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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Cruzadas antiaborto - Folha de S. Paulo

Opinião

Bolsonaro usa tom ativista em documento; TJ-SP toma decisão absurda contra ONG

A ministra Damares Alves (esq.) e o presidente Jair Bolsonaro - Reprodução

Em trecho de um documento oficial intitulado Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil, que traça diretrizes para o período 2020-2031, o governo Jair Bolsonaro achou por bem encampar a retórica de movimentos conservadores contrários ao abortoDentre as medidas voltadas a “efetivar os direitos humanos fundamentais e a cidadania”, o texto do Planalto define como meta “promover o direito à vida, desde a concepção até a morte natural, observando os direitos do nascituro, por meio de políticas de paternidade responsável, planejamento familiar e atenção às gestantes”.

É legítimo, obviamente, que um presidente ou qualquer outro político defenda suas convicções e busque levá-las, pelos meios democráticos, às políticas públicas. Isso dito, cumpre apontar que a associação entre desenvolvimento e restrição a direitos de interrupção da gravidez destoa da experiência das sociedades mais avançadas.[sociedades mais avançadas não tem o direito de decidir por políticas que estimulem as assassinas de seres humanos inocentes e indefesos = aborteiras = a cometerem impunemente seus crimes.

Cabe ao presidente da República propor medidas que impeçam, e punam, com severidade exemplar, o assassinato de crianças que estão abrigadas no local que deveria lhes propiciar segurança total.

O Brasil é uma NAÇÃO SOBERANA e não deve nenhuma satisfação, nem explicações,  do trato de seus assunto internos a nenhum país, sociedade ou o que seja.]

Como advoga esta Folha, trata-se de tema a ser encarado sob a ótica da saúde pública, [assassinar inocentes indefesos agora é política de saúde pública?]  de modo a preservar a vida e a segurança das mulheres. Assim tem entendido um número crescente de países. O governo brasileiro esteve em má companhia ao assinar, neste mês, certa Declaração de Consenso de Genebra —do suposto consenso antiaborto participavam outras 30 nações, entre elas os EUA de Donald Trump, a Hungria de Viktor Orbán, Indonésia, Egito e Uganda.

A gestão Bolsonaro, ademais, atenta até contra as possibilidades previstas na lei e na jurisprudência — os casos de estupro, risco à vida da mãe e feto anencefálico. [a Consituição Federal protege a vida que é um direito reconhecido - tanto que proíbe a pena de morte. 

Frise-se bem que proíbe para bandidos, para seres humanos indefesos e inocentes não proíbe que façam apologia ao assassinato dos mesmos, com requintes de crueldade, e praticado pelas próprias mães ou com a conivência delas e de outros assassinos.

A proibição da pena de morte para bandidos apresenta uma redação que permite interpretação abrangente, já a proteção dedicada seres humanos ainda não nascidos permite interpretações restritivas e infundadas.

Felizmente, aos poucos o Brasil volta a assumir postura de combater, eliminar definitivamente o aborto em nosso território soberano. ]

Portaria do Ministério da Saúde criou constrangimentos para os médicos que realizam procedimentos; revelou-se que a pasta de Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tentou intervir na interrupção da gravidez de uma menina estuprada de apenas dez anos. O cerco, infelizmente, não se dá apenas por parte do Executivo federal —como se viu na recente decisão do Tribunal de Justiça paulista de impedir que a ONG Católicas pelo Direito de Decidir, favorável à legalização do aborto, utilize a referência religiosa em seu nome. [decisão justa, correta; se a IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA É CONTRA O ABORTO, é inconcebível que uma organização aborteira, criminosa, assassina, use a palavra CATÓLICOS em sua denominação = deixando a impressão de ser formada por católicos, condição impossível já que no momento em que 'católico' pensar em cometer, participar, estimular um aborto,  já está se afastando dos princípios católicos.

Tal uso tem o objetivo de enganar incautos e isto é ESTELIONATO.

Crime de estelionato, falsidade ideológica para promover o crime de assassinato.

Recomendamos ler na Folha: Voltamos à Inquisição? 

O autor da matéria acima linkada  chega ao absurdo, ao requinte diabólico, de defender o entendimento, por vias transversais,  de que a Igreja Católica não pode excomungar.
Excomungar é expulsar os católicos indignos de serem católicos. O expulso pode ter o direito de continuar se considerando católico, nada além disso. No caso da  ONG é evidente que ela usa o adjetivo 'católicas' para confundir, enganar.]

Opinião - Folha de S. Paulo 


Três notícias - Alon Feuerwerker

 Análise Política

A boa notícia do dia foi a criação líquida de empregos em setembro, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). É o melhor setembro da série histórica (leia). O saldo no ano ainda é negativo, mas a tendência de recuperar pelo menos em parte as perdas da pandemia parece real.

Uma má notícia do dia, pelo menos para quem curte o Carnaval de rua no Rio de Janeiro, é a decisão de não fazer a festa em 2021 (leia).Os responsáveis chegaram à conclusão de que sem a vacina não tem como. Quem é que fiscalizaria o distanciamento social no Carnaval? [com certeza os jornalistas que se especializaram em contar cadáveres durante a pandemia, encontrariam uma forma de se aglomerarem gritando: 'os especialistas recomendam, evitar aglomeração'.
Afinal, o salário é bom e o patrão está buscando motivos para cortar custos.
E um ano sem Carnaval fará bem ao Brasil - será uma forma de pagar as muitas ofensas que são feitas diariamente aos valores religiosos, especialmente os da FÉ CATÓLICA,  conforme preceitos da IGREJA CATÓLICA  APOSTÓLICA ROMANA.
Vale lembrar que os países da Europa e de outros continentes que não seguiram o tal isolamento e distanciamento sociais, não se deixaram dominar pela paranóia do fecha tudo, não estão sendo atingidos pela segunda onda e a primeira foi uma meia onda.
Graças a DEUS, o Brasil está tranquilo, já que o longo platô facilitou o alcance da imunidade de rebanho ]. 

Uma notícia preocupante, já de alguns dias, é a força da segunda onda de contágios pelo SARS-CoV-2 na Europa. Será o caso de torcer e rezar para que o fenômeno não replique por aqui. Se replicar, o efeito na economia será direto, ainda mais num ambiente de forte dispersão política.

Essas três notícias são quase uma síntese. A economia está retomando, mas não retomará completamente sem que a vida volte ao normal. E estamos longe disso. E qualquer tentativa de volta à normalidade depende em última instância da vacina. O resto é o resto.

[Sobre as eleições nos EUA, temos que rezar e torcer para que no próximo dia 4 não aconteça a tragédia que muitos desejam = Trump perder.

Confiamos que a força dos democratas não é o que apregoam, ao contrário,   Biden perderá mais feio do que a Clinton.

Recomendamos ler: Está chegando a hora ].

