O Globo
O país do privilégio e a fraude na vacinação
Merval Pereira, jornalista - O Globo
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
O Globo
Merval Pereira, jornalista - O Globo
O papel de Robin Hood ensaiado pelo general Pazuello — tirar dos estados com vacinas para dar aos sem vacinas — [as vacinas serão distribuídas de forma equitativa e proporcional, entre todos os estados.
Os recursos são públicos, do Governo Federal, e a decisão privilegiando um estado, em prejuízo do restante do Brasil (especialmente os profissionais da Saúde que deverão ter prioridade sobre todos) será revista.] foi frustrado por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, que proibiu a requisição das vacinas, seringas e agulhas já adquiridas por alguns governos estaduais e prefeituras, entre os quais o de São Paulo. Por ironia, a vacina produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com os chineses, a CoronaVac, que o presidente Jair Bolsonaro tentou desacreditar [tentativa desnecessária, já que a própria farmacêutica chinesa se auto desacreditou e está enrolada com a Anvisa devido o elevado número de documentos que não juntou ao seu pedido de uso emergencial.] e acabou sendo comprada pelo Ministério da Saúde. São 100 milhões de doses que salvarão o governo federal do vexame de não ter como começar a vacinar imediatamente a população.
O episódio promete ter um final feliz, mas merece uma reflexão mais profunda sobre a natureza do governo Bolsonaro e a relação que pretende manter com os demais entes federados, a imprensa e a sociedade. Primeiro, adota os métodos da caserna em atividades civis, o que não tem chance de dar certo. Segundo, não compreende a natureza democrática do Estado brasileiro, regido pela Constituição de 1988, que é federativo e ampliado, ou seja, garante a independência dos demais poderes, a autonomia de estados e municípios, os direitos dos cidadãos e presta contas aos órgãos de controle e à sociedade. O Ministério da Saúde, muito mais do que o vértice, é o centro do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem uma gestão compartilhada horizontalmente com os demais entes federados e outros órgãos e autarquias, e não uma cadeia de comando vertical e militarizada, ou seja, trabalha na base da coordenação e cooperação. O ministro da Saúde precisa fazer a sua parte e liderar; se achar que manda em tudo, vira rainha da Inglaterra.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
Talvez esse seja o pior Natal de nossas vidas, em termos sociais, é claro, porque a experiência de vida de cada um é que determina a avaliação. Festa que congrega a família, confraterniza os amigos, dissemina amor e solidariedade, neste ano, a data magna do cristianismo, que é comemorada por todas as religiões ecumênicas, está sendo marcada pela maior tragédia humanitária já vista por nossas gerações, desde a Segunda Guerra Mundial. Aqui no Brasil, só não é maior por causa do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), público e universal, apesar de um presidente da República que, com seu negativismo, no combate à crise sanitária, sabota seu povo, seu governo e, em última instância, a si próprio.
A propósito, o biólogo evolucionista Richard Dawkins, no livro O Gene egoísta, publicado em 1976, sua obra-prima, tenta explicar a evolução biológica ao mostrar como certas moléculas replicadoras (ancestrais dos genes) poderiam ter evoluído de modo a formar as primeiras células e, a partir daí, todos os seres vivos existentes. O microscópico encontro de um vírus com uma bactéria, por exemplo, é um grande evento histórico da criação, que se reproduz na natureza a todo instante e provoca mutações genéticas. A covid-19 é fruto desse fenômeno.
Dawkins tentar explicar o problema profundo de nossa existência ao sugerir que os organismos vivos são sofisticadas máquinas de sobrevivência, eficientemente moldadas pelo processo de evolução para promover a replicação sexuada dos genes nelas contidos. Entretanto, essa abordagem levanta sérios questionamentos filosóficos. Seremos meros replicadores de genes, controlados por eles. Onde entra a consciência? Dawkins afirma que genes não têm vontades próprias ou valores morais. Aqueles genes que apresentam um comportamento que seria visto como egoísta pelos seres humanos são os que se mantêm representados dentro dos genomas das espécies, ao longo do processo evolutivo, com o passar dos anos e milênios. O altruísmo seria uma estratégia de sobrevivência, principalmente nos seres humanos.
Hoje, sabemos que os replicadores que sobreviveram foram aqueles que construíram as máquinas de sobrevivência mais eficazes para morarem; aqueles que foram menos aptos não deixaram descendentes. Cerca de 4 bilhões de anos depois, Dawkins explica: “Com certeza, eles não morreram, pois são antigos mestres na arte da sobrevivência. (…) Eles estão em mim e em você. Eles nos criaram, corpo e mente. E sua preservação é a razão última de nossa existência. Transformaram-se, esses replicadores. Agora, eles recebem o nome de genes e nós (todos os organismos vivos) somos suas máquinas de sobrevivência.”
O gene passa de corpo em corpo através das gerações, manipulando as máquinas de sobrevivência por meio de instruções escritas em linguagem digital (A, C, T e G), abandonando tais corpos mortais na medida que eles vão ficando senis e duplicando-se em sua prole. As instruções dizem basicamente: copie-me, ou seja, viva e reproduza. A reprodução é o processo de cópia dos genes, é o processo que os mantém vivos ao longo dos tempos. Socialmente falando, porém, essa eugenia (seleção de certos genótipos para a reprodução em lugar de outros) é totalmente inaceitável. Lembra as teorias de superioridade ariana e o Holocausto.
Sim, os mais fortes sobreviverão. E por que não os mais fracos? É para isso que serve a medicina. A postura do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia do novo coronavírus — “a melhor vacina é pegar o vírus” — é um inaceitável darwinismo social. Fé e confiança na ciência, por isso, são o melhor remédio contra a desesperança. Que venham as vacinas contra a covid-19.
Feliz Natal!
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
De fato, caberia ao Ministério da Saúde comandar a vacinação em massa dos brasileiros contra a Covid-19. Ninguém mais do que ele tem expertise para isso, e experiência e meios. Mas tudo foi deixado de lado quando o presidente Jair Bolsonaro recrutou o general Eduardo Pazuello para ocupar o cargo de ministro, que por sua vez recrutou militares para auxiliá-lo.
[O governador do estado de São Paulo permanece firme no propósito primeiro de usar, politicamente, a vacina contra a covid-19, custe o que custar.
Bolsonaro aderiu ao firme propósito de vacinar a população brasileira contra a covid-19 - sem que a vacinação seja obrigatória = a não obrigatoriedade está sendo a regra no Reino Unido, será nos Estados Unidos e ao que tudo indica na maior parte dos países.
O ilustre articulista no último parágrafo deste post diz: "É de se ver o tamanho da coragem de Bolsonaro para ordenar ao Exército o confisco das vacinas encomendadas por Doria e já em linha de produção". Continua...]
Pazuello pode ser um especialista em logística, mas no caso dele logística militar. E aprendeu na caserna que manda quem pode, obedece quem tem juízo. É Bolsonaro que manda, e ele se curva. De saúde pública nunca soube de nada. Admitiu que sequer sabia direito o que era o Serviço Único de Saúde (SUS) até o dia em que pôs os pés pela primeira vez no ministério.
Deve ter aprendido alguma coisa desde então, mas o insuficiente para continuar onde está. Confiscar a vacina produzida pelo Instituto Butantã é mais uma de suas ideias de jerico. Foi o governador Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, a quem Pazuello visitou ontem em Goiânia, quem disse que o confisco virá por meio de uma Medida Provisória a ser assinada por Bolsonaro.
O governador João Doria (PSDB) apressou-se a comprar a vacina chinesa fabricada pelo Butantã porque o governo federal não deu sinais convincentes de que vidas também lhe importam. Caiado defende o confisco porque não tomou a tempo a mesma providência e agora está sendo cobrado em seu Estado. Outros governadores foram mais responsáveis do que ele.
É de se ver o tamanho da coragem de Bolsonaro para ordenar ao Exército o confisco das vacinas encomendadas por Doria e já em linha de produção. Pode ser mais um blefe dele. Se não for, o Supremo Tribunal Federal, provocado por Doria, impedirá a consumação do absurdo.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
O Globo - Elio Gaspari, jornalista
Não bastasse isso, Bolsonaro age nos bastidores com sanha protelatória para que não tenhamos tão cedo a vacina. A mais evidente dessas manobras de protelação foi emperrar o máximo possível as importações de insumos indispensáveis para a sua produção no País. [quais os insumos indispensáveis que serão utilizados na produção da vacina que ainda não existe? Tão absurda e criminosa era essa situação que a própria Anvisa não mais aguentou ser desclassificada e aprovou na quarta-feira 28 a importação de tais insumos para a produção da Coronavac. “Cada dia que esperamos a autorização significou um dia a menos de vacina”, diz o hematologista Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, um dos mais conceituados em todo o mundo.
Na coxia de cada teatral polêmica que Bolsonaro levanta, estão a intenção e a estratégia protelatórias. Assim, na semana passada, ele veio com mais um desatino, e isso em um instante no qual os brasileiros estão sob a ameaça de um inimigo invisível. O presidente decretou o início dos estudos visando a conceder à iniciativa privada as Unidades Básicas de Saúde. O decreto significava dar o primeiro passo na direção da privatização do SUS — é mais ou menos como privatizar o ar que respiramos. Despencou sobre Bolsonaro uma avalanche de críticas (de médicos, cientistas, juristas e políticos), e ele, no seu estilo vaivém, voltou atrás em vinte e quatro horas: acerta quem pensar que, dessa forma, ganhou mais dia de distanciamento na concentração de esforços pela vacina. [ainda que errando Bolsonaro acertou ao provocar uma causa nobre: o reconhecimento público e notório por todos da eficiência do SUS, tanto no dia a dia, quanto durante a peste covid-19.
Só assim o SUS ganharia as manchetes, sendo enaltecidos seus méritos e o heroísmo e dedicação dos seus anônimos funcionários.]
Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA
Quando a pandemia do novo coronavírus passar, a medicina nunca mais será a mesma. As consultas por teleconferência, introduzidas em massa durante a pandemia, vieram para ficar
A Prefeitura de Vitória (ES) tem uma das melhores redes de atendimento básico à saúde do país, resultado de sucessivas administrações, mas, sobretudo, do avanço tecnológico promovido pelo atual prefeito, Luciano Rezende (Cidadania), que encerra o seu segundo mandato. Com as inovações, foi possível ampliar o atendimento em 30%, sem contratação de médicos ou construção de novos postos de saúde. Qualquer cidadão atendido na rede, inclusive nos dois pronto atendimentos (PAs) da cidade, recebe um torpedo no celular para dar uma nota de 0 a 10 de avaliação do atendimento. A nota média, em setembro, mesmo na pandemia da covid-19, foi 9,11. O ovo de Colombo surgiu depois de uma viagem de avião, quando o prefeito recebeu uma mensagem pedindo uma nota de avaliação do serviço da companhia aérea.
A revolução tecnológica começou pelo Pronto Atendimento de São Pedro, antiga região de palafitas, erradicadas nas administrações de Vitor Buaiz (PT) e Paulo Hartung (MDB). Na administração do tucano Luiz Paulo Velozzo Lucas, da qual Rezende foi secretário de Saúde e de Educação, esses serviços foram ampliados. Mas, foi preciso muita inovação tecnológica para que a gestão da saúde fosse focada 100% na ponta do atendimento ao público. Quando os torpedos começaram a ser disparados, houve muitos questionamentos, porque tudo influencia a avaliação, e não apenas o atendimento médico propriamente dito. O PA de São Pedro, por exemplo, foi o mais mal avaliado. Esse resultado levou a que os diretores dos dois melhores postos de saúde da cidade fossem transferidos para lá, onde a população mais pobre da cidade é atendida na emergência, 24 horas, todos os dias, inclusive domingos e feriados. A média da avaliação dos usuários, em setembro passado, foi de 8,66. Mesmo com a pandemia, a menor nota de avaliação do PA de São Pedro foi 7,29, em março.
A chave para o alto desempenho foi a sinergia entre as secretarias de Saúde e da Fazenda, que colocou o time da subsecretaria de Tecnologia de Informação para desenvolver soluções que melhorassem a gestão da Saúde, obrigada a fazer mais com menos, devido à queda de 25% da arrecadação da cidade, com o fim do Fundap (fundo de desenvolvimento extinto em 2002, que beneficiava o complexo exportador capixaba). Ao contrário de outros municípios, que estão na latitude dos poços da Bacia de Campos, Vitória se beneficia pouco dos royalties de petróleo destinados aos capixabas.
Medicina a distância
Para melhorar o atendimento à população, o acesso à informação, a
organização e o controle das unidades de saúde, a Secretaria Municipal
de Saúde (Semus) registra a fila de atendimento, a classificação de
risco, os procedimentos da sala de medicação, com prescrição e checagem
de forma eletrônica. Os sistemas informatizados permitem agilizar
procedimentos administrativos, gerenciais, de atendimento e acesso à
informação de pacientes. Além disso, o sistema gera o prontuário
eletrônico com os dados do atendimento prestado ao paciente. Para que o
atendimento seja mais rápido, basta o usuário apresentar um documento
com foto e ele será encaminhado para a classificação de risco. Depois,
aguarda o atendimento médico ou odontológico de acordo com a gravidade
do caso. As consultas são automaticamente remarcadas em caso de não
confirmação. O time de engenheiros e programadores da prefeitura,
funcionários de carreira, acabou com as filas de atendimento e reduziu a
5% as faltas às consultas médicas, que representavam 30% do total.
Além da rede de postos de saúde e centros de referência, a prefeitura mantém atendimentos psicossocial para adultos e infanto-juvenil, de prevenção e tratamento de toxicômanos, atenção a idosos, gestantes e pediatria. São oferecidos serviços de cardiologia, dermatologia, endocrinologia, gastroenterologia, neurologia, obstetrícia (alto risco), oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, proctologia, psiquiatria, reumatologia, urologia, homeopatia, acupuntura e pequenas cirurgias, além de tratamento odontológico (radiologia, endodontia, periodontia e prótese dentária), e de diagnóstico de câncer de boca. Tudo gratuito. Além de equipes de médicos de família, agentes comunitários de saúde e orientadores de exercícios físicos.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
Tem razão o general da reserva Rêgo Barros, ex-porta-voz da Presidência: falta alguém ao lado do presidente Jair Bolsonaro para dizer-lhe no ouvido: “Memento Mori!” — lembra-te que és mortal! A sentença latina intitula o artigo publicado, na terça-feira, pelo Correio Braziliense, com a assinatura do militar. É a mais dura crítica feita ao ex-capitão por um dos generais que apoiaram sua eleição e agora se arrependem. “Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião. É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais.”
Rêgo Barros não cita Bolsonaro, mas é a ele que se refere quando alerta que os demais Poderes da República “precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do ‘imperador imortal’. Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões. A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César”. Rêgo Barros foi defenestrado do cargo depois de uma longa queda de braço com o vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, que dá as cartas na Comunicação Social do Palácio do Planalto.
Seu artigo reflete o pensamento de uma parcela dos altos oficiais das Forças Armadas, principalmente depois da humilhação a que foi submetido o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, desautorizado por Bolsonaro e, depois, constrangido a dar uma declaração, ao lado do chefe, dizendo que Bolsonaro manda e ele obedece. Na semana passada, no Dia do Aviador, durante a solenidade de entrega dos novos caças F-39E Gripen da Aeronáutica, era visível o constrangimento dos generais presentes, inclusive do comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, para quem o cerimonial da Presidência reservou a cadeira mais distante do presidente da República, entre todas as autoridades presentes.
Entretanto, nada disso muda o fato de que Bolsonaro manda e os militares, de fato, obedecem, por dever constitucional. São poucos os militares que se manifestam contra Bolsonaro, a maioria apoia o governo incondicionalmente. Além de abrigar muitos oficiais no governo — estima-se que sejam em torno de sete mil, inclusive, alguns generais da ativa —, Bolsonaro poupou os militares na reforma da Previdência, mantendo o salário integral dos oficiais ao se aposentar, sem idade mínima obrigatória, e a contribuição máxima de 10,5% ao INSS, contra o teto de 11,68% na iniciativa privada. [atualização: os militares não estavam subordinados ao RGPS, portanto, não foram poupados - apenas não foram alcançados pela reforma, realizada em normas que não alcançavam os militares.
Aproveitamos para registrar, pela enésima vez, uma posição já conhecida: Deveria ser obrigatório um porta-voz para expressar a posição oficial do presidente da República - as entrevistas de corredor, de cercadinho deveriam ser evitadas.
Em situações excepcionais, o presidente da República poderia conceder entrevista coletivas, com perguntas apresentadas previamente.]
Atendimento em massa
A propósito, faltou um memento mori, por exemplo, na hora em que
Bolsonaro assinou o decreto autorizando a realização de estudos para
privatização das unidades básicas do Sistema Único de Saúde (SUS), a
cargo dos municípios, para espanto dos sanitaristas, dos prefeitos e da
população que utiliza os serviços públicos, a maioria por não ter plano
de saúde. A reação foi tão negativa nas redes sociais que Bolsonaro teve
de cancelar o decreto, que incluía o sistema de atendimento básico —
considerado um dos melhores do mundo — no programa de privatizações e
parcerias público-privadas do Ministério da Economia. Como filho feio
que não tem pai, ninguém assume a ideia de jerico. O governo divulgou a
versão de que a proposta era do Ministério da Saúde. E que seria uma
solução para conclusão de 4 mil UBS inacabadas, que já consumiram R$ 1,7
bilhão de recursos do SUS, obras de responsabilidade do governo
federal.
Bolsonaro não levou em conta que o SUS atende 190 milhões de brasileiros, contra 46 milhões dos planos de saúde. Antes de sua criação, eram apenas 30 milhões. Produz 7,8 bilhões de medicamentos, sendo 163 milhões de antiretrovirais. Realiza 2 milhões de partos por ano, tem mais de 30 mil equipes de saúde da família e 248 mil agentes comunitários de saúde em 5.393 municípios. Graças a essa estrutura, com todas as suas deficiências, a tragédia da pandemia do novo coronavírus, que já matou 157,8 mil brasileiros, não é maior. Dos 5,4 milhões de infectados, 4,9 milhões recuperaram-se e 375,2 mil estão em recuperação.
A esmagadora maioria utiliza os serviços do SUS.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
A fatura chegou primeiro para os desempregados e trabalhadores “por conta própria”, que dependem do auxílio emergencial do governo; mas virá para todos, à prestação
Desculpe-me o trocadilho, mas tem tudo a ver com a velha frase dos bares norte-americanos que nas décadas de 1930 e 1940 ofereciam a refeição para quem pagasse a bebida. Ficou mundialmente famosa porque intitulou um dos livros do economista liberal Milton Friedman, guru do ministro da Economia, Paulo Guedes. A lembrança não tem nenhuma relação direta com suas frases de efeito, até porque, ele tem evitado declarações polêmicas, mas, com o artigo publicado, ontem, pela economista Mônica de Bolle no jornal O Estado de S. Paulo, a propósito dos custos econômicos do negacionismo de Donald Trump em relação à pandemia. Os custos políticos podem inviabilizar a reeleição dele.
Segundo os economistas norte-americanos David Cutler e Lady Summers, citados no artigo, a queda do PIB norte-americano deve chegar a US$ 16 trilhões até outubro do próximo ano, ou seja, 90% do PIB, se a pandemia for controlada até lá. Nos cálculos dos dois economistas, foram incluídos os indicadores econômicos, como o aumento dos pedidos de seguro desemprego, mas, também, estimativas relativas aos prejuízos causados pela liquidação de vidas humanas, ou seja, de força de trabalho geradora de riqueza. [a realidade mostrada nesse parágrafo, isenta o governo Bolsonaro por qualquer responsabilidade de eventual desastre econômico no ano 2020 = incluindo, sem limitar a esperada queda do PIB.]
O Brasil não tem indicadores que possibilitem esse tipo de cálculo, mas tem estatísticas que podem servir de referência para um razoável balanço de perdas e danos. Pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora da Sais/Johns Hopkins University, Mônica De Bolle destaca que o nosso Sistema Único de Saúde (SUS), posto à prova pela pandemia, pode nos dar uma noção, por exemplo, de quanto será preciso investir na Saúde em razão das sequelas da covid-19 nas pessoas que se recuperaram da doença. Como a população está envelhecendo, a pandemia também agrava, por falta de tratamento, as doenças associadas à idade — diabetes, câncer, cardiopatias —, que se somam àquelas que são consideradas endêmicas, como tuberculose, dengue, hanseníase, malária e Aids, que já pressionavam o sistema de saúde.
Crediário
O número de casos graves com longas internações é sete vezes maior do
que o de óbitos; 30% dos que sobreviveram apresentam sequelas.
Projetam-se 350 mil pessoas nessa situação, a grande maioria dependente
do SUS. Com mais de 150 mil mortos, Mônica de Bolle estima que o custo
econômico da pandemia no Brasil, por baixo, pode chegar a R$ 9 bilhões,
sem considerar as mortes prematuras, ou seja, dos jovens que não faziam
parte da população de risco. Coincidentemente, ontem, num evento da
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o presidente Jair
Bolsonaro disse que a pandemia da covid-19 no Brasil foi superestimada.
Bolsonaro insiste que o vírus e o desemprego devem ser tratados de igual
maneira, simultaneamente. [Bolsonaro é presidente do Brasil e de todos os brasileiros, o que torna imperativo que sempre considere o Brasil no todo e tenha sempre presente evitar a frase: sobreviveu à covid-19,mar morreu de fome.]
O Brasil é o 2º país com mais mortes por covid-19. Só os Estados Unidos têm mais vítimas: 220.694. Até o final da tarde de ontem, eram 150.998 óbitos de brasileiros causados pela doença. Segundo o Ministério da Saúde, 5.113.628 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus no país, 10.220 a mais nas últimas 24 horas. O número de mortes, felizmente, está caindo: foram 309.
Aproximadamente 4,5 milhões de pessoas se recuperaram da doença até o momento. Outras 436 mil estão em acompanhamento. São 713 vítimas a cada milhão de habitantes, o que coloca o Brasil na 3ª posição de letalidade da pandemia no ranking mundial. O Peru é o país onde a covid-19 mais mata em relação ao número de habitantes (1.008 pessoas para cada milhão), o segundo é a Bélgica (880 pessoas). [percebe-se que a letalidade da pandemia ignora a capacidade econômica dos países: Peru x Bélgica ?
Falando sobre letalidade da covid-19 no Brasil, surge a necessidade de destacar uma informação:
- Se consultarmos o site do Registro Civil, que tem fé pública, constatamos que, no ano passado, no Brasil, no mesmo período, morreram de pneumonia 139.906 pessoas e, neste ano, 140.957 da covid-19. Não houve histeria por causa da pneumonia no ano passado. Seria medo de uma doença desconhecida? ]
As advertências de Mônica de Bolle são importantes porque as pesquisas de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, com a recuperação de seu prestígio, reforçam o discurso negacionista oficial, robustecido pelo fato de que o pior já passou e a redução das taxas de contaminação permite que a política de isolamento social seja flexibilizada, como está sendo, na maioria das cidades. A fatura do vírus chegou primeiro para os desempregados e trabalhadores “por conta própria”, que perderam sua fonte de renda e dependem do auxílio emergencial do governo. A ideia de uma recuperação econômica rápida, acalentada pelo ministro Paulo Guedes, porém, não tem sustentação técnica. A conta está chegando para os demais à prestação.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
Coluna publicada em O Globo - Economia 8 de outubro de 2020
Entre as diversas ideias de jerico propostas para financiar o programa Renda Cidadã, apareceu mais uma nesta semana: a de eliminar a dedução de 20% aplicável aos contribuintes do IR que declaram pelo formulário simples. Nesse caso, o contribuinte abre mão de descontar os gastos com saúde e educação, que são, digamos, os mais vantajosos para os que podem pagar escola, médicos e hospitais no particular.
Inversamente, quem escolhe a declaração simplificada está nas faixas mais baixas de renda, usa o SUS e coloca as crianças em escolas públicas. Ou seja, cortar o desconto de 20% na declaração simples é favorecer os mais ricos e tomar dinheiro dos mais pobres. É evidente que tem de ser o contrário. Acompanhem estes números: neste ano, ficou isento de pagar IR quem ganhou abaixo de R$ 28.559 em 2019. O presidente Bolsonaro prometeu várias vezes aumentar a faixa de isenção, primeiro para R$ 4.700 e depois para R$ 3.000. Deixou para lá. A faixa não foi sequer corrigida pela inflação. [nessa 'omissão' o presidente Bolsonaro está inocente = corrigir tabela de IR, aumentando a faixa de isenção, em um ano de pandemia seria um complicador a mais. Quem deve ir para o troncos são os três antecessores do presidente, que se omitiram vergonhosamente].
Agora, comparem: o teto salarial do funcionalismo é de R$ 39,2 mil por mês – dez mil acima da faixa de isenção de IR para ganhos anuais. Tem mais: o teto do funcionalismo simplesmente não é respeitado. A combinação dos auxílios moradia, educação, transporte e alimentação – que variam de setor para setor e entre Estados – mais tempo de serviço, participação em conselhos de estatais, venda de férias e acumulação com aposentadorias, milhares de funcionários recebem muito mais que o teto. Dizem que o teto é só o salário. O resto é direito adquirido e/ou vantagem pessoal, fura-teto, portanto.
Assim, o contracheque pode passar de R$ 200 mil mensais. Vencimentos entre 50 e 60 mil são até comuns em determinadas categorias, especialmente no Judiciário. [destaque-se: nos contracheques dos MEMBROS do Poder Judiciário, dos MEMBROS do Ministério Público e nos MEMBROS do Poder Legislativo.]
Sem contar alguns absurdos que nem custam tanto, mas são de espantar: funcionários em trabalho remoto recebendo auxílio …. transporte. Não é simples calcular o custo desses benefícios pelo país todo, mas o corte de parte dos auxílios para funcionários que, digamos, ganhem acima de R$ 5 mil mensais e mais imposição rigorosa do teto de R$ 39,2 mil chegariam fácil ao valor anual do atual Renda Família (R$ 30 bilhões). [quem quiser ter uma ideia das dificuldades, melhor dizendo, impossibilidades de fazer respeitar o teto de R$ 39,2 mil, clique aqui.] Para os do topo, seria um “sacrifício” razoável de se pedir. No Brasil, quem ganha R$ 30 mil/mês está no grupo do 1% mais rico. Segundo um estudo do Instituto Millenium, o salário médio dos funcionários do Legislativo federal com curso superior está justamente em torno desses 30 mil. Reparem, é salário médio.
Grosso modo, a despesa do governo federal prevista para o ano que vem é de R$ 1,5 trilhão. Parece muito, é muito, mas mal dividida. Cerca de 80% disso, ou R$ 1,2 tri vão para aposentadorias, pensões e salários. Dos R$ 330 bi que sobram, R$ 200 bi vão para outras despesas obrigatórias, especialmente com saúde e educação. Sobram R$ 100 bi para o Congresso e o governo distribuírem para despesas de custeio e investimento. [qual a sugestão? - tendo em conta que saúde e educação precisam de mais recursos ou, na pior das hipóteses, deixar como está; despesas inúteis ou postergáveis (tipo Fundos Eleitoral e Partidário ou acabar com esse gasto com eleições a cada dois anos = realizando uma só a cada quatro anos) - não aceitam mexer.
Se adiar por um ano uma das despesas citadas e a outra por dois anos, teremos pelo menos 1/3 dos R$ 30 bilhões do Renda Cidadã.
Eliminar os salários obrigando os funcionários públicos a trabalharem de graça é impossível; eliminar as despesas com aposentadorias e pensões - eliminando os beneficiários = é crime.]
Nessa conta, é impossível arranjar o dinheiro para engordar o Bolsa Família. Só restam dois caminhos, aumento de imposto (a tal CPMF digital) ou o corte de gastos na folha dos funcionários de nível mais alto. [A CPMF não passa - caso passe o presidente Bolsonaro estará encerrando sua carreira política - e cortar gastos na filha dos funcionários mais altos é mexer com MEMBROS, vai complicar, não vai dar certo e o apurado - caso consigam - será insuficiente].
Sim, porque há uma enorme desigualdade dentro do setor público. Há professores do ensino fundamental, com curso superior, ganhando R$ 3,3 mil mensais, pouco mais da metade da média de R$ 6 mil dos servidores federais com nível médio. Olhando os números, dá para saber onde cortar, com justiça.
Reparem: a tese não tinha nada a ver com sua função de ministro da Defesa e sua atuação política. Mas ele teve que renunciar. É uma questão moral óbvia. A pessoa, qualquer pessoa, não pode copiar teses, nem inventar currículos.
[presidente Bolsonaro, uma indicação errada, desde que anulada, cai no pacote do 'errar é humano, permanecer no erro é diabólico'.
Só que manter a indicação é permanecer no erro - cabe ao senhor escolher].
Simples assim.