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domingo, 8 de agosto de 2021

Olimpíadas: Bruno Fratus critica CBF e atletas do futebol masculino por descumprirem obrigação contratual: 'Alienados'

Seleção brasileira masculina subiu ao pódio sem o agasalho da Peak, empresa patrocinadora do Comitê Olímpico do Brasil. Ao usarem as da Nike, atletas descumpriram obrigação olímpica 

A polêmica envolvendo o racha entre a CBF e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o fato de os atletas do futebol masculino terem descumprido a obrigação contratual no pódio, ganhou mais um capítulo. Desta vez, o nadador Bruno Fratus não poupou palavras e criticou abertamente a postura dos companheiros de delegação. Nas redes sociais, ele os chamou de "desconexos e alienados".

"A mensagem foi clara: não fazem parte do time e não fazem questão. Também estão completamente desconexos e alienados as consequências que isso pode gerar a inúmeros atletas que não são milionários como eles", escreveu o atleta da natação.

A polêmica acontece porque os jogadores da seleção brasileira de futebol foram ao pódio com o agasalho amarrado na cintura, depois da vitória contra a Espanha na final dos Jogos de Tóquio. Isso pode indicar uma queda de braço entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Comitê Olímpico do Brasil (COB).

[Em qualquer atividade séria valem as regras de quem patrocina e  de quem organiza. Por óbvio, nas Olimpíadas as normas que devem ser 
seguidas são as do COB e do COI. Alguns atletas que participaram da Seleção Olímpica Brasileira de Futebol, infelizmente poucos, ainda são movidos pelo amor ao esporte e 
pelos ideais olímpicos.
                                                              Infelizmente, a maioria já está contaminada pelos ideais mercenários que caracterizam a CBF, especialmente os que integram o timinho do Tite. Aliás, até um penetra foi 'enfiado' na Seleção Olímpica de Futebol.                                        De qualquer forma é justo que a Peak cobre a multa contratual a que tem direito e o COB puna com rigor TODOS os integrantes da Seleção olímpica. E que o COI também puna o COB caso entenda necessário.                                                                             Que sirva de lição que os IDEAIS OLÍMPICOS devem estar sempre em posição superior a dos ideais mercenários que dominam a maior parte dos jogadores brasileiros.]

A seleção masculina descumpriu uma determinação do Comitê de vestir o agasalho oficial da delegação fornecido pela empresa chinesa Peak Sports. Essa é uma obrigação contratual que vale para as equipes de todas as modalidades olímpicas.

Até os Jogos do Rio de 2016 o contrato do COB era com a Nike. A marca americana rompeu o contrato para esta edição da Olimpíada. O COB então fechou contrato com a Peak, que cedeu as peças para toda a delegação em troca de exposição em momentos como a da premiação.

A CBF, no entanto, parece ter feito questão de exibir o uniforme da Nike, contrariando o COB e o Comitê Olímpico Internacional. Por isso a cena que você aqui. A decisão dos jogadores pode gerar uma cobrança de multa por parte da Peak.

Confira a íntegra da nota do COB:

"O Comitê Olímpico do Brasil repudia a atitude da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e dos jogadores da seleção de futebol durante a cerimônia de premiação do torneio masculino.

No momento, as energias do Comitê estão totalmente voltadas para a manutenção dos trabalhos que resultaram na melhor participação brasileira na História das Olimpíadas.

Por este motivo, apenas após o encerramento dos Jogos o COB tornará públicas as medidas que serão tomadas para preservar os direitos do Movimento Olímpico, dos demais atletas e dos nossos patrocinadores".

Esportes - O Globo


terça-feira, 27 de julho de 2021

O português deveria ser um dos idiomas da ONU? - VOZES

No último dia 17 de julho foi celebrado o Jubileu de Prata da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.  
Criada em 1996, a CPLP foi a concretização de uma antiga ideia portuguesa, a de uma organização internacional que unisse a Lusofonia, a comunidade dos falantes de português. Seus objetivos declarados são a promoção e divulgação do idioma português, a cooperação diplomática entre os Estados-membros da CPLP, via o “reforço dos laços de solidariedade e de cooperação que os unem” e também a cooperação em áreas como educação, ciência e tecnologia, “para a promoção do desenvolvimento econômico social dos seus povos.” Outro objetivo, não tão declarado assim, por ser de longo prazo, é a adoção do português como um idioma oficial da ONU.
 

Big Stock

Quando de sua fundação, a CPLP foi formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, e São Tomé e Príncipe. Em 2002, o recém-independente Timor-Leste se juntou e, em 2014, foi a vez da Guiné Equatorial, onde o português é um idioma minoritário, com o castelhano como língua mais falada. A CPLP também possui 32 Estados observadores, habitualmente países com comunidades lusófonas significativas em suas fronteiras ou que sejam fronteiriços aos países lusófonos. Outros desejam apenas usar a presença na CPLP como ferramenta de aproximação com os países lusófonos. Para a organização, mais observadores significa maior representatividade para o idioma.
Países observadores

As relações entre a abertura olímpica em Tóquio e a política internacional

O ex-covarde(mais do que uma homenagem a Nelson Rodrigues)

Na cúpula realizada no último final de semana, em Luanda, capital de Angola, foram admitidos dez novos países como observadores. Dois deles são casos curiosos e interessantes. Um é a Índia, onde Portugal possuiu diversos entrepostos e cidades costeiras entre o século XVI e o século XX. O caso mais notável é o de Goa, que foi retomada pelos indianos apenas em 1961. E sim, a palavra é retomada, com uma anexação usando a força militar, que deixou cinquenta mortos. A Índia sabia que Portugal não possuía os meios militares para interferir, além de não existir clima político mundial pela manutenção de domínios coloniais. Hoje a população indiana que fala português é ínfima, mas o idioma deixou  impacto em expressões idiomáticas regionais, por exemplo.

Outro caso interessante é o da Espanha. O
país ibérico, vizinho de Portugal, sempre viu com certa desconfiança o movimento da lusofonia. Isso é devido sua habitual política de evitar quaisquer sinais que possam ser interpretados de maneira que legitimem os separatismos do país. No caso, o separatismo da Galícia, já que, para alguns linguistas, o idioma galego seria apenas uma variação do idioma português, não um idioma próprio e separado.

Na Bahia, inclusive, há uma grande comunidade histórica de origem galega. Símbolos do legado dessa imigração são a cantora Gal Costa e o Galícia Esporte Clube, de Salvador, cinco vezes campeão estadual de futebol. A pressão pela associação foi da Academia Galega da Língua Portuguesa, sediada em Santiago de Compostela. Um caso curioso de país que se tornou observador nessa cúpula, em que o Brasil foi representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, foi os EUA. Proporcionalmente, apenas 0,3% da população do país é falante de português. Em números absolutos, o um milhão de falantes de português torna a comunidade lusófona dos EUA maior que a de Cabo Verde ou a de São Tomé e Príncipe. O Reino Unido e a França, devido às suas comunidades de origem portuguesa, já eram Estados observadores. O Japão também, desde 2014, por motivos óbvios, com a intensa imigração japonesa para o Brasil, mesmo motivo do status de observador da Itália.
Acordo de vistos

Além da política internacional, algo firmado na última cúpula que pode interessar ao leitor é o acordo de mobilidade, visando facilitar a concessão de visto, circulação e autorizações de residência de cidadãos entre os países do grupo. Ainda assim, os parâmetros objetivos ainda não foram estabelecidos. O acordo precisa ser ratificado pelos parlamentos nacionais dos membros da CPLP, e os governos nacionais definirão suas regras de circulação. Muito provavelmente, dentro de um quadro geral e abrangente de orientações, teremos acordos bilaterais mais específicos. O motivo, obviamente, é o fato de Portugal fazer parte do Espaço Schengen, ou seja, suas fronteiras abertas com a União Europeia implicam em regras mais rígidas para imigração.

Esses acordos provavelmente vão facilitar a vida de três categorias profissionais de brasileiros: jornalistas, acadêmicos e trabalhadores de empresas multinacionais ou que pretendam expandir suas operações no exterior. Profissionais liberais, com políticas mais ágeis de validação de diplomas, também podem ser eventualmente beneficiados. No médio prazo, o fluxo comercial entre esses países pode eventualmente ser intensificado. Os laços econômicos entre Brasil e Angola, inclusive, são historicamente pouco explorados, com apenas alguns momentos de maior intensidade. Isso é um desperdício, dada a proximidade geográfica, o tamanho do mercado angolano e, claro, os laços históricos e culturais.

Independente de vistos e fluxos comerciais, a intenção de Portugal em propor a criação da CPLP está na busca do uso do idioma como uma ferramenta de projeção de política externa, um fator de soft power. Para poder executar essa política, entretanto, não bastaria apenas o país europeu e seus dez milhões de habitantes. Quando Angola, Moçambique e o gigantesco Brasil entram na conta, entretanto, a Lusofonia torna-se o segundo maior território do mundo, se fosse um país, e o quarto maior produtor de petróleo. E a projeção do laço pelo idioma português também facilitaria o reconhecimento da língua como um idioma oficial da ONU.

Nações Unidas
Quando da fundação da Organização das Nações Unidas, ela tinha cinco idiomas oficiais. Inglês, francês, russo e chinês idiomas das cinco potências permanentes do Conselho de Segurança, mais o castelhano, idioma oficial de dezenove países dos cinquenta fundadores da ONU, quase metade. Em 1973, o idioma árabe foi adicionado à lista. O contexto mundial era outro. Com o fim dos impérios coloniais europeus pós-Segunda Guerra Mundial, 23 países tinham o árabe como idioma oficial. Como consequência, desde então, o português é o idioma com maior número de países que o adotam como idioma oficial e que não é uma língua oficial da ONU.

Esse é o principal argumento pela adoção do português como idioma oficial da ONU, a sua representatividade, presente em quatro continentes. O reconhecimento, supostamente, traria maior representatividade diplomática aos países lusófonos, além de maior difusão da língua e da cultura lusófona. Argumentos contrários são, primeiro, o fato de que, em números absolutos, o português não é um dos idiomas mais falados do mundo, atrás do hindi e do bengali, dentre outros, e, segundo, os custos econômicos da burocracia desse reconhecimento. Quando o árabe foi adotado como o sexto idioma oficial da ONU, os países árabes aceitaram custear a adaptação por cinco anos.

Proporcionalmente, esse custo recairia especialmente ao Brasil e a Portugal. No caso brasileiro, infelizmente, o país flertou com o “calote” em organizações internacionais nos últimos anos. [calote? ou economia? 
na real, na sinceridade, qual a importância da ONU? 
se omitir em matanças tipo a da Síria e chancelar o assassinato de civis palestinos por aviões caça, de última geração, da poderosa Força Aérea de Israel.] Algo longe das obrigações de um país que se pretende como candidato a um assento permanente em um eventual Conselho de Segurança expandido. Ou seja, muito provavelmente, o plano de ver o português como idioma oficial da ONU vai continuar como um sonho de longo prazo. Isso não quer dizer que, até lá, outras pautas possam ser elaboradas e acordadas, com uma maior integração da comunidade lusófona internacional. Já escreveu Fernando Pessoa, “A minha pátria é a língua portuguesa”.

Felipe Figueiredo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 


quinta-feira, 8 de julho de 2021

Não faltará arroz na mesa - Revista Oeste

Evaristo de Miranda é doutor em Ecologia e chefe-geral da Embrapa Territorial.

Contrariando previsões pessimistas, a produtividade está em 8,8 toneladas por hectare em 2021, contra 8,3 no ano passado. Um recorde histórico 

 

Foto: Suwan Wanawattanawong/Shutterstock

Este ano dificilmente faltará arroz no mercado ou haverá alta de preços como em 2020. O confinamento, com muita gente em casa cozinhando, elevou o consumo (e o desperdício) do arroz. No pior período de praga da covid, esse grão atingiu seus maiores valores históricos. E, apesar de custar mais de 100 reais a saca, poucos produtores aproveitaram essas cifras.

A certeza de arroz na mesa vem dos resultados da recém-concluída colheita no Rio Grande do Sul, o grande produtor do Brasil (70% da safra). Contrariando previsões pessimistas e especulativas, a produtividade veio bem acima do esperado. Foram 8,8 toneladas por hectare, contra 8,3 no ano passado. Um recorde histórico. A safra maior, com umas 500.000 toneladas a mais, garante a tranquilidade no abastecimento do mercado interno. E até parte das exportações. Para se ter uma ideia, só esse extra adicional de meio milhão de toneladas supera toda a produção de arroz da Europa (Itália, Espanha, Portugal, França…).

Familiar no prato dos brasileiros, o arroz (Oriza sativa L.) tem uma longa história. A espécie ancestral é originária da África. Sua domesticação e cultivo tiveram início na China Central (Hunan), com registros de mais de 5.000 anos a.C. Variedades ancestrais de arroz, como o Wannian, ainda são preservadas em cultivos tradicionais na China.

Há milhares de anos, o arroz já era cultivado às margens do Rio Ganges no norte da Índia. Com o tempo, ele chegou à Coreia, Japão, Indonésia e Tailândia. E, na direção oeste, à Pérsia. Atribui-se a Alexandre, o Grande, sua introdução na Grécia e Europa. No século 10, os árabes o levaram ao Egito, pela costa oriental da África até Madagascar e pelo norte até o Marrocos, a Espanha e Portugal (Al Andaluz). A palavra é de origem árabe: al ruzz. No século 16, os portugueses introduziram o arroz desde a costa ocidental da África (Senegal e Guiné-Bissau) até o Golfo da Guiné. Hoje, o prato típico do Senegal é à base de arroz: o tiebudiene. Os lusitanos trouxeram e espalharam o arroz pelo Brasil. Cultivado em sequeiro, o arroz expandiu-se por todo o território nacional e tornou-se a base energética da alimentação cotidiana dos brasileiros, combinado com o feijão, com a bênção dos nutricionistas. E não só aqui.

                     Plantação de arroz -  Foto: Federarroz

O arroz é o principal alimento de mais da metade da população mundial e o terceiro cereal mais produzido (500 milhões de toneladas), atrás do milho (2,8 bilhões de toneladas) e do trigo (760 milhões de toneladas). China e Índia respondem por 50% desse total. Agregando-se Indonésia, Bangladesh, Vietnã e Tailândia, chega-se a 75% da produção mundial. A China produz muito, mas não dá conta de seu mercado consumidor. Ela é também o maior importador mundial, com 5 milhões de toneladas anuais. O Brasil é o nono produtor mundial atrás de China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã, Myanmar, Tailândia e Filipinas. A safra 2021 deve superar 11 milhões de toneladas. Apesar dessa expressão planetária, o arroz participa pouco dos mercados mundiais: menos de 10% da produção. Seu destino é o autoconsumo.

Na cesta básica, o arroz é um dos produtos mais acessíveis

No Brasil, irrigada e mecanizada, a cultura do arroz é intensiva e usa muita tecnologia. Graças ao controle rigoroso de pragas e doenças, à adubação adequada e ao bom manejo da água — até para reduzir as ervas daninhas —, a safra em 2021 surpreendeu. As lavouras arrozeiras responderam bem ao clima estival excepcional para o arroz irrigado. Só para ele.

Este ano, o clima não foi muito bom para a agricultura no Brasil. Faltou chuva durante o verão no Rio Grande do Sul. Os pequenos períodos de seca ou veranicos prejudicaram a soja e o milho, mas beneficiaram o arroz. Menos chuva significa menos nuvens no céu e mais luz. Com mais luminosidade, as plantas fizeram mais fotossíntese em pleno período de reprodução e frutificação. E, por ser irrigado, água não faltou ao arroz gaúcho. Resultado: produtividade recorde.

Esse é um exemplo de como não se pode ser catastrofista com as flutuações climáticas. Se o clima do ano prejudica uma lavoura, pode favorecer outra. Na agropecuária, a solução para reduzir o risco climático não está no aquecimento verbal de certos ambientalistas e sim no uso de tecnologias, com intensificação e modernização da produção. O retorno ao Neolítico, como pregam alguns, não resolverá nada. Neste segundo semestre, depois de um tempo meio anormal, segue um inverno normal, sem os fenômenos meteorológicos de La Niña nem de El Niño. Em matéria de clima, longe da polarização política, o tempo é de neutralidade climática, como se diz.

A área plantada de arroz manteve-se estável com relação ao ano passado. Ela é relativamente pequena comparada a outros cultivos anuais: pouco mais de 1 milhão de hectares irrigados. E representa 40% do uso da água em irrigação no Brasil. O Rio Grande do Sul concentra 73% do total, seguido por Santa Catarina (12%) e Tocantins (8%). Os dados são do Mapeamento do Arroz Irrigado no Brasil, produzido por Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e Companhia Nacional de Abastecimento.

A demanda segue aquecida. A estabilidade da área plantada, o mercado internacional em alta e o dólar acima de 5 reais trazem uma melhor paridade com o Mercosul. O preço atual do arroz, cerca de 82 reais para o produtor, é justo e tende a ser um piso. Na cesta básica, o arroz é um dos produtos mais acessíveis. E tem gente se queixando do preço. Ele representa cerca de 0,5% dos gastos com alimentação no orçamento familiar. No consumo cotidiano de um prato de arroz, feijão, uma proteína e salada, o custo do arroz é inferior ao da salada.

A expectativa de exportações para México, Costa Rica e até Venezuela é boa. Talvez acarrete menor oferta e ligeiro aumento de preços. Serão menos exportações em relação ao ano passado (1,7 milhão de toneladas). A previsão para este ano é de 1,2 milhão a 1,3 milhão de toneladas. Se as exportações forem menores, o excedente de produção poderá ser utilizado na alimentação de bovinos, suínos e aves para substituir o milho, tão escasso devido à quebra da safrinha.

E os rizicultores já cuidam da próxima safra com uma projeção de aumento de 20% a 30% no custo de produção. A situação atual recomenda cautela aos produtores: atualizar custos e cuidado com novos investimentos. Antecipar a compra de fertilizantes e defensivos é uma boa precaução. A área plantada certamente será mantida. Áreas menos adequadas, destinadas a soja e pecuária, devem manter-se assim. É essencial plantar em locais de excelente produtividade, praticar a rotação de culturas e manter a cobertura vegetal no outono e inverno com milho e trigo na várzea e com outras forrageiras (aveia, azevém, trevo-persa…). Ao cobrirem o solo, esses plantios em rotação o protegem, reduzem a infestação de plantas invasoras e melhoram as condições de produção no ano seguinte.

Não se consegue mais arroz, nem preços mais baixos, proibindo exportaçõescomo fez o governo argentino com os pecuaristas —, nem sendo arbitrário em impostos e outras medidas coercitivas. A solução é apoiar o rizicultor a produzir sempre, mais e melhor, como defende a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul. Simples assim. Como: um, dois, feijão com arroz.

Leia também “O país adoça o mundo” 

Revista Oeste

Evaristo de Miranda é doutor em Ecologia e chefe-geral da Embrapa Territorial.

 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Mendonça, o terrível - Nas Entrelinhas

O candidato à vaga de Marco Aurélio Mello tem se destacado pelas tentativas de enquadrar opositores do presidente Bolsonaro na antiga Lei de Segurança Nacional

Candidato ao STF tenta enquadrar opositores de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, que indicará o advogado-geral da União, André Mendonça, para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentará em 12 de julho, no Supremo Tribunal Federal STF). Pastor presbiteriano, a escolha de Mendonça, por isso mesmo, efetiva a promessa de Bolsonaro de que indicaria um nome “terrivelmente evangélico” para o cargo. O anúncio de Bolsonaro esvazia as pressões crescentes em favor de outros candidatos à vaga de ministro do Supremo.

Um deles é o ministro do Tribunal Superior de Justiça (STJ) Humberto Martins, candidato apoiado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Nos bastidores do Congresso, comenta-se que Lira teria estimulado o deputado Luis Miranda (DEM-DF) a fazer a denúncia da compra irregular da Covaxin para pressionar Bolsonaro a aceitar sua indicação, e não apenas por causa da disputa por verbas do Orçamento da União entre o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e a secretária de governo, ministra Flávia Arruda (PL-DF), aliada do presidente da Câmara. A aprovação de Mendonça, porém, não depende dos deputados, mas do Senado, onde será sabatinado, antes de seu nome ser homologado ou não pelos senadores.

Outro preterido na disputa seria o procurador-geral da República, Augusto Aras, que vem mantendo alinhamento absoluto com Bolsonaro em suas disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). O mandato de Aras está no fim, e sua liderança na instituição foi muito enfraquecida por causa de sua aliança com o presidente da República. Na escolha da lista tríplice para o cargo de procurador-geral, a subprocuradora Luiza Frischeisen foi eleita a mais votada, com 647 votos. [a lista tríplice não tem valor nenhum; trata-se apenas de uma tentativa (fracassada) de alguns procuradores da República forçarem o presidente Bolsonaro a indicar quem eles querem - mais uma vez a tal lista será ignorada.
Caso o presidente da República considere conveniente poderá até reconduzir Aras e aos adeptos da lista tríplice restará uma única opção: seguir a máxima do grande Zagallo.] Os subprocuradores Mario Bonsaglia, com 636 votos, e Nicolao Dino, com 587 votos, também fazem oposição ao procurador-geral. Cerca de 70% do Colégio de Procuradores participaram da votação. Ninguém da lista agrada a Bolsonaro, que deve reconduzir Aras ao cargo, o que reduz o desgaste pela indicação de Mendonça.

Aos 48 anos, André Mendonça faz uma carreira meteórica. Santista, formado pela Faculdade de Direito de Bauru, no interior de São Paulo, é doutor em Estado de direito e governança global e mestre em estratégias anticorrupção e políticas de integridade pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Na Advocacia-Geral da União (AGU) desde 2000, exerceu os cargos de corregedor-geral e de diretor de Patrimônio e Probidade. Em 2019, com a chegada de Bolsonaro à presidência, assumiu o comando da AGU.

Presbítero

Após a saída do ex-ministro Sergio Moro, Mendonça assumiu a pasta da Justiça e Segurança Pública em abril de 2020. No entanto voltou para a AGU em abril deste ano, após a mais recente reforma ministerial do governo Bolsonaro, logo depois da crise [que crise?houve alguma???]com o alto escalão das Forças Armadas. Mendonça também é ligado ao ministro Dias Toffoli, que o designou diretor do Departamento de Combate à Corrupção e Defesa do Patrimônio Público quando estava à frente da AGU. Ao lado do ministro Alexandre de Moraes, é coautor do livro Democracia e Sistema de Justiça, lançado em outubro de 2019, em homenagem aos 10 anos de Toffoli no Supremo. Entretanto, tem se destacado pelas tentativas de enquadrar opositores do presidente Jair Bolsonaro na antiga Lei de Segurança Nacional, um entulho autoritário em contradição com a Constituição de 1988. [pessoal: a Lei de Segurança Nacional - LSN,  Lei que está em plena vigência e todos tem obrigação de cumprir as leis - notem OBRIGAÇÃO não é opção. 
No caso de autoridade além da obrigação de cumprir tem a de fazer cumprir.
Obrigação que alcança do Presidente da República - a mais alta autoridade da República Federativa do Brasil - ao mais humilde cidadão. Assim, o advogado-geral da União está sujeito ao DEVER de cumprir a LSN e cuidar de que sejam enquadrados, processados,  todos que violarem a LSN e demais leis. 
Ou a LSN só se aplica contra os apoiadores do presidente Bolsonaro? Os bandidos da esquerda, os baderneiros, os  contra Bolsonaro estão isentos?]

Mendonça também é pastor presbiteriano da Igreja Presbiteriana Esperança, localizada em Brasília. Por isso, foi qualificado como “terrivelmente evangélico” pelo presidente Jair Bolsonaro, em solenidade na Câmara dos Deputados, em 2019. Seu nome é apoiado pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure).

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense - Continue lendo


segunda-feira, 28 de junho de 2021

CPI da Covid: servidor fez denúncia de algo que ainda nem aconteceu - Gazeta do Povo

VOZES - Alexandre Garcia

Uma CPI tem um prazo de 90 dias e para prorrogar são necessárias 27 assinaturas - entre os 81 senadores. Alguns parlamentares de oposição já estão se movimentando para que a comissão seja estendida. Talvez tenhamos mais três meses de espetáculos. O último foi do deputado federal, Luis Miranda que afirmou haver superfaturamento na compra da vacina Covaxin e que o líder do governo Ricardo Barros está envolvido nesse suposto esquema de corrupção.

Tem alguns que o levaram a sério. Mas ele ficou o dia todo falando sobre o caso e uma das últimas citações foi que Bolsonaro confirmou que Barros estava envolvido na compra superfaturada. Imagina, Bolsonaro não falaria mal de seu líder.  Os senadores da oposição levaram a declaração a sério e pretendem investigar mais a fundo. Por coincidência, Ricardo Barros foi quem anunciou veto contra Luis Miranda relatar a Reforma Tributária.

O irmão de Luís Miranda, Roberto Miranda - que avisou o deputado sobre a compra com valor maior - não está mais aparecendo no site do Ministério da Saúde, apesar de ainda trabalhar na pasta. Ele vazou informação e foi bloqueado.  Alguns me perguntaram por que a CPI da Covid reclamou da lentidão por parte da União para comprar a vacina da Pfizer, mas está condenado a pressa na compra da vacina da Covaxin.

Porque Roberto conta que foi pressionado para apressar os trâmites de compra do imunizante indiano apesar do valor estar mais alto que o da Pfizer. Aliás, até o momento o medicamento não foi pago nem um tostão e nem entregue, só negociado. Roberto fez uma denúncia de algo que ainda nem aconteceu.

Pesquisa da Coronavac
Em Bagé (RS), a prefeitura está fazendo uma pesquisa sobre as pessoas que tomaram a primeira dose da vacina Coronavac, mas que ainda não receberam a segunda dose.

Até agora, a resposta é positiva; 67% dos imunizados com a primeira dose já têm anticorpos contra a doença. São 2 em cada 3. Os brasileiros que receberam a primeira dose superam 70 milhões de pessoas.

Voltando (aos poucos) ao normal
No mundo, a Itália e a Espanha liberaram a população de usar máscara ao ar livre. Nova Iorque reabre totalmente a partir do dia 1º de julho, assim como a Tailândia reabre o centro turístico de Pucket. A Holanda acabou com as medidas sanitárias, no entanto, ainda exige o distanciamento social de 1,5 m - exceto no transporte público, em que ainda será preciso usar máscara.

Registro de otimismo
Nos primeiros cinco meses deste ano entraram em investimentos estrangeiros de risco, no Brasil, US$ 22,5 bilhões. Em relação ao ano passado, houve um crescimento de 30% - e é significativo. Em plena pandemia, estrangeiros apostam na economia brasileira.

O valor é próximo ao mesmo período do primeiro ano do governo Bolsonaro, época em que não havia Covid-19, em que os investimentos somaram US$ 26,1 bilhões. São investimentos que garantem emprego. Entre as entradas estão: uma empresa portuguesa e outra norueguesa de energia; uma francesa voltada para o automobilismo; e uma  suíça de alimentos.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 22 de junho de 2021

Chile começa a usar vacina da Pfizer para substituir 2ª dose da AstraZeneca

A aplicação da AstraZeneca estava paralisada desde o início do mês, após a notificação de um caso de trombose e trombocitopenia em um jovem de 31 anos.

O Chile começou nesta segunda, 21, a vacinar homens com menos de 45 anos que receberam a primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca com uma segunda dose da Pfizer/BioNTech. A aplicação da AstraZeneca para este grupo especificamente estava paralisada desde o início do mês, após a notificação de um caso de trombose e trombocitopenia em um jovem de 31 anos.
 
De acordo com Juan Pablo Torres, infectologista e pediatra da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile, resultados preliminares de estudos realizados no Reino Unido e na Espanha mostraram que é eficaz a administração de uma segunda dose com vacinas de RNA mensageiro, como é o caso da Pfizer/BioNTech, em pessoas que receberam a primeira dose da Oxford/AstraZeneca. "Esta mudança realizada no esquema de vacinação é para que os homens com menos de 45 anos tenham mais segurança. É claro que será necessário continuar monitorando este grupo. Ainda há muito caminho a percorrer", explicou o médico. Ainda de acordo com ele, os estudos mostram que as reações à combinação da vacina AstraZeneca com a Pfizer não são graves e estão dentro do esperado. Dores no local da injeção, febre e dores no corpo algumas horas após se vacinar.
 
No dia 9 de junho, a revista Science noticiou que pesquisas recentes também concluíram que essa combinação dos dois imunizantes produz fortes respostas imunes, medidas pela análise de amostras de sangue coletadas. Segundo o artigo, dois desses estudos sugerem que a resposta dessa mistura protege tanto quanto se uma pessoa tivesse se vacinada com duas doses da Pfizer/BioNTech. O Chile, assim como o Brasil, tem a Coronavac como vacina mais aplicada.
 
Carlos Arancibia, de 30 anos, é uma das pessoas que foram vacinadas com a Oxford/AstraZeneca. Quando ele soube da mudança no seu processo de vacinação, se preocupou. "A todo momento chega muita informação para a gente e isso é muito complicado, mas temos de confiar na experiência de outros lugares. Eu me sinto seguro e não tenho medo de me vacinar com a Pfizer como segunda dose", afirma o jovem, que deverá receber a sua segunda dose na primeira semana de julho.
 
Carlos trabalha com e-commerce em uma das principais redes de lojas de departamento do Chile. Há mais de um ano sem ter férias e trabalhando bastante, ele não vê a hora de a situação como um todo melhorar para fazer uma viagem ao sul do país. "Preciso descansar", afirma.O estudante de interpretação musical Rodrigo Gajardo também receberá o combinado de vacinas. Ele conta que, quando foi ao centro de vacinação e soube que seria imunizado com a Oxford/AstraZeneca, ficou bastante preocupado, porque sabia de reações que poderia desenvolver. Ele apresentou dor no braço e, nos dias seguintes, sentiu como se estivesse gripado. Agora que receberá a dose da Pfizer/BioNTech, o universitário de 25 anos está mais tranquilo.
 
Repetição
A estratégia de combinar vacinas vem sendo utilizada em países europeus, como França, Alemanha, Espanha, Suécia, Dinamarca e Noruega. Autoridades sanitárias francesas e alemãs, por exemplo, têm recomendado que os cidadãos com menos de 55 e 60 anos, vacinados com a Oxford/AstraZeneca, continuem o seu processo com um imunizante diferente. A preferência é pela vacina da Pfizer ou da Moderna. A França, por exemplo, suspendeu a administração do imunizante no dia 19 de março, pois também detectou casos de trombose, assim como no Chile.
"A pandemia é muito dinâmica e o processo de vacinação, também. No Chile, ele tem sido muito acelerado, mas não precipitado. Está cumprindo todas as etapas e essas diferentes questões que vão aparecendo estão dentro do que pode acontecer. Quando se monitora bem se os protocolos estão sendo cumpridos, mudanças são esperadas. E é certo que seja assim, pois no futuro serão tomadas melhores decisões", disse Juan Pablo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
 
Mundo - Correio Braziliense
 
 

 

sábado, 19 de junho de 2021

A opressão latino-americana - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Eliminar o corporativismo, o mercantilismo, o privilégio, a transferência de riqueza por meio do Estado deve ser uma meta perseguida por todos os que defendem a liberdade

A América Latina é terreno fértil para demagogos, populistas autoritários, socialistas em geral. Em ambiente com miséria e ignorância, esses oportunistas se criam com mais facilidade, exploram suas vítimas mascarando seu projeto de poder com slogans bonitinhos de igualdade e “justiça social”. E o mais grave é que a história se repete com incrível frequência, como se o povo fosse incapaz de aprender com os próprios erros.

A bola da vez é o Peru, depois de a Argentina trazer de volta ao poder o Foro de SP, mirando no péssimo exemplo venezuelano. Um livro clássico nos meios liberais é O Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, escrito por três autores, entre eles Álvaro Vargas Llosa, filho do Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, que escreveu a apresentação do livro. Eles tiveram de retornar ao tema com A Volta do Idiota, perplexos com essa insistência nos mesmos erros.

Mario Vargas Llosa disputou a Presidência do Peru em 1990 e perdeu para Fujimori. Desta vez, o escritor liberal apoiou a filha do ex-presidente, para tentar impedir o destino trágico do socialismo. Mas o “professor esquerdista” Pedro Castillo assumiu a liderança numa contagem sob suspeita e por poucos votos a mais pode selar o destino do país rumo ao abismo. É uma sensação grande de impotência por parte de quem sabe o que está em jogo.

Álvaro é autor de outro livro instigante, Liberty for Latin America, em que define os cinco pilares da opressão. A ideia central talvez possa ser resumida por essa frase de Llewellyn Rockwell Jr.: “Devemos nossa liberdade não ao desejo do Estado de permitir que as pessoas e as instituições sejam livres, mas ao desejo das pessoas e das instituições de resistir”. Os oprimidos esperam tudo do Estado opressor! E aí começam os problemas.

Logo na introdução, Álvaro deixa claro que nada é mais crítico para o objetivo de libertar a América Latina dessa opressão que compreender por que as transformações políticas e econômicas das últimas décadas beneficiaram somente uma pequena elite. O autor levanta o debate entre instituições e culturas, alegando que uma necessita da outra. As regras de relacionamento entre indivíduos precisam mudar, mas os valores que determinam a conduta humana também. Esses valores não mudarão a menos que as pessoas vejam que os novos valores são relevantes por meio de incentivos e recompensas possíveis pela mudança institucional.

Se é verdade que a tradição ibérica pesa contra o desenvolvimento da região, também é verdade que a Espanha e Portugal, onde tal tradição se originou, conseguiram prosperar após mudanças institucionais. Claro que para um sucesso sustentável é preciso uma mudança cultural. Victor Hugo já dizia que “não há poder maior que o de uma ideia cuja hora é chegada”. Mas postergar a remoção das causas diretas de opressão até que os valores corretos sejam absorvidos pelo povo vai condenar a região à impotência e ceder espaço para aqueles que são tentados a usar esses instrumentos de opressão para impedir a mudança cultural.

Quais são, então, esses instrumentos de opressão estatal, causa principal do fracasso da região? É o que Vargas Llosa busca responder. Os cinco princípios de organização social, econômica e política que oprimem o indivíduo seriam, segundo o autor, o corporativismo, o mercantilismo, o privilégio, a transferência de riqueza e a lei política, aqui entendida como o positivismo, contrário ao império da lei. Vargas Llosa busca as origens desses instrumentos de opressão no passado da região.  Uma pessoa não era uma pessoa, mas sim parte de um mecanismo maior, e existia somente como fração dessa entidade coletiva. Os indivíduos trabalhavam não para si próprios, mas para a manutenção dessa entidade que exercia força sobre eles. Não trabalhavam para subsistir, mas subsistiam para trabalhar em prol do Estado e seus parasitas. Os exemplos fornecidos pelo autor incluem o estilo de vida dos astecas e incas, em que nobres desfrutavam de privilégios como roupas de algodão e joias, enquanto exploravam escravos.

A organização desses povos era altamente hierarquizada, e os nobres recebiam direitos sobre a terra e o trabalho, transferindo renda por meio de tributos. O rei ou imperador era visto como a própria encarnação divina, e exercia, portanto, autoridade absoluta. A lei era uma extensão do rei, não uma regra objetiva e isonômica. Os maias e astecas praticavam sacrifícios humanos, já que o líder tinha poder sobre a “verdade” e também sobre a vida de todos.

Quando Espanha e Portugal conquistaram várias regiões da América Latina, no século 16, estavam no auge de uma longa tradição corporativista. Como consequência do surgimento do Estado-nação e sua volúpia fiscal, os direitos de propriedade passaram a ser uma transação mercenária entre a autoridade central e grupos particulares. Quando os direitos seletivos de propriedade não eram suficientes, o Estado expropriava riqueza privada diretamente. Esse era o princípio do mercantilismo ibérico. As encomiendas, grandes pedaços de terras concedidos pelo Estado como recompensa militar e outros motivos, eram talvez o maior símbolo de privilégio. Esse símbolo refletia a ideia dominante de que a riqueza não tinha de ser produzida, mas sim tomada.

A estrutura era bastante centralizada, e Espanha e Portugal não objetivavam desenvolver suas colônias, mas obter o máximo de riqueza possível por meio da exploração delas. Chegou a ser ilegal produzir bens que poderiam ser fornecidos pela metrópole. A sociedade colonial rapidamente aprendeu que sua sobrevivência dependia dos esquemas do Estado mercantilista, porque a única atividade rentável era negociar por meio do governo, não no mercado. Quando os movimentos de independência ganharam força na região, já existia uma cultura de que a lei não tinha nenhuma raiz real, sendo algo arbitrário que depende da vontade de uns poucos poderosos. Todo novo governante apontou ou removeu juízes de acordo com seus desejos, reescreveu a Constituição, refez ou estendeu os códigos existentes etc.

Até quando seremos vítimas de opressores mascarados de salvadores igualitários?

Nesse ambiente, o avanço na sociedade era possível somente pela influência no processo político que dominava a lei. Era no teatro da política, não do mercado, que a competição ocorria. A energia estava focada não em produzir riqueza, mas em direcionar a lei para a vantagem pessoal. Com essa mentalidade e com as suas correspondentes instituições estabelecidas, prosperar como nação era praticamente impossível. Infelizmente, não foi tanto assim o que mudou desde então. Muitos ainda encaram o Estado como um semideus, defendem medidas mercantilistas ultrapassadas, pedem mais interferência estatal na economia, ignoram a necessidade de um império de leis igualmente válidas para todos, focam suas energias na organização em grupos para extrair o máximo de privilégio possível do governo. Alterar esse quadro lamentável exige mudança cultural e institucional. A mudança no campo das ideias será lenta e gradual, como não pode deixar de ser. Combater as instituições opressoras passa a ser uma necessidade imediata. Eliminar o corporativismo, o mercantilismo, o privilégio, a transferência de riqueza por meio do Estado e a lei política arbitrária deve ser então uma meta perseguida por todos os que defendem a liberdade.

O que assusta são os constantes retrocessos na região. É como se o fantasma de Montezuma ou o de Atahualpa ainda pairassem sobre nós, ou então o espectro cubano, cujo regime opressor calcado nessas falácias persiste há mais de meio século. 
Até quando seremos vítimas de opressores mascarados de salvadores igualitários? 
Até quando os latino-americanos vão cair na ladainha da esquerda?[até o dia em que a maldita esquerda seja extinta.]

Leia também “Os “democratas” totalitários”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

O campeão da proteção florestal - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

Aos fatos: o Brasil ocupa 6,3% das terras continentais do planeta e suas áreas protegidas representam 12,3% das existentes. Quinta nação em extensão territorial, o Brasil é a primeira em áreas protegidas 

 

 Foto: Shutterstock

Nenhum país dedica mais território à proteção da vegetação nativa do que o Brasil. E a manutenção das florestas deve-se muito à Coroa portuguesa. No século 16, as Ordenações Manuelinas reuniram toda a legislação portuguesa, com vários artigos de proteção às florestas e até proibição do uso do fogo (livro V, tit. 83). A Coroa portuguesa estendeu sua aplicação ao Brasil. O corte de árvores madeireiras só podia ocorrer com autorização legal. Havia uma lista das chamadas árvores reais preservadas. Daí deriva a expressão madeira de lei: evoca a madeira protegida pela lei desde os primórdios do povoamento português no Brasil.

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Alvarás, regimentos, ordenações e outros instrumentos dos governadores-gerais enriqueceram esse embrião de legislação ambiental. O Regimento do Pau-Brasil, de 1605, foi a primeira lei de proteção florestal. Ciente das desordens e abusos na exploração do pau-brasil, de como a árvore se tornava rara e as matas se degradavam, El-Rei fez o Regimento, após tomar informações de pessoas de experiência das partes do Brasil, e comunicando-as com as do Meu Conselho”.

Primeiramente Hei por bem, e Mando, que nenhuma pessoa possa cortar, nem mandar cortar o dito pau-brasil, por si, ou seus escravos ou Feitores seus, sem expressa licença, ou escrito do Provedor Mor de Minha Fazenda, de cada uma das Capitanias, em cujo distrito estiver a mata, em que se houver de cortar; e o que o contrário fizer incorrerá em pena de morte e confiscação de toda sua fazenda.

O Regimento previa penas pesadas a quem excedesse sua licença de corte. O excedente era sempre confiscado. Acima de 10 quintais, multa de 100 cruzados
Mais de 50 quintais, açoite e degredo por dez anos em Angola. Ultrapassando 100 quintais, pena de morte e perda da fazenda. O Regimento ainda criou uma espécie de auditoria independente: uma devassa anual da Coroa sobre a administração e os administradores do corte do pau-brasil, seus registros, autorizações anuais…

Essas e outras medidas permitiram o manejo sustentado das matas de pau-brasil por três séculos. A exploração da espécie não foi sinônimo de desmatamento, como pensam alguns, mas garantiu a manutenção da floresta atlântica até o século 19. O último carregamento de pau-brasil foi exportado em 1875. A exploração não cessou devido ao desaparecimento da espécie, mas por razões comerciais: perda de competitividade da tinta vermelha produzida com a madeira, devido à entrada das anilinas no mercado de tinturaria.

As políticas florestais da Coroa portuguesa e do Império do Brasil lograram manter a cobertura vegetal quase intacta até o final do século 19, com poucos locais alterados. Já no século 20, apenas entre 1985 e 1995, [já na famigerada Nova República.] a mata atlântica perdeu mais de 1 milhão de hectares, mais do que a área desmatada ao longo de todo o período colonial!

Segundo Carlos Castro, autor de doutorado na Universidade de Brasília sobre a gestão florestal no Brasil, de 1500 aos nossos dias, “em vez de imputar a Portugal a culpa por ter nos deixado uma herança predatória, talvez devamos aprender com as práticas conservacionistas que os portugueses preconizaram e tomarmos consciência de que a destruição das florestas brasileiras não é obra de 500 anos, mas principalmente desta geração”.

Nas três últimas décadas, nossa herança florestal ganhou segurança com a criação de áreas protegidas pelo Poder Público. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep) considera como áreas protegidas as unidades de conservação da natureza e as terras atribuídas a populações tradicionais, como esquimós, aborígenes e indígenas.

Entre os países, a definição das unidades de conservação da natureza varia bastante e inclui diversas categorias de proteção. Nos parques naturais europeus, a presença humana e atividades econômicas são possíveis sob certas restrições, incluindo cidades, agropecuária e várias atividades. No Brasil, apenas as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) permitem atividades e, em grau menor, as reservas extrativistas. As unidades de conservação integral, como estações ecológicas ou parques nacionais, excluem presença humana ou atividade econômica.

Até a promulgação da Constituição Federal de 1988 existiam 248 unidades de conservação, ocupando área total de 198.599 quilômetros quadrados, ou 2,3% do Brasil. Em 30 anos, elas foram multiplicadas por oito. Hoje são 1.871 unidades de conservação federais, estaduais e municipais, incluindo APAs. Elas ocupam 1.544.333 quilômetros quadrados, ou 18% do país.

Até a Constituição de 1988, havia 60 terras indígenas decretadas, somando 161.726 quilômetros quadrados, ou 1,9% do Brasil. Hoje são 600 terras indígenas numa área total de 1.179.561 quilômetros quadrados, ou 14% do Brasil.[para que tanta terra para índios, se eles não querem cuidar nem agricultura  de subsistência - querem que o governo os sustente em tudo.]

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A extensão dessas áreas protegidas equivale a 54% do território europeu ou à soma das áreas de 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslovênia, Eslováquia, Espanha, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal e Reino Unido.

O Brasil ocupa 6,3% das terras continentais do planeta e suas áreas protegidas representam 12,3% das existentes. Quinta nação em extensão territorial, o Brasil é a primeira em áreas protegidas. Entre os dez países de maior dimensão territorial Rússia, China, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Índia, Argentina, Cazaquistão e Argélia —, o Brasil protege mais. A média das áreas protegidas desses países é de 11,0%, contra 30,3% no Brasil. A proteção ambiental brasileira é quase três vezes maior.

Conforme dados da Unep, em grande parte, as áreas protegidas estão localizadas em terras marginais: desertos desabitados (China, Austrália, Argélia, EUA), regiões polares e subárticas (Alasca, Sibéria) e montanhas inaptas à ocupação humana (Andes, Rochosas).

No Brasil, porém, a maioria das áreas protegidas reúne terras com potencial madeireiro, agropecuário e mineral. A dificuldade em manter sua integridade é grande em face das demandas sociais e das pressões econômicas, sobretudo na Amazônia. Cuidar dessa extensão territorial é um enorme desafio de gestão.

Leia na Revista Oeste, a MATÉRIA COMPLETA


quarta-feira, 5 de maio de 2021

Isabel Díaz Ayuso: a nova cara, bem provocadora, da direita na Espanha - Blog Mundialista

Vilma Gryzinski

Boa de briga, a política é reeleita governadora de Madri e cria problemas tanto para adversários esquerdistas quanto aliados direitistas

“Não saio pela vida buscando confrontações”, diz Isabel Díaz Ayuso, que se tornou um fenômeno político por fazer exatamente isso. A ex-jornalista espanhola ganhou de lavada a eleição para o governo de Madri. Na Espanha, seu cargo se chama presidente da Comunidade de Madri, a área da capital e mais cidades dos arredores, como se fosse um estado.

Espertamente, ela convocou eleições quando achou que seria derrubada por seus parceiros de governo, do Cidadãos, o partido centrista que está eleitoralmente quase extinto. Valeu a aposta. Por causa de seu comportamento durante a pandemia, tirando leite de pedra para dar cobertura aos doentes e, ao mesmo tempo, defendendo a reabertura o mais precoce possível dos bares e restaurantes que fazem Madri ser Madri, ela virou um fenômeno. “Somos todos Ayuso”, foi o adesivo que se espalhou pelos estabelecimentos profundamente gratos à governadora.

Ela virou nome de cervejatem um rótulo com seu retrato e a frase “La caña de España” – e nome de pratos. Um deles é o calamares à Ayuso, que “vem com dois ovos”.  Os madrilenhos são tradicionalmente desbocados e o estilo de Ayuso pegou bem com uma ampla fatia do eleitorado. Na faixa que vai da centro-esquerda à esquerda pura e dura, ela evidentemente provoca ojeriza. “Quando começam a te chamar de fascista, você sabe que está fazendo alguma coisa certa”, já provocou ela.

“Ayuso está propondo seu próprio modelo de conservadorismo – mais para a direita, até trumpista na forma como faz declarações bombásticas que desviam a atenção da política”, suspirou para o Financial Times a cientista social Máriam Martínez Bascuñán. “A eleição de Madri vai determinar o futuro da direita na Espanha”.

E, de alguma forma, da esquerda também. Pablo Iglesias, do Podemos, mais o menos equivalente ao PSOL, deixou o posto de vice-primeiro-ministro no governo de coalizão de Pedro Sánchez, crente que sua figura também carismática seria um sucesso. Elegeu dez deputados, três a menos do que o ultradireitista Vox, que vai integrar a coalizão com a governadora. Ao todo, os três partidos de esquerda elegeram 58 deputados. O PP, sozinho, fez 65. “A Espanha me deve uma”, ironizou Ayuso quando Iglesias saiu do governo para disputar a eleição. E tuitou: “Comunismo ou liberdade”, que depois virou o lema de sua campanha.

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sexta-feira, 19 de março de 2021

Finlândia é o 'país mais feliz do mundo' pelo 4º ano consecutivo

Com uma nota de 7,84 sobre 10, o país lidera a última edição do "World Happiness Report"

A Finlândia foi eleita nesta sexta-feira (19), pelo quarto ano consecutivo, o "país mais feliz do mundo", à frente da Dinamarca, Suíça e Islândia, num ranking mundial de bem-estar que foi afetado de diferentes formas pela pandemia de coronavírus.

Com uma nota de 7,84 sobre 10, o país lidera a última edição do "World Happiness Report". A Alemanha ocupa a 13ª colação, o Canadá 14ª, o Reino Unido 17ªº, os Estados Unidos 19ª e a Espanha 27ª.

A Europa monopoliza nove dos dez primeiros lugares. Entre as grandes potências, o Brasil está em 35º lugar, Japão em 56º, Rússia em 76º e China em 84º, segundo o ranking.

A Costa Rica é o primeiro país latino-americano desta lista, em 16º lugar, seguida do Uruguai (31º), Brasil (35º), México (36º), Panamá (41º) e Chile (43º), em uma lista de 149 nações que leva em consideração os dados dos últimos três anos. O 149º país, ou seja, o mais infeliz de acordo com esta lista, é o Afeganistão, com nota de 2,52, acompanhado nas últimas colocações por vários países africanos - Zimbábue, Ruanda, Botswana e Lesoto.

Correio Braziliense

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Gestores da calamidade - O Estado de S. Paulo

J R Guzzo

Desde o início da pandemia, a educação pública em São Paulo vem sendo dirigida por sindicatos de professores, médicos oficiais e um consórcio de burocratas e políticos

São Paulo está entrando no segundo ano seguido com as suas escolas basicamente fechadas; elas até podem funcionar, mas só com 35% da sua capacidade e de forma “híbrida”, como dizem os gestores dessa calamidade. Para dois terços dos alunos, aulas “presenciais o único tipo de aula que existe na vida realcontinuam proibidas.  
Os alunos devem ficar sentados em casa na frente dos computadores e, como no ano passado, fazer seus cursos online; no fim do ano serão de novo aprovados para a série seguinte, mesmo que tenham aprendido o equivalente a três vezes zero.

O anúncio foi feito com a naturalidade com que se anuncia os horários de funcionamento para os shopping centers, os borracheiros ou os parques aquáticos. “Qual é o problema?”, perguntam os responsáveis pela decisão. Qualquer coisa, é só procurar o serviço de atendimento digital que está aí para resolver as emergências. Todos eles, ali, vivem num mundo onde tudo se resolve online, no home office e no delivery; não há, para os habitantes dessa bolha, a necessidade de uma vida fora de “casa”.

A pergunta mais sensata que se poderia fazer diante disso tudo é a seguinte: “Os médicos, os professores e as autoridades enlouqueceram?” Não bastou, pelo jeito, manter as escolas fechadas durante o ano de 2020 inteiro; querem dobrar a aposta e repetir a dose em 2021. E depois, se a mídia continuar anunciando 1.000 mortes de covid por dia? As aulas “presenciais” serão suspensas por um terceiro ano consecutivo? E depois? E no ano seguinte?

Nunca, em nenhuma hipótese, os que resolvem essas coisas levam em conta que o mundo desenvolvido, onde os índices da educação pública são umas 150 vezes melhores que os do Brasil, fez questão de manter as escolas abertas durante a maior parte do ano letivo de 2020. Não dá para dizer que a covid esteja sendo mais camarada por lá. 
Ao contrário: Itália, Inglaterra, França, Espanha, Suécia, Estados Unidos e outros tantos países têm mais mortes que o Brasil por grupos de 1 milhão de habitantes. 

Também não é uma boa ideia perguntar aos gestores da covid qual a sugestão que eles fazem para os milhões de alunos que não dispõem de computadores, nem de pais com tempo livre para ficarem acompanhando as lições ao seu lado. Muitos, nos fins de mundo à beira do Rodoanel e outras quebradas, não têm nem escolas; imagine-se, então, escolas online. A qualquer observação desse tipo, os que mantêm as salas de aula fechadas vêm com uma resposta automática: “Negacionismo”.

Desde o início da pandemia, a educação pública em São Paulo vem sendo dirigida por sindicatos de professores, médicos oficiais e um consórcio de burocratas e políticos com a colaboração de muitos grupos de pais de alunos e outros crentes do “distanciamento social”. As autoridades que assinam atos administrativos e aparecem nas entrevistas coletivas foram atropeladas; suas declarações são, na maior parte do tempo, apenas um reflexo das forças que estão realmente tomando as decisões. Vai ser difícil mudar isso.

JR Guzzo, jornalista - Coluna O Estado de S. Paulo - 27 janeiro 2021


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O gesto autorracista e infame do vereador do Psol em Porto Alegre - Sérgio Alves de Oliveira

Se o objetivo do vereador afrodescendente Matheus Gomes, do Psol, durante a cerimônia de posse dos novos vereadores de Porto Alegre, na 6ª feira, 1º de janeiro de 2021, era o de “aparecer”, esteja  Sua Excelência seguro que conseguiu o seu objetivo plenamente, com “juros e correção monetária”, especialmente na grande mídia que está em plena lua de mel com a esquerda, na tentativa de recuperar as “perdas” que teve com o fechamento dos cofres governamentais que alimentavam a sua ganância, desde 1º de janeiro de 2019.                                                             

Não há grande jornal do Brasil que não tenha dado destaque ao seu estúpido, ignorante  e “antipatriótico “  gesto de menosprezo ao Hino Riograndense, um dos símbolos oficiais do Estado ,que constava da programação da solenidade de posse, ao permanecer, acintosamente,“sentado” durante a sua  execução, juntamente com outros “colegas”.

Mas o que mais surpreende é que o dito vereador se intitula “historiador”, e no seu discurso  de “protesto” e revolta descabida  contra o Hino Riograndense cometeu uma “heresia” histórica sem precedentes na historiografia do Rio Grande do Sul e  da Revolução Farroupilha, de  1835.  O protesto “imbecil” do vereador esquerdista,”historiador” de “meia tigela”s e  liga a um dos versos do Hino Riograndense, onde consta: “ POVO SEM VIRTUDE/ACABA POR SER ESCRAVO”.

Ridiculamente,”Sua Excelência” dá a entender que esse trecho do Hino Riograndense  estaria se referindo especificamente à escravidão  de negros no Brasil, e que  por serem estes na época os escravos, os negros não teriam “virtudes”. Em primeiro lugar, como “historiador”,Sua Excelência deveria  estudar melhor o Hino Riograndense,e perceberia então que os valores ali preconizados  são fundamentalmente valores e ideias universais,que só podem ser concebidos por grandes espíritos, jamais por políticos vulgares.

Parece que Sua Excelência não tem a mínima ideia, mesmo como “historiador”, que a escravidão não foi nenhuma invenção brasileira, muito menos gaúcha, e que nada tem a ver com a “propriedade” de negros,pelos “brancos”. No Egito Antigo ela já existia,mas o escravismo se resumia ao trabalho doméstico e militar. Também na Roma Antiga ele existiu,usado na produção das fazendas e nas obras públicas. No Oriente idem, onde as concubinas do Grande Sultão, Xeque, ou Xá, eram escravas. Não havia nenhuma “etnia” envolvida. [Reforçando um fato histórico: a escravidão existe desde antes de Cristo e seu principal fundamento era que os vencidos em uma guerra passavam a ser propriedade dos  vencedores, que tinham o poder de vendê-los na condição de escravos.

Os escravos que vieram da África para o Brasil não foram capturados por portugueses ou brasileiros - eram derrotados em guerras, se tornavam propriedade dos vencedores - também africanos - que os vendiam a quem melhor preço oferecesse. Aí é que entraram os navios negreiros - que cuidavam do transporte dos cativos.]

A escravidão esteve presente na Ásia, na Europa, nas Américas e na África. E paradoxalmente neste último continente (África) foi a mais forte de todas. O comércio  de escravos era absolutamente normal e intenso  entre as diversas “nações” e  tribos.

Com os portugueses, o  tráfico de escravos se acentuou na África, calculando-se a “comercialização” entre 8 a 100 milhões de negros,para abastecer de “mão de obra”  escrava  as “colônias” da Espanha e Portugal, na América. Sabe-se que no início os portugueses “capturavam” ,”caçavam” os negros para vendê-los  como escravos. Mas depois passaram a comprá-los no mercado interno africano,que saía “mais barato”, para depois revendê-los. Na Senengâmbia, os portugueses chegavam a trocar um cavalo por 15 ou 20  escravos.

Tudo leva a crer que o distinto vereador está apresentando toda a conta do escravismo negro do Brasil aos guerreiros  farroupilhas e ao seu hino. Além do mais,o trecho do hino considerado equivocadamente uma ofensa aos povos negros,prega uma verdade universal absolutamente incontestável. Nenhum povo dotado da virtude da liberdade permitiu-se escravizar durante toda a marcha da civilização, em qualquer tempo ou lugar. E a liberdade deve ser buscada com muita luta. Ela nunca vem “de graça”.

Mas por outro lado esse trecho do Hino Riograndense reproduz com absoluta fidelidade e pode ser considerado, i-n-f-e-l-i-z-m-e-n-t-e, um AUTORRETRATO “moderno”  do Povo Gaúcho , que não teve a capacidade ,a coragem,nem  a “virtude” , de manter a sua independência, declarada em 11 de setembro de 1836,decorrente da Revolução Farroupilha,de 1835,através da famigerada “Convenção”,”Tratado”,ou “Acordo” de Poncho Verde, de 1845, assinado entre o representante  do “Império”, o então Barão de Caxias,e o “traidor” da Revolução  Farroupilha,o General David Canabarro, que assinou o pacto apesar de não ser o representante legal legítimo do então Estado Independente  República Riograndense.

É por isso  que Sua Excelência, o vereador  Matheus Gomes,do PSOL, acabou batendo na porta errada ao fazer a sua acintosa crítica à escravidão. Não são os brancos ou negros farroupilhas dos anos 1835 a 1845 os “alvos” do  Hino Riograndense. Os alvos são os “sem virtude”,independentemente de etnia,raça,ou cor, que acabam ou permanecem  escravos. E isso em  todos os tempos e lugares.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e sociólogo

Presidente do Partido da República Farroupilha - PRF

(proscrito pelas autoridades judiciárias)