Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador México. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador México. Mostrar todas as postagens

sábado, 22 de maio de 2021

A aposta para salvar vidas - Carlos Alberto Sardenberg

Os governos que compraram vacinas no escuro, quando ainda estavam sendo desenvolvidas pelas farmacêuticas, certamente correram um risco – o risco de perder dinheiro. Era uma aposta boa. Os laboratórios já tinham demonstrado competência em outros medicamentos. Mas continuava sendo uma aposta. Tanto que, hoje, é consenso nos meios científicos que a produção de vacinas tão eficientes em tempo tão curto só se compara à formidável operação que levou o homem à lua. [só que tudo ainda está meio no improviso - é como disse um médico quando falei que iria tomar a vacina chinesa: 'é o que temos' - no inicio do ano, agora tem mais opções.
Não sabemos sequer o prazo da cobertura vacinal - o certo é quem disser que é superior a um ano, está chutando, visto que nenhuma das vacinas tem um ano da primeira aplicação. 
De qualquer forma temos que arriscar na opção vacina, a qual repito: sou sessentão, gozo de excelente saúde (graças a DEUS e as muitas vacinas que tomei na infância) e já tomei,  faz algum tempo, as duas doses da Coronavac e está tudo bem. 
Só me chateia, que não sei até quando estarei protegido - situação que seria a mesma se tivesse tomado a da Pfizer, Astra Zeneca ou qualquer outra. 
Recomendo vacinar, já que vale o dito: 'quem não tem cão'... ]

O governo brasileiro, entretanto, não quis correr o risco. Achou que estava sendo mal tratado, especialmente pela Pfizer. Lá pelas tantas, o general Pazuello disse que negociou com a farmacêutica com o propósito de defender a soberania nacional. E que “não somos caloteiros”. Não deu mais detalhes, nem os senadores perguntaram, mas só podia ser uma referência à exigência de pagamento adiantado. [uma das primeiras vacinas a 'aparecer',em meados de 2020 foi a Sputinik V - nada contra os russos, depois que eles desistiram de impor o comunismo no mundo - mas a Sputinik foi recusada pela Anvisa(de forma fundamentada, clara, permanecendo até o presente momento sem contestação os motivos da rejeição); as cláusulas Pfizer eram draconianas, até o pagamento tinha que ser além de adiantado, pago no exterior e se houvesse qualquer prejuízo para o Brasil o contrato não poderia ser contestado.

Agora, imagine se um governo que incomoda a todos os poderosos = brasileiros, inimigos do Brasil e que querem se livrar do Bolsonaro antes que este tenha tempo de governar o Brasil de verdade, da maneira que quase 60.000.000 de eleitores querem, para tanto o elegeram  - há um pequeno contratempo: os inimigos do Brasil agora, no primeiro mandato do capitão,  foram favorecidos pela pandemia, mas no segundo, com as bênçãos de DEUS, o capitão será a pandemia deles = comprasse vacinas que não fossem aprovadas ou pagasse adiantado por imunizantes e na hora do recebimento fosse preterido por favorecimento a outros países mais endinheirados? (até a poderosa União Europeia foi preterida)O que estariam tentando fazer com o presidente Bolsonaro?]

Ora, os mais de 100 governos que toparam a aposta entenderam melhor: o pagamento adiantado era uma forma de financiar os laboratórios e, pois, de apressar o processo de produção das vacinas. De novo, se tudo desse errado, teriam perdido muito dinheiro. Mas dando certo, como deu, salvariam vidas, como salvaram. O governo brasileiro não economizou dinheiro, porque teve de comprar as vacinas já prontas e provavelmente mais caras, nem defendeu uma suposta soberania. Perdeu centenas de milhares de vidas.

A CPI da pandemia já mostrou pelo menos dois desastres graves. Primeiro, a incapacidade do governo Bolsonaro de entender o drama da doença – não teve compaixão pelo sofrimento das pessoas, nem compreendeu o estrago que a pandemia poderia fazer na vida social e econômica do país. Não entendeu o que o próprio secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, escreveu: a melhor política econômica é a vacina.

Em segundo lugar, os depoimentos na CPI mostraram que, mesmo quando percebeu o problema, o governo agiu de modo desastrado. Caiu por terra tudo o que os próprios militares falavam de sua capacidade de organização. [organização está entre as práticas que só podem ser aplicadas ao que existe... .  
A CPI já começou errada na escolha do seu presidente e do relator. 
Agora mostra seu  real e único objetivo: derrubar o presidente Bolsonaro - felizmente, vão fracassar.] 
Só um caso: no auge da falta de oxigênio em Manaus, um secretário do Ministério da Saúde teve a brilhante ideia de enviar ofício ao Ministério Público, pedindo que entrasse com uma ação contra a White Martins, para obrigar a companhia a providenciar aviões e levar o produto para a cidade.[com todas as vênias ao ilustre articulista, ousamos assegurar que o autor da proeza não é, ou não era,  do Ministério da Saúde ou alguém cuja escolha possa ser imputada ao presidente ou a Pazuello.  
Se assim fosse o nome dele estaria destacado em LETRAS IMENSAS, e com chamada, de maia página, na primeira página do O Globo.  O 'pai da criança' deve ser da secretaria de Saúde do Amazonas.] Tudo errado, como respondeu o Ministério Público. Isso não era obrigação da companhia, mas do governo. A obrigação da empresa no episódio foi cumprida: avisou com antecedência que a demanda por oxigênio era crescente e que os estoques estavam caindo rapidamente.

Semanas depois desse aviso o Ministério da Saúde agiu com o ridículo pedido de ação contra a empresa. E ainda chegou a dizer que o avião da FAB providenciado para fazer a entrega estava quebrado. Só tinha um? Hoje, as companhias produtoras de vacinas mais modernas estão procurando parceiros pelo mundo. Segundo dados da revista Economist, já são 280 contratos de transferência de tecnologia e/ou de construção de fábricas. A Biontech, por exemplo, inventora da vacina distribuída pela Pfizer, já está preparando uma planta em Cingapura. Coreia do Sul, Japão, República Checa também negociam novas fábricas.

No Brasil, os dois institutos produtores de vacinas, Butantan e Manguinhos, não têm capacidade técnica nem financeira para receber as novíssimas tecnologias. [será que não? ou é mais conveniente a certos grupos construir do ZERO? por isso a pressa de se livrar do Bolsonaro;  - afinal, estamos no país que desmonta hospitais de campanha antes do término da pandemia e quando surge outra onde, leva mais temo e gasta mais dinheiro para remontar o que desmontou = alguém e na reconstrução.
Convenhamos que  construir fábricas agora para produzir vacinas, pelo tempo que demanda, só será válida se  produzir vacinas para uso na próxima  pandemia - nos vinte anos iniciais de cada século surge uma.]

É o resultado de décadas de falta de investimentos públicos e privados. O governo não investe porque gasta demais com previdência e benefícios (18,4% do PIB) e pessoal (13,2%). Para comparar: o México gasta 9,4% do PIB nesses dois itens. E não se pode dizer que o desempenho do governo brasileiro tenha sido muito mais eficiente no combate à pandemia.[não podemos olvidar: o governo Bolsonaro só podia agir no combate à pandemia, se suas decisões não contrariassem os estados e municípios - as famosas 'autoridades locais'. Caso contrariasse,  por suprema decisão, valia o querer dos prefeitos e governadores.]

O setor privado não investe porque o ambiente de negócios é desfavorável. Acrescente-se um governo negacionista e atrapalhado e temos quase 500 mil mortos.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - Economia 22 de maio de 2021


segunda-feira, 22 de março de 2021

Monitorar a vacinação - Alon Feuerwerker

Agora que a vacinação contra a Covid-19 por aqui está pegando tração, duas notícias positivas de hoje. A primeira é que o imunizante de Oxford e da AstraZeneca conseguiu 79% de eficácia na prevenção de casos sintomáticos. A vacina também revelou 100% de eficácia contra casos graves. 

Além disso, não aumentou o risco de coágulos sanguíneos (leia). O estudo foi conduzido com mais de 30 mil vacinados nos Estados Unidos, Chile e Peru. A segunda é que o imunizante da chinesa Sinovac é efetivo e seguro para crianças e adolescentes (leia).

Parece que as duas escolhas, do governo de São Paulo e do federal, vão se provando adequadas, resta agora torcer para que as entregas prometidas se realizem conforme o planejamento. A velocidade na vacinação é importante para ganhar a corrida contra as novas cepas que a seleção natural produz.

Para quem deseja acompanhar em tempo (quase) real a vacinação pelo mundo, no Financial Times tem os dados absolutos e proporcionalmente à população. Eu escolhi comparar Brics, México e Argentina (leia). Mas você pode comparar o que quiser. Vale favoritar.

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


sábado, 13 de março de 2021

Bolsonaro repete que é fácil implantar uma ditadura no país - Blog do Noblat

Veja - Ricardo Noblat

Enquanto isso, a pandemia avança e colhe mais vidas

O Dia D, de desatinos do presidente Jair Bolsonaro, foi ontem. Mas poderá ser amanhã ou em qualquer outra data daqui por diante. Nunca na história deste país se viu um presidente ler em público a carta de um suposto suicida – no caso, uma pessoa que teria se matado por ter perdido o emprego devido às medidas de isolamento social adotadas no combate à Covid.

[optamos por não estender nossos comentários - se torna tedioso estar sempre apontando o que o despeito, o inconformismo, a frustração com a vitória do capitão em 2018, quando quase 60.000.000 de eleitores escolheram o então deputado Bolsonaro para o mais alto cargo que um brasileiro pode ocupar = presidente da República  Federativa do Brasil. Leiam com atenção e constatem o quanto os fatos são manipulados, comentários do presidente efetuado entre apoiadores são considerados decretos  - os decretos do presidente são em grande maioria contestados, mas comentários que podem ser interpretados contra o presidente são considerados documentos oficiais.                                                           Leiam e comparem com informações públicas, que todos conhecem e verão que tudo que pode ser 'dirigido' com um viés contrário ao presidente, tudo que pode ser 'manobrado', apresentado, narrado de forma a tentar prejudicar sua imagem, é feito. Felizmente FRACASSAM.
- Um único exemplo: alguns integrantes da mídia militante já torceram pela morte do presidente, outros insinuaram suicídio, e ficou tudo por isso mesmo.
Já o presidente comentou sobre uma suposta carta de um suposto suicídio e logo pedirão seu impeachment. CRIME: INDUÇÃO AO SUICÍDIO. Foi contra o nosso presidente Bolsonaro, vale tudo
.]

Nunca se viu um presidente chamar de “estado de sítio” o que nem mesmo de lockdown pode ser chamado, e alertar que “estado de sítio” cabe a ele decretar, não a governador. Para completar, nunca se viu um presidente dizer que sua caneta está carregada de tinta e que é muito fácil implantar uma ditadura no país. Nem os presidentes da ditadura militar ameaçaram o país nesses termos. Não durou 24 horas o ensaio de conversão de Bolsonaro ao uso de máscara e à defesa de providências que barrem o agravamento da pandemia que só faz bater recorde atrás de recorde em número de mortos e de infectados. Foram 2.207 novas mortes e 78.297 novos casos nesta quinta-feira, dia 11 de março. No total até aqui, 273.124 óbitos e 11.284.269 de infectados.

Na última quarta-feira, o Brasil era o país onde mais pessoas morriam da Covid no mundo, com 190 mortes a mais por dia do que os Estados Unidos e à frente de México, Rússia e Itália. Era também o país onde o número de mortes mais subia. Apenas 4,39% da população foi vacinada. O Ministério da Saúde recalcula para baixo o número de doses de vacinas que espera receber. [por favor: todo o Brasil e o mundo  sabem perfeitamente da carência de vacinas - acusar o presidente Bolsonaro de ser o responsável pela falta de vacinas é forçar a barra na manipulação dos fatos.]

Auxiliares de Bolsonaro deixaram de fingir que a volta à cena de Lula não abateu seu chefe. E que a eventual candidatura do ex-presidente no ano que vem acabaria por beneficiar Bolsonaro ao aumentar a polarização ideológica. Tanto quanto Bolsonaro, eles estão atarantados. Temem que o avanço da pandemia, a falta de vacinas, a inflação e o desemprego em alta favoreçam Lula. Esse ser sem rosto e sem nome que a imprensa batizou de mercado teme que Bolsonaro rompa o pacto firmado com ele de fazer as reformas do Estado prometidas pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, o ex-Posto Ipiranga cada vez mais vazio de combustível e de quinquilharias. Sempre que Guedes afirma que ruim com ele, pior sem ele, o mercado entende: não vai dar, emperrou.

O mundo era outro e bem mais esperançoso para Bolsonaro e seus apoiadores, entre eles o mercado, até que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu as condenações de Lula e provocou o furacão que só ganha força. O efeito Lula tirou a centro-direita do seu berço esplêndido e, ao invés de enfraquecer candidaturas ainda adormecidas, poderá fortalecê-las.

Sérgio Moro parecia morto, mas não está. Luiz Henrique Mandetta, em pesquisas que simulam o segundo turno, bate Bolsonaro. Luciano Huck está mais assertivo em suas críticas ao presidente acidental. O PSDB assanhou-se para sair a campo. Esses nomes, ou um nome novo que apareça, só tomarão votos de Bolsonaro. Lula é o dono dos votos do seu pedaço.

O risco para todos é que Bolsonaro tente melar o jogo se concluir que não poderá vencê-lo. Em sua live das quintas-feiras no Facebook, novamente acusou os governadores de quererem quebrar a economia do país e incitou seus seguidores a saírem às ruas em desobediência às ordens de isolamento. Falou em possíveis ataques a supermercados. Tocou horror. Por ora, os militares empregados no governo e os reclusos [aquartelados]  e em quartéis estão calados. Nenhum se aventurou a lançar nota de advertência ao Supremo com a intenção de pressioná-lo a manter Lula como ficha suja. [quando uma nota de alerta advertência é expedida pelo comandante geral do Exército, costuma ser considerada um documento sério e em prol do Brasil.] Mas não se descarte que isso possa ocorrer, é tudo o que Bolsonaro deseja. E aí veremos se a democracia brasileira continua sendo a plantinha tenra que já foi no passado.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA


segunda-feira, 8 de março de 2021

Sem pânico, mas voltando a agir - Valor Econômico

Luiz Carlos Mendonça de Barros

Os efeitos da recuperação mostram que faz sentido gastar primeiro e posteriormente reaver via aumento da arrecadação

O agravamento da situação sanitária com o recrudescimento da pandemia nos últimos meses está obrigando a maioria dos governos a buscar um segundo esforço fiscal para manter a recuperação econômica viva. As novas medidas de afastamento social e, como consequência, as novas restrições a várias atividades econômicas importantes trouxeram o risco da repetição da recessão que ocorreu no segundo trimestre de 2020.

Os números já conhecidos mostram no terceiro e parte do quarto trimestre de 2020 uma recuperação econômica bastante forte embora ainda não o suficiente - com exceção da China - para compensar a queda que ocorreu entre março e junho. Alguns casos atingiram números históricos como o do Reino Unido com uma queda do PIB médio de 2020 superior a 8% quando medido contra o ano anterior.

Nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, a queda foi bem menor, mas ainda assim um valor que vai fazer parte dos registros históricos com certeza. O Brasil, apesar de todas as incertezas que vivemos, mostrou uma performance admirável com uma queda média pouco superior a 4%, mas com uma recuperação bastante forte em vários setores importantes da economia. Como comparação no mundo emergente o México chegou a mais de 8% de queda também.

Mas sem uma ação forte e imediata por parte dos governos - completando a postura agressiva dos Bancos Centrais na política monetária - voltaremos certamente a uma recessão profunda em um momento em que a aplicação de várias vacinas permite trabalhar com um horizonte mais otimista para o controle da pandemia neste ano. Gosto de acompanhar o caso do Reino Unido pois o Partido Conservador, do ministro Boris Johnson, tem uma longa e conturbada história de conservadorismo fiscal radical em muitas décadas. Pois seu ministro das Finanças foi um dos mais ousados na montagem de um programa de estímulos ao setor privado na recessão do ano passado e agora - apesar de um déficit fiscal recorde que assusta os conservadores - repetiu a mesma dose em fevereiro. Sua única mudança em relação ao primeiro programa foi uma mensagem que deixou bem claro que após uma nova estabilização por conta do sucesso da vacinação da população os ingleses vão ter que pagar - do próprio bolso - os gastos extraordinários incorridos pelo tesouro britânico.

Em outras palavras, no Reino Unido o governo aceitou o fatiamento do novo Plano em duas etapas; na primeira estão os gastos necessários para estabilizar a economia e depois, a fase de aumento de impostos e redução de despesas correntes para estabilizar a dívida pública. Aqui no Brasil esta forma de agir provocou um pânico no mercado financeiro pela falta de confiança de que o governo Bolsonaro, antes das eleições de 2022, tome as medidas compensatórias necessárias à estabilização de nossa dívida pública. Talvez tenham razões para isto, mas na Medida Provisória aprovada no Senado - e certamente na Câmara de Deputados - as medidas simultâneas de compromisso com a austeridade fiscal foram fortemente desidratadas. Mas de qualquer forma as regras para um novo pacote de estímulos econômicos que dependem da aprovação legislativa estão estabelecidas e concentradas na transferência de recursos para a camada mais pobre da população.

Serão elas suficientes para suportar o pesado impacto de medidas de afastamento social sobre a atividade econômica na espera do progresso da vacinação em massa? Creio que não, pois a nova paralisação das atividades nos setores de serviço e comércio vão atingir empresas já muito enfraquecidas e que dificilmente sobreviverão a novas restrições de suas atividades. O governo deve tomar medidas semelhantes as que estão em vigor no Reino Unido, do tipo bolsa-empresário para as empresas que serão mais afetadas nos próximos meses. Na Inglaterra o governo tem um vasto cardápio de medidas que vão da postergação ou cancelamentos de impostos até o pagamento direto de até 80% dos salários dos funcionários.

A indústria está tendo no Brasil uma proteção conjuntural importante - e pouco percebida pelos analistas mais conservadores - em função dos efeitos de uma taxa de câmbio ultra desvalorizada pela saída maciça e continuada de capitais financeiros de curtos prazo. Com esta situação as vendas no mercado interno crescem pela alta de preços em reais dos produtos e componentes importados e a parcela exportada pelo aumento das margens de lucro. Apesar disto faz sentido um novo programa de adiamento do pagamento de impostos por simples medidas administrativas da Receita Federal. Finalmente o setor agrícola continua sendo o grande vencedor em função da produtividade sistêmica em um quadro de demanda mundial aquecida - e que só tende a aumentar com a recuperação das principais economias do mundo mais à frente - e uma taxa de câmbio generosa para nossos produtores.

Apesar da paranoia fiscal que tomou conta das elites econômicas - principalmente no mercado financeiro e nos principais órgãos da mídia - os efeitos da recuperação da economia nos últimos meses mostram que faz sentido gastar primeiro e posteriormente recuperá-los via aumento da arrecadação. Com o horizonte da vacinação em massa a ser atingido ainda este ano fica mais fortalecido ainda o custo/benefício de um novo pacote fiscal no Brasil para enfrentar os próximos meses.

E, como no Reino Unido, primeiro aumentar os gastos públicos para depois ajustar o crescimento do estoque de dívida pública via um aumento temporário e inteligente da tributação de empresas e pessoas mais ricas, que serão os grandes beneficiários deste novo pacote fiscal.[um lembrete: o que assusta são os  temporário = que no Brasil quase sempre fica permanente, com a agravante de que o ministro Guedes continua obcecado pela maldita CPMF = e o inteligente = um ministro que quer restabelecer uma extorsão que não deu certo desde o seu primeiro lançamento.]

LuizCarlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, presidente do Conselho da Foton Brasil. Ex-presidente do BNDES e ministro das Comunicações.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Cada vez mais quente: o escândalo da ‘Vacinação VIP’ na Argentina - Blog Mundialista - VEJA

Alberto Fernández quer se distinguir por práticas republicanas, mas a realidade latino-americana é mais forte – e tem caso no Peru também

O ministro, o vice-ministro, mais outros ministros, os chefões sindicais, o embaixador no Brasil, um ex-presidente, os filhos, as esposas, os sobrinhos, os sogros, os amigos, as “amigas”, as secretárias, o fotógrafo do presidente e até, em pelo menos um caso, o motorista. [Na Argentina, só esqueceram  de vacinar os profissionais da Saúde; 
falando em prioridade, uma deputada federal petista, DF, está preocupada em que criminosos presos com mais de 60 anos sejam vacinados. 
A petista, provavelmente está preocupada com ela ou outros colegas de partido - sendo comum petista ser preso, existe a possibilidade de um deles, ou vários, ser encarcerado e não estar imunizado.
Defendemos o cumprimento da lei: se o cara está preso, se supõe que está isolado do convívio social = isolamento e distanciamento social  = inerente a quem está preso.
Voltamos a malhar em ferro frio criticando dar prioridade a indígenas aldeados (os que moram em aldeias) . Se moram em aldeias já estão isolados do convívio com possíveis prováveis contaminados = contaminadores.]

Não tem fim a lista de privilegiados, no poder ou em suas imediações, que furaram a fila da vacina e receberam a Sputnik V num hospital de Buenos Aires, o Posadas. Os mais VIP ainda tiveram uma facilidade extra: uma equipe de vacinadores ia ao Ministério da Saúde para um atendimento customizado.

O ministério fica a cinco minutos da Casa Rosada, mas o presidente Alberto Fernández parece ter caído do terceiro ainda quando o caso explodiu. Rapidamente, ejetou do cargo o ministro da Saúde, Ginés González García. Promoveu para a pasta a vice, Carla Vizzotti, que precisaria ter um nível extraordinário de embotamento perceptivo para não captar o que estava acontecendo à sua volta.  Também rodou o sobrinho de Ginéz, Lisandro Bonelli, que também era, por uma extraordinária coincidência, seu chefe de gabinete. Como nas grandes festas, era ele o encarregado de controlar a lista VIP.

Fernández fez a degola e viajou com a comitiva desfalcada por alguns dos VIPs vacinados na surdina – e num avião particular pertencente a Lionel Messi, alugado para a viagem oficial por 160 mil dólares com o objetivo de oferecer privacidade sanitária ao presidente. Antes de viajar, mandou que fosse divulgada a lista completa dos vacinados, achando que assim o caso – “reprovável”, segundo o adjetivo mais forte que conseguiu encontrar – começaria a refluir. Teve o efeito oposto.

MATÉRIA COMPLETA: Wilma Gryzinski, colunista - Blog Mundialista - Veja

 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Na véspera de Natal, Bolsonaro chama Doria de 'calcinha apertada' e diz que não se responsabiliza por reações a vacina - O Globo

Leandro Prazeres

Em transmissão ao vivo nas redes sociais, presidente voltou a defender políticas armamentistas

Na véspera do Natal, o presidente Jair Bolsonaro dedicou sua transmissão ao vivo em redes sociais para atacar o governador de São Paulo, João Doria, defender o armamentismo e para dizer que não se responsabilizará por efeitos colaterais de vacinas contra a Covid-19 distribuídas pelo governo.

Sonar: Vereador bolsonarista de BH compartilha fuzil como presente de Natal e atribuiu conquista ao governo Bolsonaro

Eu não me responsabilizo por ninguém. Afinal, quem tem que se se responsabilizar por medicamento não sou eu — afirmou Bolsonaro.

Durante a transmissão que durou aproximadamente uma hora e 20 minutos, Doria foi o alvo preferencial do presidente, mesmo sem mencionar o governador de São Paulo pelo nome.

Decreto natalino: Bolsonaro concede novo indulto a policiais que cometeram crimes

[Vale lembrar que a definição 'cometeram crimes' é parcial e indevida. 
1) Os  beneficiados são policiais que no estrito cumprimento do DEVER LEGAL agiram contra bandidos, houve confronto e os bandidos tombaram. 2)Também foram indultados policiais que mesmo de folga, reagiram contra bandidos - em defesa própria ou de terceiros - e os bandidos levaram a pior.
Seja no 1 ou no 2, não ocorreu crime.]

— Eu quero o cidadão de bem armado. Com o povo de bem armado, acaba essa brincadeirinha de “vai ficar todo mundo em casa que eu vou passear em Miami". Pelo amor de Deus. Oh… calcinha apertada! Isso não é coisa de homem. Fecha São Paulo e vai passear em Miami. É coisa de quem tem calcinha apertada. Isso é um crime — disse Bolsonaro.

A declaração foi uma menção à viagem que João Doria fez a Miami na véspera de Natal, onde foi flagrado frequentando uma loja sem usar máscaras, numa contradição em relação à recomendação que o governador de São Paulo vem fazendo desde o início da epidemia de Covid-19.

O caso veio à tona e fez com que Doria divulgasse um vídeo pedindo desculpas à população de São Paulo. Segundo ele, a viagem à Flórida foi para atender a duas conferências para as quais ele havia sido convidado.

Bolsonaro usou a transmissão para, novamente, colocar em dúvida a segurança das vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a Covid-19. Ele disse que vai insistir na necessidade de que as pessoas que optarem por tomá-la assinem um termo de responsabilidade.— Não vou aceitar uma vacina que não está devidamente comprovada, que está em fase, experimental. Não vou me responsabilizar. Pode ser que não aconteça nada. Pode ser que a vacina atinja seus objetivos. Eu não posso me responsabilizar — afirmou o presidente.

Atualmente, nenhum laboratório que desenvolve vacinas contra a Covid-19 fez o pedido de registro do produto junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governo federal se comprometeu a adquirir pelo menos 254 milhões de doses de vacina desde que sejam aprovadas pela agência.

Enquanto isso, países como o Reino Unido e Estados Unidos já iniciaram a vacinação da sua população. Na América Latina, México, Argentina e Chile deverão ser os primeiros a imunização contra a doença.

Mais tarde, em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, em tom mais ameno, o presidente disse se solidarizar com familiares de vítimas da Covid-19. — Nessa ocasião, solidarizo-me, particularmente, com as famílias que perderam seus entes queridos neste ano. Externo meus sentimentos, pedindo a Deus que conforte os corações de todos — afirmou.

Bolsonaro também aproveitou a transmissão em suas redes sociais para defender o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kássio Nunes Marques, o primeiro indicado por ele a ocupar uma vaga na Corte. Bolsonaro defendeu decisões tomadas pelo ministro que foram alvo de polêmica nas últimas semanas como a que suspendeu um trecho da Lei da Ficha Limpa que determina que o prazo de oito anos de inelegibilidade para condenados por órgãos colegiados tem efeitos após o cumprimento da pena. A decisão foi vista por críticos como uma flexibilização que favoreceria políticos “ficha suja”.

Lei demais atrapalha. Mas ele (Kássio) não acabou com a lei da Ficha Limpa. Sem querer defender o ministro do STF, Kassio Nunes, mas ele definiu apenas início da contagem do tempo (para a inelegibilidade). Em função disso, se disserem: “Ah...não voto mais no Bolsonaro. Olha quem ele botou (no STF)”. Paciência. Lamento. Não posso obrigar você a votar a mim. Você é dono do seu voto — afirmou.

Bolsonaro disse ainda que o próximo indicado a uma vaga no STF seguirá o mesmo “padrão” de Kássio Nunes Marques. No fim da transmissão, Bolsonaro recebeu a visita do artista brasileiro Romero Brito, conhecido internacionalmente pelos quadros pintados com cores fortes e uso de formas geométricas na composição de rostos e paisagens.

Brasil - Jornal O Globo 

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

As riquezas dos maricas - William Waack

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro é o pior inimigo de si mesmo quando se trata de ridicularizar sua autoridade

Era óbvio e esperado que, ao perder a aposta feita em Donald Trump, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro fosse incluído na coluna “perdedores” em todas as listas de governantes que se deram mal com a vitória de Joe Biden. [sic] Não são poucos, e incluem países tão diferentes entre si como Israel, Arábia Saudita, Turquia, Reino Unido e Hungria. Mas o que a língua solta do presidente está produzindo é uma rápida perda da própria autoridade

A popularidade que resulta de auxílios emergenciais é tão efêmera quanto a duração desses auxílios, e até aqui o governo não conseguiu dizer como vai incluir uma renda básica no Orçamento do ano que vem (que, aliás, não foi votado). Sim, é popularidade que pode ser reconquistada, ainda que a custo literalmente alto para os cofres públicos – e enquanto a economia não sofrer desarranjos maiores, fantasma que o próprio ministro Paulo Guedes anda alimentando.  

[Paulo Guedes deveria ter sido defenestrado do governo Bolsonaro antes da posse do presidente;

Paulo Guedes funciona na base de 'balões de ensaio' e manobras diversionistas. Exemplos: desde o inicio do governo que ensaia voltar com a CPMF, sob outro nome só que pior, ensaia, recua, volta a ensaiar, novo recuo e ao tempo que distrai os incautos com a CPMF, afunda com a caderneta de poupança - uma forma de desviar recursos daquela aplicação para os investimentos de risco. 

Tem  banco oferecendo investimento que rende quase 200% do CDI e diz que rende o dobro da poupança = ótimo, só que mesmo rendendo o dobro da poupança serão necessários quatro meses de investimento para repor o 'espirro' da inflação de outubro.]

A briga de Bolsonaro com a vacina “chinesa” conseguiu gerar desconfiança em qualquer vacina, justamente quando os especialistas alertam para o fato de que o Brasil provavelmente enfrentará uma segunda onda de covid-19, tal como acontece no momento na Europa e nos Estados Unidos. E a politização afeta a confiança em duas instituições essenciais para saúde pública: as que produzem a vacina (como o Instituto Butantan) e as que regulam sua aplicação (como a Anvisa). O resultado geral é péssimo para todos os governantes e causou séria apreensão nos governadores.[a 'briga' pela vacina é estúpida, independente dos brigões, por ser uma peleja por algo que não existe.

O presidente Bolsonaro pode, e deve, acabar com essa discussão por uma vacina inexistente, calando a boca de todos. Para tanto, basta convocar as redes sociais e ao vivo e em cores chega, desfere um murro na mesa - daqueles que fazem o que estiver em cima mesas saltar mais que pipoca - e declara que na condição de presidente  do Brasil decreta que no dia em que for apresentada oficialmente ao seu Governo, uma vacina contra a covid-19 ela será comprada. 

O produto ofertado, deverá ser uma  vacina comprovadamente testada, segundo protocolos científicos específicos, apresentando uso seguro e eficácia comprovada. Atendido esses requisitos, seu governo comprará a quantidade de doses disponíveis, limitadas a 50% do total atual da população brasileira. 

Assumindo tal compromisso o senhor cala a boca de todos - incluindo a do deputado que preside a Câmara, de todos que insistem em dar pitacos no seu Governo, dos que querem governar sem votos e sem mandato para tanto.]

Da mesma maneira, pode-se argumentar indefinidamente sobre quem atrasa mais a aprovação das reformas que lidem com a questão fiscal, se é o Congresso ou se é a equipe do Ministério da Economia. Mas, no sistema político brasileiro, é o presidente quem tem o poder de ditar a agenda política, e a pergunta cada vez mais pesada no ar é se alguém sabe o que Bolsonaro pretende além de manter popularidade a um custo que a passagem do tempo só torna mais caro do ponto de vista fiscal.

O grau de isolamento internacional do Brasil por conta das apostas de Bolsonaro é inédito, ainda que lhe reste o consolo de estar na companhia de países como China, Rússia e México, que até aqui se recusam a parabenizar Joe Biden pela vitória nas eleições presidenciais. Ocorre que esses três países tem contenciosos importantíssimos com os Estados Unidos, enquanto Bolsonaro está aparentemente ávido para encontrar um: a Amazônia.

Biden mencionou US$ 20 bilhões de possível ajuda, o agronegócio tecnológico e nossa matriz energética têm tudo para ganhar num impulso rumo à economia “verde”, mas o presidente prefere falar de “pólvora” quando esgotar a diplomacia em relação à pressão americana em questões ambientais. No caso brasileiro, nossa diplomacia esgotou-se ao exercer a ridícula opção preferencial de se subjugar a Donald Trump. Os que realmente possuem “pólvora”, como China e Rússia, não ficam falando disso. De qualquer forma, faltou Bolsonaro esclarecer como pretende usar eventualmente pólvora para enfrentar os malandros de olho nas nossas riquezas, se ele considera que preside um país de maricas. 

William Waack, jornalista - Opinião - O Estado de S. Paulo



terça-feira, 10 de novembro de 2020

Biden antecipa 2022 - Nas Entrelinhas

“O encontro do apresentador Luciano Huck com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro mexeu com o tabuleiro político. O apresentador  de tevê se fingia de morto

“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem: não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e, sim, sob aquela com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Quem já não leu ou ouviu essa frase na crônica política? É citada com frequência, literalmente ou não, mas com o mesmo sentido. Está no segundo parágrafo do O 18 Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx (Martin Claret), escrito em Londres, sob encomenda, para um semanário que seria lançado em Nova York, em 1º de janeiro de 1852, cujo editor, Joseph Weydemeyer, morreu. O texto acabou publicado numa revista mensal intitulada Die Revolution e introduzido na Alemanha semiclandestinamente, antes de virar um livro-reportagem sobre o golpe de Estado de Napoleão III, em 1851. O título faz alusão ao golpe de 9 de novembro de 1799, esse, sim, dado por Napoleão Bonaparte. É um clássico da análise política, que cunhou os conceitos de “bonapartismo”, “transformismo político” e “cretinismo parlamentar”.

[o animador de auditório não se fingia de morto já que politicamente ele nunca pertenceu ao mundo dos vivos;
quanto ao ex-juiz, ex-ministro, a cada dia sua projeção política mais se apequena, o que se nota com facilidade pelos parceiros que o procuram.] 

O presidente Jair Bolsonaro não foge à regra dos grandes personagens da História que se repetem, citados por Marx naquele texto: depara-se com circunstâncias que não escolheu e são completamente diferentes daquelas nas quais se elegeu. É como se a roda da Fortuna tivesse girado a favor dos seus adversários, zerando a vantagem estratégica que a conjuntura de 2018 havia lhe proporcionado. Para piorar a situação, antecipou sua campanha à reeleição em todos os movimentos que fez desde quando assumiu a Presidência e, agora, com o gênio fora da garrafa, não tem como pô-lo de volta. Nem bem o primeiro turno das eleições municipais acabou, [acabou? sem começar?] o quadro eleitoral de 2022 começa a ser desenhado à sua revelia, agora impulsionado por um fator externo cujo impacto no Brasil não pode ser subestimado: a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, inequívoca, embora o presidente Donald Trump se recuse a admiti-la e se movimente como quem deseja criar uma crise institucional para permanecer no poder. [sugerimos ler:
Procurador-geral autoriza investigações sobre eleição americana
  -  Correio Braziliense.]

Não é à toa que líderes mundiais como Vladimir Putin, da Rússia; Xi Jinping, na China; e López Obrador, no México, ainda não enviaram congratulações ao democrata e aguardem o resultado oficial da disputa, cuja divulgação Trump procura retardar ao máximo, com seus recursos judiciais. São líderes políticos que têm grandes contenciosos com os Estados Unidos e não desejam tornar a vitória de Biden ainda mais consagradora, fortalecendo-o nas negociações. Nenhum deles, porém, tem tanta identidade ideológica com Trump como Bolsonaro. Também não se manifestaram durante o pleito a favor do candidato republicano. O retardo em reconhecer a vitória de Biden, por lealdade a Trump, está aprofundando o mal-estar que já existia com o novo presidente dos Estados Unidos. Além das implicações da vitória dos democratas em relação à política externa e à questão ambiental no Brasil, já estão aparecendo suas consequências para a política nacional propriamente dita, inclusive do ponto de vista eleitoral.

O centro renasce
Por exemplo, o encontro do apresentador Luciano Huck com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro mexeu com o tabuleiro das eleições presidenciais. O jovem comunicador se fingia de morto e sua candidatura somente existia no Twitter do ex-deputado Roberto Freire, presidente do Cidadania. A partir do momento em que se tornou público seu encontro com Moro e que ambos discutiram o cenário eleitoral de 2022, todos os possíveis candidatos e seus aliados se mobilizaram. É ingenuidade acreditar que o encontro em si alterou o cenário político — o prestígio de ambos estava em declínio nas pesquisas —, [com as devidas vênias ao articulista cabe uma correção temporal: está em declínio, em queda, com forte viés de aceleração.] o que mudou a correlação de forças foram as novas circunstâncias criadas pela vitória de Biden, com uma narrativa que não tem sintonia com Bolsonaro, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) nem mesmo com Ciro Gomes (PDT).

O encontro de Huck e Moro sinalizou que o campo liberal-democrático pode buscar uma convergência e ocupar, novamente, o centro político, mas isso passa, ainda, por João Doria (PSDB), governador de São Paulo; Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul; Rodrigo Maia, presidente da Câmara; Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde; e Marina Silva(Rede), ex-ministra. Unificar o centro democrático não é uma tarefa fácil, nunca foi. Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, no MDB, disputaram a liderança da oposição até a derrota das Diretas Já. Fernando Henrique Cardoso teve de dobrar Mário Covas, no PSDB, para consolidar sua aliança com o PFL, de Antônio Carlos Magalhães e Marco Maciel.

De volta aos programas de tevê com forte cunho social, Huck se movimenta de forma dissimulada, mas sua permanência na TV Globo tem data marcada, precisa decidir até meados do próximo ano se é candidato ou não. Moro enfrenta o sereno na planície, é um candidato encabulado, mas tem um partido pronto para abrigá-lo, com forte bancada no Senado, o Podemos. Doria tem as dificuldades de todo político paulista para sair do Palácio dos Bandeirantes, podendo se reeleger, e arriscar a Presidência. Mandetta é candidato declarado, enquanto houver pandemia, terá pista para correr, mas precisa seduzir a cúpula partidária, que sonha com a candidatura de Huck pela legenda. Eduardo Leite pode ser a nova cara do PSDB, se Doria não concorrer. Marina Silva sonha em renascer como Fênix, para viabilizar a Rede. [merece pena o fracasso da tática da ex-ambientalista  de governar sem votos - via judicialização.

Marina em abundância de títulos de EX ganha com folga do ex-juiz, ex-ministro; Ela detém: ex-senadora, ex-ambientalista, ex-candidata, ex-evangélica (de uma corrente que defende o aborto)] Reunir todos numa candidatura é um projeto ambicioso. Além disso, não se deve subestimar a força da oposição de esquerda, que pode se reagrupar, a partir das conversas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT) da Silva e Ciro Gomes (PDT), para chegar ao segundo turno.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense 

 

 

domingo, 9 de agosto de 2020

Realidade que assusta - Cada morto importa

Merval Pereira


Dizer que o país está bem nas estatísticas, porque temos 471 mortes por milhão de habitantes, [homogenizando a referência = 47,1 por cem mil habitantes] enquanto países como a Espanha têm 610 [=61/100.000], ou Reino Unido tem 623,[=62,3/100.000],  é somente a demonstração de que com estatísticas é possível fazer qualquer coisa, torturando os números.
[uma vida importa, isto não se discute
Só que decretar luto oficial, fazer pronunciamento, emitir nota oficial em nada vai alterar a tragédia. 
Atualizando: 
- Sem ser motivo de regozijo, mas, em prol da notícia, apresentamos alguns dados sobre número de mortos:
"A taxa de óbitos no país (48 por 100 mil) é, no momento, menor que as registradas na Bélgica (86), Reino Unido (70), Peru (64), Espanha (61), Itália (58) ou Suécia (57). 
Na faixa brasileira estão o Chile (53), os EUA (49) e o México (40). 
Por razões aleatórias, algumas áreas de elevada urbanização, na Espanha, na Itália, na França, na Bélgica, na Suécia e nos EUA, sofreram extensivos contágios na etapa oculta da pandemia. Depois desse impactocom lockdown (Itália, Espanha, França) ou sem ele (Suécia)o gráfico de óbitos já estava traçado, ao menos em linhas gerais." (CONFIRA, CLICANDO AQUI)
ou
Fonte: Demétrio Magnolli - Folha de S.Paulo.]

O máximo de empatia que conseguiu exprimir foi uma frase abominável: “A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número 100 mil… mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. Para quem tem a culpa maior por essa tragédia brasileira, dizer isso ao lado de um ministro interino da Saúde há mais de dois meses, enquanto a mortandade só fez crescer, é sinal de sociopatia, que, aliás, vem demonstrando em vários momentos.

Sua empatia é seletiva, foi ao Rio para o velório de um paraquedista que morreu, mas fez um passeio de jetski quando o número de mortos chegou a 10 mil. A disputa que o presidente Bolsonaro estimulou com os governadores foi uma das principais causas do desacerto do combate à Covid-19.  Essa briga de poder aconteceu porque Bolsonaro queria impor suas idéias, como o uso de cloroquina e a abertura das cidades para não prejudicar a economia. O mais inacreditável foi a briga de Bolsonaro com os ministros da Saúde, Luiz Mandetta e Nelson Teich, querendo impor suas vontades contra a orientação cientifica internacional.

A crise pessoal de Bolsonaro só acabou quando resolveu colocar o General da ativa Eduardo Pazuello na interinidade permanente à frente da Saúde. Como cultor da hierarquia e jejuno em medicina, o General aceitou tornar a cloroquina um medicamente oficial do SUS para combater a Covid-19, o que nenhum dos antecessores, médicos que tinham uma reputação a zelar, aceitou.  [será que o ministro Mandetta, ainda lembra a diferença entre úmero e fêmur?
Talvez tenha esquecido, só que antes de se tornar palanqueiro foi, ou é, médico ortopedista - a pergunta é pertinente à ortopedia, não confundir com útero.] O Brasil passou vários dias com uma média de mil mortes, já temos proporcionalmente mais mortos que os Estados Unidos, e não é improvável que em algum momento passemos a ser o país com mais mortes do mundo, em números absolutos. Se é que já não passamos. A estimativa de vários estudos é de que a subnotificação dos infectados por Covid-19, hoje perto de 3 milhões de pessoas, pode chegar a 14 vezes mais.

O número de mortes que hoje nos assombra pode ser 27% maior que os 100.240 oficiais, isso porque as mortes por síndrome respiratória aguda grave (Srag) não apenas aumentaram muito em relação à média, como muitos casos não tiveram o agente causador identificado, o que leva as autoridades médicas a crerem que teriam sido provocadas pela Covid-19.  [já que estamos falando de PODE SER, não se tratando de fake news, alertamos que o número total de mortes pode ser inferior = no cômputo oficial tem mortes causadas por pneumonia e outras doenças respiratórias, portanto,  não tendo como causa a covid-19.] 

Sem falar nas periferias e favelas das grandes cidades, e no Brasil profundo, que não têm atendimento médico devido. Um dos maiores problemas brasileiros no combate à Covid-19 foi a falta de testagem, sem o que não se pode ter uma idéia exata de como está a evolução da doença. Este é um problema que a maioria dos países europeus e os Estados Unidos não têm. 

Merval Pereira, colunista - O Globo


domingo, 5 de julho de 2020

A Amazônia como “garantia” financeira?

DefesaNet

As ameaças abertas de investidores internacionais, de restringirem investimentos no País, a pretexto de uma alegada má condução das políticas ambiental e indígena, na gestão do presidente Jair Bolsonaro, que tratamos na edição anterior (“Para manter o vácuo de soberania na Amazônia, fundos ‘gafanhotos’ chantageiam Brasil”, Alerta Científico e Ambiental, 25/06/2020), precisam ser avaliadas sob uma perspectiva histórica das verdadeiras intenções do aparato ambientalista-indigenista internacional.

Isto porque há, nas autoridades governamentais, uma tendência para reduzir as pressões apenas a interesses comerciais, como uma forma de protecionismo, ou simples desinformação, evitando assim o enfrentamento das causas reais das pressões.  Se é um fato estabelecido que as questões ambientais e indígenas têm  sido amplamente manipuladas para disfarçar manobras protecionistas, por outro lado, tais pretextos estão longe de representar o foco principal da insidiosa campanha internacional, da qual o Brasil tornou-se um alvo primário a partir de meados da década de 1980, sem contrapor uma resposta consistente, quase invariavelmente, limitada a mostrar um “bom comportamento” diante das pressões e exigências externas. Embora esta conduta tenha mudado no atual governo, contestando a legitimidade de tais campanhas, é relevante retomar o tema e recordar as motivações primárias da investida contra o País.

 O movimento ambientalista foi idealizado, criado e fomentado por setores do Establishment anglo-americano e europeu, a partir da década de 1960, com a finalidade precípua de criar um sistema de soberanias limitadas sobre regiões ricas em recursos naturais e limitar o impulso pró-industrialização que, então, motivava as lideranças e populações dos países subdesenvolvidos, em especial Brasil, Argentina, México, Indonésia e outros.

Desde os primórdios, o conceito malthusiano de “limites” ao desenvolvimento tem sido um pilar central das campanhas ambientalistas, sob rótulos variados – “limites do crescimento”, “desenvolvimento sustentável”, “capacidade de suporte”, “pegada ecológica” e outros, cuja função básica é propalar a falaciosa proposição de uma suposta impossibilidade de extensão a todo o planeta dos níveis de vida dos países avançados (como se dissessem: “somos desenvolvidos mas poluidores, por favor, não repitam os nossos erros”). 

 A partir da década de 1980, com a crise das dívidas externas e o advento da “globalização” financeira, a preocupação dos centros oligárquicos do Hemisfério Norte de assegurar o ressarcimento dos seus empréstimos e, ao mesmo tempo, gerar vastos fluxos financeiros para alimentar e amplificar a ciranda que viria a gerar sucessivas “bolhas” especulativas, motivou uma série de iniciativas para forçar os países em desenvolvimento a ceder aos “investidores internacionais” o controle dos seus patrimônios nacionais, primeiro, empresas estatais e, depois, os recursos naturais dos seus territórios.

Entre elas, destacam-se os famigerados acordos de trocas de “dívida por natureza” (debt-for-nature swaps), a imposição de condicionantes socioambientais a empréstimos internacionais e, mais recentemente, a extensão desses condicionantes aos fluxos de investimentos, como este Alerta tem acompanhado.

Dois eventos seminais para a determinação dessa agenda intervencionista foram a divulgação do chamado “Relatório Brundtland” e a realização do Quarto Congresso Mundial de Áreas Selvagens, ambos em 1987. O primeiro, fruto dos trabalhos da Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, introduziu o conceito de “desenvolvimento sustentável” e propôs a criação de uma estrutura financeira internacional para a implementação global do conceito, um refinamento da tosca e polêmica ideia dos “limites do crescimento” anteriormente proposta pelo Clube de Roma.

O segundo, realizado em setembro daquele ano, em Denver, EUA, reuniu altos representantes dos governos dos EUA e Canadá, agências das Nações Unidas, organismos multilaterais, grandes fundações privadas e bilionários integrantes do Establishment oligárquico, como Edmond de Rothschild e David Rockefeller. O tema central do Congresso foi a proposta de criação de um “Banco Mundial de Conservação”, para “identificar, desenhar e financiar projetos de conservação sólidos no Terceiro Mundo” – eufemismo para a “monetização” dos recursos naturais desses países, para servir como “colaterais” para empréstimos e fluxos financeiros destinados a uma pletora de atividades especulativas.

Curiosamente, na ocasião, Rothschild demonstrou grande “presciência”, ao apresentar o aquecimento da atmosfera devido às emissões de dióxido de carbono dos combustíveis fósseis, como o maior problema enfrentado pela humanidade. Esta foi uma das primeiras sinalizações sobre o falacioso cenário “aquecimentista”, que, desde então, ganhou contornos de uma virtual histeria coletiva global e um eficiente instrumento de chantagem política e financeira.

 Na época, o Brasil foi virtualmente convertido em “vilão ambiental mundial número um”, em especial, com a exagerada difusão dos incêndios na Amazônia Legal e o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, em dezembro de 1988, instantaneamente convertido em “mártir” da proteção da Floresta Amazônica. Tornaram-se, então, recorrentes, insidiosas sugestões para a “limitação” da soberania nacional sobre a região, oriundas de lideranças políticas das potências centrais, a exemplo do presidente francês François Mitterrand.

De fato tomo corpo uma nova forma de guerra irregular neocolonialista: em tanto se lançavam uma ofensiva de propaganda tendenciosa contra o governo brasileiro, forças irregulares na forma de organizações não governamentais (ONGs), ricamente financiadas, ocupavam nichos do governo e ganhavam liberdade de atuação em regiões estratégicas especialmente na Amazônia.  O Fundo Ambiental Global (GEF), estabelecido em 1992, após a conferência Rio-92, foi a concretização do banco idealizado em Denver. Com o GEF e outras iniciativas afins, as potências controladoras do ambientalismo-indigenismo internacional passaram a dispor de instrumentos para pressionar os países-alvo (como o Brasil) a aceitar a agenda ambiental e indígena, sob pena de sanções em suas negociações financeiras internacionais e a atração de investimentos externos.

Outra forma de pressão, repetidamente aplicada sobre o Brasil, é o financiamento a fundo perdido de programas de proteção do meio ambiente e de indígenas, como o Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), majoritariamente financiado pela Alemanha, EUA e outros países, e o ainda vigente Fundo Amazônia, cujo principal financiador é o governo da Noruega.  Com tais recursos, o País tem sido docilmente enquadrado na agenda ditada do exterior, dispensando os sucessivos governos de investir mais recursos em iniciativas de proteção real do ambiente e das comunidades indígenas, vinculadas ao desenvolvimento socioeconômico, que representa a melhor forma de proteção dos mesmos.

 A recente agenda de “financeirização” das questões ambientais, em especial, envolvendo o clima global, representa a fase final desse impulso intervencionista e de um virtual caráter neocolonial, sendo que desta vez a “metrópole” não é uma nação específica, mas o conjunto de interesses representados no sistema financeiro internacional. De maneira alguma, o Brasil pode submeter-se a ela.


DefesaNetAlerta Científico e Ambiental



domingo, 28 de junho de 2020

O TikTok se intromete até na política e já ameaça rivais como o Instagram - VEJA - Tecnologia

Por André Lopes 

Criado para cativar crianças e jovens com vídeos de danças e palhaçadas, o aplicativo chinês cresce a passos largos

Até pouco tempo atrás, o aplicativo chinês TikTok poderia facilmente ser comparado a um adolescente petulante, cheio de planos para conquistar o planeta, mas que carregava nos ombros o peso do mundo e da inexperiência. Quando surgiu, há pouco mais de três anos, foi, de fato, notado como um jovem ousado e criativo, embora inofensivo. No início, era apenas isso: uma plataforma juvenil que permitia aos usuários exibir coreografias aleatórias. Mas o adolescente cresceu, ganhou músculos e adquiriu maturidade. No primeiro trimestre de 2020, era listado como o programinha mais baixado do planeta, com impressionantes 315 milhões de downloads. Neste exato momento, é a quarta rede social mais popular — tem 1,5 bilhão de usuários — e a primeira da China a desfrutar alcance global. Seus feitos são extraordinários. Os cinquenta principais criadores de conteúdo do TikTok contam com mais seguidores do que as populações de México, Canadá, Reino Unido e Austrália juntas.

A expansão do TikTok está associada a uma sutil mudança de trajetória. Durante um bom período, suas ferramentas virais poderosas davam espaço apenas a coreografias com o hit do momento ou dublagens de filmes e memes que fazem a cabeça da garotada. Mas, com o tempo, ele  provou ser mais do que apenas uma rede social para danças e palhaçadas. Agora também é possível acompanhar vídeos sobre saúde, mercado de ações, viagens e até política, sempre respeitando o limite de sessenta segundos de duração. “O TikTok vem redirecionando o seu público, que já não é formado só de crianças e adolescentes”, diz o influenciador digital Bruno Carvente. Em 20 de junho, o aplicativo deu uma demonstração definitiva de que transcendeu o universo pré-adolescente. Naquele dia, Donald Trump realizou, no BOK Center de Tulsa, seu primeiro evento da campanha para a reeleição. A equipe de Trump esperava a presença de 100 000 apoiadores, e ele próprio havia anunciado no Twitter que “quase 1 milhão de pessoas” tinham solicitado ingressos para o evento gratuito. O comício, porém, foi um fiasco de público. Uma multidão de usuários do TikTok divulgou vídeos que explicavam como reservar entradas para a ocasião, mas a ideia era não comparecer justamente para zombar do presidente. Deu certo. Como diz a turma jovem, foi uma espetacular “trolagem”. Não é de hoje que o aplicativo chinês incomoda americanos ilustres.

Há cerca de um ano, preocupado com o barulho que o TikTok fazia, o Facebook lançou uma cópia do recurso, mas que seria malsucedida — o que não deixa de ser curioso, dado o fato de que os chineses, e não os americanos, são famosos por imitar tudo o que faz sucesso no exterior. Chamada de Lasso, a nova e insossa rede social do Facebook se tornou um dos grandes equívocos da trajetória vitoriosa de Mark Zuckerberg. Irritado com o fracasso, ele partiu para o ataque. Em um discurso de quarenta minutos, disse que os produtos chineses representam uma grande ameaça ao mundo. “Enquanto nossos serviços, como o WhatsApp, são usados ​​por manifestantes e ativistas em todos os lugares devido a fortes proteções de criptografia e privacidade, no TikTok as menções a esses protestos são censuradas, mesmo nos Estados Unidos”, afirmou Zuckerberg. “Essa é a internet que queremos?”

(.....)


Mas o que explica, afinal, o sucesso estrondoso do TikTok? Em primeiro lugar, embora tenha alargado seu público nos últimos anos, ele virou a rede social preferida dos jovens — faixa etária que mais navega na internet. De acordo com os mais recentes dados disponíveis, dois terços de sua base global de usuários têm menos de 30 anos. Outra razão que justifica a fama recém-conquistada são os algoritmos extremamente precisos, mais até, segundo especialistas, do que a inteligência 
Arte/VEJA
artificial de redes como Facebook, Instagram e YouTube. Os algoritmos do TikTok são capazes de prever e veicular os vídeos com maior potencial para viralizar, o que é tudo de que uma rede social precisa. A partir daí, eles são bombardeados para a maior quantidade possível de usuários. Do ponto de vista empresarial, o TikTok é uma empresa em permanente evolução. 
Publicado em VEJA, edição nº 2693, de 1 de julho de 2020

sábado, 20 de junho de 2020

"NÓS, QUE LUTAMOS PELA DEMOCRACIA!..." - Percival Puggina.

 A palavra democracia é prostituída no cotidiano de certos grupos políticos e de todos os regimes totalitários. Ressalvadas algumas pessoas de esquerda que conheci e respeitei ao longo dos muitos anos que com elas debati em centenas de programas de rádio e TV, a palavra deve causar dor de garganta à maioria de seus companheiros. Cá entre nós, qual a credibilidade de um grupo de antifas ou black blocs ao entrar na avenida portando faixas “pela Democracia”? 
Se olhasse apenas a faixa sem ver a estampa daqueles que a portavam, dir-se-ia que o grupo iria protestar contra o STF. 
Qual a credibilidade dos ministros do STF para falarem em democracia enquanto desprezam a opinião pública e o resultado da eleição?

Nessa encrenca política, típica de republiqueta bananeira em que o país está enfiado, volta e meia a frase que dá título a este artigo é pronunciada, com poses de estadista, por membros de alguns partidos de esquerda. Que é isso, companheiro? Prá cima de mim?  Os que pegaram em armas e foram para a clandestinidade eram menos hipócritas que a atual geração de revolucionários de terno e gravata. Estes últimos povoam o aparelho de Estado, lutam por privilégios e pelo seu direito a correção dos vencimentos enquanto uma combinação sinistra de vírus com burrice já tomou o emprego de milhões de brasileiros que atuam no setor privado.

Como entender que alguém ou que alguma organização política se apresente como lutadora pela democracia e use unhas e dentes da retórica para defender Hugo Chávez e seu sucessor Nicolás Maduro, os irmãos Castro (da empresa cubana Castro & Castro, Cia. Ltda) e a ternura “sedenta de sangue” de Che Guevara? Que credibilidade tinha a democracia entre as nações submetidas a torniquetes políticos e econômicos pela extinta URSS, rebatizadas sem consulta como Repúblicas Democráticas, ou Repúblicas Populares, quando não proclamando uma junção dos dois adjetivos?

Repito: os que pegaram em armas e foram para a clandestinidade eram menos hipócritas. Não prostituíram a palavra. Não a usaram para enganar bobos. Sempre que penso sobre a apropriação do vocábulo, que ganhou aberrante efeito demonstração na arruaça da Avenida Paulista, me vem à mente um episódio no qual terroristas e guerrilheiros tiveram a oportunidade de proclamar ao Brasil quem eram e o que pretendiam. E o fizeram, para a História, de viva voz e próprio punho. Era o mês de setembro de 1969. Duas organizações guerrilheiras, a ALN e o MR-8 haviam sequestrado o embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, e imposto condições para libertá-lo: soltura de 15 presos políticos e leitura em cadeia nacional de rádio e TV de um manifesto que haviam redigido. Naqueles dias, estava em plena vigência o AI-5 e o Brasil era governado por uma junta militar, em virtude do derrame cerebral que acometera o presidente Costa e Silva. Embarcar os presos para o México e para Cuba era fácil, mas autorizar a publicação nos principais jornais e a leitura em cadeia nacional de uma catilinária dos sequestradores era constrangedora rendição. Contudo, a execução do embaixador pelos sequestradores seria um mal maior. E a junta militar se rendeu.

O país parou para ouvir o texto redigido por Franklin Martins, um dos sequestradores. Oportunidade preciosa, dourada, única, para guerrilheiros e terroristas dizerem por que lutavam, afirmarem seus mais elevados compromissos e cobrá-los do governo, não é mesmo? O documento (leia a íntegra em "Charles Burke Elbrick" na Wikipedia) foi uma xingação que falava do que os revoltosos entendiam: ideologia, violência, "justiçamentos", sequestros, assaltos. Não há menção à palavra democracia. Nenhuma das dezenas de organizações guerrilheiras ou terroristas atuantes naqueles anos usou a palavra democracia para sua identificação. Os que pegaram em armas e foram para a clandestinidade queriam levar o Brasil para o inferno comunista, mas eram menos hipócritas.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.