam legalizados, registrados – e que trazem medalhas de ouro para o Brasil, como aconteceu com a equipe brasileira em um campeonato de tiro na Tailândia, em dezembro. São as coisas da lei brasileira.

Se depender da esquerda e da imprensa, no Brasil não existe direita, só “extrema direita”

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu um jornalista de São Paulo, que por sinal tem nome judeu, mas que chamou os judeus de “ratos”. 
O Ministério Público mandou esse jornalista retirar as publicações em que fazia essa referência considerada antissemita, mas ela saiu em defesa dele. Na resposta, Gleisi falou do governo israelense de “ultradireita”.
 
Nos jornais eu nunca consigo ler “direita”, é sempre “ultradireita” ou “extrema direita”. Eu gostaria de saber dos jornalistas que escrevem isso: qual a diferença entre “direita”, “ultradireita” e “extrema direita”? 
Por que eles fazem essa qualificação? 
Que expliquem direito o que é “direita” e “extrema direita”, porque afinal usam um adjetivo ideológico que fica estranho. 
De repente, não existe “direita” no Brasil ou no mundo, só existe “extrema direita” ou “ultradireita”. 
Queria saber se isso é combinado, se há um concerto, uma ordem, para não chamarem mais a direita de “direita”, apenas de “extrema direita”.

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Ditadores comunistas seguem perseguindo a Igreja Católica, ontem e hoje
Falando de ideologia, está fazendo aniversário a excomunhão de Fidel Castro.  
Em 1962, o papa João XXIII teria excomungado Fidel Castro porque ele havia se declarado marxista-leninista, expulsado 135 padres de Cuba e fechado todas as escolas católicas do país ao assumir o poder, o que já dura uns 62 anos, considerando Fidel e seus substitutos. 
O papa João XXIII deve ter aplicado um decreto de 1949, do papa Pio XII, que diz que é automaticamente excomungado o católico que se unir ao comunismo e que se declarar adepto da “fé” – porque é uma questão de fé – marxista-leninista. 
Enquanto isso, do último Natal até o fim do ano, Daniel Ortega, ditador da Nicarágua que está no poder desde 2007, já prendeu 12 padres, e eu não vi nenhuma manifestação do papa Francisco sobre isso.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

Com milhares de mortos [ mais de 22 mil palestinos = a matança continua ] sepultamentos dignos são 'privilégio' em Gaza

Durante quatro dias, o corpo de Kareem Sabawi, de 10 anos, ficou enrolado em um cobertor num apartamento frio e vazio na Faixa de Gaza. Nesse período, e em meio ao intenso conflito no enclave, sua família se abrigou nas proximidades. 
Kareem morreu, contam seus pais, em um bombardeio israelense, e nos dias que se seguiram era especialmente perigoso sair às ruas. Sem conseguir oferecer um enterro digno ao filho, eles sepultaram o corpo do menino debaixo de um pé de goiabeira, no prédio vizinho. Morrer dignamente em Gaza havia se tornado um privilégio.
Quando Kareem morreu, a família ligou para o Crescente Vermelho da Palestina em busca de ajuda. Mas a invasão terrestre de Israel no norte da Faixa de Gaza acabara de começar
As ruas estavam bloqueadas por tanques e esvaziadas pelos tiros, impedindo os socorristas de ajudar famílias como a de Kareem a cuidar dos muitos mortos pelos bombardeios aéreos. 
Todos os dias, o pai do menino, Hazem Sabawi, sofria um duplo tormento: a imensa dor da perda e a incapacidade de proporcionar ao filho a dignidade de um enterro adequado. — Depois do quarto dia, disse que ou eu seria enterrado com ele, ou não o enterraria mais de jeito nenhum — disse ele, antes de detalhar como acabou decidindo colocar o corpo de Kareem debaixo de uma goiabeira, atrás do prédio de um vizinho. — Todo ser humano tem o direito de ser sepultado.
Não tem sido assim em Gaza. Já se passaram treze semanas desde que a guerra começou, após o ataque a Israel pelo Hamas, que matou cerca de 1,2 mil pessoas, segundo autoridades israelenses. Desde então, os que vivem no enclave têm sido forçados a enterrar seus mortos às pressas, sem cerimônia ou extrema-unção, para não arriscarem o mesmo destino dos entes queridos. 
Ao todo, mais de 22 mil palestinos foram mortos por Israel desde 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

O conflito transformou Gaza em umcemitério para milhares de crianças”, de acordo com as Nações Unidas. Mohammad Abu Moussa, radiologista do Hospital al-Nasr, no sul de Gaza, disse que “a situação chegou ao ponto em que dizemos que sortudos são aqueles que têm alguém para (e os conseguem) enterrar quando morrem”.

Tradicionalmente, os palestinos honram seus mortos com cortejos fúnebres públicos de luto. Tendas são erguidas nas ruas por três dias para receber os que desejam prestar condolências. Mas o que a guerra enterrou foram os costumes. Muitos mortos são agora deixados em valas comuns, nos pátios de hospitais ou, como Kareem, em jardins de quintal, muitas vezes sem lápides, com nomes rabiscados em mortalhas brancas ou em sacos para cadáveres. As orações — quando feitas — são realizadas rapidamente, em hospitais ou fora dos necrotérios.

Nebal Farsakh, porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, disse que a violência impossibilita as equipes de resgate de chegarem aos locais dos ataques para recuperar os corpos. Algumas famílias ficam trancadas dentro de suas casas durante dias com os cadáveres de seus entes queridos, disse ela. Autoridades de saúde de Gaza estimam que cerca de 7 mil pessoas seguem desaparecidas no enclave, a maioria presumivelmente morta devido à enorme destruição causada pelos ataques israelenses. Em algumas residências, as pessoas pintaram com spray os nomes daqueles que estariam enterrados sob os escombros.

Corpos inchados e em decomposição
Quase dois milhões de civis foram deslocados e fizeram perigosas caminhadas a pé até o sul da Faixa de Gaza — encontrando pelo caminho forças israelenses com armas apontadas em sua direção. 
Dezenas de corpos, inchados e em decomposição, foram vistos pelos palestinos. 
Eles contaram ao New York Times que os soldados israelenses não lhes permitiriam sequer cobrir, muito menos enterrar, os mortos. Os militares disseram que agiram desta forma “por razões operacionais”, e também para determinar se entre os mortos estava algum refém israelense sequestrado pelo Hamas. 
 
No caso de Kareem, Sabawi conta que enterrá-lo era o mínimo que podia fazer por um filho que fora "incapaz de proteger".  
Ele e sua esposa disseram que um ataque aéreo israelense ocorreu perto de sua casa no início de novembro, quando a família preparava o almoço com a pouca farinha e alimentos que tinham. 
Sabawi foi atirado ao ar. Quando caiu no chão, a porta da cozinha tombou sobre ele. Ao se levantar, percebeu que a cabeça de Kareem estava sangrando.
Uma vala comum contendo 111 corpos foi trazida do norte de Gaza em novembro para um cemitério em Khan Younis — Foto: Yousef Masoud / The New York Times
Uma vala comum contendo 111 corpos foi trazida do norte de Gaza em novembro para um cemitério em Khan Younis — Foto: Yousef Masoud / The New York Times

Sabawi conta que o pegou no colo, apesar de seu braço estar ferido, e a família correu para o apartamento de um vizinho. Kareem ainda respirava. Seu pai, em pânico, administrava a reanimação cardiopulmonar. Mas era tarde demais. Os vizinhos acolheram a família e trouxeram um cobertor para envolver o corpo do menino. Ele esperou quatro dias, temendo que eles pudessem ser mortos por um ataque aéreo ou por um soldado israelense se saíssem para enterrá-lo.

Quando decidiu voltar à casa, Sabawi e um vizinho fizeram a proclamação da fé muçulmana antes de sair com o corpo do filho do apartamento. No jardim atrás do edifício, cavaram rapidamente uma cova rasa e nela depositaram Kareem, cobrindo-o com terra. Voltaram correndo para dentro. No dia seguinte, voltou correndo para colocar mais terra sobre a sepultura. Na goiabeira, pendurou uma lápide improvisada e colocou um tijolo no topo. E contou que, sempre que havia oportunidade, descia para colocar mais terra, esperando que o local “virasse uma cova de verdade”.

‘Não sei o que aconteceu com o corpo’
Ahmed Alhattab, pai de quatro filhos, disse que um foguete atingiu seu prédio na noite de 7 de novembro na cidade de Gaza. 
Lá dentro estavam 32 familiares, 19 deles crianças. 
A mídia palestina noticiou o ataque à época, estimando o número inicial de mortos em 10. 
Alhattab e três de seus filhos escaparam dos escombros, mas um deles, Yahya, de 7 anos, teve uma fratura no crânio e estava sangrando, relembrou. O pai carregou o menino ferido até encontrar uma ambulância.
 
Na manhã seguinte, disse, voltou com vizinhos e parentes, e eles desenterraram com as mãos quatro familiares mortos. 
Entre eles, seu sobrinho, com apenas 32 dias de vida
Eles os enterraram em uma única cova em um cemitério particular que pertencia a outra família. 
Era muito perigoso tentar chegar aos cemitérios públicos — alguns deles destruídos de qualquer forma pelas forças israelenses
O restante de sua família, 24 parentes, permaneceu sob os escombros.
Um funeral para crianças em Khan Younis — Foto: Samar Abu Elouf / The New York Times
Um funeral para crianças em Khan Younis — Foto: Samar Abu Elouf / The New York Times

No mesmo período, disseram a ele ser improvável que seu filho sobrevivesse. Enquanto os parentes se preparavam para fugir, contou, ele tomou a dolorosa decisão de deixar Yahya para trás e levar seus outros filhos para o sul, onde esperava que estivessem mais seguros. Quatro dias depois, ele ouviu de um amigo que o menino havia morrido no hospital, onde foi enterrado, ao lado de outros pacientes.— O enterro foi temporário. Não sei o que aconteceu com o corpo dele — disse Alhattab.

‘Ele queria enterrá-los’
Quando Fatima Alrayess, de 35 anos e que vive na Áustria, falou pela última vez com os dois irmãos mais novos, no dia 8 de novembro, eles disseram a ela que voltariam à casa da família. Muhammad, 31, e Muayid, 25, contaram que uma equipe da Defesa Civil estava a caminho do edifício de sete andares, que tinha sido derrubado por um ataque aéreo israelense três dias antes. 
Eles relataram que o ataque vitimou oito membros da família, incluindo seus pais.— Ele queria enterrá-los — disse ela sobre Muayid. 
 
Mas um cerco israelense a Gaza desde os primeiros dias da guerra levou à escassez de combustível, entre outros bens essenciais, dificultando o trabalho das equipes da Defesa. 
Naquele dia, elas recuperaram os corpos da mãe, do pai e de um sobrinho de 12 anos antes que escurecesse, soube Alrayess depois pelos irmãos. No dia seguinte, os corpos foram enterrados num cemitério. 
Os irmãos encontraram os socorristas na esperança de recuperar mais corpos. Duas irmãs ainda estavam desaparecidas.

Quando as equipes de resgate começaram a vasculhar os escombros, outro ataque aéreo israelense ocorreu, matando Muayid e Muhammad, bem como vários socorristas, conta Alrayess. As consequências imediatas do ataque foram captadas em vídeo por um fotógrafo local. Ele lamentou que os irmãos tivessem seguido seus pais na morte. — Meus pais foram enterrados à tarde — disse Alrayess. — Muayid e Muhammad foram enterrados naquela noite no mesmo cemitério.

Cinco membros da família permanecem sob os escombros.

Por

Em The New York Times — Gaza

 

A insensatez abunda - Percival Puggina

          A exigência de visto para entrada no Brasil de turistas procedentes do Canadá, da Austrália e dos Estados Unidos começa a valer a partir do dia 10 de janeiro.

O governo brasileiro é pilotado por pessoas com cabeça de militante de centro acadêmico
O pessoal preserva suas saudosas memórias da UNE e mantém seus automáticos alinhamentos antiamericanistas, anticapitalistas e anti-imperialistas. 
Prefere o impávido e exitoso modelo cubano ao do inimigo ianque, tornando inevitável à preservação da honra nacional que a reciprocidade se impusesse: ou os brasileiros são dispensados do visto nesses três países ou vamos exigir visto dos turistas deles!
 
A moçada já grisalha, mas com o cérebro ainda deitado no colchão do centro acadêmico, ficou eufórica: “Agora eles vão ver o que é bom para a tosse!”. Só que o prejuízo será nosso. 
A medida vai afetar o setor turístico porque embora a entrada de canadenses e australianos seja inexpressiva, a de norte-americanos chegou próxima dos 500 mil no ano de 2023.
 
O topete e a presunção desaparecem quando nos propomos uma simples questão: quantos cidadãos desses três países tentam permanecer clandestinamente no Brasil? Ah, pois é
E quantos brasileiros, você conhece que já estão vivendo nos EUA, no Canadá e na Austrália.? Ah, pois é.
 
Aliás é bom que o fã clube nessa turma também saiba: o Brasil está longe de ser considerado um país atrativo no grande negócio do turismo internacional. 
Vir ao Rio de Janeiro, por exemplo, é turismo de aventura, tipo Gaza em versão dietética, e os criminosos fazem questão de proporcionar seus espetáculos na “safra” de verão, reforçando a mensagem que diz – “Não venham!”. 
Então, quando tudo corre bem, o Brasil recebe 6% do número de turistas que visitam a França ou a Espanha e 10% dos turistas que vão à Nova Iorque. E olha que temos espaço para acomodar nossos visitantes!

A insegurança em que vivemos foi cuidadosamente cultivada por sucessivos governos de esquerda que viram a criminalidade como agente da revolução social, a ser paparicada como se parceira de causa fosse. Nossa atual condição de pária internacional em virtude das parcerias do petismo com governos criminosos só veio complicar mais a situação.

O turismo brasileiro fica, então, na grande dependência dos glúteos femininos rebolando nas praias e no carnaval. A insensatez abunda.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

Um clube chamado Brasil - Gustavo Lopes

 

        O ano que termina trouxe de volta velhas práticas ao cenário nacional. No entanto, diferentemente de outras épocas, quando havia uma tentativa de esconder esse modus operandi, agora a certeza da impunidade permite que os sócios do clube falem abertamente sobre as vantagens de ser associado.

É claro que há diferentes níveis de associados neste clube, e isso depende de algumas questões como cargo que exerce, poder decisório e, claro, a amizade com a diretoria. Há o associado premium, que tem um programa de milhagens infinitas e pode viajar pelo mundo hospedando-se nos hotéis mais luxuosos, comendo nos restaurantes mais badalados, mobiliando a sede campestre do clube com os móveis mais sofisticados. Essa categoria é reservada ao presidente honorário do clube e sua digníssima esposa.
 
Há os associados VIPs, que exercem cargos no clube, porém sem a vantagem de morar na sede. 
É formado por uma catrefa deslumbrada, que também tem um programa de milhagens quase infinito, além de outras vantagens, como fazer parte de conselhos em estatais, que lhes permitem multiplicar enormemente seus salários, aos quais sequer fazem jus, uma vez que muitos dos cargos que ocupam sequer precisariam existir. 
Mas estão ali para alegria de um outro grupo: o trans-sócio, que se identifica como sócio, mas não é. 
Porém, é preciso mantê-lo com a ilusão de que o clube é para todos.
 
Há, claro, os membros da diretoria. Esses são os que mandam, de fato. 
A eles, além das demais vantagens, é facultado decidir as regras do clube. Sobretudo silenciar e perseguir os que acham que o clube é um abuso. Gente chata, cobrando coerência e vergonha na cara. 
Uns estraga prazeres. Melhor silenciá-los ou prendê-los. 
Mas, claro, em nome da “defesa da democracia”.  
Além disso, à diretoria é permitido, por exemplo, cancelar multas de sócios antigos e trazê-los de volta, garantindo com isso algumas mega senas da virada aos seus familiares, já que não há mais problema que estes trabalhem em causas julgadas por aqueles. 
Uma decisão muito inteligente da diretoria para manter tudo dentro da lei.
 
Tem um grupo de sócios que garantem que tudo pareça estar dentro da normalidade. 
São os legitimadores, formados por veículos de comunicação sedentos por verbas publicitárias, jornalistas militantes e/ou simples puxa sacos. 
A função deles é afirmar diariamente que tudo está perfeitamente correto. E acusar de radical, antidemocrático e coisa pior quem ousa apontar o dedo para essa suruba institucional.

Mas quem paga toda essa farra? Os mensalistas, pobres mensalistas. Eles sustentam o clube e todas as suas vantagens. Alguns até pagam alegremente a diversão dos sócios, na ilusão de que fazem parte dela. Mas não fazem. Ninguém faz

A maioria dos mensalistas sabe que está, mais do que sustentando, enriquecendo uma corja desavergonhada
Mas só pode olhar pela cerca do clube e torcer para que a farra tenha fim.
 
A boa notícia? A cada dia o fim se aproxima. Porque toda soberba precede a ruína.  
Os mensalistas, que sempre foram a maioria, estão cada vez mais despertos e conscientes de que o clube precisa acabar. 
Ainda que leve tempo, suas atividades serão encerradas e serão apenas uma triste lembrança de nossa história.

