Redação Oeste
Políticos cobram CPI do TSE depois de denúncia de Bolsonaro
Relatório da Polícia Federal indica que hacker conseguiu ter acesso ao sistema eleitoral brasileiro
Políticos que integram a base do governo e apoiadores do presidente
Jair Bolsonaro cobraram na noite desta quarta-feira, 4, a instalação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias
de que um hacker apresentou evidências de que as urnas
eletrônicas no Brasil são fraudáveis. O caso ganhou o noticiário durante
uma entrevista de Bolsonaro ao programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem
Pan. Ele estava ao lado do deputado Filipe Barros (PSL-PR), relator da
proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto auditável na comissão
que analisa o tema — e cuja data de votação está marcada para esta
quinta-feira. Bolsonaro trava um duro embate com a Corte eleitoral, hoje
chefiada por Luis Roberto Barroso, que passará o posto para Alexander
de Moraes — ele, por sua vez, incluiu o presidente em um inquérito sobre
disseminação de fake news.
Filipe Barros, que estuda o assunto há meses, apresentou trechos de
um relatório — ainda não concluído — da Polícia Federal, segundo o qual
um hacker teve acesso ao sistema eleitoral em abril de 2018 — a
inquérito foi aberto sete meses depois.
Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) anunciou que
trabalhará na coleta de assinaturas para a abertura de uma CPI no
Congresso. “Estou preparando a peça para abrir a CPI das urnas
eletrônicas com base nas graves denúncias embasadas no relatório da
Polícia Federal em que através de documentos o próprio TSE admite que o
sistema foi invadido pelo menos em 2018.”
Leia mais em Oeste: É proibido modernizar a urna eletrônica?
Relatório do TSE admite invasão das urnas eletrônicas
Trechos do documento foram exibidos pelo deputado Filipe Barros, durante entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan
Filipe Barros e Jair Bolsonaro participaram de Os Pingos nos Is | Foto: Reprodução/YouTube
O presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista ao programa Os Pingos nos Is,
da rádio Jovem Pan, exibido nesta quarta-feira, 4. Ao lado dele, o
deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) explicou, amparado em inquérito
aberto pela Polícia Federal, como as urnas eletrônicas de primeira
geração, utilizadas nas eleições brasileiras desde 1996, podem ser
fraudadas.
Segundo Barros, um hacker comunicou ao portal TechMundo,
em novembro de 2018, que havia invadido o sistema do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Na mensagem, o homem afirma que as falhas e
vulnerabilidades de aplicações desenvolvidas pelo próprio TSE
facilitaram o acesso remoto às urnas eletrônicas. A partir disso, o hacker conseguiu acessar a rede interna do TSE. Como resultado, obteve acesso a diferentes máquinas do órgão eleitoral.
Dentro do sistema, o invasor conseguiu acessar códigos-fontes, documentos sigilosos e credenciais, como o login de
um ministro-substituto do TSE e de diversos técnicos de informática
ligados à alta cúpula de tecnologia da informação do órgão eleitoral.
Tribunal Superior Eleitoral assume que o sistema foi
invadido
Em novembro de 2018, a ministra Rosa Weber, então presidente do TSE,
solicitou à Polícia Federal (PF) a abertura de um inquérito para
investigar as alegações do hacker. O órgão eleitoral admitiu
que houve registro de invasão de seu sistema por meio do Tribunal
Regional Eleitoral (TRE) de Pernambuco.
De acordo com o PF, buscou-se identificar quais foram as portas de
entrada utilizadas pelo invasor. Como resultado, notou-se que o hacker conseguiu
acesso aos sistemas do TRE da Paraíba e do Rio Grande do Norte,
estabelecendo conexões indevidas. Uma dessas conexões foi realizada com o
login do coordenador de infraestrutura do TSE, cujo nome não foi revelado.
Em resumo, o hacker obteve as senhas de acesso dos sistemas
dos TREs e invadiu a rede interna do TSE. O documento conclui que o
relato do invasor é condizente com a investigação do TSE.
O código-fonte das urnas eletrônicas Conforme o TSE, uma das partes do sistema a que o
hacker teve acesso foi o
portal de sessão do voto informatizado. É nessa parte do sistema que está o
código-fonte das urnas eletrônicas.
O secretário-substituto de tecnologia da informação, cujo nome não
foi revelado, afirma que esses equipamentos eram responsáveis pela
compilação dos softwares na versão Windows e Linux. Em execução nesses equipamentos estavam os genks, configurados pela equipe do portal de sessão do voto informatizado.
Então, o hacker aproveitou a ausência de restrições e
invadiu a parte do sistema responsável pelo código-fonte das urnas
eletrônicas. Se o código-fonte for alterado, o sistema inteiro pode ser
modificado, de maneira que a adulteração de votos torna-se possível.
O TSE reconhece que o servidor estava acessível a todos, permitindo a cópia de todo o código-fonte.
Segunda fase das investigações Na segunda fase das investigações, a PF solicitou ao TSE que enviasse o chamado arquivo
log, responsável por conservar todo o histórico do
software — quem acessou, em qual data e quais modificações foram realizadas.
Então, o ministro-substituto do TSE — que teve a senha roubada —
respondeu ao delegado da PF que, “devido a manutenções para solucionar
travamentos no firewall do TSE, a equipe da Global MP — empresa
terceirizada — fez reinstalação do serviço de gerência, não tendo o
devido cuidado de não prejudicar os logs armazenados. Assim, informamos que o TSE não possui dados adicionais para repassar à Polícia Federal”.
Em resumo, o arquivo responsável por armazenar todo o histórico de alteração do software das urnas eletrônicas foi apagado. As possíveis adulterações, portanto, ficaram inviabilizadas.
Leia também: “É proibido modernizar a urna eletrônica”, reportagem de Cristyan Costa publicada na Edição 69 da Revista Oeste
Política - Revista Oeste