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sexta-feira, 29 de abril de 2022

Com indulto e embate entre Defesa e STF, Bolsonaro abre mais uma crise institucional

Com perdão a Daniel Silveira, presidente investe em novo confronto entre os poderes, criado sob medida para mobilizar seus apoiadores, arrastar os militares para a política e tumultuar o processo eleitoral [o confronto não foi criado por Bolsonaro,  que apenas exerceu uma prerrogativa constitucional = agiu dentro das 'quatro linhas da Constituição', tanto que o próprio STF está em silêncio há mais de uma semana, por falta do que dizer/fazer.]


arte Redes

Com a proximidade das eleições, que têm tudo para ser as mais disputadas e problemáticas da história recente, o cenário de polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se consolida, como indicam as pesquisas, e ganha elementos de uma crescente radicalização por parte do atual mandatário. Nos últimos dias, Bolsonaro e seus aliados pisaram mais fundo rumo ao perigoso abismo antidemocrático, atacando em duas frentes: no perdão concedido ao deputado Daniel Silveira e no embate entre o Ministério da Defesa e o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. [exercer uma atribuição que a Constituição lhe confere é acelerar rumo a um abismo antidemocrático? o ministro da Defesa criticar uma autoridade que acusa, sem provas,  aquele Ministério é conduzir o Brasil para um abismo antidemocrático?]

Juntas, essas investidas acabam servindo à mesma velha e conhecida estratégia do ex-capitão de jogar fumaça nos problemas reais do país, a exemplo da inflação recorde e do desemprego, e tentar fragilizar o Judiciário, atingindo por tabela a apuração da eleição, organizada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Embalado por esse comportamento beligerante, Bolsonaro jogou mais gasolina na chama da guerra com a Justiça e arrastou novamente os militares para o debate político dentro do campo mais perigoso possível, o dos ataques à confiabilidade do sistema eleitoral — tudo isso a cinco meses do pleito.

A má notícia é que a nova peleja entre os poderes tende a se arrastar até outubro. Primeiro, porque o presidente prefere brigar a governar, habilidade pela qual não nutre nenhum gosto ou vocação. Depois, porque ele entende que tal estratégia lhe traga votos. Para piorar, o desfecho em torno do indulto a Silveira não será rápido. Como se sabe, o deputado foi condenado pelo Supremo a oito anos e nove meses de prisão por ameaçar ministros da Corte e incitar a violência contra as instituições. Vários partidos de oposição questionaram a constitucionalidade do ato, alegando desvio de finalidade, em seis ações que serão relatadas pela ministra Rosa Weber — e ela já avisou que levará a decisão ao pleno do Supremo. Mas isso só acontecerá se o caso for pautado pelo presidente Luiz Fux. [ops... até que uma decisão válida do STF declare que a graça concedida é inconstitucional, vale o Decreto de Graça. Para considerar a graça inconstitucional é preciso reescrever os artigos 53 e 84 da CF.] Assim, não é possível dizer ainda se a graça concedida por Bolsonaro é constitucional, se ela já está valendo ou se só terá efeito a partir do trânsito em julgado da sentença, contra a qual ainda cabe recurso.

(...)

O alvoroço deve mesmo se prolongar porque Bolsonaro mostra disposição infinita para tal confronto. Na quarta 27, ele reuniu Daniel Silveira e deputados da base no Salão Nobre do Palácio do Planalto para uma solenidade de assinatura do decreto de indulto e voltou a disparar contra o STF ao dizer que há autoridades que “podem muito, mas não podem tudo”. Também repetiu que “joga dentro das quatro linhas da Constituição”, uma referência que faz com frequência ao Supremo. “Quem estiver jogando fora, é nossa obrigação trazê-­los para dentro das quatro linhas”, declarou. O evento, batizado de “ato cívico pela liberdade de expressão”, teve transmissão ao vivo pela TV Brasil.

A dobradinha Planalto-base aliada também gerou uma iniciativa classificada como “deboche” pela oposição: o PTB indicou Silveira para ser titular da Comissão de Constituição e Justiça, um dos principais colegiados da Câmara, responsável por analisar a viabilidade jurídica de projetos que tramitam na Casa. Na mesma quarta, sob protestos, ele assumiu a função. [além da CCJ, Daniel Silveira foi ELEITO titular em quatro outras Comissões.] No dia seguinte, o presidente voltou à carga, dizendo que a apuração dos votos costuma ser feita numa sala secreta do TSE (o que é mentira) e sugeriu que as Forças Armadas façam neste ano uma apuração paralela.

Como sempre ocorre na era Bolsonaro, a estratégia do tumulto é guiada por um cálculo político — na verdade, um cálculo digital, na expectativa de conquistar likes e engajamento nas redes. Em menos de uma semana, o indulto dado a Silveira gerou 1,45 milhão de postagens no Facebook, no Instagram e no Twitter, sendo 52% delas favoráveis à medida, segundo levantamento feito pela Quaest Consultoria com exclusividade para VEJA. Ainda que parte desse montante venha de robôs, a empresa conclui que o presidente “conseguiu mobilizar sua base aliada de forma efetiva, protagonizando o debate”. Outro estudo, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, que também se dedica a estudar o comportamento das redes, identificou que o caso ocupou 11,24% das menções no Twitter entre os perfis de direita — o pico de tuítes (100 000) foi às 18 horas do dia 21, quando saiu o decreto. O tom das menções mostrava que o discurso enviesado do presidente sobre a defesa da liberdade de expressão e a tentativa de fixar a pecha de autoritário no STF colaram entre o seu público e embasaram a maioria das mensagens (veja o quadro).

(...)

A nova série de ataques ao STF ganhou impulso após um seminário promovido por uma universidade alemã no domingo 24, com a presença do ministro Luís Roberto Barroso. Na ocasião, ele disse que as Forças Armadas “estão sendo orientadas” a atacar o processo eleitoral. Ainda que tenha sido bem-intencionada, a declaração não pegou bem, algo reconhecido depois até dentro do STF. 
Em nota dura, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, classificou a fala como uma “ofensa grave”. Uma ironia é que foi o próprio Barroso quem levou as Forças Armadas para dentro do processo eleitoral ao convidar os militares para integrar a Comissão de Transparência do TSE em 2021. No início deste ano, no entanto, a coisa desandou quando o general Heber Portella, membro da comissão, fez vários questionamentos sobre as urnas ao TSE. Bolsonaro usou isso para dizer em live que o Exército havia identificado “dezenas de vulnerabilidades” (mais uma mentira do presidente). Apoiadores passaram então a disseminar pelo Telegram mensagens sobre as supostas fragilidades.
REAÇÃO - Paulo Sérgio: o ministro da Defesa viu “ofensa grave” contra os militares -
REAÇÃO - Paulo Sérgio: o ministro da Defesa viu “ofensa grave” contra os militares – Alan Santos/PR

Em meio à crise, e acertadamente, o Supremo decidiu submergir. A interlocutores do STF, Barroso tem dito que suas falas foram tiradas de contexto. De fato, o ministro afirmou que existem tentativas de politização das Forças Armadas, mas ressalvou que, nos últimos 33 anos de democracia, elas foram “uma instituição de onde não veio notícia ruim”. Mesmo assim, a mensagem caiu mal entre diferentes setores militares, de acordo com altos oficiais que conversaram com a reportagem de VEJA, na condição de anonimato. Na opinião de um deles, causou profundo incômodo que as declarações tenham sido dadas em um evento no exterior, o que teria prejudicado a imagem da instituição lá fora. Mas os oficiais buscaram minimizar os impactos do episódio nas relações entre as Forças Armadas e o Supremo, dizendo considerar que as afirmações de Barroso refletem uma visão pessoal dele. Destacaram também que militares são legalistas e defendem saídas institucionais para as crises.

O problema adicional é que não se sabe mais onde acabam as Forças Armadas e onde começa o governo. Ao responder a Barroso, o general de quatro estrelas Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira falava como ministro, mas ele é também o mais alto superior hierárquico das Forças Armadas, abaixo apenas de Bolsonaro. [óbvio que falava como ministro e não tinha outra forma; as Forças Armadas foram caluniadas - mais grave ainda, no estrangeiro - e a obrigação de defendê-las é sempre do ministro que as comanda = ministro da Defesa.]  Outro integrante da ala militar instalado no Palácio do Planalto, o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência, também rebateu o ministro. “Eleições democráticas e transparentes fazem de nós um país soberano, por isso, nossas Forças Armadas estarão sempre vigilantes”, escreveu em rede social, como gosta o bolsonarismo. Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, também cutucou. “As Forças Armadas, convidadas para participar do processo eleitoral, estão sendo orientadas, como sempre, a ajudar a lisura do evento”, escreveu — o post teve 45 000 curtidas,       10 000 compartilhamentos e quase 1 000 comentários.

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Além da origem em comum, o ex-­paraquedista Bolsonaro promove tamanha mistura entre governo e militares também de olho em dividendos eleitorais. Pesquisa Datafolha de setembro de 2021 apontou as Forças Armadas como a instituição mais confiável para a população, com uma taxa de 76%. Para quem acompanhou a debacle da ditadura e a péssima imagem que eles tinham nesse período, trata-se de uma nova realidade. “O desgaste dos políticos não atingiu os militares, que ficaram às margens com uma imagem ‘técnica e apolítica’”, avalia o historiador e professor da UFF Daniel Aarão Reis. Do outro lado, no mesmo levantamento do Datafolha, o trabalho do Supremo foi apontado como regular por 35% e ruim ou péssimo por 35% dos entrevistados pelo Datafolha em setembro. “Os ministros do STF atual se expõem mais do que no passado, o que os deixa mais vulneráveis, com divisões internas mais aparentes”, diz Maria Tereza Sadek, cientista política da USP e especialista em Judiciário.

O histórico de envolvimento das Forças Armadas com a República vem desde a sua proclamação, quando o Exército ajudou a encerrar o Império e emplacou os dois primeiros presidentes: os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. No episódio mais recente, e de profundo impacto na história do país, os militares promoveram o golpe que depôs João Goulart e deram início ao mais longo regime autoritário do Brasil, que duraria 21 anos e foi um desastre em termos econômicos. “A sociedade brasileira atingiu um nível de complexidade que não permite a repetição de um golpe nos moldes de 1964”, acredita Aarão Reis. O ex-ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff — e à época comunista — Aldo Rebelo concorda. “Minha relação com os militares era tranquila. O que mudou foi a intenção de Bolsonaro de usá-los como aparato político”, entende.

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MOBILIZAÇÃO - Ato bolsonarista em São Paulo: pregação do presidente encontra eco nas rede sociais -
MOBILIZAÇÃO - Ato bolsonarista em São Paulo: pregação do presidente encontra eco nas rede sociais – Alexandre Schneider/Getty Images

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Insuflado o tempo inteiro pelo bolsonarismo radical, o clima de polarização supera hoje o de 2018, quando o então candidato do PSL e Fernando Haddad, do PT, ficaram com 75% dos votos no primeiro turno. No último pleito, o capitão triunfou apostando forte no antipetismo e nas pautas de costumes. Na eleição deste ano, porém, há diferenças preocupantes, a começar pelo fato de Bolsonaro largar em desvantagem. Além disso, ele não é mais um projeto fake de outsider. Tem o comando das Forças Armadas e o apoio de generais encastelados no poder. Por fim, é chefe de um poder em disputa aberta com o STF. O país e suas instituições, que já provaram a sua resiliência diante de devaneios golpistas, precisarão mostrar — mais uma vez — a sua maturidade diante da perigosa marcha promovida pelo presidente.

Publicado em VEJA, edição nº 2787 de 4 de maio de 2022

Em Política - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

 


 

Extradição barrada - Não houve gritaria quando Lula abrigou o terrorista Cesare Battisti

Vozes  - J.R. Guzzo

 

Lula jogou a culpa pela falha na avaliação do caso Cesare Battisti no ex-ministro da Justiça Tarso Genro (foto).| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Um dos melhores passatempos que estão disponíveis no momento na praça política é o estado de agitação nervosa e de revolta improdutiva contra o decreto presidencial que deu ao deputado Daniel Silveira o perdão para as penas que lhe foram impostas pelo STF. Pensaram em tudo, menos nisso – e agora, sem saber o que fazer, gastam energia numa daquelas revoltas sem causa que sempre levam a lugar nenhum.

Não há o que fazer, na prática. O decreto é à prova de bala do ponto de vista constitucional; não se pode mexer nele, a menos que se faça uma virada geral de mesa. Como disse o ministro Alexandre de Moraes em 2018, quando o presidente Michel Temer deu exatamente a mesma “graça” para um lote de condenados por corrupção na Lava Jato: perdão presidencial, “goste-se ou não”, tem de ser cumprido.

A oposição, a maior parte da mídia e o que se poderia chamar de “partido do Supremo” estão revoltados: foram ao próprio STF, aliás, pedir que seja anulada a anulação das penas do deputado. É uma alucinação
Está escrito na Constituição que o presidente da República tem o direito de dar esse perdão para quem quiser, na hora que quiser, de forma individual ou coletiva. 
Não precisa apresentar nenhuma justificativa para a sua decisão. 
Não precisa pedir licença a ninguém. 
Mais que tudo, não precisa submeter o decreto à apreciação de nenhuma “instância superior”. 
Não existe “desde que”, nem “salvo se” – é isso aí.

Aparecem então, no desespero, argumentos de nível ginasiano. A circunstância de Temer era “diferente”, alegam, embora não se explique qual poderia ser a diferença. O presidente agiu de “má intenção”, dizem, e “más intenções” invalidam o que está na Constituição. Quis “beneficiar” um aliado – e por acaso Temer, ao dar o seu indulto tido como impecável, quis prejudicar os perdoados? É daí para baixo.

O momento mais divertido, porém, ficou por conta do herói de quase todos os inconformados com o perdão ao deputado – o ex-presidente Lula. Como se viu, ele ficou quietíssimo quando o decreto saiu. Depois veio com a história de que “não quis dar cartaz ao Bolsonaro”, mas aí não deu para segurar: teve, sim, de falar no assunto maldito.

O fato é que Lula, antes de deixar a presidência, deu um "perdão" igual ao vetar a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti, que assassinou quatro pessoas na Itália e depois se refugiou no Brasil. E agora: está errado perdoar Daniel Silveira, que gravou um vídeo com xingatório contra o STF, e está certo livrar Battisti, que matou quatro?

Lula piorou as coisas, como sempre, jogando nos outros a culpa pelo que fez – no caso, disse que o culpado foi o seu ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, que lhe garantiu que Battisti era “inocente”. Àquela altura a justiça da Itália, em todas as suas instâncias, tinha decidido que ele era culpado por quatro crimes de homicídio – e isso, não pesou nada na avaliação de Lula? Quer dizer que “Tarso Genro falou, tá falado”?

O ex-presidente e candidato nas próximas eleições presidenciais acusou também o próprio Battisti; o “companheiro”, nas suas palavras, mentiu para ele ao dizer-se inocente. Lula acreditou na história do terrorista, coitado, e acabou cometendo o engano de mantê-lo no Brasil. Esse é Lula.

