Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
As
antigas folhinhas de xaropes e pílulas costumavam vir ilustradas com a
imagem de um ano ancião que saía, barbas brancas, encurvado sobre sua
bengala e um ano novo que chegava enrolado em fraldas. Posta na parede,
ali ficava como “marco temporal” de nossos planos de réveillon.
Contudo, o
Sol e a Lua não contam seus giros nem dão bola para as promessas que
fazemos a nós mesmos.
O tempo é coisa que usamos, mas não nos pertence; é
utilidade, convenção, relatividade. Meia hora na cadeira do dentista
dura bem mais do que meia hora numa roda de amigos.
Na infância,
eternidade é o tempo decorrido entre dois Natais ou duas visitas de
Papai Noel.
Minha mãe, por seu turno, tão logo terminava um ano começava
a se preocupar com o Natal vindouro “porque, meu filho, logo, logo é
Natal outra vez”.
A vida
familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano
encontro da maturidade com a juventude. Imagine um mundo onde só haja
jovens ou onde, pelo reverso, só existam idosos. Imagine, por fim, a
permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos
trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas
fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender.
Felizmente
não é assim, nem deve ser visto assim. O importante, em cada recomeço, é
ali estarmos com a experiência que o passado legou. Aprender
da História! Aprender da vida! E, principalmente, aprender da
eternidade!
Quem aprende da eternidade aprende para
a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome,
lições que não são superadas, lições para a felicidade e para o bem.
Por
isso, para os cristãos, a maior e melhor novidade de cada ano será
sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da
Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai.
Bem sei o
quanto é contraditório à cultura contemporânea o que estou afirmando. E
reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela mensagem do
hedonismo “revolucionário”,supostamente coletivista e igualitário. Mas é
preciso deixar claro que tal mensagem transforma o mundo num grande
seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se trocam as fraldas
da imaturidade.
A quantos lerem estas linhas desejo um 2024 de afetos vividos, aconchego familiar, realizações, vitórias, saúde e paz.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.
Como pensar em austeridade se a PEC da Transição, do
Lula ou da Gastança vier a ser aprovada à velocidade da luz por uma
legislatura em fim de mandato?
O país está sendo sacudido por forte turbulência institucional, em que
se acirram os conflitos entre os Poderes e em que algumas instituições —
cuja própria razão de existência é a garantia da normalidade — vêm
sistematicamente atuando, a um andamento cada vez mais acelerado,
justamente para estimular a anormalidade, a insegurança e as anomalias,
seja pelas omissões e covardia do Congresso, especialmente por parte dos
presidentes de suas duas Casas,seja por uma sucessão já longeva e
intolerável de ações absolutamente descabidas do Judiciário, merecedoras
sem dúvida de estudos psiquiátricos.
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Há 40 dias,completamente ignorados e até criminosamente desqualificados pela imprensa tradicional,muitos milhares de brasileiros vêm se postando nas portas dos quartéis, expostos a sol, chuva, calor e frio,clamando pelo restabelecimento da normalidade, manifestando o seu descontentamento com a bagunça generalizada, queixando-se da possibilidade real de um homem condenado por unanimidade em todas as mil e uma instâncias da Justiça— e posto em liberdade por filigranas, arabescos e rococós jurídicos —voltar a presidir o país, protestando contra a supressão de liberdades básicas como a de livre expressão,reclamando da falta de transparência e da consequente desconfiança em relação à imparcialidade de quem teria de ser isento na condução do processo eleitoral e indignando-se com o despotismo e arrogância de algumas autoridades do Judiciário, que, segundo eminentes, probos e respeitados juristas, vêm extrapolando flagrantemente suas atribuições e finalidades. Até este momento, ninguém sabe como e quando o Estado de Direito e a estabilidade das instituições serão restabelecidos.
As causas da instabilidade são conhecidas por qualquer cidadão bem informado, que não se deixa manipular pela velha imprensa, e este artigo não pretende esmiuçá-las. O que desejo enfatizar é que, nas circunstâncias atuais, não podemos ignorar os efeitos contagiosos da insegurança jurídica e da baderna política sobre a economia — entendida não como aqueles elegantes modelos teóricos que dão aparência de ciência aos livros e fascinam a maioria dos economistas —, mas às atividades econômicas do mundo real, às incontáveis decisões tomadas por milhões de seres humanos que compram, vendem, poupam, investem, fazem planos, abrem e fecham empresas, exportam, importam, fazem Pix, enfim, que realizam transações.
Essa multidão de agentes busca incessantemente objetivos individuais, em que cada um sempre procura obter a maior satisfação possível, avaliando os meios para que possa ter êxito e com base no conhecimento de que dispõe. É incontestável que os indivíduos, para que possam empregar com eficácia seus conhecimentos na elaboração de seus objetivos, devem procurar estar em condições mínimas de prever as ações do Estado que podem afetar seus propósitos. Em outras palavras, as decisões econômicas, desde as mais simples, como a de comprar um aparelho de TV, até as mais importantes, como a de trocar de emprego ou abrir um negócio, dependem, obviamente, de fatores puramente econômicos, mas também daquilo que podemos, generalizadamente, denominar de “ambiente”, composto do conjunto de leis, normas, regulamentos, confiança, desconfiança, segurança e insegurança física e jurídica e outros elementos.
Em quadros de instabilidade institucional, como o que se está verificando nestes dias, é inequívoco que a importância desses componentes ambientais aumenta em relação à dos fatores meramente econômicos. Por isso, acredito que a tarefa dos economistas nesse contexto precisa ser mais abrangente do que aquela que normalmente desempenham em períodos em que prevalecem circunstâncias de normalidade nas instituições.
Não basta analisar se a famigerada PEC do Lula vai fazer a taxa Selic subir ou cair x% ou y%, o PIB aumentar ou diminuir w% ou z%, nem se a inflação, ou o dólar, ou o desemprego vão para a lua, Mercúrio ou Marte. Exige-se muito mais do que isso. Quando existe risco de ruptura institucional, é preciso ligar o farol de milha e buscar análises mais penetrantes, que contemplem a interdependência entre os fenômenos econômicos, políticos, geopolíticos, jurídicos, éticos, morais, sociológicos e históricos, entre outros. Para simplificar, podemos agrupar todos esses fenômenos em três grandes sistemas, o econômico, o político e o ético-moral-cultural.
Cada um apoia-se nos outros dois e, quando um dos três entra em colapso, a sociedade torna-se instável.
Nada de errado que os economistas se manifestem sobre taxas de juros, metas fiscais, inflação, desemprego e quaisquer outros fenômenos econômicos, mas só isso não basta.
As relações entre economia, política e ética no mundo real são muito mais complicadas do que muita gente imagina e em ocasiões como a atual são muito mais relevantes.
No último artigo aqui em Oesteenfatizei o perigo da chuva de incertezas que a vitória do candidato do PT desencadeou na economia.Neste, vou tratar de algumas certezas, porque elas também existem e, infelizmente, porque nenhuma é agradável. Vou me limitar a cinco delas, que considero as mais importantes.
A primeira é que soa como uma enorme ingenuidade, como um sentimento quase infantil, acreditar que a simples indicação de algum economista ligado ao mercado financeiro para ser o futuro ministro da Fazenda do candidato que o TSE declarou ter sido eleito vai “acalmar” o mercado e que isso vai produzir bons resultados.
