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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Recados - Carlos Alberto Sardenberg

Os recados de Biden para a China e sobre a economia [resta saber se o mandatário chinês viu os tais recados, se mereceram ser traduzidos = afinal, a tal reunião  nada produziu, exceto imagens sobre um futuro incerto.

Tanto que famoso jornalista - por merecimento, não por servilismo - considerou que "Na cúpula de Biden, houve só a parte inútil.

Recados de Biden

“Precisamos demonstrar que a democracia ainda funciona” – essa foi a frase mais importante do discurso dos 100 dias de Joe Biden. Parece óbvio que um líder americano diga isso, mas nos tempos de hoje a frase ganha diversos sentidos.  Dirigida ao presidente da China, Xi Jin Ping, significa o seguinte: o sistema americano é superior nos quesitos econômicos e políticos, embora precise de algumas reformas.

O chefão chinês sustenta que o modelo deles é mais eficiente no desenvolvimento econômico e na administração de crises. Não apenas porque seus gestores seriam mais competentes, mas porque não precisam se preocupar nem com as urnas livres e votações no Legislativo, nem com eventuais restrições do Judiciário. Ou seja, a democracia no “modelo chinês”, como chamam a ditadura por lá, funciona melhor que o modelo americano, confuso e lento. [PERGUNTA: alguém lembra quando ocorreu a última morte na China causada pela covid-19? 
já nos países com excesso de democracia, interpretada ou não, os números continuam, infelizmente, diários.] Mas e as liberdades? Ora, tem alguém reclamando? – respondem os chineses.

Eles não admitem, mas sabemos que tem – a começar pelos chineses de Hong Kong, que os ingleses entregaram como democracia capitalista liberal e o governo chinês está transformando numa ditadura com capitalismo controlado pelo Partido Comunista. Dentro da China, é difícil saber. Não tem imprensa livre, nem outro partido. E  daí? – dizem. O importante é que o país cresce, saiu da pandemia rápida e eficientemente, e todo ano tira milhões da pobreza.

Visto assim, a questão proposta por Biden é a seguinte: a democracia e o capitalismo podem funcionar melhor, gerando e distribuindo riqueza em um ambiente de liberdades. Dirão: mas Biden não foi para a esquerda? No critério americano, sim, foi para a esquerda – que está longe de indicar um caminho para o socialismo ou mesmo para um estado de bem estar social como o da França.

No caso de Biden, significa aumentar a atividade dos governos em alguns setores , especialmente infraestrutura, geradores de emprego, e tomar dinheiro dos mais ricos (via impostos) para financiar programas de saúde, renda e educacionais para as camadas mais pobres. O recado agora é interno, para todo o público americano, rico ou pobre. Está dizendo o seguinte: não é possível que o país mais rico do mundo abrigue tantas famílias com renda abaixo da média; não é possível que o país mais rico do mundo não consiga oferecer um bom sistema de saúde e de escolas para os mais pobres.

Pesquisas recentes mostram que a classe média concorda com isso. Muitos ricos também. E mais alguns super-ricos, como Bill Gates e Warren Buffet. Olhando no longo prazo, Biden está movendo o pêndulo. Roosevelt, seu ídolo, aumentou impostos e acentuou a atuação do Estado, como os trabalhistas faziam na Inglaterra. Com o tempo, o Estado e os impostos começam a pesar. Vêm então Reagan e Thatcher para dizer que o Estado não é a solução, é o problema.

Caem os impostos, eliminam-se regulações à atividade econômica, incluindo nas relações trabalhistas. Os países prosperaram. Aí vem Biden e diz: mas muita gente ficou para trás. O Estado pode resgatá-las, com um governo democrático e mantendo a força geradora do capitalismo. Muita gente já está dizendo por aqui: estão vendo? Isso de ajuste fiscal é bobagem, o Estado tem mesmo é que gastar. A  dívida americana, em proporção do PIB, é maior que a nossa. Logo, qual é o problema?

Vários. O governo americano se financia a juro zero. O brasileiro, se quiser colocar título de dez anos, paga 6% reais. A dívida americana é em dólar, moeda aceita no mundo. Os impostos nos EUA são menores do que no Brasil e na Europa, havendo espaço para aumentar.

E, finalmente, mais importante, o Estado brasileiro já gasta demais – mais de 40% do PIB – e não se pode dizer que seja um modelo de eficiência. Nosso problema é outro: é que quando o pêndulo vai para a direita liberal, caímos na dupla Bolsonaro/Guedes.

Aí fica difícil.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Coluna publicada em O Globo - Economia
 

terça-feira, 16 de março de 2021

Abertura já! - Valor Econômico

Edmar Bacha

O país tem uma conta de capital aberta, mas uma conta de comércio fechada. É uma receita pronta para o crescimento empobrecedor

É significativa a alta dos preços das mercadorias desde o início da pandemia. A causa principal é a forte desvalorização do real. Os preços dos serviços, que embutem basicamente o custo da mão de obra, nem de perto sobem na mesma proporção. A razão é o enorme desemprego provocado pela pandemia. Não obstante o alto desemprego, são frequentes as demandas para que o Banco Central comece a “normalizar”, ou seja, a aumentar a taxa de juros para combater a alta de preços. Será que devia mesmo?

O que se observa é um aumento dos preços das mercadorias em relação aos dos serviços. Essa mudança de preços relativos pode gerar um surto de inflação ou não, ainda não sabemos. A indexação impulsiona, mas o desemprego segura. Por isso, não é claro que essa mudança deva ser combatida com um aumento preventivo da taxa de juros, que não diferencia mercadorias de serviços. Juros mais altos reduzem igualmente a demanda por mercadorias e por serviços, agravando o desemprego.

Há outros instrumentos à mão. O mais interessante seria uma redução de impostos sobre as mercadorias importadas e de outras barreiras (antidumping e sanitárias, por exemplo) que impedem que as importações possam fazer baixar os preços no mercado interno. Deixem entrar o aço da Argentina, as bananas do Equador, a carne do Paraguai, o café robusta da África. Essa redução das barreiras à importação uniria o útil ao agradável. Pois contribuiria para o tão necessário aumento da produtividade, além de reduzir as pressões inflacionárias.

Aumentos da produtividade dependem de empresas que usem tecnologia de última geração com insumos modernos, que explorem economias de escala, que se especializem em linhas de produção para as quais são mais qualificadas, e que atuem num ambiente de concorrência. Essas características somente se obtêm com participação nas cadeias internacionais de valor. Uma vez perguntaram a Carlos Ghosn porque os Renault produzidos no Brasil não eram tão bons quanto os da França. Resposta dele: deixem-me importar partes e peças da Europa que eu faço Renault tão bons quanto os de lá.

Desde a Segunda Grande Guerra, doze países conseguiram sair da renda média para se tornarem países ricos. Coreia do Sul, Hong Kong, Israel, Cingapura e Taiwan chegaram lá com exportações industriais. Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal, com exportações de serviços. Austrália, Nova Zelândia e Noruega, com exportações de recursos naturais. As características dos produtos variam de acordo com as respectivas vantagens comparativas, o fator comum é a integração à economia mundial. O Brasil é grande e diversificado o suficiente para não ter que escolher entre setores de atividade, como foi o caso desses países. À semelhança dos EUA, pode tê-los todos - agricultura, mineração, indústria e serviços -, desde que integrados ao comércio internacional.