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Trump, Biden e Bolsonaro - Alon Feuerwerker

Análise Política

Qual será ao fim e ao cabo o efeito de uma eventual vitória do democrata Joe Biden nas relações entre os Estados Unidos e o Brasil? Nesta semana o assunto ganhou alguma tração quando um deputado do partido de Biden criticou o apoio aberto de familiares de Jair Bolsonaro ao incumbent Donald Trump.

O Brasil é ponto focal dos Estados Unidos na América do Sul. Um momento explícito foi quando o então presidente Richard Nixon disse que para onde pendesse o Brasil penderia a América Latina. É razoável portanto partir da premissa: a preocupação americana pelo que se passa aqui sobreviveria bastante bem à troca de guarda ali. Amizades e inimizades pessoais jogam seu papel, mas seria um erro superestimar. A chave decisiva para a análise é outra: de que maneira as relações entre ambas as nações ajudam ou atrapalham o projeto de poder do segmento líder em cada um dos dois países. E projetos de poder invariavelmente vêm conectados a projetos nacionais.

Nos tempos da primeira Guerra Fria a relação de troca sempre foi cristalina: os Estados Unidos ajudavam por aqui a manter uma arquitetura social e política enquanto o Brasil somava forças com o Ocidente no trabalho de contenção da influência da União Soviética. As exceções, quando essa lógica deixava de prevalecer em termos absolutos, apenas confirmavam a regraUma exceção foi no governo Ernesto Geisel. O rápido reconhecimento da Angola soberana e o acordo nuclear Brasil-Alemanha, no âmbito da ideia de “Brasil potência”, são fatos da história. Assim como o rompimento do acordo militar com os EUA em represália, segundo Geisel, às pressões do então presidente Jimmy Carter em torno do tema dos direitos humanos.

O momento hoje parece bem distinto daquele interregno geiselista. Não se nota nas elites brasileiras, lato sensu, maior desconforto com o alinhamento aos Estados Unidos. A divisão é outra: uns preferem acoplar-se a Trump e suas políticas, outros gostariam de engatar-se a Biden e à agenda do Partido Democrata, gostariam que a hegemonia norte-americana se desse apoiando outros atores e contemplando uma pauta mais antenada.

Não se nota por aqui hoje em dia maior ambição de protagonismo independente. Que implicaria jogar um jogo mais inteligente diante da “nova Guerra Fria”, entre os Estados Unidos e uma China em ascensão. Só o que se vê, no máximo, são lamentos diante da possibilidade de o alinhamento com o trumpismo atrapalhar os negócios do agronegócio.
E neste ponto é preciso admitir que se o Brasil precisa da China a China também se beneficia das boas relações com Brasil. Não à toa o atual momento comercial entre os dois países é o mais expressivo desde sempre. Nunca a China teve tanta participação nas exportações brasileiras. Manter as coisas pelo menos como estão interessa muito a Brasília mas também a Beijing.

Mas até quando?
O alarido diante dos factoides não deve enganar: há muito tempo não se via no Brasil tanta disponibilidade para uma acomodação ao jogo que é jogado pela Casa Branca. Pouca razão haveria para um possível presidente Biden arrumar encrenca com o Brasil por causa de Bolsonaro. Ainda mais se o horizonte para 2022 continuar como está. 

Alon Feuerwerker - jornalista e analista político


quinta-feira, 16 de julho de 2020

Sem chance - Carlos Alberto Sardenberg

O mundo está ficando muito complexo para a limitadíssima capacidade de compreensão de Bolsonaro e sua turma. A disputa entre Estados Unidos e China vai muito além do comércio. Não é uma guerra fria do tipo EUA x URSS. É bem mais complicada porque as duas potências que lutam pela hegemonia – política, territorial, tecnológica e econômica – mantêm laços econômicos amplos e profundos.

A Apple faz quase todos os seus iPhones na China – e no momento em que todas as redes de celulares do mundo se preparam para o 5G tem aí uma gigante chinesa, a Huawei, muito avançada nessa tecnologia. Trump quer banir a Huawei do 5G global e já convenceu a Inglaterra de Boris Johnson a seguir por esse caminho
Johnson não apenas vetou novos contratos com a Huawei, como deu prazo para que os operadores de celulares no país eliminem os componentes da companhia chinesa que já utilizam. As concorrentes da Huawei – Ericsson e Nokia – adoraram, mas as operadoras de celulares reclamaram. Disseram que precisam de pelo menos dez anos para substituir as partes Huawei e que esse procedimento atrasaria de alguns anos a instalação da rede 5G.

A Alemanha está observando – não baniu a Huawei e não deu sinais de que pretende fazê-lo – e toda a União Europeia está à espera. Qual a alegação principal dos EUA? Segurança. Trump e muitos políticos dizem que, com a Huawei dominando o 5G, as informações do mundo todo estariam acessíveis ao governo chinês. Sendo uma ditadura, com respeito zero aos direitos humanos e às liberdades, há aí um bom argumento. Se o governo chinês controla e vigia seus cidadãos, por que não faria isso no mundo?
Há argumentos em sentido contrário. Os países têm como controlar o uso das redes celulares e apanhar eventuais abusos dos chineses. Mas esta é, por ora, uma discussão ainda abstrata.

O Brasil terá de decidir em breve pela tecnologia do 5G. Bolsonaro já disse que a escolha será técnica e política. Se for técnica – considerando preço, qualidade, velocidade de instalação – dá Huawei. Se for política, dá as europeias, mais atrasadas. Mas tem um sério agravante. A China é o principal cliente do Brasil. O maior destino de nossas exportações – agro, petróleo e minério de ferro – e a principal fonte de nossas importações. Há também um amplo leque de investimentos chineses no Brasil, de infraestrutura a financeiros.
Para Bolsonaro e seus seguidores, a coisa é simples: os chineses são comunistas e querem dominar o mundo; [alguém duvida? só que comércio é comércio e politica é política - tão sábia essa conclusão quanto a daquele petista: 'uma coisa é uma coisa ...' - e a diplomacia existe para fazer eventuais ajustes.] logo, estamos com os EUA. Acrescente aí um problema: o Brasil é o principal concorrente dos EUA na exportação de produtos agrícolas, inclusive e especialmente para o mercado chinês.

Mesmo uma diplomacia supercompetente teria dificuldades de se mover nesse ambiente. Imaginem com o Ernesto Araújo e Filipe Martins. Podemos complicar ainda mais, com a questão ambiental. Para os bolsonaristas, isso de aquecimento global e desmatamento da Amazônia é coisa de comunistas locais e ONGs estrangeiras, pontas de lanças de países que querem dominar as riquezas amazônicas. [exatamente exato e são os países devastadores - que devastaram suas florestas no passado, exploram  petróleo no Ártico, agridem o meio ambiente na Amazônia e querem dominar o território brasileiro a pretexto de preservar o meio ambiente.
Agem exatamente nos moldes de algumas supremas autoridades brasileiras que, a pretexto de preservar a democracia, violam direitos fundamentais de cidadãos brasileiros que pensam de forma diferente, direitos estes que são conferidos por uma Consituição que também quer preservar a democracia em nossa Pátria.] Só que o cuidado com o meio ambiente se tornou uma questão econômica e financeira. Países devastadores estarão fora do cenário. Temos um ministro do meio ambiente que acha tudo isso uma bobagem. O vice Mourão, presidente do Conselho da Amazônia tem um pouco mais de bom senso. Diz que, diante da pressão internacional, é preciso apresentar resultados concretos, ou seja, reduzir o desmatamento e provar isso.