Não basta levar um cavalo para beber água num rio; é preciso que o rio não esteja seco.
E sabemos que no rio do PT não se encontra uma solitária gota d’água.
Sem meias palavras, de nada servirá chamar para tomar conta dos cofres públicos um técnico que defenda a responsabilidade fiscal, porque esse técnico vai necessariamente ter de se ajustar a um governo que certamente trata toda e qualquer austeridade com desdém, ou será demitido.
Como pensar em austeridade se a PEC da Transição, do Lula ou da Gastançavier a ser aprovada à velocidade da luz por uma legislatura em fim de mandato?
Como acreditar em algum ministro tucano mago das finanças, se, antes de assumir, o eventual futuro governo já está cavando um buraco quase equivalente, em valor, aos R$ 800 bilhões da reforma da previdência, negociada e aprovada a duras penas pelo atual governo?
E se, em vez de um técnico, o ministro escolhido for um político, como não acreditar que, nesse caso, nem sequer se cogitará de levar o cavalo até a margem do rio?
De nada servirá chamar para tomar conta dos cofres públicos um técnico que defenda a responsabilidade fiscal, porque esse técnico vai necessariamente ter de se ajustar a um governo que certamente trata toda e qualquer austeridade com desdém
A segunda certeza é que não se pode esperar nada de bom— nada, mesmo! — das ideias econômicas do PT.
Seus economistas vivem nos anos 80 do século passado e suas teses são por demais conhecidas e tresandam naftalina: é Estado para um lado, Estado para o outro, Estado para cima, para baixo, para a frente e para trás.
Não haverá reformas modernizantes, algumas minirreformas feitas recentemente poderão ser revogadas, privatizações não serão realizadas e algumas em andamento poderão ser interrompidas, “grandes fortunas” serão taxadas, não haverá redução da burocracia e certamente os problemas crônicos que impedem historicamente o crescimento do Brasil, como o sistema tributário e o Estado hipertrofiado e ineficiente, não serão enfrentados corretamente.
Essa é a cara do PT e não há motivo para esperar que seja diferente, mesmo porque eles não têm escondido suas intenções de ninguém.
Os argumentos econômicos utilizados no relatório apresentado no Senado para justificar a PEC da Gastançasão um formidável conjunto de barbaridades contra a boa teoria econômica e uma confissão explícita de que não aprenderam nada com os erros que cometeram no passado.
A certeza é que, um tempo bem menor do que normalmente se costuma supor, a nossa economia será argentinizada e, em seguida, venezuelizada.
É que as cabeças dos economistas e dos políticos do PT e de seus puxadinhos são rigorosamente semelhantes às dos seus pares que vêm destruindo impiedosamente a América Latina.
Ora, não existem teorias econômicas específicas para cada país, ou aplicáveis apenas a uma região, ou válidas somente em um dos hemisférios, só existem simplesmente teorias certas e teorias erradas.
E, da mesma forma que uma política econômica baseada em uma teoria boa tem de ser válida em qualquer lugar ou país, uma política baseada em falácias econômicas tem de ser prejudicial em qualquer latitude e longitude.
Se adotarem mesmo as políticas que vêm anunciando, não receio afirmar que em nove a 15 meses viraremos Argentina e em dois a três anos estaremos bem perto de uma Venezuela.
Aliás, esse — criar um clone da antiga União Soviética na América Latina — é o objetivo estabelecido desde 1990 pelo Foro de São Paulo, agora rebatizado de Grupo de Puebla. Ou não é?
Existe uma quarta certeza, que, infelizmente muitos não percebem ainda e tratam como se fosse um devaneio conspiratório, que é a da existência de uma aliança mundial entre comunismo e globalismo, com base na interseção das vocações doentias de ambos para controlar as vidas das pessoas,estabelecer o que é bom ou mau para elas, determinar o que podem ou não falar, escrever, comer, produzir, consumir, enfim, com base no pendor autoritário de um e outro.
Sim, há muitos interesses e pautas comuns entre tiranos pretensiosos do naipe de Klaus Schwab e seus amigos de Davos e da ONU — todos entupidos de reis e de dinheiro em suas barrigas — e sindicalistas tupiniquins sofrendo de abstinência do imposto sindical compulsório;
entre os doidos varridos das “mudanças climáticas” e os líderes dos invasores de terras;
- entre a Agenda 2030, a sigla ESG, o Foro Mundial com sua proposta de abolir a propriedade privada e a implantação da Unasul;[ou maais provavelmente a URSAL.]
- entre o governo da Holanda, que deseja estatizar 3 mil fazendas para que não produzam mais alimentos e os ataques sistemáticos dos progressistas de Macunaíma ao agronegócio brasileiro, que alimenta 20% do mundo;
- entre os que atacam igrejas e obras de arte na Europa e Estados Unidos e os que fazem o mesmo aqui;
- entre os discursos patéticos de Macron e os diretores de ONGS e políticos que, há muitos anos, exploram os indígenas no Brasil;
- entre a permissão para praticar delitos até certo valor mágico na Califórnia e a contemporização e transigência com o crime em nosso país.
Caros leitores, já é tempo de pôr na cabeça que não é só a esquerda adoradora de ditadores latino-americanos que está ameaçando a nossa liberdadee que, caso o “descondenado” venha mesmo a subir a rampa, a agenda globalista será acelerada no Brasil. No cardápio, coisas como governo mundial, criptomoeda única, imposto universal, banco central mundial, abolição da propriedade privada, supressão da liberdade de expressão, ideologia de gênero, perseguição ao cristianismo e judaísmo, alimentação à base de carne produzida em laboratório e de insetos, etc.
Não podemos ser tão loucos a ponto de duvidar da extensão da loucura dessa gente.
Por fim, há uma quinta certeza, que é do conhecimento de todos:o estado atual das coisas no Brasil não pode continuar por muito tempo. Toda essa instabilidade, incerteza, tensão, apreensão, ansiedade, todos os milhares de pessoas pedindo algum tipo de socorro em frente aos quartéis, todas as investidas do Judiciário sobre os outros Poderes, todo esse ambiente de medo, de supressão da liberdade, de boatos, todo esse sobe e desce emocional, tudo isso, afinal, vai ter de ter um fim, simplesmente porque nenhuma sociedade pode funcionar nessas condições.
Não se sabe o que vai acontecer, o que se deve esperar é que os macacos dos Três Poderes — principalmente os do Judiciário — sejam levados de volta aos seus devidos galhos e obrigados a lá permanecerem e que o retorno à normalidade se dê o mais rapidamente possível.
Li a cartilha da editora Kaleo para a Assembleia de Deus de Santa
Catarina, inteira, antes de ler o chilique jornalístico do The
Intercept, publicado em 20 de setembro. E sigo me perguntando se a
redação desse grande jornal foi instalada no planeta Terra ou pelo menos
aqui perto, na Lua.
Site The Intercept publicou fortes críticas à Assembleia de Deus por cartilha que reafirma princípios cristãos às vésperas da eleição. - Foto: Unsplash
O que defende a “cartilha raivosa” dos crentes catarinenses, como a rotularam os autores da pérola jornalística? Em essência, coisas de crentes. Coisas que se ouvem (em versões incultas, concedo)nos corredores das igrejas, em seus grupos on-line e em suas casas: que o marxismo é ateísta, que o todo com as partes sabidamente doentes do PNDH-3 foram coisa de Lula et caterva, que a revolução sexual é incompatível com a religião cristã, que a cultura do movimento LGBTQIA+é incompatível com a religião cristã, que segundo a Bíblia Deus criou homem e mulher – e o gênero não pode ser separado do sexo biológico –, que o feminismo ajudou a aumentar o número de divórcios, que o divórcio deve ser combatido, que a esquerda tende a descurar, quando não destruir ativamente, a instituição familiar etc.