Esses doze países têm mercados internos menores do que o do Brasil. Mas países maiores que o Brasil são também grandes exportadores: Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, França e Reino Unido. Já o Brasil, que em 2018 tinha a oitava maior economia do mundo, era apenas o 25º maior exportador. O PIB do Brasil representava 3% do PIB mundial, mas suas exportações apenas 1,1% das exportações mundiais. Um gigantinho em termos de PIB, o Brasil é um anão em termos de exportações.

O que se constata nas exportações se repete nas importações. Em 2018, a parcela das importações no PIB brasileiro foi de apenas 11,6%, o menor valor entre os 164 países considerados pelo Banco Mundial. Trata-se de uma situação paradoxal, porque em 2018 o Brasil foi também o sexto destino mais preferido para o investimento direto estrangeiro no mundo. O país tem uma conta de capital aberta, mas uma conta de comércio fechada. É uma receita pronta para o crescimento empobrecedor. As multinacionais e seus empregados prosperam ao explorar o mercado interno protegido, mas o resto do país empobrece ao ter seus recursos aplicados na substituição ineficiente de importações em lugar de se dedicarem à expansão das exportações.

O momento para a abertura é este. A balança comercial é positiva. Jamais tivemos uma taxa de câmbio tão desvalorizada. A indústria tem dificuldade de aumentar a produção não por falta de demanda, mas pela dificuldade de conseguir peças e componentes. O Ministro da Economia parece ter sucumbido aos lobbies empresariais, declarando que só pensará na abertura comercial depois da reforma tributária. O argumento é falacioso, pois impostos altos e distorcidos aplicam-se igualmente aos produtos nacionais e aos importados.

Senti isso pessoalmente no mês passado. Face ao agravamento da pandemia, resolvi comprar máscaras com maior nível de proteção. Li no New York Times que a KN95 era equivalente à N95. Não a encontrando para venda em lojas brasileiras, encomendei cem unidades a varejista americano. Face à pressa, fiz porte aéreo, o que aliás me poupou de pagar o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante.

Entre o preço da mercadoria e o frete aéreo, as cem máscaras custaram R$ 1.064, 51. Qual não foi minha surpresa quando o entregador me disse que ainda devia R$ 1.205,62 de impostos. 
Como assim, um produto essencial sem similar nacional, devia haver isenção. 
Qual nada, apesar de estar prevista, como a importação foi via aérea a alfândega carioca simplesmente ignorou a isenção e lascou 60% de imposto de importação
Se eu quisesse reclamar, teria que devolver o produto. 
Em cima dos 60%, mais ICMS e Fundo de Combate à Pobreza. Havia também o desembaraço aduaneiro, isto é, o custo de verificar meu CPF, de calcular os impostos e mais a tarifa aeroportuária de armazenagem. Tudo junto, 113% sobre o preço do produto mais frete.

Moral da história: por uma máscara que me custaria 79 centavos de dólar em Nova York tive que pagar o equivalente a 4 dólares e 20 centavos no Rio de Janeiro - 5,3 vezes o preço americano. Agruras brasileiras. Mas também uma singela indicação do enorme impacto que um alívio dos encargos sobre as importações poderia ter para reduzir a inflação. A esperança está no presidente do Banco Central. Por que não levanta ele a bandeira da abertura da economia dentro do governo? Teria assim um poderoso instrumento adicional à Selic para combater a inflação. Seria uma bela adição à Agenda BC#!

EdmarBacha, economista - Valor Econômico

 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Jornalista chinesa que cobriu a epidemia em Wuhan é condenada a prisão

A ex-advogada e jornalista chinesa Zhang Zhan foi condenada a quatro anos de prisão,  após divulgar reportagens nas redes sociais sobre a situação caótica dos hospitais em Wuhan, na China 

Uma jornalista cidadã que cobriu a epidemia de covid-19 em Wuhan foi condenada nesta segunda-feira a quatro anos de prisão, enquanto o governo chinês insiste no sucesso de sua gestão para combater a doença que em um ano se propagou por todo planeta. Zhang Zhan "parecia muito abatida quando a sentença foi anunciada", declarou à AFP um de seus advogados, Ren Quanniu, que expressou "muita preocupação" com o estado psicológico da cliente.

[Na China ocorrem alguns abusos, mas certas definições são claras e devem ser seguidas: Governar é com o Governo: Informar é tarefa da imprensa; comentar fatos, notícias, é função da imprensa, notadamente dos comentaristas. E por aí vai...... Algumas tarefas os chineses não conseguem acertar - uma delas, concluir a FASE 3 dos testes da vacina CoronaVac no Brasil.

Leiam, está  no Correio 'Tudo praticamente normal', diz brasileiro que mora em Wuhan, primeiro epicentro da pandemia de covid-19]

Os jornalistas e diplomatas estrangeiros que compareceram ao tribunal de Xangai em que a ex-advogada de 37 anos foi julgada foram impedidos de entrar na sala de audiências. Alguns simpatizantes de Zhan foram afastados pelas forças de segurança. Zhang Zhan poderia ser condenada a até cinco anos de prisão.

Natural de Xangai, ela viajou em fevereiro a Wuhan, na época o epicentro da epidemia, e divulgou reportagens nas redes sociais, a maioria delas sobre a caótica situação nos hospitais. De acordo com o balanço oficial, a metrópole de 11 milhões de habitantes registrou quase 4.000 mortes por covid-19, ou seja, a maior parte dos 4.634 óbitos contabilizados em toda China entre janeiro e maio.

A resposta inicial da China à epidemia foi muito criticada. Pequim só decretou a quarentena em Wuhan e sua região em 23 de janeiro, apesar da detecção de casos desde o início de dezembro de 2019. Há praticamente um ano, em 31 de dezembro de 2019, o primeiro caso foi comunicado à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Porém, ao mesmo tempo, os médicos que mencionaram o surgimento de um misterioso vírus foram interrogados pela polícia e acusados de "propagar boatos". Um deles, o médico Li Wenliang, morreu vítima da covid-19 no início de fevereiro, o que provocou indignação nas redes sociais.

Êxito "extraordinário"
Zhang foi detida em maio e acusa de "provocar distúrbios", uma terminologia frequentemente utilizada contra os opositores do regime do presidente Xi Jinping.
O tribunal a acusou de ter divulgado informações falsas pela internet, informou à AFP outro advogado de defesa, Zhang Keke. Zhang iniciou uma greve de fome em junho para protestar contra sua detenção, mas foi alimentada à força por uma sonda, segundo os advogados."Quando a vi na semana passada, ela afirmou: 'Se receber uma sentença pesada, vou recusar qualquer alimento até o fim'. Ela acredita que vai morrer na prisão", explicou Zhang Keke.

Nos textos que divulgava na internet, Zhang denunciava o confinamento imposto em Wuhan e mencionou uma "grave violação dos direitos humanos". Outros três jornalistas cidadãos, Chen Qiushi, Fang Bin e Li Zehua, também foram detidos após a cobertura dos eventos. A AFP não conseguiu entrar em contato com seus advogados. O processo de Zhang aconteceu um pouco antes da chegada de uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) a China, em janeiro, para investigar as origens da epidemia.

Os dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) elogiaram, após uma reunião do gabinete político, o que chamaram de êxito "extremamente extraordinário" no combate à pandemia, informou na sexta-feira a agência estatal Xinhua.