Esse é Lula. Esse é o seu passado
. Ele volta o tempo todo para interferir no presente e deixar mudos os seus devotos – tão indignados com o perdão a Daniel Silveira, e tão esquecidos do "perdão" a Cesare Battisti.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

Uma surra na Constituição - Gazeta do Povo

Vozes  - Luís Ernesto Lacombe

Está tudo errado. Dá para parar e começar de novo? Um recomeço, com cada um no seu quadrado, com harmonia e independência, todos conduzidos por leis mais do que suficientes. É impossível admitir a pressão política e ideológica, os trancos e empurrões como parte de uma guerra contra um governo, seus apoiadores, contra um país, seu povo, contra, enfim, a democracia.  
E não falem em nome dela, se artigos, parágrafos, tópicos, incisos, se a Constituição Federal não lhes permite interpretação, apropriação delirante, subjetividade criminosa, intenção maligna.
 
Viva a liberdade de expressão! Não dá para entender que aceitem a censura como forma de defesa da democracia. Não dá para entender que aceitem o sufocamento de ninguém, incluindo Allan dos Santos. 
Agora, Alexandre de Moraes, desprezado pela Interpol, determinou que a Anatel impeça o acesso de brasileiros ao site do jornalista... 
É a sanha do STF travestido de vítima, denunciante, investigador, acusador e julgador
O dono da verdade, o “editor do Brasil”, o “poder moderador”, nosso pai, nosso tutor, papai, mamãe, titia, aquele que “empurra a história”. O tribunal que se esparrama, com sua nódoa, pelos outros poderes da República, que ataca até as Forças Armadas.

Um tribunal que é refém de um movimento político não pode, ao mesmo tempo, querer estabelecer equilíbrio e justiça. Não há tribunal que se sustente quando disfarçadamente age politicamente, muito menos quando se assume abertamente um “ator político”,

É mais do que perseguir, é mais do que tentar calar, banir, é quase um linchamento. A ideia é desqualificar e desumanizar os “inimigos”. Contra um fascista, um nazista, um genocida vale tudo. Contra Daniel Silveira vale tudo... e um pouco mais. Vale prendê-lo, ignorando a imunidade parlamentar por “quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”... E não dá para ignorar a palavra “quaisquer”, incluída por emenda em 2001, quer dizer “todos” (ou todas, ou todes), é tudo, sem exceção. Aí inventam mandado de prisão em flagrante, flagrante perpétuo, vão rasgando a lei até um julgamento bizarro.

O réu, impedido de entrar no tribunal. Seu advogado intimidado, multado por supostos abusos nos pedidos de recursos... Não, claro que Paulo Faria não emocionou os juízes da suprema corte. Nada que se diga baseado em leis parece mesmo importar para eles. Está escrito, é só ler, é só abandonar a militância. Um tribunal que é refém de um movimento político não pode, ao mesmo tempo, querer estabelecer equilíbrio e justiça. Não há tribunal que se sustente quando disfarçadamente age politicamente, muito menos quando se assume abertamente um “ator político”, que se pinta de boa gente e aponta para o malvadão, o inimigo. E Cristiano Zanin, advogado de Lula, leva Gilmar Mendes à emoção, às lágrimas...

Veja Também:Juízes, verdades e democracia

O “abortoduto” adiado e a batalha pela vida no Congresso
  

A graça presidencial a Daniel Silveira tenta restabelecer a ordem constitucional, desfaz uma injustiça que se arrastava como uma corrente de abusos. “O decreto da graça e do indulto é constitucional e será cumprido. No passado, soltavam bandidos, e ninguém falava nada. Hoje, eu solto inocentes”, disse o presidente Bolsonaro. 
E os magistrados sabem que o indulto é uma prerrogativa do presidente; cabe somente a ele definir os critérios. Então, tomem tenência, seus juízes! 
Chega de defender a “democracia” de vocês e agredir, atacar, socar, espancar a Constituição todos os dias. 
Para a Câmara e o Senado, recado curto: tomem uma atitude! Caso contrário, serão cúmplices daqueles que têm rasgado leis.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Luís Ernesto Lacombe, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

A pior sofística tornou Lula reelegível - Sérgio Renato de Mello

Numa extensão temporal antes de Cristo (até 500 anos), Sócrates, Platão e Aristóteles, que dispensam apresentação, disputavam com os sofistas conhecimento, sabedoria, verdade e, por fim, virtude. Não que todos os sofistas buscavam isso. O que eles queriam mesmo era o pagamento pelas aulas que davam. Virtude e felicidade vinham em segundo plano ou disfarçadas pela retórica enganadora deles, como certos advogados e políticos de hoje, que relativizam em nome de um sonho, uma utopia, uma vida melhor. 

Alguns sofistas se destacaram. Eles pensavam alto, sim, como os filósofos. Era o trigo no meio do joio. Foi preciso que mentes mais elevadas surgissem para além do debate botequeiro, fantasioso, fraudulento e interesseiro. Só a reflexão individual desinteressada ou o diálogo humilde e cortês levava à virtude, bem pretendido naquela cultura.

Esta assombrosa realidade veio também para os julgamentos por atos delituosos daquela época. 

Certo da injustiça da acusação de ateísmo e sedução de jovens que pesava contra Sócrates e indignado com seu julgamento, Platão escreveu a seguinte carta:

"Outrora, na minha juventude, experimentei o que muitos jovens experimentam. Planejara, assim que alcançasse minha independência, começar imediatamente a participar dos assuntos públicos. Então aconteceram alguns incidentes com relação a esses assuntos. Como nossa Constituição do Estado estivesse sendo alvo de muitas críticas, ela estava sofrendo reformulações. Essa reformulação era conduzida por cinqüenta e um homens, que atuavam como seus autores […]. Ora, ocorria que alguns desses homens eram meus parentes ou conhecidos, e eles solicitaram que eu tomasse parte imediatamente nos negócios do Estado naquilo que me fosse pertinente. Como isso ocorresse na minha juventude, não causou espanto. Eu acreditava, no entanto, que eles administrariam o Estado de maneira que o conduzisse de uma situação de injustiça a uma forma de vida justa, de modo que aguardava sua deliberação com grande expectativa. Logo percebi, porém, que esses homens em pouco tempo faziam o antigo estado de coisas parecer uma idade de ouro. Entre outras coisas, enviaram Sócrates, um velho e caro amigo, que não hesito em declarar o homem mais justo daqueles que então viviam, acompanhado de outros, a um cidadão, com a intenção de levá-lo à força à execução ele [Sócrates] não lhes deu ouvidos, preferindo expor-se aos piores perigos a tornar-se cúmplice de ações criminosas. Em vista dessas coisas e de outras semelhantes e não menos importantes, indignei-me e afastei-me do mau regime de então.

Não muito tempo depois, porém, o mandato dos Trinta sofreu um duro golpe e, com ele, toda a Constituição do Estado. Senti então novamente, embora menos entusiasmado, o desejo de participar dos assuntos coletivos e políticos. Também aqui, em conseqüência da confusão, aconteceram coisas capazes de despertar a indignação […l. Infelizmente, algumas pessoas poderosas arrastaram diante dos tribunais nosso […] amigo Sócrates, levantando contra ele uma acusação das mais graves e no mínimo imerecida: alguns o acusaram de ateísmo, outros o consideraram culpado e executaram um homem que não quisera participar da detenção criminosa de um de seus amigos, outrora […] banido. A medida que voltava minha atenção para isso e para os homens que conduziam a política, e também para a boa educação e as leis, e quanto mais eu me entregava a essas observações e também avançava em idade, mais me parecia difícil a condução dos negócios do Estado; […] de tal modo que eu, antes cheio de ardor para trabalhar para o bem público, considerando tudo isso e vendo a comunidade sob todos os aspectos em completa desordem, acabei ficando aturdido e, apesar de não desistir de pensar […] num modo de melhorar a administração como um todo, esperando sempre o momento oportuno para agir, finalmente compreendi que todos os Estados atuais são mal governados [ I Fui então irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer a justiça nos assuntos públicos e individuais e que, portanto, as dificuldades do gênero humano não cessarão antes que a cooperação dos puros e autênticos sábios chegue ao poder ou que os chefes por aça divina, ponham-se de fato a filosofar" (disponível na excelente obra História da filosofia, de Christoph Helferick).

Sócrates insistia em perguntas que ele sabia sem respostas por amor a um método próprio dele, contrariando os sofistas, que, enganosamente, tinham respostas para tudo. Sócrates perguntava, fazia pensar, pensar, e depois não respondia. Não respondia não porque era ignorante. Não respondia porque a pergunta não tinha resposta. Conceitos importantes, como “virtude”, até hoje, são impossíveis de responder. Todavia, mesmo acabando em nada seus questionamentos, o Oráculo de Delfos o elegeu o homem mais sábio. Eu o chamo de O rei da aporia.

Por certo que isso irritava os sofistas e demais influentes da época.

Lendo a carta de Platão e analisando o julgamento de Sócrates lembro do julgamento da história do Brasil, envolvendo Lula.

No Brasil, em tempo de eleições presidenciais, a pergunta que desassossega corações e mentes é quem vencerá o certame. Pesquisas para lá de suspeitas apontam Lula na frente.

Se Sócrates usava a maiêutica (uma homenagem à sua mãe parteira) como arte de parir uma verdade, o judiciário brasileiro de mais de dois mil anos depois aborta uma falsidade, uma mentira. O STF tornou possível a elegibilidade de um condenado criminal, sem a etiqueta da culpa nos autos, mas com o certificado de corrupto na testa. Lula não é inocente nem aqui nem na China. Esta é a certeza que emana do coração de uma realidade clara e indiscutível.

No que o Supremo Tribunal Federal acreditou para anular o processo de Lula e trazê-lo ao mundo novamente? Peguei o costume socrático de perguntar sempre. Mas, aqui, acredito que temos a resposta, e ela não é nada convincente.

O STF, o moderador brasileiro por escolha própria, ou seja, sem voto, deve ter ouvido de algum oráculo por aí que os seus ministros são os homens mais sábios que existem e que Luis Inácio Lula da Silva é o melhor e fará realizar o sonho da utopia da felicidade (que, nos dias de hoje, equivale a impedir Bolsonaro de se reeleger). E eles acreditaram. A soltura de Lula é prova disso, pelo que constou do habeas corpus n. 193.726.

A mera anulação e soltura deu a impressão de que Lula não roubou o povo. Pura mentira. O povo tem esta representação do que aconteceu, uma ideia, uma imagem, é tudo, e é suficiente para desmistificar o Luladrão. 

Só restou ao povo brasileiro lamentar os “bons” advogados de Lula e os iluminados ministros do Supremo Tribunal Federal, todos unidos e crentes que Lula é a melhor solução para o Brasil. 
Lula é a medida de todas as coisas! Bradam eles, em imitação bem grosseira a Protágoras, o maior sofista contemporâneo das grandes mentes da antiguidade.

E, ainda, os sofistas podem contar com mais ajudantes nesta busca das “verdades”, a classe jornalista e certos “institutos de pesquisa”.

Se a conclusão das tais pesquisas estiver certa, uma verdade surge, enfim: a humanidade não evoluiu nada e a felicidade está cada vez mais longe de cada um de nós.

 Sérgio Renato de Mello  - O autor é Defensor Público de Santa Catarina


A “harmoniosa” divisão entre os poderes - Alex Pipkin, PhD

Nesse país de “democracia” ainda jovem, embora os cidadãos tenham direito a votar, característica marcante da democracia, os donos do poder são quase sempre os mesmos, de forma que o povo elege sistematicamente o que se poderia classificar como sendo “os mesmos”.
Sobrevivem no Brasil sistemas eleitoral e partidário disfuncionais, inibindo francamente o surgimento de novas lideranças embasadas em princípios, conceitos e ideias claras e efetivamente progressistas.

Nosso “Estado de Direito”, por sua vez, já deu várias mostras de que os donos do poder e a “elite” tupiniquim do estamento burocrático são de péssima qualidade, e diferentes dos meros comuns perante ao sistema legal verde-amarelo.
É importante lembrar que a divisão do governo em três poderes remete à Grécia Antiga.

Já a Constituição nacional, aparenta ter como modelo à norte-americana, da mesma maneira que de forma republicana, importamos o sistema de freios e contrapesos, em que cada um dos três poderes, que devem ser autônomos, pode exercer o controle sobre o outro, evitando os chamados abusos de poder.

Muito se alude ao equilíbrio entre os poderes, o que é desejável, uma vez que o Executivo tem o dever de aplicar as leis, o Legislativo é quem formula as leis, e o Judiciário julga as leis à luz da Constituição.
A divisão dos poderes, estabelecido os limites adequados entre eles, tornaria muito difícil a formação de um regime autoritário.
Sem que nenhum poder se sobreponha ao outro, em tese, teríamos um sistema de governança harmonioso.

No entanto, o que o povo brasileiro presenciou nos quatorze anos de governos do PT, foi exatamente isso, uma relação “harmoniosa” entre os poderes, inclusive capaz de se cegar para o maior assalto que ocorreu aos cofres públicos nacionais e, quiçá, mundial.

Hoje, transparentemente, vê-se um grave conflito entre o Poder Executivo e o Poder Judiciário, em que os membros do STF extrapolam ativamente suas funções, legislam rasgando à Constituição, e com abissal ativismo judicial, tomam decisões que afrontam o Legislativo e atacam flagrantemente o Executivo.

O país chegou a uma notória situação de agigantamento e avanço do Judiciário sobre os demais poderes, uma genuína ditadura da toga, em que aqueles que não são eleitos pelo povo, mandam e desmandam de acordo com seus interesses.   
Neste aspecto, caberia indagar, quem exerce o controle sobre o STF, ou seja, quem vigia o vigiador?

Claramente, há uma série de decisões do STF abusivas e inconstitucionais, que têm atuado descaradamente de forma política e enviesada, contra o presidente da República, para evitar uma eventual reeleição do mandatário.
Tal fato é extremamente grave, já que é o Judiciário aquele poder que deveria promover o equilíbrio entre os Poderes Executivo e Legislativo.
A pior composição do STF de todos os tempos, acaba de condenar o deputado Daniel Silveira por quase nove anos de prisão, pena completamente absurda e desproporcional, que fez com que o Executivo e o Legislativo tomassem iniciativas enfáticas, a fim de colocar o STF “no seu justo lugar”.

Há quem se contente - e esbraveje - com o “mecanismo processual”, com a demagógica retórica da “democracia e do Estado de Direito”, e com a suposta “harmonia entre os poderes nas relações de governança”.
Veja-se agora, com o decreto da graça concedida pelo presidente ao parlamentar Daniel Silveira, que contempla por si só as razões de tal ato, a semideusa togada ministra Rosa Weber, abriu dez dias para que o Presidente da República explique seu decreto. Explicar o quê?

Objetivamente, a usurpação do Poder Judiciário parece ser clara para quase todos os indivíduos e, especialmente, para o presidente, que embora atacado por grande parte dos políticos ministros do STF e pela mídia marrom, tenta adequadamente ajustar um julgamento político e desproporcional, e pelo Parlamento, agora reavivado frente os constantes abusos e sobreposições da Corte Superior.

O sistema se protege, e o pensamento e a ação corporativa do STF, ofusca o pensamento crítico dos togados, inclusive daqueles autodenominados “iluministas”, desautorizando-os de reconsiderar rotundos equívocos e de atuar de forma livre e independente.
Tomara que esse momento seja um prenúncio do fim da ditadura da toga e o começo de um efetivo sistema republicano de freios e contrapesos.

 Alex Pipkin - PHD

 

Rejeitado no passado, apoio a armas conquista líderes evangélicos no governo Bolsonaro - O Globo

Eduardo Gonçalves

Armamentismo ganha espaço na agenda de líderes evangélicos

Até dentro da bancada evangélica do Congresso, que chegou a se posicionar contra decretos pró-armas editados pelo presidente no passado, o assunto hoje divide opiniões 

A questão voltou ao debate nesta semana com o episódio envolvendo o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, pastor presbiteriano, que disparou um tiro acidental na área de check-in do aeroporto de Brasília. Graduado em teologia, ex-reitor do Mackenzie e professor de Direito, Ribeiro tem porte de arma expedido pela Polícia Federal e registro de Caçador, Atirador Desportivo ou Colecionador (CAC) emitido pelo Exército.

O ex-ministro, no entanto, não está sozinho no movimento cristão armamentista. Pastor pentecostal da Assembleia de Deus e ex-vereador pelo Republicanos, Cláudio Ferreira virou coordenador do grupo Pró-Armas em Sergipe. Em vídeos publicados nas redes, ele explica como tem estruturado o movimento no Estado, procurando apoio e patrocínios de donos de clubes de tiro e lojas de arma, além de pessoas dispostas a defender a agenda em cargos políticos.

— A grande maioria abraçou a causa aqui. (...) Nós [o pró-armas] já crescemos uns 70%, 80% do que éramos no passado. (...) Sabemos que hoje o pró-armas é a esperança de adquirirmos algum direito — diz ele, ressaltando a organização de caravanas para protestar em Brasília. Ferreira não foi localizado para comentar as postagens.

Em Pernambuco, o pastor e vereador pelo PP, Junior Tércio, e a sua mulher, deputada estadual Clarissa Tércio (PP), também incorporaram a pauta à sua agenda. Em postagens recentes nas redes sociais, o casal exibe fotos em que aparecem armados de pistola e escopeta num clube de tiro. Em uma delas, incluíram a seguinte mensagem: “Juntos enfrentaremos todas as guerras, seja no mundo espiritual ou material”.

Líder da Igreja Ministério da Fé, o pastor Fadi Faraj é outro propagador da tese de que o “direito de defesa é bíblico”.

— A questão é defender nossos valores e família. A Bíblia não contradiz defender a família. Por exemplo, quando a Palavra diz “não matarás”, é “defenderás” também — afirma Faraj.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Para não dizer que não falei das flores - Evaristo de Miranda

O Brasil produz 15.000 hectares de flores, o que representa  8% da produção mundial

A capacidade de sedução das flores é fundamental para a reprodução e a sobrevivência da planta. As flores são belas e perfumadas para seduzir seus polinizadores: insetos, aves e morcegos. Até os humanos são atraídos pelo perfume e pela beleza das flores, capazes de um verdadeiro encantamento. Eles seguiram o exemplo dos vegetais. Em sinal de afeto, amor e paixão, oferecem flores. Para seduzir, perfumam-se com fragrâncias e aromas retirados das flores.

Campo de calêndulas | Foto: Shutterstock

Diversos papiros do Egito antigo atestam a fabricação de perfumes e unguentos aromáticos a partir de lírios e várias flores. São muitas menções a perfumes na Bíblia. É emblemático o gesto da mulher rompendo um vaso de alabastro, repleto de perfume de nardo, lá das proximidades do Himalaia, e derramando-o sobre Jesus, ungindo-o da cabeça aos pés (Mt 26,7).

Maria Madalena derramou um frasco de alabastro, repleto de perfume de nardo, nos pés de Jesus Cristo | Foto: Reprodução

No passado, os perfumes eram extraídos de rosas, jasmins, lírios, laranjeiras e outras flores através do vapor, da fumaça. Daí a origem latina da palavra: per fumum, “pelo fumo”, pela fumaça, pelo vapor. E por meio de borrifadas vaporizadas, per fumum, as fragrâncias ainda se espalham no corpo humano e no ambiente.

O Livro da Química de Perfumes e Destilados, escrito pelo químico árabe Alquindi no século 9, apresenta centenas de receitas de óleos de fragrâncias, águas aromáticas ou imitações para drogas caras, além de mais de uma centena de métodos e receitas para a perfumaria. Essa presença árabe segue no nome de instrumentos da produção de perfumes, como alambique. No século 10, o médico e químico persa Avicena sistematizou a extração de óleos de flores pela destilação. Seus ingredientes e sua tecnologia da destilação marcaram a perfumaria ocidental até hoje.

A produção de flores é uma das obras-primas praticadas por pequenos agricultores. No Censo Agropecuário do IBGE de 2017, dos 5 milhões de estabelecimentos agropecuários recenseados no Brasil, 12.000 declaram ser floricultores lato sensu (flores, folhagens, mudas, sementes…), presentes em quase metade dos municípios brasileiros (mapa 1). Parte significativa desses floricultores possui uma organização empresarial e tecnológica avançada e intensiva. Atividade competitiva, nessa floricultura moderna estão mais de 8.000 floricultores profissionais. Seus cultivos têm área média de 1,5 hectare, segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura. A área total da floricultura ultrapassa 15.000 hectares. Parece pouco, comparado à de soja ou milho. Não é. A área mundial é da ordem de 190.000 hectares. A brasileira representa cerca de 8%.

Além desse grupo, existe uma fração de floricultores, de 3.000 a 4.000, em escala muito local, menos integrada aos mercados. Segundo pesquisa da Embrapa Territorial, em janeiro de 2022, dos pequenos agricultores com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), 3.152 declararam-se produtores de flores, além de outras atividades, com expressiva presença no Nordeste e até na Amazônia (mapa 2).

No Brasil, aproximadamente 9% das flores e plantas são cultivadas em estufas, 3% sob telados ou sombrite e 88% em campo aberto ou ao ar livre. Das 350 espécies e suas 3.000 cultivares, nativas e exóticas, 30% são flores e folhagens de corte, 39% são plantas e flores de vaso e 31% plantas ornamentais e para paisagismo.

Intensiva em capital e mão de obra, a floricultura emprega, em média, 3,8 trabalhadores por hectare. A cadeia de produção e comercialização envolve diretamente 200.000 pessoas: 50% nas propriedades, 40% no varejo, 4% na distribuição e o restante em atividades complementares. Nas pequenas propriedades, apenas 20% da mão de obra é familiar, os outros 80% são contratados. Boa parte da mão de obra é feminina. As mulheres demonstram maior destreza, habilidade e cuidado no manuseio de flores e plantas. Floriculturas vendem beleza e embelezamento, associados à presença de mulheres nos pontos de venda.

A Lei de Proteção de Cultivares, de 1997, viabilizou a entrada no mercado brasileiro de novos cultivares e lotou as prateleiras de floriculturas e pontos de venda com uma gama ampla de cores e formatos até então desconhecidos dos brasileiros, aumentando a oferta e a diversidade.

O valor bruto da produção passou de R$ 0,3 bilhão, em 2004, para R$ 11 bilhões, em 2021. São Paulo responde por praticamente 70% desse valor. O consumo de flores cresceu, no mesmo período, de R$ 15/habitante/ano para cerca de R$ 65 (US$ 12), ainda muito aquém do consumo na Suíça (US$ 174), na Alemanha (US$ 98), na França (US$ 69) e nos EUA (US$ 58).

O faturamento do setor cresce entre 12% e 15% anualmente. São cerca de 600 empresas atacadistas no mercado de flores e mais de 25.000 pontos de venda. Mais da metade do consumo se concentra no Estado de São Paulo e 85% no Sudeste. O mercado nacional absorve 97,5% da produção. Só uma pequena porcentagem é destinada à exportação. Os principais polos de produção estão no Estado de São Paulo, em Arujá, Atibaia, Holambra e Ibiúna. Outros em Andradas, Barbacena, Munhoz (MG); Nova Friburgo, Petrópolis, Serra da Mantiqueira (RJ); Vale do Caí (RS); Joinville (SC); e Serra da Ibiapaba (CE). Flores e folhagens tropicais são produzidas em localidades no litoral do Nordeste (AL, PE, RN e BA).

Ambiente de trabalho ornado com flores não é mais exclusividade de mulheres. Homens presenteiam e são presenteados com flores

A floricultura sofreu com os lockdowns no início da pandemia: cancelamento de festas, casamentos, batizados, bodas e outros eventos. Houve queda brutal na demanda por decoração com flores de corte (rosas, crisântemos, astromélias, lírios…). O tratamento do consumo de flores como algo supérfluo no início da pandemia foi revertido graças a campanhas intensas dos produtores, sobretudo no varejo, em supermercados e floriculturas.

Pessoas em home office, confinadas, buscaram maior reconexão com a natureza. Os floristas propuseram opções: da decoração com flores e até no cultivo limitado de plantas ornamentais, para tornar o ambiente de trabalho mais prazeroso e dar maior aconchego e bem-estar às casas. Durante o isolamento, a jardinagem passou a ser praticada nas casas e se tornou um hobby de muitos brasileiros. Isso ampliou e diversificou a demanda. E exigiu novas soluções em buquês, ramalhetes e plantas, além do comércio de vasos, ferramentas, pequenos sistemas de irrigação, estufas e outros. Flores de vaso, orquídeas, suculentas, cactos, antúrios e até bonsais ampliaram as vendas.

Jardinagem e plantas para decoração ajudaram no crescimento do mercado de flores entre 2020 e 2021. E, mesmo com o recuo da covid, jardins e ambientes com flores ainda se mantêm. Somaram-se a essa demanda, novos hábitos. Ambiente de trabalho ornado com flores não é mais exclusividade de mulheres. Homens presenteiam e são presenteados com flores.

A floricultura e os floristas investiram e inovaram em comunicação e comércio digital. Criaram sites, ampliaram sua inserção em redes sociais, telemarketing e aperfeiçoaram os serviços de delivery. Cresceu a venda no varejo. Floristas já eram pioneiros em entrega de flores em domicílio, mesmo à distância. Agora, ganharam uma escala maior e mais sofisticada.

Após as perdas, as vendas de 2021 superaram as de 2020 e, em alguns segmentos, até de anos anteriores. A demanda cresceu. Maio é um mês das flores, com o Dia das Mães. Junho também, com o Dia dos Namorados. As duas festas somam quase 40% das vendas ao longo do ano. Aqui, o Dia dos Namorados é na véspera da festa de Santo Antônio, e não no dia de São Valentino.

Associar flores, namorados e Santo Antônio é natural. Ele foi um pregador culto e apaixonado, com grande devoção aos pobres. Veneradíssimo no Brasil como o santo dos amores e dos casamentos, ele abre o ciclo das festas juninas. Ao tornar-se monge, ele adotou o nome Antônio ou “flor nova”, anto nous: do grego ánthos “rebento, broto, flor”, presente em antúrio, e da expressão latina novus “novo”. Antônio foi mesmo uma nova floração para o Cristianismo na Europa e um expoente da Ordem dos Franciscanos.

Flores decoram imagem de um santo católico
Flores decoram imagem de Santo Antônio | Foto: Reprodução

Na floricultura, todo dia se planta e se colhe. A busca da perfeição é absoluta. Não pode haver defeito ou mancha nas flores. Se não, são descartadas. Esse perfeccionismo é associado à sustentabilidade. Nas estufas, se a temperatura sobe demais, o floricultor a resfria, e vice-versa. A água gerada pelos sistemas de refrigeração ou das chuvas é recuperada e utilizada na produção. Cada vez gasta-se menos água por vaso produzido, graças à eficiência dos sistemas de irrigação, à gestão dos melhores horários para irrigar etc. O setor investe muito em energia solar. Teme falta de energia ou um fornecimento de má qualidade, capaz de comprometer seus equipamentos sofisticados.

Em São Paulo, a Feira Internacional de Paisagismo, Jardinagem, Lazer e Floricultura reúne mais de 200 expositores nacionais e internacionais. Outros cartões-postais da floricultura são a Expoflora, em Holambra (SP), e a Festa das Flores de Joinville (SC). Esses eventos técnicos e turísticos reúnem milhares de produtores, fornecedores de equipamentos, insumos e centenas de milhares de visitantes. Como as feiras agropecuárias e as de peão, as festas das flores são vitrines para o consumidor urbano da potencialidade da agropecuária e dos pequenos agricultores tecnificados.

Uma frase conhecida dos floristas foi adotada por muitos. As flores transformam uma casa em lar. Vale para o agro e para o país.

Flor Pink Rose, em Holambra | Foto: Tamy Atamay/Shutterstock

Leia também “O Brasil não precisa importar trigo”

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste

 

A “Nova Ordem Mundial” de Biden - Revista Oeste

A imaginação globalista é espontaneamente atraída para uma perspectiva que menospreza a cultura nacional e seus valores tradicionais 

Justo quando se achava que a ideologia globalizada tinha sido fatalmente exposta como irrelevante, torna-se evidente que, para alguns, o ressurgimento do conflito geopolítico funciona como uma oportunidade para criar uma Nova Ordem Mundial.

Joe Biden | Foto: Gints Ivuskans/Shutterstock

Joe Biden | Foto: Gints Ivuskans/Shutterstock

Em um discurso recente, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu sua ambição de estabelecer uma Nova Ordem Mundial baseada em valores woke. Ele disse a um grupo de líderes corporativos norte-americanos que o mundo está mudando e que “vai haver uma Nova Ordem Mundial, precisamos estar na liderança e, enquanto fazemos isso, precisamos unir o restante do mundo democrático”.

Para Biden, a guerra na Ucrânia gera uma oportunidade para unir o Ocidente em torno de uma nova versão da Guerra Fria contra o Império do Mal 2.0. Apesar de não ter explicitado o que quer dizer com Nova Ordem Mundial, é evidente que ela guarda uma forte semelhança com a visão da Great Reset (ou Grande Reinicialização), propagandeada pelos líderes do Fórum Econômico Mundial
A Great Reset divulga uma ideologia do Novo Normal que tem como objetivo subordinar a soberania nacional e os interesses nacionais aos ditames de instituições globais supostamente neutras e generosas comandadas por especialistas e tecnocratas. Essa é uma ideologia que promove uma síntese de engenharia social com os valores do soft power norte-americano.
 
O Novo Normal costuma ser comunicado por meio da linguagem do ambientalismo. De acordo com seu dogma, a pandemia da covid-19 foi um sinal de alerta e enfatizou o perigo das viagens internacionais. 
Os ativistas verdes afirmam que a antiga forma normal de nos alimentar e organizar a vida econômica é, pelo menos indiretamente, responsável pelo surgimento da pandemia. 
 
Sua visão de um Novo Normal implica a aspiração e a atividade humanas estarem subordinadas ao dogma ideológico de uma sociedade carbono zero.
Na esfera da economia, defensores do Novo Normal argumentam que o capitalismo em si precisará ser reestruturado. Um blog do Banco Mundial prevê que corporações internacionais vão assumir uma “responsabilidade maior” em relação ao meio ambiente e vão colocar um “foco maior na sustentabilidade e nas iniciativas verdes”
A conquista da descarbonização foi desenvolvida como a ambição maior da cultura do Novo Normal. 
Essa é uma perspectiva defendida pela oligarquia globalista associada ao Fórum Econômico Mundial.

Os últimos 18 meses, lançaram uma tendência sem precedentes de medicalização da política

A ideia da Great Reset associada a essa instituição tenta gerar uma reviravolta positiva ao Novo Normal. Ela afirma que a utilização de uma nova tecnologia, sob a orientação generosa dos tecnocratas especializados, vai criar um mundo mais justo. No que diz respeito a esses especialistas, nos próximos anos o Novo Normal será muito mais tecnológico do que hoje.

Na esfera política, o Novo Normal levaria à subordinação da tomada de decisão democrática ao imperativo da governança tecnocrática. Esse sentimento se expressa de forma mais estridente por meio da demanda de agentes de saúde pública por mais voz na administração da sociedade. Os últimos 18 meses, lançaram uma tendência sem precedentes de medicalização da política. Para alguns defensores, o Novo Normal significa mais do mesmo.

Defensores de uma Nova Ordem Mundial se sentem política e culturalmente alienados de suas próprias instituições nacionais. Isso pode torná-los inconsistentes na busca por seus próprios interesses nacionais, até mesmo incertos em relação a eles. As elites consideram mais fácil fazer as coisas por redes internacionais, porque já estão cada vez mais afastadas da vida e das perspectivas dos cidadãos comuns em seus países.

Um dos primeiros comentadores a chamar atenção para a tendência à desnacionalização das elites foi o filósofo político norte-americano Christopher Lasch. Ele escreveu em 1995: “Aqueles que cobiçam fazer parte da nova aristocracia de cérebros tendem a se reunir no litoral, virando as costas para o interior e cultivando laços com o mercado internacional na movimentação rápida do dinheiro, no glamour, na moda e na cultura popular. É uma questão de eles se considerarem norte-americanos ou não. O patriotismo certamente não ocupa uma posição muito alta na sua hierarquia de virtudes”.

Lasch notou que, em contraste com a falta de entusiasmo pelo patriotismo, elas abraçam o multiculturalismo e a diversidade.

A imaginação globalista é espontaneamente atraída para uma perspectiva que menospreza a cultura nacional e seus valores tradicionais. É por isso que os membros da elite globalista e sua instituição desempenham um papel tão central na Guerra Cultural. Ao mesmo tempo, por meio das guerras culturais, o descolamento das elites em relação à vida de uma nação foi intensificado. Nessa perspectiva, as elites se sentem mais próximas de seus amigos transnacionais do que de seus concidadãos “que não pensam como nós”.

Em décadas recentes, a distância psíquica entre a visão da elite e as sensibilidades nacionais aumentou. Atraídas pelo multiculturalismo e pela sacralização da diversidade, ela se envolveu na promoção da política identitária. Esse sentimento é despertado pela doutrina da Grande Reinicialização promovida pelo Fórum Econômico Mundial. A Great Reset vislumbra um mundo pandêmico em que a política identitária LGBTQ+ substitui o antigo normal. E afirma que “a inclusão LGBT+ é o segredo para o sucesso pós-pandêmico das cidades”. Também sugere bizarramente que “existe uma forte correlação positiva entre a inclusão LGBT+ e a resiliência econômica”. É evidente que hastear a bandeira do arco-íris se tornou fundamental para a identidade do Homem de Davos.

Do ponto de vista desse Homem de Davos, os governos de nações como o Brasil, a Hungria e a Polônia são o que eles chamam de “o lado errado da história”. Governos que levam o princípio da soberania nacional a sério e se recusam a subordinar sua economia e sua sociedade aos ditames de especialistas internacionais se tornam párias na Nova Ordem Mundial de Biden.

Por sorte, as realidades geopolíticas atuais destacam a importância do Estado nação. 

A pandemia mostrou que, no fim das contas, as pessoas precisam de seus governos nacionais, e não com instituições como a Organização Mundial da Saúde. 
Com a deflagração da guerra na Ucrânia, o fracasso das organizações internacionais ficou muito claro. 
Nessas circunstâncias, as chances são enormes de que a realidade de um mundo de nações frustre a ascensão da Nova Ordem Mundial de Biden.

Leia também “A patrulha das ideias tomou conta das universidades”

Frank Furedi, colunista - Revista Oeste

[Em fevereiro 2022, o Blog Prontidão Total, total e ferrenhamente anticomunista, expressou sua opinião favorável ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, por várias razões, especialmente por ele ser mais conservador outros supostamente conservadores.
A matéria acima comprova que nossa posição, que permanece, está correta e que  Joe Biden, é pior para o mundo que Putin.
Para eventuais interessados, linkamos a matéria.
Confiram nossas razões.]
 

Câmara debocha [sic] do STF ao empoderar Daniel Silveira, o condenado - Radar

Dias depois de Daniel Silveira ser condenado por ameaçar ministros do tribunal e defender um novo golpe militar, Silveira deixa o baixo clero da Casa

A Câmara deu sinais concretos nesta quarta-feira de que não tem apreço pelos ministros do Supremo nem pela instituição máxima do Judiciário.

Dias depois de Daniel Silveira ser condenado por ameaçar ministros do tribunal e defender um novo golpe militar, com o fechamento do STF, os deputados acharam positivo para a imagem do Parlamento empoderar o parlamentar golpista.

Se a visão de Silveira fosse vigente no país, muitos dos colegas dele na Casa não teriam tal liberdade. Numa democracia, porém, a desmoralização política também é um direito das excelências, que chegam ao nível ainda mais baixo nessa legislatura ao escolher seus líderes nas comissões.

Silveira ganhou o colo de Jair Bolsonaro por ser um instrumento na campanha do Planalto para desmoralizar o STF, algo que ajuda a mobilizar votos na base radical bolsonarista. Agora, ele é também titular da CCJ, a comissão mais importante da Câmara, e será vice-presidente da Comissão de Segurança Pública.

Radar - VEJA

 

 

Rússia diz que dar armas à Ucrânia ameaça a segurança europeia

O presidente russo, Vladimir Putin, disse que países que tentarem intervir no conflito sofrerão retaliações 'rápidas como um raio' 

O Kremlin afirmou nesta quinta-feira, 28, que o esforço dos Estados Unidos e seus aliados ocidentais para fornecer armas à Ucrânia, incluindo artilharia pesada, representa uma “ameaça à segurança do continente europeu”.

Devido ao aumento do contingente de armas enviadas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acusou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de travar uma guerra por procuração contra a Rússia.

"...  Por exemplo, a Polônia acaba de ganhar dos EUA um esquadrão inteiro de tanques novinhos. Em agradecimento, a Polônia anunciou que vai doar seus tanques velhos para a Ucrânia. Me veio à cabeça a imagem de minha avó dizendo potselui meni v sraku...."


+ Envio de armas dos EUA a Kiev é como ‘jogar gasolina no fogo’, diz Rússia

“Em si, a tendência de enviar armas, incluindo armas pesadas, para a Ucrânia e outros países são ações que ameaçam a segurança do continente e provocam instabilidade”, disse Peskov. Seu comentário veio após declarações da secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, que disse na quarta-feira 27 que os países que se opõem à invasão da Ucrânia pela Rússia devem dobrar seu apoio, incluindo o fornecimento de armas pesadas, tanques e aviões.

+ Alemanha abandona cautela com guerra e envia armas pesadas para Ucrânia

A Rússia, que matou milhares de pessoas e deslocou milhões ao invadir a Ucrânia, sempre retratou a Otan como um agressor que a obrigou a defender sua própria segurança.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse na quarta-feira que qualquer país que tentar intervir no conflito, criando ameaças estratégicas ao seu país, “está avisado que nossos ataques de retaliação serão rápidos como um raio”.

 Mundo - VEJA


Não com nosso silêncio! - Percival Puggina

Aonde vá e com quem fale, a pergunta tem sido sempre a mesma: o que fará o STF? A dúvida está posta porque a longa experiência, registrada no cartório dos fatos e feitos, mostra que aquela instituição, com os atuais membros, faz o que quer.

A resposta, portanto é esta: eles farão o que bem entenderem ser de seu interesse e conveniência. E se o leitor destas linhas pertencer ao pequeno número dos que têm dúvidas a respeito, deixarei à mostra a raiz da atual crise institucional. Refiro-me à trágica decisão que entregou ao próprio STF a competência para instaurar inquéritos sobre atos praticados contra ministros.

Em um dos capítulos do excelente livro “Inquérito do fim do mundo”, o Dr. Marcelo Rocha Monteiro, que é Procurador de Justiça no TJ/RJ, acende um holofote de pura racionalidade sobre o artigo 43 do Regimento Interno do STF. Mostra o quão longe foram os ministros na interpretação desse artigo quando resolveram, por exemplo, que postar vídeo na “nuvem” do YouTube xingando ministro é crime praticado nas dependências do Supremo.

Faz muito sentido que inquéritos referentes a crimes praticados nas dependências da Casa sejam conduzidos pelo próprio Poder (aquele ambiente não deve ser invadido por procedimentos investigatórios).  Foi preciso, porém, “apagar as luzes do Direito Brasileiro” para promover o linchamento caseiro de Daniel Silveira, transformando o que ele fez em crime cometido nas dependências do STF, como se os ministros fossem salões e corredores da Casa.

Não bastasse isso, ao levar o caso para dentro de casa, criou-se a suprema aberração que deveria ferir toda consciência bem formada –  vítimas julgando réus com sumária demissão do princípio da neutralidade do juiz.

As consequências vieram de roldão. Um vídeo virou flagrante perpétuo, a viger para além da morte de quem o tenha gravado. Dá causa a prisão, no recinto do lar, horas altas da noite. Vira crime inafiançável e permite que, contrariando a lei, a prisão se prolongue por semanas etc., etc., etc..  

Foi por esse mau caminho e ainda pior motivação que as reprováveis declarações de Daniel Silveira lhe renderiam quase dez anos de cadeia, um despropósito concebido e nascido no pecado original acima descrito. Seremos surpreendidos por qualquer decisão que não sofra do mesmo mal.

Quando a Corte age como parte, atua como procurador da parte. Pinçará, então, entre normas e votos, o que bem lhe convier.Não com nosso silêncio. Domingo estaremos nas ruas e praças do país.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Aborto: “Você concorda que um problema não se resolve matando alguém?” - Cristina Graeml

VOZES - Gazeta do Povo

Entrevista: Jacyr Leal, médico obstetra

 
Aborto é palavra feia. Um disfarce de liberdade para esconder o assassinato cometido contra o mais inofensivo dos seres, aquele que ainda nem nasceu. Mesmo quando autorizado por lei, é ato associado a motivo torpe e cometido sem qualquer chance de defesa à vítima.

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No Direito Penal chama-se qualificadoras ou agravantes as circunstâncias que tornam um crime ainda mais reprovável. Cometer um atentado à vida de outra pessoa sem ser por legítima defesa, ainda mais quando a vítima não tem forças ou condições de reagir, são motivos mais que suficientes não só para condenação, mas também para aumento de pena.

Melhor seria falar em "defesa da vida" para divulgar a entrevista que fiz com o Dr. Jacyr Leal, médico obstetra, com especialização em medicina fetal e quase quatro décadas de experiência trazendo bebês ao mundo, depois de cuidadoso atendimento a gestantes ou, acolhimento, como ele prefere dizer.

Leia mais: Convicções Gazeta do Povo - Defesa da vida desde a concepção
Aborto ou defesa da vida?


O uso da palavra aborto no título e no texto é estratégico. A intenção aqui é acionar os algoritmos de busca, já que mulheres em desespero com a confirmação de uma gravidez não planejada costumam digitar aborto na internet, em busca de informações sobre formas clandestinas de impedir o desenvolvimento do próprio filho.

Vai que elas caem nesta entrevista e aceitam repensar a proposta que lhes foi imposta por uma sociedade cada vez mais egoísta e movida por ideologia! Vai que aceitam ouvir o que este médico tem a dizer.

Jacyr Leal, na condição de defensor da vida desde a concepção, posiciona-se abertamente contra a ideia de que embriões, fetos e até bebês possam ser esfacelados e arrancados do ventre de suas mães.
O médico não julga ou recrimina as pacientes apenas porque elas, em momento de desespero, não veem outra saída a não ser, livrar-se daquela vida "inoportuna" para resolver o que pensam ser um mero "problema".

Argumentos pró-vida
Depois de quase quatro décadas de experiência atendendo e acolhendo gestantes, Jacyr Leal desenvolveu uma forma bastante contundente de provocar reflexão sobre aborto. O intuito é sempre salvar a vida dos bebês, missão que tem levado a cabo com sucesso na quase totalidade dos casos.

Atualmente o médico grava também vídeos para divulgar suas ideias contra o aborto nas redes sociais e dá palestras para levar adiante a proposta de defesa da vida desde a concepção. O vídeo mais recente publicado em seu canal no YouTube começa com uma série de perguntas.

Lula pró-aborto tenta confundir o debate sobre saúde pública e menospreza a vida
Defesa da Vida: marcha nos EUA revela jovens engajados contra o aborto

"Você concorda que um problema não se resolve matando alguém?
Que uma sociedade não sobrevive com respostas simples?
Você sofre uma afronta e a única solução que enxerga é matar o outro? 

Destruir? Abortar?
Me perdoe o modo de tratar esse tema, mas é importante.
Sou obstetra, faço sempre uma criança nascer, nunca, morrer."

Jacyr Leal, médico obstetra, em vídeo disponível no YouTube

Vale a pena acompanhar a entrevista completa e se municiar de mais argumentos para, também você, poder atuar como defensor da vida. Você verá um profissional experiente emocionado até ao falar de vidas oriundas de estupro, situação na qual o aborto é permitido no Brasil. "As crianças costumam nascer com 'a cara da mãe'. E, com certeza, têm avós. Vai deixar o neto deles ser morto?", pergunta o médico segurando o choro, ao revelar o que costuma dizer para gestantes que sofreram violência sexual e engravidaram de forma traumática.

Até mesmo a argumentação do médico sobre dar chance de vida a fetos anencéfalos é digna de consideração. 

Cristina Graeml, colunista - Gazeta do Povo - VOZES