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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

A invasão do Congresso dos EUA e nós aqui - O Estado de S. Paulo

Celso Ming

Tentativa de golpe produzirá desdobramentos que ainda não se podem prever

[os Estados Unidos são os Estados Unidos e 'nós aqui' somos do Brasil - coisas distintas, situações diversas e soluções específicas.

É o conhecido 'Cada coisa é uma coisa e não se confunde com nenhuma outra, por mais parecida que seja'.]

A invasão do Capitólio, em Washington, pelos extremistas seguidores do presidente Trump, nessa quarta-feira, produzirá desdobramentos que ainda não se podem prever. O desfecho desse 6 de janeiro segue a lógica da política isolacionista, xenófoba, populista e antidemocrática adotada pelo governo dos Estados Unidos nestes últimos quatro anos.

[Sábia e adequada definição do presidente JAIR BOLSONARO sobre o incidente ocorrido, dia 6, nos Estados Unidos: 
“Qual foi o problema (nos Estados Unidos)? Falta de confiança no voto. Então lá, o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram”,  disse Bolsonaro."]

Se não pode levar pelo voto, a eleição não serve. É invariavelmente “roubada”, quando os da turma são vencidos nas urnas. Numa primeira tentativa, vale apelar para a guerra judicial e, se não adiantar, a saída é o golpe. Se as forças institucionais, como as polícias e os militares, não aderirem, a solução é apelar para os movimentos de massa, para os agrupamentos armados e, assim, arrancar o poder com a invasão dos centros de exercício da democracia. Foi assim no nazismo, foi assim no fascismo e será assim nos regimes totalitários.

Como não poderá mais agasalhar esses movimentos antidemocráticos, sob pena de se esvaziar, o Partido Republicano dos Estados Unidos, o Great Old Party (GOP, na sigla em inglês), que já foi liderado por Abraham Lincoln, terá de se renovar, tarefa complicada, a ser precedida por expurgos.

Tiraram o megafone do Trump. No meio da confusão, as contas do presidente Trump no Twitter e no Facebook foram bloqueadas. O homem mais poderoso do mundo, que tem o botão da bomba à altura dos seus dedos, não pode mais usar as redes sociais para transmitir ordens e contraordens a seus comandados, como se o alcance à corneta fosse retirado do comandante no campo de batalha.

Desse fato não se conclui apenas que, numa dimensão que importa, há poder maior do que o do presidente dos Estados Unidos. Conclui-se, também, que uma vez bloqueada a comunicação com suas massas de manobra, a capacidade de mobilização de um chefão autoritário perde substância. Questão subsequente consiste em saber quem, em última instância, manda nas redes sociais e como o acesso a elas pode ser controlado democraticamente.  A partir do que houve em Washington, é preciso saber por que o país mais dotado de instituições de segurança no mundo e por que o FBI, a CIA e outros organismos de inteligência que existem para defender as instituições não serviram para prever e prevenir as forças democráticas contra a invasão e a tentativa de golpe. 

A aglomeração começou desde a véspera, no dia 5. O presidente Trump havia feito pronunciamentos desesperados contundentes em que conclamou seus seguidores a agir pela força. E as intenções de invasão foram manifestadas a qualquer interessado. Por que, mesmo assim, tudo aconteceu como se viu?  Finalmente, vamos às implicações para o Brasil. A mesma lógica da política de Trump que desembocou onde desembocou se aplica ao atual governo brasileiro, para quem a democracia só tem serventia se ajudar na tomada do poder para sua turma. Quando as instituições e as regras do jogo se tornam obstáculos, então é preciso desmontá-las. 

Se o Supremo dispara sentenças desfavoráveis, é preciso destituí-lo. Para isso e para outras providências da mesma qualidade, sempre é melhor aproveitar a confusão da hora para “passar a boiada”. Se o Congresso atrapalhar, cumpre aliciar segmentos importantes que o compõem, como o Centrão, com benesses e favores políticos. Ao mesmo tempo, convém armar os seguidores e prepará-los para confrontos que possam se tornar inevitáveis. Criar e encorpar as milícias acaba sendo o passo seguinte.

Tudo isso é mera fantasia? Pois, ainda nesta quinta-feira, o presidente Bolsonaro não poderia ter sido mais claro do que foi: “A falta de confiança nas eleições levou a esse problema que aconteceu lá (nos Estados Unidos). Se tivermos voto eletrônico no Brasil em 2022, vai ser a mesma coisa. Ou vamos ter problema pior que nos Estados Unidos”  foi o que disse

Celso Ming - O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Moro vira sócio de americanos que ajudam empresas investigadas. Entenderam? Reinaldo Azevedo

Blog Reinaldo Azevedo - UOL

A notícia mais, como posso dizer, especiosa desta segunda, em razão de fatos ocorridos no domingo, nada tem a ver com as eleições municipais. Ou tem, mas pelo avesso. A Alvarez & Marsal, uma consultoria americana especializada em gestão de empresas, anunciou, em pleno vuco-vuco eleitoral, a contratação de ninguém menos do que Sergio Moro, que o ministro Luiz Fux, presidente do Supremo, considera um verdadeiro herói da Lava Jato. Ele vai atuar na área de "Disputas e Investigações" da A&M em escala global. Ah, agora sim! Em entrevista recente para Pedro Bial, na Globo, Rosangela Moro, a única conja do Brasil, anunciou que o casal, pobrezinho, precisa pagar boletos. Todos os problemas acabaram! 

[o governo do presidente Bolsonaro tem passado momentos que podem ser considerados até de extremo azar - mas o presidente tirou a sorte grande, quando o ex-juiz resolveu privilegiar o seu governo com sua ausência. Depois da destruição que fez, é contratado para ajudar a reerguer o que destruiu? Será que o inquérito absurdo contra o presidente Bolsonaro agora vai para o arquivo - a alternativa nos parece a ida sem escalas para o lixo.]

Notem. Na página da A&M, encontra-se esta informação:  "O Grupo Odebrecht entrou em Recuperação Judicial no dia 17/06/2019 (processo no. 1057756-77.2019.8.26.0100) e está em processamento perante a 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, tendo a Alvarez & Marsal sido nomeada administradora judicial do processo". Sim, vocês entenderam direito: Moro, o ex-juiz da Lava Jato, cujo trabalho provocou os sortilégios que provocou nas empresas, na economia e na política é agora sócio-diretor da empresa encarregada de cuidar da recuperação judicial da empreiteira que a força-tarefa ajudou a quebrar. Mais: ele vai trabalhar justamente na área de "Disputas e Investigações”

A A&M, convenham, está na sua, né? Imaginem quantos segredos das empresas brasileiras Moro conhece... Os arquivos da Lava Jato de Curitiba — aqueles que os bravos rapazes não querem compartilhar nem com seu braço na Procuradoria Geral da República — estão na mente divinal deste homem impoluto, deste herói vocacionado para o serviço público, deste cavaleiro valente que nada vê à sua frente a não ser o interesse da pátria.  
Quem melhor do que Moro para ser um sócio-diretor no Brasil? Você é dono de alguma empresa que caiu nas teias do Ministério Público Federal em razão daquele incansável serviço de combate à corrupção da Lava Jato, que, segundo o ministro Luiz Fux, há de durar sempre, já que a corrupção é coisa tão feia como o Holocausto? Bem, então você sabe o caminho. É a A&M. Moro é o mal e também é a cura. 
 
Em seu comunicado oficial, a A&M é, a seu modo, transparente. Informa: "Consultoria global de gestão de empresas, a Alvarez & Marsal (A&M) anuncia a chegada de Sérgio Fernando Moro como sócio-diretor, com sede em São Paulo, para atuar na área de Disputas e Investigações. A contratação de Moro está alinhada com o compromisso estratégico da A&M em desenvolver soluções para as complexas questões de disputas e investigações, oferecendo aos clientes da consultoria e seus próprios consultores a expertise de um ex-funcionário do governo brasileiro."

E o comunicado segue: "Moro é especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco, lavagem de dinheiro e crime organizado, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proativa. Sua contratação reforça o time da A&M formado por ex-funcionários de governos". 

Epa! Ninguém sabia que ele já era especialista em "aconselhar clientes"... Quais clientes? A empresa lista nomes de profissionais que integram seus quadros e que já pertenceram a divisões governamentais dos EUA ou do Reino Unido: "Steve Spiegelhalter (ex-promotor do Departamento de Justiça dos EUA), Bill Waldie (agente especial aposentado do do FBI), Anita Alvarez (ex-procuradora do estado de Cook County, Chicago) e Robert DeCicco (ex-funcionário civil da Agência de Segurança Nacional), Paul Sharma (ex-vice-chefe da Autoridade de Regulação Prudencial do Reino Unido) e Suzanne Maughan (ex-líder investigativo da Divisão de Execução e Crime Financeiro da Autoridade de Conduta Financeira e investigador destacado para o Escritório de Fraudes)."

Nenhum deles, é evidente, virou herói nacional, ministro da Justiça e pré-candidato a chefe de Estado e de governo.  
Na página da A&M, afirma-se sobre Moro: "como Ministro da Justiça e Segurança Pública desenvolveu programas especiais para reduzir crimes violentos e proteger as fronteiras do Brasil, além de ser responsável pela elaboração e promulgação de leis federais sobre apreensão e expropriação de bens relacionados ao tráfico de drogas e outras atividades criminosas graves". 
É mesmo? Qual é o programa especial contra crime violento? Ninguém sabia que ministro da Justiça, no Brasil, tem o poder de promulgar leis. Sustenta-se ainda que "tanto como ministro quanto como juiz federal, Moro colaborou com autoridades de países da América Latina, América do Norte e Europa na investigação de casos criminais internacionais relacionados a suborno, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e crime organizado". Na condição de titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, tínhamos por aqui um verdadeiro agente de uma espécie de Internacional do Combate à Corrupção, é isso? Passava, então, por cima dos Três Poderes da República?

A A&M joga o jogo. Vamos ver até quando os bananas, no Brasil, continuarão a fazer a fortuna, também a crítica, de heróis dessa espécie. Se depender de Luiz Fux, a empresa ainda terá uma penca para contratar. Steve Spiegelhalter, sócio-diretor da A&M e líder da área de Investigações da América do Norte, saudou assim a contratação de Moro: "A experiência de Sergio como ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, somada à sua extensa bagagem em anticorrupção, crime do colarinho branco e lavagem de dinheiro, contribuirá para solucionar os problemas dos clientes."

Spiegelhalter sabe o que diz. Depois de provocar o estrago que provocou no Brasil, Moro está pronto para lotar a A&M de clientes e oferecer a cura. Mas, claro!, os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia não veem suspeição nenhuma na atuação daquele juiz que agora assume as vestes de empresário global. Enquanto houver forças-tarefa nos moldes em que temos e enquanto o Ministério Público for o Poder dos Poderes, sem prestar contas a ninguém, o Brasil será um farto fornecedor de sócios-diretores de empresas dessa natureza. Afinal, esses patriotas conhecem o antídoto do veneno que administraram. O país vai à breca, mas eles passarão muito bem, não é mesmo, ministro Fux, Cármen Lúcia e Edson Fachin? 

Reinaldo Azevedo, jornalista - Coluna no UOL 


UOL - Política - Moro é contratado por consultoria que administra recuperação da Odebrecht -  

Leia para SABER MAIS


por consultoria que administra recuperação da Odebrecht ... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/11/30/moro-e-contratado-como-diretor-de-consultoria.htm?cmpid=copiaecola

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O monstro do cerrado: quem é o homem suspeito de 54 estupros em Goiás - VEJA

Wellington Ribeiro da Silva é investigado por abusos sexuais, inclusive de uma bebê, uma criança de 12 anos e mulheres na frente do pai, marido ou namorado


Em 2 de agosto deste ano, a Polícia Civil de Goiás montou uma força-­tarefa para caçar um estuprador na região de Aparecida de Goiânia. Em dez anos, 47 mulheres haviam relatado ter sido atacadas por um homem moreno claro, de mais ou menos 1,75 metro e barrigudo. As características dos crimes se repetiam: a bordo de uma moto, ele anunciava o assalto com uma pistola, obrigava a vítima a subir na garupa e a levava a um terreno baldio, onde praticava o estupro. A polícia não sabia seu nome, nem como era sua feição, pois ele sempre estava de capacete. Com essas informações, quarenta agentes saíram às ruas atrás de um sujeito que se enquadrasse nesse perfil. No dia 12 de setembro, eles chegaram a Wellington Ribeiro da Silva, de 52 anos.

Já na abordagem surgiram as primeiras suspeitas. Silva demorou a revelar o nome verdadeiro — mostrou o RG de uma pessoa chamada José, e seus vizinhos o conheciam como Sérgio. Ao vasculhar a casa dele, a polícia encontrou uma arma de brinquedo, três capacetes e uma moto preta roubada. No exame de corpo de delito, ele teve a saliva recolhida para fazer o teste de DNA— o material genético bateu com o do esperma encontrado em 22 vítimas. A Polícia Civil atribui a ele outros 32 estupros. Depois que a sua foto foi divulgada, sete mulheres foram à delegacia dizer que haviam sido vítimas dele. Silva admite ter cometido seis estupros e nega os demais.

Em interrogatório gravado em vídeo, obtido por VEJA, o delegado pergunta a Silva como se davam os estupros. De forma curta e fria, ele responde: “de quatro”. Questionado sobre o que dizia às vítimas, declarou que só prometia mantê-las vivas. “Elas perguntavam se eu ia matá-las. Eu falava que não”, disse. Afirmou ainda que se sustentava vendendo os celulares roubados das vítimas. “Ele é um psicopata. É muito frio e não demonstra ter nenhum arrependimento. É um monstro mesmo”, avalia a delegada Ana Paula Machado, responsável pela força-­tarefa. Laudo da Polícia Civil atestou que Silva é “plenamente capaz de responder por seus atos”. Ele tem cinco filhos de mulheres diferentes. A mais nova, de 3 anos, eravidrada no pai”, conforme disse a sua esposa na delegacia — ali, ela descobriu que o nome dele não era Sérgio e entrou em choque ao saber do histórico de crimes.

Um dos abusos que Silva confessou foi o de uma menina de 12 anos. Ela estava com os pais numa igreja evangélica para celebrar a virada do ano de 2018 para 2019. A temperatura caiu, e a menina foi pegar uma blusa em casa. No caminho, teve a infelicidade de trombar com Silva, que a abordou e a estuprou — imagens de câmeras mostram os dois na moto. Também há denúncias de que ele obrigou mãe e filha a fazer sexo com ele na frente do marido/pai e que abusou de duas adolescentes na frente dos namorados.

Como é que esse monstro ficou tanto tempo impune? Em 2011, Silva foi preso em Goiânia pela acusação de estuprar uma mulher e sua filha, que tinha apenas 5 meses. Na ocasião, descobriu-se que era foragido da Justiça de Mato Grosso. Ali, ele foi condenado a 47 anos de prisão por um episódio conhecido como “a chacina do Monte Líbano”. Uma mulher de 39 anos, com quem Silva tinha relacionamento, e seus dois filhos, de 10 anos e 3 anos, foram encontrados degolados em uma casa. Segundo o Ministério Público, ele matou a mulher após descobrir que ela o delatava à polícia — na época, Silva chefiava uma quadrilha de assaltantes e assassinos. Ficou preso por dois anos, até que fugiu, em 2013. “Coincidentemente, nesse período há uma lacuna de ocorrências de estupro em Goiás. E os casos voltam a aparecer em 2014”, afirma a delegada Ana Paula Machado.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o país atingiu o recorde de abusos sexuais em 2018, com 66 041 ocorrências. Um dado na pesquisa, porém, destoa do modus operandi de Silva (escolher mulheres aleatoriamente na rua): a maioria dos agressores (76%) conhecia as vítimas. Se forem comprovadas todas as denúncias, Silva pode entrar para a lista dos maiores estupradores do mundo. A relação inclui bandidos como o ex-policial americano Joseph James DeAngelo, preso pelo FBI em 2018, acusado de violentar mais de cinquenta mulheres e matar doze nas décadas de 70 e 80. No Brasil, um caso bastante famoso foi o de Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, condenado pelo estupro de nove mulheres e por sete assassinatos no Parque do Estado, Zona Sul de São Paulo, nos anos 90. Na época, sua história espalhou medo pelo grande número de vítimas, mas o monstro de Goiás mostra que o horror pode sempre se superar.


Publicado em VEJA, edição nº 2655 de 6 de outubro de 2019,

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Caso Epstein cada vez mais bizarro: Bill Clinton, Bill Gates… - Veja

O quadro do ex-presidente americano vestido de mulher que o milionário suicida tinha na mansão em Nova York é mais um detalhe inacreditável


Se você é um milionário americano que gosta de cortejar outros ricos e poderosos, tipo Bill Clinton, o que faria?
Colocar seus Boeings a serviço dele? 
Certamente. Levar o ex-presidente, notório pelas aventuras sexuais, à sua ilha particular lotada de beldades adolescentes? Sem dúvida.
Ter um retrato dele travestido de mulher, com cara de chapado e, ainda por cima, um vestido azul – inevitavelmente ligado ao caso do traje de Monica Lewinsky, guardado como prova do sêmen derramado – já entra no campo da bizarrice.

E isso é tudo o que não falta na vida e, principalmente, na morte de Jeffrey Epstein, que se suicidou ou foi suicidado na mais difícil das circunstâncias: sentado no chão de sua cela no Centro de Correção Penal de Nova York, com um lençol no pescoço. A ação penal contra ele era a mais famosa do momento nos Estados Unidos: tráfico sexual, um jeito encontrado por promotores federais de Nova York de aumentar a punição ridícula que o milionário, com seu harém de menores de idade recrutadas nos Estados Unidos e em países do leste europeu, havia recebido.
Epstein já tinha sido encontrado semidesfalecido, na cela, com hematomas no pescoço. Foi colocado e, atenção, retirado, do regime especial para suicidas em potencial (com estrado de cama em aço fundido no chão, lençóis de papel e outros recursos de prevenção).

O companheiro de cela dele foi retirado um dia antes do suicídio. Os guardas que deveriam fazer uma inspeção visual a cada trinta minutos, dormiram por três horas seguidas. Depois, tentaram alterar as gravações que mostram sua negligência. Não deu muito certo.  O diretor e a vice-diretora do Centro de Correção Penal foram afastados enquanto o FBI investiga a inacreditável – literalmente – sequência de erros. É preciso um esforço bem grande para acreditar que tenham sido cometidos ao acaso.
E dá para aceitar que numa dependência do sistema penitenciário de Nova York, a cidade onde desde o Onze de Setembro não se mexe uma folha de árvore sem que seja registrado, não havia uma câmara na cela do prisioneiro mais famoso dos Estados Unidos?
Com tantas pontas soltas, a maior dúvida ainda é: quem era Jeffrey Epstein? Como ficou tão rico, chegando à marca do um bilhão de dólares, fortuna reduzida para “apenas” 550 milhões quando seu castelo começou a cair?
E como conseguiu manter contatos no alto mundo, mesmo depois que sua ficha sujíssima se tornou conhecida?

Uma das recentes, e espantosas, revelações recentes: o multibilionário Bill Gates, o gênio discreto hoje afastado do dia a dia da Microsoft, discutiu “assuntos filantrópicos” em “diversas ocasiões” com Epstein.
É um mistério imaginar o que poderia aproximar o santo Gates, o maior filantropo do mundo, de um sujeito que fazia trambiques com o dinheiro dos outros outra revelação do momento -, transportava famosos no “Lolita Express”, o apelido de seu Boeing, para orgias na sua ilha do Caribe e recrutava meninas a partir dos 14 anos para seu harém.
O retrato de Bill Clinton, fazendo pose de Tio Sam safado, em pleno Salão Oval, foi fotografado por uma empresária que conheceu a mansão de Epstein em Nova York, a maior da cidade.

SALTO ALTO
A mulher, não identificada, passou o flagrante para o tablóide inglês Daily Mail. Ela disse que vislumbrou o quadro durante uma visita, em 2012. Ficou chocada com “a pintura muito provocadora, sexual” do ex-presidente, com sapato vermelho de salto e “a mão numa posição esquisita”.
Detalhe perverso: o vestido é muito parecido com um usado por Hillary Clinton num jantar de gala.
(...)

Ah, sim: o juiz encarregado de uma das ações penais contra Epstein morreu no domingo. Não foi exatamente uma surpresa, pois tinha 96 anos. Mas quem ainda acredita em coincidências nesse caso?


Blog Mundialista -  Vilma Gryzinski - Veja



sábado, 22 de junho de 2019

PF já tem pistas que levam aos criminosos que violaram conversas de Moro


domingo, 16 de junho de 2019

As regras do jogo

Como derrotar um terrorista só com o uso das leis? Como combater uma quadrilha sem qualquer desvio da pureza ética? Como vencer um demagogo numa eleição sem qualquer apelo ao populismo? A crítica que muitos direitistas fazem aos liberais é que estes pregam um puritanismo ingênuo diante de um inimigo disposto a praticar os mais bizarros atos para manter o poder. E por isso sempre perdem para a esquerda. Há um ponto aqui. Inúmeros filmes e séries relatam a região cinzenta que é a ação policial contra bandidos, isso para não falar da CIA em assuntos geopolíticos. A tensão entre a transparência dos agentes públicos e a segurança nacional será eterna e insolúvel. Trata-se, afinal, de um dilema moral, sem possibilidade para pensamentos maniqueístas e binários. Se o terrorista sabe onde está a bomba que vai detonar uma escola, quem está disposto a rejeitar o uso da tortura para se obter tal informação? 

Quem vai conviver com aquelas mortes todas na consciência?
Estou no fim da interminável série “Blacklist”, que trata justamente disso. Um dos mais procurados bandidos se torna informante do FBI e, graças a esse acordo, vários marginais perigosos são presos. Mas até onde vai o pragmatismo? Um dos policiais, o “senhor certinho”, que faz tudo dentro da estrita lei, descobre da pior forma possível que até mesmo ele pode precisar dos serviços ilegais um dia. A lei e a justiça nem sempre andam juntas. Mas quem decide?

Se um juiz passa do limite legal ao liberar áudios de um ex-presidente prestes a se transformar em ministro, num esquema explícito para garantir sua impunidade, e com isso garante a punição justa de um notório marginal, isso deve ser condenado por purismo legalista? Eis o problema: até onde vai o esgarçamento desse limite legal? Até os heróis adotarem métodos parecidos com os dos vilões? É complicado estabelecer um limite. Por isso a importância das regras do jogo, com foco no longo prazo.  “Breaking Bad” é até hoje imbatível, a melhor série de todas. Eis seu recado: cuidado com pactos mefistofélicos, pois eles costumam representar uma ladeira escorregadia. Ao cruzar o Rubicão, desviar-se do caminho correto e passar a fazer coisas erradas, o mal toma conta da situação. A virtude é uma prática constante, um exercício diário de escolhas éticas e morais. Quando é temporariamente abandonada em prol de um resultado imediato, nem sempre há volta. Dependendo da magnitude do desvio, tende a ser permanente. E sempre haverá um alto preço a ser pago por isso.

[sempre bom lembrar: os 'colaboradores' do Intercept, ao invadir, roubar as supostas conversas de Moro com os procuradores cometeram crimes e além da punição devida, as 'conversas', caso sejam autênticas, são inválidas como provas;  
se verdadeiras,  não provam  nenhuma armação para forjar provas contra o presidiário petista - ou a prática de qualquer outro ato ilícito, caracterizando, sob um julgamento rigorosa, são apenas inapropriadas, o que não caracteriza crime.] 

Não sou ingênuo. Ainda prefiro viver em um país cujos agentes públicos esticaram um pouco a corda do que numa Venezuela qualquer, onde a lei morreu de vez. Mas é preciso ter cuidado. Críticas aos excessos da Lava Jato não são sinônimos de defesa dos corruptos.

Rodrigo Constantino - IstoÉ

 



domingo, 17 de março de 2019

Nas terras do Tio Sam

O Jair Bolsonaro dos EUA precisa superar em muito o Jair Bolsonaro de Davos

O Brasil de Bolsonaro e os EUA de Trump fazem juras de amor e assinam atos importantes a partir de hoje, quando Bolsonaro desembarca em Washington com tratamento vip, direito a hospedagem na exclusiva Blair House e entrevista ao lado de Trump no Rose Garden, que são deferências especiais, concedidas a muito poucos.

Em compensação, Bolsonaro deverá fazer um anúncio que diplomatas tremem só de ouvir: a dispensa unilateral de vistos para americanos (além de canadenses, australianos e japoneses), sem exigência de reciprocidade. Significa que eles poderão vir livremente ao Brasil, mas os brasileiros não poderão ir ao país deles.A ideia já tinha sido apresentada pelo ministro do Turismo de Michel Temer, Henrique Eduardo Alves (que acabou preso [não pela ideia, que convenhamos era e continua sendo inconveniente e desrespeitosa para os brasileiros e nossa autoestima]), mas só valeu para a Olimpíada do Rio, como forma de incentivar a vinda desses estrangeiros – que têm baixo índice de risco e carteiras recheadas. Mas foi temporário, agora será permanente. Diplomatas acham que é coisa de país sem autoestima e Bolsonaro pretende negociar a dispensa de visto para brasileiros irem aos EUA. Duvido que o Tio Sam tope.

O principal anúncio deverá ser o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas para uso da Base de Alcântara (MA) para fins comerciais, negociado há uma década. Os EUA ganham, porque Alcântara é um ponto estratégico que permite economia de até 30% nos lançamentos de satélites. E o Brasil também lucra, porque entra no mercado de cooperação espacial.

Na comitiva, Augusto Heleno, Paulo Guedes, Sérgio Moro, Ernesto Araújo (chanceler), Tereza Cristina (Agricultura), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), com agendas diferentes. Guedes está interessado em medidas, lá e cá, para destravar investimentos e negócios. Moro vai ao FBI para acordos de inteligência, segurança pública e combate ao crime organizado.

Depois de desperdiçar Davos e ocupar seis dos 45 minutos a que tinha direito para atrair o interesse do mundo para o Brasil, Bolsonaro terá novamente todos os holofotes e não pode amarelar, fugir de entrevista e posar de “simplesinho”, mas, sobretudo, é preciso afastar a ideia de um alinhamento automático com os EUA.
Bolsonaro gosta da ideia, assim como seu filho Eduardo, o chanceler Araújo e o guru Olavo de Carvalho, que já trocou o Brasil pelos EUA. Já os diplomatas de várias gerações se opõem e o que conta mesmo no governo é um outro foco de resistência ao tal alinhamento automático: os militares, que prezam muito a noção de soberania. Aliás, nem aos próprios EUA encanta a ideia de se jogar de cabeça num governo que está mal começando. Pode ser um sucesso, pode não ser. Logo, aproximação é ótimo; alinhamento automático é excessivo.

Além das relações bilaterais, que avançam muito, Bolsonaro e Trump vão discutir questões regionais (Venezuela, por pressuposto) e internacionais, as mais cabeludas. China, Oriente Médio, Coreia do Norte e Irã estão na agenda, mas Bolsonaro deve ter algumas coisas em mente. A China é o maior parceiro comercial brasileiro, o Brasil desde sempre independente na disputa Israel-Palestina e... nem tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. [se espera que Bolsonaro esqueça de vez a ideia sem noção de  priorizar o relacionamento com Israel em detrimento dos países árabes - o interesse comercial é o que deve ser considerado pelo Brasil, o que deixa os árabes em vantagem;
ocorrendo esse bendito e oportuno esquecimento o assunto mudança da embaixada continua para depois...]

Depois dos EUA, ele vai ao Chile e no final do mês a Israel, onde Benjamin Netanyahu é um aliado e fez a gentileza de vir ao Brasil para prestigiar a vitória de Bolsonaro, mas agora está às voltas com a Justiça. Tudo bem ir a Israel, a questão é de oportunidade. O avião está decolando e lança Bolsonaro no seu primeiro teste realmente diplomático. Vai precisar de inteligência, sorte, jeito, discursos escritos e muitos conselhos para se superar. O Bolsonaro de Washington tem de ser muito melhor do que o Bolsonaro de Davos.
 
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
 
 

sábado, 16 de março de 2019

PF tem tecnologia para identificar usuários da ‘dark web’

Núcleo de investigações cibernéticas do Ministério Público paulista apura se atiradores de Suzano mantiveram contatos em fóruns hospedados em espaço virtual com acesso restrito

A Polícia Federal desenvolveu nos últimos anos uma metodologia de investigação para identificar os usuários da dark web, parte da internet cujo acesso é possível apenas com tecnologia que esconde a identificação do usuário. A utilização da dark web pelo dois atiradores para planejar o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, que terminou com dez mortos e 11 feridos, na quarta-feira, 13, é uma das linhas de investigação do Ministério Público de São Paulo.


Tela do site extremista Dogolachan. FOTO: REPRODUÇÃO

O núcleo de investigações cibernéticas do MP paulista vai apurar se Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e o adolescente G.T.M., de 17 anos, responsáveis pelo ataque, mantiveram contatos em fóruns da dark web com pessoas que contribuíram no planejamento do crime ou no fornecimento das armas. A ação dos dois foi comemorada em um fórum localizado nessa parte da internet, que conta com um sistema de acesso específico que busca dificultar a identificação e os rastros dos seus usuários por meio de ferramentas como criptografia e embaralhamento de IPs, espécie de “CEP” do usuário na rede.

O Estado falou com investigadores e peritos com experiência nesse tipo de investigação que confirmaram se tratar de um tipo de apuração muito complexa. Segundo eles, não há anonimato na rede e é possível encontrar e identificar os criminosos que se escondem na dark web. A pricipal dificuldade nesses casos, segundo relato de peritos criminais ao Estado, é mapear a “infraestrutura” envolvida na hospedagem e armazenamento dos dados. Como o IP, responsável por identificar quem é o usuário da rede, fica sobreposto por várias camadas de “protocolos”, é necessário um trabalho exaustivo para identificar os servidores em que as informações se encontram. Após o mapeamento, é necessário conseguir autorização para acioná-los. De posse da autorização judicial, começa, diz um investigador, a apuração tradicional.

Com a ajuda de ferramentas desenvolvidas pela própria PF, como o Iped, esses dados, normalmente em grandes quantidades, são espelhados e se dá início ao trabalho de análise.

Histórico
Em 2014, pela primeira vez na América Latina, a PF conseguiu mapear usuários da dark web que se valiam do anonimato para disseminar pornografia infantil. A operação batizada de Darknet resultou na prisão de 55 pessoas em 18 estados e no Distrito Federal. Além disso, os investigadores brasileiros conseguiram avisar outros cinco países – Portugal, Itália, Colômbia, México e Venezuela – sobre o envolvimento de seus cidadãos no esquema.

“Apesar da triste realidade de encontrarmos tantos abusadores, também é uma conquista para a sociedade a possibilidade de podermos investigar esses crimes”, disse à época a delegada Diana Calazans Mann. “Poucas polícias no mundo obtiveram êxito em investigações na dark web, como o FBI, a Scotland Yard e a Polícia Federal Australiana”, disse a PF em nota divulgada em novembro de 2016, após a segunda fase da operação.

MATÉRIA COMPLETA em O Estado de S. Paulo




 

domingo, 18 de novembro de 2018

Crimes de ódio, lá e aqui

Os números são impressionantes. Os crimes de ódios relatados nos Estados Unidos cresceram 17% de 2016 para cá, e vêm aumentando de maneira regular e consistente desde a eleição do presidente Donald Trump. No ano passado, 7.100 crimes desta natureza foram registrados, sendo que três em cada quatro ocorreram por questões raciais ou étnicas. Religião e orientação sexual são as outras duas motivações mais importantes de crimes de ódio, segundo relatório do FBI publicado na quarta-feira pelo jornal The New York Times.

Os dados divulgados estão com certeza subestimados. Apenas 12,6% das delegacias e outras instituições policiais relataram ao FBI crimes de ódios em suas jurisdições. Os departamentos de polícia de Miami e Las Vegas, por exemplo, não notificaram um caso sequer em 2017, o que é claramente impossível. Por outro lado, crimes que ficam apenas no campo da agressão verbal ou física muitas vezes não são sequer denunciados pelos agredidos, que não acreditam que a sua notificação vá resolver alguma coisa.

O elemento que causou o aumento expressivo nesse tipo de crime foi a crescente tensão política no país desde a posse de Trump. Nenhuma dúvida sobre a enorme mudança de clima, em se comparando o governo do presidente Barack Obama com o do seu sucessor. Os Estados Unidos pularam de um estado de espírito tranquilo e quase passivo, sob Obama, para um de permanente excitação, com Trump. O exemplo americano pode ser muito útil no Brasil, que, em 45 dias, inaugura novo governo que, sob todos os aspectos, quer se parecer com o de Donald Trump.  Um chefe de estado que transpira intolerância, como é o caso do presidente americano, contamina todo o tecido social. Se o presidente pode ser agressivo e destilar ódio, por que o cidadão não pode? A pergunta é ridícula, mas ela é sistematicamente feita nos Estados Unidos por pessoas suscetíveis, de perfil psicológico frágil e limitadas cognitivamente. E as respostas aparecem nesses dados coletados pelo FBI.

O presidente eleito do Brasil vem moderando de maneira consistente seu velho e conhecido discurso de ódio e intolerância. Se Bolsonaro tivesse mantido o mesmo tom, correríamos altíssimo risco de ver prosperar no país a mesma onda que atravessa os Estados Unidos desde a chegada de Trump. Também arriscamos trilhar o mesmo caminho se o futuro presidente tiver uma recaída e retomar seu antigo e antiquado perfil, hipótese que não pode ser de maneira alguma descartada. É cedo para dizer que Bolsonaro mudou.
São raras no Brasil agressões geradas por motivação política, como a do atentado contra o próprio Bolsonaro e o assassinato do petista Moa do Katendê. O que temos por aqui, e em abundância, são as agressões de natureza racial e de gênero, e os crimes em razão da orientação sexual do agredido, que são quase banais no Brasil. Esses crimes podem aumentar ainda mais se o futuro líder da nação não consolidar esta sua mudança de estilo.

 Não discriminar e não deixar que se discrimine qualquer um e em nenhuma hipótese. Repudiar a agressão e o agressor. Deter, julgar e prender o agressor. Promover práticas de inclusão, investir, apoiar e priorizar as minorias. [alguém cite um único motivo, uma miserável razão, para priorizar as minorias???]  Bolsonaro deverá não apenas suavizar o seu discurso, mas efetivamente mudá-lo. O brasileiro saberá agradecer um sinal de grandeza de seu presidente. Mesmo os que o apoiam, os que votaram nele, e que são hoje a maioria no Brasil, vão aceitar e aplaudir um líder mais moderado.

Ascânio Seleme - O Globo
 

domingo, 29 de abril de 2018

Os guardiões da Ficha Limpa

A quatro meses do registro das candidaturas, o TSE criou um banco de dados com os nomes dos fichas sujas. Quando um deles tentar o registro ilegal, o veto sairá no ato 

Atualmente preso em Curitiba, o ex-presidente Lula é apenas o mais notório pretendente a cargo eletivo nas eleições de outubro que tem a ficha suja. Além dele, há uma lista de mais de uma centena de políticos que estarão inelegíveis pelas mesmas razões do ex-presidente: foram condenados por crimes em tribunais de segunda instância. 

Pela legislação eleitoral, antes do registro oficial das candidaturas, em agosto, nada pode ser feito contra eles. Somente após o registro, a Justiça Eleitoral pode se mover para barrar essas candidaturas ilegais. Como o tempo de análise é curto – um mês – havia a expectativa de que alguns nomes desses candidatos fichas sujas pudessem acabar indo parar nas urnas. O risco, porém, está superado. O Ministério Público Eleitoral (MPE) resolveu se antecipar e montou uma tropa de choque que, desde já, analisa as pré-candidaturas. Quando os registros forem feitos, já haverá uma lista a ser conferida. 

Rapidamente, os procuradores eleitorais contestarão as candidaturas. E o Tribunal Superior Eleitoral, da mesma forma, organiza-se também para dar uma resposta rápida: um mutirão envolvendo os tribunais regionais está sendo montado para auxiliar nas análises. “Ficha suja está fora do jogo democrático”, avisou o presidente do TSE, Luiz Fux, ao tomar posse no cargo.

Banco de dados
A rapidez com que a Corte Eleitoral vai eliminar das eleições qualquer pretendente que estiver enquadrado na Lei da Ficha Limpa se deve a um trabalho preventivo. Uma das frentes criadas nesse sentido é a formulação de um banco de dados com nomes de políticos e potenciais candidatos que estão condenados pela Justiça. Problemas de governantes que não cumprem a Lei de Responsabilidade Fiscal também barram candidaturas, de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
 
A outra frente importante do trabalho prévio que vem sendo feito pela Justiça Eleitoral é a de combate às fake news. Para atacar o problema e preveni-lo, o ministro Luiz Fux criou um comitê de inteligência, com PF, Exército, MPF e Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para combater a disseminação de informações inverídicas na web. O grupo se reúne periodicamente.

Recentemente, técnicos do FBI estiveram no TSE, a convite do governo brasileiro, para falar sobre fake news. O Conselho Consultivo do TSE também já trocou informações com grandes empresas como Google e Facebook. O que se sabe até o momento é que uma das grandes fontes de fake news tem sido o aplicativo Whatsapp. Ou seja, prevenir é melhor do que remediar.

 IstoÉ

 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Quais as chances de Trump sofrer impeachment? Entenda o processo



Presidente dos EUA teve início turbulento de governo marcado por discussão sobre eventual destituição, mas especialistas acham procedimentos legais improváveis

O fantasma do impeachment ronda os corredores da Casa Branca e do Capitólio. As longas novelas que colocaram em xeque as Presidências de Richard Nixon e Bill Clinton podem voltar a acontecer com um presidente contestado desde o início de seu mandato. Donald Trump e seu círculo próximo são o alvo do avanço de investigações sobre um possível conluio da campanha republicana de 2016 com emissários do governo russo. 

Mesmo hoje sem provas conclusivas de qualquer conspiração para prejudicar a adversária Hillary Clinton e vencer as eleições, o governo tem prontas equipes de defesa contra um amplo inquérito do FBI liderado pelo procurador especial Robert Mueller. Caso evidências de algum crime cometido sejam encontradas, há ainda um longo caminho para que a denúncia possa ser levada adiante: a acusação precisa ter força suficiente para romper o apoio de um Congresso majoritariamente republicano a um presidente do mesmo partido — mesmo que ele seja um “estranho no ninho” da legenda. Especialistas ouvidos pelo GLOBO advertem que uma destituição de Trump é hoje muito difícil, mas ajudam a explicar como um eventual processo de impeachment aconteceria.


  • O QUE É?
  • POR QUE SE DEBATE IMPEACHMENT PARA TRUMP?
  • COMO ACONTECE O PROCESSO DE IMPEACHMENT?
  • DE QUE OUTROS MODOS O PRESIDENTE PODERIA CAIR?
  • TRUMP CONSEGUIRIA SE SALVAR DAS ACUSAÇÕES?
  • O QUE ACONTECERIA NO FIM DO PROCESSO?
O QUE É?
Na teoria, o conceito de impeachment nos EUA é indiciar um funcionário público eleito pela conclusão de que ele teria cometido algum crime de responsabilidade ou infração grave como improbidade administrativa. No caso do presidente, um impeachment é aprovado pela maioria simples da Câmara dos Representantes (deputados federais), que oficializa o indiciamento. A fase seguinte é o julgamento político, realizado pelo Senado e só aprovado se contar com dois terços dos votantes.

Dois presidentes já sofreram impeachment mas não caíram: Andrew Johnson, em 1868, foi acusado formalmente pela Câmara de descumprir leis de mandato de seu Gabinete, mas acabou salvo por um voto no Senado. Bill Clinton, em 1999, chegou a ser indiciado na Câmara por perjúrio e obstrução de Justiça em decorrência do escândalo sexual com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, mas saiu ileso após sua base no Senado defendê-lo. Ambos continuaram normalmente seus mandatos. Já Nixon, após ser indiciado pela Câmara na esteira da destruição de fitas que provavam seu papel no escândalo político de Watergate, renunciou em 1974 antes que o Senado o julgasse por obstrução de Justiça — a destituição era praticamente certa.

POR QUE SE DEBATE IMPEACHMENT PARA TRUMP? 

Durante a corrida à Casa Branca, a Rússia vinha sendo acusada de tentar interferir na sucessão presidencial: ciberataques contra partidos e políticos, campanhas midiáticas e tentativas de hackear sistemas eleitorais foram monitorados pelas agências de Inteligência do país. Na principal das interferências, está a invasão nos computadores do Comitê Nacional Democrata, mostrando que o partido agiu para beneficiar Hillary Clinton em detrimento do senador socialista Bernie Sanders, minando o apoio da base democrata à ex-secretária de Estado. As evidências de que Moscou teria tido papel direto nas ações motivaram o início de investigações pelo FBI e pelas duas casas do Congresso para apurar qual o grau das tentativas do Kremlin de prejudicar o processo, além de motivar novas sanções do então governo de Barack Obama a Moscou. A interferência externa nas eleições é proibida por lei.

A simpatia do então candidato republicano Donald Trump ao governo de Vladimir Putin habitualmente antagonista de ambos os grandes partidos — e contatos suspeitos de assessores da campanha do magnata nova-iorquino com emissários ligados a Moscou ganhariam manchetes na imprensa e críticas dos democratas (estes, em minoria tanto na Câmara quanto no Congresso). Quando cada vez mais surgiam mais evidências de contatos inadequados de seus funcionários — incluindo de seu filho Donald Jr. e seu genro e assessor Jared Kushner — com os russos e possíveis crimes financeiros, Trump demitiu de surpresa em março o diretor do FBI, James Comey, gerando suspeitas formais de obstrução de Justiça e forçando a indicação de um promotor especial, Robert Mueller (ex-diretor da agência), para comandar o processo.


COMO ACONTECE O PROCESSO DE IMPEACHMENT? 

Na prática, o processo contra o presidente tem a Câmara como promotor e o Senado como júri. Ele começa quando a Comissão Judiciária da Câmara analisa evidências que acompanham pedidos de impeachment, acompanhada de análise do mérito do pedido pela Comissão de Regras e Procedimentos da Câmara. As acusações levadas às comissões podem tanto ser acolhidas por deputados quanto serem originadas de investigações prévias pelo Congresso ou do FBI. Com isso, começa um processo que pode ser longo, contando com depoimentos de testemunhas e entregas de documentos oficiais.

— Não há um período definido. Há muita pressão para que o Congresso avance rápido, mas ele pode tomar quanto tempo julgar necessário para considerações — diz Gerhardt.
Se a maioria da Comissão Judiciária decide que há base para o avanço do impeachment por determinado motivo, escreve um texto com a acusação formal contra o alvo do processo — no caso, o presidente. A proposta (ou diferentes propostas, caso a comissão tenha encontrado evidências de diferentes crimes) é então debatida por toda a Câmara, que pode decidir se analisa cada artigo ou reúne tudo em uma só resolução. Se a maioria simples vota a favor da moção proposta, o impeachment (oficialmente, o indiciamento) é aprovado.

 
Com o processo aprovado, cabe ao Senado julgar as acusações. Os debates de julgamentos pelo Senado são geralmente chefiados pelo presidente dele (nos EUA, o vice-presidente do país é presidente do Senado), mas no caso de um impeachment presidencial, a função cabe ao presidente da Suprema Corte. Os “promotores” são deputados envolvidos na aprovação do processo, e o funcionário que é alvo é defendido por uma equipe própria de advogados.

Após o Senado deliberar em privado, como um júri, a Constituição prevê que a condenação só pode vir se aprovada por ao menos dois terços dos senadores (se forem cem, são 67). Assim, o acusado é removido do cargo. — Imagino que um processo no Congresso poderia avançar rapidamente se, por exemplo, Mueller relatasse sérias acusações. O impeachment e julgamento de Bill Clinton foram concluídos apenas poucos meses depois da publicação do relatório do promotor especial independente (Ken Starr) — recorda Keith Whittington, professor de Ciências Políticas da Universidade de Princeton e um dos principais especialistas nos processos de impeachment nos EUA.

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