Ademais, essa perspectiva geral sempre foi ensinada, de um jeito ou de outro, em todas as grandes igrejas, e alguns dos pontos acima são ensinados até mesmo por aquelas igrejas mais modernizadas e abertas a alguns valores progressistas. Então, por que o chilique?
Porque isso pode afetar... as eleições, quem diria!
Não havendo incitação ao ódio a pessoas, nem à violência, nem à subversão da democracia, as igrejas estão no seu direito. Os pastores estão no seu direito. As escolas dominicais estão no seu direito, e os pais que mandam seus filhos para lá estão no seu direito
(...)
Mas suponhamos que eu esteja certo e a cartilha tenha errado a mão nesse ponto; nada muda, absolutamente. A Igreja Católica há séculos desenvolve a sua doutrina social, revisando e refinando suas posições, e já condenou tanto o marxismo ateu quanto o capitalismo laissez-faire.
A Doutrina Social da Igreja trata a família como célula básica da sociedade,e condena todos os pecados que o Intercept costuma celebrar. Como eu já mencionei antes e insisto, toda igreja tem o direito de ensinar a sua doutrina àqueles que quiserem ser seus membros, e os pais têm o direito de dar a seus filhos a educação religiosa e moral de sua preferência. Não havendo incitação ao ódio a pessoas, nem à violência, nem à subversão da democracia, as igrejas estão no seu direito. Os pastores estão no seu direito. As escolas dominicais estão no seu direito, e os pais que mandam seus filhos para lá estão no seu direito.
E aí está a raiz da reportagem raivosa da Intercept: o que incomodou não foram os erros na cartilha dos crentes, mas os seus acertos. O documento que eles atacam rejeita ideias morais caras à esquerda.
(...)
Consideremos o subtítulo da matéria, que vai direto no calcanhar de Aquiles da cartilha: associar o feminismo à zoofilia é mesmo demais. Mas e quanto à pedofilia? Também o seria, não fosse a própria Simone de Beauvoir uma defensora da descriminalização da pedofilia. Que azar, gente! Então, me pergunto: do que esses jornalistas estão reclamando? O trabalho deles não é entregar informação?
Algumas ideias merecem ser ignoradas, e algumas são tão ruins que merecem ser detestadas. Ora, ninguém tem de respeitar ideias que lhe parecem detestáveis
Reivindico, aqui, os meus direitos de cidadão e meus deveres de evangélico: a agenda moral da esquerda brasileira é detestável. Críticas desonestas contra a infeliz são dignas de toda a reprovação, mas poderia isso redimi-la da sua feiura natural? Não obstante a incompetência da crítica evangélica conservadora, a geringonça não vale um tostão.
Tivesse eu poderes para tanto, declararia aberta a temporada das cartilhas eclesiásticas! E pra já mesmo, a partir de segunda-feira.
Que as igrejas formem comissões teológicas e componham suas cartilhas de doutrina social e política, para crianças, jovens, adolescentes, mulheres, homens e idosos.
Que as igrejas leiam e discutam em seus grupos essas denúncias jornalísticas desesperadas, e exponham de casa em casa esses órgãos ideológicos metidos a magistério teológico.
E os cristãos não têm de respeitar as degenerações morais da esquerda brasileira
E, em vez de se infiltrar nas igrejas estabelecidas, a militância laicista pode dar um trato mais honroso ao seu recalque.
Ela pode também plantar suas igrejas sem Deus,formar suas famílias sem biologia, fazer suas orações de punho cerrado, ensinar seus filhos a “amar” (pegar) todo mundo no fim de semana, e esperar alegremente o Sol, que é para todos, virar uma gigante vermelha e engolir a Terra,junto com sua utopia igualitária.
Mas enquanto não chega esse tão esperado dia, vamos honrar John Locke, John Stuart Mill, a nossa Constituição, e aprender a tolerar uns aos outros. Afinal, só Deus poderia curar nossas divergências; mas até nisso nós divergimos, não é?
A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, informou ao
Supremo Tribunal Federal (STF) que Jair Bolsonaro “acreditava
sinceramente” que a cloroquina era um remédio eficaz contra a Covid-19. A
esta altura, a pandemia já matou mais de 677 mil pessoas no Brasil. A
doutora disse isso para respaldar o pedido de arquivamento das
conclusões da CPI da Covid.
É direito da Procuradoria-Geral da República acreditar sinceramente no
seu pedido de arquivamento. Caberá ao STF decidir o que fazer com as
denúncias.
Hoje, estima-se que de cada cem pessoas, 27 não acreditam que os
astronautas americanos foram à Lua. Nesse grupo, 21 têm o ensino médio
completo. Vinte em cada cem acham que a Terra é plana.
O relatório da CPI que a doutora prefere arquivar informa que no dia 24
de março de 2020 Bolsonaro anunciou, em rede nacional, que “o vírus
chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará”. Como?
Talvez com a cloroquina. Voltou ao assunto no dia 24 de outubro: “No
Brasil, tomando a cloroquina no início dos sintomas, 100% de cura”. Na
véspera haviam morrido 566 pessoas, e o total de mortos estava em
156.528. [necessário lembrar que na ocasião do anúncio em rede nacional, no qual o presidente incluiu o advérbio talvez, não existia nada que fosse comprovadamente eficaz contra a pandemia; primeira dose de vacina aplicada ocorreu no reino unido no inicio de DEZEMBRO/2020, mesmo assim, nada garantia sua eficácia.
Em um quadro de incertezas, o direito de cada um acreditar, e defender, que acredita é aumentado. Ainda que milhões de brasileiro não tenham acreditado no presidente, não tiveram disponibilidade de um trtamento alternativo ao defendido pelo presidente.
Ainda hoje, as vacinas contra a covid-19 não são eficazes em evitar as contaminações pela covid-19 - felizmente, possuem elevada eficácia em reduzir a gravidade dos sintomas e a consequente mortalidade.]
Bolsonaro tem uma queda por substâncias e iniciativas mágicas. Acredita
nos efeitos econômicos milagrosos do nióbio e do grafeno. Chegou a
anunciar que visitaria uma empresa de militares americanos que pesquisa a
transmissão de energia elétrica sem fios. Seria um milagre para a
Amazônia. Felizmente, não foi à empresa.
Acreditar que a Terra é plana, que o homem não foi à Lua e que a
cloroquina controla a Covid-19 é um direito de cada um. Cardeais e Papas
acreditavam em coisas desse tipo. Em 1600, a Inquisição romana queimou
Giordano Bruno por defender as ideias de Copérnico, para quem a Terra
girava em torno do Sol. (A estátua de Bruno, no Campo das Flores, em
Roma, informa: “Aqui ardeu a fogueira”.)
Em 2020, Bolsonaro demitiu dois ministros da Saúde porque não
acreditavam nas virtudes da cloroquina. Bruno metia-se com ocultismos.
Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich nunca se meteram com mágicas e não
foram queimados. [Teich até hoje não sabe as razões pelas quais aceitou o convite para
ser ministro; já o Mandetta, a exemplo de Moro, tentou usar o cargo para
conspirar contra Bolsonaro e formar cacife para disputar a Presidência
da República. Ao que se sabe disputa com frequências partidas de sinuca]. Um terraplanista convicto pode ter acreditado
sinceramente que a cloroquina controlaria a Covid-19. A diferença entre
ele e Bolsonaro está na persistência da convicção do capitão e,
sobretudo, no fato de ter se baseado nessa crença sincera para demitir
dois ministros, irradiando a superstição enquanto pessoas morriam.
Registre-se que ninguém morreu porque o vizinho achava que a Terra
girava em torno do Sol e, desde o fim da Inquisição, ninguém foi
queimado por isso.
Existem dois tipos de ignorância. A plena e aquela que, mesmo podendo
ser sincera, é instrumentalizada. Os cardeais que mandaram Giordano
Bruno para a fogueira podiam acreditar que a Terra era fixa, mas estavam
interessados também em preservar seu poder. Quando a Inquisição chegava
à Bahia, seus defensores queriam também tomar as propriedades dos
judeus. No século XX, essa mesma instrumentalização alimentou o
antissemitismo europeu.
Enquanto esteve na moda, a cloroquina pouco teve a ver com a
sinceridade da convicção. A partir das evidências científicas de sua
inutilidade, foi um instrumento político(e comercial em alguns
hospitais e planos de saúde).
Não são os “disparos automáticos”, os “robôs” e os
algoritmos que incomodam o Supremo. O que assusta a todos eles, na
verdade, é o que as pessoas têm a dizer
Alexandre de Moraes - Ilustração: Montagem Revista Oeste/STF/Shutterstock
A imprensa, o Supremo Tribunal Federal e a esquerda que vive da compra, venda e aluguel de más ideias descobriram há tempos os seus piores inimigos — as redes sociais.
É um sinal dos tempos, e um sinal bem ruim, que se considere pecado mortal aquilo que é uma das mais espetaculares conquistas do espírito humano; a internet é resultado direto do avanço da ciência e da tecnologia, e quando o progresso é tratado como se fosse uma manifestação do mal por uma parte da sociedade, estamos com um problema evidente. Ninguém diz, é claro, que é contra o progresso.
Mas todos os que hoje combatem a atuação das redes sociais na política, e especialmente nas eleições de outubro próximo, são contra o progresso de que não gostam — e o “conteúdo” das redes é o tipo do progresso de que não gostam nem um pouco. Na verdade, é mais simples do que isso. O inimigo da mídia, do STF e da federação dos “progressistas” não é a internet. É o público. Nada assusta tanto essa gente como um brasileiro de carne e osso com uma cabeça para pensar e uma voz para dizer o que pensa.
Não deveria ser assim — ou, ao contrário, talvez tenha mesmo de ser assim. O que atrapalha a vida dos meios de comunicação de massa hoje em dia é a falta de massa, ou seja, de leitores, de ouvintes e de telespectadores. O problema do STF é a recusa em respeitar as funções que lhe foram atribuídas pela Constituição Federal.
A esquerda, enfim, sofre com a escassez de votos em quantidade suficiente para formar uma maioria clara no Brasil.
Em vez de se concentrarem na busca de soluções para estas dificuldades, porém, ficam irados com a internet.
A mídia está ressentida com as redes sociais porque elas lhe tiraram o público — ou, mais exatamente, a relevância que imaginavam ter junto ao público.
O STF se enerva porque não pode eliminar a imagem miserável que tem junto à população nas redes; pode prender o deputado Daniel Silveira, socar inquéritos nos inimigos políticos e aterrorizar senadores e deputados, mas não controla o que se diz pela internet.
A esquerda nunca conseguiu predominar nas redes sociais; está perdendo a batalha, aí, para a direita, e não se conforma com isso.
A única opção numa democracia é conviver com as contrariedades — e pagar o preço da sua liberdade respeitando a liberdade do outro
Uma coisa é juntar meia dúzia de delinquentes, botar camisa vermelha e invadir propriedades, sob o olhar distante da polícia e do Ministério Público. Também é fácil escrever editoriais dizendo que o presidente da República matou 600.000 pessoas, e que vai dar um golpe de Estado se ganhar a eleição. (Imaginem, então, se perder.)
Não há nenhum problema, se você é ministro da principal corte de justiça do país e lhe permitem que faça tudo, indiciar em inquéritos os adversários, expedir ordens de prisão para a Interpol e distribuir tornozeleiras eletrônicas.
Tudo isso é barato, e está disponível em tempo integral. O problema é fazer os demais cidadãos pensarem como você pensa. A única opção numa democracia é conviver com essas contrariedades — e pagar o preço da sua liberdade respeitando a liberdade do outro.
Mas a mídia, o STF e a esquerda não querem uma democracia no Brasil; na verdade, são hoje as forças que mais combatem a liberdade neste país. Voltam todas as suas energias, assim, para as mais variadas tentativas de prender as redes sociais numa camisa de força.
O único concorrente real de Lula, o presidente da República, foi definido pelo ministro Luís Roberto Barroso como “o inimigo”
É raro passarem três dias seguidos sem que o STF ponha para fora o seu rancor contra o que o público está dizendo.
Conduz há mais de três anos um inquérito absolutamente ilegal, e aparentemente perpétuo, para punir “atos antidemocráticos” e bloquear a divulgação daquilo que considera fake news — ou seja, qualquer tipo de notícia, pensamento ou opinião que o ministro Alexandre de Moraes, por alguma razão, quer castigar.
Fez acordos com as multinacionais que controlam as redes para censurar postagens feitas durante a campanha eleitoral.
Ameaça com prisão os infratores das leis não existentes que vão inventando para defender as suas posições políticas.
Interfere grosseiramente no processo da eleição presidencial — isso para não falar no candidato que o ministro Edson Fachin criou, um condenado pela justiça por corrupção e lavagem de dinheiro que legalmente não podia ser candidato.
O STF trabalha por sua vitória de maneira aberta — o único concorrente real de Lula, o presidente da República, foi definido pelo ministro Luís Roberto Barroso como “o inimigo”. Mas nada disso parece suficiente. O ataque às redes promete continuar até o dia da eleição.
A última explosão de hostilidade veio do ministro Moraes. Numa plateia onde se sentavam peixes graúdos do PT e outros devotos da candidatura do ex-presidente Lula, Moraes decidiu apresentar o que faz parte da visão filosófica, digamos assim, que tem sobre a questão. “A internet deu voz aos imbecis”, disse ele, repetindo uma frase já cansada e supostamente sábia que qualquer autor de palestra de autoajuda utiliza no seu ganha-pão diário.
Quem disse isso, vários séculos atrás, foi um desses intelectuais-vagalume que piscam por uns instantes, e em seguida se apagam na noite, depois de fazerem sucesso temporário com alguma ideia deixada pela metade. É um dito interessante, mas a verdade é que a internet deu voz, realmente, ao público. Aos imbecis, especialmente? Não: deu voz a todos. Foi uma revolução.
Pela primeira vez na história da humanidade, desde que o homem saiu da caverna e evoluiu até andar na Lua, todos os seres humanos que consigam ler e escrever, qualquer um deles, podem dizer em voz alta o que pensam ou têm vontade de dizer — basta ir ao celular e teclar o que lhes vem na cabeça.
