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sábado, 28 de novembro de 2020

Na reta final do segundo turno, hackers seguem com ataques contra o Judiciário

Criminosos da internet voltam a atacar o Judiciário, desta vez, com invasão ao TRF1. Alvo de atentados cibernéticos no primeiro turno das eleições municipais, TSE concentra-se na segurança do sistema para a segunda rodada do pleito, que será realizada amanhã

Mesmo com todos os esforços de técnicos e especialistas, o Judiciário brasileiro segue sob ataques de hackers. A onda de atentados cibernéticos começou em 4 de novembro, contra o sistema do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Uma semana depois, foi a vez do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). Em 15 de novembro, atingiu, também, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — em plena apuração dos votos do primeiro turno das eleições municipais. E, ontem, mirou o Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1).
 
Com o segundo turno das eleições marcados para amanhã, o TSE procurou se resguardar de novas investidas e de suspeitas de irregularidades no processo. Segundo a Corte, nos últimos dias, foram realizados testes adicionais no computador e nos sistemas que realizam a totalização de votos e a divulgação de resultados de todo o país. “A avaliação da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE é de que o sistema está devidamente preparado para a realização exitosa do segundo turno”, diz nota do site da Corte. “Tribunal Superior Eleitoral reitera o compromisso com a transparência e com a segurança do processo eleitoral brasileiro.”

No primeiro turno, ataques cibernéticos contra o TSE causaram preocupação, e um problema na inteligência artificial do computador que registra a totalização dos votos ocasionou atraso na divulgação dos resultados. O site de divulgação sofreu sucessivos ataques, registrando acessos robóticos que tentaram sobrecarregar e tirar do ar o endereço eletrônico.

Um dos sistemas que ficou inoperante no primeiro turno foi o que hospeda o e-título, aplicativo que permite ao eleitor votar sem precisar apresentar documento físico. Além da facilidade, a medida tem como objetivo reduzir o contato entre eleitores e mesários, dificultando a infecção pelo novo coronavírus.

Para evitar novas falhas, desta vez, o e-título só pode ser baixado até as 23h59 de hoje, ou seja, ficará indisponível para download no dia da votação. De acordo com o TSE, “a atualização dos dados até sábado (hoje) visa garantir o uso das principais funcionalidades do aplicativo no domingo, incluindo a localização do seu local de votação e a possibilidade de justificar a ausência no caso de não conseguir comparecer para votar”. Na segunda-feira, o sistema volta ao normal, e quem precisar poderá fazer as justificativas, caso não tenha comparecido ao pleito.

Correio Braziliense, MATÉRIA COMPLETA

 

 

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Anvisa, Butantan e Bolsonaro erraram na suspensão dos testes da CoronaVac, diz epidemiologista

BBC News 

A terça-feira (10/11) foi tomada por entrevistas, manifestações e notícias bombásticas envolvendo a CoronaVac, a candidata à vacina contra a covid-19 que está sendo testada pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantan, em São Paulo. 
[vamos organizar essa bagunça = nos parece que Anvisa e Butantan estão em posições opostas; ambos erraram? 
Rede, use sua experiência e  ajuíze uma ação para o Supremo decidir com quem está a razão.]
 

'Pode até estar claro que óbito não foi por conta do imunizante. Porém, essa decisão não é dos cientistas que trabalham no ensaio clínico', diz especialista do Instituto Sabin de Vacinas nos EUA sobre paralisação de testes de vacina.


Histórias
Esse imbróglio começou na noite de segunda-feira (09/11), quando saíram as primeiras informações de que os testes clínicos de fase 3 (os últimos antes da aprovação pelas agências regulatórias) seriam paralisados após a notificação de um "evento adverso grave não esperado". Pelas informações divulgadas até o momento, o "evento" seria a morte de um voluntário que participava do estudo, no dia 29 de outubro. A causa parece ter sido suicídio ou overdose.

"... Mas será que é preciso ter esse cuidado todo, mesmo se os especialistas sabiam que o motivo da morte foi suicídio ou overdose? A resposta é sim."Pode até estar muito claro que aquele óbito não foi por conta do imunizante. Porém, essa decisão não é dos cientistas que trabalham no ensaio clínico, mas, sim, do comitê que faz o monitoramento dos dados e da segurança", ... "

Ao longo do dia, todos os atores envolvidos no assunto se manifestaram por meio de comunicados ou coletivas de imprensa. Cada um explicou sua versão e aproveitou o espaço para tecer críticas sobre a atuação das outras entidades.De acordo com a médica epidemiologista Denise Garrett, que trabalhou mais de 23 anos no CDC foram cometidos muitas falhas em todo esse processo.

 "Na interrupção dos testes da CoronaVac, Anvisa, Butantan e Bolsonaro erraram", avalia. A especialista é vice-presidente dos Programas de Epideomologia Aplicada do Instituto Sabin de Vacinas — entidade sem fins lucrativos baseada nos Estados Unidos que trabalha para expandir a imunização a todos os cantos do mundo — e trabalhou mais de 23 anos nos CDC, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, ligados ao Departamento de Saúde do país.

A especialista é vice-presidente dos Programas de Epistemologia Aplicada do Instituto Sabin de Vacinas — entidade sem fins lucrativos baseada nos Estados Unidos que trabalha para expandir a imunização a todos os cantos do mundo — e trabalhou mais de 23 anos nos CDC, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, ligados ao Departamento de Saúde do país.

As regras do jogo
A notificação de eventos adversos é algo relativamente comum durante o processo de desenvolvimento de vacinas. Afinal, os testes são feitos justamente para ver se o produto é eficaz e não produz efeitos colaterais indesejáveis antes de ser oferecido em larga escala. Depois de um tempo, quando as autoridades se certificam de que não havia problemas graves, esses estudos puderam ser retomados e seguem em curso atualmente.

Mas como acontece essa avaliação? Geralmente, os responsáveis pelo acompanhamento dos testes clínicos fazem relatórios e informam os efeitos colaterais que aparecem pelo caminho. Se algo mais sério acontece com algum voluntário, como sequelas, incapacidade ou morte, os cientistas precisam notificar as agências regulatórias, que acompanham e aprovam todo o processo. No Brasil, essa entidade é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Após essa comunicação, que deve acontecer em até sete ou 15 dias corridos, o estudo tem que ser paralisado até que se saiba de verdade o que aconteceu. 
 O voluntário que teve efeitos colaterais pertencia ao grupo que tomou a vacina mesmo? 
Ou ele recebeu placebo (substância sem nenhum efeito)? 
Essa complicação tem algo a ver com o imunizante? 
Ou há alguma outra explicação para o seu aparecimento?[esta pergunta e a anterior só podem ser respondidas após  autópsia realizada pelo IML - notícia da mídia ou palpite de médico que não acompanhava o estado de saúde da vítima (morte súbita em pessoa saudável) não substituem o laudo do IML.]

Essas perguntas são esclarecidas e, depois, avaliadas por um comitê de especialistas independente, que não está envolvido diretamente com a vacina em questão. Esse grupo passa as orientações e os pareceres de volta à agência regulatória, que toma a sua decisão. Se, durante essa investigação, ficar comprovado que a vacina não teve nada a ver com o problema, a pesquisa pode ser liberada. Caso a culpa seja mesmo do imunizante, daí a situação fica bem mais complicada.

Sucessão de mancadas
No imbróglio da CoronaVac, o primeiro erro parece ter sido do Instituto Butantan. Isso porque, de acordo com as regras, a morte de um voluntário deve parar os testes imediatamente (ou com relativa rapidez). E essa decisão não deve ser tomada pelos responsáveis pelo estudo, mas pela agência regulatória e pelo comitê independente de avaliação.

Segundo uma resolução de 2015 da Anvisa, os investigadores do estudo precisam comunicar as entidades responsáveis pelas vacinas em até 24 horas. Essas instituições, por sua vez, devem notificar a agência regulatória em oito ou 15 dias, a depender do tipo do evento que foi observado. Pelas últimas notícias, o Instituto Butantan fez a notificação à Anvisa dentro do prazo, no dia 6 de outubro. Porém, a agência disse que seu sistema online estava sofrendo ataques de hackers e que, por problemas técnicos, só recebeu a comunicação no início da noite do dia 9 de novembro, segunda-feira passada.

Horas depois, a Anvisa tomou a decisão de suspender os ensaios clínicos. Mas será que é preciso ter esse cuidado todo, mesmo se os especialistas sabiam que o motivo da morte foi suicídio ou overdose? A resposta é sim.

"Pode até estar muito claro que aquele óbito não foi por conta do imunizante. Porém, essa decisão não é dos cientistas que trabalham no ensaio clínico, mas, sim, do comitê que faz o monitoramento dos dados e da segurança", explica Garrett.

Fatos e versões
Em entrevista coletiva realizada na terça-feira, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, deu seu ponto de vista. Ele disse que uma paralisação como essa causa sofrimento, dor e insegurança nos voluntários. "Do ponto de vista clínico do caso, é impossível que haja relação desse evento [a morte] com a vacina, é impossível".[o diretordo Butantan é um cabo eleitoral do Doria e em seus devaneios de ser presidente do Brasil, deve ter prometido ao Covas uma assessoria em alguma subsecretaria do Ministério da Saúde.]

Um pouco mais tarde, foi a vez da Anvisa apresentar seus argumentos. Gustavo Mendes, gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da autarquia, afirmou que a suspensão será mantida até que sejam apresentados dados de que está tudo bem com a pesquisa da CoronaVac.  "Vamos usar do princípio da cautela, para que a vacina seja disponibilizada à população quando tivermos certeza de sua segurança", discursou.

Os próximos passos
Diante de toda a disputa, é esperado que os dados sejam organizados para que o comitê independente de avaliadores dê um parecer para a continuidade (ou não) dos estudos com a CoronaVac.

Os estudos clínicos de fase 3 dessa candidata à vacina começaram no dia 21 de julho e pretendem incluir mais de 13 mil voluntários no Brasil. Ela também é testada atualmente na Turquia e na Indonésia.O imunizante é feito a partir do vírus inativado e precisa da aplicação de duas doses com um intervalo de 14 dias entre elas.

BBC News - Brasil

 

sábado, 18 de julho de 2020

Depois de servidores e militares, hackers fraudam o auxílio emergencial [empresários e políticos também fraudaram]

Correio Braziliense

Ação criminosa está sendo investigada pela Polícia Federal. Presidente da Caixa garantiu que volume de desvios é pequeno. Socorro aos mais necessitados já foi fraudado também por servidores, militares e até empresários 

As fraudes no auxílio emergencial não pararam no pagamento indevido dos R$ 600 para militares, servidores públicos e brasileiros de classe média. Os hackers também encontraram uma forma de desviar o auxílio dos mais vulneráveis por meio do aplicativo Caixa Tem. A ação criminosa foi revelada, ontem, pelo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e está sendo investigada pelo banco em parceria com a Polícia Federal (PF). 
[Em nome da verdade, destacamos:
- as fraudes e os atrasos,  continuam: a 'brilhante' ideia de transferir compulsoriamente os depósitos da segunda parcela para a conta POUPANÇA DIGITAL, para todos os necessitados - desprezando as contas convencionais em que foram depositados os valores da primeira parcela - além de gerar novos atrasos (muitos que receberam a primeira parcela em conta convencional não receberam a segunda na poupança digital e nem na conta convencional e ficaram sem opção para reclamar.
Além do que, as duas opções de contas para depósito e a inexistência de um canal para reclamação facilitam a ação dos fraudadores;
- os militares, eventualmente, envolvidos no recebimento indevido do auxílio são, majoritariamente, conscritos; e,
- muitos empresários, alguns de grande porte e políticos participaram.
Aliás, é uma incompetência enorme na fiscalização da concessão do beneficio que políticos tenham conseguido fraudar usando o próprio nome.]

Segundo o presidente da Caixa, hackers invadiram algumas das contas sociais digitais que foram abertas para os brasileiros de baixa renda receberem o auxílio emergencial por meio do aplicativo. Dessa forma, embolsaram os R$ 600 de alguns beneficiários do auxílio emergencial. “Alguns bandidos estão desviando dinheiro da população mais carente”, revelou Pedro Guimarães, após uma “reunião longa” da diretoria da Caixa com a Polícia Federal.

Guimarães não revelou quantas invasões já foram constatadas pela Caixa, mas garantiu que o volume de desvios é pequeno em relação ao universo de beneficiários do auxílio emergencial. Quando o Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que cerca de 620 mil brasileiros que não tinham direito aos R$ 600 acabaram recebendo mais de R$ 1 bilhão em benefícios, contudo, o governo também disse que a taxa de inconformidades era pequena. Por isso, Guimarães reconheceu que, como o universo de beneficiários do auxílio emergencial conta com mais de 65 milhões de brasileiros, as fraudes acabaram causando “bastante barulho”.

O executivo garantiu que a Caixa já está trabalhando para interromper os desvios e identificar os hackers. Por isso, bloqueou “algumas contas usadas por esses bandidos”, “invadiu grupos de WhatsApp de hackers” e acionou a PF. “Já temos bastante coisa e vamos passar para a Polícia Federal”, avisou Guimarães, garantindo que irá “às últimas consequências em reação a isso”. 

Problemas O aplicativo Caixa Tem é usado pelos brasileiros para movimentar os R$ 600, seja por meio do pagamento de contas ou da realização de compras em débito, até que o saque em espécie é autorizado pelo governo. E apresentou uma série de problemas desde o início do programa. A principal queixa dos usuários era sobre as instabilidades do aplicativo, o se explicava pelo alto volume de acessos ao app, segundo a Caixa. Mas, nas últimas semanas, muitos também reclamaram que suas contas haviam sido bloqueadas ou zeradas sem que tivessem gasto o dinheiro que estava depositado ali. A Caixa explicou que esses últimos problemas têm relação com a ação dos hackers.
“Parte das questões, dos problemas do Caixa Tem, são porque identificamos contas utilizadas por hackers que estão fazendo bastante barulho. Não posso falar mais. Mas seremos extremamente firmes, porque roubar dinheiro do pobre em um momento de pandemia... Poucas coisas são mais graves do que isso”, afirmou Guimarães.

O presidente da Caixa ainda reconheceu que algumas contas “de pessoas corretas e honestas” acabaram sendo bloqueadas indevidamente nessa tentativa do banco de coibir os desvios dos R$ 600. Mas garantiu que essas pessoas não serão prejudicadas. “Algumas contas foram bloqueadas por suspeita de fraude. Em algumas já verificamos que houve fraude, sim. Mas as que não são fraude serão liberadas de novo. Sempre que for verificado isso, voltaremos atrás e pagaremos”, prometeu.

Correio Braziliense


quinta-feira, 23 de abril de 2020

Sim, voltaremos às ruas - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 23 de abril de 2020


O comércio eletrônico (E-commerce) será o grande vencedor, assinala a revista Economist, numa análise do que virá depois da pandemia. Cita números: enquanto shoppings, redes de lojas e restaurantes demitem, a Amazon contratou 100 mil pessoas em março e mais 75 mil neste mês. A um dado momento, teve que limitar o movimento para reforçar e adequar sua infraestrutura. Há movimentos semelhantes no Brasil, como a decisão de Luiza Trajano de abrir seu site para outras empresas, com o lançamento da enorme Magalu.

Faz sentido. Na verdade, o comércio já estava nesse caminho das vendas on line. Mais ainda, toda a economia mundial – com alguns países mais à frente, outros atrás – já avançava para a digitalização. A pandemia deu mais urgência a esse movimento. Na indústria, pequenas empresas têm feito coisa extraordinárias com as impressoras 3D. As operadoras de telefonia correm para aperfeiçoar os instrumentos de comunicação on line, de simples conversas entre pessoas ansiosas com o isolamento, até conferências de chefes de estado. Nós mesmos, jornalistas, estamos diretos no on line.

Dia desses, um colega comentou: quando isso tudo voltar ao normal, nunca mais teremos aquelas redações. Aliás, já estavam diminuindo exatamente pelo uso de mais tecnologia. Há estúdios de televisão que funcionam com um único operador comandando câmeras e luzes. Muita gente acha que algo parecido ocorrerá no varejo físico. Grandes lojas, como grandes redações, estariam condenadas. A loja física funcionaria como um pequeno mostruário, onde o freguês poderia ver, manusear a coisa, sentir – seja lá o que isso signifique.

Sendo verdade, isso muda completamente o quadro de empregos. Haverá menos vagas nas lojas físicas e muito, mas muito mais nos centros de operação on line e na infraestrutura de distribuição. Estas últimas vagas exigirão trabalhadores mais educados, o que, de sua vez, exigirá escolas mais eficientes. E aqui está um grande problema para o Brasil, com seu sistema de ensino muito atrasado. As lojas físicas devem ser menores e mais, digamos, amigáveis, simpáticas, um bom lugar para se dar uma olhada. Sem aglomerações, o mesmo valendo para restaurantes.

Companhias aéreas, nessa linha, serão perdedoras. As viagens de negócios serão reduzidas ao extremo, dada a eficiência das reuniões on line. De novo, essa já era uma tendência, mas enfrentava muita resistência. Muitas pessoas não confiavam nas compras on line. Muitos executivos desconfiavam das conferências eletrônicas – temiam hackers, vazamento de segredos. 
Se não sumiram, esses temores se reduziram bastante.
Então, continuamos mais em casa do que nas ruas, nos shoppings, nos escritórios?
Sei não.

Digo por mim. Assim que permitirem, volto para a redação, um ambiente animado onde transitam ideias, novidades e as melhores piadas do mundo. Muita gente chegou a conclusões parecidas: o escritório não é só aquela chatice. A caminhada nos shoppings não é aquele horror. Um cineminha, então, em boa companhia. E uma reunião de negócios em Paris não é um sacrifício. Vem daí a pressão difusa que se nota no mundo todo pelo relaxamento do confinamento. Governantes estão dizendo a seus cidadãos algo assim: calma, pessoal, daqui a pouco começamos a nos encontrar de novo por aí.

Não digo que vamos jogar no lixo toda a parafernália eletrônica, desligar os sistemas de comunicação. No nosso caso, dos jornalistas, haverá numerosas ocasiões em que será mais eficiente produzir longe das redações. Não raro, inevitável. Mas ao menos uma passadinha para saber das últimas, será um grande prazer. Enfim, mudaremos, mas a vida dos encontros sociais sobreviverá. Assim como o mundo passará por mais esta, assim como, só para provocar, o modo de produção capitalista. Na crise de 2008/09, sobraram vaticínios desse tipo: o capitalismo morreu.

Agora, dizem que não sobreviverá ao novo coronavírus. Passará. Mas como já ocorreu tantas vezes na história, teremos mais um momento de demanda pelo governo, tão expandido na crise. Mas logo se perceberá, de novo, que falhas de governo podem ser tão ou mais danosas que falhas de mercado.
A ver.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Papai, quero ser juiz do Supremo - Folha de S. Paulo

Vinicius Mota

Quem tem mais poder: Super-Homem ou um ministro do STF do Brasil?

Quem tem mais poder: Super-Homem, Thor, Mulher Maravillha, Aquaman ou um ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil? A presidente da República nomeia um político para o ministério, mas um juiz da corte desfaz o ato numa canetada. O Congresso aprova um projeto nas duas Casas, arregimentando maiorias, e o chefe de Estado o sanciona, mas o super-herói da capa preta é capaz de suspender a norma numa fração de segundo. Sozinho. E que tal impedir jornalistas de entrevistar um político preso? Ele pode. Sentar sobre um processo o quanto quiser, até que o clima esteja bom para o resultado que deseja? Pode. Inventar o impeachment sem perda de direitos? Sim, senhor.

O herói plenipotenciário também excele na conversa e tentará nos convencer de que nunca age por iniciativa própria. Só quando provocado. Não tem faltado provocador sobre tudo quanto é assunto, no entanto. De uns tempos para cá, apareceu um novo superpoder, o da autoprovocação. O presidente da Casa quis investigar fake news contra os membros da corte, mas não confiava na via normal de acionar o Ministério Público. Então designou ele mesmo um colega para tocar o inquérito.

Raios, trovões, tornados e terremotos começam a jorrar do dispositivo, que está para as prerrogativas judiciais quase como as joias do infinito estão para Thanos na série dos Vingadores. Ai de quem publique algo desabonador sobre nossos heróis. Corre o risco de ser censurado. Outra tendência na Liga da Justiça do cerrado é o supremo ministro requisitar informações sensíveis da República que circulem por aí. Foi assim com os arquivos dos hackers da Lava Jato e, agora, com os dados sigilosos de transações financeiras de 600 mil pessoas do antigo Coaf.

É a capacidade de enxergar o que ocorre em outras dimensões, invisíveis ao mortal comum, que se agrega às habilidades do campeão togado. Antigamente meninos sonhavam em ter os poderes do Batman ou do Ultraman. Hoje, data vênia, devem ter outras aspirações de supremacia.
 
Vinicius Mota, colunista -  Folha de S. Paulo
 

domingo, 29 de setembro de 2019

O Titanic Lava Jato - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Gilmar Mendes está na posição de ‘quem ri por último ri melhor’, mas...

Com a sucessão de eventos da semana passada, a Lava Jato começa a ir a pique como o Titanic. Hackers, The Intercept Brasil, Supremo, Congresso, Planalto e, agora, a absurda, inacreditável, chocante história do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que entrou armado na mais alta corte do País para assassinar o ministro Gilmar Mendes. [a listagem neste parágrafo de personagens e fatos, que, podem, produzir o 'naufrágio' da Operação lava Jato, não merece ser vilipendiada com a inclusão do 'the intercept Brasil = intercePTação', tendo como motivo a classificação que a ilustre colunista aplicou ao assunto = 'o escândalo que encolheu'.]

Depois das “flechadas” contra Michel Temer, Janot queria assassinar Gilmar a tiros. Não tirou o mandato de um nem a vida do outro, mas acaba de matar sua própria reputação. Procuradores são servidores públicos e ele não era apenas um procurador qualquer, era o procurador-geral e estava disposto a cometer não um crime qualquer, mas o mais grave de todos: assassinato. E de um ministro do Supremo!

Janot agia como justiceiro, Gilmar era o crítico mais feroz dos personagens, métodos e atos da Lava Jato. O procurador era endeusado e o ministro, trucidado, principalmente nas redes sociais. Mas a gangorra inverteu. Janot cai do pedestal, Gilmar está exultante e a maior operação anticorrupção da história afunda fragorosamente.

Com seu partidarismo, arrogância e falta de limites, Janot foi o pivô da gravação que Joesley Batista, da J&F, fez com o ex-presidente Michel Temer. O resultado foi uma conversa mole, induzida, picada, que não conseguiu derrubar Temer, mas derrubou a reforma da Previdência e a retomada do crescimento. O País pagou um alto preço.

A J&F virou gigante internacional com o ex-presidente Lula, mas Janot e sua turma atiraram em Temer. Como a gravação não ficou forte o suficiente, eles adulteraram a ordem das frases e correram ao STF sem aprofundar as investigações, seguir o dinheiro ou sequer fazer perícia no áudio. E que acordo camarada com os irmãos Batista! Foi, portanto, uma ação política, que fica ainda mais irritante com a confissão de Janot justamente na semana da inversão da gangorra também no STF. [punir Janot pelo que quase fez é impossível - suicídio não é crime, além do mais não ocorreu e do assassinato ele desistiu por sua própria vontade e não por intervenção de terceiros; 
 
mas, talvez seja a hora de punir Janot por usar recursos públicos e o prestígio e autoridade de seu cargo para forjar provas?
também por causar imensos prejuízos ao Brasil com as denúncias falsas?
também de cancelar TODOS os beneficios concedidos aos irmãos Batista - participaram da fabricação de provas falsas, crime posterior a delação premiada que os contemplou com a anistia de centenas de crimes?
Sem contar que o presidente Temer pode, para ficar no mínimo, buscar reparação pelo que sofreu devido as acusações falsas?]

A força-tarefa ganhava todas. Lula, por exemplo, perdia todas. [só que todas as derrotas de Lula foram contestadas pela sua brilhante defesa, em todas as instâncias - incluindo até o Plenário virtual do STF - que foram unânimes em produzir novas derrotas para o presidiário.]   A mudança começou com liminares monocráticas (contra o uso de dados do antigo Coaf e investigações de poderosos pela Receita). Evoluiu com a Segunda Turma derrubando a condenação de Aldemir Bendine, sob o pretexto de que delatados falam após o delator. Por fim, o plenário consolida a guinada, com maioria a favor dessa tese, perfeita para favorecer dezenas de condenados.

A partir daí, é fazer a festa nas próximas votações: prisão após condenação em segunda instância, suspeição do então juiz Sérgio Moro, revisão ou anulação de sentenças e ações contra Lula... Os mocinhos da Lava Jato vão sendo transformados em bandidos, os réus viram vítimas. [será? por enquanto, nada está decidido e a suspeição do juiz Sérgio Moro, até o presente momento, se baseia em 'fake news'.
A maior parte da imprensa considerava Temer culpado ou, na concessão máxima, apresentava as versões de forma a deixar sérias dúvidas sobre a inocência do ex-presidente.
Agora, surge o FATO de que o principal acusador de Temer agia de forma irresponsável, insana.]

Do outro lado da rua, o Congresso aprova uma lei de abuso de autoridade que, apesar de necessária, chega num momento, e num formato, que exala revanche e soa como ameaça a juízes, procuradores, delegados e auditores que ousem mexer com poderosos. [óbvio que a versão resultante da lei de abuso de autoridade, resultante da derrubada parcial dos vetos impostos pelo Presidente da República, pode dificultar o combate à corrupção, mas, todo o processo contra eventual autoridade que praticar, ou for acusada de, abuso de autoridade, terá seu processo analisado pelo Poder Judiciário e a denúncia continua dependendo do MP.
Assim, haverá o respeito ao devido processo legal o que inclui o amplo direito de defesa - não é uma lei excelente, conforme o desejado pelos que combatem à corrupção mas, não chega a ser um golpe de morte no combate àquela prática;
 
pior será o CAOS resultante da INSEGURANÇA JURÍDICA que cairá sobre o Brasil se o Supremo anular processos com-base na filigrana jurídica de prazos diferentes para réus.] 
E no Planalto? O presidente Jair Bolsonaro tenta parecer mero espectador do naufrágio da Lava Jato, mas soltou a voz contra a PF, deixou suas digitais nas mudanças no Coaf (agora UIF) e na Receita Federal e só vetou várias partes da Lei de Abuso de Autoridade para inglês ver. Ou melhor, Moro ver, seus seguidores verem.

Gilmar Mendes passou esses anos todos como Judas nacional, por enfrentar Janot, Dallagnol, Moro e o “lavajatismo”. Hoje, os Judas passam a ser Janot e Dallagnol. Gilmar está na posição de “quem ri por último ri melhor”. Mas... com erros maiores ou menores, personagens maiores ou menores, o fato é que o petrolão existiu, há montanhas de provas da corrupção sistêmica e era preciso dar um basta vigoroso. A Lava Jato afunda, mas a história saberá calibrar erros e acertos, reconhecendo o enorme bem que fez ao País.
 Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo


domingo, 18 de agosto de 2019

Blindagem - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Fim da crise, Bolsonaro, Moro e Valeixo vivem felizes para sempre. Será?

Vamos falar claramente. É preocupante a investida simultânea do presidente Jair Bolsonaro contra a Polícia Federal, a Receita e o Coaf, além de sua estranha relação com Sérgio Moro e a dificuldade para definir o procurador- geral da República. Pior: no caso da PF e da Receita, os alvos imediatos são os superintendentes no Rio, base dos Bolsonaro e assolado por violência, milícias e “rachadinhas”. O presidente diz que “não é um banana” e é ele quem manda. Isso, porém, não significa sair nomeando os homens da PF e da Receita nos Estados, já que são órgãos de investigação, obrigatoriamente autônomos. Bolsonaro escolher pessoalmente os superintendentes no Rio abre a porteira. Os governadores vão querer indicar, políticos e empresários investigados, também e não para mais. O que vai parar são as investigações de corrupção.

[infelizmente, o grande problema do presidente Bolsonaro - fácil de ser resolvido, depende só dele querer -  é falar demais.
Ele precisa tem em conta que o estilo "Geisel" é o mais adequado - decide fazer e faz.

A democracia não obriga o presidente a anunciar com antecedência que vai demitir ou nomear alguém, ou transferir  - o mais acertado é nomear, demitir ou  transferir e que o porta-voz, através de uma nota, divulgue o ocorrido:

- O caso do Coaf, Bolsonaro é acusado de interferir, quando na realidade o grande erro daquele órgão foi vazar investigações - todos parecem esquecer que as ações do Coaf são reservadas (na quase totalidade das vezes, envolvem sigilos - fiscal e/ou bancário, portanto, qualquer vazamento é crime) condição que tornou crime o vazamento das investigações sobre Fabricio Queiroz;

- a troca na PF do Rio era assunto para ser conversado com o ministro da Justiça, o presidente não tinha nada que sair dando explicações, demonstrando autoridade - Geisel demitir o General Sylvio Frota, ministro fortíssimo, e nada falou, nem antes, nem depois. Demitiu o general Hugo Abreu e nada falou.
Autoridade se demonstra, exercendo e não gritando que manda e desmanda.


- já a Receita Federal, quer criar uma nova categoria de servidor público = insubstituível =, o que é um verdadeiro absurdo, NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL - tem um provérbio português que diz: "de pessoas insubstituíveis, os cemitérios estão cheios". 

 ------- ATENÇÃO: antes que interpretem a citação como uma  ameaça, enfatizo que  é apenas e tão somente uma citação de um provérbio,  confirmando uma situação óbvia.-----

O trecho abaixo, de documento enviado ao presidente Bolsonaro, pela cúpula da  Receita, mostra a existência dos 'insubstituíveis'."Acúpula da Receita fez chegar ao presidente Jair Bolsonaro um dossiê que alertasobre o alto risco de substituição, no porto de Itaguaí, do atual delegado daalfândega por um fiscal menos experiente." 
O Marcos Cintra já deveria ter sido demitido, mas, o presidente fica no chove não chove, quando resolver demitir, vai fazer um alarde e complicar uma demissão de um funcionário do terceiro escalão.

Outro detalhe importante: o eleitor brasileiro precisa entender que o cidadão ser um bom animador de auditório, bom cantor, um humorista, um empresário de sucesso  não o torna um excelente presidente - os exemplos são muitos.]  

Justiça se faça. Lula foi investigado, condenado e preso, Dilma foi investigada e caiu por impeachment, mas não ousaram meter a mão na PF. E, quando Temer nomeou Fernando Segovia para a PF por apadrinhamento político, ele não durou três meses na direção geral. Ao anunciar a jornalistas a troca da PF no Rio, com críticas ao superintendente Ricardo Saadi, o presidente acendeu o sinal amarelo. Não era um caso isolado. Ele já vinha investindo contra o Coaf, empurrado para o Banco Central, e contra a Receita, em pé de guerra com a intervenção no Rio e “otras cositas mas”. Na sexta-feira, o secretário da Receita, Marcos Cintra, já teve uma conversa séria com o chefe imediato, Paulo Guedes.



Para se blindar, a PF lançou como sucessor de Saadi o atual superintendente de Pernambuco, Carlos Henrique Souza. Mas Bolsonaro foi à tréplica, anunciando no dia seguinte que quem manda é ele e que seria o superintendente do Amazonas, Alexandre Saraiva. De amarelo, o sinal da PF virou vermelho. O diretor-geral, Maurício Valeixo, e toda a cúpula da PF ameaçaram pedir demissão em bloco e comunicaram ao ministro Sérgio Moro que não havia meio termo: ou vingava o nome indicado pela PF, como sempre foi, ou haveria uma debandada. Valeixo é do Paraná, próximo a Moro, destaque da Lava Jato e principal estrela da PF.



Espremido entre o presidente e a PF, Moro articulou a saída: em nova entrevista, Bolsonaro esqueceu a história do “banana” e disse que, tudo bem, podia ser o delegado do Amazonas, podia ser o de Pernambuco. Bolsonaro escapa de uma crise grave, Moro sobrevive a mais uma desfeita, Valeixo fica num cargo onde está brilhando e vivem todos felizes para sempre. Será? Essas coisas deixam cicatrizes. E se as bases da PF e da Receita decidirem retaliar? Bolsonaro é especialista em abrir frentes de atritos dentro e fora do País, incluindo agora Luciano Huck, potencial adversário em 2022. Mas que motivos o presidente tem para confrontar a PF, que mantém um rumo absolutamente profissional e acumula troféus neste ano? Prendeu dois perigosos mafiosos italianos sem um tiro, rastreou e prendeu eficazmente o “doleiro dos doleiros”, um gol. E o que dizer da operação rápida de identificação, rastreamento e prisão dos “hackers da República”?



Se há uma bronca de Bolsonaro com a PF, além das ocultas, envolvendo seus filhos, é que ele não se conforma com as conclusões sobre a facada durante a campanha, convencido de que Adélio Bispo não é maluco e não agiu sozinho. Pois vai se surpreender com o relato da extensiva e sofisticada investigação feita pelos policiais federais – aliás, comandada pela PF de Minas, não do Rio. Isso só confirma a essência do governo Bolsonaro. As prioridades número um, dois e três são sempre pessoais: seus filhos, seus interesses, suas crenças, suas obsessões. As instituições começam a reagir e a se impor.

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo 


terça-feira, 6 de agosto de 2019

Segurança jurídica é abalada por inquérito no STF - Editorial

O Globo

Investigação feita pelo Supremo aguça divisões, e a PGR registra que STF vira ‘tribunal de exceção’

O polêmico inquérito aberto em março no Supremo pelo presidente da Corte, Dias Toffoli, nomeando o ministro Alexandre de Moraes para presidi-lo, continua a demonstrar grande capacidade de propagar insegurança jurídica. Desde seu início, o inquérito é alvo de juristas, entre outros motivos, por passar ao largo do Ministério Público, instituição responsável por encaminhar denúncias à Justiça. Caso prospere esta tentativa de via rápida judicial, o Supremo terá de julgar acusados por ele mesmo. 

Ao ser aberto o processo, com alegada base no regimento interno da Corte, para investigar ameaças e fake-news contra ministros do STF, o presidente do inquérito determinou que a revista digital “Crusoé”, do site “O Antagonista”, retirasse do ar uma informação específica. A de que, segundo a delação premiada do empreiteiro Marcelo Odebrecht, o “amigo do amigo do meu pai”, Emilio, de quem Lula se aproximara, era Dias Toffoli — nomeado pelo então presidente da República como o responsável pela Advocacia-Geral da União (AGU). 

A revelação, tachada de fake news e portanto incluída no escopo do inquérito, foi, na verdade, uma ação de censura, contrária a dispositivos constitucionais. Terminou sendo revogada por Moraes. Não por isso, mas porque de fato havia um documento nos autos com essa referência, mas retirado posteriormente a pedido do próprio MP, por considerar que ele não tinha relação com aquele processo. O inquérito paira como ameaça sobre a sociedade, a depender do que determine o relator Alexandre de Moraes, à margem do MP. À época de sua instalação, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, fez um pronunciamento contra a iniciativa de Toffoli e pediu formalmente o seu arquivamento, rejeitado pelo presidente do Supremo.

Na semana passada, ao se manifestar sobre mandado de segurança pedido pela Associação Nacional dos Procuradores da República pela nulidade do inquérito, Raquel Dodge registrou que, em decorrência dele, o Supremo se transforma em um “tribunal de exceção”. A guerra deflagrada em torno da questão foi ampliada pela prisão dos hackers que teriam invadido os celulares do ex-juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, entre outros. O material das mensagens trocadas entre Moro, Dallagnol etc., não reconhecidas pelos dois, foi enviado a Alexandre de Moraes, por determinação da Justiça Federal, a pedido do ministro. 

Haveria mensagens que citariam ministros do Supremo passíveis de serem usadas como provas pelo menos contra Dallagnol. Já que a amplitude do inquérito Toffoli/Moraes é suficientemente grande para incluir todo tipo de denúncia que envolva o Supremo.  Delineia-se em todo este imbróglio talvez o mais agudo ataque à Lava-Jato, da qual Dallagnol é chefe em Curitiba. A procuradora-geral da República já se pronunciou contra a retirada do procurador das investigações. Mais conflitos à frente, portanto.
Aguçam-se também as divisões dentro do Supremo. O ministro Luís Roberto Barroso disse publicamente que não entende a “euforia” que tomou conta de alguns “diante dessa fofocada produzida por criminosos”. Os hackers, por exemplo.

Também deve-se acompanhar como a divisão na Corte entre “garantistas” e “punitivistas” pode passar por uma revisão ou radicalização, devido à crise deflagrada por este processo. Os “garantistas” são conhecidos por defender a aplicação estrita da letra da lei, sem condenações a qualquer custo. Mas os “punitivistas” parecem estar à frente do inquérito.



Editorial - O Globo



sábado, 27 de julho de 2019

Juízo afoito - Folha de S. Paulo

Moro confunde público e faz intromissão injustificável na apuração sobre hackers


Causam espanto os movimentos do ministro da Justiça, Sergio Moro, em meio às investigações dos ataques de hackers ao seu telefone celular e aos de outras autoridades. Na quarta (24), um dia após a prisão de quatro suspeitos de serem os responsáveis pelos crimes, o ministro veio a público para vinculá-los ao vazamento das mensagens de procuradores da Operação Lava Jato que o site The Intercept Brasil começou a publicar em junho. Como as investigações ainda estão em andamento e são conduzidas oficialmente sob sigilo pela Polícia Federal, as evidências que poderiam sustentar a insinuação de Moro eram desconhecidas.

[tendo sido invadido os celulares de uso do presidente da República, JAIR BOLSONARO, o caso se tornou assunto de SEGURANÇA NACIONAL e, por óbvio, que o presidente da República teria que ser comunicado.

Existe uma hierarquia no governo que impede, no mínimo, desaconselha, que tal comunicado fosse efetuado pelo diretor-geral da PF, que então comunicou ao seu superior imediato - ministro Sérgio Moro - que comunicou ao presidente da República. E, até petista compreende que para efetuar tal comunicação o ministro teve acesso pleno ao processo - não teria sentido que Moro apenas transmitisse um recado do diretor da PT ao presidente,  'presidente, a PF manda avisar que estão hackeando seus telefones'.

Não tendo sido decretado sigilo de Justiça, qualquer autoridade superior a que declarou o sigilo, tendo acesso legal ao inquérito - caso do ministro Moro - tem a competência para falar sobre o mesmo.]

Em seu primeiro depoimento aos policiais, o principal suspeito, Walter Delgatti Neto, admitiu a invasão das contas do ex-juiz e de outras autoridades no aplicativo Telegram e declarou ter sido a fonte do material obtido pelo site.  Mas a PF ainda está verificando a consistência do depoimento e examinando provas, e por isso a precipitação de Moro soou como tentativa de intimidar o Intercept e outros veículos que têm publicado as mensagens, como esta Folha.  O Intercept afirma ter obtido o material de fonte anônima —cujo sigilo é protegido pela Constituição brasileira— e nega ter participado dos crimes cometidos pelos que copiaram os arquivos fornecidos a seus jornalistas. [não revelar a fonte é garantido pelo Constituição aos jornalistas e órgãos da imprensa, mas a receptação e uso de material roubado não é.]

Ao examinar as mensagens, este jornal não encontrou sinais de adulteração. Mesmo que a fonte as tenha conseguido de forma ilícita, o evidente interesse público justifica a publicação do seu conteúdo.   Na quinta (25), Moro tomou a iniciativa de avisar o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e outras autoridades que seus aparelhos celulares também haviam sido alvo de ataques. A uma das vítimas o ministro assegurou que as informações seriam destruídas. Coube à própria PF lembrá-lo do óbvio, em nota oficial. O material obtido pelos hackers, bem como outras provas que vierem a ser colhidas, não pode ser descartado sem que o Ministério Público seja ouvido e sem autorização do juiz que supervisiona o inquérito. [o conteúdo não é válido, por  ter sido obtido de forma ilícita - com a agravante de não ter sua autenticidade confirmada. Mas, é válido como prova da invasão e da receptação, portanto, prova dos crimes.]

As ações de Moro podem parecer compreensíveis para muitos, considerando os danos causados pela divulgação das mensagens à sua reputação e os indícios de que o ataque teve de fato grande alcance. Entretanto elas representam intromissão injustificável no andamento das investigações E
mbora seja subordinada ao Ministério da Justiça, a PF tem autonomia para conduzir seus inquéritos, segue protocolos rigorosos e está sujeita a mecanismos de controle externo previstos em lei. [salvo engano o ministro Moro não interferiu no inquérito, apenas cumpriu o dever de,  se tratando de assunto de interesse da SEGURANÇA NACIONAL e sendo uma das vítimas o presidente da República, comunicar o fato ao Chefe do Poder Executivo.]  Ao buscar informações sobre uma investigação sigilosa e usá-las para difundir conclusões prematuras e confundir o público, o ministro da Justiça desrespeita essa autonomia, prejudica o trabalho policial e compromete aquele que deveria ser seu único objetivo —o esclarecimento dos fatos.

Editorial - Folha de S. Paulo


 

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Para OAB, prova pericial para condenar hackers pode prejudicar Moro no STF - Veja

Supremo ainda vai julgar suspeição do ex-ministro na condenação de Lula


Para eventual condenação dos acusados de terem hackeado os aparelhos do ministro Sérgio Moro, e de cerca de centenas de outras autoridades, será necessária a produção da prova pericial. Ou seja, no caso de Moro, que fique demonstrado que conteúdo é efetivamente verdadeiro. Se aqueles diálogos revelados pelo The Intercept oficialmente procedem.


Mas essa comprovação pericial da invasão pode ser prejudicial para Moro no STF, que ainda vai julgar o pedido de suspeição da defesa do ex-presidente Lula, que o acusa de ter sido parcial na condução do processo quando juiz federal em Curitiba.
Essa é a opinião do advogado Breno Melaragno Costa, presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB.
“Se comprovada a veracidade da conversa, teremos dois reflexos: a incriminação dos hackeadores e o outra consequência é como os tribunais superiores, em especial o STF, vai lidar com a questão da suspeição do juiz. Há diálogos ali que podem levar a crer que houve um aconselhamento do então juiz (Moro) ao Ministério Público. Se assim for compreendido, pode até levar a nulidade de processos. O Judiciário vai ter que decidir” – explicou Breno Melaragno ao Radar.

[para começo da conversa, o conteúdo das supostas conversas -  comprovada mediante perícia,  a invasão  - tem, como prova,  valor zero = foi resultado de uma invasão, ato criminoso, o que torna as provas ilícitas;

anulado, por mandamento constitucional o valor ZERO  das provas obtidas mediante crime = invasão de privacidade, furto, etc =  resta saber, por mera curiosidade,  já que não se tratam de provas - devido  a Constituição proibir que sejam anexadas ao processo, analisar a autenticidade. 

Comprovado que houve a invasão e a subtração criminosa do material arquivado, resta saber se apenas algumas conversas esparsas, autênticas (com diálogos reconhecidos por alguns dos interlocutores) foram entregues ao intercePT, para dar aos incautos a impressão de ser o material verdadeiro e as que tentam deixar a impressão que são diálogos de Moro com os procurados, foram elaboradas pelos hackers e seus assessores para parecer verdade - a forma de divulgação delas, sem nenhum printer da nenhuma conversa de/com  Moro, deixa a certeza que foram inseridas no pacote.

Quanto a eventual decretação da nulidade de processos  é um sonho dourado de todos que são inimigos de Moro, dos procuradores, de Bolsonaro e do Brasil - e que logo ao acordarem verão que nada mudou. O processo condenando o maior ladrão do Brasil, ex-presidente e atualmente o presidiário Lula da Silva, continua firme, forte e como diria o ex-ministro Magri 'imexível'.

Lembrando sempre que as conversas por serem produto de roubo, de crime, ilícitas só podem servir de prova contra os autores do crime e eventuais receptadores.]
 
Publicado em VEJA, edição nº 2645, de 31 de julho de 2019,
 Veja

 

Os perigos eletrônicos que ameaçam todos - O Globo - Editorial

Esclarecer a invasão dos telefones de Moro e Dallagnol é vital para se começar a coibir este tipo de crime

Ainda faltam informações mais sólidas e conclusivas sobre se os hackers encontrados pela Polícia Federal no interior de São Paulo — Walter Delgatti Neto, o provável chefe deles — estão mesmo por trás da invasão dos aplicativos de mensagens do ex-juiz Sergio Moro, e do procurador Deltan Dallagnol, de onde retiraram conversas que poderiam comprometer a lisura da Lava-Jato.  Há vários indícios de que é possível a participação dos detidos no crime. Gustavo Henrique Elias Santos e mulher, Suelen Priscila, com rendas declaradas de menos de R$ 3 mil mensais, movimentaram R$ 627 mil nos períodos de abril a junho de 2018 e de março a maio deste ano. Aqui, um alerta ao Pleno do Supremo para que avalie com a devida atenção a proibição baixada pelo ministro Dias Toffoli a que o Ministério Público tenha um acesso mais amplo aos dados do Coaf sobre movimentações bancárias.

A ficha criminal de Gustavo e de dois outros envolvidos no caso, Walter Delgatti Neto e Danilo Cristiano Marques, é suja — estelionatos em geral, clonagem de cartões de crédito etc.  O advogado de Gustavo disse que o cliente lhe contara que sua intenção era vender o material ao PT. Deve-se aguardar as investigações, nas quais é imprescindível que se levante a origem do dinheiro encontrado com o casal.  O caso de hackeamento de incontáveis autoridades, até do presidente, se confirmado, amplia a discussão em torno da invasão de privacidade. Por inevitável, militantes e simpatizantes do lulopetismo desejam invalidar condenações no âmbito da Lava-Jato, principalmente de Lula, mesmo que o veredicto do ex-presidente tenha sido confirmado por mais duas instâncias.

O debate persistirá. Juristas nada viram de anormal nas supostas conversas entre Moro e Dallagnol, que negam a veracidade das mensagens. E elas não podem ser periciadas porque o site Intercept não dá acesso à íntegra do material, que também passou a ser divulgado pela “Folha de S.Paulo” e “Veja”. Mas não parece haver dúvidas de que os textos são editados.  Um aspecto a destacar são as amplas possibilidades que a tecnologia digital permite a invasões de privacidade. Na quarta, ao comparecer ao Congresso americano para depor, o procurador especial Robert Mueller, responsável pela equipe que investigou durante longo tempo a campanha do presidente Trump, disse que os russos continuarão a intervir na política americana. Como fizeram em 2016 pelo Facebook, em apoio à candidatura de Trump. No Brasil este tipo de interferência eletrônica já tem sido detectado.

O que não está em questão é a publicação do material, porque há garantias constitucionais à liberdade de imprensa e de expressão. A não ser que haja conivência com os hackers.  Mas é preciso saber como a privacidade foi quebrada, por quem, por quais meios e se houve interessados por trás. Só assim, não o deixando impune, será possível criar algum desestímulo a este tipo de crime. [oportuno ter presente, que as atividades dos hackers sempre foram no sentido de obter lucro, grana, nada faziam de graça;

tal perfil torna óbvio que eles jamais iriam realizar uma operação desse porte e doar o produto do crime.
Foram contratados e regiamente pagos para isso.
Por sorte, estão presos e Polícia Federal cuidará para que não ocorra uma 'queima de arquivo'.]

Editorial - Jornal O Globo


quarta-feira, 24 de julho de 2019

Centenas de hackeados - Merval Pereira

O Globo

Os hackers presos ontem foram responsáveis por centenas de invasões de celulares, e não apenas os do ministro Sergio Moro e de Deltan Dallagnol, coordenador dos procuradores de Curitiba que investigam a Operação Lava-Jato. A invasão do celular de Moro não foi bem-sucedida porque o então juiz havia deixado de usar o sistema de mensagens Telegram. O caso é bem maior do que se sabe até o momento. Todas as pessoas hackeadas são autoridades governamentais, ou ligadas a elas, e jornalistas. E não só ligadas à Lava-Jato.

Circunstâncias do repasse das mensagens estão sendo apuradas. O ministro Moro vai levar agora de manhã as primeiras informações oficiais ao presidente Jair Bolsonaro, sem, contudo, revelar detalhes sigilosos que possam prejudicar a investigação ainda em curso. O importante agora é saber quem contratou os hackers, e quem repassou as mensagens relacionadas à Operação Lava-Jato para o site Intercept Brasil. [as coisas devem ficar russas para o intercePTação - o crime de receptação não é defensável pelo sigilo da fonte.
Verdevaldo, não temos o FBI, mas temos a PF.]

Além do material do Intercept, a PF também investiga o que foi feito com o material que não tem relacionamento com a Lava-Jato. O juiz Vallisney de Souza Oliveira deve levantar o sigilo sobre parte do processo hoje.

Merval Pereira,  jornalista - O Globo 



 

segunda-feira, 1 de julho de 2019

General Heleno discursa em ato em defesa de Moro

Atos em defesa de Moro miram Congresso e STF 

Mobilizações são registradas em ao menos 70 cidades dos 26 estados e no DF

Manifestantes saíram neste domingo às ruas em pelo menos 70 cidades dos 26 Estados, além do Distrito Federal, em defesa do ministro da Justiça, Sérgio Moro, da Operação Lava Jato e da aprovação da reforma da Previdência – uma das principais bandeiras do governo. Os atos também foram marcados por novos ataques ao Congresso e a ministros do Supremo Tribunal Federal. No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro citou a “civilidade” e “legitimidade” dos movimentos, enquanto o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Augusto Heleno, discursou em um carro de som ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em Brasília.

Quatro bonecos foram inflados em frente ao Congresso Nacional, em Brasília. Dois deles simbolizando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Lula (ambos com roupa de presidiário), um de Moro vestido de super-homem e o último unindo Lula, o ex-ministro do PT José Dirceu e o ministro Gilmar Mendes, do STF. Na avenida Paulista, lugar escolhido pelos manifestantes em São Paulo, bonecos e faixas também traziam críticas ao Supremo e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Os protestos foram convocados depois que o site The Intercept Brasil passou a divulgar supostas trocas de mensagens entre Moro e procuradores da Lava Jato em Curitiba. Essas mensagens sugerem a intervenção do então juiz federal na condução da operação, inclusive com a indicação de possíveis testemunhas. A iniciativa dos atos coube a grupos como o MBL e o Vem Pra Rua. Atuantes durante o processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, eles não participaram das manifestações pró-Bolsonaro de maio passado – marcadas, como neste domingo, por ataques ao Supremo e ao Congresso. O Nas Ruas, criado pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), também teve participação ativa na organização.

Tumulto
Integrantes do MBL chegaram a ser hostilizados por outros ativistas, por um discurso de “independência” em relação a Bolsonaro. Em São Paulo, cerca de 20 integrantes do DireitaSP foram até o caminhão do MBL estacionado em frente ao Masp para gritar contra o grupo. Houve um princípio de tumulto e a Polícia Militar teve de agir para evitar uma briga generalizada. No Rio de Janeiro, também houve ataques entre integrantes de grupos diferentes. “A gente não puxa o saco do Bolsonaro e somos críticos ao governo”, disse Renato Battista, coordenador nacional do MBL.

Na avenida Paulista, que teve quatro quadras ocupadas por manifestantes vestindo principalmente verde e amarelo, o carro de som do Nas Ruas foi o ponto de encontro mais “governista” do ato. Entre os oradores, além de Zambelli, estavam o empresário Luciano Hang, dono da Havan, o senador Major Olimpio (PSL) e o cantor Latino. “Nós apoiamos o ministro Sérgio Moro, o pacote anticrime e o governo Bolsonaro”, afirmou Tomé Abduch, porta-voz do Nas Ruas.

‘Eu vejo’. Após a publicação das supostas mensagens pelo The Intercept Brasil, Moro se apresentou em audiência no Senado. Com isso, ele buscou esvaziar articulação de partidos de esquerda que falavam em criar uma CPI. O ministro nega qualquer interferência nas investigações quando era juiz e coloca em dúvida o teor das mensagens. Ele usou o Twitter para se referir às manifestações. “Eu vejo, eu ouço, eu agradeço. Sempre agi com correção como juiz e agora como ministro”, escreveu ele, em uma das mensagens. Em outra, agradeceu o apoio de Bolsonaro. “Sou grato ao PR (presidente da República) e a todos que apoiam e confiam em nosso trabalho. Hackers, criminosos ou editores maliciosos não alterarão essas verdades fundamentais. Avançaremos com o Congresso, com as instituições e com o seu apoio.”

No Rio, o ato chegou a ocupar cerca de seis quadras da Avenida Atlântica, em Copacabana. O ato teve o Hino Nacional e palavras de ordem como “O STF é uma vergonha”, “Rodrigo Maia se acha 1.º ministro”, “Fora PT e a velha política”.

Em Porto Alegre, o ato foi realizado no centro, apesar da chuva e do frio de 16 graus. Foram registradas ainda manifestações em capitais como Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Goiânia (GO) e Curitiba (PR), e cidades do interior paulista, como Campinas e Sorocaba. Em Boston (EUA), o ato reuniu cerca de 20 pessoas. A frase “In Moro We Trust” (Em Moro nós confiamos) apareceu em cartazes.
PEDRO VENCESLAU, DENISE LUNA, RENATO ONOFRE, EDUARDO RODRIGUES, GABRIELA BILÓ, JOSÉ MARIA TOMAZELA e LEONARDO AUGUSTO, RITA SOARES, PEDRO MOREIRA, LUCIANO NAGEL, JULIO CESAR LIMA E MARÍLIA NOLETO, ESPECIAIS PARA O ESTADO