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quarta-feira, 23 de junho de 2021

O estado das forças - Alon Feuerwerker

Análise Política

Há hoje algumas constatações no Congresso Nacional em relação aos efeitos políticos da epidemia de Covid-19. O presidente da Câmara dos Deputados deixou claro que no momento não há correlação de forças para a abertura de um processo contra o presidente da República por crime de responsabilidade (leia). Inclusive porque, segundo ele, a proporção ali dos a favor e contra o governo é de 2 para 1.[IMPORTANTE: 172 deputados votando contra o impeachment já é número suficiente para o pedido ser rejeitado; sendo mais claro: para abrir a sessão da Câmara dos Deputados é necessária a presença de 342 deputados - com 341 ou menos, sequer será aberta a sessão, tendo em conta que para aprovar o pedido são necessários 342 votos favoráveis.]

Do lado oposto da polarização, cristaliza-se na Comissão Parlamentar de Inquérito uma proporção quase igual, mas inversa, de 7 a 4. Anda cada vez mais difícil para o governo virar essa equação, pois os sete, chamados também sintomaticamente de G7, já foram longe demais, não teriam como justificar publicamente uma mudança radical de lado. Ainda que na política quase tudo possa acontecer. Ou tudo.

Por enquanto, o desfecho mais provável da CPI no Senado da Covid-19 é um relatório final duríssimo, [recheado de fake news, interpretações tendenciosas e que jamais sustentarão uma ação judicial ou mesmo um pedido de indiciamento - sem contar que a credibilidade do presidente e relator da CPI é ZERO, número que aumenta com a atuação dos senadores 'drácula' e Barbalho - esse, pioneiro no uso de algemas.] do   com múltiplos pedidos de indiciamento (CPI não indicia, pede indiciamento), e que irá seguir seu curso no Ministério Público e no Judiciário, eventualmente com mais investigações. Será difícil para os listados, mas é altamente improvável que a coisa venha ter um desfecho judicial antes das eleições.

Claro que alguma hora pode aparecer a chamada bala de prata, e isso desencadear um movimento irreversível de remoção do presidente, mas o fato é que até agora não apareceu. E os movimentos de oposição retomaram a presença na rua, mas por enquanto têm sido manifestações majoritariamente de militantes e já alinhados. De ambos os lados aliás.

E tem o calendário eleitoral, que vai ficando cada vez mais apertado. Poderia interessar à oposição que Bolsonaro entrasse na corrida enfrentando um processo político? Com certeza. Mesmo que o desfecho mais provável fosse perder. O problema é que, de novo, o presidente tem um aliado na presidência da Câmara, ao qual, inclusive para efeito da política no estado, não há qualquer vantagem, até agora, em romper com Jair Bolsonaro.
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
 

sábado, 19 de junho de 2021

Inovação - Alon Feuerwerker

Análise Política

Hoje a CPI no Senado da Covid-19 realmente inovou. No dia dos depoimentos de dois médicos favoráveis ao chamado tratamento precoce da doença causada pelo novo coronavírus, o relator e o restante da bancada de oposição saíram da sessão, para não ter de fazer perguntas aos dois depoentes.Com isso, reduziram drasticamente a exposição pública dos trabalhos da CPI neste dia, que seria naturalmente desfavorável ao oposicionismo. [além da maior parte da oposição não primar por empregar práticas honestas, se destacam pela covardia e oportunismo.]   Também naturalmente, haverá um custo político. Aliás, é só que resta de dúvida na CPI. Qual será o custo político para cada lado. 

Pois não há dúvidas sobre o teor do relatório final, visto que a comissão está blocada desde o início num 7 a 4 contra o governo. E vai ser uma grande surpresa se o presidente da República não aparecer no texto, pois daí a CPI terá servido para pouca coisa, só para pescar os peixes pequenos e ex-peixes. [mas a CPI não serve para nada, nem servirá, já que foi criada para atingir o presidente da República, tarefa na qual fracassará. 
Seus mentores esqueceram que para incriminar alguém é preciso provas e estas estão vinculadas a FATOS e estes não são criados por chiliques e/ou surtos,  ainda que de senadores.]

Terá sido muito barulho por nada. É improvável. Vamos ver quais serão as descobertas na nova fase aberta hoje com a passagem de diversos personagens de testemunha a investigado.  
A CPI chegará ao pote de ouro no final do arco-íris? 
Encontrará a bala de prata? 
Ou terminará restrita à construção de narrativas eleitoralmente úteis?

Entrementes, Jair Bolsonaro foi ao Pará. Faz como Luiz Inácio Lula da Silva em 2005/06, quando acossado pela crise desencadeada pelas acusações de Roberto Jefferson. Evita permanecer o tempo todo numa Brasília intoxicada pela guerra política.

O tira-teima? Por enquanto está marcado para 2022. Para antecipar o calendário, só a tal bala de prata e a rua. E as pesquisas. Por enquanto, como mostrou a votação da Eletrobras no Senado, o jogo continua equilibrado. 
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político  
 
 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Pazuello - Alon Feuerwerker

Análise Política

Os dois dias de depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello expuseram a força e o flanco frágil da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19. E a fonte de ambas é a mesma. O governo está em minoria na comissão, e isso ajuda a CPI a concluir ao final sobre a responsabilidade do governo, em particular do presidente da República. Mas o governo estar em minoria na comissão também ajuda a fazer crer que, independentemente dos achados durante os prováveis 180 dias de CPI, a conclusão dos trabalhos já está desenhada.

A história das CPIs mostra que elas têm maior ou menor sucesso conforme chegam, ou não, a algum fato realmente novo, e que oferece a prova da tese que se buscava demonstrar. E que quebra a unidade do bloco alvo. E aí o julgamento é também político, claro. O que a Fiat Elba tinha a ver com a definição de crime de responsabilidade? A rigor nada. Mas catalisou a comoção popular que deu impulso ao impeachment de Fernando Collor.

O objetivo da CPI é apontar o presidente da República como responsável último pelo elevado e trágico número de mortes por Covid-19 do Brasil. E os senadores oposicionistas trabalham em várias frentes: isolamento e afastamento social, vacinação, tratamentos de eficácia não comprovada, falta de oxigênio no desastre de Manaus. Todos esses fatos estão bem registrados, [lembrem-se:  tem que ser provado o efeito REAL que os atos e omissões que tentam atribuir ao presidente da República, causaram realmente os danos que tentam atribuir a comentários do presidente Bolsonaro - é sabido que há dúvidas quanto aos beneficios que isolamento e distanciamento social produzem no combate à pandemia;  
recomendar medicamentos de eficácia não comprovada para tratar uma peste para a qual não há um TRATAMENTO COMPROVADAMENTE EFICAZ,  com remédios que não são proibidos no Brasil (no máximo, para venda,  ocorre a retenção da receita médica) e cujos danos quando   usados no tratamento contra covid-19 nao foram comprovados, pode ter resultado no aumento do número de mortes/casos? mas o desafio da CPI é encontrar o elemento novo para fazer ruir a cidadela do um terço que vai sólido na base social de apoio ao presidente.
 
Mantido esse cacife, ele está capacitado a preservar reunida uma tropa de políticos que verão nele em 2022 a locomotiva dos projetos eleitorais deles. E que portanto estarão interessados em preservá-lo.  [cabe considerar que o tempo trabalha a favor do presidente Bolsonaro - apesar de alguns 'soluços' na evolução da peste e que deixam a impressão de uma terceira onda, o caminho inexorável é o FIM DA PANDEMIA.
É também questão de tempo - rogamos a DEUS que bem antes de dezembro próximo - que a combinação aumento do número de vacinados (aumentando a disponibilidade de vacinas, consequência da  inevitável redução da demanda por imunizantes = quanto mais pessoas vacinadas, menos a vacinar - redução do número de casos/mortes e o retorno do crescimento da economia, começará a trabalhar a favor dos que querem realmente o crescimento do Brasil, liderados pelo presidente Bolsonaro.
 
Os depoimentos do ex-secretário de comunicação, do ex-chanceler e do antecessor do atual ministro da Saúde não parecem ter trazido essa "bala de prata", ainda que seja provável a CPI ir para cima dos três no relatório final. Mas o jogo, como já se disse e se sabe, está só começando.
 
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

quarta-feira, 19 de maio de 2021

O chanceler - Alon Feuerwerker

Análise Política

O depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo à Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 foi, como se esperava, um exercício permanente dos senadores oposicionistas para aproximar-se do alvo definido desde o início: o presidente da República. Até o momento, nenhum dos assessores do chefe do governo cedeu. [nem cederão, não há motivos para ceder; e o general Pazuello que depôs hoje e muitos esperavam sair preso da CPI, deu uma enquadrada no presidente e no já manjado (pelas mancadas) relator Calheiros = o general solicitou, com um tom de exigência, de comando, que não fossem apresentadas perguntas simplórias.]

A administração governamental do tema vacinas aqui no Brasil está se mostrando uma peneira. Alguém terá de responder por isso ao final. [primeiro será necessário que mostrem, como provas já que interpretações não valem - a existência de vacinas disponíveis, em prazos compatíveis, aprovadas pelos órgãos competentes  e que o Governo recusou tais ofertas.] Essa é a disputa.
É óbvio que as ações do governo brasileiro na pandemia obedeceram a um comando central, mas para CPIs não basta dizer "eu acho". Tem de achar a digital. Claro que a aritmética pode tudo. Se houver seis dos onze senadores dispostos a chancelar uma tese ela estará no relatório final. Mas sem a "bala de prata" ficará mais fácil ao governo atrair pelo menos dois dos seis na hora h.

Para inverter a hoje maioria. Aliás, é preciso tomar um certo cuidado com diagnósticos a partir da combatividade demonstrada pelos senadores. É possível que em alguns casos essa combatividade com os peixes pequenos venha a servir de atenuante para a hora em que se tiver de tomar posição sobre os grandes.

Amanhã é esperado o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ele deverá ser inquirido sobre os dois pontos nodais da CPI até agora: vacinas e cloroquina. Como tem a prerrogativa de não responder questões cuja resposta possa incriminá-lo, será pressionado mas terá como neutralizar. A expectativa maior é sobre o que Pazuello dirá a respeito de Jair Bolsonaro. Se essa couraça não for furada no depoimento do general, restará à CPI o caminho sempre mais trabalhoso de vasculhar documentos. E nesse meio tempo o governismo prosseguirá lutando para arrastar os governadores ao cadafalso.[governadores e prefeitos que formam o grande leque das 'autoridades locais' serão levados ao cadafalso e lá vão falar - a maior parte deles encheu os bolsos com dinheiro público e quando apertados vão falar - os pequenos costumam falar no primeiro aperto.
Até hoje nenhuma pergunta foi feita sobre respiradores comprados em adegas, superfaturados, entregues parcialmente e parte dos dos entregues com defeitos sérios.
Tem muita coisa a ser explicada - criminosa mesmo; até agora o que tentaram colar no governo Bolsonaro, e fracassaram, foram erros, que se justificam com o jargão = só erra,  quem trabalha.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico

 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O primeiro dia - Alon Feuerwerker

Análise Política

A tática da maioria da Comissão Parlamentar de Inquérito ficou clara no primeiro dia de depoimentos, abertos pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Um processo de aproximações sucessivas para atingir o objetivo: caracterizar que o presidente da República optou por alcançar rapidamente a chamada imunidade de rebanho e assim antecipar a normalidade econômica.

Não chega a ser tática arriscada, pois há elementos factuais a sustentar. Aliás era uma linha anunciada por senadores da liderança da CPI. Talvez haja alguma dificuldade para carimbar em Jair Bolsonaro formalmente uma acusação criminal, mas o objetivo político está à mão: desembarcar no processo eleitoral de 2022 lançando na conta dele o débito das mortes. [o dolo não está, nem será provado - já que não houve - além do que com o fim da pandemia (com as BÊNÇÃOS DIVINAS, a peste está indo embora e sem volta) e com a normalidade econômica, as mortes,sempre lamentáveis e inevitáveis, serão atribuídas a única razão verdadeira: a PANDEMIA, que só em meados de 2021 começou a se tornar controlável. 
Agora mesmo, MAIO 2021, a existência e disponibilidade das vacinas não é total, não é plena  - registrando-se que a da Pfizer, que dizem,  foi oferecida ao Brasil em meados de 2020, em condições extorsivas, só agora começa a aparecer e a Sputinik V, continua um mistério, que só não veio para o Brasil (ainda que apenas virtualmente) pela insistência do presidente Bolsonaro em só aceitar vacinas autorizadas pela Anvisa.]

Já do lado do governismo, também previsivelmente, tratou-se de tentar desmoralizar o ex-ministro, inclusive opondo as convicções atuais dele às declarações e ações do passado. Mandetta, pré-candidato a presidente pelo Democratas, buscou esquivar-se, e acabou colhendo algumas situações úteis para serem exibidas em vídeo e áudio numa eventual disputa eleitoral. E tem a vantagem de navegar a favor do vento.

O oficialismo procurou também arrastar o ex-ministro para a correponsabilidade diante da coisa toda. Dois são os fatos a que o governismo apelou
1) por que não se fecharam as fronteiras precocemente, quando ainda não havia casos de Covid-19 no Brasil e 
2) por que se manteve o Carnaval de 2020, no final de fevereiro daquele ano?

