Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER

sexta-feira, 4 de março de 2022

O que a invasão da Ucrânia nos diz sobre os limites das “superpotências” - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo

Não há nada de animador no que a Rússia tem diante de si nos dias que vêm aí para frente

Para um país do tamanho da Rússia, e para um país do tamanho da Ucrânia, a guerra que explodiu uma semana atrás deveria ter começado e acabado no mesmo dia. Não acabou – e o resultado é que a cada dia mais de demora, o país mais fraco ganha força política e o mais forte perde gás. O resultado é que vai se tornando indispensável, cada vez mais, trocar a vitória inicialmente pretendida por outra coisa – algum arranjo que permita aos russos dizerem que a operação deu certo e, portanto, já pode ser encerrada.

O objetivo estratégico inicial, basicamente, era liquidar a Ucrânia como um Estado realmente independente, e colocar em seu lugar uma prefeitura administrada por Moscou e disfarçada de república. Isso não foi possível. Será preciso encontrar uma outra “narrativa”, como se diz hoje.

A invasão da Ucrânia mostrou, como talvez nenhum conflito armado tinha mostrado até hoje, os limites daquilo que se chama de “superpotência”. Nos inventários oficiais, consta arsenal nuclear completo, capaz de destruir o mundo inteiro sete vezes em seguida.jatos de combate de última geração, que países subdesenvolvidos vivem querendo comprar. Há última palavra em tecnologia de combate, mísseis inteligentes, tanques com controle remoto, guerra à distância, guerra eletrônica, o diabo. Mas na hora de colocar tudo isso em ação, o que se tem na prática são oito dias seguidos de operações militares confusas, lentas e indecisas. Já deveria ter acabado. Se não acabou é porque a superpotência não funcionou.

Não há nada de animador no que a Rússia tem diante de si nos dias que vêm aí para frente. A opção adotada pelo comando russo no momento é uma escalada cada vez mais violenta contra a população civil, na esperança de obter uma rendição mais rápida. O problema, como sempre acontece com as escaladas, é que elas não podem durar pelo resto da vida – uma hora vão ter de parar, e se o inimigo não estiver morto até lá, o esforço terá sido inútil.

O passar do tempo, além disso, agrava as dores do pacote-gigante de represálias econômicas e de outras naturezas que foi jogado em cima da Rússia pela Europa e Estados Unidos. Os desastres provocados pelo boicote podem até não criar problemas insolúveis para os russos – mas, obviamente, não é assim que eles pretendem viver para sempre, e cada dia a mais de guerra é um dia a menos para a reconstrução da Rússia como ela era uma semana atrás.

O presidente Vladimir Putin parece não reagir de maneira coerente à lógica dos fatos. As forças armadas russas estão lhe entregando uma notificação na qual informam que não têm condições de ganhar a guerra – não do jeito que essa guerra está sendo combatida.

O mundo deixou claro, também, que a Rússia está sozinha; tem a seu lado, apenas, figuras como Nicolás Maduro e outras pequenas calamidades da cena internacional. Os prejuízos fora do campo de batalha, com a crescente e inédita desconexão da Rússia do sistema econômico mundial, machucam cada vez mais. Está há hora, realmente, do presidente Putin e sua base de apoio pensarem a sério em dizer “missão cumprida” e tentar construir de novo a casa que caiu. [algo que parece ninguém. [comentário feito por um brasileiro que se orgulha de que é, desde sua infância, e sempre será,  um ferrenho anticomunista, porém com todas as vênias ao ilustre articulista - (merecedor de todo apreço, consideração e respeito)  entende que a situação para Putin (um conservador, nacionalista e com certeza não comunista) não é tão feia quanto está sendo pintada.
O lamentável é que enquanto quiserem conduzir a guerra na conversa, nas declarações de 'líderes', mais a população ucraniana sofrerá.
Para fechar. Imagina quantos morrerão até que as primeiras medidas econômicas adotadas contra Rússia comecem a dar resultados.] 

 J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


Fachin é uma Dilma de terno e toga - Revista Oeste

Edson Fachin, ministro do STF e presidente do TSE | Foto: STF/SCO
Edson Fachin, ministro do STF e presidente do TSE | Foto: STF/SCO

Confesso que demorei quatro anos para descobrir que Luiz Edson Fachin é o mais dissimulado dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Até 8 de março de 2021, quando livrou Lula da cadeia e assassinou a Lava Jato, esse gaúcho de Rondinha tapeou-me com decisões e discurseiras favoráveis à maior e mais eficaz ofensiva anticorrupção da história. Três meses antes da facada nas costas do Brasil que pensa e presta, num ofício remetido ao presidente Luiz Fux, o ilusionista tornou a louvar a operação. O trabalho dos engajados na devassa do Petrolão, reiterou, “tem sido pautado pela legalidade constitucional”. Ficara provado, segundo Fachin, que “é possível, ao mesmo tempo, ser democrático e combater a corrupção pelo aprimoramento do sistema judicial”. Também inimigos da Lava Jato se surpreenderam com a aparente independência de um ministro indicado pelo governo do PT. “É assustador, isso ninguém podia imaginar”, espantou-se Eugênio Aragão, ministro da Justiça no governo de Dilma Rousseff. “Continuo sem entender certas posições que não condizem com o passado dele.” Era só vigarice.

A independência de araque foi a fantasia que camuflou o advogado a serviço do MST e o professor de Direito que enxergou em Dilma a salvação do país. A cabeça e a alma nunca mudaram. Caprichando na dissimulação, o Fachin de sempre preparou meses a fio a catarata de sofismas, gingas de chicaneiro, malabarismos bacharelescos, interpretações malandras, latinórios pilantras e pontapés na lógica que atenderia ao apelo famoso formulado por Romero Jucá: “É preciso estancar a sangria”. Mas desse carrasco da verdade, da lei e da ordem jurídica já tratei em outros artigos. O que me traz de volta ao agora presidente do Tribunal Superior Eleitoral é a descoberta de uma segunda tapeação. Desde a chegada ao Supremo em junho de 2015, achei que o subdialeto falado por Fachin era uma variante radicalíssima do velho juridiquês. Essa espécie de extremista idiomático prefere “quiçá” a “quem sabe”, usa “nada obstante” em vez de “mesmo assim”, escreve “writ” no lugar de “mandado de segurança” e troca “acusação inicial” por “exordial acusatória”. Fachin faz tudo isso. Mas neste fim de fevereiro, confrontado com o vídeo da primeira entrevista coletiva depois da posse no TSE, compreendi que o fachinês é tudo isso e muito mais.

O libertador de Lula produziu uma raridade linguística tão assombrosa quanto o dilmês

Numa introdução de quase 30 minutos, Fachin apresentou seu populoso grupo de assessores, prometeu assombrar o mundo com um pleito irrepreensível e anunciou que a sociedade da informação acaba de ser substituída pela “sociedade da informação adequada”.  
Não conseguiu explicar que coisa é essa, mas a fisionomia confiante avisava que o mundo logo saberá. Aos 32 minutos da conversa de quase três horas, um repórter perguntou-lhe se já reunira provas suficientes para sustentar a ousada acusação feita dias antes numa entrevista ao Estadão: o sistema de votação adotado pelo Brasil já estava sob ataques de hackers entrincheirados na Rússia e na Macedônia do Norte. Depois de um pigarro que combinou com o sorriso superior, o doutor em eleição decolou. Apertem o cinto, embarquem na resposta reproduzida sem correções e aproveitem a viagem pela cabeça de Fachin:

“É relevante dizer que isso que eu vou mencionar diz respeito aos dados e sistemas que compõem um conjunto de bases que o tribunal tem, que diz respeito aos filiados de determinado partido político, aos eleitores, às eleitoras, à nossa… ao nosso setor de recursos humanos, nada disso tem a ver com a questão específica das urnas eletrônicas, que não estão na rede mundial de computadores e portanto, quando estamos a falar de ataques ou ameaças de ataques, nós estamos dizendo de algo que acontece hoje com organizações e instituições no mundo inteiro. 

Por exemplo, em outubro do ano passado, a… no Brasil, uma grande empresa da área da cibernética publicou que 58% dos ataques provêm de um desses países que na sua pergunta foram mencionados. Esse mesmo país, ou esses países, são referidos em relatórios importantes como o relatório do Senado norte-americano sobre as eleições norte-americanas, como, sobre o mesmo fato, relatórios publicados em jornais como o New York Times e Washington Post, relatórios do próprio FBI. E recentemente, na Alemanha, nas eleições recentes, que culminaram com a eleição do novo primeiro-ministro, as eleições alemãs receberam esse tipo de ataque e isso foi publicamente registrado. 

Além disso, nós obviamente temos um desenho que nos dá um diagrama da origem desses ataques, cujos dados e informações têm graus obviamente de segurança e esse grau de segurança nos permite apenas dizer que nos países nos quais há um baixíssimo controle de sistemas que lá se hospedam e que dão abrigo a esse tipo de atividade criminosa, é desses países que a maior parte dos ataques obviamente tem origem. Portanto, ao referir a um ou outro país, nós estamos também nos referindo à nossa situação, ao Brasil, porque a hospedagem, como nós sabemos, ela pode variar numa fração de segundos, alguém que pode estar hospedado num país hoje pode estar hospedado num outro país amanhã, eu estou colocando todos nós nesse mesmo juízo de precaução. 

E quando eu estou mencionando, e reitero, que nós sofremos, sim, riscos de ataques eu estou dizendo que o TSE, como tomei a liberdade de usar essa figura de expressão, o TSE corresponde a um carro blindado. Os passageiros do carro estão seguros, mas isso não quer dizer que o carro não possa ser vítima de algum tiroteio ou de algum disparo que o venha atingir. Em isso ocorrendo, e quando ocorre, nós examinamos as circunstâncias para aprimorar os mecanismos de segurança e também para melhorar ainda mais a área de mínimo conforto e de armazenamento dos nossos dados e informações”. [com todas as vênias, a empolação (por favor não confundam com enrolação) tornou o assunto tão tedioso que desistimos de destacar trechos do assunto - no caso palavrório - que podiam nos parecer de interesse.]

Minutos adiante, uma repórter quis saber o que fará o entrevistado se o Telegram continuar ignorando os esforços do TSE para submeter todas as plataformas e redes sociais às regras da Justiça Eleitoral. Fachin engatou uma quinta marcha e acelerou:

“O projeto que está na Câmara dos Deputados foi objeto do diálogo que mantive com o presidente da Câmara dos Deputados quando levei a ele o convite da posse, e eu percebi a relevância e até mesmo o sentido de prioridade que esse projeto poderá ter na tramitação na Câmara dos Deputados que, como sabemos, é relatado pelo deputado Orlando Silva. A espacialidade, a rigor, própria dessa matéria é a espacialidade do Legislativo. Se vier, nós teremos um marco legal sobre esse tema, esse marco legal definirá, por exemplo, um dos pontos que você mencionou, a necessidade de representante legal. Nada obstante, é preciso considerar duas coisas. 

A primeira delas é: o Brasil, e disso não há dúvida alguma, em que pesem todas as nossas mazelas, o Brasil vive o Estado Democrático de Direito com plena liberdade política. Isso significa que um Estado Democrático, para garantir a democracia, pode, e me permitam o pleonasmo, democraticamente impor limites. O que eu estou querendo dizer com isso: que nenhum mecanismo de comunicação está imune ao Estado de Direito, e me refiro ao Estado de Direito Democrático. E por que eu estou fazendo essa nota relevante? É que essa transterritorialização comunicacional em relação a países de governos despóticos e ditatoriais tem um outro contexto e uma outra compreensão nos quais a existência de limite e controle significa a existência de limite e controle que afeta o conteúdo mesmo da própria liberdade, da própria comunicação. 

Mas no Brasil nós vivemos sob a égide da própria Constituição que vincula a todos nós, uma Constituição com mais de 30 anos, uma Constituição que teve todas as licencitudes, que já tivemos dois impedimentos de presidentes da República. As circunstâncias do presente com a crise pandêmica sanitária e com todos os seus efeitos sociais e econômicos. E essa Constituição, que é uma espécie de o pão nosso de cada dia, ela nos fornece um material muito simples, que é a convivência democrática, o respeito à diversidade, a tolerância, a dignidade, e é isso que significa, portanto, que para cada uma ser o que é, é fundamental que o outro que lhe seja diferente possa ser naquilo que ele entende que se constitui. Em 2017, o que fez a Alemanha federal? 

Exatamente o Parlamento alemão aprovou em 2017 a legislação que procurou disciplinar essas circunstâncias, propiciando inclusive a fixação de multas em valores bastante elevados, e obviamente todo valor é de milhões em euros, algo bastante expressivo, ainda que seja para plataformas bastante abastecidas de dividendos. E que fez, portanto, a Alemanha com problemas similares aos que nós estamos enfrentando agora? Não localizava o representante respectivo. Determinou-se, portanto, que a administração e movida pela atuação do que equivale ao procurador-geral, e iria promover a citação por edital e realizar a imposição de multa. Algum tempo depois, ocorreu o que nós estamos querendo que ocorra: sentar a uma mesa e dialogar. Nós defendemos a regulação autorregulamentada, os destinatários da regulação têm que ser partícipes dessa construção dialógica. Com essas parcerias, não se trata e não pode se tratar em hipótese nenhuma de imposições verticalizadas e sim de uma construção horizontalizada, aonde hajam limites comuns que jamais podem ofender o conteúdo essencial da liberdade da própria expressão”.[a verborragia dessa manifestação justifica  o uso dos argumentos expendidos para explicar o não uso do recurso 'destacar trechos interessantes.]

Não entenderam nada? Fiquem tranquilos. O libertador de Lula produziu uma raridade linguística tão assombrosa quanto o dilmês. 
A exemplo da ex-presidente, Fachin é incompreensível. 
Uma frase começa mas não termina, outra termina sem ter começado. 
Ora falta o sujeito, ora o predicado. Súbitas mudanças de rota desnudam um cérebro com severas avarias. Embaralhados, substantivos pedantes, verbos pernósticos, adjetivos pinçados em remotos saraus e expressões jurássicas resultam num falatório sem pé nem cabeça. Ninguém decifra o que o ministro fala. Nem ele. Demorei seis anos e oito meses, é verdade. Mas enfim descobri que Luiz Edson Fachin é uma Dilma de terno e toga.[um comentário: neste post temos a certeza que não foi só esse formatador-geral que conseguiu não ser entendido. O fachinês exige a sabedoria do Augusto Nunes para ser destrinchado.]
 
 
Augusto Nunes, colunista - Revista OESTE 
 
 

Tropas russas tomam o controle da maior usina nuclear da Europa, após bombardeio e incêndio - O Globo

Não há indícios de vazamento, segundo agência da ONU; ataque provoca condenação de vários líderes mundiais e evidencia riscos de combates em área nuclear

Forças da Rússia capturam a maior central nuclear da Europa após incêndio gerar pânico de radiação 

Chamas foram controladas e não há indícios de vazamento segundo agência da ONU; ataque despertou condenação de vários líderes mundiais e evidencia riscos de conflito em área nuclear

Imagens de câmeras de vigilância mostram a usina nuclear de Zaporíjia durante o bombardeio das tropas russas Foto: Autoridade Nuclear de Zaporíjia / Via Reuters
Imagens de câmeras de vigilância mostram a usina nuclear de Zaporíjia durante o bombardeio das tropas russas Foto: Autoridade Nuclear de Zaporíjia / Via Reuters
Tropas russas no Sudeste da Ucrânia assumiram nesta sexta-feira o controle da maior usina nuclear da Europa, após um ataque provocar um incêndio e despertar apreensão em todo o mundo, informaram autoridades ucranianas. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), as chamas foram extintas sem a detecção de sinais de vazamento de radiação. 

Durante a madrugada, houve grande temor de que o fogo pudesse se espalhar para  os seis reatores da central e provocar um vazamento nuclear. Monitores internacionais disseram na manhã de sexta-feira, no entanto, que não há nenhum sinal imediato de mudança nos níveis de radiação registrados.

De acordo com a AIEA, o incêndio foi apagado sem se espalhar, nenhum reator nuclear ou equipamento essencial foi danificado e os níveis de radiação são normais. A equipe ucraniana da fábrica continua a operar as instalações e os sistemas de segurança estão funcionando. [vamos deixar os líderes mundiais com seu palavrório inútil - Biden é um deles, o que diminui o valor do apelido - e expressar nossa modéstia opinião de que não há, nem houve risco de acidente nuclear. 
Nos parece que o risco aumentou apenas no tocante a que agora além de ter condições, basta querer, para reduzir em 40% o fornecimento de gás para a Europa, os russos podem desligar a usina nuclear - desligamento que aumentará a níveis altíssimos a carência de energia na Europa.
Situação que em nossa opinião leiga, apresenta risco zero de radiação.]

Líderes mundiais condenaram o ataque “imprudente” à usina de Zaporíjia, que danificou um prédio.  Enquanto isso, o Ministério da Defesa da Rússia acusou as forças ucranianas de iniciar o incêndio e realizar uma “provocação monstruosa”.

Leia mais:   Em nova ofensiva contra a Rússia, EUA anunciam sanções contra oligarcas e o porta-voz do Kremlin

As forças russas avançam em várias frentes na Ucrânia, com uma estratégia de cercar cidades e tentar controlar portos e infraestrutura crucial, enquanto organizam cadeias de suprimentos e lentamente conduzem um cerco a Kiev, em preparação para uma ofensiva. A situação está especialmente grave em Mariupol, a 220 km a leste da usina, onde a população de 460 mil pessoas sofre escassez de comida, água e energia elétrica em função do cerco em andamento.

Bombardeio em Marioupol

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia pediu para outros países adotarem medidas punitivas decisivas contra a Rússia, acusando-a de gerar o perigo de um desastre nuclear sem precedentes. O ministério disse que qualquer dano a uma instalação de armazenamento de combustível nuclear usado pode liberar radiação nuclear. "Como resultado, um desastre nuclear dessa escala pode exceder todos os acidentes anteriores em usinas nucleares", afirmou em comunicado.

A usina atualmente opera com apenas uma pequena fração de sua capacidade máxima. Dois membros da equipe de segurança da instalação ficaram feridos após um projétil atingi-la durante a noite, enquanto ocorria uma batalha entre forças russas e ucranianas em seus arredores. O diretor geral da AIEA, Rafael Grossi, se ofereceu para viajar à central de Chernobyl e negociar com Ucrânia e Rússia garantias para a segurança das instalações nucleares ucranianas.

Grossi mostrou uma foto aérea da instalação de Zaporíjia. O prédio que foi atingido, que abriga laboratórios e unidades de treinamento, fica perto, mas claramente separada da fileira de edifícios dos reatores. — O que entendemos é que este projétil veio das forças russas. Não temos detalhes sobre o tipo de projétil — disse Grossi.

Grossi sugeriu um encontro com autoridades russas e ucranianas na extinta usina de Chernobyl, onde nos primeiros dias da ofensiva a Rússia assumiu o controle das imediações da região onde ocorreu o pior acidente nuclear do mundo, em 1986. A equipe de plantão em Chernobyl não foi trocada desde que foi apreendida na semana passada, apesar dos repetidos apelos de Grossi.


A situação em Zaporíjia é semelhante, pois a Rússia a controla, mas a equipe ucraniana continua a operá-la.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, usou o incidente para pedir um endurecimento maior contra a Rússia.  Ele disse que conversou com vários líderes mundiais nas primeiras horas de sexta-feira, acusando a Rússia de atacar deliberadamente os reatores. — É necessário endurecer imediatamente as sanções contra o Estado terrorista nuclear  — declarou Zelensky em um vídeo. — É necessário impedir que a Europa morra de um desastre nuclear. [ao nosso entendimento,só tem um endurecimento que favorecerá o povo ucraniano e a própria Europa = a remoção imediato do ainda presidente ucraniano. Aquele cidadão já teve tempo amais que suficiente para entender que palavrório, falação e coisas do tipo, não resolverão o problema. Enquanto ele permanecer na presidência o sofrimento do povo ucraniano só vai aumentar.]

Um porta-voz do Ministério da Defesa russo descreveu os eventos em uma versão inteiramente oposta à ucraniana. Ele disse que a usina nuclear está operando normalmente e que a área está sob controle russo desde 28 de fevereiro. — No entanto, ontem à noite, no território adjacente à usina, foi feita uma tentativa do regime nacionalista de Kiev de realizar uma provocação monstruosa — disse o porta-voz Igor Konashenkov. — Por volta das 2 da manhã, durante uma patrulha do território vigiado adjacente à usina nuclear, uma patrulha móvel da Guarda Nacional foi atacada por um grupo de sabotagem ucraniano. Para provocar um contra-ataque no prédio, disparos pesados de armas leves foram lançados contra militares da Guarda Nacional Russa das janelas de vários andares de um complexo de treinamento localizado fora da usina.

Ele disse que a patrulha russa respondeu ao fogo para reprimir o ataque, e o "grupo de sabotagem" abandonou o complexo de treinamento, incendiando-o ao sair.

Condenação de líderes
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com Zelensky e classificou a ação como uma “irresponsabilidade” da Rússia, mesma definição usada pelo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.

Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, condenou as “ações imprudentes” de Putin e disse que pedirá uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU. Já Justin Trudeau, do Canadá, pediu que os “ataques horríveis” cessassem imediatamente.

Na hora do ataque, quatro dos seis reatores da usina estavam sendo resfriados de acordo com procedimentos operacionais seguros, informou a inspetoria nuclear da Ucrânia. O órgão advertiu que impedir a resfriação das unidades de energia pode levar a “liberações radioativas significativas".

Oleksandr Kharchenko, consultor do ministro da Energia ucraniano, disse que o maior risco seria uma possível interrupção no fornecimento de energia da usina e nos geradores de reserva. — Se estes também fossem cortados, isso afetaria o sistema de resfriamento do reator — afirmou, citado pelo Financial Times. — Se isso for danificado, ninguém pode prever as consequências.

A central nuclear de Zaporíjia fica no Sul da Ucrânia, às margens do rio Dnieper, a 525 km de Chernobyl. Ela tem uma capacidade total de quase 6.000 megawatts, suficiente para abastecer quatro milhões de residências. Em um período normal, a usina produzia 20% da energia elétrica do país e quase metade de sua energia nuclear. A construção do primeiro reator começou em 1979 e o último entrou em operação em 1995. O local tem seis reatores VVER-1000 de concepção soviética. Estes reatores têm duração média de entre 40 e 60 anos, e possivelmente mais, caso passe por ajustes tecnológicos.

Embora o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, tenha alertado para um desastre “10 vezes maior” do que Chernobyl, analistas disseram que isso era improvável. Os reatores nucleares em Zaporíjia  têm um design diferente, com uma concha de contenção, e desde então foram atualizados para novos regulamentos. — Se não houver danos militares significativos em seus múltiplos sistemas de segurança redundantes, os reatores devem permanecer em um estado seguro e estável — disse à Bloomberg Lake Barrett, ex-funcionário da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA que esteve envolvido na limpeza da usina nuclear de Three Mile Island, nos EUA, onde houve um acidente em 1979.

Nos dias que antecederam o ataque, a AIEA considerou uma zona de exclusão de 30 quilômetros ao redor de todos os reatores da Ucrânia, reconhecendo a natureza sem precedentes de combates dentro e ao redor das instalações. Nunca houve um ataque militar a uma usina nuclear em operação, disseram analistas.

A informação sobre o fogo na usina foi divulgada primeiramente pelo prefeito da cidade de Energodar, Dmytro Orlov, em um vídeo postado em seu canal no Telegram. Ele citou o que chamou de ameaça à segurança mundial, mas sem dar detalhes. Mais cedo, Orlov já tinha afirmado que uma coluna de soldados russas se direcionava para a usina nuclear, relatando que "tiros altos podiam ser ouvidos na cidade".

Mundo - O Globo 

[Sugestão: para que nossos leitores comprovem o empenho da mídia militante em narrar fatos, com chamada manipulada, de forma a maximizar qualquer resíduo que possa deixar a impressão que as coisas estão ruins para o Brasil,sugerimos ler: Míriam Leitão: PIB brasileiro cresce 4,6% e recupera tombo de 2020, mas guerra de Putin amplia incertezas para o já fraco cenário deste ano.                              A jornalista procura maximizar o aspecto negativo - eventual reflexo,  desfavorável ao Brasil,  da guerra de Putin - e minimizar o crescimento do PIB.]

 


quinta-feira, 3 de março de 2022

‘O pior ainda está por vir’ na guerra da Ucrânia, conclui Macron após conversa com Putin

Presidente francês deve oficializar candidatura à reeleição nesta quinta-feira, sem o trunfo diplomático que esperava quando decidiu liderar campanha por saída negociada

Muito ativo na parte diplomática em busca de uma solução negociada entre Rússia e Ucrânia desde antes da guerra eclodir, o presidente da França, Emmanuel Macron, conversou com os presidentes dos dois países nesta quinta-feira.

NEGOCIAÇÕES: Nova rodada reúne ucranianos e russos

Macron chegou a uma conclusão sombria após a conversa com Vladimir Putin, da Rússia: “o pior ainda está por vir” na guerra em curso. Segundo o comunicado do Palácio do Eliseu, em uma conversa que durou uma hora e meia, Putin afirmou que a operação russa está prosseguindo "de acordo com os planos" e pode "se intensificar" se os ucranianos não aceitarem suas condições.“A previsão do presidente [Macron] é que o pior está por vir, tendo em conta o que lhe disse o presidente Putin”, disse o Eliseu.

O Kremlin disse que a lista de demandas apresentadas à Ucrânia pode vir a se expandir caso as suas exigências não sejam atendidas.

De acordo com a Presidência russa, Putin afirmou que continuará, "sem concessões", sua ofensiva contra os "nacionalistas" na Ucrânia, país invadido por Moscou em 24 de fevereiro.  Em uma conversa descrita como "franca" pelo governo de Moscou, Putin expressou seu "desacordo" com o discurso feito no dia anterior por seu homólogo francês sobre o conflito na Ucrânia. Macron alegou ser uma "mentira" que a Rússia estava lutando contra ou nazismo na Ucrânia.

Sobre as conversas entre uma delegação ucraniana e os russos na Bielorrússia nesta quinta-feira, Putin disse a Macron que seu país poderá colocar na mesa uma "desmilitarização e uma posição neutra para a Ucrânia, para que não haja ameaças de qualquer tipo que afetem a Rússia vindas deste território", segundo o Kremlin.

Segundo o primeiro-ministro francês, Jean Castex, a conversa ocorreu "a pedido do presidente Putin".

Fuga em massa:  Filas, choro e a esperança de fugir da Ucrânia: mulheres, crianças e idosos se amontoam na estação ferroviária de Lviv

Macron deve oficializar sua candidatura à reeleição nas eleições presidenciais de abril nesta quinta-feira. Embora esteja há meses em campanha, o presidente postergou a oficialização, em parte devido ao conflito, mesmo antes de ele se tornar armado.

Segundo a maioria dos analistas, Macron desejava evitar a guerra também para poder usar isso em sua campanha. A invasão russa na quinta-feira da semana passada frustrou seus planos. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, é judeu e esta semana pediu aos membros da comunidade ao redor do mundo que não "ficassem em silêncio" enquanto seu país sofre um grande ataque. [insistimos na necessidade de alguém orientar o presidente ucraniano que guerras são ganhas com soldados e armas - protestos, gritaria, manifestações não ganham guerras. Qual a vantagem para os ucranianos uma porção de franceses e outras nacionalidades se reunirem me Paris para uma manifestação a favor da Ucrânia e contra a Rússia? uma vida, ainda que seja uma só, será poupada?

Ainda não há comunicado sobre a conversa entre Macron e Zelesnky. As declarações do Eliseu foram divulgadas pouco antes da  segunda rodada de negociações entre delegações da Rússia e da Ucrânia em busca de um acordo, marcadas para começar às 11h de Brasília.

Mundo - O Globo

 

 


Biden: um presidente senil em tempo de guerra - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino


Em seu primeiro discurso sobre o Estado da União, realizado nesta terça-feira (1), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu “isolar ainda mais a Rússia”, por meio do fechamento do espaço aéreo americano a voos do país, disse que vai perseguir crimes de oligarcas russos e garantiu que não enviará forças para lutar na Ucrânia. Mirando manter as “fundações do mundo livre” (que ele acusa Vladimir Putin de querer abalar), Biden também reforçou sua defesa do "direito das mulheres ao aborto" que, segundo ele, tem sofrido "ataque sem precedentes" no país.

[Fosse apenas o presidente senil e a sua vice sem noção,até que seria fácil solucionar o problema =  impeachment dos dois;
O mais desagradável é a irresponsabilidade do ainda presidente ucraniano e de parte da mídia militante com o falatório presidencial e as narrativas da imprensa pró esquerda.
O palavrório do ex-humorista consiste na monotonia de contar vantagens aos ucranianos incautos - suas falas contando vitórias nas batalhas com os russos se contradizem com os pedidos, quase súplicas, de ajuda humanitária, intercalada com pedidos de armas, feitas aos supostos aliados e a outros países,alguns  realmente dispostos a ajudar - disposição que nem sempre é suficiente para vencer as barreiras que surgem.
A mídia militante com suas narrativas divide o palanque das mentiras com o presidente da Ucrânia. 

Qualquer ser humano, ainda que petista, capaz de somar dois mais dois e obter quatro, tem capacidade de perceber que Putin - mesmo possuindo os muitos defeitos que sabemos possui - não seria  estúpido de entrar em uma guerra sem avaliar todos os aspectos, alternativas, tanto os mais visíveis quanto os de mais dificil percepção. 
 
Além do seu passado de espião - o que não o torna um estrategista, mas lhe permite ver mais do que um leigo - tem todo seu estado-maior, um  'staff' com capacidade de prever qualquer possível cenário. 
 
Jamais, o ex-espião  iniciaria uma guerra sem plena ciência de todas as situações possíveis e alternativas.
Apesar de nossa posição totalmente contra o comunismo e a maldita esquerda progressista, temos que respeitar a capacidade de resistência da Rússia e de seu povo, em qualquer circunstância. Foram eles que venceram Napoleão, foram eles que repeliram a invasão pelo poderoso Exército de Adolf Hitler. 
 
Se alguém pode ser acusado de genocídio é o presidente ucraniano que incita seu povo para uma guerra perdida.
Lamentamos os mortos, de ambos os lados, mas vemos uma única alternativa: o presidente da Ucrânia pedir uma conversa com Putin e ver das propostas que receber qual a menos danosa ao seu país. 
Perder tempo, dando atenção a discursos políticos, repletos de promessas e nada de concreto, é apenas PERDA DE TEMPO e mais sofrimento para o povo ucraniano e para o russo, já que soldados russos também morrem e os seus lamentam. ]
Biden é o pior presidente dos Estados Unidos desde Jimmy Carter, e talvez até pior do que seu antecessor democrata.  
Carter tinha a dignidade de, eventualmente, admitir erros; Biden dobra a aposta. Tem 37% de taxa de aprovação em apenas 14 meses de governo, a pior da história, e sua vice consegue ser ainda pior. Tudo que Biden tinha que fazer para mostrar uma gestão razoável era desaparecer do mapa, continuar no porão de onde fez sua "campanha". Mas sua incompetência falou mais alto.

Após uma economia artificialmente colocada em coma por quase dois anos, com medidas anticientíficas como o lockdown, bastava não errar muito para ver uma recuperação forte. Em vez disso, temos a maior inflação em décadas, e Biden prefere culpar a ganância corporativa pelo fenômeno monetário, como se os empresários tivessem ficado mais malvados desde que ele assumiu. Em cima de quase US$ 30 trilhões de dívida pública, o governo Biden tem distribuído cheques, flertado com sindicatos e punido quem produz riqueza. Não tem como dar certo.

No âmbito externo é uma desgraça atrás da outra. A saída atabalhoada, para dizer o mínimo, do Afeganistão foi um fiasco como poucos na história, entregando o poder de bandeja para o Talibã e sacrificando inocentes no processo. A crise imigratória escala pois os ilegais acreditam que o atual governo será benevolente com quem entra de forma criminosa no país. E agora temos uma guerra cujo fim é indeterminado, envolvendo uma potência nuclear.

Os democratas têm total responsabilidade pelo que está acontecendo. Clinton ajudou a desarmar a Ucrânia na década de 1990, Obama nada fez quando Putin invadiu a Crimeia, e a política energética dos democratas e do próprio Biden criou maior dependência em relação ao gás russo. É trapalhada em cima de trapalhada, inclusive com Biden deixando claro que nada faria contra uma "pequena invasão", deixando o caminho livre para as pretensões imperialistas de Putin.

Biden falou em unir a nação, mas tratou como inimigo e racista qualquer um que discordasse de suas reformas eleitorais radicais. O país nunca esteve tão segregado e dividido, com um esgarçamento do tecido social sem precedentes. Enquanto isso, Biden apoia movimentos radicais como o Black Lives Matter, que pretende implodir as instituições republicanas, e desmonetizar a polícia, o que tem produzido aumento na taxa de criminalidade, prejudicando de forma desproporcional os negros.

Mas não há com o que se preocupar: o Ministério da Defesa tem mais "diversidade" agora, incluindo um trans! Não resta dúvida de que todos se sentem mais seguros... ou não?  
E se a economia vai mal, a inflação é galopante, o endividamento é insustentável e o mundo perdeu o respeito pela liderança americana, ao menos as mulheres terão no presidente um aliado na hora de matar o próprio bebê em seus ventres.
 
A América precisa de um líder forte, que imponha respeito ao resto do mundo; de alguém que fique ao lado dos pais, e não dos sindicatos de professores que praticam doutrinação ideológica; de uma pessoa a favor da vida, não do extermínio em massa de bebês em gestação; de quem apoia a polícia, não os movimentos extremistas que demonizam a lei; de alguém que proteja as fronteiras, em vez de escancará-las de vez. Biden tem feito de tudo para enfraquecer os Estados Unidos.  
Que sua gestão temerária termine logo, para o bem da nação e do mundo livre.
 
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

QUAL O LIMITE PARA PUTIN? - Guilherme Baumhardt

Nações têm interesses e estão de olho em mercados. A relação entre parceiros pode gerar benefícios, mas quando ela se traduz em dependência pode significar, também, riscos

Semanas atrás, na véspera da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, um recuo das tropas comandadas por Vladimir Putin foi comemorado como um sinal de que o iminente conflito com a Ucrânia poderia não ocorrer. O quadro remete ao que muitas vezes ocorre com o paciente internado por longo período em um hospital: uma leve melhora antes do óbito. No caso das tropas russas, o que houve foi um embuste. A decisão de Moscou de atacar Kiev já estava tomada. Era apenas questão de tempo. Prova disso é a velocidade com que avançam sobre o território ucraniano.


Bombas, mísseis e mortes ocorrem todos os dias – a população de Israel que o diga, volta e meia atacada pelo grupo terrorista Hamas. O que estamos assistindo neste momento, porém, é bem diferente. Trata-se de uma potência nuclear avançando sobre o segundo país em área territorial do Velho Continente. Não é pouca coisa.

A ruína da antiga União Soviética trouxe cicatrizes. Países foram desmantelados (Tchecoslováquia e Iugoslávia, para ficarmos em apenas dois dos mais expressivos exemplos) e deram origem a outras nações. E embora tenham sido processos traumáticos e construídos muitas vezes à base de protestos, sangue e mortes, eram conflitos essencialmente internos.

Sem saber ainda qual o apetite de Vladimir Putin e qual a dimensão que terá o impacto nas relações políticas e econômicas, ficam algumas lições do que ocorre neste momento.

A primeira e, talvez, mais básica é: não existe vácuo de poder. Quando alguém abre mão da liderança, o que surge não é o vazio, mas sim uma substituição natural.   
Donald Trump estava longe de ser o mais polido dos presidentes norte-americanos. Mas se faltava educação e finesse, sobrava habilidade nas negociações. 
Joe Biden oscila. A ameaça de retaliar a Rússia com embargos econômicos tem alcance limitado e ele sabe disso. O mundo esperava uma reação mais enérgica. Ela não veio.

A segunda lição serve de alerta: a agenda ambiental que demoniza combustíveis fósseis pode ser, aos olhos das novas gerações, limpa e cheirosa. Mas traz riscos, especialmente do ponto de vista de segurança, tanto de fornecimento quanto de estabilidade política. A pergunta mais óbvia é: enfiar goela abaixo, a fórceps, o uso de energias alternativas interessa a quem?

Nações têm interesses e estão de olho em mercados. A relação entre parceiros pode gerar benefícios, mas quando ela se traduz em dependência pode significar, também, riscos. A Europa que estimulou (inclusive com a adoção de prazos legais) a propagação dos carros elétricos estava interessada em depender menos do petróleo que ela pouco produz (exceção feita aos nórdicos). Até aí, sem problemas. Mas a mesma Europa que queria reduzir esta dependência é hoje praticamente refém do gás russo, especialmente a Alemanha, que decidiu precipitada e erroneamente desligar usinas nucleares após o terremoto e posterior tsunami que atingiu a usina de Fukushima.

Em meio à onda desarmamentista que avança sobre o mundo, uma importante lembrança: na metade da década de 1990, um acordo selou o destino do poderio nuclear da Ucrânia, o terceiro mais importante do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e Rússia. As ogivas foram devolvidas aos russos sob a promessa de que o ocidente garantiria a segurança dos ucranianos. Pergunto: se a Ucrânia ainda tivesse este arsenal sob seus domínios, Putin se arriscaria a fazer o que fez? Pouco provável.

O fato é que Joe Biden parece perdido.[parece? o dorminhoco americano já estava perdido quando o candidataram.]  Não é a primeira vez que isso ocorre com um presidente dos Estados Unidos. Na década de 1960, John Kennedy passou por situação semelhante. Após vencer Richard Nixon nas eleições, o jovem presidente democrata entrou em uma ciranda de desgaste da gestão. A aprovação a ele e ao governo caía. Assim como ocorre agora, a antiga União Soviética viu na fraqueza de Kennedy uma oportunidade de expandir seus domínios e ampliar seu poder bélico.

O resto é história. A chamada "Crise dos Mísseis" tirou o sono de boa parte do planeta ao longo de quase duas semanas. Habilidoso, Kennedy viu ali uma oportunidade. O jovem peitou Nikita Khrushchev, impediu a instalação do arsenal soviético em solo cubano e aproveitou para recuperar o terreno perdido. Kennedy ressurgiu como liderança no seu país e, também, no ocidente. O mundo hoje olha para Joe Biden e não nutre grandes esperanças de que algo semelhante possa ocorrer. Se nada for feito, a resposta para o título da coluna será: não há limite. Infelizmente.

*Publicado originalmente no Correio do Povo de 25/02/2022

Qual concorrente ao Palácio do Planalto teria a coragem do presidente ucraniano? - O Estado de S. Paulo

J.R. Guzzo

Num país onde intelectuais, artistas e partidos de esquerda querem entregar a Amazônia para a administração da ONU, de militantes ambientais ou do Rei da Noruega, nossas possibilidades, nessa comparação com Zelenski, são bem escassas

 
A invasão da Ucrânia por tropas da Rússia, com todos os seus desdobramentos em matéria de destruição, violência extrema e martírio da população civil, permite uma comparação muito interessante com o Brasil neste ano eleitoral de 2022. É simples: separe, um por um, todos os candidatos à Presidência da República, e veja se algum deles, qualquer deles, seria capaz de se comportar como o presidente Volodmir Zelenski está se comportando na guerra contra o seu país. Zelenski não fugiu. Não se rendeu. Não renunciou. Não está de quatro em busca de um acordo com os russos. Ficou no seu cargo, assumiu as suas responsabilidades e colocou um colete à prova de bala para enfrentar o inimigo. Corre risco de vida, mas até agora teve a coragem de cumprir suas obrigações.  [Um comentário: tudo bem! Zelenski não praticou nenhum ato que possa ser interpretado como covardia; só que também não praticou nenhum ato que possa ser classificado como de coragem.
O presidente ucraniano não fugiu, mas também não se expõe, ainda que em uma breve demonstração de ação,  leva a maior parte do tempo em discurseira vazia, incitando seus presididos ao combate, cobrando dos 'aliados' coisas que ele sabe não serão fornecidas e levando o povo ucraniano a  por pura ingenuidade ou excesso de confiança a uma batalha em que já entram perdendo.] 

Os ataques russos à Ucrânia começaram na madrugada do dia 25 de fevereiro. Zelenski não fugiu. Assumiu suas responsabilidades para enfrentar o inimigo. Corre risco de vida, mas até agora teve a coragem de cumprir suas obrigações. Qual dos candidatos presidenciais brasileiros faria a mesma coisa?

Qual dos candidatos presidenciais brasileiros, honestamente, você vê fazendo a mesma coisa? Num país onde as classes intelectuais, os artistas e os partidos de esquerda querem entregar a Amazônia para a administração da ONU, de militantes ambientais ou do Rei da Noruega, as nossas possibilidades, nessa comparação com o presidente da Ucrânia, parecem bem escassas. Pense em cada candidato; veja, com serenidade, quem é capaz de fazer o que o presidente Zelenski está fazendo. O Brasil, por sorte, não foi invadido pela Rússia, nem por ninguém, e não vai ser. É realmente um alívio.

Aqui um grupo de candidatos soltou uma valente exigência, a 15.000 km de distância dos combates, para que o Brasil assuma uma posição “mais rigorosa” contra a Rússia, além da declaração em favor da paz que já fez na ONU; vamos ver o que faria cada um deles quando a primeira bomba explodisse a um quilômetro do Palácio do Planalto

O PT, por sua vez, conseguiu o feito de lançar duas notas oficiais sobre o mesmo assunto, uma depois da outra e com a segunda desmentindo a primeira. A nota inicial condenava o “imperialismo americano”. A que veio em seguida assumiu uma neutralidade vazia, tola e pusilânime. O companheiro Maduro, na Venezuela, hoje a estrela-guia de Lula, foi mais honesto – disse logo que é a favor da invasão e pronto.
 
 O Brasil de hoje é o país da “engenharia política”, dos acordos Lula-Alckmin, do “Centrão” e por aí afora. Aqui um ministro do STF tem medo do barulho dos aviões da FAB que, segundo ele, “quebram os vidros” do seu palácio, mesmo que ninguém tenha visto até hoje nem um pedaço desses vidros quebrados. O presidente Zelenski, realmente, parece viver em outro planeta.

J. R.  Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


CONSERVADORES, ATENÇÃO! - Percival Puggina

Alguns conservadores brasileiros compraram pelo preço de capa as manifestações em que Putin se apresenta como crítico do desmonte cultural, espiritual e moral do Ocidente
Essa convergência, porém, não faz de Putin um Dostoievski. 
Ele é um ex-agente de segurança soviético e russo que se vê como versão atualizada do “líder genial dos povos” (povos eslavos, bem entendido), investido da missão de reconstruir a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sem Soviete Supremo e com menos socialismo.  

Por ter sido antes aquilo que foi, ele conhece o apoio que os neomarxistas da Escola de Frankfurt receberam da URSS para fazerem das ciências sociais os modernos mísseis e tanques da guerra cultural. É exatamente por saber quão letais são essas “armas” que ele não as quer na Rússia. Mas isso não o converte num aliado do Ocidente, ou dos conservadores e/ou liberais do lado de cá.

O negócio de Putin é poder e quanto mais decaído for o Ocidente, quanto mais esquerdistas os Estados Unidos se tornarem, quanto mais tolerantes e molengas se fizerem Reino Unido e França, quanto mais os alemães se confiarem a pessoas como Mutti Merkel, melhor para ele. Tomem isto por autoevidente.[com este comentário, expressamos nossa concordância em gênero, número e grau,  com o que o articulista expressa.
Para evitar que alguns desavisados entendam o assentimento de agora, como revisão do nosso entendimento, afirmado em vários dos nossos comentários,  que Putin é conservador,  tradicionalista e nacionalista, DESTACAMOS que nossa escolha é ditada pela imperiosa necessidade de escolher alguém que represente posições tais como: "ser conservador, querer segurança jurídica, ter princípios e afirmar valores, exigir punição para quem rouba e outras assemelhadas"  e Vladimir Putin é das várias opções disponíveis a que melhor representa o conservadorismo tão essencial a melhora do mundo.
 
Nos tempos de Ronald Reagan tal representação caberia a ele e ao país que presidia - lembrando que Reagan foi o sucessor de um desastre conhecido por Jimmy Carter.  Com a saída de Ronald Reagan, se seguiram, os Bush, pai e filho, que a ele se igualavam, com ligeira vantagem para Reagan. O Bush pai, foi sucedido por Bill Clinton , que para felicidade do povo americano foi sucedido pelo Bush filho, com dois mandatos e como nada é perfeito, seu sucessor, Obama,  com dois mandatos foi um outro desastre.
 
Trump, o sucedeu, não o deixaram governar e 'perdeu' para Joe Biden, que defende tudo que não presta, tudo que qualquer cristão e conservador, tem o dever de combater.  É esse DEVER que torna Putin, mais conservador do que o esquerdista progressista que preside os EUA, a melhor escolha.] 
Quando Putin defendeu nossos direitos sobre a Amazônia brasileira, ele estava a defender, também, os direitos deles sobre a floresta russa, duas vezes maior do que a área total da Amazônia em nove países da América do Sul. 
Alguns dos maiores inimigos da Amazônia brasileira estão aqui mesmo, fabricando e fornecendo munição para os ataques determinados por aqueles que a cobiçam.

As relações brasileiras com a Rússia e com Putin devem preservar nossos interesses comerciais. Isso é uma coisa. Outra é o que Putin está a fazer, empurrando as próprias fronteiras sobre a Europa à custa de uma nação independente. A Ucrânia, sentindo-se ameaçada, tendo observado o que aconteceu na Crimeia, lendo nos jornais do mundo inteiro que um dia seria invadida pela Rússia, buscou abrigo na OTAN. Esse foi o motivo simbólico da invasão, mas a causa real é outra: o projeto pessoal de Putin.

Ser conservador, querer segurança jurídica, ter princípios e afirmar valores, exigir punição para quem rouba um telefone celular, é incompatível com aceitar que uma potência militar tome para si, na mão grande e violenta, uma nação inteira. “Ninguém é santo nesse jogo”, dizem alguns. Sim, e daí? Daí o povo Ucraniano, que lutou por democracia e liberdade no inverno de 2014, paga o pato? [uma realidade inevitável é que escolhas, quando erradas, tiram beneficios pelos que conquistados no passado. 
Um exemplo: os brasileiros quando elegeram, por duas vezes,  o 'coisa ruim', o luladrão descondenado e petista, e bisaram a escolha com a 'engarrafadora de vento', Rousseff, perderam muito do conquistado em outras ocasiões e que agora começam a recuperar - apesar das adversidades que surgem e que certamente serão vencidas.
Da mesma maneira, o povo ucraniano, no instante que decidiu eleger um incompetente, um cidadão propenso a arrumar encrencas para os outros resolverem = guerras para os outros guerrearem - colocou a perder tudo, ou quase tudo,  do conquistado. 
Sempre colhemos o que plantamos.]

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Tite [o ainda técnico do timinho de mercenários, que já foi a seleção brasileira de futebol] é réu em ação de imobiliária em caso envolvendo cobertura de R$ 10 milhões

O Globo - Blog do Ancelmo

Na Justiça do Rio

Começou a ser tratada no TJ do Rio agora em fevereiro ação de cobrança de corretagem apresentada pela Ativa Imobiliária LTDA contra o técnico Tite, da seleção brasileira masculina de futebol, e sua mulher, Rosmari.

Tudo gira em torno da compra feita por Tite, em março de 2021, de uma cobertura no Condomínio Waterways, na Barra, sem a participação da imobiliária como intermediária do negócio. A corretora acusa Tite de dívida de R$ 516.750,00 sobre a comissão de venda, equivalente a 5% do valor do imóvel, negociado por R$ 10.335.000,00 segundo escritura anexada ao processo.

Na petição apresentada à Justiça, os corretores reclamam que ofereceram a cobertura a Tite e sua mulher em 2020. Narram, também, a prestação de serviços anteriores, tendo intermediado a compra de dois imóveis e a locação de outro. Alegam, por fim, que o treinador teria adotado "conduta de má-fé", ao ser informado da existência do imóvel, negar sua compra à imobiliária e negociar a aquisição diretamente com o proprietário.

[a grande fraude do 'tite' é o seu péssimo trabalho junto ao timinho que, em um passado glorioso e já remoto, merecia ser chamado  Seleção Brasileira.
O ápice da fraude, que desmontará de vez o treinador e o timinho que incautos chamam de 'seleção', será quando ele ultrapassar outra fraude - devidamente desmascarada - o tal de 'felipão'. Os 7 a 1 da taca que o timinho, na ocasião comandado por 'felipão', levou da seleção germânica, serão ultrapassados em Qatar por 8 a 0, que o timinho vai levar. Anotem e confiram.
Quanto a fraude de agora, se comprovada, é  um golpe que desonestos tentam aplicar em imobiliárias - normalmente um conluio do vendedor com o comprador, os dois se unem, tentam dar uma banda na imobiliária e escapar do pagamento da comissão por corretagem - a conferir.]
 

quarta-feira, 2 de março de 2022

Direto de Lviv, Ucrânia: a bordo do trem de guerra

Luis Kawaguti -  VOZES
 
Refugiados, jornalistas e soldados voluntários comem Kotelet (frango empanado) com kapusta (salada de repolho) em um restaurante cheio, um dos únicos abertos após às 22h no centro da pequena cidade de Przemysl, fronteira da Polônia com a Ucrânia. A poucos metros dali, centenas de refugiados ucranianos tentam encontrar espaço nos salões da estação de trem, que liga a cidade polonesa a Lviv, na Ucrânia.

Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia
Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia -  Foto: Luis Kawaguti

Um soldado voluntário me chama em português e começamos a conversar. Ele é Iwen Puddo, um ex-paraquedista das forças armadas de Portugal, residente na Alemanha. Ele vendeu sua moto e outros pertences para poder ir lutar na Ucrânia contra o presidente russo Vladimir Putin.

Após o jantar, andamos juntos pela praça até chegar à estação de trem, onde centenas se espremem nos ambientes de janelas e candelabros neo-barrocos. Do lado de fora do prédio está três graus abaixo de zero. Ninguém quer ficar exposto à madrugada congelante. Iwen diz a um voluntário polonês que precisa de um lugar para dormir, pois está viajando há dois dias e quer lutar na Ucrânia. Mulheres, crianças e soldados voluntários têm acesso a uma sala um pouco menos cheia que os demais para passar a noite.

Há carrinhos de supermercado cheios de roupas e sacos de dormir, doados pela comunidade. Quando Iwen começa a selecionar um saco de dormir, o voluntário polonês encarregado de ajudar a multidão diz em inglês com acento britânico:“Não, esses aí são para quem está indo embora, combatentes precisam disso aqui”. Ele oferece a Iwen um robusto saco de dormir militar polonês. “Você pode ficar com ele. Espere aqui que eu vou arrumar um bom lugar para você dormir”.

Questionado se também sou soldado, digo que sou jornalista e acabo recebendo a atenção de quem está entrando na Ucrânia por opção. Em um corredor onde montamos nossas acomodações, o voluntário polonês conversa com uma família ucraniana. “Não entrem no próximo trem, vocês vão pegar outro trem até uma cidade próxima da Alemanha. Lá terão acesso a um hotel gratuito ainda na Polônia. Podem ficar o tempo que quiserem, semanas se precisarem. Depois é só cruzar a fronteira e entrar na Alemanha.”

Fronteiras abertas
Até o ano passado, a postura da Polônia era completamente diferente. O presidente Alexander Lukashenko, da Bielorússia, convidou para seu país milhares de refugiados do Oriente Médio e prometeu a eles que poderiam cruzar a fronteira polonesa tranquilamente e chegar na União Europeia. Sua intenção, segundo disseram na época os líderes europeus, era inundar o continente com ondas de refugiados para desestabilizar politicamente o bloco. A Polônia mandou milhares de militares para a fronteira para tentar impedir a entrada ilegal dos imigrantes.

Para entrar na Polônia ou em qualquer país da União Europeia, os refugiados precisavam passar por processos de qualificação que não costumavam ser rápidos. Mas isso não é mais assim. Desde a semana passada, as fronteiras da Europa se abriram para os refugiados da guerra na Ucrânia. Na estação de Przemysl, o vai e vem de pessoas não para durante a madrugada. Acordo às 3h com o anúncio da partida de um trem para a Cracóvia (Polônia). A maioria dos refugiados é colocada nele. O local esvazia um pouco e temos que mudar para um salão próximo, para que o corredor em que estávamos seja limpo.

Não consigo mais dormir. A maioria das pessoas no salão são mulheres e crianças. Também há grupos de estudantes de origem africana. Percebo um ruído baixo e sem fim de conversas, mas as pessoas são muito contidas. Ninguém ri ou se queixa em voz alta. Apenas algumas crianças correm e falam alto. Todos estão bem vestidos e aparentam cansaço. Voluntários distribuem sopa, pão e frutas. As crianças ganham bichos de pelúcia ou carrinhos, tirados por policiais poloneses de uma grande pilha de doações.

Aliás, há aglomeração das pessoas e distribuição de alimentos, mas não porque os refugiados não possam pagar. Os hotéis e restaurantes da cidade não comportam todos. São milhares de pessoas, ao menos 50 mil por dia cruzando a fronteira polonesa neste e em outros sete pontos. As pessoas também não estão aqui para uma vida com maiores oportunidades. Elas querem salvar seus filhos dos ferozes bombardeios russos, mas depois desejam voltar para suas casas.

Me ocorre um pensamento: a guerra absoluta, termo criado pelo autor prussiano Clausewitz para descrever uma situação onde o conflito não é mais refreado por política ou travas morais, parece estar de volta à Europa. Esses refugiados são a prova disso.

Melhor ficarem com as janelas fechadas"
É manhã na estação de Przemysl. Após tomar uma sopa de tomate, me dirijo na companhia do soldado português para um pequeno prédio, onde ficam as autoridades de fronteira, a fim de pagar um trem para Lviv.Uma mulher com duas crianças avisa que temos que ter cuidado. O trem em que ela chegara há poucas horas foi atingido por tiros e duas pessoas morreram. Não consigo confirmar a informação, mas o impacto moral já está feito.

Iwen conversa com militares poloneses perto do posto de fronteira. Quando eles entendem que ele é um soldado voluntário ficam alegres, o saúdam muito e dizem: “Vocês estão no lugar errado, é só ir até a plataforma 3 e embarcar no trem ‘não oficial’. Vocês não precisam de passagem, é só mostrar seus documentos”, diz um deles.

Costumo dizer aos amigos não familiarizados com a Polônia que, mesmo antes da guerra, basta ficar cinco minutos no país para sentir o ressentimento em relação aos russos — que definitivamente não acabou com o fim da dominação soviética. Já no trem, uma oficial de imigração polonesa pede nossos documentos e diz: “Melhor ficarem com as janelas fechadas”. Antes do sinal de internet do meu chip polonês sumir, vejo um alerta de notícias da BBC dizendo que Putin havia mandado suas tropas atacarem alvos indiscriminadamente. A guerra absoluta…

Região importante estrategicamente
O trem segue seu caminho e as pessoas estão em silêncio, ouço apenas cochichos na cabine vizinha e o ronco do soldado português. Abro um pouco a janela e vejo plantações de trigo, pequenas lagoas congeladas e uma trincheira, de onde pende uma bandeira ucraniana. A maioria dos passageiros do nosso vagão parecem ser soldados voluntários como Iwen. Não da Brigada Internacional que o presidente Volodymyr Zelensky prometeu formar. Mas ucranianos comuns, que deixaram mulheres, filhos, pais e namoradas em segurança no solo polonês e retornam para defender sua pátria.

Fico pensando em cenários de guerra. Lviv é a principal cidade do oeste da Ucrânia. Há dois dias surgiram rumores de que uma tropa de paraquedistas russos foi lançada nas proximidades. Também lembro que havia uma grande unidade de tropas russas na Bielorússia, cerca de 100 quilômetros ao norte.

Os russos podem tentar impedir que os ucranianos recebam doações de armas nesta região. Foram prometidos mísseis antiaéreos stinger e drones de ataque. Quem controla o espaço aéreo são os russos, então essas armas vão ter que entrar por terra, possivelmente aqui pela fronteira com a Polônia. Isso torna a região importante estrategicamente e podem haver ataques para impedir a entrega das armas.

“Eu vim aqui para lutar"
O trem para já em território ucraniano e duas militares sobem para pegar documentos. Meu passaporte é carimbado. Iwen tem só uma carteira de identidade e isso parece não satisfazer as fiscais ucranianas. “Eu vim aqui para lutar, Putin está acabando com o país de vocês. Eu vendi tudo que eu tinha para vir e talvez não saia da Ucrânia. Não quero ser mandado para casa como um cachorro”, diz.

As militares, que aparentam ter pouco mais de vinte anos, se mostram comovidas e pedem que ele as acompanhe. Ele volta feliz, cerca de 30 minutos depois, dizendo: “tudo certo, só avisaram a embaixada do meu país. Perguntei onde posso conseguir armas. Elas riram e disseram que eu vou ter o que quiser”, diz.

O procedimento oficial seria comunicar a Ucrânia da intenção de lutar por meio de uma embaixada. Mas, na guerra dá-se um jeito.  O trem pára na estação final em Lviv e poucas pessoas desembarcam. Estamos deixando a plataforma principal quando sirenes distantes começam a soar. Os alto-falantes da estação de trem mandam milhares de passageiros, que esperam para embarcar para a Polônia, procurem abrigo nos túneis da estação, pois um ataque aéreo é iminente.

Há corre corre na estação, mas nas ruas nem todos parecem se importar. Enquanto alguns tentam entrar na estação, outros continuam seus afazeres. Minutos depois o alarme volta a soar, mas não há ataque aéreo. Ele pode ter sido disparado pela aproximação de aeronaves inimigas, que deviam ter outro objetivo. São as tensões da guerra. 

Luis Kawaguti, colunista - Gazeta do Povo - VOZES