O governo chinês frequentemente condena os opositores durante as festas de fim de ano, quando diminui a atenção do resto do mundo.  Nesta segunda-feira também estava prevista a abertura em Shenzhen (sul) do processo de um grupo de ativistas de Hong Kong que foram detidos em agosto, quando tentavam fugir de barco da ex-colônia britânica, rumo a Taiwan.

AFP - Correio Braziliense


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A China vota vermelho: todos os governos têm muito em jogo nas eleições dos EUA - Demétrio Magnoli

O Globo

Todos os governos têm muito em jogo nas eleições presidenciais da superpotência global 

Vermelho ou azul? Nos EUA, vermelho é a cor dos republicanos; azul, dos democratas. Todos os governos do mundo têm muito em jogo nas eleições presidenciais da superpotência global — e cada um deles acalenta, secreta ou abertamente, uma preferência
Quem “vota” em Joe Biden? E em Donald Trump?

A Europa está dividida. No núcleo da União Europeia, Alemanha, França, Itália e Espanha são Biden, o candidato democrata que promete restaurar a aliança transatlântica tão desprezada por Trump. Mas o Reino Unido de Boris Johnson não segue o rumo dos vizinhos, inclinando-se pelo republicano que ergueu um brinde ao Brexit e acena com um acordo privilegiado de comércio com os britânicos.

Vladimir Putin não crê em lágrimas. A Rússia entrou na campanha americana de 2016 com um objetivo principal, desestabilizar a democracia americana, e um complementar, ajudar a eleger o republicano. As metas permanecem inalteradas. Trump na Casa Branca assegura o declínio da Otan e a redução da influência dos EUA no Oriente Médio, abrindo espaço à difusão da influência externa russa. A China é um caso muito mais complicado, pois bússolas diferentes apontam nortes opostos.

Um critério para a escolha são os interesses econômicos. A “guerra do 5G”, que envolve a rivalidade fundamental pela supremacia tecnológica, seguirá seu curso com Biden ou Trump. Mas, apesar de imitar a retórica do nacionalismo econômico do adversário, o democrata tende a colocar ênfase menor nas tarifas que deflagram inúteis ou contraproducentes guerras comerciais. Ponto azul. Tanto Biden quanto Trump confrontarão a China no delicado campo dos direitos humanos, que abrange os crimes contra a humanidade cometidos no Xinjiang dos muçulmanos uigures e, ainda, a violação escandalosa dos direitos políticos em Hong Kong. Contudo o republicano carece de um mínimo de credibilidade moral para se pronunciar sobre tais temas. Ponto vermelho.

A China tem uma peculiar apreensão da história. Na década de 1970, durante a aproximação sino-americana, o número 2 da hierarquia chinesa, Chou En-lai, foi indagado sobre as perspectivas da democracia em seu país e os valores emanados da Revolução Francesa. Sua resposta, que ficou célebre: os eventos de 1789 são assunto jornalístico, próximos demais para propiciar um diagnóstico histórico. A infatigável paciência chinesa inclina decisivamente a balança da preferência eleitoral.

Trump, sem dúvida, explica Yan Xuetong, reitor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Tsinghua, de Pequim: “Não porque Trump causará menos estrago aos interesses chineses que Biden, mas porque ele certamente causará danos maiores aos EUA”. A China almeja, sobretudo, o reconhecimento de seu lugar de grande potência mundial — e, mais adiante, tomar a posição de superpotência hegemônica. Nos tempos longos, régua da geopolítica, o declínio dos EUA e a consequente ascensão da China são mais bem-servidos pelo nacionalismo isolacionista trumpiano.

Xi Jinping vota vermelho. Só não conta para ninguém. É que declarar o voto é coisa de idiota. Trump é o cara, na opinião do húngaro Viktor Orbán e do polonês Andrzej Duda, líderes nacionalistas, populistas e xenófobos da Europa Central. Recep Tayyip Erdogan, presidente autocrático da Turquia, vai na mesma direção, mas por motivos menos ideológicos. Ele aposta no isolacionismo do republicano para prosseguir sua agressiva política externa, que exige acordos com a Rússia, ataques aos curdos sírios, pressão sobre a Grécia e tensão perene com a União Europeia.

Israel e Arábia Saudita estão fechados com Trump, o promotor de um “plano de paz” baseado numa coalizão regional anti-iraniana e na negação dos direitos nacionais palestinos. O Irã oscila, o que reflete a cisão entre o Estado teocrático e o governo moderado. Ali Khamenei, Líder Supremo, “vota” Trump, uma garantia de confronto com os EUA e, portanto, de hegemonia da “linha-dura” doméstica. Por outro lado, o presidente Hassan Rouhani “vota” Biden, que recolocaria os EUA no acordo nuclear, dando fôlego à economia iraniana. 

Demétrio Magnoli, sociólogo e jornalista - O Globo

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

À chinesa - Carlos Alberto Sardenberg

 Coluna publicada em O Globo - Economia 29 de outubro de 2020

O presidente Xi Jinping está conduzindo seu carro, tendo ao lado o espírito de Deng Xiaoping, o criador da nova China, que aparecera sabe-se lá de onde para a consulta habitual que fazia com todos os líderes chineses em início de mandato. Seguem por uma longa estrada que a um determinado ponto abre-se numa bifurcação perfeita. O presidente Xi para o carro e pergunta a Deng:
Grande líder, viramos à direita ou à esquerda?

Deng: dê sinal para a esquerda, vire à direita.

Essa piada vem sendo contada desde que Deng Xiaoping aposentou-se e passou a liderança para Chen You, em 1992. Faz sucesso e não perde a atualidade porque reflete exatamente o que se passa com a China ao longo de décadas. A questão era: como introduzir as reformas que abriam a economia para o empreendimento privado, ou seja, para a prática capitalista, sem parecer que se estava fazendo isso?

A economia chinesa estava arrasada pela Revolução Cultural e as pessoas começaram a abrir negócios para garantir a sobrevivência. Negócios privados apareciam por toda parte. Deng assumiu o movimento e assim nascia a China, uma ditadura com capitalismo. Como explicar isso?

Usando habilmente das palavras e conceitos. Reformas liberais? Nunca! Modernizações. Capitalismo? Jamais! Economia socialista de mercado ou economia de mercado socialista. O programa de privatização de pequenas e médias companhias regionais foi denominado “devolver as empresas ao povo”.

Para administrar a moeda de uma economia capitalista foi preciso constituir um banco central, conforme os modelos ocidentais: controlar a taxa de juros, a circulação de moeda, a distribuição de crédito e a taxa de câmbio. Foi criado exatamente assim, com economistas treinados nas melhores escolas americanas e europeias. Mas se chama Banco Popular da China.

No início desta semana, o homem mais rico da China, Jack Ma assim mesmo, com esse apelido americano – dono da Alibaba, a Amazon lá deles, anunciou que vai abrir o capital de sua subsidiária financeira, a Ant Group. Trata-se de uma plataforma de pagamentos digitais, a Alipay, que tem mais de um bilhão de usuários ativos. Nas bolsas de Xangai e Hong Kong duas das maiores bolsas capitalistas do mundo – Jack Ma acredita que pode levantar mais de US$ 34 bilhões. Será sido a maior oferta pública de ações da história do capitalismo.

Tem alguma coisa remotamente parecida com comunismo nisso tudo? Eis porque estamos tratando disso. Para mostrar que é simplesmente ridícula a ideia dos bolsonarianos de que a China é o inimigo comunista que quer exportar seu sistema e dominar o mundo, a começar pelo Brasil. Estão mais de 70 anos atrasados. Lá pelos anos 50/60, o Partido Comunista Brasileiro, PCB, financiado pela União Soviética, tinha, sim, o objetivo de implantar uma ditadura comunista no país. Mas um grupo de militantes se opôs às reformas (“burguesas”) anti-stalinistas iniciadas por Nikita Kruschev.

Dessa dissidência, para encurtar a história, surgiu o Partido Comunista do Brasil (PC do B) que adotou a linha maoísta, depois a linha albanesa (quando a China pós-Mao foi para a economia de mercado) e adotou a tese da luta armada para derrubar o regime. Comandou a Guerrilha do Araguaia. Tempos passados. Caiu o Muro, a URSS caiu num capitalismo corruptos de compadres, a China foi para a economia de mercado, houve a anistia no Brasil, a ditadura militar caiu, iniciou-se a democratização e o PC do B acelerou o movimento de legalização que começara nos anos 70, colocando seus membros no MDB.

Hoje, quem for ao site do PCdoB, vai encontrar um programa socialista. Na prática, o partido está na plena legalidade, em geral aliado do PT, concorrendo em eleições. Um dos seus principais dirigentes, Aldo Rebelo, foi simplesmente o ministro da Defesa do governo Dilma. Chefe das Forças Armadas! [ser ministro do governo da 'engarrafadora de vento' é um detalhe a ser esquecido no currículo de Aldo Rebelo - aliás, defensor da proposta de 'aposentar' os computadores, fazendo voltar as máquinas de datilografia e com isto gerar empregos.]  

Muitos militares não devem ter gostado, mas não houve rebelião nem revolta de nenhuma parte. Alias, o nacionalismo ferrenho de Rebelo agradou os militares. Hoje, o principal posto ocupado pelo PC do B é o governo do Maranhão, com Flavio Dino. [O Maranhão tem o pior IDH do Brasil.]  Não consta que ocorra qualquer revolução por lá.

Carlos Alberto Sardenberg - jornalista



terça-feira, 13 de outubro de 2020

Se elegerem Biden, os americanos serão governados por Xi Jinping - Sérgio Alves de Oliveira

Só um cego de inteligência não enxerga  que o Partido Comunista Chinês, do ditador Xi Jinping, assinou  um pacto  com a Nova Ordem Mundial - a  “cara”moderna   dos “iluminatti”, do Século 17- no sentido de  ambos dominarem o mundo, política, militar  e economicamente.

Segundo conclusões claras do 19º Congresso do Partido Comunista Chinês, realizado em Pequim, de 18 a 24 de outubro de 2017, oportunidade em que “homologaram” a ditadura de Xi Jinping, ”retroativamente”, desde 2013, através  do Documento denominado “Pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma Nova Era”, o  objetivo central  dos “chinas”(inciso  13) será “Promover a construção de uma sociedade de futuro compartilhado com toda a  humanidade” . E mais: (a China será) “uma nova opção para outros países e nações que queiram acelerar o seu desenvolvimento...”, e também que “a China entrou em uma Nova Era  em que deveria ocupar os holofotes do mundo”.

Nesse Congresso do PCCh, Xi  obteve tantos ou mais poderes que o próprio ditador  Mao Tsé-Tung, o grande líder da Revolução Chinesa ,fundador da República Popular da China, que governou   esse país de 1949 a 1976, responsável pelo chamado  “Holodomor”, versão chinesa, uma espécie de “holocausto”, na época chamado ”O Grande Salto Adiante”, que matou por fome e “canibalismo” cerca de  45 milhões de chineses, entre 1958 e 1962. Hoje esse projeto foi rebatizado para “A Grande Fome de Mao”.

Apesar do silêncio (comprado)  da grande mídia, o PCCh também foi responsável pelo “Massacre da Praça da Paz  Celestial”, quando  em 1989 milhares de chineses, a maioria jovens estudantes, foram brutalmente assassinados a  tiros e atropelados por tanques de guerra, pelo fato de reclamarem liberdade e condenarem a corrupção. No seu “Regime de Crédito Social”, que monitora todos os passos dos chineses, cada pessoa tem um “cadastro” próprio, onde são anotados “pontos” para  os atos de “dignidade” e “indignidade”, conforme o caso, com “premiações” ou “retaliações” e “castigos”. As principais “armas” utilizadas nesse  controle são o “reconhecimento facial eletrônico” e  as facilidades da tecnologia “5 G”, da HUAWEI, e da XIAOMI.

“BGY” seria a sigla da dominação mundial chinesa, ”B” significando “blue”(azul),controlando a internet;  “G” traduzido em  “gold” (ouro), objetivando comprar influência; e “Y”, ”yellow”  (amarelo),sedução de pessoas-chave com sexo. O tal “BGY” corresponderia a 5% do volume total do comércio entre os países envolvidos, a título de suborno. Nos  Estados Unidos (2018) teria sido de US$ 36,8 bilhões (5% de US$ 737 bilhões),e na Austrália de US$ 10 bilhões (5% de US$ 200 bilhões). O “BGY” subornaria autoridades e políticos, comprando  mídia. Seriam os casos da Globo  e da Bandeirantes, no Brasil, entregues aos  chineses?                                        

Mas não pouparam nem o Vaticano, que mediante acordo secreto  com o PCCh, em  2018,este passaria a nomear  os bispos chineses. O Vaticano teria permitido ao PCCh  que reescrevesse  a bíblia segundo princípios socialistas e silenciaria sobre as atrocidades chinesas contra o povo de Hong Kong. Como a NOVA ORDEM MUNDIAL entra nessa “história”? E a eventual eleição  presidencial de Joe Biden, do Partido Democrata (esquerdista) ,nos Estados Unidos?

Ora, a “NOM”, uma espécie de “sociedade secreta”,  evoluiu a partir da ORDEM DOS ILLUMINATI, fundada em 1779,  pelo bávaro Adam Weishaupt (1748-1830),um ex-padre jesuíta que defendia princípios socialistas, hostil às  religiões, inclusive ao cristianismo, e que abominava a monarquia e a Igreja, as quais considerava obstáculos ao livre pensamento, fiel leitor dos iluministas franceses. Defendia uma nova sociedade, a “Novos Ordo Seclorum”, que tinha por objetivo abandonar  a religião. Tanto quanto “Lúcifer”, dizia-se opositor a Deus e à tradição cristã. 

Considerava-se um “iluminado” (portador de luz). Era bem  relacionado com o  filósofo Goethe e com  Mayer Roothschild, o banqueiro fundador de um dos maiores impérios econômicos do mundo, e que teria patrocinado inicialmente os  “Illuminati”. Essa teria sido a primeira aproximação entre a  elite econômica e os ideais socialistas. Seus ideais, como abolição dos governos, do patriotismo, da vida familiar, da soberania nacional, da propriedade e das religiões, marcaram presença forte no “Manifesto Comunista”, de Marx, e inspirou tanto a  Revolução Bolchevique (1917),quanto antes  a Revolução Francesa ,e  depois o próprio “Nazismo”. Aí começa a Nova Ordem Mundial.

