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segunda-feira, 5 de julho de 2021

Que vacina? Qualquer uma - Alon Feuerwerker

Israel é um líder mundial em imunização, e a vacina ali é a da Pfizer. E Israel encara uma escalada dos casos de Covid-19. Em parte nos que não se vacinaram. Mas também nos vacinados. Numa reunião com a bancada do seu partido, o ex-ministro Benjamin Netanyahu disse que cinco amigos dele, vacinados, pegaram a doença. E completou: "Usem máscaras" (leia).

Parece acontecer com a vacina da Pfizer o mesmo que vai com as coirmãs: alta taxa de proteção contra formas graves da Covid-19, mas não tão alta contra as formas mais leves. Aliás, é uma situação que a humanidade já conhece, por exemplo, no caso da gripe. Quem se vacina não o faz só para não pegar a virose: o objetivo principal é não ficar vulnerável às complicações.

Infelizmente, a turbulência política interna tornou o Brasil presa fácil na guerra comercial entre os fabricantes de vacinas. Estamos vulneráveis não apenas ao vírus, mas à desinformação. Um resultado disso é o fenômeno apelidado de "sommeliers de vacina", gente que perambula pelos postos de vacinação rejeitando umas e escolhendo outras (leia).

A observação do que acontece em Israel apenas reafirma: bom mesmo é se vacinar, com a vacina que estiver disponível. E se, lá na frente, a vacina que você recusou acabar se provando mais eficaz?

Vale a pena ler:  Vamos falar sobre a CoronaVac


domingo, 27 de junho de 2021

Mais pesquisas - Alon Feuerwerker

Análise Política

As pesquisas recentes de intenção de voto para 2022 divergem em certo grau na distância entre os principais candidatos, mas algumas constatações são consensuais: Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva estão bem à frente dos demais tanto no voto espontâneo quanto no estimulado. Se uma terceira opção conseguir agrupar razoavelmente os insatisfeitos com Bolsonaro e Lula, deve largar de algo entre 10% e 15%.

As margens aqui variam bastante, mas hoje Lula ganharia de Bolsonaro no segundo turno. Isso se deve principalmente por o presidente, no momento, superar o ex na disputa de mais rejeição.  Pesquisas devem sempre ser lidas com muita prudência, especialmente quando feitas com tanta distância. Aliás, até levantamentos de véspera e bocas de urna têm errado mais que o razoável.

Mas pesquisas são um dos únicos instrumentos disponíveis no voo rumo à pista de pouso da urna no dia da eleição. Em vez de brigar com elas, trata-se de utilizá-las da melhor maneira possível, o que inclui sempre lembrar que elas erram. E é exatamente por isso que existe a chamada “margem de erro”.  E pesquisas podem até ser mais importantes longe do que perto das eleições. Elas balizam decisões preliminares relevantes dos atores políticos centrais.

Um caminho para reduzir a outra margem de erro, não das pesquisas propriamente ditas, mas da interpretação delas, é olhar não no que diferem, mas para o que têm em comum. E se partimos dos levantamentos de avaliação de governo notamos também que:  O ótimo+bom de Jair Bolsonaro deslizou para algo em torno dos 25%, mas o “aprova” continua entrincheirado em um terço do eleitorado. Aliás, se você quer saber a aprovação do governo pergunte exatamente isso. Pois sempre um pedaço do “regular” mais aprova que desaprova. E isso não aparece no ótimo+bom.

E o ruim+péssimo oscila em torno da metade dos eleitores. É preciso tomar cuidado com a aritmética bruta, pois uma parte do eleitorado não vota. E no Brasil pesquisas não costumam perguntar se o eleitor vai comparecer. Diferente dos Estados Unidos, onde se levantam duas estatísticas: a colhida nos “registered voters” (eleitores registrados) e a nos “likely voters” (prováveis votantes).

A síntese das pesquisas eleitorais relativas ao presidente, ao governo federal e à corrida de 2022 está algo clara. Jair Bolsonaro preserva o market share dele no primeiro turno de 2018, em torno de um terço do eleitorado (não confundir com os 46% do voto válido). Mas enfrenta a apatia, a desconfiança ou a rejeição no restante do mercado eleitoral.

Muito em função de como vem conduzindo as políticas para enfrentar a Covid-19.  As próximas pesquisas deverão medir o efeito dos últimos acontecimentos na adesão do eleitor bolsonarista ao candidato à reeleição. Inclusive qual será a reação do núcleo duro da base social dele.

Mas a incógnita-chave é como estará o humor da população ano que vem, especialmente em meados de 2022. Qual será o peso das consequências da pandemia, após a vacinação em massa?  
Em que ritmo estará a recuperação econômica? 
Qual terá sido o impacto da possível crise energética decorrente da escassez de água nos reservatórios? 
O que vai pesar mais: a crítica aos erros do governo na Covid-19 ou a euforia por ela, ou a maior parte dela, ter passado? [em 2022, ainda no primeiro semestre coma pandemia extinta  = economia crescendo + desemprego em queda = BOLSONARO leva no primeiro turno. Os supremos ministros podem tornar o criminoso petista candidatável, mas não podem nomeá-lo presidente da República.]

E quem vai se sintonizar melhor com o humor do povão?

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

sábado, 19 de junho de 2021

Inovação - Alon Feuerwerker

Análise Política

Hoje a CPI no Senado da Covid-19 realmente inovou. No dia dos depoimentos de dois médicos favoráveis ao chamado tratamento precoce da doença causada pelo novo coronavírus, o relator e o restante da bancada de oposição saíram da sessão, para não ter de fazer perguntas aos dois depoentes.Com isso, reduziram drasticamente a exposição pública dos trabalhos da CPI neste dia, que seria naturalmente desfavorável ao oposicionismo. [além da maior parte da oposição não primar por empregar práticas honestas, se destacam pela covardia e oportunismo.]   Também naturalmente, haverá um custo político. Aliás, é só que resta de dúvida na CPI. Qual será o custo político para cada lado. 

Pois não há dúvidas sobre o teor do relatório final, visto que a comissão está blocada desde o início num 7 a 4 contra o governo. E vai ser uma grande surpresa se o presidente da República não aparecer no texto, pois daí a CPI terá servido para pouca coisa, só para pescar os peixes pequenos e ex-peixes. [mas a CPI não serve para nada, nem servirá, já que foi criada para atingir o presidente da República, tarefa na qual fracassará. 
Seus mentores esqueceram que para incriminar alguém é preciso provas e estas estão vinculadas a FATOS e estes não são criados por chiliques e/ou surtos,  ainda que de senadores.]

Terá sido muito barulho por nada. É improvável. Vamos ver quais serão as descobertas na nova fase aberta hoje com a passagem de diversos personagens de testemunha a investigado.  
A CPI chegará ao pote de ouro no final do arco-íris? 
Encontrará a bala de prata? 
Ou terminará restrita à construção de narrativas eleitoralmente úteis?

Entrementes, Jair Bolsonaro foi ao Pará. Faz como Luiz Inácio Lula da Silva em 2005/06, quando acossado pela crise desencadeada pelas acusações de Roberto Jefferson. Evita permanecer o tempo todo numa Brasília intoxicada pela guerra política.

O tira-teima? Por enquanto está marcado para 2022. Para antecipar o calendário, só a tal bala de prata e a rua. E as pesquisas. Por enquanto, como mostrou a votação da Eletrobras no Senado, o jogo continua equilibrado. 
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político  
 
 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

O chanceler - Alon Feuerwerker

Análise Política

O depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo à Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 foi, como se esperava, um exercício permanente dos senadores oposicionistas para aproximar-se do alvo definido desde o início: o presidente da República. Até o momento, nenhum dos assessores do chefe do governo cedeu. [nem cederão, não há motivos para ceder; e o general Pazuello que depôs hoje e muitos esperavam sair preso da CPI, deu uma enquadrada no presidente e no já manjado (pelas mancadas) relator Calheiros = o general solicitou, com um tom de exigência, de comando, que não fossem apresentadas perguntas simplórias.]

A administração governamental do tema vacinas aqui no Brasil está se mostrando uma peneira. Alguém terá de responder por isso ao final. [primeiro será necessário que mostrem, como provas já que interpretações não valem - a existência de vacinas disponíveis, em prazos compatíveis, aprovadas pelos órgãos competentes  e que o Governo recusou tais ofertas.] Essa é a disputa.
É óbvio que as ações do governo brasileiro na pandemia obedeceram a um comando central, mas para CPIs não basta dizer "eu acho". Tem de achar a digital. Claro que a aritmética pode tudo. Se houver seis dos onze senadores dispostos a chancelar uma tese ela estará no relatório final. Mas sem a "bala de prata" ficará mais fácil ao governo atrair pelo menos dois dos seis na hora h.

Para inverter a hoje maioria. Aliás, é preciso tomar um certo cuidado com diagnósticos a partir da combatividade demonstrada pelos senadores. É possível que em alguns casos essa combatividade com os peixes pequenos venha a servir de atenuante para a hora em que se tiver de tomar posição sobre os grandes.

Amanhã é esperado o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ele deverá ser inquirido sobre os dois pontos nodais da CPI até agora: vacinas e cloroquina. Como tem a prerrogativa de não responder questões cuja resposta possa incriminá-lo, será pressionado mas terá como neutralizar. A expectativa maior é sobre o que Pazuello dirá a respeito de Jair Bolsonaro. Se essa couraça não for furada no depoimento do general, restará à CPI o caminho sempre mais trabalhoso de vasculhar documentos. E nesse meio tempo o governismo prosseguirá lutando para arrastar os governadores ao cadafalso.[governadores e prefeitos que formam o grande leque das 'autoridades locais' serão levados ao cadafalso e lá vão falar - a maior parte deles encheu os bolsos com dinheiro público e quando apertados vão falar - os pequenos costumam falar no primeiro aperto.
Até hoje nenhuma pergunta foi feita sobre respiradores comprados em adegas, superfaturados, entregues parcialmente e parte dos dos entregues com defeitos sérios.
Tem muita coisa a ser explicada - criminosa mesmo; até agora o que tentaram colar no governo Bolsonaro, e fracassaram, foram erros, que se justificam com o jargão = só erra,  quem trabalha.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico

 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Anvisa na CPI - Alon Feuerwerker

 Análise Política

O presidente da Anvisa adotou uma linha de defesa razoavelmente segura em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19. Procurou apresentar-se como um quadro técnico e autônomo, e esforçou-se para assim legitimar-se junto à CPI. Foi particularmente útil, para ele, sua determinação de diferenciar-se no presidente da República em temas como máscaras, aglomerações e outros procedimentos universalmente aceitos para dificultar a transmissão viral.

É natural que o chefe da agência de vigilância sanitária possua algum grau de autonomia e possa agir com alguma independência em relação ao governo e ao comandante do Executivo, pois tem mandato e é indemissível. Diferente, por exemplo, da situação do ministro da Saúde, que navega em águas políticas mais turbulentas. A diferença ficou expressa no grau de liberdade com que ambos se moveram diante da máquina de moer carne da CPI. 

Aliás, toda CPI é um triturador de biografias. [a de agora não vai ter muito a triturar 
: tanto; alguns membros da CPI, possuem uma biografia triturada e depois queimada - triturar o já multitriturado é tarefa irrealizável até para a CPI da Covid = alguma  biografia ainda não  destruída por violação ao quesito 'honestidade' já, ou está sendo, triturada por falta de incompetência, noção e coisas do tipo.]    A missão resume-se a sair inteiro do outro lado. O presidente da Anvisa beneficia-se também de um certo tratamento reverente prestado à burocracia estatal, ou "funções de Estado". É um traço cultural brasileiro.

Mas se o presidente da Anvisa conseguiu erguer barreiras argumentativas tecnoburocráticas que por enquanto o protegem no caso do veto à Sputnik V, acabou for fornecer à oposição na CPI argumentos em outra frente, ao endossar a desrecomendação do uso de certos medicamentos no tratamento da Covid-19, inclusive nas fases iniciais. E terminou por reforçar os desejos de reconvocar o titular da Saúde, ao qual isso certamente será (re)perguntado. [ opinião de um notório leigo: ao que nos é dado conhecer a vacina russa, não atende requisitos básicos, impostos pela legislação brasileira, antes mesmo do imunizante soviético surgir.
- não conta com aprovação de nenhuma Agência reguladora confiável, entre elas FDA, EMA, NHS, canadense, etc;
- não realizou a FASE III de testes  - nem em seu país de origem;
- nunca apresentou documentos que são exigidos, e apresentados, por outros imunizantes que pretendem registro da Anvisa; 
- quais países de confiabilidade econômica e financeira usam a Sputinik V? A Anvisa tem regras claras e que até o momento tem cumprido. A falta de garantias da vacina russa é tamanha, que até o supremo ministro Lewandowski, optou por um obsequioso silêncio, quando viu suas determinações desatendidas.]

Enquanto o teatro da CPI vai em seus primeiros atos, continua o desafio das vacinas. Há escassez da CoronaVac para aplicação da segunda dose, a AstraZeneca acaba de ter suspensa a aplicação em grávidas (leia), a Pfizer chega a conta-gotas
E a dúvida é se o ritmo da vacinação será suficiente para ajudar decisivamente a quebrar a segunda onda de casos e mortes e impedir a ascensão de uma terceira, trazida por novas variantes.
 
 
Alon Feuerwerker, analista e jornalista político 
 
[infelizmente, não é só a covid-19 que mata; um mal antigo continua matando: burrice (os muares que nos perdoem)- o Brasil,  era o que se esperava e parecia, firmou contrato com o laboratório chinês e com a AstraZeneca para ter duas fontes de fornecimento = só que o genial  ex-governador das vacinas e o pessoal da Saúde esqueceram que o IFA das duas parcerias, vem da China.
O da coronavac é fabricado por um laboratório chinês em solo chinês e o da AstraZeneca é fabricado por um laboratório da própria farmacêutica, INSTALADO na China, portanto sujeito aos trâmites impostos pelo governo chinês.
Não acreditamos que os chineses retaliem - são práticos e sabem que um bom relacionamento comercial é melhor do que cultivar picuinhas.
Mas  cá entre nós, presidente Bolsonaro, contrata aquele porta-voz; falar muito as vezes prejudica muito mais - lembra do Ricupero, aquele do escândalo da parabólica.
Ocorreu há mais de 30 anos e ainda hoje o homem tenta ressurgir - agora mesmo assinou um manifesto dos EX - também qual a utilidade de manifesto assinado por EX? e pelo jeito ele vai continuar no ostracismo.]
 

quinta-feira, 25 de março de 2021

Segunda, terceira - Alon Feuerwerker

Análise Política

Segue o debate sobre o que está impulsionando a atual segunda onda de casos, e portanto óbitos, de Covid-19. Se é o afrouxamento das medidas de isolamento social ou a entrada em cena de mutações virais mais contagiosas e eventualmente mais letais. Provavelmente é a combinação das duas coisas. Um ambiente ideal de isolamento das pessoas inviabilizaria a transmissão viral, mas o problema é esse "ideal" ser impossível. Sobre o tema, vale a pena ler a coluna de Fernando Schüler ("Invisíveis") hoje na Folha de S.Paulo (leia).

O que não minimiza a importância de promover e respeitar, acima até do limite do possível, o isolamento e o afastamento sociais. Enquanto debatemos, segue por todo o Brasil a segunda onda de infecções e óbitos pelo novo coronavírus. Há especialistas para todos os gostos, mas alguns deles informam que esta segunda curva epidêmica deve entrar em declínio antes mesmo de a vacinação atingir o desejado efeito coletivo. Ainda que a vacinação seja sim muito importante, essencial, também para a proteção individual.

E como a subida está sendo mais íngreme do que na primeira onda, resta a esperança de a descida também ser. O platô na primeira onda durou meses. O desta segunda onda, sempre segundo as mesmas fontes, está previsto para durar semanas. Ou seja, é possível que os novos hospitais de campanha montados agora às pressas só estejam prontos quando a pressão sobre o sistema hospitalar convencional já tiver diminuindo. Tomara que depois não desativem apressadamente.

Pois a Gripe Espanhola teve três ondas. E na Europa já se sobe a terceira. E quem não aprende com o passado está condenado a repeti-lo, diz o adágio. Vale também para "aprender com os erros".
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

quarta-feira, 17 de março de 2021

PIB e emprego - Alon Feuerwerker

Análise Política

Em meio às más notícias dos números crescentes de casos e mortes pela Covid-19, os últimos dados da economia trazem algum alento, ainda que nem de longe compensem a trágica perda de vidas. Ontem, a prévia de crescimento do PIB de janeiro, segundo índice projetado pelo Banco Central, ficou em 1,04%, bem acima das previsões do mercado (leia)

E hoje os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do primeiro mês do ano foram recorde positivo (leia)

As previsões, entretanto, continuam sendo de resultados fracos no trimestre que acaba daqui a duas semanas. A expectativa é que melhorem com a volta do auxílio emergencial em abril. E os dados de janeiro, numa hipótese otimista, podem indicar que a retomada do mercado de trabalho talvez amorteça o efeito negativo da queda do valor do auxílio.

Aguardemos. Do Caged de hoje, ressalte-se a boa criação de empregos na indústria. O dólar a quase R$ 6,00 é ruim para as importações e para a inflação, mas é bom para a substituição de importações e para as exportações. Ganham as commodities e a indústria. O que é crise para uns é oportunidade para outros.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Estamos no jogo - Alon Feuerwerker

Análise Política

A cobertura da imprensa traz o ritmo da vacinação no Brasil (leia) e mundo afora (leia). Apesar dos pesares, especialmente apesar da barafunda política, não estamos tão para trás
A tabela abaixo mostra bem. Com um pouco de sorte, e quando a fabricação por aqui estiver no ritmo, poderemos dizer que se acendeu a luz no fim do túnel. Enquanto isso, seguem as medidas restritivas (leia).
 
A boa notícia é que nos países onde a vacinação vai mais acelerada (EUA, Reino Unido, Israel) se nota um declínio consistente do número de novos casos (leia). O quanto isso se deve à vacina ou à transmissão viral propriamente dita, cabe aos cientistas dizer. Mas não deixa de ser um alívio notar a melhora nos lugares que vacinam suas populações de modo mais agressivo, ou eficiente.

Por falar em eficiência, ou ineficiência, quem não vai bem no quesito é a Europa (leia). Em parte porque os laboratórios não estão entregando os imunizantes no ritmo prometido. Em parte por causa da desconfiança de segmentos em relação às vacinas. Este último problema, causado por desinformação e comunicação precária.

Não chega a ser um alívio completo, mas, olhando os números frios, estamos no jogo. [Estamos em décimo lugar em taxa de mortalidade, e vacinamos apenas 3% da nossa população e a vacinação teve inicio com mais de um mês de atraso em relação ao Reino Unido que tem a segunda maior taxa de mortalidade, vacinou mais de 25% de sua população e iniciou a imunização em dezembro 2020, e está no terceiro lockdown - o vigente começou em janeiro 2021.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Austrália enfrenta as big techs - Alon Feuerwerker

Facebook e Google decidiram adotar respostas diferentes para a iniciativa legislativa da Austrália que determinou às big techs compartilhar com produtores de conteúdo noticioso a receita obtida em publicidade e outras modalidades de remuneração nesses materiais (leia).

O Google topou adaptar-se, mas o FB não. E inclusive retirou do ar páginas de veículos de comunicação australianos. Uma briga boa, e ela vai se espalhar planeta afora. Pois a equação de uns terem os custos com a produção mas outros faturarem com a exposição não fecha. E as disputas pelo mundo envolvendo as big techs não ficarão restritas ao faturamento.  Essa polêmica se acoplará àquela outra, sobre liberdade de expressão, já quente desde quando Donald Trump foi literalmente limado das redes sociais depois de apoiadores dele invadirem o Capitólio em 6 de janeiro.

Hoje, as big techs abocanham a parte do leão do mercado publicitário sem precisar produzir nada de material noticioso, e além disso decidem por conta própria quem pode e quem não pode frequentar o espaço público praticamente monopolizado por elas.
Está na cara que não continuará sendo assim indefinidamente.
 

 Alon Feuerwerker,   jornalista e analista político

 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Teste de resiliência - Alon Feuerwerker

Este ano de 2021 vai merecer um rótulo já bem usado: “decisivo”. Atravessar politicamente vivo é condição sine qua non para Jair Bolsonaro chegar a 2022 competitivo. E vai ser um ano daqueles. Mesmo que a vacinação se prove um sucesso, seus efeitos macro só devem ser sentidos em (muitos) meses. Um período suficientemente longo para os adversários trabalharem com afinco o desgaste presidencial.

Três ameaças rondam o Palácio do Planalto. Um agravamento da Covid-19, um repique da recessão e uma instabilidade institucional. Esta última podendo vir do Legislativo ou do Judiciário. Para atravessar o ano, o presidente e seu governo precisarão mostrar capacidade operacional e política num cenário de turbulências, em que deixar o avião no piloto automático não será opção.

Sobre o agravamento dos índices da pandemia aqui no Brasil, mesmo países com vacinações muito mais agressivas enfrentam pioras de curto prazo nos índices da Covid-19. E há as novas variações do SARS-CoV-2. E junto vêm a dúvida sobre se as vacinas produzidas a partir do vírus “velho” servem para combater os novos. Ou quanto tempo levará para adaptar os imunizantes, se isso for necessário para serem eficazes contra as novas variantes.

A segunda onda da Covid-19 terá necessariamente impacto na economia. Pois a reação natural das autoridades locais vai ser apertar o torniquete do isolamento e do distanciamento sociais. Haverá reação popular, então podem-se prever movimentos de sístole e diástole, por um período em que a única certeza será a incerteza sobre que medida governadores e prefeitos vão tomar no dia seguinte ao anúncio de novos números.[com a incompetência e insegurança dos governos estaduais e municipais, haverá um momento em que uma coordenação central, unificada se tornará indispensável. Judiciário e Legislativo não são os adequados para coordenar - o primeiro se perde em contradições, recuos (o decidido pela manhã já não vale à noite e as decisão da tarde não resiste ao transcurso de uma noite) e o segundo tumultua.]
E tem o fim do auxílio emergencial e demais medidas protetoras da economia popular na pandemia. 
Aqui, é previsível o Congresso Nacional recriar algo parecido. 
Mas os parlamentares tentarão impedir que Jair Bolsonaro, ao contrário da vez anterior, fature politicamente sozinho as benesses para o povão. A dúvida?  
Qual será a reação do mercado financeiro a um eventual furo no teto de gastos?

E a chacoalhada institucional? Ela estará contratada se os candidatos apoiados pelo presidente não vencerem as disputas pelo comando das duas Casas do Congresso Nacional. Principalmente da Câmara dos Deputados. Saberemos em dias o que vai acontecer. Mesmo vitórias oficialistas não devem impedir que a oposição, agora anabolizada pela aliança entre a esquerda e a direita não bolsonarista de olho em 2022, coloque minas prontas a explodir no campo presidencial.

Se Jair Bolsonaro sair vitorioso das votações do dia 1º, poderá contar com a pressão do empresariado para o Legislativo voltar a dar foco à agenda liberal, em vez de paralisar-se numa guerra política sem solução de curto prazo. Já os políticos, mais ainda os que disputam com o presidente o apoio do establishment, têm planos próprios e não vão dar trégua.  Também por saberem que Bolsonaro mostrou em ocasiões anteriores resiliência, capacidade de voltar à forma e ao tamanho originais depois de uma crise.
E talvez ele nunca tenha precisado tanto disso quanto vai precisar agora.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O que decidiu: a pandemia e George Floyd - Alon Feuerwerker

Análise Política

Donald Trump ainda não aceitou a derrota, é possível que a luta nos tribunais se arraste, mas a contagem puramente numérica dos votos aponta vantagem decisiva de Joe Biden, o presidente aritmeticamente eleito dos Estados Unidos. A surpresa foi, e ainda vem sendo, a tensão nas apurações, tensão de origem mais política que aritmética. Causada principalmente pelo ineditismo do número de votos pelo correio.Culpa” da Covid-19.

[nos parece que a pandemia foi o fator decisivo para propiciar a oportunidade de um esquerdista,  talvez,  se tornar presidente dos Estados Unidos da América.

A morte de George Floyd, teve alguma influência mas bem menos que a pandemia.

Foi a peste que tornou aconselhável a votação pelos correios e são os votos  pelos correios que sustenta a tese do presidente Trump de fraude, ensejando a judicialização.]

A luta pelo poder nos Estados Unidos interessa ao mundo, por razões óbvias. Para nós aqui, será particularmente útil tentar fazer alguma análise mais aprofundada, dado o sabido paralelismo entre as duas correntes atualmente no governo nos dois países. Saber o que aconteceu, ou não, por ali, pode dar algumas pistas de eventuais desdobramentos no Brasil nas eleições presidenciais de 2022. Em primeiro lugar, deve-se notar que Donald Trump não sofreu erosão na sua base desde que se elegeu. Ao contrário, está recolhendo algo da ordem de sete milhões de votos a mais do recebido quatro anos atrás. A maciça campanha democrata pelo voto parece, curiosamente, ter atingido positivamente também o adversário. O problema de Trump: Biden vem recebendo cerca de nove milhões de votos a mais que Hillary Clinton em 2016.

Esse é outro sinal de que Donald Trump caminhava para uma reeleição, se não tranquila, ao menos bastante provável, antes de dois acontecimentos: a pandemia da Covid-19 e a morte de George Floyd. Ambos desencadearam dois movimentos no eleitorado: uma imparável onda pelo registro eleitoral de votantes pretos e um sentimento de urgência que ajudou a convergência de todos os potenciais adversários do incumbente.

As pesquisas ao longo do ano sempre registraram uma tendência dominante de desaprovação, da ordem de 50%, mas um contingente sólido entre 40% e 45% de aprovação para Trump. Bastaria ao presidente, portanto, manter coesa sua base e impedir que a maioria desaprovadora se agrupasse em torno do adversário. Era possível, mas a maneira como enfrentou a pandemia e a morte de Floyd catalisaram com violência a convergência dos opositores.

Poderia ter acontecido sem esses dois fatos? A dúvida ficará. Há alguns meses, o Partido Democrata vinha dividido, pulverizado numa disputa interna sem luz no fim do túnel e com suas alas divididas. Ao final, convergiu para uma solução convencional, contra uma alternativa que se dizia abertamente de esquerda. Mostrou-se adequado. Teria sido assim não fossem os acontecimentos extraordinários que se seguiram? De novo, jamais se saberá.

E no Brasil? Jair Bolsonaro chegará a 2022 com um desafio parecido ao de Trump em 2020: impedir a convergência dos votos que não são em princípio bolsonaristas. Ao contrário dos Estados Unidos, a dispersão partidária por aqui ajuda. E é possível, provável, que até lá a pandemia tenha sido em grande medida controlada. E os conflitos raciais não parecem ter por aqui, até agora, o impacto eleitoral dali.Qual será o fator decisivo daqui a dois anos? Uma candidata forte vai ser a economia. Mas, como os Estados Unidos acabam de comprovar, nunca é bom subestimar o imprevisível. Ele é sempre muito difícil de prever.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Dono da bondade e da maldade - Alon Feuerwerker

Análise política

Os meios de comunicação explicaram ad nauseam que o governo queria um auxílio emergencial de 200 reais e quem forçou o aumento para 600 foi o Congresso. Resultado? Quem vem faturando politicamente é o governo, mais precisamente o presidente da República. E não os deputados e senadores.

O povo é sabido. Sabe que quando o governo não quer soltar um dinheiro ele, governo, luta até o último homem para segurar a coisa na boca do caixa. Ou seja, se pagaram os 600 por mês foi porque o governo concordou. Então parabéns ao governo.

Pela mesma lógica, é ilusão imaginar o povão caindo na conversa de que eventuais "medidas amargas" (leia) serão culpa do Legislativo. O Palácio do Planalto pode correr mas não conseguirá fugir. Os efeitos de aumento de impostos e corte de benefícios no humor coletivo vão em algum grau bater na porta dele.

E deixar para depois da eleição é brincar com fogo. Estelionatos eleitorais têm custo. Se for para fazer, é melhor assumir, explicar e preparar-se para o impacto. Ou alguém acha que os candidatos e militantes da oposição não vão desde já bater na tecla de que o eleitor está mais uma vez a caminho de ser enganado?

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Segue o jogo entre o bolsonarismo e "o sistema" - Alon Feuerwerker




Análise Politica 


Vai aqui uma linha do tempo político do governo Jair Bolsonaro. Aí este ano veio a Covid-19, com suas crises sanitária e econômica. Aí o sistema (doravante sem aspas) viu uma oportunidade para contra-atacar. Aí o presidente contra-contra-atacou radicalizando contra o sistema por meio de apoio tácito a apoiadores verborrágicos e desejosos de coisas como fechamento do Congresso, fechamento do STF e intervenção militar com Bolsonaro no poder.

Aí Bolsonaro viu danificado o argumento dele de defensor da liberdade (por ele mesmo definida) e o sistema contra-contra-contra-atacou. Aí reforçou-se o sonho de uma frente ampla antibolsonarista. Aí Fabrício Queiroz foi preso. Aí o presidente acelerou a aproximação com o dito centrão e enveredou por uma linha tática de moderação verbal. Aí a frente ampla começou a perder musculatura. Mas o sistema continuou ganhando protagonismo, agora com a providencial ajuda do poder de polícia do STF, e é o estágio em que estamos. Uma etapa de equilíbrio entre o bolsonarismo e o sistema. Se perdurar, deslizaremos para a assim chamada guerra de posição. Que ainda não é um “empate catastrófico”.

Esse empate se dá quando o equilíbrio entre antagonistas paralisa o processo. Não é o caso. O bolsonarismo momentaneamente liderado pela fração dita realista e pragmática pode perfeitamente recompor-se com a maioria congressual e o establishment para fazer avançar a agenda, especialmente a econômica, mesmo que agora temperada com pitadas de social. O “Renda Brasil” vem aí. Mas nem isso garantiria com certeza - atenção - uma estabilidade estável, pois o front judicial opera com algum grau de autonomia, pelas suas características heterogêneas. São muitos ali os postulantes a protagonista nas múltiplas frentes: o Supremo, o TSE, o TCU, o STJ etc. Sem falar do arranca-rabo no MP.

É muita variável operando simultaneamente. Precisaria de um maestro dos bons. Até o primeiro governo Dilma a ascendência do Executivo sobre os demais poderes vinha funcionando. O Executivo cumpria bem o papel. O bonapartismo de Bolsonaro veio como tentativa de restaurar isso depois que Dilma e Michel Temer deixaram o poder escorrer pelos dedos. O governo vai indo meio aos trancos e barrancos, em algumas áreas melhor e noutras pior. O Congresso não mostra disposição real de confronto, no máximo alguns brilharecos em entrevistas coletivas e atos heterodoxos de alcance político limitado, mas sempre capazes de gerar manchetes. Onde está o problema? No Judiciário. Ali são vários os candidatos a herói.

E tem ela, a Covid-19. Que parece ter entrado num planalto de mortes. Quem pagará a conta política? 
O núcleo duro do eleitorado bolsonarista, cerca de um terço do estoque, parece firme, até agora. Os governadores vinham com alguma folga, mas é preciso ver como será a administração da popularidade deles na reabertura ainda com o SARS-CoV-2 forte por aqui.
E tem a economia... Sempre ela. [Falando dela, clique aqui.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Politica 

segunda-feira, 30 de março de 2020

O tranco vem aí. E ninguém poderá alegar surpresa - Alon Feuerwerker

Análise Política


A Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (@FGVDAPP) detectou uma novidade esta semana nas redes sociais: certa agregação de perfis que ela considera de esquerda e de centro. Vamos então aceitar para efeitos didáticos a classificação, pois aponta um movimento de razoável importância no público.

As ações do presidente da República para reagrupar e anabolizar a base mais próxima dele na guerra de opiniões da Covid-19 tiveram um custo: juntaram contra ele, pelo menos nas redes sociais, quem não se juntava há tempos para nada. Não existe mesmo almoço grátis, apesar de esse rearranjo na internet não ter até o momento maior implicação política.
O custo em imagem ainda precisa ser medido nas pesquisas, mas os dados digitais fazem deduzir que a base bolsonarista fiel continua preservada na essência. E duas coisas jogam a favor do presidente na correlação de forças: não há condições objetivas para protestos de rua em massa e tampouco o Congresso Nacional parece propenso a enveredar por um confronto aberto contra o Planalto.

Tirando os pontos fora da curva, por exemplo a suspensão dos contratos de trabalho sem contrapartida, a disposição no Legislativo é aprovar as medidas governamentais de combate às crises sanitária e econômica, aqui especialmente as de caráter anticíclico. Até porque de repente todos viraram keynesianos: economistas, empresários e jornalistas especializados.

E um Congresso que só pode reunir por teleconferência não chega a ser propriamente ameaça. Nesta condição, é pouco provável deputados e senadores colocarem para rodar qualquer coisa afastada do consenso. E se há um consenso nas duas Casas é não bater de frente com Jair Bolsonaro. Em vez de esticar a corda, dar corda para o presidente. Nas últimas horas a sensação é de um movimento centrípeto governamental. Os ministros da Saúde e da Fazenda falaram à vontade no sábado para garantir que planos para a defesa contra o coronavírus estão aí e irão funcionar. Mostraram estar confiantes nas cadeiras. É pouco provável terem feito a aparição pública sem combinar com o chefe.

Mas nada servirá de escudo se duas coisas não funcionarem bem
: se o dinheiro para empresas e trabalhadores não chegar na ponta e se o sistema de saúde não aguentar o tranco que vem aí nas próximas semanas. Os ministros responsáveis pelas duas áreas pareceram neste sábado confiantes de que os dois desafios serão equacionados.

Ninguém se engane. Ainda não saímos da etapa dos bate-bocas. Que têm hora para dividir o palco com os fatos duros. O tsunami vem aí. E o governo será julgado pelos resultados. Inclusive porque teve tempo de se preparar. O lockdown em Wuhan tem mais de dois meses, e a agudização na crise na Europa já vem há várias semanas. Ninguém poderá alegar surpresa.  Deu tempo suficiente para aprender com os erros dos outros. Vamos aguardar, e rezar, para termos aprendido.

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Depois desta epidemia vai ficar muito difícil a vida de quem deseja enfraquecer o Sistema Único de Saúde
Se ele funcionar como prometem, e nada indica que não vá (tem um pouco de torcida nisso), estará aberta a estrada para atacar de vez o problema do subfinanciamento. 

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Um benchmark para o centro - Alon Feuerwerker

O pouco que há de instabilidade política deve-se, como já foi dito, à guerra pela hegemonia na direita. Estabeleceu-se quando as antigas forças dominantes tradicionalmente abrigadas sob o guarda-chuva do PSDB, ou que orbitavam em torno dele, foram ultrapassadas na eleição por Jair Bolsonaro. O bate-boca permanente do bolsonarismo é com a esquerda, mas seu inimigo principal está na direita inconformada que, sob o brand name de "centro", luta para retomar posições.

Não que a esquerda esteja protegida das balas. Para o bolsonarismo, bater no PT é a certificação permanente de autenticidade, de que merece ter a liderança do seu próprio bloco histórico. Daí os arreganhos e a guerra politico-cultural travada com a ordem expressa de não fazer prisioneiros. É uma tática que empareda o centro: se as tentativas de centrismo aproximarem-se da esquerda para construir uma alternativa, darão gás ao argumento de pavimentarem a volta do petismo; se não, ficará dificil distinguirem-se do bolsonarismo.

O centro precisará ter paciência e torcer para que um dia, exaurido, um dos lados conforme-se com a perda da capacidade hegemônica, e aceite ir para o segundo plano em nome do "combate ao mal maior”. Mesmo não havendo qualquer garantia de que este dia vai chegar. Se vier, poderá ser uma situação em que o bolsonarismo se mostre frágil no mano a mano com a esquerda. Ou o inverso, o adversário de esquerda se mostrar o melhor passaporte para Jair Bolsonaro ou uma alternativa (Mourão? Moro? Guedes?) faturar mais quatro anos em 2022.

Talvez o centro ande precisando de um benchmark. Há dois cases de sucesso. O primeiro é o velho MDB. Políticos que haviam apoiado a instalação da ditadura passaram a nuclear a oposição quando perceberam que o novo regime não lhes daria espaço. Os casos mais notáveis foram Franco Montoro e Ulysses Guimarães. Outro case foi Fernando Henrique Cardoso, quando convenceu o PFL de que ele, FHC, era o tíquete certeiro para evitar o então "mal maior", a vitória de Lula depois do impeachment de Fernando Collor.

Mas nos dois casos foi necessário as condições subjetivas, a consciência sobre a situação objetiva, alcançarem massa crítica. Por enquanto, o dito centro continuar acreditando que vai levar a taça denunciando “ambos os extremismos” parece política de pouca potência. É certo já haver em excluídos do poder, nos dois lados, alguma vontade de aderir à “frente ampla”, mas é movimento incipiente. Nem Lula quer aposentar-se, nem o eleitor de Bolsonaro parece tão vulnerável.

O paradoxo para o centro é que uma futura fragilidade do bolsonarismo estará inevitavelmente (advérbio perigoso) ligada à frustração na economia. E hoje o centro pode ser mais bem resumido em algo como “a política de Paulo Guedes, mas sem Bolsonaro, sem Olavo de Carvalho e sem o AI-5”. Ou seja, se a economia não trouxer resultados brilhantes na percepção do povão, vai restar ao centro o argumento de que Bolsonaro atrapalhou Guedes. Será preciso muita marquetagem, ainda que, atenção, a operação já esteja em andamento.

O maior problema, como sempre, é a teimosia dos fatos. A economia reage, mas lentamente e de modo muito desigual na pirâmide de renda. E o desemprego em torno de dois dígitos parece confirmar as análises de ter virado estrutural. O motivo é pinçado conforme a conveniência do analista. Quem não curte Bolsonaro diz que ele está atrapalhando. Outros falam em insegurança jurídica. Outros em instabilidade institucional. São todas explicações parecidas e não verificáveis, e portanto permitem a seus defensores argumentar ad nauseam impunemente.

O mais provável é que a recuperação esteja lenta porque não há qualquer expectativa de acontecer pelo menos uma de duas coisas (o ideal seria ambas simultaneamente): nem o Brasil vai virar uma plataforma de exportação competitiva da noite para o dia, nem há qualquer plano para uma expansão robusta do mercado interno no curto ou médio prazos. O capital vai atrás de oportunidades de retorno. O resto é o resto. 


Análise Política - Alon Feuerwerker,  jornalista e analista político  

 

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Exigir que o poder mande os mais fiéis para a degola a troco de nada é um passaporte para a desgraça

As escaramuças (por enquanto são só isso) em torno do presidente da República (e com a participação dele) têm sido retratadas como disputa entre um núcleo fundamentalista imaturo e outros núcleos maduros e, portanto, carregados de razão.

O primeiro reuniria antes de tudo os filhos, em primeiro lugar o do meio. Na periferia, alguns ministros da esfera de influência do chamado olavismo. Já os segundos congregariam a equipe econômica e os militares.  Desconfie das simplificações. Elas são como a Física do ensino médio: úteis para fins didáticos mas inúteis quando precisam explicar o fenômeno na essência. Dizer que “o problema de Jair Bolsonaro são os filhos” explica tudo e ao mesmo tempo não explica nada.
Duvida? Faça o teste. Tente responder a esta pergunta que deriva da afirmação acima: “Se o presidente precisar afastar do entorno os filhos, especialmente Carlos, com quem exatamente poderá contar?”

Hoje em dia, a lista mais comprida da área que reúne a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios é a de candidatos a tutelar o presidente da República. É consequência, esperada, do projeto “vamos eleger o Bolsonaro para derrotar o PT e depois a gente vê o que faz”.  O então candidato do PSL aceitou jogar esse jogo, cuidando de reduzir a incerteza na política econômica. Mas nunca deu qualquer sinal de que, no poder, faria um governo de paulos guedes.

Presidentes muito fracos são levados a engolir a tutela, e isso não costuma ser suficiente. Fernando Collor, acuado, montou um ministério dito ético, vertebrado pelo PFL, e mesmo assim caiu. Dilma Rousseff entregou a articulação política a Michel Temer, e o resultado é sabido.  Nos dois casos, o que era para ser ampliação da base de governo acabou virando o centro ou parte da conspiração para derrubar o governo. Bolsonaro tem muitos defeitos, mas não nasceu ontem.
Há exceções? Uma que confirma a regra foi Itamar Franco. No começo achou que governaria. Foi trucidado pela imprensa do Sudeste (nessas horas Minas Gerais não faz parte do Sudeste). Teve de entregar a presidência de fato ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

Só sobreviveu porque abriu mão de qualquer poder, ou perspectiva de poder imediato. Caiu sem cair, esperando voltar em quatro anos. Mas FHC aprovou a reeleição e deixou Itamar na mão.  Bolsonaro, ao contrário de Collor, Dilma e Itamar, não está fraco. O núcleo da sua base social continua mobilizado pela agenda maximalista de endurecimento penal, valores conservadores e alinhamento com Donald Trump.

E o empresariado só quer saber da reforma da previdência, remédio do momento para curar a economia atacada pela estagnação. E na hora “h” o mercado vai apertar o torniquete no pescoço do Congresso até este entregar a mercadoria.  O que pode dar errado? Alguém das internas reunir massa crítica e começar a drenar poder. O vice dá seus passinhos mas, notem, Bolsonaro nunca passa recibo. O vice tem estabilidade no emprego.

Então, a bazuca presidencial volta-se contra quem ensaia apresentar-se como moderado, confiável e racional. É por aí que o poder começa a cortar cabeças. O que fica mais fácil quando o alvo potencial comete um erro.  E o erro número zero em palácio é o sujeito achar que há espaço para fazer uma política própria diferente da do chefe. Ainda mais quando o chefe está forte e cercado por fiéis.
Exigir que o poder mande os mais fiéis para a degola a troco de nada é um passaporte para a desgraça.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

domingo, 6 de janeiro de 2019

Fazer o simples. O arroz com feijão do governo Bolsonaro no curto prazo. E o da oposição

Se você fosse chamado a opinar sobre os passos mais óbvios do governo e da oposição no curto prazo diria o quê? 

Eu diria que o governo:

1) Não pode se dar ao luxo de aparecer como derrotado na disputa das presidências da Câmara e do Senado.
O presidente tem potencial maioria em cada uma das casas. Se a coisa desandar, antes de ser trágico será ridículo. O custo político de passar reformas vai subir exponencialmente. E será só o começo.
2) No que estiver ao alcance dele, o presidente precisa cuidar de se recuperar da nova cirurgia. A montagem do governo reuniu gente muito sedenta de protagonismo. Se com o presidente na ativa já se nota propensão centrífuga, sem ele por muito tempo seria forte o estímulo para exacerbar a confusão.

3) O governo precisa apresentar uma reforma da previdência que atenda o mercado e tenha viabilidade política. É possível no começo do governo aprovar alguma reforma da previdência crível ao mercado, mesmo sem distribuir cargos pelos partidos ou liberar verbas orçamentárias para as bases dos parlamentares. Lula fez isso em 2003.

4) Precisa mostrar alguma coordenação na comunicação. A comunicação oficial tem sido boa para manter a base social coesa e mobilizada, mas é também uma usina de pautas negativas. Não chega a ser problema maior no curto prazo, mas sempre cobra uma conta depois de certo tempo. Assim como no boxe, apanhar o tempo todo costuma ter consequências.

5) Precisa minimizar o ruído internacional. O governo brasileiro fala duro e parece subestimar o trabalho de explicar ao mundo por que sua política seria boa para o mundo. Segue a linha Trump. Vladimir Putin adotou a política do “big stick”. Xi Jinping apresenta os interesses da China como se fossem os do universo.

Já a oposição:
1) Não pode se deixar esmagar na composição das mesas da Câmara e do Senado. A repetição de 2015, que deu Eduardo Cunha e a exclusão do PT da mesa da Câmara, será um desastre. Também desastroso será a esquerda dar a impressão de estar associada ao bolsonarismo. O melhor para a oposição seriam composições institucionais nas duas casas.

2) Não pode se dispersar e perder a identidade na disputa das mesas do Congresso. Uma sucessão institucional permitiria à esquerda participar das mesas sem aparentar linha auxiliar do governo. Isso talvez não interesse ao governo. Mas os principais candidatos na Câmara e no Senado podem ter interesse nessa saída. Aliás, se o governo raciocinar talvez conclua que é bom para ele também.

3) Precisa ter proposta ou propostas alternativas para a reforma da previdência, com foco em setores privilegiados do Estado. A esquerda tem governadores desesperados por uma reforma da previdência que ajude a evitar a falência de seus estados. O governo vai explorar isso, então é preciso entrar no debate com alternativas.

4) Precisa elaborar crítica consistente e propor ações que se oponham à política externa e à política educacional do governo. Até agora a crítica a essas duas políticas resume-se ao “nossa, que absurdo”. Na educação, é preciso mostrar os caminhos para o ensino, especialmente o fundamental, melhorar muito e rapidamente. [é difícil para a oposição criticar,  com consistência,  medidas que se revelam certas, adequadas.
Pior é propor ações para corrigir o que está sendo feito de forma correta.]

5) Precisa de ideias sobre como enfrentar a crise da segurança pública. A atual doutrina de enfrentamento do crime desmoralizou-se porque não está funcionando. O governo elegeu-se também por ter ideias para resolver o problema. Quais são as ideias da oposição, além de continuar aplicando o que não está funcionando?
É como no futebol. Na dúvida, uma saída é tentar fazer o simples

E você, acha o quê?
Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação


domingo, 24 de setembro de 2017

O principal problema de um Bonaparte militar seria a falta da estratégia de saída

Diz a velha piada que revolução é o golpe que deu certo, e golpe é a revolução que deu errado. 

A antifascista Revolução dos Cravos em Portugal foi um golpe militar clássico. Idem nossa inicialmente liberal Revolução de 30.  

A “Intentona Comunista” de 1935 foi uma tentativa revolucionária militar derrotada, e portanto explicada até hoje como aventura golpista.

O assim denominado golpe de 64 foi inicialmente descrito como revolução anticomunista. O partido revolucionário eram as Forças Armadas. Os sucessivos presidentes militares foram escolhidos pelo partido. Melhor dizendo, pelo chefe da legenda, que às vezes considerava o sentimento e o movimento das bases. Como em todo partido, a escolha não era tranquila.

Tudo isso está bem detalhado na literatura disponível. Que mostra também a sabedoria dos nossos militares, ao terem percebido desde o começo que aquilo não seria para sempre. Aí vieram a descompressão, a distensão, a abertura. No fim, a caserna perdeu o controle da situação política em 1984/85 mas pôde voltar ao quartel organizadamente e sem maiores baixas.  Aquela estratégia de saída está na base da força e do prestígio hoje das FFAA, uma das instituições nacionais mais admiradas, senão a mais, pela população. Daí o terreno fértil para, apesar dos antecedentes, ecoar aqui e ali a ideia de que só a intervenção delas desfará o nó da nossa crise, em seus aspectos políticos, econômicos e, por que não?, morais.

Apesar do frenesi, isso está bem longe de acontecer de fato. A memória do processo de 64 ainda cobra uma fatura pesada dos quartéis. A convicção democrática entre nós ainda é razoavelmente forte. Algo assim enfrentaria também rejeição global. E, principalmente, porque uma intervenção militar não tem estratégia de saída viável ou visível.  Uma hipotética tomada do poder pelos militares poderia desdobrar-se em dois cenários
1) a rápida devolução do poder aos civis, depois de uma “faxina moral”, ou 
2) as FFAA tomarem para si o enfrentamento dos impasses nacionais. Qualquer um com a cabeça no lugar percebe o elevado risco, para elas, embutido em cada um dos dois possíveis caminhos.

São dois pântanos. Se as FFAA tomam o poder e dali a alguns meses devolvem a civis democraticamente eleitos, como garantir que estes não serão exatamente os que se queria remover? Quem faria a lista dos inelegíveis? Com base em que normas? Ou o “comando militar revolucionário” revogaria a legislação que o atrapalhasse, e imporia outra? [em que pese parecer ironia, o passo mais arriscado será a devolução ao eleitorado brasileiro do direito de escolher os civis que serão democraticamente elitos.
É público e notório que o POVO brasileiro não sabe votar - os que foram eleitos para o cargo  de presidente da República, a contar das eleições 2010, corrobora a afirmação sempre atual do grande Pelé: "o povo brasileiro não sabe votar."
Indiscutivelmente o pior presidente da República, do Governo Militar, foi o general Figueiredo, exatamente por começar a dar voz aos políticos e ao povo brasileiro.]
E o expurgo se daria só no plano federal ou desceria para os estados e municípios? E quem entraria no lugar dos expurgados? Os suplentes? Interventores militares? Civis nomeados pela “revolução ética”, após uma junta decidir que o sujeito está moralmente habilitado a desempenhar função pública? Vamos falar sério. Não parece minimamente operacional.

O segundo pântano é mais inimaginável ainda. Não dá para vislumbrar generais e coronéis tratando de resolver assuntos como a reforma da Previdência, a crise fiscal de estados e municípios, a reforma política, o financiamento da saúde e da educação diante da necessidade de cumprir o teto de gastos, o pavoroso déficit primário da União
 Claro que sempre seria possível convocar civis para tocar o serviço. Mas o poder político seria dos militares, e estes precisariam assumir em última instância a responsabilidade de descascar os espinhosos e ácidos abacaxis. Isso sem terem sido eleitos para tanto, e em plena era da internet, quando o controle da informação exige uma ditadura estatal absoluta.

[um dos melhores livros que tive oportunidade de ler - opinião referendada por vários outros que tiveram a mesma sorte - foi escrito por um brasileiro, edição original em inglês, e o brasileiro não sabia português - tipo quarta série e nada sabia de inglês.
Sabia o enredo adequado para um livro, foi contando para um literato inglês, surgiu o livro em inglês, que foi traduzido para várias línguas, incluindo o português e se torno 'best seller'.
O caso dos coronéis e generais o que importa é que saibam o que precisa ser feito e contem para os que sabem como fazer.
No meu caso, muitas vezes escrevo no Blog Prontidão Total e os textos saem melhores quando os submeto a um revisor - o que não é o caso deste POST.]

Claro que tudo pode acontecer, mas a lógica ainda tem algum papel na análise. O bloqueio institucional e a pulverização do poder político em feudos impermeáveis à soberania popular são excelentes caldos de cultura para o bonapartismo, como já registrado algumas vezes aqui. Mas continua sendo mais provável que o Bonaparte venha da urna e não do quartel.

60/40
Quando tomados os votos válidos, as pesquisas mostram Lula batendo todos os adversários no segundo turno por algo em torno de 60% a 40%. Foi a divisão clássica do eleitorado entre 2002 e, digamos, 2013. Mas dificilmente Lula será candidato, e vai ser preciso esperar para ver se outro nome da esquerda consegue chegar ao 2o. turno, e reunir o rebanho na decisão. [rebanho, isoladamente,  mesmo se referindo a animais,  parece inadequado para ser o coletivo de pessoas capazes de votar em um Lula ou uma Dilma.
Mais adequado seria mencionar sempre 'rebanho de asnos', 'rebanho de muares'.]
 
Por: Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação