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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A tempestade perfeita que poderá custar o mandato de Bolsonaro - Ricardo Noblat

Blog do Noblat

Ele é uma ameaça à vida alheia 

Se for o que resta para mostrar a que ponto chegou Bolsonaro, compare-se o seu comportamento com relação à vacinação em massa contra o vírus com o comportamento dos governantes mais autoritários do mundo, todos, como ele, de extrema-direita.  O ditador da República da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, anunciou que não se vacinará porque a Covid-19 já o pegou faz algum tempo – como se não pudesse pegá-lo outra vez. Mas a imunização no seu país começou uma semana antes do previsto.

Até abril serão vacinadas 1,2 milhão de pessoas. Numa segunda etapa, mais 5,5 milhões. Na Hungria do primeiro-ministro Viktor Orbán, um dos poucos chefes de Estado a comparecer à posse de Bolsonaro, a vacinação começou no último sábado. A Polônia tem um governo nacionalista conservador admirado pelo presidente brasileiro. Pois bem: ali, ontem, os dois líderes dos partidos rivais Plataforma Cívica (liberal) e Lei e Justiça (conservador) foram filmados vacinando-se juntos.

Ontem também, os países da Comunidade Econômica Europeia compraram mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. Em colapso desde a explosão do seu porto em Beirute, o Líbano comprou à Pfizer duas milhões de doses de vacina. Aqui, onde nas últimas 24 horas o vírus matou 1.075 pessoas e infectou mais de 57 mil, a Pfizer indicou em nota que no momento não irá pedir autorização de uso emergencial do seu imunizante porque as exigências do governo demandam tempo.

Como uma das muitas vacinas que já foram aprovadas em outros países e que estão sendo aplicadas por toda parte não pode estar rapidamente disponível para os brasileiros? É a pergunta que Bolsonaro e seus cúmplices se recusam a responder.

Na melhor das hipóteses, segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra o vírus está prevista para começar em 20 de janeiro, e na pior até o final da primeira quinzena de fevereiro. Quantas vezes você não leu previsões furadas? [especialmente quando apresentadas pelo Joãozinho Doria e diretores do Instituto Butantan - diretores que estão apequenando, retirando a credibilidade, de uma instituição centenária e mundialmente reconhecida pela seriedade e competência.]

Por outra parte, por que o espanto com a incompetência do governo Bolsonaro em dar início à vacinação? Quando foi que o governo dele revelou-se competente para tentar resolver um só grande problema do país nos últimos 2 anos? O prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte, reeleito com uma votação recorde, estoca há meses seringas de sobra para vacinar os habitantes de sua cidade e de cidades próximas. O que impediu o governo federal de fazer a mesma coisa?

Fracassou o pregão eletrônico realizado ontem pelo Ministério da Saúde para a compra de seringas e agulhas. De um total de 331 milhões unidades previstas para serem adquiridas, o ministério conseguiu fornecedor para apenas 7,9 milhões. Uma titica.

Não se brinca impunemente com vidas alheias, mas Bolsonaro insiste em brincar. Gosta de viver em perigo. Por que não brinca com a própria vida, quando nada para relembrar os antigos e bons tempos de paraquedista do Exército?  
Só a vacinação em massa já, e bem-sucedida, salvará o sonho de Bolsonaro de se reeleger daqui a dois anos, e mesmo assim não será tão fácil como parecia. O contrário disso será com toda certeza a abertura de um processo de impeachment. Crime de responsabilidade é razão para a abertura de um processo de impeachment do presidente. [crime de responsabilidade cometido; a quase totalidade da mídia acusa o presidente Bolsonaro da prática de  crime de responsabilidade, só que tudo não passa de relatos de supostas ocorrências = denúncia com tipificação fundamentada, juridicamente correta, do crime de responsabilidade não é apresentada. 
As vezes chamam de denúncia um emaranhado de narrativas que além de não comprovadas, não constituem crime, seja de responsabilidade ou qualquer outro.  
Além da necessidade do denunciado ser provado,  o presidente da Câmara dos Deputados tem competência para receber o pedido e pautar sua apreciação pelo plenário da Câmara. 
São os deputados que apreciam o pedido encaminhado que só se transforma em processo se receber, no mínimo,  342 votos favoráveis à transformação. 341 votos ou menos não são suficientes para sequer abrir a sessão. Decidido pelos deputados a abertura do processo o presidente da Câmara passa a ser apenas um espectador privilegiado.]
Falhar gravemente em garantir a vida das pessoas é o maior crime de responsabilidade que um presidente pode cometer. E daí? Daí que é por isso que Bolsonaro precisa tanto eleger Arthur Lira (PP-AL) presidente da Câmara dos Deputados. A abertura de um processo de impeachment depende exclusivamente do presidente da Câmara. Por lá, mais de 50 pedidos repousam numa gaveta. [Alguém em sã consciência, é capaz de achar que o deputado Maia,  contrário ao capitão quanto é, iria desperdiçar a oportunidade encaminhar um pedido de impeachment contra Bolsonaro? 
Claro que não. 
Não faz, nem fez, por saber que receberá atenção de alguns holofotes, mas o arquivamento do pedido causará mais prejuízos a ele e a outros inimigos do presidente, do que a tentativa de abertura.]

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
 
 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

O integralismo no poder - Carlos Andreazza

Movimento nunca deixou de estar entre nós

Culto à personalidade. Estímulo à compreensão messiânica da liderança. Forja de inimigos artificiais. Discurso autocrático, antiliberal e anticomunista, de fé nacionalista, embocadura cristã e musculatura miliciana para o confronto. Fetiche com a projeção fálica de uma intervenção militar. Constituição de uma máquina panfletária para difundir teorias conspiratórias. Críticas doutrinárias à democracia, propositalmente confundida com o (criminalizado) establishment e entendida mesmo como empecilho; sendo necessário — em nome de uma nova política — destruir os padrões viciados da atividade político-partidária.

A que me refiro? Estarei incorrendo em repetição, mais uma vez esmiuçando o caráter da revolução reacionária bolsonarista? Sim e não.
Sim; porque esses elementos compõem o sistema de crenças do bolsonarismo, com sua pulsão de morte e a incapacidade de lidar com a liberdade senão como condição para impor os próprios modos. E não; porque me dediquei a listar somente estandartes do “Estado integral” segundo a doutrina do integralismo — o maior movimento de extrema-direita da História do Brasil até hoje, cuja influência tem assento no governo Bolsonaro e integra o pensamento do dito grupo ideológico, que prefiro chamar de sectário, aquele, poderoso, olavista, que toca a tal guerra contra o tal marxismo cultural.

Integralismo em 1932: algo novo — atraente para a juventude — numa sociedade intolerante (pautada pelo autoritarismo de Vargas) e amedrontada; o clima de medo (o perigo vermelho) impulsionando a adesão e o financiamento ao movimento. O ideal “Deus, pátria e família” encarnado no chefe nacional Plínio Salgado; o líder para o exercício do que seria uma democracia orgânica — que prescindiria das intermediações da democracia representativa.

Bolsonarismo em 2018: algo novo — sedutor para os jovens — numa sociedade intolerante (condicionada pelo espírito do tempo lavajatista) e amedrontada; o clima de medo (o Foro de São Paulo à espreita) impulsionando a adesão e o financiamento ao fenômeno. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” encarnado no mito Bolsonaro; aquele que fala diretamente ao povo, líder para o exercício do que seria uma democracia plebiscitária — que tornaria desnecessária qualquer mediação político-institucional.

Em 1969, o integralismo obcecado pelo controle das formações individuais — seria o agente político que implementaria a disciplina de Educação Moral e Cívica no país. Em 2020, o integralismo domina — não à toa, como base estratégica para a reconstituição de uma fantasiosa civilização brasileira —o Ministério da Educação; e também a pasta dos Direitos Humanos.
[Urge, para o BEM da juventude,que as disciplinas Educação Moral e Cívica - EMC e Organização Social e Política Brasileira - OSPB, retornem aos currículos do Ensino Médio.]
O mais antigo alerta ao menos para este escriba — sobre as semelhanças entre o bolsonarismo e a tradição integralista foi do publicitário Alexandre Borges, notável conhecedor da dinâmica política dos anos 1930, cuja natureza autoritária desaguaria na ditadura do Estado Novo. Ele me chamava a atenção para o caráter militarista do integralismo aliás, muito aderente entre militares — e para a importância, no esquema do movimento, da milícia integralista, que conjugava serviço de informações e planejamento para operações policiais; que, na prática, resultaram em ações armadas tanto quanto nos fundamentos do que seria a Lei de Segurança Nacional.

Ainda no final de 2017, diante do fosso de oportunidades aberto pela depressão política que nutria discursos que costuravam elogio à autoridade e desprezo à atividade político-partidária, Borges informava que estudar apenas a emergência do nacional-populismo nos EUA e na Europa, embora necessário, não bastaria; e que seria mesmo preciso olhar para dentro, para a história do integralismo, a experiência fascista brasileira, com seu ímpeto para o golpismo, se quiséssemos compreender o conjunto de valores reacionários — cultura enraizada em quase século — que anima e lastreia o bolsonarismo. (E que não nos enganemos sobre a guinada circunstancial — com objetivo em 2022 —que leva Bolsonaro a uma quadra mais populista que autoritária.)

Há dois livros novos a respeito na praça. “O fascismo em camisas verdes”, de Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira Neto, publicado pela FGV Editora. E, pela Planeta, “Fascismo à brasileira”, de Pedro Doria. São trabalhos fundamentais, muito bem pesquisados (o de Doria, ademais, um thriller), que tiram da estante do exotismo, como se passagem irrelevante de nossa história, um movimento que — desde a década de 1930 — nunca deixou de estar entre nós; muito articulado, por exemplo, tanto à TFP [Tradição, Família e Propriedade.]  quanto aos skinheads brasileiros, cujo tripé misoginia, racismo e homofobia é facilmente identificado no DNA do que se convencionou chamar de nova direita no Brasil.

Duas obras que retratam o integralista como uma espécie de soldado de Deus e da pátria, responsável pela construção de uma grande nação; o que seria destino indesviável deste país. Não é uma fotografia de época.

 Carlos Andreazza, colunista - O Globo


sábado, 14 de março de 2020

Com coronavírus, Itália vive sua hora mais sombria e lei marcial ameaça se tornar 'novo normal' - Folha de S.Paulo - UOL


Governo italiano se tornou a primeira democracia a mimetizar a ditadura chinesa     

[o que prova o entendimento de que a DEMOCRACIA não é - , quando exagerada,  o que ocorre com frequência - o melhor sistema de governo. Churchill errou feio.]

No início, a China ocultou as informações sobre a epidemia e reprimiu os médicos que tentavam dar o alerta. Depois, isolou por meios militares 40 milhões de habitantes de Hubei. Agora, a Itália imita a China – e os dois governos, o ditatorial e o democrático, ganham aplausos da Organização Mundial de Saúde (OMS). A lei marcial será, logo, o “novo normal”?

Semanas atrás, Matteo Salvini, o líder da Liga, convocou o vírus para sua campanha anti-imigração. O fraco governo italiano de Giuseppe Conte respondeu ao clamor da extrema-direita ignorando o avanço da doença, que se espalhava silenciosamente. Consequência do catastrófico equívoco original: a Itália tornou-se a primeira democracia a mimetizar a ditadura chinesa, ameaçando encarcerar cidadãos que se moverem para outras cidades.

A trajetória repetiu-se no Irã. O regime camuflou a ampla difusão das infecções até girar 180 graus, advertindo que usará “a força” para conter deslocamentos no Ano Novo persa.

Trump inverteu o percurso, girando no sentido anti-horário. No começo, capturando a covid-19 para legitimar suas políticas xenófobas, fechou as fronteiras a qualquer viajante proveniente da China. Na sequência, diante da turbulência financeira que complica sua reeleição, escreveu no muro da Casa Branca que o vírus é “uma gripe comum”. Bolsonaro repetiu a mensagem embusteira do mestre, sem se dar conta de que ela seria revertida outra vez, dando lugar à perversa proibição de viagens entre Europa e EUA para barrar o “vírus estrangeiro”.


Nosso Ministério da Saúde (MS), uma das ilhas de competência no oceano da estupidez federal, não cede aos cantos concatenados da negligência e da paranoia. Como o ministério alemão, orienta-se pela máxima de que o pânico é ainda mais letal que o vírus. A estratégia de medidas graduais —da educação sanitária à redução de interações sociais em áreas críticas, e daí ao eventual auto-isolamento em clusters de infecção— implica uma aposta esclarecida na responsabilidade dos cidadãos.

A persuasão é a escolha democrática, que funciona; a polícia, a opção autoritária, que fracassa. Na China, não houve a alardeada contenção geográfica, pois milhões deixaram Hubei na hora do surto pioneiro, para as férias de Ano Novo. [ocasião em que não havia avaliação precisa da intensidade do novo coronavírus.
Para provar que o uso de medidas enérgicas é  necessário, a China logo adotou medidas de força - migração não pode retroagir por força de lei, o importante é que a movimentação cesse - e conseguiu hoje ter menos casos de coronavírus do que o Brasil.
Proporcionalmente,em termos de população, a Itália tem mais mortos que a China.]
Mesmo assim, as taxas de letalidade nas demais províncias, onde o governo recomendou auto-isolamento, foram muito menores que as de Wuhan, submetida aos comandos totalitários. [uma 'recomendação' do governo chinês tem mais força do que um decreto do governo da Itália.]A lei marcial mata, disseminando o pavor que empurra multidões gripadas aos hospitais, implode os sistemas de saúde e vitima médicos e pacientes.

Israel determinou quarentena compulsória a todos que, sem sintomas, entrarem no país. Pateticamente, o governo de Netanyahu insinua que a população do exterior é suspeita de contágio – mas a do interior não. A Alemanha, pelo contrário, promete não fechar fronteiras. Nosso MS também orienta-se pela contenção focalizada, evitando reações indiscriminadas. A Itália e os EUA – felizmente, nesse caso – não são aqui.

O diretor-geral da OMS evitou criticar o regime chinês pelo criminoso ocultamento mas elogiou a “coragem” do isolamento militar de Hubei. Sua bússola é a política, não a epidemiologia: a OMS almeja tornar-se, finalmente, parceira da China. A coerência no erro o conduz a festejar a lei marcial italiana, sugerindo que o mundo siga o exemplo de um governo sem rumo. A depressão econômica provocada pelo pânico produzirá incontáveis vítimas entre os pobres, frutos do colapso de renda e de moléstias não tratadas. Essas vidas perdidas não chegarão às tábuas estatísticas.

A pandemia do Covid não é fake news. A notícia falsa é que os polos do debate situam-se entre a complacência e a lei marcial: de fato, a segunda nasce no solo arado pela primeira. Conte disse que a Itália atravessa sua “hora mais sombria”. É verdade – e por culpa dele.

Demétrio Magnoli, jornalista - Folha de S. Paulo - UOL


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Ricardo Noblat - À sombra da hegemonia da extrema-direita - Blog do Noblat - Veja

Por Ricardo Noblat

O PT envelheceu. Ou se liberta de Lula ou não terá futuro

Lula jamais imaginou que seria condenado pela Lava Jato. Uma vez que foi, jamais imaginou que seria preso. Uma vez preso, imaginou que acabaria solto a tempo de tentar se reeleger presidente da República pela terceira vez. Quem sabe não compensaria as três vezes (1989, 1994 e 1998) em que foi derrotado, duas, em primeiro turno, por Fernando Henrique Cardoso. Lula nunca perdoou Cardoso por isso.

Condenado, preso e impedido pela lei da Ficha Limpa de se candidatar, Lula algemou-se ao PT e o PT docilmente a ele, com a esperança de que, um dia livre, pudesse reconstruir sua imagem, e dispondo de um partido ainda razoavelmente forte, voltar à boca do palco da política brasileira. O sonho tem tudo para se evaporar quando o Supremo Tribunal Federal julgar o pedido para que anule sua condenação no processo do tríplex.

Condenado em primeira instância no processo do sítio de Atibaia, reformado de graça para ele e sua família pelas construtoras OAS e Odebrecht, Lula é candidato a ser novamente condenado na segunda instância.  Escapará à nova prisão porque o Supremo decidiu que prisão só é possível depois da sentença transitar em julgado, e isso costuma levar muito tempo, tantos são os recursos protelatórios permitidos.

A direção do PT sabe disso. Os militantes do partido, também. O que todos fazem questão de ignorar é a verdade dolorosa para eles de que ou PT se liberta de Lula ou não terá futuro. Por ora, há um ensaio de reflexão sobre a encruzilhada em que ele o partido se encontra. Mas um ensaio tímido. Quem sabe, hoje, quando o receber no Vaticano, o Papa Francisco não operará o milagre de converter Lula à realidade?

De protagonista sem que ninguém lhe fizesse sombra da trajetória espetacular do partido de esquerda mais bem-sucedido da América Latina nas últimas décadas, Lula virou o algoz do PT. O PT pouco ou nada apreendeu com o que fez de errado nos quase 14 anos em que governou o país. E nada esqueceu. Não se renovou – envelheceu a galope. Renunciou a muitos dos seus caros princípios.

Lula livre significou o PT preso a ele. Lula solto, pelo que se vê, significa o PT atado aos ditames do seu dono. Gleisi Hoffmann seria presidente do partido se não fosse um pau mandado de Lula? Não somente ela. Os que integram a corrente majoritária do PT se comportam como se os tempos não fossem outros. Acreditam que foram vítimas de um golpe e que a História reconhecerá isso mais adiante, devolvendo-os ao poder.

Foram surpreendidos pela jornada de julho de 2013 quando milhões de brasileiros, sem a ajuda ou provocação dos partidos, saíram às ruas para gritar que não o faziam só por 20 centavos a menos ou a mais no preço das passagens de ônibus. Para que retornassem às suas casas, a presidente Dilma prometeu o que podia e o que não podia. Ao cabo, nada fez. Caiu porque perdeu o apoio que tinha para governar.

No parlamentarismo, o voto de desconfiança derruba o primeiro-ministro. No presidencialismo, o impeachment. O Congresso americano tinha razões de sobra para aprovar o impeachment de Donald Trump. A Câmara aprovou. O Senado, não, porque, ali, ele contava com o apoio de todos, menos um dos senadores republicanos. Nos estertores do governo Dilma, ela nem mais contava com o apoio integral do próprio PT.

A reconstrução do PT passa por um exame dos seus erros até para não repeti-los; pela defesa de propostas que falem ao coração e à mente da maioria dos brasileiros; e por uma injeção de sabedoria e de humildade que o leve a abrir mão da ideia tacanha e restritiva de que exerce e de que deverá continuar exercendo o monopólio da oposição. Se não for assim, resigne-se por um longo tempo à hegemonia da extrema-direita.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat,jornalista -VEJA


sábado, 25 de janeiro de 2020

Um governo flertando com o nazismo - IstoÉ - Brasil

Apesar da demissão de Roberto Alvim por causa da imitação de Joseph Goebbels, Jair Bolsonaro é tolerante com ideias de extrema-direita e estimula a guerra cultural

O discurso nazista do ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que serviu para tirá-lo do cargo na semana passada, mostrou, novamente, que as ideias de extrema-direita circulam com liberdade no governo, e reforçam, de tempos em tempos, suas intenções autoritárias. Parafrasear Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, foi só mais uma contribuição nefasta para o esforço doutrinador que o presidente Jair Bolsonaro está levando a cabo no seu mandato. Como sempre acontece em governos com tentação extremista, é pela área cultural e pela educação que se faz o jogo ideológico mais pesado.

 SEMELHANÇA A ordem e a disciplina impostas por Hitler para controlar os alemães sempre pareceram exemplares para Bolsonaro (Crédito: AFP/Hulton Deutsch)

[apontando o óbvio: um Governo conservador e de extrema-direita, por razões óbvias tem que possuir e defender ideias conservadores e de extrema-direita e ser visceralmente contra o maldito politicamente correto, ideias da extrema esquerda, o que inclui, sem limitar, o comunismo.

A cultura no Brasil está doente - uma cultura que tenta se afirmar com imundícies tipo 'queer museu', que entre outras bizarrices cultua a zoofilia,  inserir em revistas HQ INFANTO JUVENIL homens se beijando na boca, expelindo produções culturais ofendendo JESUS CRISTO, buscando destruir a FAMÍLIA, SÓ TEM UM DIAGNÓSTICO: está doente e só uma cirurgia profunda, removendo todos os tumores, é que poderá voltar a ser sadia.
Mais um exemplo: passo a passo, estão difundindo a necessidade de censurar WAGNER.]
Apesar de Bolsonaro ter decidido, afinal, demitir Alvim, ele não demonstrou, a princípio, uma rejeição contundente à sua fala e chegou a dizer para interlocutores mais próximos que todo o barulho criado em torno do assunto era “coisa da esquerda”. Só depois de perceber a reação de repulsa nas mídias sociais e, em especial, da comunidade judaica e de receber um telefonema do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que é judeu, ele tomou sua decisão. A verdade é que se as propostas apresentadas pelo ex-secretário, com fundo musical de Richard Wagner, tivessem sido transmitidas de forma mais palatável e sem a teatralização nazista, elas não estariam tão distantes do que o núcleo mais duro e sectário do Planalto pensa. A ordem e a disciplina impostas por Hitler para controlar a população alemã, com o apoio do trabalho de comunicação de Goebbels, sempre pareceram exemplares para Bolsonaro.

No seu afã de doutrinação ideológica, Bolsonaro chegou ao absurdo de dizer que o nazismo era um “movimento de esquerda”
A tese apresentada por Alvim de que a cultura brasileira está doente e precisa ser “purificada” de ideias libertárias e pluralistas faz eco com a obsessão de Hitler contra a “arte degenerada”, que, na mente do ditador, se confundia com a modernidade e com a invenção. O mesmo vale para a projeção do ex-secretário para a arte brasileira da próxima década, que será “heróica e nacional”. Para Bolsonaro e alguns de seus ministros, é isso, justamente, que a arte precisa ser para ajudar na criação de uma mentalidade conservadora ajustada aos novos tempos. 

O governo dá sucessivas demonstrações de que pretende fazer uma revolução cultural ao estilo da extrema-direita para impor um pensamento que se oponha ao multiculturalismo e ao politicamente correto. Os soldados do bolsonarismo, tendo à frente os filhos 02 e 03 do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro (que defende, inclusive, a reedição do AI-5 e volta da ditadura), costumam chamar esse processo de “guerra cultural”. É dela que surgirá o “homem de bem” brasileiro, que emerge nas entranhas do sistema político para se tornar um protonazista empedernido, que recusa o pensamento crítico e despreza a criatividade e a inteligência, a não ser quando são usadas a favor do regime.

Doutrinação ideológica
 No afã de doutrinação ideológica direitista de Bolsonaro, se chegou ao absurdo de dizer que o nazismo era um “movimento de esquerda”. Foi isso, por exemplo, que declarou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em uma entrevista concedida, em março do ano passado, no canal do YouTube do grupo Brasil Paralelo, que promove o pensamento de Carvalho. Perguntado sobre a comparação entre o nacionalismo defendido por ele e o promovido no passado pelos regimes totalitários da Alemanha, da Itália e da Rússia, Araújo afirmou que “o sentimento nacional teria sido distorcido por grupos que o utilizaram para chegar ao poder”. “Uma coisa que eu falo muito é dessa tendência da esquerda de pegar uma coisa boa, sequestrar, perverter e transformar numa coisa ruim. É mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Isso tem a ver com o que eu digo que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda”, disse. Alguns dias depois, em visita ao Centro Mundial de Memória do Holocausto, em Israel, Bolsonaro foi na mesma linha que seu ministro e afirmou “não ter dúvidas de que o nazismo era um regime de esquerda”. Foi desmentido no mesmo dia por representantes do Memorial do Holocausto. A tese, que procura livrar a extrema-direita de sua orientação criminosa, é considerada descabida e desonesta por acadêmicos e historiadores de todas as vertentes.

O combate implacável ao esquerdismo e ao socialismo é o ponto crucial da guinada extremista que o governo pretende dar. Fazendo a população crer que há uma ameaça comunista no Brasil, Bolsonaro procura se posicionar de maneira mais confortável no outro extremo do espectro político e justificar seu ideário radical. O problema (para ele) é que o ambiente cultural brasileiro é democrático e não há qualquer indício de que a produção artística tenha um apelo comunista ou esteja orientada para a conquista do poder. Por isso volta-se sempre à fantasia do chamado marxismo cultural, que o astrólogo Olavo de Carvalho, ideólogo do governo, inspirado pela extrema-direita americana, vê como uma grande conspiração para disseminar o socialismo pelo mundo. Carvalho, por sinal, abandonou o pupilo Alvim e declarou, num primeiro momento, no seu Twitter @OlavoOpressor, que ele “não parecia estar bem da cabeça”. 

Depois embalou numa interpretação conspiratória dos fatos para livrar o governo Bolsonaro e Alvim da pecha de nazista. “Chamar o Alvim de nazista é ser caixa de ressonância da esquerda mais canalha. O Alvim é trouxa — repito —, mas de nazista ele não tem nada. Se tivesse, estaria no PT, declarou no domingo 19. “Comunistas fazem truquinhos sujos para dar ao presidente Bolsonaro uma aparência de nazista, mas nazistas são eles. Até o Parlamento Europeu já se tocou. Enquanto isso, o lindinho Luciano Huck escolhe o homem do PC do B para seu vice. Isso já diz tudo”. Para Carvalho, “ou o Alvim pirou ou algum assessor petista enxertou a frase do Goebbels no discurso dele para assassinar sua reputação”.


(.....)

Máquina de guerra
A atriz Regina Duarte ainda não aceitou o convite do presidente Bolsonaro para substituir Roberto Alvim, dizendo que antes irá “fazer um teste” à frente da Secretaria Especial de Cultura, com um orçamento de R$ 2 bilhões em 2020. “Quero que seja uma gestão para pacificar a relação da classe com o governo”, afirmou. “Sou apoiadora deste governo desde sempre e pertenço à classe artística desde os 14 anos”. Porém, apesar do entusiasmo de Regina e de sua intenção conciliadora, seu nome não é bem visto pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro e pelo astrólogo Olavo de Carvalho. Para eles, a secretaria exige uma ação de enfrentamento permanente e a atriz é considerada moderada demais para tocar a máquina de guerra cultural do governo. O presidente viajou quinta-feira 23 para a Índia e na volta deverá oficializar a nomeação da atriz para o cargo.

Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA




quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Com Bolsonaro, país pode ganhar um partido de ultradireita - Folha de S. Paulo

Bruno Boghossian

Sigla em criação pelo presidente tende a se tornar veículo para posições radicais

Com Jair Bolsonaro, o país pode ganhar um partido de ultradireita. A legenda que o presidente quer criar surge ancorada em valores reacionários, no populismo e no personalismo puro. A aparente espinha dorsal da Aliança pelo Brasil coube numa sequência de publicações de Eduardo Bolsonaro. Na primeira frase, o deputado anuncia a criação da sigla com o objetivo de libertar a população "da destruição de valores cristãos e morais". Em poucas linhas, ele repete essa fórmula e encerra com um resumo dos princípios do novo partido: "fé, honestidade e família".
[presidente Bolsonaro! - óbvio que sendo um partido idealizado pelo senhor e por grande parte dos seus eleitores - vamos esquecer seus filhos no tocante ao partido, lá estarão na condição de cidadãos e não de filhos -  já nasce sendo espancado.
Mas, ser espancado é um bom fermento para um crescimento sadio e exitoso.
E, já passa da hora das ideias que o senhor e seus milhões de eleitores,  apoiam e defendem, serem representadas de forma autêntica e clara por  um Partido que por elas pugne.

Apresentamos uma sugestão de nome para o novo partido: Ação Integralista Brasileira - AIB ou Aliança Integralista Brasileira - AIB, a primeira-denominação  proposta repete ipsis litteris, denominação de organização anterior extinta no  governo Vargas e a segunda praticamente nada altera.
Por estarmos no Brasil, onde se proíbe o que é correto e se libera - até mesmo se  impõe a aceitação do que é errado, imoral - talvez seja proibido usar o nome proposto.

O ensaio de manifesto é carregado de tons messiânicos. Fala no "novo rumo brasileiro" e no que chama de "a verdadeira união com o povo", como se Jair fosse o único capaz de representá-lo. Sem modéstia, cita ainda um "momento histórico" e o "grito solitário" do pai, que passaria a ecoar com a criação da legenda. Isso, é claro, sem falar na defesa aberta de ditaduras e de torturadores, que os grandes próceres da sigla fazem questão de defender publicamente e a todo momento.

O partido parece se inspirar na Arena (Aliança Renovadora Nacional), que serviu de sustentação para o regime militar. Seu manifesto de 1975 mencionava a união dos brasileiros e uma aliança com o povo, mas não apelava tanto aos valores cristãos quanto Eduardo Bolsonaro. O partido pode se tornar veículo para a difusão de ideias radicais, a exemplo do espanhol Vox e do alemão AfD. Essas duas legendas ainda brigam pelo poder em seus países, enquanto a Aliança já nasce no topo. [uma vantagem a favor do Brasil e que não pode ser deixada de lado.]

A migração de integrantes do PSL para a nova legenda deve acelerar uma depuração do bolsonarismo e definir em que ponto do espectro político o grupo mais afinado com o presidente passará a operar.  Se apenas os mais fiéis seguirem Bolsonaro, como parece claro até aqui, haverá espaço para posições mais extremadas. Elas tendem a sobressair em ambientes de forte apelo religioso e de fidelidade a um líder que sustenta posições desse tipo.

Bruno Boghossian, jornalista - Folha de S.Paulo



sábado, 19 de outubro de 2019

Selma Arruda, Senadora (Podemos-MT) - Há dois ou três ministros do STF nessa corrente suja


Ela é conhecida no Mato Grosso como “Moro de Saias”. A senadora Selma Arruda (Podemos-MT) já foi juíza federal no seu estado por 22 anos e, assim como o ministro da Justiça, Sergio Moro, se aposentou em 2018 para entrar para a política, depois de ter decretado a prisão de gente importante, como o ex-governador Silval Barbosa (MDB) e secretários de estado. Na carona de Bolsonaro, e com o discurso de combate à corrupção, ela se elegeu senadora e não tem vergonha de assumir que defende projetos do presidente, como o que permite as pessoas se armarem. “Eu tenho uma arma e nunca matei ninguém”, diz. Mas abomina as teses de extrema-direita ostentadas por Bolsonaro: “É de uma burrice sem fim”, afirma, referindo-se ao que considera discriminação dos homossexuais. Embora ainda declare apoio ao governo, Selma deixou o PSL depois brigar com o filho do presidente, o senador Flávio, que lhe falou palavrões ao telefone. A senadora luta para que a Lava Jato não morra: “A operação está a um pé do abismo”, sobretudo se o STF decidir pela suspeição de Moro nos processos de Lula, avalia Selma. A magistrada não tem mesmo papas na língua.

O PSL, partido que a senhora acabou de deixar, vive uma crise sem precedentes. O que há por trás da guerra interna?
O partido não foi construído de maneira organizada. Há dirigentes partidários que não querem sair porque não desejam perder o fundo partidário, há outros mais colados ao presidente Bolsonaro que o acompanham independente da sigla, e há os que pertencem realmente ao PSL, sob a batuta do deputado Luciano Bivar, mas está em minoria. Isso não vai se sustentar como está. Depois da briga atual, esse quadro vai mudar e um desses três grupos vai acabar prevalecendo sobre os outros.
Mais do que por discussões ideológicas, a desavença entre Bolsonaro e Bivar é pelo controle do dinheiro para campanhas eleitorais?
Exatamente. O partido ficou poderoso por conta do dinheiro auferido com a eleição e agora as pessoas que querem deixar a sigla pensam duas vezes: sair de um partido rico e ir para onde? E o dinheiro para as eleições do ano que vem? O que eu tenho visto por aí é que nenhum desses grupos está preocupado com o futuro, com os interesses partidários. Todos só pensam no dinheiro que ele gera.
Os preparativos para a campanha da reeleição em 2022 estão pesando?
Pelo que tenho visto, ele se desentendeu com o Bivar por causa disso. Não Não tenho acompanhado de perto dessa briga. Afinal, acabo de deixar o PSL para ingressar no Podemos.

A senhora deixou o PSL depois de ríspida discussão com o senador Flávio, filho do presidente, que lhe telefonou à noite, falando palavrões. Ele foi grosseiro?
Eu gostaria de esquecer aquele episódio. Ele me ligou por volta das 22h, muito alterado, aos berros, dizendo aqueles palavrões que todos já sabem (“você quer me foder?”), apenas porque assinei a lista da CPI da Lava Toga. Eu falei: ‘fala mais baixo; você não está falando com tuas negas’. Ele foi deselegante. Não sou nada dele. Pedi para ele baixar o tom e ele não baixou. Então desliguei. Telefonei em seguida para a senadora Soraya (Thronicke, do PSL-MS), que também já havia ficado 40 minutos com ele ao telefone. Flávio também queria convencê-la a retirar a assinatura. O mesmo aconteceu com o senador Major Olímpio, que também recebeu uma ligação dele. Só que o Major Olímpio respondeu à altura, diferente de mim.
Deixou o PSL só por isso?
O PSL ficou de mãos atadas para defender o combate à corrupção exatamente por essa postura do Flávio. Ele só quer livrar a pele dele lá no Rio. E isso foi me incomodando.

A senhora saiu também em meio à confusão em torno dos laranjais de Pernambuco e de Minas Gerais. Afinal, por que o ministro do Turismo não é demitido?
Acredito que o presidente está aguardando uma definição da Justiça. Deve estar satisfeito com o trabalho dele e não vai tomar uma medida drástica antes que a própria Justiça se posicione.
A senhora também não o demitiria então?
Eu sou outra pessoa. Sempre tive um trato muito sério com as pessoas que trabalham comigo, no sentido da transparência e do não envolvimento com corrupção. A gente sabe que pode haver injustiças, mas eu não sou se ficar passando a mão na cabeça de ninguém.
Mas o MPF até já o denunciou à Justiça…
Eu também fui denunciada por caixa dois da campanha do ano passado, não é? No meu caso, tudo de forma improcedente. Eu não fiz caixa dois. Os gastos questionados foram feitos em março e abril e nem havia campanha ainda. Não pode haver caixa dois em período da pré-campanha. Mas aqui no Mato Grosso há uma “lei” dizendo que isso é caixa dois.

A senhora se sente injustiçada pelo processo que chegou a pedir a cassação do seu mandato pelo TRE do MT?
Com certeza (ela vai recorrer ao TSE). Quando a gente sabe que alguém se meteu em encrenca, eu digo: tchau. Mas, no meu caso, houve armação da política local. Eu fui juíza por 22 anos aqui no Mato Grosso combatendo corrupção. As pessoas de uma das organizações criminosas que eu prendi foram responsáveis por essa armação. O juiz que me julgou é intimamente ligado ao ex-governador que eu prendi e o juiz que julgou as minhas contas era advogado do ex-governador.

Em IstoÉ, leia ENTREVISTA COMPLETA

 

domingo, 1 de setembro de 2019

Dar sentido à vida - Merval Pereira

O Globo

Pessimismo no presente, mas com esperança

Para Ricupero, não haverá paz, estabilidade, retomada do desenvolvimento sem a integração progressiva dos marginalizados

“Os regimes atuais, quer o capitalismo ocidental, quer a versão estatizante chinesa, são incapazes de resolver os três maiores problemas humanos: o aquecimento global, o aumento da desigualdade, o desemprego estrutural agravado pelos robôs e a inteligência artificial”. Essa pessimista constatação faz parte do diagnóstico do embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero na Academia Brasileira de Letras, que fechou um ciclo de palestras dedicado a debater o futuro do Brasil. Durante o evento, coordenado pela escritora Rosiska Darcy de Oliveira, a questão foi analisada por diversos ângulos: o das políticas públicas, pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade; o da economia, por Edmar Bacha; o dos direitos humanos, por Antonio Cicero; o do sentimento nacional, por Cacá Diegues (os três últimos membros da ABL).

O ciclo encerrou-se com a palestra do ex-ministro Ricupero, que analisou o perigo de termos um futuro pior que o presente. Não apenas no Brasil, mas no mundo. Embora o diagnóstico seja pessimista, a conclusão é esperançosa, como veremos. Ricupero lembrou que houve outras fases de abatimento no Brasil, “mas a versão mais grave data de poucos anos atrás, de 2015/16, o instante em que começou a desfazer-se a ilusão de que o país tinha dado certo”.  As fórmulas petistas se tornaram insustentáveis, ressalta. “Algumas concorreram poderosamente para desencadear, primeiro, a crise fiscal, em seguida, o gravíssimo colapso que prostrou a economia até este momento”.

Após os sucessos do Plano Real, do crescimento do governo Lula, da conquista do grau de investimento, “a debacle da economia trouxe de volta aos brasileiros o efeito psicológico desmoralizante do fracasso”. Na visão de Ricupero, “o pouco que sobrava do prestígio das instituições políticas se viu, ao longo de três intermináveis anos, estremecido pelas revelações quase diárias de escândalos pela Lava-Jato, ela mesmo ora em vias de desmoralização devido a excessos e erros próprios, assim como à reação defensiva de setores políticos”.

A crise da democracia liberal se manifesta por todo lado, lamenta. “Cobrem já boa parte da população mundial os regimes antiliberais, anticientíficos, negadores da mudança climática, hostis às elites intelectuais, à tolerância da diversidade, ao respeito do outro em matéria sexual ou cultural”. O confronto entre o primeiro e o segundo centenário da Independência do Brasil põe em evidência o inédito da experiência corrente: a de que, em alguns aspectos importantes, nosso presente é pior que nosso passado. Além de aspectos subjetivos que nos fazem acreditar que os tempos mais amenos da modernização do Estado brasileiro e dos anos JK foram melhores que os conturbados dias de hoje, Ricupero utiliza-se de dados de um estudo da Goldman Sachs deste ano que aponta a possibilidade de o país perder meio século, com crescimento estagnado.

Para Ricupero, estamos “diante do maior desastre de desempenho coletivo de nossa História recente”. No entanto, estes 40 anos de altos e baixos coincidem com a consolidação da democracia. “Nesse período, em especial nos 20 anos entre 1995 e 2015, alcançou-se a maior redução relativa da pobreza e da indigência de nossa História”. O que nos cabe, diz Ricupero, é identificar razões para confiar que o futuro será melhor que o presente e superior aos melhores momentos do passado. No campo das ideias, lamenta-se, “os sinais não são encorajadores”, referindo-se à “versão brasileira requentada de fenômeno mundial, a seita de extrema-direita que mistura ideólogos pós-fascistas com iluminados, astrólogos, apocalípticos e lunáticos de todo o gênero”.

O padrão se reproduzirá por muito tempo, analisa, se não for rompida a polarização entre extrema-direita e PT, “com o medo empurrando os segmentos médios na direção da direita”. [na direita, está a segurança, a confiança,  rumo firme, o norte - não o do Ricupero, que é ' o que é bom a gente divulga o que é ruim esconde.] Superar o medo requer “a aliança entre o centro socialmente progressista e a esquerda democraticamente renovada”. Na sua visão, não haverá paz, estabilidade, retomada do desenvolvimento sem a integração progressiva dos marginalizados, que classifica de “novo ator”, como cidadão, produtor, consumidor e agente de cultura. “Depois desta hora do poder das trevas, impõe-se dar sentido à História, recuperar o sentimento de que a vida humana no Brasil não é absurda e insensata”.
 
Merval Pereira, jornalista - O Globo
 
 

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Minoria equivocada - Merval Pereira

O Globo

Embora na teoria o governo não tenha uma base parlamentar homogênea, na prática todos os projetos econômicos enviados ao Congresso estão sendo aprovados com facilidade

Embora na teoria o governo não tenha uma base parlamentar homogênea, na prática todos os projetos econômicos enviados ao Congresso estão sendo aprovados com facilidade. Sinal de que a maioria, de tendência liberal, de centro-direita, pode ajudar ainda muito o governo, apesar do próprio presidente,  das suas atitudes e pensamentos.  Lula e Dilma fizeram maiorias defensivas, sem critérios programáticos, que na teoria existiam para evitar uma ação  parlamentar contra eles. Não deu certo para Dilma. Bolsonaro nem isso tem. Devido a ter uma minoria na Câmara, ao extremismo ideológico, e à retórica agressiva e frequentemente indecorosa, tem pouca probabilidade de montar um governo de coalizão, e nem quer, pois identifica nele, equivocadamente, a gênese da corrupção politica no Congresso.Confunde o uso indevido de uma aliança politica com o instrumento de governança na democracia.

Já nos projetos referentes a valores e a comportamentos da sociedade, os ruídos são grandes. Ao querer dobrar o Congresso, logo no início de seu governo, acusando os parlamentares de só agirem em troca de favores, Bolsonaro criou uma clima inamistoso mas, ao mesmo tempo, estimulou um sentimento de autodefesa dos deputados e senadores que serviu para revigorar a atividade parlamentar. Quem entendeu o momento foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que partiu para o confronto com o Executivo na defesa da corporação, ao mesmo tempo em que convenceu seus pares de que a única resposta possível às afrontas do presidente seria demonstrar que eles assumiriam o controle das reformas estruturais da economia.

A tendência liberal da maioria facilitou essa ação política, mesmo quando o ministro da Economia Paulo Guedes teve atritos com Maia e deputados, em depoimentos conflituosos nas Comissões do Congresso e declarações que criaram ruídos na relação entre Executivo e Legislativo.  O próprio Bolsonaro conseguiu estressar a relação com os políticos através da manipulação das redes sociais, ao ponto de manifestações populares colocarem os presidentes da Câmara e do Supremo Tribunal Federal como alvos centrais dos protestos.  

Assim como seu eleitorado extremista é minoritário, também os deputados e senadores que o apoiam não são, em sua maioria, de extrema-direita. Os diversos tópicos generalistas que tomam conta da agenda presidencial, como radares nas estradas, armas para os cidadãos, fim de obrigatoriedades diversas de controle, reservas indígenas, não encontram no Congresso, nem na população, o mesmo apoio que têm no nicho eleitoral mais radical de seus eleitores de primeira hora.
Mas, os cientistas políticos sabem, governos minoritários são mais vulneráveis, sujeitos a análises mais aprofundadas por parte dos eleitores e do Legislativo. 

Bolsonaro tem se utilizado dos poderes que a Constituição outorga no presidencialismo ao chefe do Executivo. Usa e abusa de medidas provisórias, pede urgência para o que não tem, extingue cargos e conselhos que não estão ao seu alcance, forca a saída de autoridades com mandatos.  Esses abusos de autoridade estão sendo contidos pelo próprio Legislativo, e pelo Judiciário. Os parâmetros tradicionais para medir a capacidade de gestão do presidente da República foram superados, até o momento, pela maneira de governar de Bolsonaro.  Sem uma coalizão formal, não há, por exemplo, como medir a força de seu partido, o PSL, no ministério, pois simplesmente esse não é um critério levado em conta. O DEM deu mais ministros que o PSL, que tem a segunda bancada da Câmara. 

Mas a legenda pela qual o presidente disputou a eleição não é um partido homogêneo, é um amontoado de políticos oportunistas que surfaram na onda Bolsonaro, ele mesmo um carona de luxo apenas para disputar a eleição.

Só agora é que o presidente esta exigindo fidelidade ideológica a seus membros. O grupo que realmente representa um poder majoritário na presidência é o dos militares, mesmo que vários deles já tenham sido defenestrados, por divergências conceituais e mesmo ideológicas com o presidente.  À medida que governa para poucos e radicais, tem uma reduzida visão da necessidade de uma aliança ampla com a sociedade. Exclui de sua ação governamental as minorias, que considera que devem se curvar às maiorias, uma visão nada democrática da arte de governar. [irônico é que o mais criticado em Bolsonaro - considerar que as minorias devem se curvar às maiorias - é o praticado pela democracia, a começar que o presidente eleito tem que ter a MAIORIA dos votos e que o candidato da MINORIA é o derrotado.]


Merval Pereira, jornalista - O Globo




sexta-feira, 24 de maio de 2019

A política das redes sociais

“Os políticos que emergiram das redes sociais, inclusive presidente Jair Bolsonaro, também estão passando pelo aprendizado de ter que lidar com a política institucional

Foi-se a época em que a política era monopólio dos políticos, dos militares e dos diplomatas. Na política moderna, principalmente depois da II Guerra Mundial, passou a ser também o universo de atuação da burocracia e dos cidadãos, em razão da ampliação da presença do Estado na vida da sociedade e do surgimento de partidos de massas de caráter democrático. Eram esses os grandes atores da democracia representativa, que parecia consolidada após o fim da União Soviética e o colapso do chamado socialismo no Leste Europeu, até que a crise fiscal colocou em xeque as políticas social-democratas e social-liberais e os partidos políticos e a imprensa foram ultrapassados pelas redes sociais na formação da opinião pública.


O Brasil não está fora desse contexto, muito pelo contrário. O que vem acontecendo no governo Bolsonaro, a rigor, é anterior à sua eleição e faz parte desse processo, assim como foi a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a vitória do Brexit na Inglaterra, a emergência de lideranças populistas em praticamente todos os países da Europa e a eleição de governos de extrema-direita em alguns países do Ocidente. O que acontece, em perspectiva, é uma corrida para reinventar o Estado e dar conta das mudanças provocadas pela globalização e o multilateralismo, nas quais as democracias do Ocidente enfrentam mais dificuldades do que os países autoritários do Oriente que estão se modernizando mais rapidamente.

Estados Unidos e China protagonizam essa corrida. Nas últimas décadas, houve uma mudança de eixo dos fluxos de comércio mundial, que se deslocaram do Atlântico para o Pacífico, o palco principal da guerra comercial entre essas duas potências econômicas, que lideram a economia do planeta. No passado, essa disputa se deu entre a Inglaterra e a Alemanha, de igual maneira, uma potência marítima e outra continental, provocando duas guerras mundiais. Espera-se que agora ocorra num ambiente de paz. O Brasil foi arrastado para essa disputa de maneira esquizofrênica, porque optou por um alinhamento automático com os Estados Unidos ao mesmo tempo em que não pode abdicar da China como principal parceira comercial. O mais correto seria tirar partido dessa disputa.

A eleição de Trump, com sua guinada nacionalista na política externa, nacionalista na economia e ultraconservadora nos costumes, foi uma resposta dos eleitores norte-americanos mais conservadores, ao desemprego e à grande massa de imigrantes latinos. De certa forma, os indicadores econômicos dos Estados Unidos mostram que a guerra comercial de Trump com a China e a contenção da chegada de imigrantes estão rendendo dividendos econômicos favoráveis, revertendo as altas taxas de desemprego. Não se deve subestimar a influência que isso vem tendo na política do Ocidente. Aqui no Brasil, a eleição de Bolsonaro, sua política econômica ultraliberal e conservadorismo radical nos costumes seguem o exemplo de Trump.

Volatilidade
É aí que entra a política nas redes sociais. Sem elas, Trump não seria sequer candidato do Partido Republicano. De igual maneira, Bolsonaro não teria sido eleito presidente da República. As redes adquiriram tal protagonismo que já não se pode fazer política como antigamente, mesmo fora dos processos eleitorais. Isso vale sobretudo para os políticos, cuja relação com eleitores mudou radicalmente. O tsunami que varreu boa parte do Congresso mudou radicalmente o modo de atuar no parlamento brasileiro. Basta ver as “lives” que os deputados eleitos pelas redes sociais fazem constantemente no próprio plenário da Câmara e do Senado, com as transmissões ao vivo de sua atuação e narrativas “customizadas” sobre as sessões legislativas, com posts e vídeos com a interpretação de cada um sobre o que acontece no Congresso em tempo real.

A relação entre o Executivo e os demais poderes, inclusive o Judiciário, cujo vértice, o Supremo Tribunal Federal (STF), também é midiático, mudou significativamente, em meio a disputas pela afirmação de cada poder. Tudo mediado pelas redes sociais, nas quais partidos, grupos de pressão e cidadãos influenciam o posicionamento de cada parlamentar nas votações. Mesmo os meios de comunicação de massa tradicionais, inclusive a televisão, estão sendo obrigados a serem cada vez mais interativos e presentes nas redes sociais, para manterem seus públicos e influenciarem os novos atores. Os políticos tradicionais que sobreviveram ao tsunami de 2018 estão aprendendo a lidar com a nova situação e repensando sua forma de atuação, levados pelo instinto de sobrevivência e pela nova experiência que estão passando no próprio Congresso.

Entretanto, os políticos que emergiram das redes sociais, como o próprio presidente Jair Bolsonaro, também estão passando pelo aprendizado de ter que lidar com a política institucional, com as regras do jogo democrático e a dura realidade da distância existente entre o mundo virtual de redes sociais e a capacidade de dar respostas efetivas e velozes à crise do sistema representativo e do modelo de capitalismo de Estado colapsado pela crise fiscal. No caso do presidente da República, o caráter bonapartista de seu governo não o coloca acima de classes sociais bem definidas e partidos políticos, como no modelo clássico de “regime do sabre”, mas numa espécie de tapete voador ao sabor das ondas telemáticas de uma “sociedade líquida”, com risco permanente de volatilização da própria imagem. E aí que todos os atores em cena — políticos, militares, diplomatas, burocratas, formadores de opinião, influenciadores digitais e cidadãos — estão desafiados a encontrar saídas robustas para os impasses que se apresentam à democracia brasileira.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

domingo, 19 de maio de 2019

Tudo ou nada já?

Medir forças nas ruas é mais uma prova da completa desconexão com a realidade e pode ampliar desgaste do governo.

O governo tem menos de cinco meses, mas os lances da semana que passou, a pior para Jair Bolsonaro desde a posse, mostram que flerta perigosamente com o tudo ou nada, ao estressar as relações institucionais ao mesmo tempo em que tenta medir forças com a oposição nas ruas.  Num intervalo de sete dias, o presidente:  
1) disse que fez um acordo com Sérgio Moro para nomeá-lo para o STF, para em seguida recuar; 
2) previu um tsumani; 
3) viu as investigações sobre o filho Flávio avançarem substancialmente e atingirem o resto do clã político, e reagiu a isso na base da valentia de pai; 
4) minimizou os protestos contra a Educação e xingou seus participantes; 
5) se enfiou numa viagem caricata a uma cidade desimportante para uma agenda irrelevante para a qual não havia sido convidado; e, 
6) terminou a semana compartilhando corrente pelo WhatsApp com um texto que diz que sua própria pauta fracassou e que o País é ingovernável. É preciso um talento muito específico para gastar tanta energia assim em um conjunto tão desastroso de ações. [a semana que passou, não foi a pior do governo Bolsonaro, apesar de alguns deslizes, corretamente apontados pela autora deste post, tivemos um grande evento: o silêncio, pelo menos até o presente momento, do 'aiatolá de Virgínia' que, provavelmente, foi advertido pelo presidente Bolsonaro do mal que seus impropérios, palavrões e outras sandices estavam fazendo próprio governo Bolsonaro, ao Brasil e milhões de brasileiros; 

os filhos do presidente deram uma aliviada, que os Bolsonaristas, autênticos - só permitido aos brasileiros que amam a Pátria Amada, Brasil  - esperam permaneça.

Os pontos de 1 a 6 foram do próprio presidente e podem ser debitados a pressa, ou mesmo mania, do presidente Bolsonaro, de falar sem pensar - esquecendo que cada palavra que ele diz, grande parte da imprensa analisa sempre procurando usar contra o presidente.
O número 1, está dentro da pressa de emitir opinião sem lembrar que na interpretação a tendencia é usar o resultado contra quem a proferiu; o 2 foi mais um jogo de palavra, também sem medir as dezenas de interpretações - na maior parte desfavoráveis ao autor da 'previsão'; o  3, vai pelo mesmo caminho, assunto que deveria ser obsequiosidade pelo presidente com seu silêncio; o 4 expressa fato  maximizado na quantidade de participantes anti Bolsonaro e a mesma conduta foi utilizada na interpretação, divulgação de alguns comentários feitos pelo presidente;
o 5, realmente é indefensável, o presidente pisoteou a autoestima dos brasileiros e somou mais uma 'puxada de saco' a cometida quando liberou o ingresso de americanos  em nosso território sem visto - sem a reciprocidade necessária; o 6,  não pensou nas interpretações do que estava postando e do alcance de uma postagem de sua autoria.],

Enquanto Bolsonaro estava em Dallas dando alguns dos tropeços listados acima, seus líderes no Congresso batiam cabeça e complicavam a já delicada situação do governo no Parlamento. Alguns deles decidiram que iam manter o
Coaf nas mãos de Moro na marra, no gogó nas redes sociais. O resultado foi que o Centrão sentou em cima das medidas provisórias que estão prestes a caducar, entre elas a que reestrutura o governo nos moldes desejados por Bolsonaro.  O presidente, seus aliados mais ideológicos, os seguidores fanatizados das redes e mesmo alguns ministros bem intencionados, mas não versados nas nuances da política, acusam a imprensa de cobrar duramente o governo e não denunciar o que seria a chantagem do Parlamento.

Aliados de Bolsonaro convocam, com o beneplácito da primeira-família e de assessores cruzados com assento no Planalto, o “homem comum” para ir às ruas se insurgir contra o Legislativo, o Supremo ou quem mais ousar se interpor no caminho das pretensões de Bolsonaro – como se o simples fato de ele ter vencido as eleições lhe outorgasse carta branca para agir à revelia dos demais Poderes e sobrepujando uma parcela significativa da sociedade que não concorda com essa pauta.

Acontece que medir forças nas ruas tendo como currículo de cinco meses de governo investidas sistemáticas contra educação, cultura, diversidade social, meio ambiente e direitos humanos, baseado na crença de que o Brasil se transformou subitamente num País de extrema-direita e que todos esses assuntos são de interesse apenas da esquerda, é uma prova a mais de completa desconexão com a realidade, e pode fazer com que o desgaste do governo escale alguns degraus rapidamente. [não ocorreu investida contra a Educação, visto que a contingenciação ser prática corriqueira de todos os governos, apenas foi deturpada, assunto já sobejamente explicado, comentado;

cultura vai pelo mesmo caminho da educação e por sua menor importância em relação a Educação, o contingenciamento pode ir ao limite máximo; 
Meio Ambiente, está dentro do normal a um contingenciamento e pode ser compensado na primeira oportunidade;
direitos humanos, tem que ser priorizado os DIREITOS HUMANOS dos HUMANOS DIREITOS e reduzido ao mínimo do mínimo os dos MANOS DIREITOS; 
diversidade social é algo que não tem justificativa sequer ser pensado - aliás, se soma ao item anterior e a limitação dos dois pontos é algo esperado por quase 60.000.000 de brasileiros.]
Quando aponta que a superação da grave crise do País depende de equilíbrio institucional, da aprovação das reformas estruturantes, da abertura econômica e da segurança jurídica,[a falta de segurança jurídica não pode ser atribuída ao Poder Executivo e sim, por estranho que possa parecer, o vai e vem presente em várias decisões judiciais, especialmente pela instância máxima do Poder Judiciário.] a imprensa não está apostando na manutenção do establishment corrupto e investindo contra os homens de bem, como devaneiam os neocruzados de Twitter.

Está apenas constatando o óbvio: presidentes que, por teimosia e péssimo assessoramento, optaram por esticar a corda com as instituições e governar no grito se deram mal. Uns tentaram insuflar o “povo" a ir às ruas em sua defesa (Collor, 1992), Outros denunciaram forças ocultas que conspiravam contra o bem (Jânio, 1961). Houve ainda quem quisesse duelar com o Parlamento suprimindo a matemática elementar (Dilma, 2016).

É muito cedo para Bolsonaro enveredar pelo tudo ou nada. A insistência nesse caminho pode ter o efeito de evidenciar um desgaste que cresce a cada dia – é sempre bom repetir – por iniciativa exclusiva do próprio governo. Medir forças com a oposição nas ruas com cinco meses de governo é aposta arriscada.