Dentre os  principais nomes da Nova Ordem Mundial estão  David Rockfeller e George Soros, cuja fundação  tem bancado  ONGs,”coletivos” (mania do PT), movimentos da nova esquerda (new left), feminismo, ideologia de gênero, gaysismo, abortismo, drogas, livre imigração, desarmamentismo e descriminalização da pedofilia, valores políticos esses  “coincidentemente” defendidos pela nova esquerda.

[um único comentário: EXCELENTE o trabalho do mestre Sérgio,  entendemos conveniente fazer uma ressalva apenas ao uso do termo Illuminati  - usado em várias sociedades, seja como denominação da sociedade, seja como 'grau', condição que permite vários objetivos.

Assim, uni-lo á NOM exige um estudo cuidadoso de quem é quem?

Com este comentário, alcançando, sem pretensões de limitar sua abrangência, apenas em um ponto da matéria, publicamos na íntegra, com base de ser o mesmo o exercício do autor de expressar sua opinião.] 

São por essas razões que a eventual vitória de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos, em novembro próximo, concorrendo pelo Partido Democrata, significaria o  mesmo que a vitória da Nova Ordem Mundial e do Partido Comunista Chinês, nos Estados Unidos, podendo, se isso acontecer, os americanos  darem “Bye Bye” às   suas conquistas históricas  e  liberdades, para se submeterem à uma nova “ordem”, a de terem todos os seus passos  controlados e limitados por essa  “ordem” a serviço  do comunismo e da escravidão.  E como o comunismo jamais conseguiu desenvolver nenhum país por onde passou, e  que teve o infortúnio de cair nas suas “garras”, o  fato inédito da eventual  vitória de Biden  nos Estados Unidos estaria no  comunismo ganhar de “graça” o país mais rico e desenvolvido do mundo, podendo por isso “desmanchá-lo”  à vontade  mediante  políticas predatórias para que fique igual aos “outros”.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e sociólogo

 

sábado, 5 de setembro de 2020

Gastos militares - O Globo

Ascânio Seleme


É ofensivo aumentar gastos militares num país como o Brasil, assaltado por corruptos de todos os matizes políticos, com 15% da sua população vivendo abaixo da linha da miséria
É ofensivo aumentar gastos militares num país como o Brasil, assaltado por corruptos de todos os matizes políticos, com 15% da sua população vivendo abaixo da linha da miséria, com quase a metade dos seus lares sem água encanada e esgotamento sanitário, com escolas e hospitais públicos caindo aos pedaços, com a pior segurança e os piores índices de violência da América do Sul. É mais do que ofensivo, é escandaloso.
O projeto de Lei Orçamentária enviado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso prevê R$ 1,47 bilhão para investimentos do Ministério da Defesa em 2021. Segundo o projeto, este dinheiro vai para a implantação de um sistema de aviação no Exército, para a compra de caças e o desenvolvimento de aviões cargueiros na Aeronáutica e para a construção de submarinos com propulsão nuclear na Marinha. Além disso, a Defesa vai ser agraciada com um aumento de 4,83% na sua dotação orçamentária. Terá R$ 110,7 bi para gastar no ano que vem. Um feito e tanto, considerando que todos os demais ministérios sofrerão cortes.
Caberá aos deputados e senadores barrar esta exorbitância. Eles devem se perguntar francamente para quê o Exército precisa de aviação se o país já tem uma força aérea. Responder que nos Estados Unidos é assim não serve. O Brasil não está em guerra. Os EUA, passaram apenas 16 de seus 245 anos de História em paz. E mais, por que a Marinha precisa de mais submarinos nucleares? Para fiscalizar nossas costas não é. O que o país precisa é de uma robusta guarda costeira, para impedir contrabando, tráfico, pesca ilegal e agressões ambientais.

Aliás, onde estava a Marinha quando foram despejadas centenas de toneladas de óleo no mar, no Nordeste do Brasil, sujando as praias, asfixiando e destruindo flora e fauna locais? [se os gastos tão criticados atualmente - sequer iniciados - tivessem sido realizado em anos anteriores o óleo não teria sido derramado.] Nem identificar o agente poluidor ela foi capaz.
Novos cargueiros para a Aeronáutica, podem ser úteis? Talvez, mas não para transportar tropas e equipamentos militares, e sim para, eventualmente, carregar alimentos e ajudas humanitárias até localidades que passaram por tragédias ambientais ou naturais. Nestes casos, não resta dúvida de que seria muito mais barato fretar aviões de carga das companhias privadas. Já comprar mais caças não faz muito sentido. Me diga quantas vezes você leu ou ouviu falar do emprego destes caças em situações reais de perigo para o país.
Lembro de uma ou duas interceptações de teco-tecos de traficantes. Mas a melhor memória mesmo é do dia em que Ayrton Senna foi à Base Aérea de Anápolis para voar num Mirage. Eu estava lá como repórter do GLOBO. Posso confirmar que ele adorou o voo. Você pode dizer que é importante ter Forças Armadas sólidas para qualquer eventualidade de agressão de nossos vizinhos. Ok. Então vejamos como estão nossos vizinhos. O Brasil é o 12º país do mundo que mais gasta com defesa. No ano passado, o país empregou 1,3% do PIB em defesa, contra 0,86% da Argentina e 1,07% da Venezuela. Seu ideal é chegar a 2% do PIB. E não se esqueçam do tamanho do nosso PIB em comparação com os dos vizinhos. Traduzindo, não há riscos. Ninguém vai ameaçar nossas fronteiras e muito menos invadir o Brasil.
O ex-presidente americano Jimmy Carter revelou numa palestra na sua igreja na Geórgia, há um ano, o teor de um diálogo que tivera com Donald Trump. Segundo Carter, Trump estava preocupado porque a China estava superando economicamente os Estados Unidos. Carter dividiu a preocupação com o presidente e disse a Trump qual seria na sua visão a principal razão que levara o seu país àquela situação. Você tem gastos militares muito altos, disse o ex-presidente.
Acrescentou que a China gasta menos, não vai à guerra e cresce numa velocidade de cometa. Por esta razão explicou, a China tem hoje 18 mil milhas (29 mil km) de estradas de ferro para trens de alta velocidade. “Se você pegasse os US$ 3 trilhões mal gastos com defesa e empregasse em infraestrutura (...) teríamos mais ferrovias de alta velocidade, melhores estradas, com manutenção adequada, escolas tão boas quantos as da Coreia do Sul e de Hong Kong”, disse Carter. [Quando necessário, quem defenderia as ferrovias, as estradas. O Brasil corre risco de países estrangeiros, tentarem interferir na SOBERANIA NACIONAL - temos que estar preparados.
Tais países tem que estar cientes que tentar invadir o Brasil não será um bom negócio.
Importante não esquecer que Guarda Nacional é uma coisa e FF AA são outra.
Recentemente a China para não ser impedida de pescar em águas territoriais de um País da América do Sul, enviou centenas de navios pesqueiro e, entre eles, alguns de guerra.
Se aquele país possuísse uma marinha poderosa a camuflagem não funcionaria. ]

Ascânio Seleme, jornalista - O Globo


domingo, 5 de julho de 2020

Golpes à democracia - Lourival Sant'Anna

Rússia, China, Brasil e EUA assistem a processos de enfraquecimento da democracia ao longo do ano

A democracia sofreu golpes na Rússia, China e Estados Unidos na semana que passou, mas recebeu alentos na Europa e no Brasil. Um referendo aprovou mudanças constitucionais que permitem a Vladimir Putin se eleger para mais dois mandatos de seis anos, a partir de 2024, quando termina o atual. Muitos russos gostam de Putin, que identificam com a estabilidade, depois das rupturas traumáticas dos anos 90. 

[a democracia sempre nos pareceu um bom regime; 
só que de uns tempos para cá, não só no Brasil, muitos dos 'donos do poder', a pretexto de manter as vantagens da democracia - no conceito que eles entendem ser o modelo ideal de poder, de democracia - violam os direitos dos que discordam do modelo que eles pretendem impor, mesmo  que tais direitos estejam na democracia que eles dizem ter interesse em manter.]

Mas muitos não votaram exatamente pela sua perpetuação no poder. 
A consulta era sobre um pacote de emendas, que atrela o salário mínimo a um cálculo de renda mínima, corrige as aposentadorias pela inflação e declara casamento união entre homem e mulher. As opções eram sim ou não para o pacote todo. [convenhamos que as vantagens do pacote,compensam amplamente manter o seu autor até 2036.] 

A propaganda em torno do referendo focou nos benefícios salariais e no ataque ao casamento de homossexuais, numa Rússia que se tornou mais conservadora nas últimas duas décadas sob Putin, aliado da Igreja Ortodoxa. Ele governa a Rússia desde 1999. Em 2036, terá 83 anos.

O regime chinês emendou a Lei Básica de Hong Kong, introduzindo normas de segurança que, essencialmente, criminalizam os protestos, com prisões perpétuas por motivos vagos, como “subversão” ou “vinculação com estrangeiros”. Centenas de pessoas já foram presas. Na prática, deixa de existir o status de semiautonomia, e o modelo de “um país, dois sistemas”, consagrado no acordo da devolução do território à China pelo Reino Unido, que deveria durar 50 anos, até 2047.

O presidente Donald Trump deixou claro que investirá na divisão dos americanos para tentar se reeleger em novembro. Em um tuíte, por exemplo, ele disse que pode revogar uma lei que beneficia moradia de negros nos subúrbios, porque ela “desvaloriza” o patrimônio de “grandes americanos”. Noutro, afirmou que a frase “Vidas Negras Importam”, pintada pela prefeitura de Nova York na 5.ª Avenida, onde ele tem escritório, “denigre uma avenida luxuosa”.


Em contrapartida, a vitória dos Verdes nas eleições municipais francesas, domingo passado, representa um alento para a democracia: trata-se de uma corrente da esquerda europeia que se atualizou, entendeu a importância do papel das empresas na preservação ambiental, e se prontifica a fazer alianças com grupos conservadores. Essas alianças já aconteceram em seis Estados alemães, no governo da Áustria e, há uma semana, no da Irlanda. Os ambientalistas se tornam, assim, uma alternativa à extrema direita e à esquerda estatizante, na formação dos governos europeus.

A Alemanha assumiu a presidência de turno da União Europeia. No que poderá ser a última grande missão da chanceler Angela Merkel antes de se aposentar, a UE tem três desafios este semestre: levar adiante a discussão sobre o aprofundamento de sua integração, cujas falhas ficaram evidentes na gestão desigual e descoordenada da pandemia; repartir os custos das políticas de mitigação frente à crise sanitária; e negociar os termos finais da saída do Reino Unido, cujo prazo termina no fim do ano.

O liberalismo, a expressão da democracia na economia, também ganhou um ânimo, na reunião de cúpula do Mercosul. Brasil, Paraguai e Uruguai mantiveram-se alinhados no projeto de reduzir as tarifas do bloco e negociar acordos de livre-comércio com Canadá, Coreia do Sul, Cingapura, Índia e Líbano. A voz dissonante foi a do presidente argentino, Alberto Fernández.

A democracia brasileira demonstra vitalidade, com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal retomando a iniciativa, para colocar limites às extrapolações de integrantes do governo federal. O cuidado maior com as palavras no círculo do presidente Jair Bolsonaro e a demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação sugerem um reconhecimento da força dos freios e contrapesos. Nada está jamais garantido para a democracia. Ela é uma construção cotidiana.

Lourival Sant'anna, jornalista - O Estado de S. Paulo


sábado, 30 de maio de 2020

O dragão chinês mostra as garras – Editorial - O Estado de S. Paulo

Agressão do PC chinês a Hong Kong pede uma resposta enérgica da comunidade internacional 


Enquanto o resto do mundo combate a pandemia, a China realizou sua manobra mais truculenta contra a autonomia de Hong Kong e Taiwan. No dia 20, o Congresso do Povo anunciou planos navais de assalto a uma ilha controlada por Taiwan e aprovou uma moção para uma nova lei de segurança em Hong Kong que, na prática, desmantelará o modelo “um país, dois sistemas”.

Em 1997, quando o Reino Unido passou o controle de Hong Kong à China, um tratado forjado nas Nações Unidas garantiu as liberdades políticas e o estilo de vida da população até 2047. O artigo 23 da “lei básica” de Hong Kong efetivamente previu que o seu Parlamento elaboraria uma legislação proibindo atos de “traição, secessão, sedição ou subversão” contra o governo chinês. Em 2003, as tentativas das autoridades pró-comunistas de impor uma legislação draconiana levaram 500 mil cidadãos de Hong Kong às ruas, no maior protesto em décadas. A ideia foi abandonada, mas desde que Xi Jinping assumiu o comando da China em 2013, ele tem reafirmado a hegemonia do Partido Comunista (PC), reprimindo qualquer tentativa de dissidência na sociedade chinesa, e, agora, o Partido está flexionando seus músculos além das fronteiras.

No ano passado, milhões em Hong Kong protestaram contra um decreto de extradição que iria borrar a linha que separa os dois sistemas. Nas eleições distritais de novembro, a maioria votou a favor dos que apoiaram os protestos. Agora, prevendo a eleição de uma nova maioria democrática para o Conselho Legislativo em setembro, o Congresso chinês, usurpando as prerrogativas do Parlamento de Hong Kong, anunciou uma nova legislação que garantirá ao Ministério de Segurança chinês reprimir direitos de reunião e expressão com a mesma brutalidade com que opera no território chinês. Como disse o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, isso equivale a uma “sentença de morte” à autonomia de Hong Kong. Mal saídos da quarentena, milhares de cidadãos de Hong Kong foram às ruas, e as apreensões dos investidores sobre o futuro financeiro de Hong Kong levaram à pior queda em seu mercado de capitais em cinco anos.

Não se trata de uma manobra isolada. Desde abril, a China já abalroou um navio vietnamita em águas sob disputa no Mar do Sul chinês e estabeleceu duas unidades administrativas em ilhas reclamadas pelo Vietnã. Além disso, realizou manobras navais ostensivas próximas a uma sonda petrolífera no litoral da Malásia e reagiu com ameaças à possibilidade de Taiwan ser incluída na Assembleia-Geral da OMS, declarando que a reunificação é “inevitável”. Além da Ásia, o Partido está investindo pesadamente em campanhas de propaganda e desinformação para desmoralizar a resposta dos países ocidentais à pandemia e consolidar uma narrativa triunfalista da atuação chinesa, enquanto seus diplomatas ameaçam retaliar qualquer proposta de investigar a origem do vírus. A Austrália já sofreu sanções comerciais.

Essas agressões pedem uma resposta enérgica da comunidade global, em especial do Reino Unido – que costurou o tratado de autonomia de Hong Kong –, dos EUA e dos investidores internacionais. No ano passado, uma comissão bipartidária do Congresso norte-americano propôs uma legislação para implementar sanções oficiais a qualquer tentativa de impor uma lei de segurança sobre Hong Kong. Os avanços de Pequim devem esquentar a guerra fria que vem sendo buscada com empenho tanto por Xi Jinping como por Donald Trump para agradar às hostes nacionalistas de seus respectivos países.



 O fato é que o mundo precisa se adaptar a esta ameaça crescente. Como disse o cientista político Nick Timothy em artigo no Telegraph, as manobras de Pequim “mostram que a China não é apenas mais um parceiro comercial, um país que se abrirá e se tornará mais liberal quanto mais se expuser aos costumes ocidentais”. Conforme advertiu Chris Patten, o último governante britânico de Hong Kong, “podemos confiar no povo da China, como os valentes médicos que tentaram soar o alarme sobre a camuflagem dos primeiros estágios da pandemia. Mas não podemos confiar no regime de Xi Jinping”.

Editorial -  O Estado de S. Paulo





segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Coronavírus: brasileiros serão trazidos de volta até sexta-feira, diz Onyx - O Globo


Daniel Gullino

Expectativa do governo é que medida provisória estabelecendo parâmetros de quarentena seja aprovada no Congresso até quarta-feira; entenda tudo sobre novo vírus

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que espera que os brasileiros que estão na China e querem deixar o país por causa da epidemia do novo coronavírus deverão ser trazidos de volta até sexta-feira. Onyx disse, em entrevista à Rádio Gaúcha, que a previsão é que a aeronave que irá trazê-los saia do Brasil nesta segunda ou na terça-feira.

A tendência é no máximo amanhã essa aeronave sair do Brasil para buscá-los e deve estar de volta até quinta-feira, ou no máximo sexta pela manhã — disse o ministro.

Coronavírus: O que se sabe até agora?

[ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE O REPATRIAMENTO DOS BRASILEIROS.
Não queremos parecer desumanos, defendemos inclusive que brasileiros morem no Brasil e os que estão fora, regressem em qualquer momento que desejarem.

Mas, agora está em jogo satisfazer o desejo de menos de meia centena de brasileiros e colocar em risco (potencial) mais de 200.000.000.

O Brasil,  apesar das declarações das autoridades que tem um sistema eficiente de prevenção de contágio por vírus ou outras doenças, possui um dos piores serviço de saúde, que sofrerá  uma sobrecarga, dado que parte da estrutura hospitalar terá que se dedicar existente, e precária, terá que ser adaptada para enfrente o novo coronavírus.

IMPORTANTE é que caso os brasileiros na China não estejam infectados, o risco de se infectar,agora, lá permanecendo, é bem menor do que o de  duas semanas atrás.

Caso estejam infectados, queira DEUS que não, as condições de tratamentos na região de Hubei são bem melhores do que as do Brasil.

A vinda dos futuros repatriados para o Brasil oferece dois riscos;
- que um deles, ou qualquer de seus familiares ou mesmo qualquer cidadão, na busca de holofotes, ingresse no Judiciário com um pedido de liminar para que o confinamento não ocorra - o pedido pode ser apresentado a qualquer juiz federal, em todo o Brasil - e sendo deferido o pleito, todos os repatriados serão liberados da quarentena e colocados nas ruas.
Ainda que a medida seja revista, por instância superior, a liberação do confinamento mesmo que por algumas horas além do aumento exponencial do risco de contágio, poderá causar imenso e incontrolável temor de milhões de brasileiros, com corridas em busca de máscaras, insumos para prevenção, levando o Brasil ao CAOS;

- nada impede que um cidadão, ou partido político - tem alguns que apresentam como programa partidário atrapalhar o governo  - se socorra do Judiciário para impedir a apreciação pelo Congresso da MP a ser assinada pelo presidente Bolsonaro, isso quando o avião já tiver saído da China trazendo os brasileiros.
O que fazer então com os brasileiros que já estão voando par ao Brasil?
MEDIDA PROVISÓRIA é para ASSUNTO URGENTE e NÃO EXISTE MAIOR URGÊNCIA DO QUE A PRESENTE - mas, será que uma providência tão importante, com repercussão em mais de DUZENTOS MILHÕES de seres humanos, pode ser adotada por uma  MP? (com vigência logo após assinada e, temos que reconhecer, decisão de um único homem = mesmo que se trate do Presidente da República.]

O governo realiza na manhã desta segunda uma reunião para definir detalhes da retirada do brasileiros. Participam, além de Onyx, os ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Tereza Cristina (Agricultura), além de representantes de outras pastas.

(.....)

Uma das definições é sobre se a aeronave utilizada será da Força Aérea Brasileira (FAB) ou alugada. Já foi acertado que escalas serão feitas em Israel na ida e na volta, para abastecimento.
Leia mais: Médicos de Hong Kong aprovam greve para obrigar o território a fechar as portas para a China
Enquanto isso, o governo prepara uma medida provisória (MP) estabelecendo parâmetros para uma quarentena, a que serão submetidos os brasileiros que venham da China. A ideia é que o presidente Jair Bolsonaro assine a MP no final do dia, após retornar de viagem a São Paulo, a expectativa do governo é que o texto seja votado até quarta-feira no Senado.

Onyx relatou ter conversado com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sobre o assunto. — Agora pela manhã, entrou em nosso sistema uma proposta de medida provisória do Ministério da Saúde. Conversei com o ministro Mandetta no fim de semana. Nós vamos acelerar a apreciação de diversas estruturas do governo, para à tarde ela já estar pronta — disse Onyx.
O ministro da Casa Civil prosseguiu:
— No retorno do presidente, a gente colhe a assinatura dele, dá entrada ainda hoje no Congresso Nacional. Amanhã deve ser votada na Câmara, em regime de urgência, e quarta-feira, no Senado. De tal forma que, entre a ida da equipe para buscar e a chegada das pessoas no país, o Brasil já tenha uma legislação específica de quarentena sanitária.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, disse que as ações para o retorno dos brasileiros serão decididas até o fim desta segunda-feira. Ele e o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, falaram rapidamente sobre o assunto após participar da sessão de abertura dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020. - Estamos agora justamente com as equipes desde o final de semana, vendo as melhores ações a serem adotadas. Até o final do dia, vamos decidir — disse Oliveira.
Questionado se é preciso uma legislação específica para a realização de quarentena, André Mendonça respondeu:
Estamos estudando o assunto ainda.

Anápolis pode ser base para quarentena
Outra definição é sobre onde ficarão os brasileiros durante a quarentena. O Ministério da Defesa está analisando bases militares que possam receber os brasileiros e apresentará uma lista de opções ao Ministério da Saúde, que tomará a decisão final.
Uma das alternativas é Anápolis (GO), por causa da experiência com o acidente do césio 137, na década de 1980.
— Há uma sinalização muito forte para Anápolis porque, no período do césio, lá trás, foi uma área militar que trabalhou com essa coisa do isolamento, que é algo importante para não permitir eventualmente um escape de vírus. Eles já têm uma bagagem nessa área. Mas não tem nada definido — disse Onyx.

O ministro também afirmou que Florianópolis ou alguma cidade do Nordeste poderiam receber os repatriados:
— Uma das hipóteses é em Florianópolis, que tem uma base que teria condição de fazer isolamento. Tem alternativa no Nordeste também. Mas isso ainda está sob análise do Ministério da Defesa, que vai apresentar o que eles consideram as melhores opções, e a definição final do Ministério da Saúde, porque aí tem as questões técnicas na área da Saúde que tem que ser observadas, de acesso de pessoal, proteção do pessoal que vai cuidar das pessoas que vão vir lá de fora. São dois movimentos importantes, trazer os brasileiros de volta, mas não colocar sob risco a população brasileira que está aqui.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

A geopolítica imposta pelo coronavírus - O Globo


Dorrit Harazim 

Geopolítica do vírus

China consegue bloquear a circulação de 54 milhões de várias províncias, e ter a certeza de que ordens serão cumpridas


Mais de duas décadas atrás, o biólogo evolucionário Jared Diamond nos brindou com uma narrativa fulgurante de como e por que algumas sociedades se desenvolveram mais que outras. Ótima hora para reler essa obra que deu a Diamond um Pulitzer em 1998 — “Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas” (Ed. Record) — e olhar para o surto global do novo coronavírus com melhor compreensão da história. 

Mesmo que a atual epidemia não venha a representar um ponto de inflexão para o curso humano, ela capta um instantâneo dinâmico (escusas pela aparente contradição) de como está o mundo em 2020. A convencional classificação de países por Índice de Desenvolvimento Humano e outros indicadores socioeconômicos estarão sendo testados, com desdobramentos ainda imprevisíveis. O próprio mapa atual da geopolítica pode chegar bastante alterado ao final da crise. 

Começando pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os escancarados elogios à China feitos pela entidade na quinta-feira, ao finalmente decretar o vírus 2019n-CoV uma emergência de saúde pública em escala planetária, foram recebidos com impaciência pela comunidade científica. O sentimento majoritário de “foi muito tarde e muito pouco” lembra a reação mundial às proclamações anticorrupção feitas em anos recentes por entidades como o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Fifa, quando seus casos de roubalheira sistemática já haviam viralizado.

É da muralha da China, mais especificamente do controle absoluto exercido pelo regime de Pequim sobre seus 1,38 bilhão de habitantes, que o mundo depende para evitar a mutação da epidemia em pandemia. Até a tarde de sexta-feira, a China diagnosticara perto de dez mil casos em suas províncias (1.527 em estado crítico), enquanto a centena de outros confirmados se dividia entre 22 nações. Também o mapa de mortandade seguia padrão geográfico semelhante — 99% do total de 234 vítimas fatais ocorreram em território chinês. Portanto, para a OMS, e para governantes do resto do mundo de forma mais comedida, quanto mais o regime chinês conseguir controlar e confinar sua população, melhor. O regime comunista de Xi Jiping tem à mão um leque de ferramentas que vai da construção e habilitação plena de hospitais em 14 dias, ou a desinfestação de todas as ruas de Wuhan, cidade-epicentro da crise com 11 milhões de habitantes. Também consegue bloquear a circulação de 54 milhões de cidadãos de várias províncias, e ter a certeza de que ordens serão cumpridas. Vigilância 1984, versão 2020. 

[o Prontidão Total fez uma comparação como seria a situação se a epidemia tivesse iniciado no Brasil, ou sua evolução fosse significativa, com as medidas já adotadas pela China (cumpridas pelos chineses sem contestações) que, se necessário, serão ampliadas - leia: suspensão do carnaval. 

Na ocasião, desconsideramos a necessidade da criação de uma LEI ESPECÍFICA para normatizar eventual quarentena de brasileiros trazidos da China ou por qualquer razão considerados suspeitos de terem o vírus.
Se o Congresso Nacional não aprovar tal lei - e, caso aprove, algum partido político ou cidadão não ingressar na Justiça Federal contra a quarentena e um magistrado conceder liminar suspendendo a vigência da nova lei - a solução será deixar os suspeitos de estarem portando o coronavírus, juntos e misturados, com a população. 

Ou postergar a volta ao  Brasil dos nacionais que estão na China. Sabemos que logo o presidente Bolsonaro será acusado de estar se negando a resgatar os brasileiros ou ser compelido por determinação judicial a efetuar o repatriamento.
O sempre presente deputado Rodrigo Maia, para variar e de acordo com sua postura de 'dono' dos votos do Congresso, já declarou achar ser possível aprovar a nova lei na próxima semana. Todos esquecem que a situação é de EMERGÊNCIA NACIONAL podendo provocar mortes de inocentes - o que justifica que 'constituição cidadã' seja esquecida em caso específico.]
Por ser pêndulo não só da economia mundial como do comércio planetário e das bolsas de mercados, a China conseguiu que a OMS não recomendasse a interrupção de voos internacionais ao país nem sugerisse a viajantes estrangeiros que mudassem de planos. Tarde demais e pouco demais, como disseram os cientistas. Uma a uma as grandes empresas aéreas cancelaram seus voos à China continental, mantendo apenas o tênue cordão umbilical com Hong Kong. Um a um, países vizinhos fecharam fronteiras e colocaram sob quarentena passageiros vindos da província de Hubei. Os Estados Unidos deram o passo maior, proibindo a entrada de todo estrangeiro que tenha estado na China há pouco tempo. Cingapura cancelou a emissão de vistos para chineses. 

Como denominador comum, quase todos priorizam a retirada de seus cidadãos confinados em Hunan. Dependendo do grau de competência de cada governo, dos seus recursos, empenho, e poder de barganha junto a Pequim, voos fretados da aviação civil ou aviões militares têm retirado levas mistas de funcionários públicos e cidadãos comuns. Alguns governos, como o da Austrália, que ainda aguarda autorização para retirar 600 compatriotas, decidiu que quem já tiver diagnóstico positivo confirmado será deixado onde está. Os demais serão internados na remota Ilha Christmas, de triste histórico no tratamento de refugiados. Repatriados de outras nações, como da vizinha Nova Zelândia, pagarão apenas uma ínfima taxa fixa para conseguir voltar para casa.

Não que a operação de repatriação seja simples. Todas as suas etapas são complexas, do pré-embarque ao acompanhamento da infecção durante o voo, até as várias etapas de trânsito em isolamento na chegada. Uma das atribuições da OMS é justamente prover recursos a países desprovidos de meios em casos de emergência de saúde pública internacional. 

O Brasil, que pretende ascender ao clube dos grandes na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), não costuma apresentar-se como parte do mundo desvalido e pedir socorro à OMS. Talvez devesse. A começar pela linguagem do chefe da nação ao tratar de tema tão crucial para o momento.
“Nós não temos uma lei de quarentena. Ao trazer brasileiros para cá, coloca em quarentena, mas qualquer ação judicial manda a gente tirar. Se não estiver tudo redondinho no Brasil, não vamos buscar ninguém. Quem vier para cá tem que se submeter aos trâmites”, informa Jair Bolsonaro. “Custa caro um voo desses. Ali, se for fretar um voo é acima de 500 mil dólares o custo”. Poderia começar cancelando todos os voos em jatinhos da FAB para integrantes do governo.
E começar a cuidar da saúde da nação.

Dorrit Harazim, jornalista - O Globo