*       O autor, Gustavo Lopes, é escritor, documentarista e ex-Secretário Nacional do Audiovisual. @gustavochlopes

 

 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Oposição faz manifesto contra ato do 8/1 convocado por Lula e critica ‘abuso de poder’ do STF - O Estado de S. Paulo

Juliano Galisi

Documento assinado por 30 senadores critica ato Democracia Inabalada, organizado pelo governo em memória ao 8 de janeiro, e se opõe ao inquérito das fake news

A oposição ao governo Lula no Senado Federal divulgou na noite de quinta-feira, 4, um manifesto contra o ato Democracia Inabalada, organizado pelo Planalto com Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de marcar um ano dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro

O documento encabeçado por Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, critica “o abuso de poderes” do STF e clama pela “volta à normalidade democrática”.

O manifesto foi assinado por 30 senadores, inclusive lideranças do PL, PP, Republicanos, PSDB e Novo, além de senadores como Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, e Sérgio Moro (União-PR).

A nota de repúdio condena “vigorosamente os atos de violência e a depredação dos prédios públicos ocorridos no dia 8 de janeiro” e endossa as palavras de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, em entrevista coletiva em 23 de novembro do ano passado. Na ocasião, Pacheco afirmou que nenhuma instituição tem o monopólio da defesa da democracia no Brasil”.

“Cada instituição possui um papel específico no fortalecimento dos alicerces democráticos”, ressalta o manifesto da oposição, que segue com críticas à conduta do STF. “O abuso dos poderes e o uso indevido de interpretações de dispositivos constitucionais pode matar a democracia”, diz o documento.

Senadores criticam inquérito das fake news

Para os signatários do manifesto, o maior exemplo de “uso indevido” de um dispositivo constitucional é o Inquérito 4.781/DF, conhecido como “inquérito das fake news”. Segundo os senadores de oposição, o inquérito gera uma “situação inusitada” na qual “o STF é vítima, investigador e julgador”.

“Esse procedimento foge ao padrão estabelecido pelo sistema jurídico brasileiro de separação entre as funções de julgar e acusar”, dizem os senadores. O documento relembra que a a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge já se posicionou pela nulidade do inquérito, instalado em 2019 a pedido do ministro Dias Toffolli, então presidente da Corte.

‘Penas abusivas’ aos presos pela invasão
A nota de repúdio da oposição também condena as “penas abusivas”
impetradas contra os presos pela invasão aos prédios dos Três Poderes. Os senadores traçaram um paralelo entre os detidos em 8 de janeiro de 2023 com os manifestantes que estavam na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em 6 de dezembro do ano passado. No Legislativo paulista, os protestos contra a aprovação do projeto de privatização da Sabesp, terminaram em conflito com a Polícia Militar.
 
Para os senadores de oposição, não é justo que os detidos na Alesp tenham sido liberados no dia seguinte e, hoje, respondam à Justiça em liberdade, enquanto os presos de 8 de janeiro respondem a possíveis penas entre 13 e 17 anos de reclusão.  

Quem assinou o documento

Confira, a seguir, a lista dos 30 senadores que assinaram o manifesto.

  • Rogério Marinho (PL)
  • Ciro Nogueira (PP)
  • Flávio Bolsonaro (PL)
  • Carlos Portinho (PL)
  • Tereza Cristina (PP)
  • Mecias de Jesus (Republicanos)
  • Izalci Lucas (PSDB)
  • Eduardo Girão (Novo)
  • Alan Rick (União)
  • Cleitinho (Republicanos)
  • Damares Alves (Republicanos)
  • Dr. Hiran (PP)
  • Eduardo Gomes (PL)
  • Esperidião Amin (PP)
  • Hamilton Mourão (Republicanos)
  • Jaime Bagattoli (PL)
  • Jayme Campos (União)
  • Jorge Seif (PL)
  • Luiz Carlos Heinze (PP)
  • Magno Malta (PL)
  • Márcio Bittar (União)
  • Marcos do Val (Podemos)
  • Marcos Pontes (PL)
  • Marcos Rogério (PL)
  • Nelsinho Trad (PSD)
  • Plínio Valério (PSDB)
  • Sérgio Moro (União)
  • Styvenson Valentim (Podemos)
  • Wellington Fagundes (PL)
  • Zequinha Marinho (Podemos)
Ato Democracia Inabalada
O ato Democracia Inabalada vem sendo planejado pelo governo de
Luiz Inácio Lula da Silva como cerimônia de memória dos ataques de 8 de janeiro de 2023. 
O evento acontecerá no Salão Negro do Congresso com a presença de ministros do governo, do STF, parlamentares e outras autoridades. 
A réplica da Constituição, que chegou a ser roubada do Supremo no dia em que a Corte foi alvo dos vândalos, ocupará um lugar de destaque na cerimônia. 
 
A cerimônia, originalmente, seria batizada com o nome Democracia Restaurada, mas o bordão desagradou até a base do governo. Lula rebatizou o ato em aceno ao STF, que utilizou o slogan em uma campanha institucional em 2023.
 
 Juliano Galisi, colunista - O Estado de S. Paulo

Eletrobras é uma empresa privada? Governo e Judiciário parecem achar que não - O Estado de S. Paulo

Elena Landau

Decisão sobre limite do poder de voto do governo e suspensão de assembleia de acionistas foram interferências recentes na companhia

A Eletrobras é uma empresa privada. 
O governo e o Judiciário parecem não querer entender isso. 
Ela foi privatizada via capitalização em uma operação de diluição da participação acionária da União, aprovada pelo Congresso
O governo vendeu o controle e os novos acionistas pagaram por isso. Assim, a atual administração tem direito de decidir incorporação de subsidiárias e demissão de funcionários, com ou sem PDV. 
A limitação do poder de voto não importa, porque o governo continuaria com menos representantes no Conselho que o setor privado. 
 
A interferência do Judiciário nas decisões da empresa tem sido uma constante. Primeiro, o ministro Nunes Marques deu prosseguimento à absurda Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) impetrada pela AGU que questiona o limite do poder de voto.  
Mais absurda ainda foi a decisão do ministro de entregar uma matéria que, teoricamente, seria sobre constitucionalidade para uma arbitragem na Câmara da própria AGU. Difícil entender para que serve o STF se não for para decisões sobre uma ADI. 
 
Agora veio a suspensão de uma assembleia de acionistas para votar a incorporação de Furnas por conta de uma liminar de tribunal trabalhista! E, de novo, vai parar no STF. 
Espero que dessa vez a Corte não lave as mãos. 
 
A reação contra a incorporação de Furnas é essencialmente política
É da área de influência do senador Rodrigo Pacheco e do seu aliado Alexandre Silveira, o ministro de Minas e Energia. Sempre foi. 
As subsidiárias da empresa têm o apelido de descontroladas, e não é por acaso. 
Como ex-conselheira da Eletrobras, tenho certeza de que a incorporação trará enormes ganhos de eficiência, a começar pela eliminação de camadas administrativas desnecessárias, como diretorias executivas e Conselho de Administração, carregando juntos cargos comissionados. [é sabido que nas empresas ligadas à energia tem vários cargos comissionados, com salários altíssimos, ocupados por     sumidades em NADA, que ocupam vagas ministeriais no amontoado de inúteis que o presidente Da Silva chama de ministério.]
 
A medida não deverá ter impacto significativo sobre trabalhadores que estão ligados à operação de usinas nem na sua importante participação na construção da inteligência do setor. 
A holding não arriscaria perder esse grande ativo. Isso os tribunais trabalhistas ignoram. 
E é somente a perda da possibilidade de indicar cargos que incomoda o governo e seus aliados.  
O STF poderia aproveitar para cassar a liminar que suspendeu a Lei das Estatais. 
Se em empresa privada tem olho gordo, imagine nas públicas.
O ministro de Minas e Energia deveria estar mais preocupado com Itaipu. A empresa é pública e ainda assim se recusa a repassar para tarifas os ganhos decorrentes do fim do pagamento da dívida
Prefere gastar em obras no Paraná. É tudo politicagem, e só.
 
Elena Landau - O Estado de S. Paulo
 
 

Lula e o STF fizeram do Brasil um país governado apenas por dois poderes - J. R. Guzzo

Vozes - Gazeta do Povo

O governo Lula nunca teve um plano de governo. Considera que isso foi um grande sucesso neste seu primeiro ano de atividade – tanto que continua sem ter plano nenhum para o segundo. 
Em vez de programa, Lula tem um sistema operacional.  
Trata-se do conjunto de condutas que se destina, o tempo todo, a usar a máquina pública e o Tesouro Nacional para atender às necessidades e aos interesses materiais do presidente da República, da presidenta-adjunta e do cardume que veio com eles para o Planalto.
 
Esse sistema dispensa o governo de qualquer responsabilidade, ou da necessidade de apresentar algum tipo de resultado, ou resolver algum tipo de problema. 
A única coisa que interessa é ficar lá, durante o tempo que der, e aproveitar ao máximo as oportunidades que o governo oferece a quem está lá. 
E depois? Depois fica para depois.Não fecham o Congresso provavelmente porque não têm coragem, e nem força, para fazer isso
Mas fazem tudo o que podem para governar sem a sua presença. 
 
Ao começar o segundo ano da sua jornada, o desinteresse de Lula pelo trabalho de governar continua sendo o mesmo – só que mais radical e com menos paciência.  
Abriu as operações com uma declaração de hostilidade ao Congresso Nacional: está tentando anular, através de medida provisória, uma lei de alívio fiscal para as empresas que acaba se ser aprovada pelo Legislativo. Decidiu, ao mesmo tempo, que não vai liberar o dinheiro das emendas parlamentares nas datas que os deputados e senadores estão querendo.

Os analistas políticos, que há 40 anos sustentam a ideia segundo a qual Lula está sempre no comando de alguma esperteza infalível, decidiram que o governo se fortaleceu – deixou o Congresso acuado e os políticos agora vão ser obrigados a ceder coisas que tinham conquistado com as vitórias obtidas no plenário. 

Chega de “negociação”, nome que se deu no ano passado à compra de votos no Congresso em troca de “emendas” pagas com dinheiro do Orçamento Federal. 
Neste ano, o governo Lula vai resolver o seu problema fundamental no Congresso o fato, insolúvel, de que é minoria juntando-se aberta e oficialmente ao STF para anular as votações em que é derrotado.

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Não é novidade, claro. Lula e STF formaram uma sociedade em partes iguais antes mesmo de ele chegar à Presidência; 
- na verdade, só chegou lá porque foi colocado no cargo pelo próprio STF através do seu derivativo eleitoral, o TSE, e da sucessão de decisões judiciais exóticas que o tiraram da cadeia, anularam as ações penais contra ele e lhe forneceram uma “ficha limpa”.  
Governam o Brasil, desde então, como um consórcio.
 
Em 2024, pelo que se viu nestes primeiros movimentos, o consórcio está mais ambicioso. Lula e o STF estão transformando o Brasil num país governado por dois poderes – a junta Executivo-Judiciário que funciona como um Poder só, em sistema de parceria público-privada, e o Poder Legislativo, que tem de se subordinar ao consórcio. 
Não fecham o Congresso provavelmente porque não têm coragem, e nem força, para fazer isso. 
Mas fazem tudo o que podem para governar sem a sua presença. 
Por que não? Já governam sem a necessidade de povo, sem as leis que não lhes interessam e sem obrigação nenhuma perante os governados.     O plano é continuar assim.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


O lulismo vai morrer com Lula - Augusto Nunes

Revista Oeste

Líderes de partidos estimulam o surgimento de sucessores. Chefes de seita não deixam herdeiros


 Partido dos Trabalhadores | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 “Acredito que existe consenso dentro do PT e da base aliada sobre a candidatura do presidente Lula em 2026”, recitou Fernando Haddad em recente entrevista à Folha. “É uma coisa que está bem pacificada, não se discute”, enfatizou o ministro da Fazenda. Aos 79 anos, completados em outubro, Luiz Inácio Lula da Silva acaba de superar Michel Temer no ranking dos mais idosos ocupantes do cargo. Mais um ano e se terá transformado no primeiro octogenário a governar o país.

É pouco, acham Haddad, os demais sacerdotes e todos os devotos que enxergam num ex-presidiário seu único deus — além do que o ministro chama de “base aliada”.  
O que será isso? 
A expressão inclui os órfãos do Muro de Berlim pendurados nos cabides de empregos públicos?
As
siglas nanicas que orbitam em torno da estrela vermelha e se juntam ao PT nos anos eleitorais para cumprir ordens do comandante vitalício da autodenominada esquerda brasileira? 
Fazem parte da base as porções do centrão contempladas com ministérios, verbas ou empregos? Difícil saber.
 
O que se sabe é que não há nesse amontoado de obscenidades algo que se possa chamar de partido político
Eis aí uma salto civilizatório que nunca deu as caras nestes tristes, trêfegos trópicos. O que nasceu em 1980 com o nome de Partido dos Trabalhadores, por exemplo, passou a comportar-se como delinquente juvenil ainda no berçário e, com a descoberta do Mensalão, ficou com cara de quadrilha antes de alcançar a maioridade.
A devassa do Petrolão confirmou que o templo das vestais camuflava um bordel de quinta categoria. 
 E a notícia de que as organizações criminosas se entendem por meio de conversas cabulosas revelou que o PT só difere do PCC na especialidade que cada bando elevou à categoria de arte. 
Marcola e seus parceiros fazem bonito no tráfico de drogas. Lula e a companheirada brilham em bandalheiras concebidas e consumadas nas catacumbas de Brasília.  
Com a transformação do partido em seita, o PT foi reduzido a codinome do lulismo. Haddad parece não saber disso, sugere a continuação da entrevista. “Mas o PT tem de começar a pensar na sucessão de Lula: excluído 2026, o fato é que a questão vai se colocar”, ressalvou o ministro. Ele finge ignorar que tais questões só figuram nas pautas de partidos de verdade, providos de projetos de país com cláusulas pétreas, programas de governo convincentes, ideário sólido e valores inegociáveis
É assim nas nações amadurecidas. O Brasil jamais produziu algo parecido.
 
O Brasil é um deserto de partidos infestado por 33 siglas. 
Nunca foram tantas as lucrativas sopas de letras, mas a indigência partidária está no DNA do País do Carnaval. 
Quatro vezes prefeito de Taquaritinga, meu pai foi filiado ao PTB, ao PTN, ao MDB e ao PMDB. 
O resultado da eleição teria sido o mesmo caso fosse candidato pelo BNDES ou pelo FBI. Brasileiro não vota em partido, sobretudo em eleições municipais. 
Escolhe uma pessoa, seja qual a sigla que habite. Foi assim antes do bipartidarismo inventado pelo regime militar. Assim continuou a ser nos tempos em que grupos distintos tiveram de espremer-se em sublegendas da Arena e do MDB. 
E assim será até que apareçam partidos de verdade, como os que existem nas democracias maduras.

No Brasil, o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral usam dinheiro dos pagadores de impostos para bancar as atividades e a sobrevivência de 33 ajuntamentos de oportunistas

Nos Estados Unidos, por exemplo, o eleitorado se dá por satisfeito com o duelo entre o Partido Democrata e o Partido Republicano — o que não impede a existência de legendas liliputianas nem proíbe o lançamento de candidaturas avulsas. Mais: democratas e republicanos abrigam correntes que disputam nas eleições primárias o direito de indicar o candidato à Presidência. Consumada a escolha, os grupos desavindos se unem no esforço para derrotar o inimigo principal na corrida rumo à Casa Branca.

Nas democracias modernas, partidos políticos e duelos eleitorais são financiados por eventos organizados por comitês e contribuições feitas às claras, sem truques nem camuflagens, por indivíduos ou empresas. 
O governo não desperdiça um único e escasso centavo. No Brasil, o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral usam dinheiro dos pagadores de impostos para bancar as atividades e a sobrevivência de 33 ajuntamentos de oportunistas
Esse defeito de fabricação resultou na multiplicação de seitas identificadas pelo acréscimo do sufixo ismo ao nome do líder carismático, cuja cabeça baldia não reserva espaço para programas partidários. 
Os devotos se curvam às ordens da divindade. Também por isso, nenhuma seita sobrevive à ausência física do chefe supremo. O janismo, por exemplo, morreu com Jânio Quadros. 
O ademarismo se foi com Ademar de Barros. 
O brizolismo descansa no jazigo de Leonel Brizola. 
O lulismo não sobreviverá à partida de Lula.

Desde o nascimento do Partido dos Trabalhadores, em 1980, Lula tudo decide, do candidato à prefeitura de Cabrobó à formação da comitiva que desfrutará da próxima viagem reivindicada por Janja, passando pela escolha dos parceiros da negociata em gestação. 

 Mas um populista barato, incapaz de ler mais que a orelha de um livro ou de redigir um bilhete de três linhas sem assassinar o idioma, não tem nada que preste a legar. 
Gente assim não tem ideias aproveitáveis, propostas interessantes, princípios éticos, padrões morais, nada disso. 
Não tem afetos reais, admirações genuínas. Também por isso, nunca tem sucessores.
 
Haddad, portanto, logo será dispensado de perder eleições por determinação do deus da seita.  
Deveria planejar desde já o que pretende fazer no pós-Lula. 
Tempo é o que não vai faltar. 


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Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste