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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O que a revolta popular no Canadá ensina ao mundo que se diz democrático - VOZES

J. R. Guzzo

Pandemia

Canadá

     Protestos no Canadá foram convocados por caminhoneiros e ganharam adesão de críticos a medidas da gestão Justin Trudeau| Foto: Andre Pichette/EFE

As manifestações de massa contra o governo do Canadá, por seu surto de supressão dos direitos individuais em nome do “combate à covid”, são uma lição natural para o mundo – sociedades acostumadas à liberdade, como a canadense, raramente toleram por muito tempo que governantes e funcionários públicos passem a tratá-las como escravos de alguma república bananeira. O que chama a atenção, no caso, é a rapidez com que o governo do Canadá está descendo para a insanidade.

 Invasão de igreja é crime passível de detenção e multa

Um PIB inteiro de dívidas: e a conta recairá sobre nossos filhos e netos

O primeiro-ministro Justin Trudeau, como uma Maria Antonieta desesperada, entregou-se ao tipo de comportamento que normalmente se encontra nos pequenos tiranos: fugiu da população e mantém-se num chilique permanente, amaldiçoando qualquer ser vivo que não concorde com as suas medidas de repressão. Parou de pensar. O chefe de polícia da capital, Ottawa, disse que os protestos populares são uma “insurreição” provocada pela “loucura”. Em nenhum momento, até agora, passou pela cabeça de nenhum dos dois, nem dos demais barões do governo, que a opinião da população pode ter algum valor. Nós estamos certos. Eles estão errados. Fim de conversa.

O primeiro-ministro, como se espera em episódios desta natureza, poderia pensar só pensar um pouco – em negociar alguma coisa com a massa que não está lhe pedindo favor nenhum e sim as suas liberdades básicas. Ou então, como às vezes acontece com líderes que estão certos de suas razões, ele poderia estar agindo como um negociador duro. Mas não acontece nem uma coisa nem outra. Ele está apenas sendo histérico.

Ao chefe de polícia não ocorreu, simplesmente, que quem pode estar louco é ele. É o que acontece sempre que você confunde discordância com demência: se não concordam comigo, só podem ter enlouquecido. Era assim que pensava Stalin na Rússia comunista.

É chocante que os ataques mais venenosos à democracia, por conta da “covid”, da “vacina” e da necessidade de “salvar vidas”, não venham hoje da Rússia, da China ou de Cuba, ditaduras de onde não espera, nunca, o menor gesto em favor da liberdade. Estão vindo de democracias até há pouco exemplares, como Canadá, Austrália, Áustria (que acaba de tornar crime a atitude de não se vacinar) e outros tantos.

Seus governos foram reduzidos a um bando de burocratas em pânico, e afundam cada vez mais depressa na própria covardia – ou, mais exatamente, estão se aproveitando do vírus e de suas desgraças para mandar na sociedade e obrigar as pessoas a aceitarem regras que estão nas suas cabeças e nos seus desejos. Não tem nada a ver com saúde. Tem tudo a ver com ditadura.

J. R. Guzzo,  colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

É dura a vida do canguru - Revista Oeste

Guilherme Fiuza 

Nossa meta é limpar tudo. E se prepare porque chegará o momento de vacinar os cangurus” 

Placa de trânsito na Austrália
Placa de trânsito na Austrália | Foto: Petr Kratochvila/ Shutterstock

– Onde o senhor vai?

Não sei ainda. Estou passeando.

– O senhor precisa informar o seu destino.

– Como assim? Eu vou aonde eu quiser.

– Não é bem assim. De qualquer forma, é necessário reportar a rota que o senhor pretende fazer.

Que história é essa? Nunca foi assim.

– Agora é.

– Por quê?

– Segurança.

– Segurança de quem?

– De todos. Segurança sanitária.

– Ok. Se é para o bem de todos…

– Qual o seu destino, então?

Deixa eu ver… Bem, vou até aquela árvore grande lá no final.

– Vai fazer o que lá?

– Descansar.

– Positivo. Seus documentos, por favor.

– Ué, preciso apresentar documentos pra descansar debaixo de uma árvore?

– Sim. Para estar em qualquer lugar, o senhor precisa mostrar seus documentos.

– Quais?

– Basta o passaporte vacinal.

– Não tenho.

– Então o senhor está preso.

Preso por quê? Ninguém me disse que eu precisava me vacinar.

– O senhor não lê jornal? Não vê televisão?

– Não.

– Por quê?

– Porque sou um canguru.

– Ah, perfeitamente. Não tinha reparado.

– Tudo bem.

– De qualquer forma, preciso prosseguir com a abordagem: o que o senhor tem nessa bolsa?

– Nada. Já falei, sou um canguru.

– Entendo. Mas os cangurus não guardam nada na bolsa?

– Às vezes carregamos nossos filhos.

– O senhor não tem filhos?

– Não é da sua conta.

– Assim vou ter que detê-lo por desacato.

– Não quis ofendê-lo.

– Ok. Já vou encerrar a abordagem. Só mais uma pergunta: o senhor joga tênis?

– Não. Cangurus não jogam tênis.

– Entendo. Mas o senhor conhece um elemento chamado Novak?

– Novak de quê?

– Novak Djokovic.

– Ele é canguru?

– Não. É um humano negacionista.

“Se o senhor estiver me escondendo algum vínculo com o elemento Djokovic, depois vai ser pior”

Nem sei que espécie é essa. Só conheço cangurus.

– Estranho. Não se relaciona com mais ninguém?

– Por quê? Deveria? Nasci aqui mesmo, sempre me bastaram os cangurus.

– Estranho. Bem, de qualquer forma, saiba que se o senhor estiver me escondendo algum vínculo com o elemento Djokovic, depois vai ser pior.

– Pior que essa conversa?

– Sim. Teremos de recolhê-lo aos campos de covid.

– A Austrália mudou mesmo.

– E ainda vai mudar mais.

– Imagino.

– Nossa meta é limpar tudo. E se prepare porque chegará o momento de vacinar os cangurus.

– …

– Por que o senhor está pulando?

– Porque sou um canguru.

– Mas ainda não liberei a sua ida para debaixo da árvore.

– Não estou mais indo pra lá.

– Para onde o senhor está indo, então?

Para a Sérvia.

Leia também “A Síndrome de Melbourne”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste

 

sábado, 22 de janeiro de 2022

Vacina obrigatória é violação que nem regime fascista pensou em adotar - Jovem Pan

Vacina contra a Covid deveria ser uma opção livre, mas se transformou numa questão puramente política; guerra declarada de Bolsonaro é incompreensível

De todas as violências feitas por governos, organizações privadas e outras aglomerações sociais contra a liberdade, talvez nenhuma se iguale em matéria de sordidez à militância pró-vacina obrigatória.  
É fascismo em seu estado mais puro – na verdade, é alguma coisa pior, pois nem o regime fascista mais alucinado jamais pensou em obrigar as pessoas, incluindo crianças de três anos, a se vacinarem contra o que quer que seja. É falsa ciência, no sentido de que sustenta, como fato provado, a existência de efeitos imunizantes que ainda se encontram em observação por parte dos fabricantes e da comunidade científica. É, enfim, uma violação grosseira de um dos mais elementares direitos universais – aquele segundo o qual nenhum cidadão é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não ser em virtude da lei. 
É falso que “o direito de todos” deve prevalecer sobre o direito do indivíduo, como prevê a legislação – por este raciocínio, o direito à saúde, ou a não ser contaminado, seria maior que o direito de não se vacinar. Isso poderia valer se a vacina contra a Covid efetivamente impedisse a contaminação. Mas ninguém pode garantir isso, a começar pela indústria farmacêutica tanto que o Brasil já aplicou mais de 300 milhões de doses e rola por aí, à toda, uma “terceira onda”, como haverá, no futuro, uma quarta, quinta ou trigésima primeira. [comentando: somos decididamente favoráveis às vacinas, tanto que já tomamos a dose de reforço e estamos no aguardo do reforço do reforço.
Destacamos que somos contrários a obrigatoriedade da vacina - se todos, ou a imensa maioria, querem a vacina,qual a razão de impor obrigatoriedade.
Nosso presidente é um ser humano, portanto, passível de errar, e nessa guerra contra a vacina erra feio.
Temos admiração pela  Anvisa,mas cabe um reparo a sua conduta recente, adequada a uma busca por protagonismo e caindo na vala comum, dos inimigos do presidente =  inimigos do Brasil, qual seja a de críticas desnecessárias.
Se a Anvisa liberou o uso do imunizante para crianças, qual a razão dos responsáveis procurarem ficar ocultos, no anonimato = como ficam  a transparência e a publicidade? essenciais no serviço público? 
Com o devido respeito ao presidente da Anvisa,  que parece ter aderido a turma dos que sempre que podem estão manifestando o quase dogma: "NÃO SEI DO QUE SE TRATA, MAS O CULPADO É BOLSONARO".
Ao ensejo, lembramos ao excelentíssimo contra-almirante,  oficial-general, duas estrelas,  da Marinha,  que na condição de presidente da Anvisa, com mandato, ele não é subordinado ao presidente da República. 
Mas, sendo oficial da reserva, permanece sua subordinação ao presidente da República, o que torna oportuno evitar que suas entrevistas sejam maximizadas pela mídia militante e transformadas em  showmícios contra o seu comandante supremo - acreditamos que o atual presidente da Anvisa não tem ambições políticas para a próxima eleição..]

É, também, uma agressão direta ao preceito de que cabe ao médico, e só a ele, o direito de receitar medicamentos para os seus clientes – da mesma forma que só o médico pode indicar uma cirurgia, um tratamento de quimioterapia ou qualquer outro cuidado com a saúde.  

Não é um ministrinho do Turismo da Austrália, ou um governadorzinho qualquer, desses 27 que há por aí, que podem ir injetando substâncias farmacêuticas no seu organismo, não é mesmo? É mentira, enfim, que a vacina contra a Covid seja a “mesma coisa” que a vacina contra a pólio e outras doenças infantis, de virtudes provadas além de qualquer dúvida; nem os laboratórios dizem que é.

A vacina obrigatória é apenas a expressão dos anseios de ditadura que a epidemia espalhou entre autoridades e burocratas, quase sempre gente que nunca foi eleita para nada, pelos quatro cantos do mundo. Há dois anos eles tiram enorme proveito do poder que ganharam para dar ordens a populações em pânico abrem, fecham, permitem, proíbem, mandam, desmandam, prendem, soltam. São tratados como gente importante. Levam cada vez mais vantagem. O ministrinho da Austrália, por exemplo, ganhou seus 15 minutos de fama mundial proibindo o tenista Novak Djokovic de participar de um dos principais torneios do circuito internacional de tênis. (Foi copiado de imediato pela França, onde o presidente da República disse que um dos seus objetivos de governo é “irritar” quem não tomou vacina.) Também virou, de um instante para o outro, um herói da esquerda pelo mundo afora. (É claro: não há a mais remota possibilidade, nunca houve, de se ver a esquerda a favor da liberdade, qualquer tipo de liberdade, em qualquer causa e em qualquer lugar.) Hoje querem que você tome duas doses de vacina; amanhã vão querer três, depois de amanhã quatro e depois disso alguma outra coisa, até o fim da vida.

A vacina contra a Covid, num mundo com mais equilíbrio e mais vergonha na cara, deveria ser uma opção livre: quem quer toma, quem não quer não toma, ficando os governos obrigados a fornecer para todos as duas doses básicas, mais a dose de reforço

Qual poderia ser a dificuldade com isso? Se os que não quiserem se vacinar não ameaçam a saúde de ninguém, pois o vírus continua a correr o mundo com vacina ou sem vacina, é problema deles, e só deles, se tomam ou não. Mas o mundo, hoje, não é um lugar de equilíbrio. Na verdade, não há nada mais distante da realidade do que a ideia de uma vacina abundante, disponível para todos e voluntária, como qualquer outro tratamento médico. A vacina contra a Covid, hoje, se transformou numa questão puramente política para governos, partidos, mídia e quem mais pretende ter alguma influência na sociedade. 

A facção que aproveita a Covid, e o pânico causado em torno dela através de autoridades e comunicadores, para impor soluções de repressão, quer que a vacina seja obrigatóriaé mais uma arma para juntar-se ao lockdown, a exigência de testes, as proibições de fazer isto ou aquilo, ao “passaporte” sanitário e ao resto da camisa de força que querem impor à população. A esquerda, naturalmente, é a favor da vacina obrigatória – ela está sempre a favor de uma ditadura mundial permanente, e não ia perder essa chance de suprimir direitos e liberdades individuais. Não está nem aí para a imunização ou qualquer aspecto médico-científico; quer o Estado dando ordens e pronto.

E o outro lado? O diabo, nessa história, é que não há o “outro lado”pode haver no mundo das ideias, mas não há na vida real. É muito simples: lutar contra a vacina, como programa de governo, é algo francamente absurdo. Pode ser uma posição pessoal; não pode ser um objetivo oficial de quem governa. A vacina anti-Covid é uma conquista científica de primeira grandeza; em pouco mais de um ano, um prazo de rapidez inédito, a indústria farmacêutica mundial desenvolveu um imunizante que contribuiu de maneira decisiva para o combate à epidemia, sobretudo na redução do número de mortos. Não funciona como um escudo absoluto, capaz de oferecer 100% de proteção. 

Mas tem sido extremamente eficaz. Há poucos casos de efeitos colaterais graves. E os médicos, em peso, recomendam que se tome a vacina – o que parece um argumento bem decisivo a seu favor. As pessoas, com certeza, deveriam ter a liberdade de tomar ou não a vacina. Mas não é assim que está sendo na vida como ela é. Aí, no mundo das coisas concretas, as autoridades vêm impondo cada vez mais a obrigatoriedade – e certamente têm fortes apoios na opinião pública. Declarar guerra à vacina, à essa altura e nessas condições, não faz nexo. Cada um tem pleno direito à sua opinião, é claro, mas os governos não dispõem deste espaço. Sua obrigação é fornecer as vacinas, apenas – e não ficar fazendo, ao mesmo tempo, campanha contra.

Não há um único caso nesses 300 milhões, nenhum, de alguém que foi forçado a se vacinar

A vacina compulsória é um ataque à liberdade individual, sem dúvida – mas existe, no caso, um fator que muda a natureza da questão. O fato, indiscutível, é que as pessoas querem tomar vacina; no Brasil, pelo menos, a grande maioria quer. Fizeram fila para tomar vacina. Ficaram felizes quando receberam sua carteirinha de vacinação. Ninguém aí achou que a sua liberdade estava sendo ameaçada; o governo pode estar obrigando, mas e daí, se a população quer ter essa obrigação? 
A vacina, na verdade, foi um objeto de desejo intenso. Todo mundo esperava ansioso a chegada das vacinas à sua “faixa etária”; até houve, naturalmente, escândalos com peixes graúdos que furaram a fila. 
 
Era uma neura: o sujeito tomava a vacina e se achava o autor de um ato heroico, ou o beneficiário de um favor do céu. Todo mundo tirava selfies na hora da picada, mandava mensagens para causar inveja aos conhecidos do Whatsapp, se orgulhava de ser um “vacinado”. O Brasil aplicou mais de 300 milhões de doses da vacina anti-Covid – pouco mais de 160 milhões receberam uma primeira dose e quase 150 milhões estão com a vacinação completa. Não há um único caso nesses 300 milhões, nenhum, de alguém que foi forçado a se vacinar. Por que raios, então, não deixar quieta essa história? Se todo mundo quer tomar a vacina, por que se meter numa cruzada contra a vacinação?

A guerra que o presidente da República declarou à vacina da Covid é incompreensível. Ele diz que faz isso por uma questão de princípio – para defender “a liberdade”. Não cola. Se estivesse realmente empenhado em lutar pela liberdade no Brasil, já teria comprovado isso com ações em muitos episódios anteriores, ao longo dos seus três anos de governo. Sua posição deveria ser uma campanha popular; virou, rapidamente, apenas uma implicância. O Brasil foi um caso de sucesso de categoria mundial na aplicação da vacina – em pouco mais de um ano, vacinou quase toda a sua população adulta, sem atropelos ou maiores problemas. 

É algo para se orgulhar, especialmente no caso do governo federal, de onde vieram as verbas para pagar a conta toda. Mas não. O presidente decidiu ser o líder de uma seita – e por conta disso arrumou para si próprio o papel que seus adversários sonhavam: o do inimigo número um daquilo que foi e continua sendo um dos maiores desejos da sociedade brasileira. Por que isso? É um mistério.

Bolsonaro já se referiu a defensores da vacina como “tarados”. Pior: ataca violentamente um serviço do seu próprio governo, a Anvisa, repartição que tem por dever funcional cuidar de questões como a vacinação. É como se a agência fosse um departamento do PT – ou um órgão de governo que faz oposição ao governo. 
Se a Anvisa é subordinada a ele, por que não cumpre a orientação do presidente da República? 
Faz parte do governo do Paraguai, por acaso? O espaço de autonomia das agências públicas não pode servir de desculpa para uma aberração dessas.  
O ministro da Saúde, ao mesmo tempo, é um dos maiores incentivadores da vacina anti-Covid; será que ele também está fazendo oposição? 
É impossível, enfim, estimar quantos votos Bolsonaro poderia ganhar para as eleições presidenciais de 2022 com a sua cruzada contra a vacinação. Por que, se os eleitores são maciçamente a favor da vacina, ele simplesmente não fica calado e vai falar de outro assunto? É um mistério dentro do mistério.
 

J. R. Guzzo, comentarista - Jovem Pan

 

Moro leviano - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino - VOZES

Quando Sergio Moro saiu do governo da forma que saiu, comentei que talvez fosse o fim de Bolsonaro. Hoje vejo que fui muito afoito. Talvez tenha sido o fim do Moro. O ex-juiz tinha um capital político importante por conta da Lava Jato, mas desde então adotou uma postura bem estranha. Aliou-se à imprensa tucana que faz oposição ao governo, fez denúncias graves sem provas, e agora disputa com Bolsonaro a presidência, demonizando o atual governo do qual fez parte e o colocando como tão ruim quanto o lulopetismo, o que é ridículo.[Moro não disputa nada; o ex-juiz é apenas um futuro ex-candidato à presidência da República. Moro simboliza todos que querem ser mas não passam do 'querem'. Sua vocação, até mesmo patológica,é e sempre será ser um EX qualquer coisa. ]

Não por acaso, Moro virou um traidor para milhões de brasileiros. Suas mensagens nas redes sociais são coisa de marqueteiro, tudo calculado e artificial para agradar certa elite "progressista". E, pensando em ter algum engajamento, Moro decidiu se unir ao que há de pior: os tucanos oportunistas do MBL, que já demonstraram não possuir qualquer espírito público, somente um projeto particular de poder.

Parece que essa parceria já tem influenciado a postura de Moro. Kim Paim, um trabalhador que mora na Austrália e prepara "dossiês" com base em notícias da imprensa e documentos oficiais, fazendo elos interessantes que muitos gostariam de manter debaixo do tapete, resgatou mensagens de Moro na "Vaza Jato" e fez perguntas incômodas sobre a postura do ex-juiz. Moro não gostou, e atacou o mensageiro:

É exatamente a tática que o MBL usa contra os outros, contra mim mesmo. Passei a denunciar a guinada suspeita do movimento tucano, que passou a se aproximar até do Psol e do PT para atacar o governo, demoniza até Paulo Guedes, e apela para pura demagogia na pandemia. Incapazes de rebater meus pontos, o MBL passou a repetir que sou "vendido", ou seja, que sou pago para defender o governo. Canalhice da pior espécie. E, pelo visto, Moro embarcou no mesmo estilo podre. Virou mais um do MBL.
 
Barbara, do canal TeAtualizei, cobrou do ex-juiz onde estão as Fake News apontadas por Kim Paim, uma vez que a própria imprensa já usou essas mesmas mensagens, sem falar do STF, e Moro não negou seu teor: "Se as mensagens da vaza jato são tão mentirosas (como eu mesma acreditei por muito tempo), pq o Moro pediu desculpas por algo que ele não disse?"

Do meu lado, com todo respeito, questionei se Moro estava sendo leviano ou se tinha provas da grave acusação que fizera contra Paim. Moro não respondeu, apesar da enorme repercussão do meu comentário. Por sua vez, sua assessoria informal de imprensa preferiu dobrar a aposta:

Leandro Ruschel comentou sobre a postura dos "antas": "O Antagonista virou o cercadinho do Moro. Pelo menos eles são transparentes. Outros veículos fazem campanha pra Lula, enquanto alegam isenção. Gostei dessa parte: "VPR e MBL já estão subindo tag...". Tremam! O pessoal que coloca 600 pessoas na Paulista está vindo com tudo!"

É gado que chama? Ou vassalo? Essa semana Moro deu "entrevista" a Felipe Moura Brasil, outro que mais parece assessoria de imprensa do candidato. É essa gente que me chama de capacho ou insinua que sou bolsonarista e vendido. Eles têm um político de estimação. Eles fazem campanha escancarada. Eles viraram oposição ferrenha a Bolsonaro não por espírito público, mas por disputa de poder. É um jogo sujo, de quem não parece realmente preocupado com o Brasil.

Ao mesmo tempo em que denunciam a aproximação do governo com o centrão, ignorando que é inviável ter governabilidade sem isso, elogiam o mesmo centrão, como fez o próprio Moro, afirmando que há gente boa lá. Alexandre Borges, outro dessa patota, chegou a defender como "conservadores" o centrão fisiológico, tudo para atacar bolsonaristas:

Eis o que está cada vez mais transparente: essa turma toda, tucana de alma, oportunista ao extremo, quer derrubar Bolsonaro porque busca o poder. Eles não conseguem admitir indivíduos independentes, que fazem análises isentas por não almejarem qualquer cargo público. Partem então para a tática pérfida de acusar todos que enxergam virtudes no atual governo de "vendidos". É leviandade demais, algo que um ex-juiz jamais deveria fazer.

Rodrigo Constantino, colunista - VOZES - Gazeta do Povo


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A revelação do eucalipto - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

Poucos consumidores sabem da presença de celulose de eucalipto em sorvetes, biscoitos, hambúrgueres, queijos, ketchup e sopas

Vista aérea de uma floresta de eucalipto no Brasil -  Foto: Paulo Vilela/Shutterstock 

Todo dia comemos e consumimos eucalipto. E ninguém se dá conta. O eucalipto reina entre as árvores cultivadas no Brasil. São mais de 5,5 milhões de hectares de eucalipto, de um total de cerca de 9 milhões de hectares de florestas plantadas, segundo a Indústria Brasileira de Árvores. A produtividade média de 39 metros cúbicos por hectare por ano (m³/ha/ano) do eucalipto brasileiro é cerca de duas vezes superior à das florestas do Chile e da África do Sul. Ela supera em três vezes a de Portugal e Espanha e em quase dez vezes a produtividade de Suécia e Finlândia.  
As florestas de eucalipto atendem à demanda por lenha, carvão, madeira e, sobretudo, celulose. 
Entre as aplicações da celulose, a produção de papel e papelão são as maiores e mais conhecidas. Não é só. As florestas de eucalipto participam da alimentação, do vestuário, do conforto do lar e até dos cuidados de saúde de todos os brasileiros.

A palavra eucalipto foi criada por um botânico francês, Charles Louis L’Héritier de Brutelle, em 1788. Ela se compõe do prefixo grego eu (bem, bom, agradável, verdadeiro) e de κάλυπτο, kályptos (coberto). Esse gênero botânico foi denominado assim pela característica de sua inflorescência. Nela, o limbo do cálice se mantém fechado, até depois da floração. Vale relacionar o significado de eucalipto (eu kaliptos) com apocalipse (apo kalipse), apo significando ação contrária ao coberto e, portanto, revelação.

O prefixo eu prolifera entre plantas e humanos, em palavras como Eugenia (bem gerada, nascida), Eunice (boa vitória), Eustáquio (boa espiga, bom fruto), Eulália (boa fala), Eusébio (bem venera — Deus), Euterpe (boa alegria, doçura), eufórbia (bom alimento), euforia (bem suportar), eutanásia (boa morte) e eutrofia (bom crescimento, até demais). E transforma-se em ev, em evangelho (bom anúncio, boa-nova) ou Evaristo (bom grado, muito amado).

Os eucaliptos são originários da Austrália e pertencem à generosa família das mirtáceas, com cerca de 3.000 espécies, dentre as quais: goiaba, araçá, cravo-da-índia, jaboticaba, jambo, pitanga, murta, uvaia, grumixama, guabiroba, camu-camu, cambuci, cambuí, cambucá e muitas outras.

Além da madeira, da lenha e do carvão, um produto excepcional extraído do eucalipto é a chamada polpa de celulose solúvel (dissolving pulp). Trata-se de um material com alto teor de celulose (> 92%-97%) quando comparado ao teor encontrado nas polpas kraft convencionais (85%-90%), destinadas à produção de papel e papelão. A polpa de celulose solúvel tem alta pureza e baixo nível de contaminantes inorgânicos. Dada sua alvura e viscosidade, ela pode ser aplicada nos mais diversos produtos, sobretudo em alimentação, saúde e cosmética.

Ela entra na produção de tripa de celulose para confecção de embutidos (salsichas, linguiças, mortadelas etc.). A celulose solúvel é um excelente estabilizante, emulsificante e espessante, capaz de integrar grande número de alimentos industrializados e processados, como sorvetes, iogurtes, biscoitos, doces, hambúrgueres, queijos, molhos, ketchup e sopas. Poucos consumidores sabem da presença celulose de eucalipto nesses produtos.

Além dos alimentos, a celulose solúvel entra na composição do revestimento de comprimidos e cápsulas de medicamentos, das pastas de dente e em formulações odontológicas (gel dental e soluções orais). Na indústria de cosméticos, há derivados da celulose utilizados para a confecção de gel, um veículo excelente para diversos princípios ativos dermatológicos e terapêuticos, e em diversos produtos de higiene pessoal, maquiagem, cremes cosméticos, fraldas e até em preservativos.

A celulose participa também na composição dos filtros de cigarros, nas lentes de contato, máscaras e tecidos cirúrgicos e até em telas de LCD. Em tudo isso há eucalipto. O processamento dos eucaliptos permite a produção de outros insumos para fabricar vernizes, esmaltes, tintas, óleos essenciais, celofane, filamentos para pneus, filmes fotográficos etc. Na construção civil, a celulose é utilizada na confecção de painéis e divisórias de ambiente (dry wall). No setor energético e petroquímico, a celulose é usada na produção de bioprodutos e biocombustíveis, inclusive o etanol celulósico.

A introdução do eucalipto no Brasil e seu plantio em escala comercial se devem ao agrônomo paulista Edmundo Navarro de Andrade (1881-1941), um plantador de florestas. Ele estudou na Escola Nacional de Agricultura, em Portugal. Ao retornar ao Brasil, em 1904, foi contratado pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Sua missão era encontrar a melhor espécie florestal para reflorestar áreas desmatadas na construção das ferrovias, para fornecer madeira para dormentes e carvão às locomotivas.

Em 1914, Edmundo Navarro buscou na Austrália 144 espécies de eucalipto e testou sua aclimatação. Das espécies trazidas, 64 se adaptaram muito bem ao clima do país. Navarro criou 18 hortos florestais ao longo das ferrovias. Neles, estudou 95 espécies florestais, até confirmar sua escolha pelo eucalipto.

Navarro instalou a sede do Serviço Florestal em Rio Claro. Publicou mais de dez obras sobre suas viagens e o eucalipto, incluindo o livro Cultura do Eucalipto. Ele também foi pioneiro na utilização do eucalipto para produção de papel e papelão. Em 1925, viajou aos Estados Unidos para conhecer a fabricação de papel a partir da madeira. E levou para serem testadas algumas toras de eucalipto. Os testes foram satisfatórios, e o eucalipto serviu à produção de quatro tipos de papel.

A produção florestal total do Brasil aproxima-se de 200 milhões de m³/ano, uma liderança mundial

Navarro foi secretário da Agricultura do Estado de São Paulo de 1930 a 1931. Criou o Museu do Eucalipto, o único do gênero no mundo. O Horto Florestal de Rio Claro, onde fica o museu, leva o nome do pesquisador. São 2.230 hectares abertos à visitação, com acesso às trilhas e ao Solar Navarro de Andrade, residência do pesquisador, tombada pelo patrimônio histórico.

Vista da entrada do Museu do Eucalipto | Foto: Divulgação

Vista da entrada do Museu do Eucalipto | Foto: Divulgação

Em 1941, ano da morte de Navarro, quase 100 milhões de eucaliptos, de espécies diferentes, cresciam nos hortos florestais ao longo das ferrovias. A sorte estava lançada. As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pelo crescimento da produção de celulose no mercado brasileiro graças à incorporação constante de inovações tecnológicas na produção florestal e nos processos industriais. Nas décadas de 1980 e 1990, houve grande expansão das áreas cultivadas com eucaliptos.

A produção florestal total do Brasil aproxima-se de 200 milhões de m³/ano, uma liderança mundial. Desse total, cerca de 70 milhões de m³/ano são de florestas energéticas: 53 milhões de m³/ano em lenha industrial (presentes também em padarias e pizzarias, para a glória da gastronomia) e cerca de 17 milhões de m³/ano em carvão. A produção de carvão vegetal de eucalipto posiciona o Brasil como principal produtor no mundo (12%). Ele substitui insumos de origem fóssil (carvão mineral) e diminui a emissão de gases de efeito estufa na siderurgia. A maioria das 180 unidades de ferro-gusa, ferro liga e aço no Brasil utiliza carvão vegetal no processo de produção.

Em 2020, a indústria florestal produziu 10 milhões de metros cúbicos de madeira serrada. O crescimento da produção de celulose é constante. Em 2020, o Brasil produziu cerca de 21 milhões de toneladas de celulose, alta de 6,4% em relação a 2019. No último trimestre de 2021, foram 4 milhões de toneladas exportadas, avanço de 12,7% no comparativo anual. As exportações em 2020 totalizaram 15,6 milhões de toneladas, alta de 6,1% em relação a 2019.

Segundo a Indústria Brasileira de Árvores, mais de 75% das exportações do Brasil vão para dez principais destinos. A China está no topo, com 48,1% do total (US$ 2,9 bilhões), seguida por União Europeia (12,6%), Estados Unidos (5%), Turquia (2%), Tailândia (1,9%), Coreia do Sul (1,7%), Irã (1,7%), México (1,7%), Vietnã (1,6%) e Bangladesh (1,5%). Além dos US$ 6 bilhões alcançados em exportações de celulose, os produtos da indústria de base florestal embarcaram US$ 1,7 bilhão em papéis e US$ 276 milhões em painéis de madeira no ano de 2020.

[a leitura da presente matéria mostra a importância do agronegócio para o Brasil e da dependência do mundo aos produtos brasileiros, especialmente da agricultura e pecuária.
Os interesses estrangeiros em atrapalhar o crescimento do Brasil e do agronegócio é de tal ordem que muitas ONGs alienígenas, sebosas, movidas por interesses escusos,  compram maus brasileiros, que se dizem especialistas ambientais - ou como tal são apresentados - quando não passam de especialistas de m... ,  (há raras exceções)... ,  para criticarem o fantástico desenvolvimento do Brasil em tão importante campo.] 

São mais de mil municípios na área da indústria florestal. A receita bruta total do setor foi de R$ 97,4 bilhões em 2019 e representa 1,2% do PIB brasileiro. Graças ao eucalipto, a celulose é, de longe, a fibra vegetal mais produzida e consumida no país. Desde os tempos de Navarro, os críticos do eucalipto, em geral, não têm ideia da sua real dimensão na economia e na vida dos brasileiros. Bom apetite!

Leia também “A fibra da agricultura”

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Get up, stand up - Verso e reverso: você conhece alguém a favor do racismO? - Gazeta do Povo

 Paulo Polzonoff Jr

No mundo civilizado, não há um só líder minimamente relevante que defenda abertamente a superioridade de uma raça sobre a outra. Tampouco há qualquer líder atraindo multidões com a promessa de eliminar determinada raça. Simplesmente não há. Pode haver um ou outro maluco, assim como pode haver muito racista enrustido. Mas racismo assim declarado, explícito, usado como plataforma de governo não existe.



Marcus Garvey: admirador de Hitler e de Mussolini que virou guru de Bob Marley e do reggae jamaicano.| Foto: Reprodução/ Wikipedia

Todo mundo é contra o racismo. Todo mundo. Até aquelas pessoas que insistem no comentário racista. Na piadinha racista. Até aquela pessoa que acha que sua empresa não deve contratar pessoas “de cor”. Até quem usa expressões como “de cor”. Até quem fala “criado mudo”, “nas coxas” e “denegrir”. Eu o desafio a dar uma voltinha pelo quarteirão e encontrar uma só pessoa que seja a favor do racismo. Tente. Vá lá. Eu espero. (Mas tem que ser na vida real, e não na Internet, onde os racistas covardes se sentem protegidos pra exporem o lado mais vil de seu vil caráter).

A expulsão do tenista Novak Djokovic da Austrália gerou uma crise diplomática entre os governos do país e da Sérvia                             Djokovic e a briga retórica entre Sérvia e Austrália

Não encontrou, né? Eu disse! Na pior das hipóteses, se você mora perto de uma universidade federal, é possível que tenha encontrado um ou outro maluco pregando a superioridade racial dos negros sobre os brancos, quando não a necessidade de extermínio dos branquelos a fim de que haja reparação histórica. Mas são apenas uns jovens lunáticos cheios de gogó e que não abdicam da mesada do papai. O bom é que esse tipo de discurso é como acne e desaparece com a idade.

Veja bem: não estou dizendo que o racismo (verso & reverso) não exista. Pelo contrário. Há muita gente que ainda acredita que há diferenças relevantes entre brancos e negros a ponto de justificar o subjugo de uma raça por outra.  
Mas ninguém em sã consciência jamais teria coragem de expor essa ideia ao escrutínio público. E não porque seja contra a lei, como certamente pensam os positivistas que me leem neste momento. Ninguém mais bate no peito para se dizer racista porque fazer isso é social e moralmente inaceitável.

Mas a esquerda progressista identitária, sabemos, não é conhecida pela capacidade de reconhecer avanços de quaisquer tipos. Definitivamente "gratidão" não é uma palavra que faça parte do vocabulário dela. Pelo contrário. Quanto mais ressentimento houver, melhor para essas pessoas que vivem do rancor e do desejo de vingança. Daí porque em vez de ressaltar as mudanças positivas pelas quais o mundo passou nos últimos cem anos (um negro presidiu os Estados Unidos da América, cara!), a esquerda progressista identitária prefere chafurdar no passado, a fim de reparar um dado para o qual simplesmente não há reparo.

Pior: para a esquerda progressista identitária esse desejo de vingança mal-disfarçada de reparação só pode se dar por meio das (um Engov antes) políticas públicas (um Engov depois). Isto é, por meio da ação abrangente do Estado. Mas não um Estado qualquer. Estamos falando, aqui, de um Estado policialesco que se considera capaz de entrar na cabecinha dos racistas residuais, isto é, dos ignorantes, malcriados e mau-caracteres (a Internet ensina que este é o plural correto e quem sou eu para discordar?).

Aliás, aproveitando o assunto que eu mesmo levantei, são muitas as (justas) pautas da esquerda progressista identitária que avançaram no último século, sem que essa mesma esquerda progressista identitária tenha sido capaz de reconhecer tais avanços. No mundo civilizado, ninguém mais prega que mulheres fiquem em casa ou que não tenham direito a voto ou a salários iguais aos dos homens. Ninguém mais defende a prisão ou a pena de morte para homossexuais. Até travestis têm direito a mudar de nome.

A gritaria, porém, continua. E tem que continuar. Afinal, se não houver gritaria é porque o mundo lentamente vai tentando encontrar algum tipo de equilíbrio natural. E isso é inadmissível para a esquerda progressista identitária, que quer tudo “pra ontem” e da forma mais artificial e violenta possível. De preferência sob as ordens de um “déspota de bom coração” que vai mandar aquele seu tio que usou os pronomes errados para se referir a um trans negro gordo para um campo de reeducação – de onde ele sairá, oh, transformado. Com sorte, transformado justamente no trans negro gordo e anão que até outro dia mesmo feria de morte ao chamá-le de “ele”. Veja só.

No mais, quero encerrar este texto fazendo uma referência a Antônio Risério e seu artigo “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo” – uma obra-prima da provocação jornalística. No texto, que tem gerado histeria entre a esquerda progressista identitária, Risério faz referência a “Marcus Garvey admirador de Hitler (seu antissemitismo chegou a levá-lo a procurar uma parceria desconcertante com a Ku Klux Klan) e de Mussolini—, que virou guru de Bob Marley e do reggae jamaicano, fiéis do culto ao ditador Hailé Selassié, o Rás Tafari, suposto herdeiro do Rei Salomão e da Rainha de Sabá”.

Um negro antissemita que deu origem a um culto que idealizava um ditador que se dizia herdeiro do rei Salomão.
Uau! Como não há nenhum filme ou série (de comédia, claro) sobre esse personagem abjeto, mas fascinante e, na boa, completamente maluco? Aí é que está: em se tratando de racismo, verso e reverso, a história nos brinda com esses personagens para que aprendamos com os erros deles – e não para que repitamos os mesmos erros. Mas há quem prefira derrubar estátuas.

 Paulo Polzonoff Jr, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

Não pode haver inteligência livre

Alexandre Garcia

O Brasil acaba de perder um de seus maiores poetas.  foi embora na sexta-feira, com 95 anos. Deixou para nós o seu maior poema, Os Estatutos do Homem, escrito em 1964, hoje atualíssimo, nesses tempos estranhos. "Fica decretado que agora vale a verdade", é seu primeiro verso. 
Vivemos tempos em que se decretam qual é a verdade e qual é a mentira, retirando da consciência julgadora de cada um o direito de avaliar o que é o quê. "Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira", proclama o poeta no art. V. Mas a mentira é um jugo que escraviza quem prefere não pensar, apenas aceita qualquer mentira porque é mais fácil se deixar conduzir.

No art. XII, "decreta-se que nada será obrigado". Nesses estranhos dias que vivemos, parece que tudo é obrigado, até o veto das palavras que não permitem que você ponha na sua própria boca. Escolhem as palavras da sua boca! Parafraseando outro poeta, Eduardo Alves da Costa, primeiro escolhem palavras que você deva pronunciar, e você permite. Depois põem frases completas na sua garganta, e você cede. Quando semearem ideias inteiras no seu pensamento, você não pode fazer mais nada, porque já não pode pensar. E você deixa de ser uma pessoa, para ser uma peça descartável do coletivo.

Como se opera isso? No art. XIII, Thiago de Mello registra "o grande baú do medo". Essa é a arma que abre as defesas do indivíduo. O medo enfraquece, paralisa. Ameaça-se com um grande mal que paira sobre todos, já covas abertas e caixões prontos para receber o seu cadáver. Mas se você obedecer, para o seu bem, poderá ser salvo, desde que entregue a sua liberdade, se una à multidão dos que transferiram seu destino a grandes condutores de massas.

Não pode haver inteligência livre. Os rebeldes são alvo do denuncismo, os que demonstrarem teses contrárias são censurados, banidos para o limbo. O livro 1984, de George Orwell, escrito em 1949, é profético, mostrando o que acontece num país totalitário chamado Oceania. Até o nome foi um prognóstico, diante das atuais anulações de liberdades na Austrália. Ironicamente, ontem fez 234 anos que lá chegaram 736 condenados ingleses para colonizar aquela terra sob a égide da liberdade.

Vivendo como condenados em um regime sem liberdades, mais de 280 mil venezuelanos já regularizados no Brasil fugiram de sua pátria, de sua própria terra natal. Ao acolhê-los, oferecemos liberdade. A mesma que precisamos legar a nossos filhos e netos. O artigo final dos Estatutos do Homem estabelece que será suprimida a palavra liberdade dos dicionários e do "pântano enganoso das bocas", porque a morada da liberdade "será sempre o coração do homem". Mas a premonição literária dos poetas e escritores aqui citados é hoje uma perigosa realidade ganhando corpo. Não podemos nos omitir de reconhecer que cada um de nós está desempenhando um papel, por ação ou inércia, nesses tempos que já foram apenas ficção. [Excelente artigo; aqui no Blog consideramos amparar refugiados um DEVER CRISTÃO. 
Só que preservar a vida é um DEVER CRISTÃO MAIOR e a generosidade com que o Brasil recebe os venezuelanos, não é suficiente para que um FATO seja esquecido: cada venezuelano que consegue emprego no Brasil é mais um brasileiro desempregado a permanecer na miséria.
Não é possível ajudar estrangeiros sacrificando os nacionais.]
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Cenas de uma distopia - Revista Oeste

Gabriel de Arruda Castro

Durante uma semana, o tenista número 1 do mundo foi detido, exposto à execração pública e impedido de exercer sua profissão 

Quando os primeiros casos de covid-19 surgiram, na China, há dois anos, o mundo assistiu espantado às medidas radicais adotadas pelo regime comunista, herdeiro de um longo histórico de coletivismo e abuso estatal: em nome da saúde pública, as autoridades chinesas não hesitaram em trancar as pessoas em casa, fechar indústrias e escolas e restringir severamente as viagens internas. 
Pareciam cenas de uma distopia. Mas, com uma velocidade estonteante, medidas semelhantes passaram a ser adotadas por países que, até então, eram tidos como exemplos de respeito às liberdades individuais. E, como o caso do tenista sérvio Novak Djokovic deixou claro na última semana, a Austrália talvez seja um dos exemplos mais extremos dessa mudança.

Em uma escala de 0 a 100, o índice da Freedom House mais respeitado termômetro da democracia no mundo dá uma nota 97 à Austrália (a da Suíça é 96 e a dos Estados Unidos, 84). O Brasil aparece com 74 e a China, com 9). É de esperar que, em uma democracia praticamente perfeita como a australiana, direitos individuais básicos sejam respeitados. Mas esta não é a realidade em 2022. Durante uma semana, o tenista número 1 do mundo foi detido, exposto à execração pública e impedido de exercer sua profissão. Tudo porque, plenamente saudável e aos 34 anos de idade, optou por não tomar (ainda) a vacina contra a covid-19.

Djokovic nasceu na Iugoslávia comunista. No livro em que conta sua trajetória, ele descreve como, desde cedo, desenvolveu um ceticismo em relação às autoridades — de qualquer tipo. A lógica, na visão dele, se aplica às grandes indústrias farmacêuticas. Adepto de uma dieta com zero glúten e de métodos pouco convencionais para a manutenção da saúde, o sérvio costuma rejeitar medicamentos e tratamentos que enxerga como não naturais. A postura dele pode ser debatível do ponto de vista da medicina, mas não é um crime. Ou não deveria ser.

O calvário de Djokovic começou logo após ele desembarcar na Austrália, no dia 6 de janeiro. Àquela altura, havia obtido uma autorização dos organizadores do Aberto da Austrália, um dos torneios mais importantes do mundo. O documento garantia a ele o direito de participar do torneio, apesar da falta de um comprovante de vacinação. O sérvio tinha exames mostrando ter contraído a covid-19 (duas vezes), o que lhe assegurava uma imunidade natural ao vírus.

O Aberto da Austrália é o torneio mais importante do ano para Djokovic. Dos quatro principais campeonatos de tênis do planeta (chamados de Grand Slam), a competição australiana é aquela em que o sérvio tem mais conquistas: nove, inclusive os troféus de 2019, 2020 e 2021. Ninguém possui mais títulos do torneio do que ele. Esta edição seria ainda mais especial para o atleta. Uma vitória em 2022 tornaria Djokovic o recordista mundial em títulos de Grand Slam, à frente de Rafael Nadal e Roger Federer. Hoje, os três possuem 20 troféus do tipo.

Ao chegar ao aeroporto, na madrugada de 6 de janeiro, entretanto, Djokovic teve uma surpresa: sua entrada no país fora negada por causa da ausência do comprovante de vacinação. Como a chegada aconteceu pouco depois das 5 horas, ele pediu mais tempo para consultar sua equipe e entrar em contato com os organizadores do torneio. Em princípio, os oficiais australianos concordaram em esperar até as 8h30. Entretanto, as autoridades australianas mudaram de ideia rapidamente. Por volta das 6h15, Djokovic foi informado de que uma decisão final já havia sido tomada. Ele insistiu em apelar. E, enquanto aguardava o recurso, foi obrigado a ficar em um hotel usado pelo governo para manter imigrantes ilegais sob vigilância enquanto decide se concede a eles o direito de permanecer no país. O tenista passou quatro noites no Park Hotel, em Melbourne — uma espécie de centro de detenção que já vinha sendo alvo de queixas por causa das más condições. No fim de dezembro, um imigrante iraquiano publicou uma foto que mostra larvas de insetos na comida servida no hotel.

Na quarta-feira (12), o tenista finalmente obteve uma vitória na Justiça. O juiz responsável pelo caso considerou que o tenista não teve direito a defesa e ordenou que ele fosse liberado. “Apesar de tudo que aconteceu, quero permanecer e tentar competir no Aberto da Austrália. Continuo focado nisso”, afirmou o tenista. Ainda assim, o governo cogita revogar (novamente) o visto de Djokovic, expulsá-lo do país e impedi-lo de voltar à Austrália por três anos. Tudo em nome da saúde pública. Se isso acontecer, Djokovic terá 38 anos na próxima vez em que poderá jogar o Aberto da Austrália.

Durante sua batalha contra o governo australiano, o tenista recebeu apoio de autoridades sérvias e de fãs — alguns dos quais protestaram na porta do hotel-prisão. O tenista também obteve a solidariedade de um ídolo australiano: Kelly Slater, o maior campeão da história do surfe. “Talvez a síndrome de Estocolmo agora possa mudar seu nome para síndrome de Melbourne/Austrália”, escreveu Slater, ao criticar o tratamento dado ao sérvio.

A Austrália ganhou as manchetes por causa da queda de braço com Djokovic, mas os exemplos de abusos do poder têm se multiplicado

Para o infectologista Francisco Cardoso, as regras do governo australiano não fazem sentido. “A vacina que eles estão exigindo para o cidadão entrar no país não bloqueia a transmissão”, disse. “Se ele já teve covid e apresentou um teste negativo, isso dá muito mais do que fidedignidade de que esse paciente não está carregando o vírus do que um mero passaporte de vacina. Claramente, há o uso do pretexto vacinal para implantar uma política de controle muito restrita.”

Se há algo de positivo a ser dito sobre a postura do governo australiano, é o fato de que não há discriminação: tanto estrangeiros quanto nativos são tratados com o mesmo rigor exagerado e descabido. Cidadãos da Austrália que não estejam vacinados estão impedidos de deixar o país livremente. Caso planejem viajar para o exterior, precisam solicitar uma autorização especial. E nada garante que vão obtê-la: viagens a turismo, por exemplo, não são permitidas.

Abusos cada vez mais comuns
A Austrália ganhou as manchetes por causa da queda de braço com Djokovic, mas os exemplos de abusos do poder estatal têm se multiplicado. Países com um longo histórico de respeito às liberdades individuais se tornaram mais parecidos com a China, onde um sistema de “crédito social” pune cidadãos que não seguem à risca as diretrizes do Partido Comunista.

Na cidade de Nova Iorque, por exemplo, não é preciso mostrar nenhum documento ao votar, mas crianças de 5 anos de idade não podem entrar em restaurantes nem em cinemas se não tiverem comprovante de vacinação. Na cidade, hospitais públicos e privados demitiram centenas de médicos e enfermeiras que não tomaram a vacina, justamente no momento em que os hospitais precisam de reforço no atendimento.

Em Quebec, no Canadá, não vacinados estão proibidos de comprar álcool (e maconha, que é legal na Província canadense). Agora, o governo também estuda impor uma taxa sobre não vacinados. A África do Sul, por sua vez, construiu campos de internação para os quais são levados não apenas pacientes detectados com o vírus, mas aqueles que tiveram contato com algum infectado pela covid-19.

Outro direito considerado intocável nas democracias ocidentais tem sido ignorado: a liberdade religiosa. No Canadá, o pastor Artur Pawlowski foi preso porque sua igreja não cumpriu as draconianas regras de distanciamento social. Em Louisville, no Estado americano de Kentucky, o prefeito chegou a proibir não apenas a realização de cultos e missas dentro das igrejas, mas também a realização de cerimônias religiosas do tipo drive-in, em que as pessoas ficam dentro de seus carros.

O Brasil não é exceção. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que pretende tornar a vacinação obrigatória para a inscrição em concursos públicos do Estado. No Tocantins, um projeto de lei em tramitação também propõe a obrigatoriedade em concursos estaduais. 
A liberdade de culto também foi colocada em xeque. 
E nem mesmo as igrejas que cancelaram as celebrações presenciais estão a salvo. No ano passado, uma missa transmitida pela internet em uma igreja de Duartina (SP) foi interrompida por fiscais da prefeitura, apesar do templo vazio. O mesmo havia acontecido em Poços de Caldas (MG) meses antes.

Mas um exemplo ainda mais significativo, e mais recente, veio do Supremo Tribunal Federal. Em uma medida inédita, o STF decidiu no mês passado que brasileiros sem vacinação não podem voltar ao país, a não ser que passem por um período de quarentena. O direito de retorno à terra natal, assegurado pela Constituição e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi relativizado.

Conforme a variante Ômicron se espalha, o padrão de abusos aos direitos individuais dá poucas demonstrações de que vai arrefecer. A distopia chinesa se tornou o cotidiano de muitos países que, até pouco tempo atrás, se orgulhavam de respeitar os direitos humanos fundamentais. Anos atrás, o canal de TV da National Geographic produziu uma série que, em português, ganhou o título de Férias na Prisão. Cada episódio contava uma história — e muitos deles podem ser resumidos desta forma: estrangeiros incautos viajam para um país de Terceiro Mundo e acabam em apuros por causa de uma acusação falsa ou de uma lei absurda que eles não faziam ideia de que pudesse existir. [um dos ministros do STF, nos parece que o Barroso, pretendeu criar no Brasil a categoria de brasileiros exilados em aeroportos brasileiros. Recuou, já que certamente um dos seus assessores alertou para a mancada.]  O caso de Djokovic talvez inspire os produtores a filmar uma nova temporada, agora em novas locações.

Leia também “Um basta na pandemia” 

Gabriel de Arruda Castro, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Suplementos de colágeno realmente impactam pele, cabelo, unhas e articulações?

O Globo

Alice Callahan, do New York Times

Benefícios da suplementação parecem ser limitados, explicam especialistas, que não a indicam para pacientes com problemas de osteoartrite

Suplemento de colágeno está longe de ser uma unanimidade Foto: Reprodução
Suplemento de colágeno está longe de ser uma unanimidade Foto: Reprodução

"Consuma mais colágeno animal na forma desses suplementos, e você terá pele, cabelo e unhas mais saudáveis, além de acalmar as articulações e apoiar a função digestiva", prometem os rótulos.

Tais suplementos são feitos de tecidos animais ricos em colágeno que poderiam ser descartados pelos processadores de carne, como pele e ossos de bovinos e suínos, bem como escamas e pele de peixe. As proteínas são primeiro desnaturadas para formar gelatina e depois quebradas em fragmentos menores antes de serem incorporadas em produtos como pós, gomas, cápsulas e barras de proteína.

Leia mais: Os 7 hábitos que aceleram o envelhecimento da pele

Suplementos comercializados como "colágeno à base de plantas" não contêm realmente colágeno; eles afirmam apoiar a produção de colágeno com uma mistura de aminoácidos, vitaminas e minerais.

Pesquisas inconclusivas
Qualquer benefício possível de um suplemento como o colágeno depende de como ele é digerido e absorvido no trato gastrointestinal e se os produtos da digestão podem chegar aos tecidos-alvo e ter um efeito terapêutico. Algumas pesquisas analisaram partes dessa sequência e indicaram alguns possíveis benefícios, mas a história está longe de estar completa.

Entenda: De quanta água você realmente precisa? Cai o mito de beber 2 litros por dia

Veja a pele, por exemplo. O colágeno é uma das principais proteínas da derme, contribuindo para sua firmeza e elasticidade, explica Diane S. Berson, professora associada de dermatologia no Weill Cornell Medical College, em Nova York. A partir dos 20 anos, começamos a perder colágeno da pele, e ele pode ser ainda mais danificado pela exposição a fatores ambientais, como luz solar, fumaça de cigarro e poluição. Tudo isso leva a flacidez, enrugamento e secura, disse Berson.

Mas ela não está convencida de que comer colágeno pode atenuar esses efeitos. Alguns estudos mostram que tomar suplementos de colágeno por vários meses pode melhorar a elasticidade, a umidade e a densidade do colágeno da pele, mas Berson observa que são estudos pequenos e patrocinados pelas fabricantes dos produtos, aumentando a chance de vieses na pesquisa. — Não acho que esteja em posição de ridicularizá-los e dizer que isso definitivamente não funciona. Mas, como médica, gostaria de ver mais ciência baseada em evidências — disse ela.

Entenda:  Por que a Ômicron pode ser um 'presente de Natal'

Em vez disso, Berson enfatiza a importância de usar proteção solar, manter uma dieta saudável, beber muita água, evitar a fumaça do cigarro e dormir o suficiente — todas formas de "cuidar do colágeno que você já tem, em vez de tentar reabastecê-lo com suplementos", concluiu.

Existem poucas pesquisas sobre os efeitos do consumo de colágeno no cabelo e nas unhas. Um pequeno estudo descobriu que diminuiu a quebra da unha, mas faltou um grupo de controle para comparação. Outro produto que inclui colágeno como um dos muitos ingredientes parece melhorar o crescimento do cabelo, mas é impossível dizer que papel ele pode desempenhar nessa mistura.

Sem indicação para osteoartrite
Letícia Deveza, bolsista de reumatologia da Sydney Medical School, na Austrália, não recomenda de forma rotineira suplementos de colágeno para pacientes com osteoartrite. — A melhor evidência disponível sugere que eles têm apenas pequenos efeitos sobre a dor nas articulações, que provavelmente não são significativos para os pacientes — disse ela, acrescentando: — Minha preocupação é as pessoas confiarem demais em suplementos que não têm benefícios claramente demonstrados e negligenciar outros componentes importantes do tratamento da osteoartrite, como exercícios e controle de peso.

Suplementos de colágeno também são comercializados para atletas, mas "não há evidências que mostrem que tomar proteína de colágeno melhore sua capacidade de reconstruir ou curar", disse Stuart Phillips, professor de cinesiologia da Universidade McMaster em Ontário, Canadá, e autor de um recente estudo internacional sobre suplementos dietéticos. As alegações são “em grande parte lixo”, disse ele, acrescentando que a indústria de suplementos não é bem regulamentada.

O Globo - Saúde/Bem-estar


sábado, 10 de julho de 2021

Uma coletânea das leis mais absurdas do Brasil - Revista Oeste

Edilson Salgueiro

A maioria dessas leis mistura desconhecimento econômico e má-fé, diz André Costa, autor do livro que reúne alguns dos projetos mais esdrúxulos já aprovados no país

“O único poder que qualquer governo tem é o de reprimir os criminosos. Bem, então, se não temos criminosos o bastante, o jeito é criá-los. E fazer leis que proíbam tantas coisas que se torna impossível viver sem violar alguma.” A frase, retirada de A Revolta de Atlas, da filósofa russa Ayn Rand, abre o livro Leis Absurdas do Brasil (LVM Editora), do economista André Costa, e parece ter sido escrita para o país.

Em Belo Horizonte, por exemplo, uma lei obriga os mercados a informar aos clientes,na embalagem ou em placa fixada junto ao produto”, a melhor forma de consumir batata in natura: frita ou cozida. Em São Paulo, é proibido oferecer para consumo ovos crus — eles devem ser fervidos por sete minutos e apresentar gema dura; e os restaurantes são forçados a conceder desconto àqueles que realizaram cirurgia bariátrica ou qualquer outra gastroplastia. Parece pouco? Tem muito mais.

É o que mostra Costa, que divulga esses projetos absurdos nas redes sociais desde 2016. Por sugestão do cientista político Adriano Gianturco, professor do Ibmec, ele reuniu no livro os 51 mais esdrúxulos. “Atualmente, no Brasil, existem 180 mil leis vigentes”, escreveu Costa na introdução. “O país já editou e publicou desde a Constituição de 1988 mais de 5,4 milhões de textos normativos. São 769 normas por dia útil.” Ou uma a cada dois minutos.

Como escreveu o pensador austríaco Ludwig von Mises, “quem pede maior intervenção estatal está, em última análise, pedindo mais compulsão e menos liberdade”. Já passou da hora de os brasileiros exigirem menor intervenção estatal. E ganharem em troca a liberdade.

— Como surgiu a ideia de criar a página Leis Absurdas nas redes sociais e, depois, publicar um livro com parte desse material?
Depois de me formar na faculdade, em 2016, tornei-me sócio de uma agência de publicidade. Na ocasião, estava acontecendo o fim do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Então, era comum termos discussões um pouco mais acaloradas no escritório, já que os sócios tinham visões políticas diferentes. Durante o trabalho, comentávamos alguns projetos de lei que eram propostos. Na época, houve muita discussão em torno de um que queria retirar a obrigatoriedade de passagens aéreas serem vendidas com bagagem incluída. 
 
Fiz, então, um post no Facebook, explicando as consequências econômicas de impor a inclusão de bagagens em todas as passagens aéreas. O post repercutiu bastante, mas também gerou comentários exaltados daqueles que discordavam da minha visão. Decidi, então, não usar mais o Facebook para isso. Ao mesmo tempo, um dos meus sócios resolveu criar uma página naquela rede a fim de listar alguns projetos e leis inúteis sobre os quais já tínhamos discutido. Meses depois, eu me mudei para a Austrália e, como tinha muito tempo livre, resolvi retomar o projeto que meu sócio havia começado e criei a página Leis Absurdas no Instagram. No fim de 2017, recebi uma mensagem do professor Adriano Gianturco, do Ibmec, sugerindo que eu escrevesse um livro sobre as leis mais absurdas.
— Todas as leis que estão no livro são absurdas?
Do meu ponto de vista, pautado nas ideias libertárias, todas as leis que não são naturais são absurdas. Dito de outra forma, todas as leis positivas são absurdas, enquanto as leis negativas não são absurdas. 
As leis negativas são aquelas que, ao não fazer nada, você já as está cumprindo. Por exemplo: uma lei que proíbe a invasão de propriedade é uma lei negativa. Para que eu a cumpra, basta não fazer nada. Se eu não invadir a propriedade de outra pessoa, estou cumprindo a lei. 
Por outro lado, uma lei que versa sobre o direito à saúde é uma lei positiva. Nesse caso, alguém é obrigado a prestar um serviço a outra pessoa. Ou seja, para que eu cumpra essa lei, terei de pagar por isso a algum terceiro. Se eu não fizer isso, estarei descumprindo a lei.
Petrópolis (RJ) — Lei nº 7.587/2017. Dia do servidor público bonito esteticamente | Ilustração: Lézio Júnior
— Qual é o terreno fértil para a germinação de leis absurdas?
Frequentemente me perguntam se eu acredito que as leis absurdas decorrem de desconhecimento econômico por parte dos nossos políticos ou, até mesmo, má-fé. Acredito que seja um pouco dos dois. Existem os políticos completamente ignorantes a respeito de economia e que propõe leis esdrúxulas, sem ter noção das consequências que virão pela frente. Por outro lado, existem os políticos que, na busca por popularidade, propõe medidas absurdas, mas que vão ao encontro dos desejos de grande parte da população — já que a própria população tem pouco ou nenhum conhecimento econômico.
— Quais as leis mais absurdas que você encontrou?
O livro começa com a Lei nº 8.118/2000, de Belo Horizonte [MG], que obriga os supermercados a informar a melhor maneira de comer batata. Temos também a Lei nº 4.314/1998, de Bauru [SP], que determina a forma correta de fazer o sanduíche bauru. Há, ainda, leis que determinam a disponibilização de preservativos em bares e proíbem saleiros em restaurantes. Existe também uma lei que proíbe autoatendimento em postos de combustíveis e outra que torna obrigatória a presença de ascensorista em elevadores. O que não falta são leis absurdas de todos os tipos.
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Atualmente, você vive na Austrália. Há espaço para leis inúteis em países de Primeiro Mundo?
Há espaço para leis absurdas em todos os lugares. Na Austrália, porém, a quantidade é infinitamente menor que o número registrado no Brasil. Isso não impediu, por exemplo, o surgimento do projeto que quis obrigar o Facebook a pagar por notícias compartilhadas pelos usuários em suas páginas. Há, ainda, uma lei em Victoria, no sudeste da Austrália, que proíbe os estabelecimentos de servir comida na área de fumantes.

Leia também “O drama do panorama”

Revista Oeste, MATÉRIA COMPLETA