Podem, ao mesmo tempo, ouvir tudo o que está sendo dito. Pronto: ninguém precisa mais dar entrevista no jornal, ou pedir licença da autoridade, para dizer o que quer. Também não está mais limitado a ler, ouvir ou ver os meios de comunicação para saber o que está se falando na praça.
O que aparece, então, é o que as pessoas acham das coisas, do mundo e da vida, nem mais nem menos. Não gostam do que está sendo dito? Paciência. Vai ser preciso trocar de humanidade e achar uma mais ao gosto do ministro Moraes e seus colegas do STF, dos jornalistas e do candidato da esquerda à Presidência da República.
A humanidade que existe na vida real é essa aí. É duro, com certeza; a maioria dos 8 bilhões de habitantes da Terra, e dos 200 milhões de brasileiros, não é de grandes pensadores, nem de Einsteins e nem mesmo, talvez, de pessoas atraentes. Mas se são“imbecis” ou não, como repete o ministro Moraes, não vem ao caso; são seres humanos com direitos iguais ao dele, ou de qualquer pessoa, a expressarem o que pensam em público. O que dizem nas redes é o que têm dentro de si; se o que têm dentro de si são essas coisas que estão dizendo, sentimos muito, mas é inevitável aceitar.
O que o STF, a mídia e a esquerda querem é restringir, limitar e reprimir o pensamento.
Isso é a marca mais clássica das ditaduras.
Se Moraes considera “imbecis” os que discordam das suas posições políticas, qualquer um pode dizer a mesma coisa dele
Não são os “disparos automáticos”, os “robôs” e os algoritmos que incomodam o Supremo, como querem fazer crer os seus inquéritos, os seus agentes na “justiça eleitoral” ou o noticiário maciço da imprensa. O que assusta a todos eles, na verdade, é o que as pessoas têm a dizer. Não é difícil entender. Até há pouco só a mídia, os supremos tribunais e as elites tinham condições de expor o que pensavam; a liberdade de expressão só se aplicava à “gente bem”, com dois ou três sobrenomes, dinheiro no banco e curso de “humanas”. Hoje, por força das redes, todo mundo fala e, principalmente, todo mundo fica sabendo o que se fala. O STF e a sua atual companhia não suportam essa realidade.
Da mesma maneira, é falso que alguém nesse bonde esteja realmente preocupado com o mau uso que é feito da internet. Ninguém no Supremo dá a mínima para a onda de crimes digitais que oprime o Brasil; pouco se lhes dá se roubam o Pix, invadem contas bancárias ou clonam celulares. Não querem, ali, punir os bandidos. Querem punir a sua opinião.
Também não são os delitos cometidos com a palavra que estão envolvidos na guerra contra as redes; todos esses crimes são perfeitamente previstos no Código Penal Brasileiro, e não precisam mais de lei nenhuma para serem combatidos. Experimente dizer na internet que o seu vizinho é ladrão de cargas ou traficante de drogas; ou melhor, não experimente, porque quem fizer isso vai acabar com um processo por calúnia nas costas.
A internet, como diz o ministro Moraes, dá a voz aos imbecis. O que Moraes não diz é que a internet também dá voz a ele. Temos um óbvio problema aí.
Por que raios o ministro julga que a sua voz é linda e a voz dos outros não é? Quem é ele para decidir quem é imbecil e quem é inteligente, ou quem é qualificado o bastante para se exprimir nas redes sociais?
Se Moraes considera “imbecis” os que discordam das suas posições políticas, qualquer um pode dizer a mesma coisa dele; não existem, no Brasil ou no mundo, leis estabelecendo regras para a cretinice — ou qual o nível de excelência mental que as pessoas devem ter para receberem um certificado de não imbecil.
Nada disso, é claro, tem o mínimo interesse para os inimigos da internet. No momento, só pensam numa coisa: ganhar a eleição. Se a liberdade está no caminho, pior para a liberdade.
"Quando o sábio mostra a lua, o bobo só vê o dedo.” Provérbio chinês
Olhos
postos na soberania popular exercida pelo voto, garantida
imperativamente no art.14, caput, da Carta Magna, torna-se forçoso
reconhecer e denunciar desde logo que o atual acirrado debate sobre a
metodologia de votação e apuração constitui um ardil montado para
comprometer os digladiantes com o duvidoso resultado final previsível.
O cidadão
eleitor, no exercício da soberania de seu ato de vontade política, antes
mesmo de abordar o sistema em vigor, goza do PODER de exigir respeito,
proteção e acatamento ao seu voto, cabendo ou restando ao aparato
estatal tão somente,o DEVER de materializá-lo de forma segura e
sobretudo transparente de modo a satisfazer todas as dimensões de seu
exercício pleno, aí compreendido o indissociável direito de conferir a
precisão do processamento administrado, até o final do mandato
outorgado.
Em busca do
resgate de uma posição adequada para a controvérsia em torno do voto,
torna-se oportuno lembrar que o titular do voto é credor das
providências administrativas necessárias à sua prática, o que introduz
uma relação de administração entre este e a pessoa administrativa a quem
confiou a sua coleta, guarda, apuração e acatamento, atividade sobre a
qual incide diretamente o disposto no art. 37, caput, da Carta Magna,
quanto à publicidade, moralidade, eficiência, etc.
Neste
ponto, tenho a honra e o prazer de trazer a contribuição de um dos mais
ilustres juristas gaúchos, que nos enriqueceu com o rico legado
definitivo, que abaixo transcrevo:
“Diz-se
que existe direito subjetivo público, quando uma pessoa administrativa
se constitui em obrigação, segundo o direito público, para com o
particular.”Ruy Cirne Lima.in, Princípios de Direito Administrativo.
E ainda:
“Qualquer
que seja a justificativa político-jurídica dos direitos subjetivos
públicos, certo é, porém, que a nota saliente de sua conceituação é a
circunstância de criarem obrigação jurídica em pessoa de direito
público, a quem, normalmente apenas se reconhece, em tal ordem de
matérias, o poder de obrigar juridicamente.”
Ruy Cirne Lima, in, Princípios de Direito Administrativo.
Do embate
entre o ato de vontade do eleitor soberano e o ato de vontade da
administraçãodenominado ato administrativo, que o recolhe, se
estabelece a ora destacada Relação de Administração, uma relação de
subordinação desta diante daquele, o que torna absolutamente
inconcebível a sobreposição da vontade de algum administrador para
alterar, suprimir, mutilar ou sujeitar ao seu critério pessoal, qualquer
dos efeitos imanentes do direito de voto.
A sólida
convicção de que este espectro jurídico nutre e esgota todo e qualquer
questionamento, nos induz a exigir,em nome da incontrastável soberania
do voto, a plena proteção de todos os seus efeitos, em face do poder
publico para o que, certamente, não faltará perícia e acatamento.
Ocioso comentar que, a contrário senso, negada a soberania do voto o pleito será nulo de pleno direito.
Pesquisa com estudantes dos EUA mostra naturalização da intolerância e fim da caguetofobia.
Transformamos o ambiente acadêmico numa competição de delatores Pesquisa com estudantes dos Estados Unidos mostra que denunciar colegas e professores virou símbolo de virtude.
No mundo todo há discussões sobre liberdade acadêmica, muita gente reclama de represália por motivos ideológicos. A North Dakota State University decidiu fazer uma pesquisa com estudantes de instituições públicas e privadas dos Estados Unidos para saber se eles pensam o mesmo. A amostragem incluiu mil universitários do quarto ano. O resultado foi publicado num relatório chamado "2021 American College Student - Freedom, Progress and Flourishing Survey".
Ao ler os resultados e compreender a análise do que pensam os estudantes, que foram separados pela tendência ideológica declarada, fiquei feliz ao ver quebrado um tabu de preconceito que vivi na fase escolar e universitária. Finalmente conseguimos fazer a inclusão do dedo-duro, antes tão discriminado por seus potenciais alvos. Agora nem precisa mais de bedel, sobra dedo-duro.
Até lembrei uma música que está na raiz da cultura brasileira, do saudoso e multitalentoso Bezerra da Silva, defunto caguete: "Caguete é mesmo um tremendo canalha Nem morto não dá sossego Chegou no inferno entregou o Diabo E lá no céu caguetou São Pedro Ainda disse que não adianta Por que a onda dele era mesmo entregar Quando o caguete é um bom caguete Ele cagueta em qualquer lugar"
Felizmente superamos a caguetofobia que tantas chagas deixou em gerações passadas. Passamos à era da delação premiada, onde é uma virtude não resolver problema nenhum e passar o tempo todo apontando o dedo para os defeitos dos pares. Na verdade, a atitude correta é essa e não só para defeitos, também para o que pode parecer para alguns que foi defeito ou descuido. Quando eu era criança, caguetagem era altamente proibida. Como não havia parque de areia antialérgica, grupos aprendiam a sobreviver e não ceder poder aos maldosos ou radicais. Grupos divididos são fracos, tolerar quem divide o grupo em vez de resolver problema fortalece esse indivíduo. Depois, passou-se a tolerar a caguetagem. Agora, segundo o estudo, passou a ser obrigatória.
Lá nos anos 1980 e 1990 havia muito o que delatar porque a gente saía de casa pela manhã, não tinha celular, não tinha rede social, passava o dia todo fora e ninguém sabia da nossa vida. Agora que a gente já entrega tudo de mão beijada na rede social e está ao alcance de um toque 24 horas por dia, tem de ser hacker para levantar assunto para delatar. Exatamente por isso, pela efetiva falta de conteúdo para entregar os outros, já que todo mundo se entrega sozinho, temos uma flexibilização do conceito. A delação não é apenas obrigatória, ela também pode envolver invenções e equiparações elásticas. Qualquer deslize, lapso ou até uma birra podem ser transformados num crime inafiançável se a turba vier junto.
Quando se pergunta aos estudantes quantos concordam que se proíba uma leitura da qual os alunos discordam, a maioria acha errado. Discordar não é motivo para proibição de conteúdos. Mas e se der uma esticadinha na discordância para "coisas que te fazem sentir desconfortável?" Ou coisas que você considera "ofensivas"? Daí não só pode como deve vetar. As colunas verdes são estudantes que se dizem liberais, o que não é similar ao que nós chamamos de liberal no Brasil. Ficaria mais próximo do que nós chamamos de progressista, a oposição ao conservador. A maior diferença de opinião entre os campos políticos está na questão de reportar à universidade professores e colegas que dizem algo considerado ofensivo. Os liberais são radicalmente a favor e conservadores radicalmente contra.
Ocorre que estamos no terreno da subjetividade. Entre o que alguém diz achar ofensivo e uma ofensa real há uma distância da Terra à Lua. E se, por exemplo, você disser que é ofensivo toda vez que discorda de alguém? Eu acho ofensivo não concordar comigo, ué! Daí tudo bem reportar. Ah, mas ninguém chegaria a esse ponto. Já passou desse ponto. As histórias reais de professores universitários que foram punidos nos Estados Unidos e Reino Unido são assustadoras. Em um pulo, transforma-se a divergência em ofensa, que é equiparada a ofensas gravíssimas e a pessoa passa a ser sistematicamente perseguida a menos que mude de opinião. O perseguida consiste em adicionar tempero à história, inventar mais coisas terríveis sobre a pessoa para justificar perseguição.
Equipara-se, por exemplo, chamar alguém pelo pronome que a pessoa não gosta de transfobia. E não importa se a troca foi deslize ou pura provocação, todos serão tratados como se fossem esses delinquentes imundos que espancam homossexuais com lâmpadas fluorescentes. Justifica-se toda e qualquer difamação, distorção, desrespeito. A pessoa tem de perder o emprego e toda sua obra ser esquecida.
Não há gradação das reações, tanto faz o que realmente ocorreu, a intenção e o dano provocado ou não. Toda vez em que alguém contraria a patrulha identitária será por "fobia" de algo, por um defeito grave na alma da pessoa. A partir deste momento, passa a ser virtude apontar para essa pessoa o tempo todo como símbolo de tudo aquilo que se deve repelir. Precisa no mínimo uma pessoa por dia.
A patrulha identitária já passou tanto do limite que nem os queridinhos deles aguentam mais os cacoetes dos bedéis puritanos. Sabem quem já reclamou dos excessos no patrulhamento este ano? Não foi o Trump. Foram Barack Obama, Glenn Greenwald e Chimamanda Ngozi Adichie. Nem eles são bons o suficiente para passar no crivo da patrulha identitária. Ninguém presta, só quem está patrulhando. Há um dado interessante da pergunta que é a comparação entre quem acha correto denunciar falas ofensivas e quem se sente à vontade debatendo temas espinhosos. Parte dos estudantes que dizem ter total liberdade para debater todo e qualquer tema dentro da universidade também é favorável a denunciar quem diz coisas ofensivas.
Há uma grande diferença de ideologia política entre quem diz que a discussão é livre e quem diz que não é. Para progressistas, há liberdade de debate e isso é incentivado. Os estudantes conservadores discordam e dizem que não podem debater certos temas. Eles são contra denúncias justificadas por "sentir-se ofendido". Dá a impressão de que há liberdade para falar de tudo, desde que seja o tudo que os progressistas querem. Já há ótimas iniciativas para enfrentar a situação. No Brasil, infelizmente, a gente é bom de iniciativa e péssimo de terminativa. Tivemos a ideia de proibir tudo, tira essa coisa de doutrinação. Ocorre que não existe ser humano imparcial, proibir uma coisa dá abertura para a exigência de que se proíba outra no polo oposto. Isso escala até que se crie uma competição de quem proíbe mais coisas dos outros. Não é possível combater autoritarismo com autoritarismo de sinal trocado.
Reino Unido e Dinamarca, países ligeiramente menos esculhambados que o nosso, decidiram ir pelo caminho da garantia da liberdade de expressão de todos. O Reino Unido está fazendo uma legislação que dê direito de reparação a quem for calado ou prejudicado por diferenças ideológicas. Essas pessoas poderiam pedir indenização em dinheiro ou outra forma de compensação, a ser analisada por uma comissão específica. Já a Dinamarca optou por um caminho diferente, mirando na militância em si, não nas universidades. Numa iniciativa inédita, todos os partidos do Congresso fizeram uma união em torno de um documento onde recomendam à militância que não invada o espaço da construção de conhecimento. O documento diz textualmente que exageros na militância política estão levando a uma confusão entre ideologia e teoria crítica, principalmente na área de humanas.
A pesquisa da North Dakota State University mostra que a lealdade ao grupo ideológico já é um valor moral mais importante para os jovens progressistas do que a lealdade aos próprios colegas. Eles não veem a questão assim, entendem que analisam racionalmente a realidade e a caguetagem é uma necessidade social. Como nos ensinou Bezerra da Silva, nem São Pedro consegue escapar disso. Precisamos abrir os olhos.
Defesa do meio ambiente é o
tema campeão no bonde de Hollywood: é um dos mais fáceis, mais baratos e
com retorno mais garantido em termos de cartaz disponível hoje em dia
na praça
Olha eles aí outra vez — sempre os
mesmos, e sempre com o mesmo assunto. Eles são os artistas e as atrizes
do cinema norte-americano, e continuam indignados com o Brasil, o governo brasileiro e os incêndios naAmazônia. Estão lançando, naturalmente, mais um manifesto em favor da rain forest: pedem, agora, que o presidente Joe Biden não assine o tratado que Brasil e Estados Unidos estão negociando, já há algum tempo, para reforçar medidas de prevenção contra queimadas na região amazônica. Dessa
vez, os artistas vêm com exigências extras. Além de acabar com os
incêndios na mata, o Brasil tem de se comprometer também com o respeito
aos “direitos humanos” — sem maiores informações sobre onde e como esses
direitos estariam sendo concretamente desrespeitados no presente
momento, e sem revelar quais as providências objetivas que o governo
deveria tomar a propósito. Exigem também, para que Biden assine o
acordo, uma maior participação da “sociedade civil” na questão amazônica
— nada menos que a sociedade civil, em pessoa. Não fica claro, na
prática, quem é essa “sociedade civil”, ou o que ela teria a ver com o
assunto.
Querem, enfim, que “os índios”
recebam mais proteção e ajuda do poder público. De novo, não se diz o
que teria de ser feito, e não se leva em conta que as terras reservadas
aos índios no Brasil já somam hoje quase 1.200.000 quilômetros
quadrados, ou cerca de 14% de todo o território nacional — isso para uma
população de 800.000 pessoas, no máximo, dos quais mais de 300.000
vivem em áreas urbanas. [curioso é que dizem terras indígenas,o que já deixa claro que os indígenas devem, ou deveriam morar lá;
se lá morassem (tem reserva de 50.000 hectares para meia dúzia de indígenas) não seria necessário que o Governo Federal investisse milhões para vacinar indígenas contra a covid-19 - afinal, viver em aldeias é uma saudável e eficiente forma de isolamento social e dispensaria qualquer medida complementar para preservar nossos silvícolas.]Mais de 400 das 700 reservas estão justamente na
Amazônia, onde ocupam acima de 20% do território total. Nenhum país do
mundo tem tanta terra assim para as chamadas populações indígenas. Fazer
mais que isso? Os artistas aí estão no caminho da alucinação.
Quais países, entre os 200 que formam o planeta, poderiam se comprometer com o tipo de coisa que eles estão exigindo? Está certo que tratem o Brasil como uma republiqueta, até porque não
sabem direito o que é o Brasil — mas há coisas que nem a republiqueta
mais ordinária consegue topar. Dizer o quê? É assim mesmo que uma atriz
ou um ator norte-americano funciona, em condições normais de temperatura
e pressão, quando quer se meter com política. Como suas almas
gêmeas das empresas-gigante de tecnologia, que querem ir morar na Lua e
salvar a humanidade de tudo o que desaprovam, tratam-se de milionários à
procura do que fazer em benefício do bem universal.
Estão sempre assinando as mesmas
petições, sobre as mesmas coisas:racismo, transgêneros, homofobia,
eliminação do masculino e feminino na linguagem, veganismo, os crimes de
Cristóvão Colombo, liberdade para as crianças escolherem o seu próprio
sexo, direito dos avestruzes, denúncia da “cultura clássica”, denúncia
da “direita”, denúncia do “lucro” (salvo o próprio), defesa da “mulher”,
defesa das “minorias”, defesa do meio ambiente
em outros países, sobretudo no Brasil. [temos certeza que o gringo esquerdista desistiu da sua live ridícula e que outra situação vergonhosa e constrangedora não ocorrerá - é mais provável que tentem levar uma bomba nuclear para a nossa Amazônia e chamem especialistas(especialmente os ongueiros brasileiros, especialistas em nada e que vomitam asneiras contra o Brasil a troco da remuneração dos traidores = 30 moedas) para falar dos malefícios;
de qualquer forma já foi ajustado que se houver outro convescote, será adotado para controle de presença o método seguido por um conhecido programa de TV,que recebe fotos dos participantes.
O que também facilita mascarar eventual e deselegante indisposição do atual presidente dos Estado Unidos.]
Esse último tema é campeão no
bonde de Hollywood e arredores: é um dos mais fáceis, mais baratos e com
retorno mais garantido em termos de cartaz que está disponível hoje em
dia na praça. Que risco você corre falando mal do Brasil, da “destruição
da floresta” e do governo “genocida”? Nenhum; é só lucro, aplauso e
dever cumprido, sem qualquer sacrifício, perante a própria consciência.
O que destrói a Amazônia é a metástase do favelamento em volta das cidades Uma das maiores vantagens desse tipo de atitude é que os artistas não precisam pensar em nada para assinarem
qualquer folha de papel que acham rentável para a sua imagem. Não
precisam e não gostam de pensar: jamais deram cinco minutos do seu tempo
para entender um mínimo a respeito dos assuntos sobre os quais têm
posições tão extremadas. No caso do Brasil, não saberiam dizer
se Manaus é a capital de Buenos Aires, ou se Curitiba é um afluente que
desemboca na margem esquerda do Rio Amazonas; tudo o que sabem sobre as
realidades brasileiras é o que lhes dizem o Greenpeace, a menina Greta e
Giselle Bündchen. [desta vez a carga negativa da letra G ficou intransportável.]
Se
fizessem um esforço mínimo para entender um pouco do que estão falando,
saberiam o que qualquer pessoa séria sabe há muito tempo: que o grande
inimigo da natureza, do meio ambiente e do equilíbrio ecológico na
floresta amazônica é a miséria.
O que destrói a Amazônia é a metástase
do favelamento em volta das cidades.É a falta de saneamento, de água
tratada e de energia elétrica.
É a ausência de renda para os seus 20
milhões de moradores, que obriga muitos deles a qualquer coisa para
sobreviver.É o crime, a desigualdade e a negação de justiça.
Saberiam,
também, que é impossível evitar queimadas naturais numa área com mais de
4 milhões de quilômetros quadrados, ou dez vezes o tamanho da
Califórnia. Mas é assim que trabalha a cabeça dos artistas.
Supõe-se que o governo
norte-americano, que não nasceu ontem, ouça o que têm a dizer os seus
diplomatas para tomar decisões sobre o tratado, e não se impressione
mais do que o necessário com a espetacular ignorância das suas estrelas —
um terceiro-secretário da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, no
fim das contas, sabe mais sobre as realidades da Amazônia do que todos
os artistas da Netflix somados. É difícil, de qualquer forma, imaginar
uma crise de verdade por causa de um manifesto, ou mesmo por causa da
floresta inteira. Os Estados Unidos foram o primeiro país a estabelecer
relações diplomáticas com o Brasil, em 1808 — ainda no tempo de Dom João
VI. Foram os primeiros a reconhecer a independência brasileira, em
1822. Foram os primeiros, enfim, a abrirem uma embaixada em Brasília, em
1960, e ali vêm dando expediente diário nos últimos 61 anos.
Na prática, e na vida real, essa
história toda acaba dando num grande “e daí?”. Não querem acordo? Então
não vai ter acordo. Os Estados Unidos e a Amazônia continuarão a ser
exatamente o que são.A alternativa é jogar uma bomba de hidrogênio em
São Gabriel da Cachoeira — ou de preferência em Brasília, caprichando na
pontaria para a coisa cair bem em cima do Palácio do Planalto. É
provavelmente o sonho dos intelectuais brasileiros que se aliaram ao
manifesto dos norte-americanos contra o seu próprio país.Pensando um
pouco, qual a novidade nisso também?Agredir o Brasil e os brasileiros é
o que eles fazem o tempo todo, a menos que Lula esteja na Presidência da República — mas aí também não vai haver manifesto nenhum.
A
quem interessar possa, confesso que sou portador de um pacote de
anomalias que me fazem ser a favor da instituição familiar e contra os
que a depreciam, a favor da liberdade e contra arreganhos totalitários, a
favor da sociedade e contra a bandidagem. Podem me olhar de cara feia,
mas é assim que sou.
Também sou – pobre de mim – contra a miséria e, por
isso, a favor do desenvolvimento econômico. Podem me chamar de porco
capitalista, mas me sinto mal ao ver um miserável papeleiro fazendo
tração animal, puxando carroça, porque o município não lhe proporciona
outro modo de recolher papéis pela cidade, tendo preferindo zelar pelo
cavalo e não pelo papeleiro. [um pequeno adendo: muitos dos que usavam animais para puxar carroças, maltratavam em demasia os animais e grande parte t economizava na manutenção do animal, reduzindo a comida. Sem contar os espancamentos para forçar os animais famintos, doentes, alguns já no final da vida, a puxarem com rapidez uma carroça sobrecarregada em longas jornadas.
Pior é se ver em plena Capital da República, seres humanos - filhos de DEUS - revidando latas e sacos de lixo para colher alimentos estragados para se alimentar e aos seus familiares.] Podem me chamar de direitista – não de
fascista porque, como se sabe, fascista é a mãe de quem chama –, no
entanto, não consigo discutir sobre política com quem vive no mundo da
lua.
A
propósito, outro dia, disse-me alguém que a discussão entre esquerda e
direita não define rigorosamente o quadro político brasileiro porque
existe uma esquerda democrática e uma direita democrática e as duas
posições são igualmente legítimas. Aí
já comecei a vislumbrar o cidadão sentado à borda de uma cratera lunar,
balançando os pés e olhando a Terra azul. No mundo real, disse a ele,
não existe esquerda e direita ideal. Existe uma direita real e uma
esquerda real. Esta última, a que existe no Brasil, a que vai às urnas, a
que faz voto e disputa o poder, é representada por dois ou três
partidos que se definem como adversários da democracia liberal,
representativa, que chamam “burguesa”, e querem promover mudanças para
a, assim dita, “democracia popular”.Com esse mesmo rótulo, aliás, foram
comercializados os regimes totalitários no leste da Europa e da Ásia,
durante décadas, a partir de 1948.
Em
toda democracia, mas de modo muito especial numa sociedade pluralista e
de escassos consensos como a nossa, é preciso, sim, haver uma esquerda e
uma direita democráticas. Acontece que a esquerda que governou o Brasil
fez o que se sabee o que se sabe é apenas parte do que fez. Por todos
os modos tentou criar sua “democracia popular”, aparelhou toda a máquina
pública com seus sovietes (conselhos), tomou conta das universidades,
semeou discórdia onde havia união etc., etc., etc.. Não fez diferente no
Rio Grande do Sul nas duas ocasiões em que governou o Estado causando
catástrofes econômicas, fiscais e sociais.
Tenho 76 anos e nem um único minuto desse tempo todo estive em cima do
muro. Não me parece sensato instalar-me sobre ele, como se a política
fosse um jogo em que eu, neutro como uma biruta de aeroporto, me
movimentaria segundo o vento das circunstâncias. Sou culpado? Quem sabe? Nesta terra, disparate é a sensatez. E vice-versa.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e
Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do
site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba,
a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
O STF se transformou num partido, com militantes, facções internas e todo o resto
Talvez pela ruindade sem limites dos políticos brasileiros, talvez por causa da falência geral de órgãos que vai degenerando cada vez mais a vida pública nacional, talvez porque os poderes Legislativo e Executivo raramente foram habitados por gente tão frouxa quanto hoje, tanto nas ideias como na conduta, ou talvez por tudo isso ao mesmo tempo, o fato é o seguinte: os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram que não há mais ninguém no governo da República, e que cabe a eles mandar no Brasil.
Comparando uns com os outros, dá provavelmente na mesma. Mas, com certeza, um país está com problemas sérios de funcionamento quando começa a ser governado “por default”, como se diz hoje. Na falta de outra coisa, entra automaticamente em ação um mecanismo que passa a operar o aparelho por sua própria conta, e sem nenhuma consulta ao usuário.
A dificuldade, no caso, é que o STF está operando mal. Como poderia ser diferente?Os onze ministros não apenas governam o Brasil sem serem eleitos, mas sem terem nenhuma das responsabilidades que vêm junto com a tarefa de governar – e, obviamente, com risco zero de responder pelas
consequências das decisões que tomam. Não pode dar certo. Na prática,
isso significa que eles mandam em tudo mas não se obrigam a pagar por
nada – a começar pelo pagamento propriamente dito das despesas que criam
ou ajudam a criar. O STF dá ordens, apenas isso, e só dá ordens sobre o
que lhe interessa – o Brasil que se vire para cumprir. É onde estamos.
Não
há nenhuma lei que esse novo governo se sinta obrigado a obedecer; quem
obedece, em sua visão das coisas, são sempre os outros. Como durante o
AI-5, quando o regime deu a si próprio o direito de não submeter à
Justiça nenhuma das suas decisões, o STF de hoje não responde a ninguém.
Ainda outro dia, e mais uma vez, o ministro Alexandre Moraes prendeu um
jornalista no inquérito abertamente ilegal que conduz sem nenhum
controle há mais de um ano, como se o STF fosse uma delegacia de polícia
da ditadura. O ministro Lewandowski decide o que você tem de fazer, e o
que não pode fazer, em todas e quaisquer questões relativas à vacina;
deu à sua palavra o status de verdade científica.
O
público é obrigado, além disso tudo, a ouvir lições de filosofia, de
moral e de ciência política dos onze ministros – e ouvir o tempo todo.
Todos eles estão convencidos de que têm o direito de pensar por você, e
escolher o que é melhor para cada cidadão brasileiro – independente da
opinião pessoal que o próprio cidadão possa ter. O último palpite sobre o
bem comum foi dado pelo ministro Barroso, um dos que mais se encanta
com a própria voz. Segundo ele, “o País” precisa do voto obrigatório;
não se deve deixar as pessoas livres para exercerem o direito de votar,
pois a seu ver isso leva ao “radicalismo”. E por aí vamos.
Juízes,
em qualquer país decente, têm a obrigação de ser imparciais, sobretudo
se estão no topo do Poder Judiciário. No Brasil é exatamente o oposto: O
STF se transformou num partido político, com militantes, facções
internas e todo o resto – um partido que não recebe um único voto. Dá
nisso que se vê.