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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

OMS recua e desiste de classificar velhice como doença - Folha de S. Paulo

Mudança, que passaria a figurar na CID a partir de janeiro, ocorre após protestos 

Após forte pressão internacional de organizações científicas e da sociedade civil, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recuou da decisão de classificar velhice como doença na nova versão CID 11 (Classificação Internacional de Doenças), que entra em vigor em janeiro de 2022. A mudança foi confirmada nesta terça (14) por um diretor da entidade ao médico e gerontólogo brasileiro Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade e que já dirigiu o programa de envelhecimento da OMS.

A proposta anterior era substituir o termo senilidade (código R-54), que já existe na CID, por "velhice sem menção de psicose; senescência sem menção de psicose; debilidade senil" (MG2A).  Mas houve uma forte reação negativa porque o entendimento foi que, ao assinar um atestado ou um diagnóstico, o médico poderia passar a considerar velhice como doença.

A sugestão agora é que o texto do código seja "declínio da capacidade intrínseca associado ao envelhecimento". Porém, ainda pode haver alterações até o fim do ano.  A CID é um conjunto de 55 mil códigos usados por profissionais da saúde, pesquisadores e formuladores de políticas públicas. Está na sua 11ª atualização.

À primeira vista, a mudança pode parecer sutil, mas especialistas em envelhecimento dizem que ela já acalma os ânimos da comunidade internacional. Nos últimos meses, ocorreram mobilizações de governos, sociedades médicas e entidades ligadas ao envelhecimento em diversos países, inclusive no Brasil, pedindo que a OMS alterasse o código.

A avaliação era que, ao relacionar velhice à doença, a nova classificação poderia ser usada para negligenciar os diagnósticos de doenças nos mais velhos, impedir o registro correto das causas de mortes e ainda aumentar a discriminação contra a população idosa "Essa decisão agora coloca um freio no idadismo que iria atingir níveis sem precedentes. De repente, ficaríamos todos com o rótulo de velhos. Se é velho, deixa morrer. Não vai tratar, não vai fazer diagnóstico", diz Alexandre Kalache.

Para a enfermeira Yeda Duarte, professora da USP e coordenadora do estudo Sabe, que acompanha o envelhecimento na capital paulista, o recuo da OMS foi muito importante, mas a comunidade científica aguarda ansiosa a publicação final do texto. "Por enquanto, houve uma promessa de mudança. Ainda não é a melhor classificação, mas a CID é sempre uma coisa que você pode fazer sugestões, apresentar evidências e ele vai sendo ajustado no meio do caminho."

 No Brasil, 3 em cada 4 mortes ocorrem a partir dos 60 anos. São desfechos de doenças cardiovasculares, oncológicas e neurológicas. Para o médico Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, seguindo o entendimento do código proposto anteriormente, todos os óbitos futuros dessa faixa etária poderiam ter a causa catalogada como velhice.

Em abril deste ano, a morte aos 99 anos do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth , do Reino Unido, acendeu o alerta internacional para a questão. A causa da morte foi "idade avançada", segundo o atestado assinado pela equipe médica que cuida da família real britânica. Mas semanas antes da morte, o príncipe havia sido submetido a uma cirurgia cardíaca.

Em audiência na Câmara dos Deputados sobre o assunto, Maria Cristina Hoffmann, representante da Coordenação de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, disse que a alteração poderia levar a registros nos atestados de óbitos sem a garantia de investigar a causa real da morte, o que prejudica a elaboração de políticas públicas. "Declaração de óbitos é uma fonte importante de conhecimento de saúde. Seria um risco se começassem a colocar lá que a pessoa morreu de velhice. A gente perderia o controle de quantos tinham Parkinson de quantos morreram Alzheimer, informações muito importantes para o planejamento de políticas públicas", diz o geriatra Marco Túlio Cintra, vice-presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Na audiência pública da Câmara, Juan Escalante, representante da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), braço da OMS para as Américas, justificou que a intenção da CID não foi classificar a velhice como doença, mas sim permitir que a inclusão da palavra agrupasse fatores que influenciam na saúde. Na opinião de Marco Cintra, da SBGG, a polêmica também pode ter sido provocada fatores culturais. "Para nós, de língua portuguesa e espanhola, o termo velhice ficou pejorativo. A gente tem lutado muito para combater estigmas e preconceitos contra o envelhecimento. Envelhecer não é uma doença, não é peso para sociedade. Depende do envelhecimento de cada pessoa."

Outra questão muito discutida nos últimos meses foi que, uma vez associada a doença, a velhice virasse um alvo ainda maior da indústria 'anti-ageing' e de tratamentos sem evidências com promessas de retardá-la. "Não falta quem queira entrar nesse mercado. A indústria anti-ageing comanda US$ 37 bilhões nos EUA por ano. Há um lobby poderoso", afirma Kalache.

Para ele, o novo termo que deve ser adotado pela OMS (declínio da capacidade intrínseca) também não é o ideal porque remete à capacidade biológica de cada um e tira a importância dos determinantes sociais da saúde. "Os fatores hereditários, intrínsecos, biológicos respondem por apenas 25% das chances de se chegar bem à longevidade; 75% dependem da forma como você vive, o acesso que tem a uma alimentação saudável, à saúde, à educação, à prática de atividades físicas."

Na sua opinião, é possível que a discussão sobre o novo código se arraste no próximo ano. "Minha aposta é no desenvolvimento de um código relacionado à fragilidade. Fragilidade é algo que podemos definir, mensurar, fazer intervenções, qualquer pode se tornar uma pessoa fragilizada em qualquer etapa da vida."

Para Ieda Duarte, a classificação anterior seria um enorme contrassenso para a luta por um envelhecimento ativo e saudável e também em relação a uma publicação da própria OMS, no início de 2021, de relatório denunciando o idadismo contra idosos. A classificação do envelhecimento biológico como doença foi feita em artigos publicados em periódicos internacionais a partir de 2015, por grupos de pesquisadores da Bélgica, da Suécia, do Reino Unido, entre outros.  Em maio de 2019, a incorporação da classificação da CID-11 foi aprovada na 72ª Assembleia Mundial de Saúde, mas passou praticamente despercebida até que a morte do príncipe Philip reacendeu o debate.

Saúde - Folha de S. Paulo


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A MELHORA COMEÇA PELO SENADO - Gilberto Simões Pires

ANTES DA CURA
Antes de tudo é importante que todos entendam que muito antes de uma pretensa e desejada cura de qualquer paciente, é preciso que o quadro de saúde do mesmo comece a dar sinais de melhora. Isto só é possível depois que as doses dos medicamentos utilizados confirmem que estão produzindo os efeitos apontados pelo diagnóstico da doença. E quando a cura se mostrar impossível, aí o que realmente importa para o paciente é saber da existência de meios que tornem o mais confortável possível a convivência com a doença.

MÉDICOS
No caso do paciente Brasil, já é mais do que sabido que a cura das inúmeras e complicadas doenças que foram sendo adquiridas ao longo do tempo está muito longe do possível. Alguns brasileiros, movidos por uma mistura de UFANISMO EXAGERADO com incontrolável OTIMISMO SEM CAUSA, não são capazes de entender que antes da desejada CURA é preciso colocar o Brasil nas mãos de MÉDICOS capazes de tratar as múltiplas doenças, que além de dolorosas ainda sangram demasiadamente os cofres públicos.

METÁFORA                                                                                              Esta metáfora cabe perfeitamente para mostrar o quanto estão equivocados aqueles que apontam o dedo e a garganta para o STF, como se seus maldosos e ideológicos integrantes fossem os reais responsáveis:                                                                                              1- pelo não cumprimento da agenda do governo, cujas ações e intenções estão devidamente descritas no Plano que elegeu a atual administração do atual governo; e,     
2 - pelo incrível e notório descumprimento da Constituição. Na real, a responsabilidade cabe exclusivamente ao SENADO, que além de aprovar os ministros que ocupam a Suprema Corte, também tem o poder de tirá-los de lá quando descumprirem o que manda a Constituição.

SENADO
Nestes últimos anos, por tudo que se viu, ouviu e assistiu, os ministros do STF resolveram desafiar os PODERES - EXECUTIVO E LEGISLATIVO. Como perceberam que nenhuma instituição, notadamente o Senado, resolveu brecar as suas insistentes intervenções em tudo que acontece no nosso empobrecido Brasil, aí o STF decidiu acelerar o bonde, fazendo valer, cada dia com mais vigor e muita alegria, as mais estranhas e incríveis vontades de seus maldosos integrantes.

A MUDANÇA COMEÇA PELO SENADO
Diante deste claro diagnóstico, o tratamento indicado para a -MELHORA- do quadro de saúde do nosso Brasil impõe que nas próximas eleições em outubro de 2022, o povo brasileiro escolha a dedo e com muito cuidado e enorme interesse, quem deve ocupar as cadeiras dos 27 senadores que vão compor o Senado a partir de 2023. Tudo indica que elegendo 15 bons e corretos senadores, do total de 27, o doente Brasil pode, enfim iniciar as cirurgias que possam produzir os efeitos necessários para conviver com os problemas crônicos ou considerados incuráveis no curto e médio prazo.

Ponto Crítico - Gilberto Simões Pires


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O atentado silencioso - Guilherme Fiuza

Gazeta do Povo - VOZES

No dia 11 de setembro de 2001 o mundo achou que estava acabando. Ou pelo menos que estava chegando ao fim um determinado tipo de civilização. Aqueles aviões atirados contra prédios imensos em Nova York talvez não existissem, até então, nos piores pesadelos. E as notícias em tempo real indicavam que havia outros aviões sequestrados e prontos para ser usados também como dardos gigantes – a exemplo de outro que já explodira contra o Pentágono.


Foto: Big Stock

Os Estados Unidos da América estavam vulneráveis como uma casa de bonecas no meio de um bombardeio. A nação mais poderosa do mundo capitulando ao vivo daquela forma patética e chocante parecia mesmo a senha do fim do mundo. Mas não era. O mundo só acabou 20 anos depois.

A imagem terrível de aviões cheios de passageiros usados como dardos diabólicos parecia que jamais teria paralelo – mas aí está ele. Num arrastão totalitário e obscurantista, crianças são empurradas para tomar vacinas sem estudos conclusivos quanto a eficácia e nem mesmo quanto a segurança – num experimento hediondo que despreza os baixíssimos riscos infantis da doença contra a qual supostamente se quer imunizar.

Ninguém com vergonha na cara em 2021 consegue explicar a lógica de se vacinar crianças contra covid. Mas uma menina de 12 anos com sequelas neurológicas após se vacinar, apresentada por sua mãe em prantos no Senado dos EUA, não comove a humanidade – não a ponto de uma revisão severa neste plano de vacinação irresponsável. Segundo levantamento recente do epidemiologista John Ioannidis (Universidade de Stanford) a chance de morte por covid de 0 a 19 anos de idade é, em média, de 0,0027%.  

Quem tem coragem de afirmar que a menina Maddie, de Ohio, precisava tomar essa vacina como uma cobaia para “salvar” crianças e adolescentes de um risco de 0,0027% de morrer? O mundo acabou. Você tem à sua volta novos dardos diabólicos mostrando a face hedionda da humanidade – agora apontados para bilhões de pessoas. Um dos maiores propagandistas desta insana vacinação infantil contra covid é o mesmo que está sob investigação do Senado norte-americano – suspeito de bancar a manipulação do coronavírus no Instituto de Virologia de Wuhan, cidade chinesa onde surgiu a pandemia, Dr. Anthony Fauci. Anote este nome no seu diário do fim do mundo.

Vacinas que sequer impedem a transmissão do vírus entre pessoas vão sendo empurradas dentro de uma suposta ética de saúde. É claro que se uma vacina gera imunização individual (ao menos contra agravamento da infecção, como dizem) e não impede o contágio, não há ética coletiva alguma sustentando a tese de que todos precisam se vacinar para proteger o outro. E onde se alega ciência sem que exista ciência, pode haver qualquer coisa: propaganda enganosa, lobby, violência ou crime. Só que a humanidade se submete docilmente a esses perigosos princípios farsescos. O que houve com o mundo? É simples: ele acabou.

A mãe de Bruno Graf, morto aos 28 anos de idade de AVC hemorrágico após se vacinar contra covid, está encomendando exames no Brasil e no exterior para investigar exatamente a causa da morte. Foi a mesma vacina e a mesma consequência que matou Thaís Possati de Souza – levando a Anvisa a vetar essa vacina para grávidas. A mãe de Bruno, Arlene Ferrari Graf, tem recebido diversos relatos de famílias de vítimas das vacinas contra covid – todas vítimas da desinformação e da propaganda enganosa que vende a vacinação como um processo seguro e eficaz, sem que os estudos requeridos estejam concluídos.

O mundo acabou porque a humanidade entregou sua saúde e sua liberdade aos tiranos do falso humanismo. Virou refém de lockdowns, passaportes sanitários e outras atrocidades. Isso é terrível e pode ter consequências ainda mais profundas que quatro aviões sequestrados por terroristas carniceiros. Em setembro de 2021, o mal está vestido com as roupas do bem. Rasguem-nas, se acharem que ainda pode haver vida saudável depois do fim.

[o Blog Prontidão  Total, corrobora sua posição favorável ao uso de vacinas. Apenas nos parece que o uso em pessoas dos 12 aos 17 anos deve ser precedido de amplos estudos e realizado sob rigoroso acompanhamento dos que receberem o imunizante.
Não podemos deixar de destacar o comportamento estranho, dizendo o mínimo, do governador do DF,  que passou a priorizar a segunda dose, em detrimento da primeira - por óbvio, aplicar a primeira é essencial para que possa ocorrer a aplicação da segunda dose. Temos observado que a cada dia o número de 'completamente' vacinados se aproxima do número dos que tomaram a primeira dose = quando os vacinados com a primeira dose ainda não representam sequer 70% do total de vacinados. 
Se alguma  coisa não for feita para incrementar a primeira dose, logo o número dos vacinados com a segunda dose alcança o dos que receberam apenas a primeira e vai sobrar, digamos, um 'buraco'  entre 30% a 40% da população do DF que não tomaram nenhuma dose.]

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 8 de maio de 2021

Covid-19: como as duas maiores cidades sem mortes enfrentaram a doença

Em Bonito de Minas, maior município sem óbitos, estratégia inclui testagem de quem teve contato com infectado, ação contra fake news e até 'fiscal de fila'

Em todo o país, menos de cem municípios seguem sem óbitos pelo novo coronavírus a imensa maioria com menos de 4.000 habitantes. VEJA fez um cruzamento entre os dados mantidos pela plataforma Brasil.io, que consolida os números dos boletins epidemiológicos emitidos pelos estados, dados divulgados pelas prefeituras e do IBGE e confirmou que todas as cidades brasileiras com mais de 10 mil habitantes já tiveram ao menos uma morte por Covid-19.

Há apenas uma exceção: Bonito de Minas, pacata cidade no norte mineiro, encravada na divisa com a Bahia, a 210 km de Montes Claros. É verdade que o fato de ao menos 70% da população de pouco mais de 11.000 pessoas ser rural atenua a propagação do vírus, mas a lição de casa foi feita desde o início. Até hoje, não houve casos graves e nenhum paciente precisou ser internado. Tudo isso só foi possível porque a administração local conseguiu envolver os cidadãos e fez ouvidos moucos a qualquer tipo de negacionismo.

As estratégias são diversas e não envolvem apenas profissionais da saúde. No coração de todo o plano, está um comitê interdisciplinar que discute medidas de prevenção quase diariamente. A cidade é dividida por cinco zonas e tem equipes de profissionais de saúde que fazem visitas aos domicílios. Aproveitam o ensejo e conscientizam as famílias.

Como contenção, assim que um caso é confirmado, todas as pessoas que tiveram contato com o infectado são isoladas, testadas e monitoradas com lupa. A cidade tem três Unidades Básicas de Saúde — na sede e duas na zona rural. Mas todos os casos de síndromes virais vão para um único comitê habilitado a agir nos casos de Covid-19. Bonito de Minas registrou 47 casos desde o início da pandemia e já vacinou 1.915 habitantes com a primeira dose e 634 com as duas doses.

'Fiscal de fila’

Se houver alta no contágio, Bonito de Minas fecha o comércio. Nos primeiros dias do mês, quando é comum a população rural ir à sede do município e os bancos ficam mais cheios, uma espécie de “fiscal de fila” acompanha o movimento e se certifica de que o distanciamento é seguido à risca. São quatorze deles, que também percorrem os estabelecimentos – mais com o objetivo de conscientizar do que de punir. Aos poucos, a população identificou esses cuidados e incorporou-os à sua própria 
dinâmica. “Aqui a gente está conseguindo envolver a sociedade e isso é um diferencial”, afirmou a prefeita Vânia Carneiro (Avante).


Outro plano envolve o âmbito da comunicação, com o uso das redes sociais, principalmente o Instagram, e um feed com linguagem despachada, com direito a expressões bem mineiras: “Inventa moda, não. Fique em casa”, “Não aglomera não, trem” e “Uai sô, fica em casa”. Tudo isso tem um objetivo específico. “A população idosa daqui já tem o hábito de ficar mais em casa. Então, a gente precisava conscientizar os jovens. O importante era mobilizar mais o neto do que o avô”, conta Gabriella Viana, de 17 anos, que integra o grupo de três pessoas que cuida do marketing.

A equipe “se infiltrou” em g rupos de moradores no WhatsApp — comum em cidades do interior, o município também tem o grupo “Carona Bonito de Minas”, de igrejas, etc. Lá, colocam boletins e desfazem fake news. A prefeitura também criou um WhatsApp para receber denúncias de aglomerações e conta com o apoio da Polícia Militar para checá-las e contê-las se for, eventualmente, o caso. “A população está vigiando a população”, diz a secretária de Saúde, Lilian Xavier. 

Massapê do Piauí

Distante 320 km da capital Teresina, Massapê do Piauí tem pouco mais de 6.000 habitantes e faz parte da seleta lista de menos de 100 municípios brasileiros sem registro de mortes por Covid-19. Até o momento, 218 casos da doença foram confirmados. O  novo coronavírus mal havia sido registrado no país e a cidade já adotou medidas de proteção. As autoridades foram à rádio local alertar a população de que não havia motivos para pânico, mas que cuidados precisariam ser tomados daquele fatídico mês de março em diante. Houve a suspensão das atividades comerciais não essenciais, a proibição da entrada de veículos de transporte coletivo intermunicipal de passageiros e a realização de eventos e de reuniões de qualquer natureza. Quem viesse de fora, mesmo não apresentando sintomas, deveria permanecer em quarentena por sete dias.

Atendimentos que não eram de urgência também foram paralisados inicialmente. Os decretos foram reeditados a cada vez que a situação perigava degringolar. A Polícia Militar participou de uma mobilização preventiva, percorrendo a cidade e as comunidades rurais, orientando a população a se dispersarem. Até carro de som foi usado para falar sobre as medidas de prevenção, e máscaras também foram distribuídas para a população.

Assim como ocorreu Brasil afora, Massapê do Piauí viu as ocorrências de Covid-19 aumentarem em março deste ano. Depois de chegar a zerar os casos ativos, 19 pessoas foram infectadas. Diante desse cenário, a prefeitura proibiu até mesmo o acesso aos rios, lagoas e barragens situadas no município. Quando um caso é detectado em um povoado, por exemplo, é realizada uma ação de busca ativa, com a testagem das pessoas que tiveram contato com quem foi infectado.

Radar - VEJA  - Brasil

 

 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Bolsonaro enfrenta a maldição do terceiro ano - Alon Feuerwerker

Análise Política
E Jair Bolsonaro acaba de topar com o primeiro obstáculo realmente relevante no caminho para concluir seu mandato e tentar um novo: a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre a Covid-19. Ou melhor, a CPI sobre as ações federais na Covid-19. Tem sido rotina nos terceiros anos dos quadriênios presidenciais. É quando invariavelmente aparece alguma barreira que vai demandar esforço e concentração redobrados, se o mandatário não quiser ficar pelo caminho.
[Bolsonaro já está preocupado com a maldição do sétimo ano = terceiro ano do seu segundo mandato.

Em 1992, Fernando Collor topou com as acusações do irmão. Elas desencadearam a CPI que acabou levando ao impeachment. Fernando Henrique Cardoso teve esse tipo de problema nos dois terceiros anos de seus dois mandatos. Acusação de compra de votos para a reeleição em 1997 e ameaça de uma CPI da Corrupção em 2001. 
Luiz Inácio Lula da Silva recebeu pela proa os torpedos de Roberto Jefferson em 2005. E Dilma viu em 2013 a emergência das “jornadas de junho”.

Que deram a largada para a deposição dela em 2016. Nem a reeleição em 2014 interrompeu o processo. Deve ter algo de coincidência, mas é prudente não desprezar a possibilidade de o ano imediatamente anterior às eleições presidenciais despertar os instintos mais primitivos dos políticos. No caso atual, Bolsonaro cuidou bastante bem de estreitar a porteira para acusações de corrupção, habitualmente usadas nessas ocasiões. Mas não teve o mesmo cuidado para reduzir a margem de manobra dos adversários no assunto da pandemia.

Na Covid-19, o presidente foi dobrando a aposta a cada rodada. Poderia ter ficado contra o isolamento social, mas a favor do afastamento. Ou contra o afastamento e compensar isso apresentando-se como radical defensor das vacinas. Mas preferiu a crítica a tudo, com exceção do tratamento medicamentoso já aos primeiros sintomas. Que está sob fogo cerrado da maioria da comunidade médica. Ainda que uma parte relevante apoie a linha de Bolsonaro. Recentemente, reposicionou-se no assunto vacinal, mas continua carregando com ele um evidente déficit de imagem no tema.

A aposta de Bolsonaro parece ter se baseado na premissa de que teríamos uma onda da epidemia aqui no Brasil, e quando ela entrasse na descendente a preocupação das pessoas com a própria situação econômica prevaleceria, e aí o presidente colheria os frutos de ter desde o começo advertido sobre o risco de ruína material dos indivíduos, das famílias e das empresas. Por causa do que sempre atacou como radicalismo no isolamento social.

Essa linha de ação e comunicação pagou-se em algum grau, tanto que Bolsonaro mantém um núcleo resistente de apoiadores em torno de 30%. Mas, na medida em que a primeira onda não foi a única, e quando a segunda apresenta picos de mortalidade várias vezes a da anterior, o medo e a angústia com a doença continuam dominantes. E agravaram-se. E o presidente está evidentemente ilhado no núcleo fiel. Este é forte, mas minoritário.

É a situação clássica propícia para a ofensiva adversária. Uns escaparam (FHC, Lula), outros naufragaram (Collor, Dilma). O tucano safou-se na primeira vez porque o povão achava que a economia ia bem, e na segunda porque tinha base parlamentar, e ninguém queria a sério interromper seu mandato. O petista sobreviveu porque era popular e porque os inimigos ficaram com receio de uma guerra aberta de rua contra ele. Veremos nas próximas semanas e meses que variáveis dessas vão prevalecer agora para Jair Bolsonaro.

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

terça-feira, 9 de março de 2021

Derrubar o prédio para afastar o Zelador - Percival Puggina

Para se livrar do presidente da República, a mídia militante vem fazendo isso com o Brasil. Não há limites para a ação cotidiana e dedicação exclusiva.

A oposição propriamente dita retraiu-se perante a persistência e a intensidade com que esses meios de comunicação operam. Num regime de feitio democrático, caberia a ela, claro, antagonizar o governo. No entanto, a fração partidária da oposição opta por discreta contenção. Delega o trabalho diário à mídia, que o executa com superior amplitude e resíduos de presumível credibilidade. Mesmo que a estas alturas seja mera ilusão, a opinião expressa no editorial, a notícia, a manchete de um grande veículo de comunicação parecem mais confiáveis ou isentas do que a fala de quem tem o carimbo político.

Internamente, ademais, vivemos uma convergência incomum entre os interesses ideológicos sempre dominantes nas redações e os interesses empresariais dos veículos da mídia militante. Por motivos diferentes todos querem se livrar do zelador. Vemos a morte da moderação e da prudência.  O que acabei de escrever não desenha, infelizmente, o quadro inteiro. Ele se expande e se agrava pelos reflexos no plano internacional. A contaminação do jornalismo e da cultura do mundo ocidental pela filosofia revolucionária não é menor nem menos ativa lá fora do que aqui no Brasil. Ao contrário, é de lá que vem toda a droga intelectual fumada e cheirada nestes trópicos. São de lá os filósofos canonizados nas cátedras, inspiradores de teses tão estapafúrdias quanto prósperas.  

Por isso, a vitória eleitoral de um candidato conservador no Brasil foi mais indigesta à cultura hoje dominante na Europa do que a vitória de Trump nos Estados Unidos. Lá, o rodízio no poder é sempre um resultado corrente no jogo democrático. Aqui, não. Um quarto de século fluiu com a esquerda embaralhando, dando cartas, jogando de mão e ainda portando coringas de reserva no bolso. Os conservadores e liberais brasileiros foram os otários desse jogo.

A guerra contra o presidente começou logo após as primeiras pesquisas eleitorais. Os laboratórios de linguística aplicada ao charlatanismo político trabalharam febrilmente disparando etiquetas para lhe desconstruir a imagem. Contra essa avalanche, a inabilidade verbal de Bolsonaro não lhe presta serviços, seja na defesa, seja no ataque. No exterior, foi fácil aos interesses políticos, ideológicos, econômicos contrariados empacotar tudo com o rótulo “Brasileiro”.

O processo não parou mais e já vai para o terceiro ano consecutivo. Perder a capacidade de manipulação foi duro golpe para aquela parcela da mídia que se considerava reitora das opiniões, dos costumes e, claro, dos resultados eleitorais. 
Tentando retomar o antigo poder, buscando socorro, vem recebendo intenso e firme apoio externo. 
Estava armado o complô contra o Brasil! 
Nele se unificam apetites amazônicos, inconveniência geopolítica de um governo conservador antagônico ao globalismo em curso no Ocidente e interesses comerciais contrariados pelo competente agrobusiness nacional (nada lhe diz o empenho de tantos em reduzir a área plantada no Brasil?).

Nunca a estatística foi tão manipulada, a matemática tão vilipendiada, uma doença tão politizada. São profissionais da mistificação. E estão destruindo o Brasil para afastar o zelador. Só assim se entende a manchete que, em outros tempos, caracterizaria crime de traição à pátria, encimando matéria (1) de O Globo do dia 5 deste mês de março: “Pária global: Brasil vira 'ameaça sanitária' no mundo”. Quem subscreve e proclama isso não ama o próprio país.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Representação truncada - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

A vida dos cidadãos não é levada em conta. A sociedade clama por mudanças [e a sociedade -  no caso, quase 60.000.000 de brasileiros e brasileiras) fez sua parte: elegeu Presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO - que até agora não teve oportunidade de governar: surgiu a pandemia, ainda em curso mas  indo embora, e antes da pandemia e até agora teve a oposição cerrada da turma dos inimigos do Brasil =  a soma dos: arautos do pessimismo + inimigos do Brasil + inimigos do presidente + os contra a Pátria Amada, + adeptos do 'quanto pior, melhor'.  
A soma de todos esses resíduos, sujeiras, tem impedido mudanças, mas aos poucos a corja do mecanismo e do establishment começa a desmoronar e as mudanças ocorrerão.
Por falar em desmoronar, o projeto mirabolante e alucinante do ainda governador paulista, Joãozinho Doria, está afundando de vez. Fez um auê danado com a vacina, iludiu milhões de brasileiros incautos (a maioria eleitor da esquerda), disseminou duas fake news:
- vacina em abundância, disponível para qualquer brasileiro que se deslocasse ao estado paulista;
- que os brasileiros não estavam todos vacinados devido Bolsonaro ser contra.
MENTIRA. Fosse ele um apoiador do capitão, estaria preso, sendo processado por... o crime  cometido é um detalhe que pode ser apresentado depois.]

A pandemia invadiu a vida das pessoas de forma nunca vista, introduzindo a doença e o medo da morte no seio de cada família. Diante de tão aterrorizante realidade, a população vê os países mais avançados se vacinando e abrindo caminho para o futuro, enquanto os responsáveis pelo governo federal se comprazem com malabarismos da pior qualidade, num cenário que, não fosse trágico, seria cômico. Os discursos são tão disparatados e anacrônicos que sua mera listagem, além de longa, seria enfadonha.

Em todo caso, da “gripezinha” à luta contra a vacina “chinesa”, passando pelo dito “tratamento precoce”, uma espécie de poção mágica para incautos, o espetáculo oferecido à Nação é de completa irresponsabilidade. Pessoas adoecendo e morrendo, e a única preocupação dos políticos parece ser a eleição presidencial de 2022. E até lá quantos padecerão? [E, como ficam os vacinados? e os meio vacinados? 
se passar o prazo de validade da primeira dose e não for aplicada a segunda. Que acontecerá?  
A validade da primeira dose da genérica chinesa é contada em dias e a do imunizante da Fiocruz, exige a segunda dose só 12 semanas após a primeira.
Temos que ter atenção com os números para que não sejam manipulados: a soma dos que tomaram a primeira dose, com a dos que receberem a segunda dose, mais os que estão (agora) recebendo a primeira dose não pode ser superior ao total de doses disponibilizadas (agora). E as doses da Fiocruz não podem servir de segunda dose para os que receberam a primeira da Coronavac.]

A crise fiscal se avoluma, os gastos não são cortados, os privilegiados de sempre guardam os seus benefícios e os estamentos estatais defendem os “seus” direitos – aliás, só os deles. Enquanto isso, o País definha economicamente, com alto desemprego, milhões na miséria, à beira da sobrevivência, e a expectativa de vida cai. [estranho... conseguiram com estudos de no máximo dois anos concluírem que a expectativa de vida do brasileiro está em  queda?] O atual governo foi eleito com uma agenda liberal, que, dizia-se, seria conduzida com rigor. No primeiro ano de mandato, nada foi feito, salvo uma reforma da Previdência amplamente preparada pelo governo anterior. No segundo ano, a desculpa foi a pandemia, contra a qual nada foi levado a cabo. E neste começo do terceiro volta o palavrório usual com a reforma da economia e do Estado.

Curiosamente, temos uma situação paradoxal, pois a esquerda retoma a luta contra o “neoliberalismo”, contra a responsabilidade fiscal, sem que liberalismo nem contenção de gastos se tenham realizado. [a esquerda está seguindo a regra de que a pretensão punitiva pode ser exercida antes do delito ser praticado - desde que a vítima da punição seja um apoiador do capitão.
Afinal temos cidadãos encarcerados há anos, sem julgamento, usando apenas o recurso da prisão preventiva sem prazo de validade = pena de prisão com características de perpétua = se sabe a data do começo mas a data do término é desconhecida -   nos remete aos tempos do Stalin, do Mao.
Temos casos em que é politicamente correto (sempre o maldito politicamente correto = esquecem que se é politico não pode ser correto) manter o preso o acusado de um crime. O justo, correto, até democrático, seria julgar o acusado = só que em um julgamento ele seria absolvido - não existem provas que sustentem a acusação. Então mantém o acusado preso, alegando suposto envolvimento em outros crimes e por aí vai.] O pior serviço do atual governo consiste em ter matado a ideia liberal sem que ela tenha sequer existido praticamente.

Os partidos e os políticos, por sua vez, em vez de vocalizarem os anseios da sociedade, estão mais preocupados com suas brigas intestinas, como se estas fossem o mais importante problema da República. Talvez o sejam em sua conotação negativa, ao expressarem o desmonte da representação política. A sociedade não se reconhece em seus representantes. É como se os parlamentares e os partidos vivessem num mundo à parte, só deles, povoado por emendas, cargos e interesses particulares dos mais diferentes tipos, dotados de vida própria. A vida dos cidadãos não é levada em consideração, enquanto esses seres inanimados guardam toda a sua vitalidade. Raras, infelizmente, são as exceções.

As disputas pela presidência da Câmara dos Deputados e do Senado, com suas intrigas e traições, exibiram uma cena parlamentar e partidária desconectada da realidade. O governo procurou eleger os seus e desestruturar as oposições, os parlamentares negociavam individualmente ou coletivamente os seus votos, enquanto o País seguia à deriva. A sociedade, alarmada, observou um processo longínquo, distante dos seus afazeres cotidianos de sobrevivência e de luta pela vida. Há um crescente estranhamento entre a sociedade e a sua representação, tendo como resultado o enfraquecimento das instituições representativas.

A democracia vive na medida em que suas instituições sejam fortes. [a democracia está em declínio - menos de 10% da população mundial vivem em regime de democracia plena. Cabe a pergunta: a rejeição um regime de governo não indica a necessidade de mudança? do regime? ou da forma como é praticado?] a No momento em que os parlamentares e os eleitos em geral, no Executivo e no Legislativo, apresentam, sem nenhum pudor, o jogo do “toma lá dá cá”, sem que dele se siga nenhum projeto ou realização coletiva, numa espécie de tributo que o vício poderia pagar à virtude, ocorre a debacle da representação política. A política esgotar-se-ia nessa negociação, à qual se seguiriam outras, num jogo sem fim.

Os partidos perdem o seu valor, o seu significado. A sociedade não se vê naqueles que deveriam ser os seus representantes. A “velha política”, tão abominada nas últimas eleições presidenciais, bandeira do então candidato Bolsonaro, é agora conduzida por “novos” e “velhos” políticos, incluídos militares que se apresentavam como avessos a tais práticas. A contradição é manifesta.

Se o divórcio entre a representação política e a sociedade se acentua, se a política renuncia a valores morais e a noções de bem coletivo, se instituições e estamentos do Estado não tornam viável o bem público, se os interesses mais comezinhos tomam a cena pública, o caminho está aberto para soluções demagógicas e autoritárias. Se os partidos e as instituições nada valem, líderes procurarão estabelecer contato direto com uma sociedade aflita e desamparada.

Cria-se um caldo de cultura propício à emergência de “salvadores” da pátria, daqueles mesmos que tudo fazem para corroer e desestruturar a democracia. O discurso passa a ser sem mediações entre o líder e a sociedade, vendendo qualquer narrativa, contanto que ela pegue, suscitando a adesão, por mais mentirosa que seja. E aí de nada adianta dizer que foi o resultado das urnas, pois eleições sozinhas, sem instituições democráticas, podem ser também a via para o autoritarismo. 

Denis Lerrer Rosenfield, denisrosenfield@terra.com.br  - Professor de filosofia - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A ideologia bolsonarista - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

É uma concepção de extrema direita, que não se confunde com direita conservadora e liberal

A ideologia bolsonarista configura um caso de concepção de extrema direita, que não se deixa confundir com posições de direita conservadora e liberal. Ela se constitui enquanto conjunto de ideias que estrutura a sua ação, visando à instituição de sua própria forma de poder. Criticá-la por “insensata”, “maluca”, “macabra” ou “contraditória” realça isoladamente determinados aspectos seus sem, no entanto, abarcar a sua totalidade. São posições que, por assim dizer, se situam em outra perspectiva, a de uma normalidade que é posta em questão. Vejamos alguns de seus eixos estruturantes.

A figura do líder – Bolsonaro se produz como um líder de massas, que com elas procura estabelecer uma interação direta, sem o uso de mediações, como a Câmara dos Deputados e o Senado. Ou seja, a representação política é objeto de escárnio, salvo nos casos em que se torna necessária, como hoje ocorre com o restabelecimento das relações com alguns partidos políticos, por temor de impeachment ou de perda de poder. Seu objetivo consiste em colocar-se acima das instituições e da sociedade, como se só ele soubesse o que é melhor para elas. Não hesita em se colocar como grande médico e cientista, prescrevendo medicamentos ineficazes, como a cloroquina. Sozinho sabe o que é melhor para a saúde dos brasileiros, menosprezando a ciência por princípio. Em outra versão, é o “super-homem” contra os “maricas”. Eis por que é tratado por mito, por maior que seja a bobagem que diga. O mito é o lugar do seu saber.

O medo – Insufla ele o medo da pandemia e do desemprego, ao mesmo tempo que se apresenta como a solução da pandemia e do desemprego. Não é ele responsável por nada, tudo atribui aos outros como causadores desta situação, sejam os chineses, os comunistas ou os políticos a ele não alinhados. Ele precisa do medo para governar e se põe na posição de “salvador”. [Bolsonaro não precisa do medo para governar e sim que parem de sabotar seus esforços para governar o Brasil;
Respeitem a vontade de quase 60.000.000 de eleitores e tenham em conta que a democracia que tanto dizem defender (claro em uma versão interpretada de forma criativa) determina que a vontade da maioria tem que ser respeitada - ainda que para tanto tenham que desconsiderar os desejos intenções de alguns líderes políticos que ocupam cargo de importância, mas que nas eleições 2018 um deles obteve pouco mais de 70.000 sufrágios e o outro menos de 150.000 - felizmente, estão sendo alijados dos cargos que ainda ocupam por mais alguns dias.]  Isso pode soar paradoxal, porém só o é na perspectiva da política clássica, e não da de extrema direita, que expressa a sua concepção. Mais especificamente, o seu modo de tratamento da pandemia corresponde a essa orientação, jogando com o medo da doença e da morte, declarando procurar minimizá-las. O Brasil chega às 210 mil mortes, no entanto, é como se fosse “da vida” a morte causada por descaso, incúria e, em certo sentido, intencionalmente, visto que vem a fazer parte desse jogo macabro da política. [sendo recorrente no repto, até o momento,  não contradito: 
- inúmeras acusações de responsabilidade do presidente Bolsonaro pelas mortes decorrentes da covid-19, muitas atribuídas à pandemia, são mencionadas (sem detalhes, sem  evidências.) Só que até o momento, nenhuma acusação, sustentável, de que uma só morte seja decorrente de alguma ação ou omissão do presidente da República.
O mesmo não se pode dizer de alguns governadores e prefeitos que usando de um protagonismo que receberam, se sentiram à vontade para fazer besteiras. Exemplos: um mandava abrir e o vizinho mandava fechar; um mandou fechar e viajou para Miami; outro investiu na criação de engarrafamentos artificiais e compra de urnas funerárias.
Vamos facilitar: qual a real, concreta e fundamentada responsabilidade do presidente Bolsonaro para a lamentável e terrível falta de oxigênio em Manaus?  
Seus inimigos, também inimigos do Brasil, chegaram ao ápice de chamá-lo de presidente 'asfixiador' - um dos primeiros a aplicar imerecidamente tal adjetivo foi um ex-governador do DF, também ex-ministro que conseguiu a proeza de ser demitido, por telefone,  pelo ex-presidente petista.]

Ausência do princípio da não contradição – O princípio da não contradição, formulado por Aristóteles, que veio a fazer parte do exercício da razão e da política, não opera numa concepção de extrema direita. O líder diz uma coisa num dia e o seu contraditório no dia seguinte, e assim indefinidamente. Seu traço característico é que sempre tem razão, por mais irracional que seja a sua posição. Um dia declara o presidente que jamais comprará uma vacina chinesa, em outro a compra; um dia a covid-19 é uma mera “gripezinha”, em outro, uma doença mortal; um dia, ao arrepio de qualquer verdade, considera que apenas seus medicamentos mágicos são eficazes e em outro, que o Brasil é o país que tem o melhor desempenho mundial no combate a essa pandemia. Um dia é contra a corrupção na política, em outro protege os seus que estão nela envolvidos.

Distinção amigo e inimigo – A política de extrema direita está baseada na distinção amigo/inimigo, formulada pelo teórico nazista Carl Schmitt. Todo aquele que não se alinha ao líder em suas mutáveis posições, uma vez que ele detém a razão e a verdade, é tido por inimigo. Não há possibilidade de diálogo e conciliação, salvo sob a forma enganosa produzida por alguma oportunidade do momento. Ela está centrada na destruição do outro, na não aceitação da crítica e na tentativa de impor diretamente uma relação hierárquica de comando: sou “eu” quem manda! Quem não estiver comigo deve ser abatido, o que vale para “amigos” que, por discordância, deixaram de sê-lo. Veja-se o caso de agora “ex-amigos” do presidente que ousaram discordar de suas opiniões. Observe-se que tal tipo de política cria a desordem institucional, sanitária, econômica e social, embora a sua justificativa seja a de que o “salvador” é o fiador da ordem.

Milícias digitais – As milícias do líder apresentam-se sob a forma contemporânea de milícias digitais. De um lado, não há nada de novo, uma vez que tanto o nazismo quanto o fascismo fizeram uso intensivo dos meios de comunicação vigentes na época, muito particularmente do rádio; de outro lado, as novas redes digitais são muito mais abrangentes, alcançando diretamente as pessoas, prescindem dos meios de comunicação tradicionais e também dos seus meios de controle. Mentiras e o que se denomina fake news têm livre trânsito, como se um mundo paralelo por meio delas se criasse, pretendendo alguns ser o verdadeiro. Mais particularmente, os meios digitais, por seu modo de transmissão e mensagem, são particularmente adequados para a distinção amigo/inimigo, tratando o “discordante”, o “opositor”, com desprezo e escárnio, como inimigo a ser abatido.

Denis Lerrer Rosenfield, Professor de filosofia UFRGS -  e-mail: denisrosenfield@terra.com.br - O Estado de S. Paulo


domingo, 10 de janeiro de 2021

Esperança e cuidado – O Estado de S. Paulo

Opinião

Seria equívoco achar que cuidados e protocolos podem ser flexibilizados por 'termos vacina'. Não é hora de relaxar. Ainda é longo o caminho para vencer a pandemia. Depois de longos e ansiosos meses de espera, o País está próximo do início do processo de vacinação contra a covid-19. Na sexta-feira passada, o Instituto Butantan e a Fiocruz pediram à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização para o uso emergencial de suas vacinas, a Coronavac e a AstraZeneca/Oxford.

[Somos favoráveis à vacinação - muitos dos nossos gozam de saúde perfeita,  e devem em grande parte às vacinas que receberam ainda no século passado. 
Mas, imperioso lembrar que a vacina, ou vacinas, contra a covid-19, estão em uma situação especial e apresentam particularidades que não podem ser esquecidas. 
Alguns exemplos:
- prazo de imunização: não se sabe se a imunização é por seis meses, um ano, permanente, etc - há o risco de quando alguns milhões forem imunizados, se constatar que os primeiros milhões imunizados perderam a proteção, o que tornará necessário que sejam revacinados;
- efeitos colaterais: o tempo de uso e testes do fármaco é muito breve  para garantir que não ocorrerão efeitos colaterais.
E, tem outros.]

No ofício à Anvisa, a Fiocruz solicitou autorização para importar 2 milhões de doses da vacina, bem como para produzir aqui 100 milhões de doses no primeiro semestre e mais 110 milhões no segundo semestre. No caso da Coronavac, há previsão de que ela seja utilizada para imunizar toda a população do Estado de São Paulo, segundo o Plano Estadual de Imunização. Além disso, estão em curso negociações para sua utilização em todo o País.[não há muito o que negociar, tendo em conta que o Plano Nacional de Vacinação - aplicado em  TODO o Brasil, beneficiando TODOS os brasileiros  - tem prioridade sobre qualquer plano estadual.]

As notícias sobre as vacinas são excelentes. Desde o ano passado, a covid-19 já matou mais de 1,9 milhão de pessoas e provocou enormes estragos sociais e econômicos no mundo inteiro. No Brasil, já são mais de 200 mil mortes. Os pedidos de autorização à Anvisa são, portanto, motivo de grande esperança. É especialmente alvissareiro, por exemplo, saber que os brasileiros poderão, muito em breve, ser imunizados com uma vacina com 78% de eficácia contra casos leves de covid-19 e 100% de eficácia na prevenção de casos graves, moderados ou que precisam de internação hospitalar. Essas são as taxas de eficácia da Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

No entanto, é preciso cuidado para que a boa notícia na verdade, a espetacular notícia – a respeito das vacinas não se transforme em uma ilusão. As vacinas não são fórmulas mágicas que fazem sumir a pandemia de covid-19. Elas não extinguem, por exemplo, a necessidade de respeitar os protocolos sanitários, tantas vezes repetidos pelas autoridades nos últimos meses. 

Vacinas são instrumentos para imunizar a população. Seu principal – e tão esperado – efeito não é uma espécie de passe livre para quem foi vacinado, autorizando um retorno imediato à “vida normal”. Seu resultado mais relevante, capaz de afastar os principais riscos advindos da covid-19, virá apenas depois da vacinação de parte expressiva da população. Vacina-se com uma seringa e agulha. Mas a vacinação de uma população não é um ato, e sim um longo processo, que deve durar vários meses. É preciso, portanto, cuidado para não confundir início da vacinação com automática imunização.

Ter vacinas aprovadas pela Anvisa é um passo importante no enfrentamento da covid-19, mas está longe de ser suficiente. Basta pensar em tantas doenças para as quais há vacinas e mesmo assim continuam ceifando vidas e causando sofrimento e limitações a muitas pessoas. Na batalha para vencer a pandemia, não basta dispor de alta tecnologia biomédica. É preciso empenho da sociedade e do poder público, nas três esferas. Medida essencial, por exemplo, é assegurar que informações claras e precisas cheguem a toda a população.

As famílias precisam estar bem orientadas a respeito da função e dos limites da vacina no combate à covid-19. O distanciamento social, as medidas de higiene e o uso de máscara continuam sendo necessários – vitais, mesmo. “Uma vacina tem papéis diferentes em situações normais e em situações pandêmicas como essa”, disse Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan. “Temos de lembrar que estamos perdendo pessoas. Uma vacina nesse momento vem para diminuir a carga da doença, para impedir que as pessoas uma vez infectadas desenvolvam a forma grave da doença.”

Os pedidos de autorização das vacinas à Anvisa são uma excelente notícia precisamente porque a batalha contra a covid-19 é árdua. O início da vacinação é motivo de profunda esperança, mas deve ser também ocasião para relembrar a gravidade da pandemia. Vidas humanas continuam em perigo – e o cuidado de cada um continua sendo decisivo. Seria um equívoco achar que os cuidados e protocolos podem ser flexibilizados porque “temos vacina”. Não é hora de relaxar. Ainda é longo o caminho para que a pandemia seja vencida.

Opinião - O Estado de S. Paulo 

 

domingo, 13 de dezembro de 2020

O que (ainda) não sabemos sobre a vacina - Laryssa Borges

Diário da Vacina - VEJA

Aprendemos muito nas últimas semanas de pandemia, mas existem outras inúmeras perguntas por ora sem respostas

13 de dezembro, 8h03: Faltam pouco mais de 48 horas para eu retornar à clínica onde recebi, ainda em novembro, uma dose da vacina experimental da Janssen-Cilag. Na tarde de terça-feira serei submetida a novos testes de sangue para detectar se já desenvolvi anticorpos contra a Covid-19 ou se, para azar meu, nada mudou e corro o risco de ter tomado placebo. Como voluntária em uma pesquisa científica em busca de um imunizante contra o novo coronavírus, assumi compromissos com os cientistas, como deixar que coletem 52,5 mililitros de sangue (cerca de quatro colheres de sopa) e utilizem essas informações também para pesquisas genéticas futuras – todas relacionadas à Covid.

Aprendemos muito nas últimas semanas de pandemia, e vacinas já estão sendo aplicadas em pessoas no Reino Unido, Rússia, China e, em breve, nos Estados Unidos. Mas existem outras inúmeras perguntas que, por ora, estão sem respostas. Vamos a algumas delas:

  1. A proteção das vacinas: Quando um imunizante anuncia a taxa de eficácia (acima dos 90% nos casos da Sputnik V, Pfizer e Moderna), isso significa que os pesquisadores atingiram um número estatístico (chamei de número mágico no Diário) para mostrar que a vacina é segura e funciona, mas não se sabe por quanto tempo o antígeno garante a imunização. Muitas das pesquisas em busca de vacina se contentam em conseguir que o produto pelo menos diminua a gravidade da doença, e não necessariamente previna que a pessoa seja infectada pelo novo coronavírus.
  2. Idosos e indígenas:    ...........                                               Outro grupo alvo de atenção especial são os idosos e, neste ponto, mais dúvidas: a vacina do consórcio Oxford/AstraZeneca, por exemplo, não conseguiu atestar ainda se o imunizante que desenvolveu é eficaz em outro grupo, o dos idosos.
  3. Tempo de imunização:
  4. Transmissão por vacinados:
  5. Crianças e adolescentes: As vacinas experimentais cujas pesquisas estão em desenvolvimento no Brasil (Oxford, Janssen, CoronaVac e Pfizer) recrutaram voluntários a partir de 18 anos, mas crianças e adolescentes, que são importantes vetores da doença, ainda não foram alvo de estudos aprofundados.
  6. Grávidas: “Se você engravidar terá de interromper o estudo em busca da vacina”, me disse o pesquisador do ensaio da Janssen no dia que iria receber a minha dose do imunizante em teste. A razão da ressalva é porque não existem estudos suficientes que descartem riscos ao feto e tampouco se sabe
  7. Risco mínimo de a vacina agravar a doença: “Há uma pequena possibilidade de você apresentar um efeito adverso à vacina ou de a vacina agravar a sua doença, caso você contraia a Covid-19”. O alerta está no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, documento que reúne o passo a passo da jornada do voluntário, e existe porque em pesquisas científicas passadas não relacionadas à Covid-19 houve casos de vacinados que depois de infectados pelo organismo causador da doença tiveram piora no quadro clínico. Não se sabe se isso vai acontecer agora também.

 Blog Diário da Vacina - VEJA - MATÉRIA COMPLETA


 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

A esquerda perdeu! - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo 
 

E fragorosamente. Isso não significa que a extrema direita tenha vencido

O alarido das eleições, antes e depois dos resultados, terminou por produzir um barulho inusitado, o de que as esquerdas estariam avançando, recuperando antigas posições. Se antes as evidências já indicavam o contrário, apesar do esforço de institutos de pesquisas de apresentar “retratos” distantes da realidade, depois ficou ainda mais difícil, dada a sua perda de posições, com o PT desaparecendo das capitais do País. A esquerda perdeu. E fragorosamente.

Isso não significa que a extrema direita tenha ganho. O segundo turno apenas confirmou o que o primeiro já havia sinalizado. Candidatos bolsonaristas, como Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, e Capitão Wagner, em Fortaleza, não tiveram sucesso. [felizmente que a extrema direita não venceu as eleições municipais naquelas cidades e outras do mesmo calibre, , mas temos absoluta certeza de que saiu ganhando = que motivos sobram para os vencedores naquelas cidades e em outras se considerarem vencedores? Ganharam sim, fontes de problemas. Qualquer direita que se preze tem que se preocupar com as eleições presidenciais;
O exemplo perfeito é que o presidente da República Federativa do Brasil - JAIR BOLSONARO - concedeu apenas um pouco de atenção àquele pleito para eleger vereadores e prefeitos.
Esperamos que o bom senso prevaleça e que em 2022 incluam nas eleições gerais, as eleições municipais. As finanças do Brasil agradecem.
Depois que o Supremo nos privilegiou com a ausência do Alcolumbre e do Maia, não nos surpreende que outras decisões a favor do Brasil, e dos brasileiros, sejam adotadas.] O primeiro perdeu por 30 pontos porcentuais, não deixando nenhuma margem a dúvidas; o segundo, embora tenha sido mais competitivo, perdeu para o candidato da família Gomes. A estrondosa vitória de 2018 minguou em pouco tempo, deixando um acre sabor de insucesso.

Insucesso revelador da incapacidade de governar, de oferecer soluções para os urgentes problemas nacionais, para além da grave crise da pandemia, em que o único espetáculo apresentado é uma pantomima sem fim. Chegamos às raias do absurdo. O presidente e o ministro da Saúde advogam tratamentos preventivos, que inexistem para a comunidade científica do Brasil e de todo o planeta. Procuram somente mascarar decisões equivocadas, como a de dar vazão à distribuição de hidroxicloroquina indevidamente financiada e produzida. Discute-se também a obrigatoriedade ou não da vacina, quando não há vacina a ser distribuída. Discute-se sobre o modo de aplicação de algo no momento inexistente. [lembramos que essa discussão absurda, fundamentada na irrealidade conta com o aval de ministros do Supremo - ainda que apenas de um. Esse apoio a discussão tão grotesca, até bizarra, obscurece em muito o mérito da decisão do STF, impedindo que um deputado e um senador golpeassem a Constituição Federal.]É surreal!

O eleitorado demonstrou-se cansado dos ataques incessantes e das mentiras repetitivas, sem que as questões principais do País sejam enfrentadas. Figuras de inimigos imaginários expõem o seu descolamento da realidade quando as questões reais batem à porta, como a doença, a morte, a fome, a queda de renda, o desemprego e a ausência de expectativas. A dita “nova política” envelheceu em apenas dois anos. Haja senilidade precoce! [consertar os erros da "Nova República" exige muito tempo e um apoio que os inimigos do Brasil - em grande parte escorados e até beneficiários dos males da famigerada 'nova República' - buscam sabotar de todas as formas.]

Daí não se segue, porém, que a esquerda tenha avançado nem que suas bandeiras, se é que existem, tenham sido adotadas. O PT, o mais importante partido de oposição, continua velho, não tem sabido se renovar. Manchado pela corrupção em seu exercício do poder e pela incompetência do último governo Dilma, continuou apegado à figura de Lula. Ou o partido se repensa ou permanece atrelado aos julgamentos inúmeros do ex-presidente e ao impeachment da ex-presidente. O partido devia deixar a posição de advogado de defesa de seus líderes e partir para uma agenda propositiva nacional. Não se olha para o futuro observando somente o retrovisor de um passado que, hoje, só a ele interessa, e nem sequer à totalidade de seus membros.

Os candidatos Boulos, em São Paulo, e Manuela, em Porto Alegre, só foram viáveis como alternativas de poder para os institutos de pesquisa. Realmente, jamais ostentaram tal posição. O primeiro perdeu por 20 pontos porcentuais e a segunda, por 10, tendo sido mesmo “avaliada” como estando na primeira posição no primeiro turno. Erros grosseiros. Curioso, aliás, que os institutos não mais consigam exercer influência na opinião pública, que já não segue tais pesquisas, por terem perdido credibilidade.

Note-se que um e outra são crias de Lula e com ele se identificam. Pertencem a partidos que eram satélites do PT e não conseguem, senão a muito custo, desvencilhar-se dessa identificação. Boulos quase chegou a ser ungido sucessor do ex-presidente quando de sua prisão, naquele espetáculo deprimente de resistência a uma ordem judicial. [a candidata que pretendia desmantelar Porto Alegre, quando vice do poste Haddad, chegou ao absurdo, ao crime de vilipendiar valores sagrados da Igreja Católica Apostólica Romana. É tão ignóbil, que evitamos até digitar seu nome.]  São caras novas do ponto de vista etário, porém velhas em sua trajetória e em suas propostas. Para quem tiver alguma dúvida basta ler os programas partidários do PSOL e do PCdoB. Falar de “moderação” dos candidatos beira a insensatez.

No que diz respeito a este último partido, o governador Flávio Dino, que des[a]pontava como liderança nacional, não conseguiu eleger seu sucessor. Ciro Gomes, por sua vez, teve uma vitória expressiva em Fortaleza, conseguindo bater o candidato bolsonarista, mas não demonstrou presença nacional. O quadro geral é o PT perdido em questiúnculas internas, brigando com sua imagem, e os outros partidos com imensas dificuldades de apresentar uma verdadeira alternativa política.

Os extremos como que caíram de suas extremidades, não puderam se equilibrar. Tontos, giraram em torno de si mesmos, sem a menor abertura para o outro, o País e seus problemas. A direita avançou com força em suas vertentes liberais, conservadoras e fisiológico-patrimoniais, com tinturas, às vezes, social-democratas. Por outro lado, os candidatos social-democratas igualmente se aproximaram dessas posições, voltadas para a ponderação, o bom senso e as urgências dos municípios. Quando questões nacionais afloraram, foram na mesma direção, como se os cidadãos estivessem a exigir uma nova postura para 2022.

Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia - O Estado de S. Paulo 

 


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Ganha uma viagem à Pensilvânia quem souber que cartas o presidente tem - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Bolsonaro deve mostrar seu jogo

Os males do governo Bolsonaro são muita briga e poucos objetivos. Talvez nem se possa dizer que o presidente embaralha as cartas; ele as rasga     

Às segundas, quartas e sextas, o ministro Paulo Guedes briga com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Às terças, quintas e sábados, fazem as pazes. Todo dia, Guedes briga com Rogério Marinho, seu colega do Desenvolvimento Regional. Insatisfeito com as brigas que arrumou, Ricardo Salles, do Meio Ambiente, insulta o chefe da Secretaria de Governo, general da reserva Luiz Eduardo Ramos. Do alto de sua erudição, num discurso em que se disse poeta e falou até em grego, o chanceler Ernesto Araújo disse ao mundo que “o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo, se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”. (Se o Brasil virou um pária, isso nada tem a ver com o discurso da liberdade.) Bolsonaro, o maestro dessa banda de música, briga com governadores, vacinas e colaboradores.

Faz tempo, diante da anarquia do fim do governo de João Figueiredo, o general Golbery do Couto e Silva dizia que uma pessoa pode ir para a rodoviária parando em todos os guichês, pedindo um desconto na passagem. Podia até conseguir, mas não podia deixar de dizer para onde queria ir. Olhando o mesmo quadro, Tancredo Neves queixava-se: “Ninguém joga só embaralhando. Tem que dar carta a alguém, e o Figueiredo não está dando carta alguma. Está com todas na mão”. (O tempo mostrou que o general não tinha mais carta, e Tancredo foi eleito presidente em 1985.)

Ganha uma viagem à Pensilvânia quem souber que cartas Bolsonaro tem. Talvez nem se possa dizer que embaralha as cartas. Ele as rasga. Rasgou Gustavo Bebianno, Sergio Moro, Santos Cruz e Luiz Henrique Mandetta. Marcou a do general Eduardo Pazuello. Admita-se que o capitão tem o objetivo de se reeleger, com o apoio do Centrão e dos auxílios emergenciais. [admita-se, até por uma questão de justiça e verdade, que o capitão não criou a pandemia, que impôs a necessidade dos auxílios emergenciais.] Para isso, precisaria que a eleição presidencial viesse rapidinho. Ela não virá, quem está a caminho é uma insegurança econômica bafejada pelo desequilíbrio fiscal. Com o emagrecimento da mística eleitoral que acompanhou sua vitória de 2018, resta-lhe a fidelidade do Centrão. Se ele pudesse, deveria marcar um jantar com Dilma Rousseff, ela acreditou nessa fidelidade.

Muita briga e poucos objetivos, os males do governo Bolsonaro são. Quem sabe onde foi parar aquele programa Pró-Brasil? Era pó e ao pó reverteu. Durante seu governo, o país foi infelicitado por uma pandemia que matou mais de 160 mil pessoas. Não foi ele quem trouxe o coronavírus, mas, em oito meses de angústia, dele não partiu uma só ação ou fala que contribuísse para a boa ordem sanitária. Ressalvem-se a rapidez e o alcance dos R$ 600 mensais que tiraram milhões de pessoas do caminho da fome. Essas medidas, contudo, não deram eficácia à cloroquina no combate à “gripezinha”.

Amanhã completam-se 116 anos da criação, no Rio de Janeiro, da Liga contra a Vacina Obrigatória. Pelo andar da carruagem, Bolsonaro quer liderar um movimento parecido. Em 1904, muita gente boa, como Rui Barbosa, combatia a vacinação contra a varíola, que naquele ano mataria quatro mil pessoas na cidade. Em 1980 a Organização Mundial da Saúde certificou a erradicação da doença. No governo de Rodrigues Alves, o Brasil andou para a frente.

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista