O Brasil precisa garantir 400 milhões de
doses de vacina, o Butantan e a Fiocruz têm de ser financiados, o
Ministério da Saúde deve contratar todas as doses possíveis do Butantan,
para dar previsibilidade ao instituto e ter fluxo de produto para o
programa. O governo está fazendo tudo errado e tardiamente. Além de ter
sido um negociador débil com grandes produtores internacionais. Essa é a
visão de André Medici, especializado em economia da saúde, e que foi
por muitos anos do Banco Mundial.
Medici acompanha tudo o que se passa no setor, sempre o fez, muito
mais agora que o mundo vive a pior pandemia em um século. Recentemente,
lançou um livro virtual sobre o desafio da cobertura universal nos
Estados Unidos, de Barack Obama a Joe Biden. O interessante é a força da
ampliação da cobertura de saúde, com seguros em parte subsidiados. Por
mais que o ex-presidente Donald Trump tenha feito, ele não destruiu a
proposta do Partido Democrata. O ex-presidente Obama conseguiu ampliar
em 50 milhões de pessoas a cobertura dos seguros de saúde. Com Trump,
saíram cinco milhões.
A economia da saúde com todas as suas ramificações está no centro do
debate atual aqui e no mundo. No Brasil, nos últimos dias, o que se viu
foi um novo absurdo do Ministério da Saúde. O governo Bolsonaro decidiu
fazer mais uma guerra contra o governador João Dória usando como bucha
de canhão a saúde dos brasileiros. O Butantan precisa de recursos e
previsibilidade e por isso quis que o Ministério da Saúde antecipasse
decisões de compra. O governo disse que só em maio responderia. [para malhar Bolsonaro vale tudo - não chega nem a ser malhação e sim calúnia, injúria e difamação - até 'manusear', adaptar, a notícia.
O FATO É: O Ministério da Saúde firmou um contrato com o Butantan - com certeza, apesar do petismo e do esquerdismo burros, grande parte dos brasileiros sabe que um contrato estipula obrigações para as partes que o firmam, que devem ser cumpridas sob pena de sanções pecuniárias e até penais - e, no contrato foi ajustado que o MS tinha até MAIO/2021 para decidir quanto compraria daquela farmacêutica.
Devido a situação, digamos, 'enrolada' no tocante a prazos do consórcio Sinovac x Butantan o MS preferiu trabalhar com um prazo flexível, dando preferência ao interesse público, do Brasil e dos brasileiros, em vez do interesse dos políticos paulistas e dos comerciantes chineses.
Até a data convencionada em contrato o Butantan tinha a obrigação de manter disponível o total de doses ajustado contratualmente.
As partes concordaram, assinaram, e o contato se tornou lei entre elas.
Só que a incompetência, o improviso que tem caracterizado a gestão Joãozinho, na prefeitura e no governo estadual, seguidos como lei pelo diretor do Butantan, impediu que percebessem ( ou preferiram não perceber) que estavam aceitando uma expectativa de possível compra, como compra. Quando perceberam o quanto foram incompetentes, até desidiosos na defesa dos interesses do Butantan, tentaram dar pra trás. Com a generosidade típica dos estadistas, Bolsonaro e Pazuello optaram por antecipar, de fato, a data aprazada.]
Seria
mais um crime de Bolsonaro e Pazuello contra a saúde dos brasileiros. A
posição ficou insustentável com a pressão da opinião pública e na
sexta-feira à noite eles anunciaram a compra de mais 54 milhões de
doses. Mas o fato mostra como esse governo decide. Pensa apenas na briga
política.
No mundo, o mercado está intenso e nervoso. A União Europeia em
disputa com a AstraZeneca aumenta a preocupação no Brasil, porque essa é
a mesma vacina da qual dependemos na Fiocruz. [Na Fiocruz a dependência é entre empresas, quanto ao Butantã, eles dependem, apenas... do governo chinês = uma ditadura em que o interesse comercial, a ganância pelo lucro, está cima de tudo e de todos.],O governo Joe Biden
aumentou muito o volume de compras esta semana. — Biden já fez encomendas que podem chegar a 700 milhões de vacinas. Eu não sei por que tão grande — diz Medici.
A boa notícia, ressalta o economista, é que tanto no Reino Unido
quanto nos Estados Unidos começam a cair as taxas de novos contágios,
ainda que não de mortes. — Há uma hipótese entre especialistas que seja consequência já do
começo da quebra da cadeia de transmissão pela vacinação. Os Estados
Unidos vacinaram até a semana passada em torno de 25 milhões de pessoas,
7% da população. Mas Biden está acelerando. Ele começou falando em um
milhão por dia, aumentou para um milhão e meio e os especialistas acham
que ele tem que chegar a três milhões — diz o economista.
No mundo inteiro, a pandemia movimenta o mercado de vacinas. Além das
10 em uso, sendo duas já aprovadas e oito com autorização emergencial,
há 67 em fases distintas de testes clínicos em humanos e quatro foram
abandonadas após os primeiros resultados de laboratórios, segundo o “New
York Times”. Um ponto importante para o Brasil refletir neste momento: é
que viramos apenas licenciadores por não investirmos em biotecnologia.
Coreia do Sul, Tailândia, Canadá, França, Rússia, China, Turquia, Israel
e, claro, Estados Unidos e Reino Unido desenvolveram vacinas ou estão
em estágios dois ou três de testes clínicos. O Brasil, tendo excelentes
institutos, ficou atrasado na produção. E pior, se atrasou até nas
compras. — Quando as vacinas estavam na fase dois de testes clínicos, lá para
agosto, os países fizeram suas encomendas. O Brasil, que já perdeu esse
momento, tem que garantir a maior quantidade possível de doses da
Coronavac e da AstraZeneca. Tem que ser rápido e decisivo — diz André
Medici.
Países de renda média que não se apressaram ficarão perdidos. Os
ricos estão garantindo suas vacinas. Os países pobres podem ser
atendidos pela iniciativa de Bill Gates com o Consórcio ACT. — A iniciativa de Gates está destinando muito dinheiro para vacinas,
US$ 16 bilhões, de um total de US$ 38 bilhões. E o principal objetivo é
atender aos países mais pobres. Existem alguns países de renda média que
se posicionaram bem. — diz Medici.
A pandemia mostrou claramente que a saúde está no centro da economia.
Míriam Leitão, colunista - O Globo - Com Alvaro Gribel, de São Paulo