A CPI está só começando, mas no primeiro dia não chegou a haver pelo lado dos senadores alinhados ao Palácio do Planalto propriamente uma defesa das atitudes e ações presidenciais, preferiu-se, como dito, enfraquecer a palavra do acusador. Tirá-lo para dançar no triste concurso de para quem lançar a contabilidade das vítimas fatais da epidemia.

Na conta da política, o dia inicial de depoimentos terminou como começou:  
- com seis senadores críticos ao presidente, quatro a favor e um presidindo (e que está alinhado àqueles seis). No frigir dos ovos, a não ser que a CPI faça aparecer uma "bala de prata", essa conta é que vai definir o que dirá o relatório final. Para o governo, portanto, trata-se de virar dois votos. Para melhorar suas chances nesse jogo, o Planalto só não pode ver naufragar suas linhas de defesa junto à opinião pública. Tentou evitar isso hoje.

 LEIA TAMBÉM:Israel, Índia

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 


domingo, 9 de agosto de 2020

Cem mil brasileiros - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo


É torcer para as vacinas, e que Bolsonaro não tente reescrever história e recriar personagem

 
Com mais de 100 mil brasileiros mortos e de três milhões de contaminados, é impossível não lembrar que o Brasil é vice-campeão da covid-19 e apontado no mundo inteiro como o campeão de erros na condução da pandemia. O presidente Jair Bolsonaro entra para a história como o turrão que não liderou o País na hora decisiva, fez tudo errado e se aliou ao vírus, em vez de combatê-lo.

Entre a ciência e o que Bolsonaro acha, ele ficou com o que ele acha. Entre seguir as orientações de organizações médicas do mundo inteiro e os cochichos de amigos e aliados, ele optou pelos cochichos. Entre admitir os erros gritantes e dobrar a aposta, ele dobrou. Entre se solidarizar com as vítimas e lavar as mãos, ele lavou as mãos, produzindo frases que entram não para o anedotário da história, mas para a memória internacional da falta de empatia.

[o presidente da República fez alguns comentários que podem ser considerados irônicos, negativos, conformistas,etc.
Mas, em nenhum momento, tomou qualquer decisão, propôs lei ou editou MP que de alguma forma causasse problemas às ações de combate ao coronavírus.
A única autoridade que recorreu ao  Judiciário para impedir que recursos dos Fundos Eleitoral e Partidário fossem empregados no combate à pandemia, foi o presidente do Senado =  Davi Alcolumbre.
Obteve êxito = o Poder Judiciário proibiu que os recursos fossem utilizados no combate à covid-19.]

“Histeria da mídia”, “gripezinha”, “e daí?”, “todos nós vamos morrer um dia”, “não podemos entrar numa neurose”, “não acredito nesses números”, “o vírus está indo embora”, “eu não sou coveiro, tá?” “quer que eu faça o quê?”, “eu sou Messias, mas não faço milagres”. Já pertinho da marca de 100 mil brasileiros mortos, Bolsonaro continuou sendo Bolsonaro e entre sorrisos, ao lado do eterno interino ministro da Saúde, deu de ombros: “Vamos tocar a vida”.

[atualizando: todos torcemos e imploramos a DEUS por uma vacina o mais rápido possível.
Por enquanto, apesar de muitos apresentarem como fato que as vacinas, ainda não criadas, logo estarão disponíveis para o Brasil se impõe lembrar que NÃO EXISTE nada que garanta a entrega das vacinas - quando criadas, testadas e aprovadas - ainda este ano ou mesmo no primeiro semestre de 2021.
Alguém em sã consciência, agindo de forma imparcial, sensata, é capaz de apostar que a Sinovac, ou a AstraZeneca vão dar prioridade ao Brasil - deixando de lado os Estados Unidos e a própria China?
Será que essas companhias também não firmaram acordos com China, Inglaterra, Estados Unidos, União Europeia, para dar prioridade àqueles países?
Ou só o Brasil foi esperto o suficiente para ser o primeiro a garantir exclusividade?
Lembrem-se que no começo da pandemia, alguns produtos farmacêuticos destinados ao Brasil - máscaras, EPIs, anestésicos - foram confiscados quando aviões que os traziam para o Brasil, pousaram nos Estados Unidos. ] 

O que os amores, pais, mães, filhos, irmãos, amigos e colegas dos 100 mil brasileiros mortos acham disso? Tocar a vida? Como assim? E o presidente foi adiante: “Tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. Buscar uma maneira só a esta altura da desgraça? Maneira de “se safar”? Desse “problema”? Uma frase, quatro absurdos.
São falas que não condizem com um presidente no auge de uma pandemia assassina que destrói vidas, famílias, empresas, empregos, renda e a economia do País. No mundo democrático, presidentes e primeiros ministros, com poucas exceções, falam – e agem – como líderes, respeitam a ciência e os cientistas, dão rumos, apresentam soluções, admitem erros. Conferem a devida solenidade, demonstram preocupação, dor, compaixão.

No Brasil, vice-campeão da covid-19, o presidente aparece sorrindo, provocando, ironizando a desgraça. Pior: dando mau exemplo, tomando decisões absurdas. E atrapalha muito ao desestruturar o Ministério da Saúde, rasgar protocolos internacionais, jogar no lixo a única vacina possível – o isolamento social – e virar, alegremente, ridiculamente, perigosamente, garoto-propaganda de um remédio sem nenhuma comprovação, [existe algum comprovadamente eficaz?]de nenhum órgão sério, de nenhum país. Sem coordenação central, com Bolsonaro só ligado em política, guerreando contra governadores e prefeitos, viu-se o caos. A covid-19 dá um banho em cientistas, cheia de armadilhas cruéis, manhas assassinas, surpresas a cada hora. 

Não bastasse, ela aqui encontra o ambiente perfeito para destruição e dor. A única bala de prata que resta para vencer uma guerra já perdida são as vacinas, que chegam ao Brasil pelos acordos entre o governo federal e Oxford e entre o governo de São Paulo e a China. É torcer e rezar, contando com uma expertise comprovada brasileira: as vacinações em massa. Se os testes forem um sucesso, se o Brasil cuidar adequadamente da logística e da compra e produção de insumos, há luz no fim do túnel. Antes tarde do que nunca.

Bolsonaro está sorrindo, confrontando, agredindo a população com expressões muito além de impróprias. Que não venha depois, com boa parcela da população vacinada e os números em queda, tentar reescrever a história e reinventar seu personagem numa das maiores tragédias do planeta. Todo mundo sabe que a culpa é de um vírus ardiloso, cheio de mistérios, que encontrou no presidente do Brasil um grande aliado.


 Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo



sábado, 23 de maio de 2020

Atropelamento com fratura exposta - IstoÉ

Sou obrigado a concordar com os políticos que dão apoio a Jair Bolsonaro. O vídeo da famigerada reunião ministerial de 22 de abril, liberado nesta sexta-feira pelo STF, não foi uma bala de prata contra o presidente. Foi mais um atropelamento com fratura exposta, que pode, como dizem os médicos, “evoluir para o óbito”.
[Por favor, tenham presente que além de não provar nada contra o presidente, a divulgação do vídeo ainda traz no despacho do decano do STF - que, indiscutivelmente, não é bolsonarista ou mesmo neutro -uma declaração de que o presidente Bolsonaro é fiel cumpridor = servidor da Constituição.] 

Para ser bala de prata, o vídeo teria de flagrar Bolsonaro, concretamente e para além de qualquer dúvida, procurando desviar a PF da sua missão institucional. Só isso obrigaria o procurador geral da República Augusto Aras a denunciar o presidente. Como se sabe, Aras está doidinho para arquivar o inquérito. Do ponto de vista jurídico, mostrar que Bolsonaro fez pressão para trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro não leva a lugar nenhum. É algo que está dentro de suas prerrogativas.

Foi pura inépcia do presidente se enredar numa história capenga a respeito desse assunto. Ele disse que, ao reclamar que não conseguia fazer trocas “na segurança no Rio”, se referia à equipe que cuida da sua proteção pessoal, não à PF. Sua trinca de ministros militares — Augusto Heleno, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos — repetiu a história em depoimentos à Justiça. Mas a versão foi rapidamente desmentida. Em março, a equipe de segurança do presidente no Rio de Janeiro teve trocas importantes. As mudanças não foram para punir, mas para premiar o comando com promoções. Em outras palavras, aquele não era um foco de dificuldades ou insatisfação. A lorota desnecessária pode cobrar um preço mais adiante.

No vídeo, Bolsonaro também exige receber relatórios de inteligência mais detalhados. Reclama de todo o aparato de informações, incluindo Abin, Gabinete de Segurança Institucional, PF. Isso tampouco é crime. A PF de fato tem o dever de abastecer a Presidência com informações.
Repita-se: o que importa é provar que a mudança de superintendente no Rio era um modo de transformar a PF numa extensão dos interesses políticos ou pessoais de Bolsonaro.

Essa prova não aparece no vídeo de maneira cabal. Aliás, o vídeo até enfraquece um dos indícios de que Bolsonaro queria uma PF para chamar de sua. Antes que fosse liberado, especulava-se que a frase “não vou esperar &@%*$! minha família toda… porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha” dizia respeito aos filhos Flávio e Carlos Bolsonaro, e à possibilidade de que sejam atingidos por investigações sobre rachadinhas e fake news criminosas. Mas os parentes mencionados logo antes dessa exclamação são os irmãos do presidente. Bolsonaro reclama que eles são perseguidos pela imprensa.

Curiosamente, uma chance para que Augusto Aras não engavete o inquérito surgiu no começo da noite, Bolsonaro resolveu falar com a imprensa. Queria cantar vitória, bradando que o vídeo é “um traque”, “um furo n’água”. Acabou dando um tiro pé. Ele mencionou uma trama que teria sido desbaratada por amigos policiais. Disse que agentes do país todo lhe passam informações de modo informal, explicando que essa é a misteriosa “segurança particular” que mencionada no vídeo — e que seria mais eficiente que a dos órgãos de governo.
Na trama, a casa de seu filho Carlos seria alvo de uma busca judicial. Provas falsas seriam plantadas no local e o presidente se veria refém de chantagens. Bolsonaro revelou que depois desse episódio chamou Sérgio Moro às falas. Pediu que ele o protegesse. “Ele tem o dever de me defender”, disse. [em qualquer país do mundo, do mais democrata a uma ditadura, o presidente da República tomando conhecimento do risco iminente de uma ilegalidade, não comparece à delegacia do bairro para BO e sim procura um dos seus ministros, preferencialmente, com o da Justiça ou,  no mínimo, o chefe da sua segurança pessoal.] 
Isso sim é uma amostra contundente do desejo de instrumentalizar a PF de forma indevida. O dever de proteger o presidente é do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno. Não é do ministro da Justiça, seja ele Moro ou qualquer outro. Trata-se de uma novidade que pode dar sobrevida à investigação, juntamente com a história esquisita da segurança particular. [receber informações de amigos, obtidas e passadas  de forma não ilegal, não constitui crime.]
Quer dizer então que o vídeo da reunião ministerial é uma bobagem? Um traque? Nada disso. Se as consequências jurídicas imediatas podem não ser as que se imaginava, as consequências políticas não são nada boas.

Primeiro, um parêntese. Quando se assiste o vídeo, fica claro que Bolsonaro estava fervendo de raiva. Queria exigir dos ministros mais combatividade, mais ação política. Moro era o principal alvo de irritação. Sem dúvida, é no ex-juiz que Bolsonaro está pensando quando cobra que auxiliares preocupados com a própria imagem “tirem a cabeça da toca” para defendê-lo na imprensa. “Tem que fazer a sua parte!”, diz o presidente. Também é para Moro que ele olha quando avisa que vai intervir em qualquer ministério se achar necessário. Ele se volta para o ministro da Justiça no exato momento em que pronuncia a palavra “intervir”. [está na competência do presidente da República intervir em qualquer ministério - são órgãos que auxiliam o presidente, portanto, se espera que trabalhem afinados com as determinações  presidenciais.].

Sobre o restante do vídeo, a baixaria na fala do presidente e de seus ministros é deplorável. Pior ainda, não há lucidez nenhuma por baixo do jorro de palavrões. Numa reunião de quase duas horas, pouco se fala de governar, e muito tempo se gasta com delírios e rancores. Uma inacreditável confusão entre as restrições à locomoção adotadas por todas as democracias do mundo para combater a pandemia do coronavírus e um desejo diabólico de escravizar as pessoas atravessa a conversa. Daí derivam considerações sobre a necessidade de armar os cidadãos para evitar o surgimento de ditaduras (Bolsonaro), mandar para a cadeia os “bandidos do STF” (Abraham Weintraub) e processar e prender governadores e prefeitos que recomendam o isolamento social (Damares Alves).

O núcleo duro do bolsonarismo gosta de ouvir essa música. Mas ela deve causar um enorme desalento naqueles cidadãos que votaram em Bolsonaro, mas não o apoiam sem reservas. O vídeo deve acirrar ainda mais os ânimos no Brasil. A esperança de que o governo possa pôr o país nos trilhos vai ser ainda mais corroída. Acredito que a investigação sobre a tentativa do presidente de interferir politicamente na PF será arquivada em breve por Augusto Aras. Mas não há tranquilidade política no horizonte. E o governo está no chão, atropelado por suas próprias palavras.

Carlos Graieb - Revista IstoÉ


terça-feira, 19 de maio de 2020

E vai colocar quem no lugar? - Valor Econômico [querem derrubar Mourão antes de conseguir derrubar Bolsonaro.]

Andrea Jubé


PEC impede vice de assumir Presidência em definitivo

[essa oposição sem noção deveria empregar seus esforços em aprovar uma PEC reduzindo os 342 votos necessários para aprovar o impeachment de um presidente para uns 100 votos.

Tentar derrubar o vice-presidente Mourão, antes de conseguir iniciar um processo para derrubar o presidente Bolsonaro,  é uma estupidez e uma palhaçada, digna dos autores da PEC e dos seus apoiadores.] 
Parlamentares que transitam na cúpula das duas Casas legislativas afastam um eventual impeachment alegando que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro ainda é alta, não tem ambiente político, a economia claudica [omitem que a crise econômica,que derrubou até  PIB da China, é 99% efeito da pandemia], mas ainda não tombou, e não tem povo na rua - até porque a pandemia da covid-19 impede aglomerações. Essas lideranças insistem que “precisa de povo na [Avenida] Paulista para derrubar presidente”. [povo nas ruas para derrubar presidente não encontram, mas povo nas ruas para apoiar o presidente Bolsonaro tem, no mínimo, uma vez por semana.]

Do rol de justificativas, o argumento cabal é a ausência de uma liderança nacional que traga estabilidade ao país. “Vamos tirar o Bolsonaro para colocar quem no lugar?” É a pergunta que todos se fazem e, invariavelmente, vem acompanhada de um silêncio e um suspiro. Um dirigente partidário observa, em tom pragmático, que “Bolsonaro é o que temos para o jantar”.

A leitura predominante entre parlamentares influentes nas duas Casas é a de que um impeachment neste momento só favorece o vice-presidente Hamilton Mourão e mais dois atores: o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). “E ninguém no Congresso gosta deles”, sublinha um senador experiente, sobre Moro e Doria. A menção a Mourão sugere outro verbo: não é gostar ou desgostar, trata-se de desconfiar.

Embora Moro tenha feito gestos de aproximação com o mundo político na passagem pelo governo, a maioria dos parlamentares ainda o vê como o “xerife” da Lava-Jato, que levou dezenas de deputados e senadores ao banco de réusEm março de 2017, a temida “Lista de Janot” - do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot - decorrente da Lava-Jato, resultou em 83 pedidos de abertura de inquérito para investigar políticos citados nas delações de executivos da Odebrecht. Um mês depois, o ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal autorizou a investigação de oito ministros, três governadores, 24 senadores e 39 deputados.

Em outra frente, João Doria não empolga os congressistas. No começo do ano, o tucano era candidato a se reeleger governador. Mas o acirramento da crise sanitária e o palanque alcançado pelo antagonismo a Bolsonaro lhe conferiram protagonismo nacional e o catapultaram de volta à corrida sucessória.  Apesar da visibilidade, Doria tem dificuldade em conter o avanço do coronavírus no Estado, que se consolidou como o epicentro da pandemia. Ontem, em um discurso veemente, o tucano prometeu reagir se ficar confirmado que o governo federal o estaria retaliando politicamente, por exemplo, ao não enviar respiradores para o Estado. “Espero que o governo federal não faça seletividade política dos brasileiros que podem ou não podem sobreviver”, advertiu.

Outra ressalva é a de que Doria não desperta empatia na bancada nordestina. “Como é que eu vou chegar com o Doria no Nordeste?”, questiona um veterano do Senado, observando que o paulista não tem apoio na região, assim como Bolsonaro. Por fim, Doria não une nem o PSDB. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não esconde a simpatia pelo projeto de Luciano Huck, embora há um mês tenha reconhecido em entrevista que Doria cresceu na crise, enquanto o apresentador encolheu. Além disso, uma ala dos tucanos prefere como presidenciável o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

A pesquisa XP/Ipespe realizada há um mês mostrou que Bolsonaro alcança 28% de ótimo e bom, e 44% de ruim e péssimo. Políticos do Centrão consideram esses números relevantes, se comparados aos índices dos presidentes que sofreram impeachment. Quando o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (ex-MDB) - hoje em prisão domiciliar, por causa da covid-19 - deflagrou o processo contra Dilma Rousseff em dezembro de 2015, a petista tinha 69% de ruim e péssimo segundo pesquisa CNI/ Ibope. Fernando Collor tinha 59% de ruim e péssimo em agosto de 1992, segundo a CNI/Ibope - em dezembro os senadores aprovaram o impeachment.

Deputados e senadores ouvidos pela coluna creditam, em parte, a popularidade de Bolsonaro ao auxílio emergencial de R$ 600 concedido a um terço da população, embora a proposta originária tenha partido da oposição. “Acabou se transformando no Bolsa Família dele”, observou um senador. [a popularidade do presidente Bolsonaro antecede em muito o surgimento do Bolsa Família e mesmo do coronavírus - antes do vírus, o capitão foi eleito presidente com quase 60.000.000 de votos.] 

Mas a avaliação quase unânime desse grupo influente é que a crise em torno das denúncias de Sergio Moro, em tramitação no STF, tem a força de um traque. “Videozinho não derruba presidente, o que o derruba é a economia e povo na rua”, reforça este senador. Para outra liderança do Senado, Moro puxou o gatilho e atingiu o presidente, mas ainda não foi a bala de prata. [a 'bala de prata' do tagarela Moro, só serviu para propiciar oportunidade de demonstrar poder, força, autoridade, controle sobre o 'eu decido', aos que gostam de holofotes e sabem que muito em breve não mais serão buscados por eles nem terão o controle do palco.] Segundo este parlamentar, o descontrole sobre a pandemia fulminará Bolsonaro, porque o Brasil ficará entre os dois países com o maior número de vítimas fatais da covid-19, e cada família brasileira poderá ter perdido um parente ou um amigo para o coronavírus.

Ao mesmo tempo, nesse cenário de luto nacional, milhares de empresas terão ido à falência e o número de desempregados terá se multiplicado. “Isso vai enterrar a popularidade dele e será a bala de prata”, concluiu o senador. [o que atrapalha o ilustre senador é que a crise da economia não pode ser atribuída ao presidente Bolsonaro e sim à pandemia, que derrubou o PIB mundial, incluindo o da China e Estados Unidos - a pandemia não foi criada pelo presidente  Bolsonaro, o que ele provou quando foi em comitiva  ao Supremo, mostrando que  foi impedido de combatê-la, tal tarefa foi atribuída aos competentes governadores e prefeitos.]

Para neutralizar o “risco Mourão”, a oposição tenta convencer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a criar uma comissão especial para votar a PEC 37 dos ex-líderes do PT Paulo Teixeira (SP) e Henrique Fontana (RS). A proposta impede o vice-presidente de assumir em definitivo a Presidência da República, na hipótese de vacância do cargo, e amplia a regra a governadores e prefeitos. No Amazonas, por exemplo, começou a tramitar o impeachment do governador Wilson Lima (PSC).

Segundo a emenda, vagando o cargo de presidente, será realizada eleição direta em 90 dias para escolha do sucessor. O texto também dispõe que “em nenhuma hipótese” o vice assumirá a chefia do Executivo em definitivo. O relator da PEC é o deputado Felipe Francischini (PSL-PR), ex-aliado de Bolsonaro. A PEC teria efeito imediato. Para justificar, um petista evoca a PEC da reeleição de Fernando Henrique em 1997, que beneficiou o então titular do cargo.

Andrea Jubé, advogada e jornalista - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 14 de maio de 2020

Denúncia de Moro tem força para derrubar Bolsonaro - VEJA

Balas de prata e lobisomens são difíceis de achar

A denúncia de Moro constrange Bolsonaro, mas tem força para tirá-lo do cargo?

Política é a única carreira que você pode morrer e ressuscitar na mesma vida.

A provável divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril é suficiente para incriminar o presidente Jair Bolsonaro e impulsionar um processo de impeachment? Sem assistir o vídeo, é impossível fazer tal conjectura, mas Brasília ferve entre os que acreditam e os que duvidam que a gravação é uma “bala de prata”. No folclore alimentado pelo cinema, a bala de prata seria o único tipo de munição capaz de matar um lobisomem. Na política, a metáfora se refere a um fato tão explosivo que acabaria com a carreira ou o mandato de um governante.
Mas balas de prata, assim como os lobisomens, são difíceis de achar. As provas na política são analisadas por um prisma diferente daquele da vida jurídica ou policial. O torpedo mais similar a uma bala de prata foi a entrevista de 1992 de Pedro Collor à Veja acusando de corrupção o seu irmão, o então presidente Fernando Collor. Mesmo assim, Collor suportou seis meses.

Dilma Rousseff foi juridicamente afastada pelas pedaladas fiscais, mas as manobras de operação bancárias já haviam cometidas pelos governos Itamar Franco, FHC e Lula. Dilma Rousseff sofreu impeachment pela recessão e os escândalos da Lava Jato. O diálogo entre ela e Lula para torna-lo ministro (com o famoso documento a ser entregue pelo ‘Bessias’) pode ter indignado muita gente, mas não fez parte das acusações.

Michel Temer sobreviveu à uma saraivada de supostas balas de prata, da gravação de seu diálogo com o empresário Joesley Batista à exibição de um vídeo de um assessor saindo de uma pizzaria com uma mala com R$ 500 mil. Muitos decretaram a morte do governo Temer, mas a principal consequência do escândalo fez foi aumentar o valor de cargos exigidos pelas bancadas dos partidos no Congresso. O processo para tornar as denúncias de Moro o motor do afastamento de Bolsonaro é longo. Primeiro, Bolsonaro ser denunciado por um crime de responsabilidade pelo procurador geral Augusto Aras, indicado para o cargo pelo presidente. Isso só vai ocorrer se as provas forem escandalosas. Depois, o pedido precisa ser aceito pelo ministro que preside o inquérito, Celso de Mello, e enviado pelo STF para a Câmara pedindo uma licença para investigar o presidente. Foi o que ocorreu com Temer.

Neste caso, o presidente da Câmara remete o caso para a Comissão de Constituição e Justiça, que ouve acusação e defesa e recomenda uma posição. A posição é votada no plenário e apenas se tiver o mínimo de 342 votos, o processo contra o presidente é autorizado. Nesta hipótese, o STF se reúne e decide se abre ou não um inquérito. Caso decidam pelo processo, aí sim o presidente é afastado por 180 dias enquanto o STF analisa o caso. Parece complicado e é. Por duas vezes, Temer foi denunciado, mas o processo não foi autorizado pela Câmara. Como se diz em Brasília, política é a única carreira que você pode morrer e ressuscitar na mesma vida. [ainda que Bolsonaro fosse culpado, se fosse provado (provar o que não existe é bem complicado)  se houvesse exagerado interesse do Supremo em processá-lo, os 342 votos não existem = obstáculo intransponível.]

Thomas Traumann Blog  em VEJA



quarta-feira, 13 de maio de 2020

Moro tem o controle da situação e não sobra pedra sobre pedra - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Enquanto frisava que jamais acusara Bolsonaro de crime, Moro deu, sem histrionismo e adjetivos, todos os passos para as investigações. E dissimulou a bala de prata: a reunião de 22 de abril

A principal conclusão sobre a reunião ministerial de 22 de abril é de que o ex-ministro Sérgio Moro tem o controle da situação e da narrativa que pode levar à denúncia e a um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. [apresentar 'comentários' sobre as mesmas acusações - vez ou outra muda uma ou outra, mas a falta de provas é a tônica - é tedioso.
Com brevidade: falta a Moro e ao seu rebanho conseguir 342 balas de prata para que prospere qualquer tentativa de impeachment.]   Moro lapidou seu temperamento frio e calculista ao longo de 22 anos de magistratura e na Lava Jato e não mergulharia numa aventura. Ele tinha bala na agulha. Ou melhor, uma bomba atômica. Ao comunicar sua demissão do Ministério da Justiça, Moro falou da investida política de Bolsonaro na PF e, na mesma noite, expôs a troca de mensagens em que o presidente reclama das investigações contra dez ou doze deputados do PSL e diz: “mais um motivo para a troca (na PF)”.

O golpe mais certeiro, porém, Moro reservou para o depoimento à PGR e à PF, tratado erroneamente como tiro n’água por bolsonaristas. Na realidade, ele foi estratégico e avassalador. Enquanto frisava que jamais acusara Bolsonaro de crime (medida preventiva contra denunciação caluniosa), [medida preventiva adotada após a PGR pedir sua investigação por denunciação caluniosa - para pedir investigação é necessário, no mínimo, indício da prática de ato que pode ter aquela tipificação.]  Moro deu, sem histrionismo e adjetivos, como quem não quer nada, todos os passos para as investigações. E dissimulou a bala de prata: a reunião de 22 de abril.