Ao mesmo tempo, diz que é um problema de comunicação, que o governo brasileiro perdeu a narrativa. Errado. Não perdeu a narrativa, está perdendo florestas. E, finalmente, tem a pandemia, também incompreensível pelo bolsonarismo. Diante disso, a recuperação econômica até parece a parte mais fácil. Afinal, trata-se de voltar ao controle fiscal e abrir espaço para o investimento privado. Mas o governo Bolsonaro está pegando o gosto pelo gasto populista. Acrescente aí o Centrão, e também isso se complica. Mais o Queiroz e dona Márcia, o gabinete do ódio desvendado, as fake news e os atos antidemocráticos cercados por diversos inquéritos, e está claro: não tem a menor chance de dar certo.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


Coluna publicada em O Globo - Economia 16 de julho de 2020


domingo, 7 de junho de 2020

Me engana que eu gosto - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo 

Bolsonaro esconde números, mas Trump conta ao mundo o fracasso do Brasil na pandemia 

[Uma sugestão:
Vamos respeitar os mortos. O combate ao coronavírus não sofre nenhum prejuízo se a divulgação oficial dos números demora mais, apresentando, em compensação, números mais precisos, já consolidados.
Transformar a apresentação de mortos em campeonato, um Guiness Book televisivo = estilo a apresentadora entra com um boa tarde e já engata que 'em 24 horas o Brasil tem uma morte causada pela covid-19 a cada minuto.] 

Além de negar a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro quer esconder os balanços de mortos, contaminados e recuperados, achincalhando o Ministério da Saúde. Demitiu um ministro, expeliu outro, nomeou um general intendente como interino, descartou o isolamento, empurrou a cloroquina garganta abaixo de médicos e especialistas e agora isso: sonegar os números. Pois vamos a eles: são mais de 35 mil mortos (35 mil!) e quase 650 mil contaminados (650 mil!), numa expansão macabra, fora de controle. O presidente dá de ombros para os mortos – “E daí?” – e os governadores relaxam atabalhoadamente o isolamento para abrir lojas e serviços na pior hora. Logo, vai piorar.


O “amigão” Donald Trump fala mais uma vez do fracasso brasileiro e informa ao mundo que os EUA teriam não 108 mil, mas até 2,5 milhões de mortos, se tivessem agido como o Brasil e a Suécia – país, aliás, que Bolsonaro citou como referência no combate à pandemia, contra o isolamento, com tudo aberto, e hoje é um exemplo mundial de derrota.

Assim, o Brasil divide o pódio de mortos: EUA em primeiro lugar, Reino Unido em segundo, Brasil em terceiro, perto de chegar ao segundo. O que os três têm em comum? O negacionismo de Trump, Boris Johnson e Bolsonaro. Com uma diferença, literalmente, vital: Trump e Johnson (que pegou a covid-19) ridicularizaram e negaram, mas voltaram atrás, enquanto Bolsonaro continua obstinadamente negacionista.

[infelizmente Bolsonaro não estava, nem está errado, apesar de no inicio, quando havia tempo de mudar as medidas sem o aumento de doentes e mortos,  nossa torcida era para ele estar errado.

Esclarecendo: se tratando de combater a pandemia não existe ideologia - o importante e conter o vírus, conter o adoecimento e as mortes. 

Seja a contenção com Bolsonaro ou Stalin. No momento em que o Supremo decidiu que o comando seria dos governadores e prefeitos - que adotaram regras totalmente diversas das defendidas pelo presidente Bolsonaro - passamos a torcer que eles estivessem certos.

Só que agora, com os combatentes credenciados sem saber o que fazer para conter o vírus, alguns recuando, passando da quarentena meia boca para o fechamento abertura intercalados (Brasília fez uma quarentena meia boca, resolveu abrir quase tudo, agora voltou a fechar parcialmente algumas atividades e cidades) só nos resta concluir, com tristeza, que o presidente Bolsonaro estava e está certo.

Erradas estão as autoridades de alguns estados, notadamente Rio e São Paulo e do Distrito Federal. Pelo tempo que vacilam, a imunidade de rebanho, método defendido pelo presidente, teria sido alcançada.  Até a OMS perdeu o rumo = uma semana proíbe até estudar a cloroquina, na outra semana libera.]

A pandemia mata inclemente, mas o presidente só pensa e age numa direção: a política. Para salvar seu mandato e armar sua reeleição, com o cerco se fechando no Supremo (PF e fakenews, que pode chegar ao “gabinete do ódio”), no Congresso (CPMI das fakenews e 30 pedidos de impeachment) e TSE (oito ações contra a chapa Bolsonaro-Mourão). O temor do Planalto é que elas afunilem e um pressione o outro. Uma rede, uma máquina do mal.

O que o presidente não entende é que essas ações isoladas só terão chance se confluir para um movimento único contra seu mandato com um empurrão decisivo: o total fracasso pessoal dele na condução – e percepção – do coronavírus, com efeito na economia, nas empresas, nos empregos e, portanto, na estabilidade social. [o Supremo Tribunal Federal proibiu o presidente Bolsonaro de errar no combate ao coronavírus, delegando tal função aos governadores e prefeitos.] O destino de Bolsonaro não depende das cinco frentes de investigações e, sim, como seus erros gritantes vão potencializá-las.

De jet-ski, helicóptero ou a cavalo, brincando de tiro ao alvo e animando shows antidemocráticos sem usar máscara, Bolsonaro não governa o País, não dá uma palavra sobre o combate ao vírus, nem sobre a economia, nem sobre a articulação federativa. É o oposto. Quando abre a boca sobre a pandemia, reclama da “histeria” e diz e daí?”, “é o destino de todo mundo”. [Apontando o óbvio: a frase é verdadeira desde que o mundo é mundo, apenas o presidente a apresenta de uma forma não políticamente correta = falar em corda em casa de enforcado.] Sobre a economia, ou joga para Paulo Guedes (que submergiu) ou culpa os governadores, “esses m....”, “bostas” e “estrumes”, capazes de fazer tudo isso só para prejudicá-lo. Uma confusão mental.

Diante das condições adversas, Bolsonaro corre para setores católicos (com verbas de mídia), consolida o apoio evangélico (com uma forcinha da Receita), dá aumento para as polícias e centenas de cargos para o Centrão. Pela mesma janela que a Lava Jato saiu com Sérgio Moro, entram os alvos da Lava Jato com Roberto Jefferson, Valdemar da Costa Neto, Arthur Lira. Não há pesquisa sobre a “posição das Forças Armadas”, mas a cúpula do Exército abre canais com Judiciário e Legislativo, enquanto milhares de oficiais fecham olhos e ouvidos para os absurdos de Bolsonaro e dividem alegremente os nacos de poder com o Centrão. O discurso para defender o indefensável na pandemia, na economia e na política ainda é a esquerda e o liberalismo de costumes. Mas é só pretexto. No fundo, o toma-lá-dá-cá é uma delícia, tentador. Me engana que eu gosto.

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo



domingo, 5 de abril de 2020

Saindo dos trilhos e É a crise, Jogo do bicho, bingos e cassinos ilegais ... O Globo



Dorrit Harazim

Mandetta e Fauci conquistaram o respeito e a confiança de quem os ouve pela abordagem científica e realista



Não se pode atribuir a insanidade do engenheiro ao coronavírus. Mas, à medida em que a humanidade sai dos trilhos pré-Covid 19, é de se prever que o planeta se torne mais propício a insânias individuais e coletivas. Daí a importância de se manter sob rédea curta governantes inseguros no poder, destemperados por índole e/ou despreparados para apontar o rumo em tempos de perigo e medo global. As limitações e inclinações inerentes a cada dirigente tendem a se acentuar à medida que a espiral da calamidade for adquirindo forma mais cruel. Por enquanto, em países onde essa espiral está apenas começando, a real capilaridade do vírus e seu potencial de destruição apontam em uma única direção: dias piores virão.

Nas Filipinas do presidente Rodrigo Duterte, que sofre de várias insuficiências democráticas e comanda com poder quase absoluto o país de mais de 100 milhões de habitantes, a solução para o complexo problema atual é simples: as forças policiais e militares têm ordem de atirar para matar quem descumprir a quarentena imposta. Ponto. Não tem ministro da Saúde, governadores nem imprensa em condições de lhe fazer frente. [é razoável considerar que a bronca de muitos jornalistas, especialmente contra presidentes = Bolsonaro, Duterte, Trump, é por não conseguirem usar a pandemia para  implantar a DITADURA da DEMOCRACIA.
Vejamos:
- se é contra o isolamento exagerado - caso do presidente do Brasil - vai para o tronco,  sendo malhado.
- se é a favor do isolamento e ordena medidas de força, caso das Filipinas, também vai para o tronco, sob malhação.
Trump vive no tronco, por ser presidente de um país rico e estar praticamente reeleito.]

Já Estados Unidos e Brasil têm mais sorte: por força da necessidade e do gigantismo da crise, Donald Trump e Jair Bolsonaro optaram por terceirizar o problema, que acabou em mãos de quem não comunga das crenças e disparates dos dois presidentes. Trump e Bolsonaro acreditaram poder desresponsabilizar-se da marcha da pandemia içando a primeiro plano dois personagens que não poderiam ser mais diferentes entre si — o nova-iorquino Anthony Fauci, a maior autoridade americana em infectologia, e, aqui, o deputado formado em Ortopedia Luiz Henrique Mandetta, atual ministro da Saúde. Ambos conquistaram o respeito e a confiança de quem os ouve pela abordagem científica e realista do combate ao coronavírus. Ambos, também, começam a pagar por isso.

Esta semana o franzino e bem-humorado Dr. Fauci, que já serviu a vários ocupantes da Casa Branca e chegou aos 79 anos de idade com biografia estelar, passou a precisar de proteção extra de agentes de segurança. Tem recebido ameaças de morte em demasia por parte de seguidores de Donald Trump. Em Brasília, Mandetta cometeu o pecado capital de seu Ministério da Saúde ter ultrapassado o presidente em aprovação na condução do combate ao vírus. Não só ultrapassou, esmagou: 76% a 33%, segundo o último Datafolha. [logo um desses partidecos que vivem a procura de holofotes 
- só conseguem, viram manchete,  quando impetram alguma ação judicial, descabida, contra contra o presidente Bolsonaro - 
vai convidar Mandetta para ser candidato a presidente.
Preferência popular, simpatia, em eleições só vale quando são traduzidas em votos - será que em 2022, com o coronavírus vencido sob o comando de Bolsonaro, Mandetta terá tal preferência?]
Sobreviver nessa dislexia nacional não tem sido fácil nos dois países. Em Washington, Donald Trump consegue embaralhar uma frase que começa com “Isto não é uma crise financeira, é apenas um momento temporário no tempo” com o anúncio da injeção de US$ 1 trilhão na economia do país. Em Brasília o comportamento de Jair Bolsonaro é ainda mais errático, sempre que tem um microfone pela frente. Para não concluir de forma sorumbática, vale recorrer às memórias de um generoso humanista do século 20, o escritor Paul Goodman. “Esperança é o contrapeso para o nosso enorme sentido de vulnerabilidade”, escreveu em suas memórias. “É a nossa permanente negociação entre otimismo e desesperança, a contínua negação do cinismo, ingenuidade. Temos esperança justamente por termos consciência de que eventos tenebrosos são sempre possíveis e não raro prováveis. Mas as escolhas que fazemos podem impactar o seu desenlace”.

Efeito coronavírus: Jogo do bicho, bingos e cassinos ilegais cortam 50% do salário de 'colaboradores'
Os efeitos da pandemia chegaram à... contravenção carioca. Com a queda no movimento, as casas de bingo e cassinos ilegais — que costumavam ser frequentados sobretudo por idosos — e as bancas de jogo de bicho já avisaram aos “colaboradores” que haverá corte brusco nos vencimentos: pelo menos de 50%.

O Globo





sábado, 7 de março de 2020

Nacional-populismo - O Estado de S.Paulo

Miguel Reale Júnior


Bolsonaro pulou fora da dignidade e dos limites constitucionais impostos pelo cargo

[Sugestão ao ilustre articulista:
o senhor foi um dos autores do pedido de impeachment da 'engarrafadora de vento', Dilma Rousseff.
Tal ato tornam o senhor e os dois que estavam ao seu lado (deputada Janaína Paschoal e o ex-petista Hélio Bicudo)  heróis,  pelo BEM bem que fizeram ao Brasil e aos brasileiros pela expulsão da petista - ato indispensável ao BEM do Brasil e dos brasileiros.
Assim, o senhor possui o conhecimento necessário - notório e amplo, de fato e de direito - para analisar a conduta do presidente Bolsonaro e, se houver fundamentação, pedir o seu 'impeachment'.
O único inconveniente é que o senhor não poderá contar com o apoio da ilustre deputada, visto que a mesma já manifestou o entendimento que o nosso presidente não cometeu nenhum crime.]

A eleição de Bolsonaro insere-se no fenômeno do surgimento da direita nacional-populista que levou ao poder: 
Trump nos Estados Unidos, Viktor Orbán na Hungria, Salvini e Beppe Grillo na Itália, ao Brexit e a Johnson na Inglaterra.  Líderes vencem não pela consistência de suas convicções, mas porque, orientados por especialistas em opinião pública, lançam mão de técnicas e algoritmos na internet. 

Conhecem, então, a receita do bolo a ser servido a cada tribo de consumidores/eleitores, por via do estudo científico dos medos, aspirações, alegrias e ódios desvelados no uso das redes sociais, das quais surge perfeita tomografia de corpo e alma dos usuários. As frustrações e a raiva que produzem são fonte de energia e formam o cardápio político. Conforme Moura e Corbellini (A Eleição Disruptiva – por que Bolsonaro venceu, Record, 2019),“a vitória de Bolsonaro foi a manifestação da ira contra tudo o que está aí, foi a eleição dos indignados”.

Os magos por trás da máquina de controle daqueles que se pensam, enganadamente, fautores do próprio destino por integrarem as redes sociais são os técnicos como Gianroberto Casaleggio, na Itália, Dominic Cummings, que conduziu a campanha em favor do Brexit, o ex-chefe de campanha de Trump e próximo de Olavo de Carvalho, Steve Bannon, o articulador de Orbán, Arthur Finkelstein e o controvertido jornalista Milo Yiannopoulos.  É Giuliano Da Empoli, no livro Os Engenheiros do Caos (Vestígio, 2019, tradução de Arnaldo Bloch), que revela a nova política tecnicamente administrada, gerida sem nenhum limite ético.

As manobras antes utilizadas em face do consumidor passaram a ser aplicadas ao eleitor, objeto de cooptação para levar ao poder ambiciosos sem pudor, falsos moralistas que prometem expulsar os maus do “templo” valendo-se do ressentimento e da raiva fáceis de ser explorados, sempre sob a ótica conspiratória contra bodes expiatórios denunciados com fake news nas redes sociais. Adotam esses chefes autoritários posições diversas a cada passo. Dizem um dia o necessário para contentar parcela Y da sociedade, para no seguinte, sem preocupação com a coerência, aderirem ao inverso, se preciso, para satisfazer a parcela X. [convenhamos que a conduta acima é típica de 99,999% dos políticos - se é que existe algum que não a pratique???]


No caso brasileiro, o desencanto com a corrupção após a ditadura, a desesperança de dias melhores após a nova Constituição, bem como a crise de segurança pública facilitaram um discurso raso de direita e a indicação dos culpados: a classe política, acusada de só ver o próprio interesse, as elites traidoras, o aparelhamento do Estado. [a origem de todo o mal está exatamente no fim do Governo Militar e a instituição da chamada Nova República que deu o 'start' para o soerguimento de toda a estrutura corrupta que voltou a dominar o Brasil;
e, a 'constituição cidadã' facilitou a ação nefasta da Nova República.]

A eventual frustração de cada qual nos planos profissional, econômico, sexual, familiar se soma à indignação dos eleitores contra o PT, a corrupção, o Congresso, o STF, muitos sem perceber que ir contra os dois últimos lesa direitos fundamentais e instaura o arbítrio. A tática é sempre a mesma: populistas, ao se nutrirem do ódio dos outros, fazem da humilhação dos poderosos a sua promessa, como diz Da Empoli. Ser vulgar e grosseiro, mormente com a imprensa, e afrontar o politicamente correto passa por exprimir autenticidade, atendendo ao gosto popular, ao contrário dos hábitos das elites e da velha política. [o simples fato de ser politicamente já exclui ser correto.]

Buscam-se os cantos, e não o centro, ou um denominador comum. Não há união, mas adjunção. Somam-se desconhecidos, cada qual carregando sua revolta em direção aos extremos e a ser explorada pelos líderes populistas manobrados pelos técnicos em algoritmos e internet. 
Da Empoli ressalta:No mundo de Trump, Johnson e Bolsonaro cada novo dia nasce com uma gafe, uma polêmica, a eclosão de um escândalo e, mal se está comentando um evento, esse já é eclipsado por outro, numa espiral infinita que catalisa a atenção e satura a cena midiática”.

No carnaval houve reiterada conduta agressiva [apenas defensiva e/ou neutra]  de Bolsonaro: ofendeu a jornalista da Folha; divulgou conversa do general Heleno chamando congressistas de chantagistas e sugerindo ida às ruas; postou no WhatsApp dois vídeos convocando para ato em 15 de março: num conclama patriotas a resgatar o Brasil e defender o presidente cristão e incorruptível; no outro põe os nomes Gen. Heleno/Cap. Bolsonaro e se faz de mártir ante os inimigos do Brasil; na quinta-feira 27/2 acusou mendazmente a jornalista Vera Magalhães de mentir.

Se Bolsonaro nunca teve apreço pela democracia representativa e pelos partidos políticos, sabe, todavia, o valor de um gabinete do ódio no terceiro andar do palácio a calibrar a relação direta entre o “líder” e o povo a ser emocionalmente explorado. Basta assistir ao vídeo compartilhado no qual sem pudor é endeusado: “Foi chamado a lutar por nós”, “quase morreu por nós”, “única esperança de dias cada vez melhores”, “presidente trabalhador, patriota”, “precisa de nosso apoio nas ruas”. Apoio por quê? Ora, apenas em favor da ambição do poder populista, sem intermediação.

O que parece desatino em muito é planejado. Na convocação para o dia 15 Bolsonaro exagerou e pulou no carnaval fora da dignidade e dos limites constitucionais impostos pelo cargo. O mesmo na triste comédia do PIB.

Miguel Reale Júnior, advogado, ex-ministro da Justiça - um dos signatários do pedido de impeachment da petista Dilma - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 6 de março de 2020

Sem compostura (2*) - Por Merval Pereira

O Globo

Bolsonaro sem compostura

*Em 21/12/2019 foi publicada a primeira coluna com este título

Vivendo na bolha virtual das redes sociais, o presidente Bolsonaro espanta-se quando os jornais independentes estampam nas manchetes sua falta de compostura. Diz que jornalista é raça em extinção, mas se incomoda quando identificam nele a contrafação do palhaço contratado.

[FATO: o presidente Bolsonaro brincou com o PIB, foi para o tronco;
- tivesse achado ruim, criticado de forma negativa, também iria para o tronco;
- optasse por elogiar, também iria para o castigo.]

Numa metalinguagem involuntária, um palhaço orientava o outro sobre que perguntas fazer para os jornalistas, enquanto bananas eram distribuídas. O que em Chacrinha era pura arte brasileira, em Bolsonaro e Carioca é a explicitação de uma visão de mundo apequenada pela atuação permanente no lado escuro da sociedade.  Beppe Grillo, o cômico italiano, youtuber e blogueiro, que criou um partido político de extrema-direita com influência importante na política italiana, é o que há de mais próximo de Bolsonaro na política internacional.  Não por ser de extrema-direita, mas por ser palhaço.  Apalhaçado também é Trump, assim como foram Hitler e Mussolini, em comum todos de extrema-direita chegados ao poder em momentos críticos da vida de seus países e do mundo.

Como não podia deixar de ser, Bolsonaro enfrentou reações negativas sobre sua postura em relação ao resultado do PIB. "PIB? O que é PIB? Pergunta para eles (jornalistas) o que é PIB", disse Bolsonaro ao humorista Márvio Lúcio, conhecido como Carioca, caracterizado como o presidente, que chegou ao Palácio da Alvorada num carro oficial da Presidência, ao lado do chefe da Secom, Fabio Wajngarten. Brincar com o crescimento pífio do PIB brasileiro é brincar com a taxa de desemprego, é menosprezar as conseqüências no cotidiano do cidadão de baixa renda ou sem renda. Bolsonaro, de tão tosco, deixa pistas sobre suas impropriedades, e até mesmo suas ilegalidades, pelo caminho. Ao levar a tiracolo um palhaço empregado da rede de televisão Record, depois de elogiar a chegada da franquia CNN Brasil, deixa claro o que considera imprensa que merece respeito. Millor Fernandes já dizia que jornalismo tem que ser de oposição, ou então é secos e molhados.

 Pois humor a favor não é humor, é propaganda. Uma velha lição jornalística foi dada por William Randolph Hearst, magnata da imprensa inspirador do Cidadão Kane de Orson Welles: “Notícia é tudo aquilo que alguém não quer ver publicado. O resto é propaganda”. Bolsonaro confirma candidamente que não gosta de críticas, repetindo um dos nossos ditadores militares, Costa e Silva, que retrucou a explicação de que as críticas jornalísticas eram “construtivas” também com sinceridade: “Prefiro elogios construtivos”.

O ex-presidente Lula também tinha dificuldade em separar o joio do trigo, e não gostava muito dessa definição de notícia. A ex-presidente Dilma também tinha sua contrafação, o comediante que fazia a Dilma Bolada e recebia, segundo diversas delações, pagamento mensal em “dinheiro não contabilizado” para tornar a presidente em figura simpática popularmente, missão de resto impossível.  Nunca houve, no entanto, presidente algum que tenha levado a cabo com tanto entusiasmo a degradação da função presidencial, querendo adaptar os usos e os costumes republicanos ao seu modo de vida à margem das instituições, utilizando-se delas para tentar destruí-las.

Mau soldado, segundo o ex-presidente Ernesto Geisel, foi acusado de planejar atos terroristas à guisa de reivindicação salarial nos quartéis. Mau político, anda às voltas com denúncias de divisões salariais ilegais em seus escritórios e no de seus filhos, a chamada “rachadinha”. Em 27 anos como deputado federal, só aprovou dois projetos na Câmara. [aquele senador do Amapá, parece que senador Rodrigues, parece que da Rede, é senador e até hoje não aprovou um mísero projeto - optou por se destacar sendo contra tudo e todos.] Presidente eleito por uma maioria de mais de 57 milhões de votos, hoje representa um núcleo extremista da sociedade que incentiva a ir às ruas contra as mesmas instituições que jurou proteger. Não tem noção do que seja decoro, na vida privada e na pública, nem respeita a “liturgia do cargo”.

Merval Pereira, jornalista - Coluna em O Globo



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Fugir para adiante, para “a rua”: uma ajuda do governo para seus adversários - Alon Feuerwerker

A tese antes da posse era que o radicalismo do presidente da República seria domado pelo pragmatismo e profissionalismo dos generais e pelo liberalismo democrático e competente do ministro da Economia, e respectivo dream team. Aqui a vida real reservou outro habitual imprevisto. O presidente parece ter mais jogo de cintura que os candidatos a tutor, pelo menos para tratar com os outros pilares do poder constitucional (Congresso, Supremo).

O titular da Economia anda meio recolhido, depois de dois tropeços na comunicação. Desta vez veio de um general, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o sinal mais dolorido da perda de paciência com o Congresso. Na sequência da revelação pública da explosão do general, a base (ou a cúpula) bolsonarista desencadeou a chamada para um 15 de março de apoio a ele e repúdio ao Legislativo, em particular aos presidentes da Câmara e Senado. [sendo redundante: ambos ou os dois precisam entender que separação de poderes é para valer.
já que ambos os dois, em conjunto, se consideram tão poderosos que mudem a Constituição, ou então o auto nomeado 'primeiro-ministro' se candidate em 2022 ao cargo de presidente da República e seu escudeiro ao de vice - ambos não podem esquecer que  para tal empreitada ser exitosa precisam de votos.
Primeiro, tentaram chantagear o presidente para conseguir UM FUNDÃO Eleitoral.
E teve outras pressões = eufemismo para chantagem ou extorsão = sendo a do FUNDÃO a maior, por enquanto.
Como bem disse o presidente Bolsonaro, em linguagem respeitosa: ''Respeitamos o Legislativo, mas quem executa o Orçamento somos nós'.]



Governos são animais que vivem sob pressão constante, e a falta de traquejo costuma abrir espaço para vozes que nas horas complicadas pregam a “fuga para adiante". Na maioria esmagadora dos casos dá errado. Numa releitura adaptada da célebre frase de Joãosinho Trinta, governo tem de gostar de governar, pois quem gosta de gente na rua é a oposição. Se já tiverem esquecido, bom lembrar de junho de 2013. Dica: ver como começou e como terminou.

A oposição está entretida com as questiúnculas que cercam as eleições municipais, discutindo se em 2022 a frente deve ser ampla ou de esquerda, no máximo ataca o governo nas redes sociais. A greve dos petroleiros começou e terminou isolada. No STF o governo vive um ambiente de paz e cooperação. No Congresso, se tiver paciência e sangue frio, conseguirá que as reformas fiquem próximas do por ele desejado. No bottom line o governo não tem problema político real.

Problema mesmo o governo enfrenta nos canais de reverberação da dita sociedade civil. Mas estes não têm mostrado capacidade física de mobilização antigovernista. Por uma razão singela: o “centro" não consegue colocar povo na rua e tampouco está a fim de se juntar com quem poderia conseguir, pois decidiu há algum tempo que o caminho para voltar ao poder passa pela “luta contra os dois extremos”.

Coisa que, como se sabe, vem tendo um sucesso danado aqui e no mundo todo.
Introduzir a variável “rua” no cenário só interessa à oposição. E a defesa do Congresso e suas prerrogativas, como parte da defesa da Constituição de 1988, é o prato feito para quem pretende aglutinar as forças antibolsonaristas. Um achado para os opositores na preparação das eleições municipais. Especialmente quando a economia, apesar de sinais de melhora, ainda nem de longe pode ser descrita como brilhante.
No popular, é real o risco de o tiro sair pela culatra.


Um cenário hipotético. Bernie Sanders não consegue a maioria absoluta dos delegados, só maioria simples, e a cúpula do Partido Democrata alija-o da disputa contra Donald Trump. Sanders tem a opção de correr como independente. De quem tiraria mais votos? Gostaria de ver uma pesquisa Trump x Joe Biden (ou Mike Bloomberg) x Bernie… 

Alon Feuerwerkerjornalista e analista político - FSB Comunicação




segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Ataque ao Brasil feito por Trump é técnica para desviar a atenção - Míriam Leitão

O presidente Donald Trump continua a sua campanha de desinformação. Ele anunciou mais uma medida protecionista contra o Brasil. O aço brasileiro será sobretaxado porque, na visão dele, o país tem conduzido uma desvalorização da moeda. A Argentina também é alvo da medida.  “O Brasil e a Argentina têm liderado uma desvalorização maciça de suas moedas, o que não é bom para os nossos agricultores. Portanto, com efeito imediato, restaurarei as tarifas de todos os aços e alumínio enviados para os EUA a partir desses países”, escreveu Trump no Twitter. O meio tem sido usado para o disparo de fake news, modelo usado também no Brasil.

Trump ataca o mercado de aço porque, segundo ele, os produtores do agronegócio brasileiro estão levando prejuízo aos seus concorrentes americanos. A diplomacia terá que entrar em negociação para evitar mais tarifas contra o país.

Trump diz que vai elevar tarifa ao aço brasileiro

É uma interpretação estranha sobre a realidade acreditar que o Brasil quis derrubar a cotação do real para se tornar mais competitivo no agronegócio. Trump faz isso para desviar o foco. Ele é alvo de um processo de impeachment no Congresso americano.  O presidente Trump fala como se a alta cotação do dólar fosse controlada pelo Banco Central do Brasil. Mas a desvalorização do real não foi um ato de governo. Na semana, o BC até tentou conter o avanço da moeda americana. No caso do peso argentino, ele perde valor porque há desconfiança em relação ao novo governo eleito, o que leva investidores a tirar os recursos de lá.

O real desvalorizado, por exemplo, é um estímulo à exportação. O produtor recebe mais reais pelo produto embarcado. Isso aumenta a competitividade do país. Mas a desvalorização do real não veio de propósito, para prejudicar os produtores americanos. São as circunstâncias que estão levando à mudança no câmbio. O Brasil, entre outros fatores, tem um déficit em transações correntes.

Trump já havia elevado taxas contra o aço brasileiro, no passado. Ele agora cita também que o Brasil e a Argentina estão prejudicando o agronegócio americano. Os países são grandes competidores na produção de alimentos. O governo, que tenta uma aproximação com os americanos, precisa se lembrar disso. O dólar está se valorizando no mundo inteiro também por reação à política de Donald Trump, que agora reclama.  

Blog da Míriam Leitão, colunista - O Globo
 
 

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Cordiais cortadores de cabeça - Fernando Gabeira

Blog do Gabeira

Nossa geração foi educada na crença de que os brasileiros são cordiais. Um profeta popular como Gentileza e sua frase “gentileza gera gentileza” pareciam confirmar essa tese. Se acreditasse nisso, estaria, como algumas senhoras da minha idade, postando fotos do sol nascente com a frase “mais um dia maravilhoso em nossa vida”. Ultimamente, temos decapitado muito. Constatei isso em Pedrinhas, no Maranhão, em Manaus e, agora, dizem os jornais que dos 58 mortos em Altamira 16 foram decapitados.

Não conheço lugar do mundo em que isso aconteça com tanta intensidade. O Estado Islâmico, que usou a decapitação como espetáculo, parece que encerrou a temporada. Lembro-me de alguns casos no Haiti, mas isso num período de intensa luta política.  A novidade no caso é que o presidente do país não condena essas execuções e aconselha a pensar nas vítimas dos decapitados, e não nas suas cabeças cortadas. Isso nos dá uma sensação de barbárie. Mesmo os defensores da pena de morte a aceitam depois de um julgamento legal. No Brasil de hoje, as grandes organizações criminosas acabam ganhando o direito de matar, após um julgamento sumário.

Na mesma semana, Bolsonaro resolveu, sem nenhuma base, desenterrar um morto para desonrá-lo. Todos os que acreditam no respeito humano protestaram.  Ao remover o passado para soprar as cinzas e fazer algum fogo, Bolsonaro questiona um dos fundamentos do nosso processo de democrático. Ele se fez num quadro conciliatório de anistia geral. Os atores radicais da época perceberam que estavam envoltos nas turbulências da Guerra Fria e expressavam internamente aqueles conflitos da época.  De agora em diante, muitas divergências não desapareciam, mas a novidade é que seriam resolvidos pacificamente num processo democrático. Mais ainda: apesar das divergências que eventualmente sobrevivem, havia um imenso campo em que, apesar delas, trabalhar lado a lado para resolver alguns problemas do Brasil.

Por que Bolsonaro revolve as cinzas de uma fogueira extinta e sopra tentando reanimar as chamas? Não estamos mais naquela época, ele mesmo sabe. Bolsonaro tem Trump como ídolo, e parece que seu guru é Steve Bannon, cuja visão é a de promover uma guerra contínua a partir do próprio governo. Na esquerda, já se discutiu isso em outro contexto e outro nível de profundidade, quando Troski defendia a tese de uma revolução permanente.  Muitos afirmam que as táticas de Trump e Bolsonaro têm uma grande eficácia eleitoral. Isso ainda não foi demonstrado, uma vez que não houve nova eleição.

A situação do Brasil é diferente. Vivemos ainda numa grande crise econômica, o presidente não tem um Partido Republicano no Congresso. E, finalmente, o fator subjetivo: nosso temperamento é diferente não só pela cultura como pelo fato de não termos enfrentado tantas guerras como eles. É muito possível que a tática de Bolsonaro o leve à sua verdadeira dimensão política: o líder de uma ala radical da direita longe de ser aprovado pelos 57 milhões de eleitores.  Ele não só rompeu com uma espécie de acordo no qual o presente e o futuro importam mais que o passado. Busca destruir uma política ambiental de quase três décadas. Não é perfeita, tem lacunas imensas como o saneamento básico, mas ainda merecia respeito internacional.

A tese dos que veem eficácia na guerra permanente de Bolsonaro não levam muito em conta o potencial de seus eleitores compreenderem seus erros. [o eleitor brasileiro mesmo quando erra - não é o caso dos que votaram em Bolsonaro - não tem capacidade para reconhecer que errou, basta ver reelegeram Lula e Dilma.] O que se coloca pela frente não é apenas brigar com Bolsonaro. O essencial hoje é pensar em como sobreviver à sua passagem, construindo um horizonte que passa pela reconstrução econômica, mas vista como algo maior. Não é possível crescer sem uma política adequada de educação. Muito menos com uma visão destrutiva do meio ambiente. Esses temas não têm um condão mágico. Mas quem os subestima abertamente tende a um isolamento relativo, entra em confronto com a ciência, nega valores humanos, flerta com a barbárie.

E acaba contando apenas com a ideia de uma guerra permanente. Umberto Eco, no seu livro “O fascismo eterno”, revela com ironia: “Em maio ouvíamos dizer que a guerra tinha acabado. A paz me deu uma sensação curiosa. Tinham me dito que a guerra permanente era a condição normal de um jovem italiano.”

Blog do Gabeira - 05.08.2019 


Artigo publicado no jornal O Globo em 05/08/2019

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Pena de morte funciona? Muitos americanos acham que sim - Mundialista - Vilma Gryzinski

E Trump vê uma vantagem eleitoral ao reativar as execuções pelo sistema federal, colocando oposição na defesa de assassinos de criancinhas


Matou, morreu: 56% dos americanos acham que a pena de morte deve ser aplicada a homicidas.  Historicamente, o ponto mais baixo foi em 1966, quando a aprovação caiu a 40%. O pico, na metade dos anos 90 atingiu 80%.  Todo mundo que já viu filmes sobre crimes e julgamentos sabe que a pena de morte nos Estados Unidos depende dos estados.  Olhando o mapa, os trinta estados onde ela vale ocupam quase todo o território americano, com exceção da faixa nordeste, agora acrescida de Washington, no alto da Costa Oeste. Em estados como a Califórnia, ela não foi abolida, mas está há muito tempo em moratória.

Existia também uma moratória branca para a pena de morte no sistema de Justiça federal, que é separado dos estados. O último condenado executado foi o militar Louis Jones Jr, de 44 anos, em 2003. Ele sequestrou numa lavanderia a soldado Tracie Joy McBride, de apenas 19 anos. Levou-a para casa, estuprou-a, fez com que lavasse todo o corpo com água oxigenada para eliminar evidências físicas e a conduziu até um local baldio onde arrebentou sua cabeça com nove pancadas de uma barra de ferro. Largou o corpo debaixo de uma ponte.

A alegação de “síndrome da Guerra do Golfo”, tendo supostamente sofrido alterações mentais devido a ataques químicos, e o fato de que um homem negro havia estuprado uma branca, tão carregado de conotações raciais, não interferiram na sentença.  Nem a Suprema Corte nem o presidente George Bush filho atenderam aos apelos e pedidos de clemência, mas as execuções de criminosos julgados pela Justiça Federal entraram em moratória branca, uma iniciativa presidencial mantida durante todo o governo Obama.

É esta moratória que Donald Trump determinou ao Departamento de Justiça que interrompa, procedendo à execução de cinco condenados por crimes pavorosos, incluindo um fanático do supremacismo branco que matou uma menininha de 7 anos e seus pais por serem negros. É claro que Trump está em campanha pela reeleição e vê na reativação das execuções de condenados federais uma boa oportunidade de colocar os adversários democratas, ainda disputando quem será o candidato da oposição, na posição nada confortável de defender autores de crimes monstruosos.

Alfred Bourgeois matou a própria filhinha, de 2 anos e meio. Ela havia feito xixi no caminhão do pai, que a estuprou, torturou e matou a pancadas. Lezmond Mitchell matou uma avó e a neta de nove anos a facadas – todos são americanos nativos.
Isso sem contar outros famosos da lista de 62 condenados à morte pela Justiça Federal, incluindo o terrorista da maratona de Boston, Dzhokhar Tsarnaev, e Dylan Roof, o maldito que entrou numa igreja protestante de Charleston e matou nove fiéis negros por motivo de ódio racial.

Cromossoma extra
Não faltam americanos que se oferecem para executar pessoalmente pragas assim ou, pelo menos, fornecer a munição.
É claro que sabem que as execuções hoje são feitas com um coquetel de medicamentos fentanil e outros anestésicos que primeiro fazem o executado perder os sentidos; depois, a respiração, e por fim os batimentos cardíacos. Mas sabem também que a oposição profunda à pena de morte cria obstáculos como o processo do laboratório farmacêutico alemão Fresenius Kabi contra o estado de Nebraska pelo uso alegadamente fraudulento de medicamentos de sua fabricação, como o Midazolam, em execuções.

Carey Dean Moore (dois motoristas de táxi roubados e assassinados) foi executado mesmo assim, mas o acesso aos medicamentos letais está ficando quase impossível.
Os americanos a favor da pena de morte costumam não ligar a mínima quando os Estados Unidos são acusados de ser “o único país ocidental” onde ainda subsiste a pena máxima. Quem quiser abolir, tudo bem, inclusive nos estados da União. Quem não quiser, como a maioria dos eleitores que escolhem seus representantes, continua com a prática.

Em geral, acreditam no efeito dissuasivo da pena de morte. Ou simplesmente no direito a alguma compensação moral para os familiares das vítimas, sempre convidados e frequentemente presentes nas execuções. Frequentemente, a pena de morte volta a ser debatida, no geral ou em casos específicos, pela Suprema Corte, a instância que abre ou fecha a torneira, dependendo da composição de seus integrantes.  É o terceiro assunto mais importante nas mãos dos “supremos”, para os americanos, depois da Segunda Emenda, o artigo da Constituição que garante a posse de armas, e do aborto.

Em fevereiro, a Suprema Corte decidiu, por 5 a 4, que um condenado no Alabama podia ser executado mesmo sem ter um imã, ou religioso muçulmano, nos momentos finais.  Ao contrário de religiões cristãs, o Islã não tem conceitos como confissão ou pedido de perdão (mas tem o de reparação, em dinheiro, para familiares de vítimas que o aceitem). A alegação de ofensa ao “princípio de neutralidade confessional”, que havia adiado a execução de Domineque Ray (estupro, morte e roubo de 6 dólares de uma menina de 15 anos), não funcionou.  Desequlíbrios mentais, traumas de infância e doenças comprovadas não costumam interferir em condenações à morte.

Billy Ray Irick, diagnosticado com “problemas comportamentais gravíssimos” desde a infância, foi um dos 25 homens executados nos Estados Unidos no ano passado (estupro e morte de uma menina de 7 anos). Outro, Bobby Joe Long, um assassino serial de mulheres cujo caso teve uma certa notoriedade e virou filme, teve uma infância miserável, compartilhando um quartinho com os homens que a mãe levava lá, e sofria de doença genética —tinha um cromossoma X a mais, o que fez desenvolver seios na adolescência. Foi executado na Flórida, o terceiro estado com mais execuções desde 1976 (103). O recordista, claro, é sempre o Texas (563). O Texas tem um índice de 5 homicídios por 100 mil habitantes, um dos mais baixos dos Estados Unidos.

Em Veja, Mundialista, você pode ler a MATÉRIA COMPLETA