Além de “confissão” e “prova material” da ingerência política de Bolsonaro na PF por interesses pessoais, a reunião é demolidora. Não como uma bomba, mas como várias que vão explodindo aos poucos, dia a dia, com ironias contra a China, sugestão de prisão de ministros do Supremo, governadores e prefeitos e todos ouvindo o presidente admitindo, despudoradamente, intervir na PF e demitir o ministro da Justiça para proteger a própria família. Moro sabia exatamente a bomba que tinha nas mãos. Não sobra pedra sobre pedra.

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo



Os palavrões no Conselho de Governo - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

O bolsonarês humilha aqueles que votaram no capitão em nome dos bons costumes

Quando Sergio Moro pôs na roda a questão do vídeo da reunião do Conselho de Governo de 22 de abril, sabia que havia ali uma bala de prata capaz de provar que Jair Bolsonaro queria trocar o diretor da Polícia Federal para blindar os interesses políticos de sua família. Ele sabia também que a bala continha outro material. Ao chegar ao Planalto, com pompa monarquista, o capitão chamou de Conselho de Governo aquilo que se conhecia como reunião do Ministério. Reunindo-o, ele presidiu uma conversa de botequim, e Moro mostraria isso.

[os que votaram no capitão em nome dos bons costumes não se sentem humilhados.
Alguns dos motivos:
- ainda não deixaram o presidente Bolsonaro governar;
- o número de f. d. p existente, continua tentando manter a MORAL e os BONS COSTUMES longe do Brasil;
- um país que cultua a ideologia de gênero torna mais difícil o combate às IMORALIDADES e BONS COSTUMES;
- um país em  que o seu presidente é execrado por ter postado um vídeo repudiando a prática do 'golden shower' em via pública, decididamente está longe de ser tornar um modelo em BONS COSTUMES.]


A divulgação desse vídeo será também um espetáculo de falta de compostura e de asneiras. Outro dia a secretária de Cultura, Regina Duarte, disse que parou de ler os livros de Olavo de Carvalho porque ele usa muitos palavrões. No governo que ela louva, o vocabulário do doutor Olavo é o de um sacristão.  Alguns presidentes respeitavam seus interlocutores. Michel Temer, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney falam como frades. Não se pode dizer o mesmo de Dilma Rousseff e Lula, mas nenhum deles disse palavrão em reunião ministerial. Conhecem-se os áudios das reuniões do Conselho de Segurança Nacional que decidiram baixar o Ato Institucional nº 5 (Costa e Silva) e o Pacote de Abril (Ernesto Geisel). Neles não há palavrões.

O primitivismo de Bolsonaro vai além do uso de expressões chulas, transborda para a própria maneira como preside uma reunião de ministros e como lida com sua equipe de renomados “técnicos”. Em certa ocasião ele manifestou tamanha curiosidade por detalhes de caso

s de violência que um dos titulares achou melhor mudar de assunto. O clima de feijoada permite que o chanceler Ernesto Araújo exponha (em bom português) suas teorias lunáticas em relação à China ou que alguém resolva qualificar a genealogia de ministros do Supremo Tribunal Federal. É a bagunça bolsonariana. Nela o presidente libera o funcionamento de academias de ginástica e salões de beleza sem ouvir seu ministro da Saúde. Afinal, ambos sabem com quem lidam.

O vídeo da reunião de 22 de abril é um exemplo da capacidade de autocombustão do governo. Já com Moro fora do governo, Bolsonaro disse que divulgaria seu conteúdo: “Mandei legendar e vou divulgar”. Falou o que lhe veio à cabeça, mas dias depois a Advocacia-Geral da União pediu ao ministro Celso de Mello que reconsiderasse a decisão de pedir a gravação porque na reunião foram tratados “assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado”. Parolagem, pois podia ter pedido para embargar esses trechos. Essa é a prática de governos sérios, mas quem embarga trechos assina embaixo e se responsabiliza pelo ato.

Diante da blindagem absurda, a AGU recuou e disse que se contentava em entregar uma versão com trechos embargados. Não deu certo. Sergio Moro e seus advogados não aceitaram o atalho, argumentando que não compete ao governo selecionar provas. Caberá ao ministro Celso de Mello decidir se torna público todo o vídeo ou partes dele. Se Moro quisesse apenas provar que Bolsonaro pressionou-o para trocar o diretor da Polícia Federal, o embargo seria neutro e justificável. Ele também queria mostrar como funciona a muvuca em que se meteu.

Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista



segunda-feira, 13 de abril de 2020

Cloroquina sem paixão - Fernando Gabeira


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Câncer: novos tratamentos reduzem taxas de morte a patamares inéditos - VEJA

Adriana Dias Lopes

Não se trata de uma única bala de prata, mas de uma sucessão de passos: a doença já não é uma condenação à morte

ANA FURTADO – Câncer de mama (descoberto em 2018) Reprodução/Instagram

Clandestino, temido, a respeito do qual só se falava em sussurros, o câncer foi sempre inominável. “Mente-se a doentes de câncer não apenas porque a doença é, ou considera-se que seja, uma sentença de morte, mas porque é percebida como obscena no sentido original dessa palavra: agourenta, abominável, repugnante”, escreveu a ensaísta americana Susan Sontag (1933-2004), que conviveu com um tumor maligno de mama por mais de dez anos. Em seu monumental livro O Imperador de Todos os Males, o biólogo e oncologista americano Siddhartha Mukherjee conta a história de uma senhora dos anos 1950, Fanny Rosenow, sobrevivente também de um câncer de mama que ligou para o The New York Times a fim de publicar o anúncio de um grupo de apoio a mulheres que lidavam com o mal. Surpresa, Fanny foi transferida para o editor da coluna social do jornal. “Desculpe, mas o Times não publica a palavra mama nem a palavra câncer em suas páginas. Talvez a senhora possa dizer que haverá uma reunião sobre doenças do tórax.” Atônita, ofendida, ela pôs o fone no gancho, sem nem mesmo dizer adeus.

É um episódio de setenta anos atrás, logo ali, portanto — mas, até muito recentemente, a imprensa francesa dizia que uma pessoa havia morrido de “longa enfermidade”, em vez de dar nome aos bois. Em 2010, o artista plástico paulistano Gustavo Rosa, portador de mieloma, um tumor na medula óssea raro e incurável, deu uma entrevista a VEJA para falar sobre sua saúde sem citar uma única vez a palavra câncer — ele o chamava de “c-a”. Rosa morreria três anos depois.  Para domarem a mazela, ao menos retoricamente, médicos e pacientes acostumaram-se a usar metáforas bélicas para se referir ao tratamento do câncer, como “lutar”, “atacar” e “combater”. Uma recente pesquisa canadense da Queen’s University mostrou, contudo, que o uso e abuso de termos militares faz a terapia parecer mais difícil, a ponto de deixar as pessoas fatalistas. Há avanços colossais — dizer “tenho câncer” não é o tabu de antes —, porém um olhar histórico revela que as mudanças na linguagem têm andado muito mais lentamente do que os saltos científicos da oncologia, o que é extraordinário do ponto de vista dos resultados práticos.

Se há receio de emitir as seis letras tão temidas, c-â-n-c-e-r, nos laboratórios, universidades e hospitais existe uma revolução em movimento afeita a apagar, de uma vez por todas, os estigmas. Não se trata de uma única bala de prata, mas de uma sucessão de passos. Em outras palavras, com todo o cuidado que a afirmação exige: o câncer já não é uma condenação à morte. Hoje, cerca de 25% das pessoas que recebem a notícia de que estão com tumor maligno morrem dele. Há apenas dez anos, o índice era de 40% (veja o quadro). De acordo com levantamento da Sociedade Americana de Câncer, a redução na taxa de mortalidade se acelerou ainda mais em anos recentes: 2,2% somente em 2017, quase o dobro em relação às taxas anteriores. Em alguns cânceres mais agressivos, como o de pulmão, a diminuição no índice chegou a espantosos 4,4%. Diz o médico Paulo Hoff, presidente do Grupo Oncologia D’Or: “Conseguimos, finalmente, passar o momento da virada”.

Como se deu essa virada, agora celebrada? Dos anos 1950 para cá, os tratamentos estiveram ancorados em três pilares a cirurgia para extração de tumores, a quimioterapia e a radioterapia. Além, é claro, dos cuidados com o sedentarismo exagerado e a má alimentação. Essas estratégias continuam indispensáveis. Os quimioterápicos, no entanto, acabam também por atacar as células saudáveis, provocando efeitos colaterais como enjoo, dor de barriga e queda de cabelo. O início da reviravolta aconteceu com o surgimento das chamadas “terapias-alvo”, pioneiras nas condutas mais direcionadas e, portanto, com menos efeitos adversos e ação mais eficaz. Deu-se a transformação decisiva com a chegada da imunoterapia na oncologia, em 2009, quando a lógica de atacar as células mudou completamente. Em vez de bloquear o crescimento do tumor, como fazem todos os outros remédios, a imunoterapia estimula a ação do sistema de defesa, uma rica orquestra composta de células e substâncias que ajudam o corpo a lidar com vírus, bactérias e outros invasores para matar o câncer. “A técnica mudou definitivamente o perfil até mesmo de tumores graves, que matavam em menos de um ano, como o de pulmão e o melanoma”, diz Raphael Brandão, chefe da oncologia dos hospitais Samaritano e Paulistano e diretor executivo do UnitedHealth Group.

E, quando se imaginava que as surpresas brotariam mais calmamente, duas novíssimas frentes de trabalho se impuseram. A primeira delas é a chamada terapia agnóstica (do grego ágnostos, algo como “sem conhecimento”). No universo médico, trata-se de uma família de remédios que atacam as células doentes de olho no defeito genético, e não no órgão que originou o câncer (daí a ideia de agnosticismo). “Isso só foi possível pela descoberta de que tumores completamente diferentes podem ter a mesma alteração genética”, diz Fernando Maluf, diretor do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa e membro do comitê gestor do Hospital Albert Einstein. A mutação de uma proteína chamada RAS está presente nos tumores de intestino e pâncreas. A ALK, nos pulmões e nos linfomas.

A segunda boa-nova acaba de ser publicada no New England Journal of Medicine e está em fase final de aprovação pela FDA, o órgão de regulamentação dos Estados Unidos. Pela primeira vez foi utilizada a combinação de três remédios ao mesmo tempo, prontos a agir em uma mutação específica. O trio encorafenibe, binimetinibe e cetuximabe ataca simultaneamente mutações associadas ao gene BRAF, encontrado no câncer de intestino e no melanoma. Os pacientes da pesquisa sofriam de câncer intestinal em um estágio que já não respondia mais a outros tratamentos. Não havia opções de sobrevivência, portanto. A terapia aumentou o tempo de vida médio para nove meses — até então eram cinco meses. Diz o oncologista Bernardo Garicochea, do Grupo Oncoclínicas: “Faz vinte anos que não havia uma notícia tão promissora para esse tipo de tumor”. Na frieza das estatísticas médicas, ganhar menos de um ano de vida pode parecer muito pouco. Para quem vive a realidade de um câncer grave, poucos dias podem ser suficientes para resolver questões essenciais da vida — e, atrelada à miudeza dos anseios humanos, a medicina não para de correr.

Há renovadas esperanças, como revelam as histórias pessoais relatadas ao longo desta reportagem, e, apesar do novo comportamento de quem sabe que pode ser curado, sim, o câncer ainda é a segunda causa de mortes em todo o mundo — atrás apenas dos problemas cardiovasculares. Ele mata 9,6 milhões de pessoas todos os anos, das quais 215 000 no Brasil. Mas as avenidas de cura se abrem exponencialmente numa indústria, a oncológica, que investe, em média, 1 bilhão de reais para fabricar um único medicamento (de cada dez em desenvolvimento, apenas dois chegam ao mercado). De mãos dadas com as estatísticas, os tratamentos inovadores, aprovados e bem-sucedidos, autorizariam, hoje, um novo olhar de Susan Sontag, porque em muitos casos o câncer deixou de ser agourento e obsceno. 
ANA MARIA BRAGA, câncer de pele (1991), virilha e reto (2001) e pulmão (2015) Reprodução/Instagram
 
A ARTE DA PERSISTÊNCIA
A apresentadora já teve quatro cânceres. “Comemoro cada evolução da medicina em busca da cura do câncer, e desejo que esse avanço possa ser cada vez mais acessível a todos. Sou uma pessoa privilegiada, pude contar com o que havia de mais moderno na medicina”, disse a VEJA.
 

UM SENTIDO PARA A VIDA - REYNALDO GIANECCHINI, linfoma
O ator, que virou referência de fortaleza pela forma de lidar com os tratamentos do câncer, a quimioterapia e o transplante de medula óssea, falou em entrevista na ocasião: “Nunca ninguém para e pensa que um dia pode ter essa doença. Tive um câncer raro. Fiquei assustado. Mas acredito que isso foi uma dádiva para mim. Acho que existem coisas reservadas para a gente que fogem da nossa explicação, mas que talvez lá na frente a gente vá entender perfeitamente e agradecer muito”.
 
Com reportagem de Eduardo F. Filho
 
Publicado em VEJA edição nº 2671 de 29 de janeiro de 2020