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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Bolsonaro e Putin

 Lauro Jardim
Bolsonaro e Putin

A viagem que Jair Bolsonaro fará a Moscou, a convite de Vladimir Putin, já tem data marcada. Será em fevereiro.

Nela, não serão assinados acordos bilaterais relevantes. Mas para Bolsonaro é uma visita oficial importante: desde Lula, todos os presidentes brasileiros se encontraram com Putin. Menos Bolsonaro. [presidente Bolsonaro: fácil de constatar que é bem mais estável, bem mais previsível, conversações e negociações com um mesmo interlocutor do que com vários = Putin a cada presidente brasileiro que receber teve que se adaptar, já o senhor terá a certeza de muitas posições do Putin.]

Lauro Jardim, colunista - O Globo


Harmonia forçada e “párias” irritados - Vozes

Rodrigo Constantino

O presidente da França, Emmanuel Macron, causou controvérsia ao falar sobre a estratégia do seu governo para a vacinação contra a Covid-19 usando um termo grosseiro para dizer que pretende "irritar" os não vacinados.

Em entrevista a um grupo de leitores do jornal Le Parisien na terça-feira, Macron disse: "Eu não quero irritar os franceses. Mas com relação aos não vacinados, eu realmente quero irritá-los. E vamos continuar a fazer isso, até o final. Essa é a estratégia".

O termo usado por Macron ("emmerder", de "merde") é considerado vulgar e provocou reação imediata de seus opositores e críticas em redes sociais. "Um presidente não deveria dizer isso. Emmanuel Macron é indigno de seu cargo", tuitou a líder de direita Marine Le Pen, acrescentando que Macron estava "transformando os não vacinados em cidadãos de segunda classe".

Já está muito claro que os "especialistas" que monopolizam a fala em nome da ciência querem culpar os não totalmente vacinados - conceito móvel que, agora, já inclui quem não tomou a dose de reforço - por todos os males do planeta, inclusive a permanência da pandemia.

É sobre controle social, não sobre vidas. Querem segregar as pessoas entre os do clubinho da "ciência" e os "negacionistas". E, para tanto, é preciso transformar esses "tontos" em párias da sociedade, em idiotas que precisam do "empurrão" do estado clarividente para proteger sua própria saúde e a dos outros, não importa que vacinados também peguem e espalhem a doença.

A página Quebrando o Tabu, que faz campanha pela legalização das drogas, chegou a enaltecer o regime ditatorial comunista da China, alegando que o Ocidente não o compreende bem, mas que uma "harmonia forçada" pode ser algo maravilhoso. Em seguida, pela repercussão negativa ao escancarar sua essência comunista totalitária, o movimento "pediu desculpas" pela postagem: "Foi mal demais a thread que postamos sobre a China. Queremos pedir desculpas e contar que reformularemos aquele conteúdo para trazê-lo de volta com a versão correta dos fatos".

Leandro Ruschel, porém, não perdoou, pois está evidente qual postagem realmente expressa a visão de mundo desses esquerdistas: "Havia um cara com bigodinho ridículo que também tinha um projeto de gerar harmonia à força, no mundo inteiro, eliminando quem não concordasse com ele. Quem somos nós para julgar?"

Tatiana Roque, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, escreveu: "As universidades qualificadas precisam criar estruturas de combate ao negacionismo em seus quadros. Isso é urgente diante da crescente weaponização da ciência. Não devem ser permitidas palestras tentando travestir de 'polêmica' posições bem estabelecidas na comunidade científica". Leonardo Coutinho comentou: "Ainda bem que Galileu viveu no Século XVI".

Trago apenas alguns exemplos para repetir, uma vez mais e quantas forem necessárias, que estamos diante do maior avanço totalitário em décadas, tudo em nome da "ciência". A pandemia foi um presente para esses totalitários, que querem calar os dissidentes "hereges", interditar o debate, impor sua visão estreita de mundo, "irritar" os "imbecis" até que eles sucumbam e digam "amém" para a seita predominante.

Se depender desses "liberais", o Ocidente vai mesmo ter de se acostumar com uma "harmonia forçada" ao estilo chinês. Mas tudo em nome da ciência e de nossa própria saúde, claro...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo, VOZES


A pior vergonha - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Pela primeira vez, desde o regime militar, há um preso político trancado numa cela neste país

O Brasil encerrou o ano de 2021 com uma vergonha estampada no meio da testa: pela primeira vez, desde o regime militar, e num caso único em qualquer nação democrática do mundo, há um preso político trancado numa cela de presídio neste país. Em nome das “instituições democráticas”, e agindo como um porão de polícia secreta, o Supremo Tribunal Federal mantém preso há mais de quatro meses, sem direito de defesa e sem processo legal, um cidadão que não cometeu nenhum crime para o qual a lei brasileira prevê prisão. Está cumprindo pena sem ter sido processado, julgado e muito menos condenado.

O ex-deputado Roberto Jefferson está preso na penitenciária de Bangu porque dirigiu ofensas aos ministros do STF. Insulto não é nenhum crime que permita a autoridade pública jogar um cidadão na cadeia. No máximo, é delito de injúria, no qual o autor é processado em liberdade; caso condenado, jamais cumpre pena de prisão, ainda mais se é réu 
primário.
Mas Jefferson não está respondendo a nenhum processo legal na Justiça foi preso por ordem pessoal de um ministro do STF, e vai ficar na prisão por quanto tempo o ministro quiser, sem que seus advogados possam recorrer a nada ou a ninguém. Isso se chama prisão política. Só acontece em ditadura.

A prisão do ex-deputado é, como tantos outros, um ato puramente ilegal do STF. A desculpa utilizada pelo ministro Alexandre de Moraesque neste caso consegue o prodígio de agir, ao mesmo tempo, como delegado de polícia, carcereiro, promotor e juiz – é que Jefferson é uma “ameaça à democracia”. Como assim?  
Por acaso ele está comandando algum grupo terrorista? 
Está armazenando armas para dar um golpe de Estado, ou treinando combatentes para atos de violência? 
É claro que não, mas e daí? 
Moraes acha que ele é uma “ameaça à democracia”, e isso, no seu entender, permite à autoridade ignorar a lei e eliminar os direitos individuais do acusado. 

Tecnicamente, o ex-deputado está em “prisão preventiva” medida que se aplica a criminosos que são um perigo real e imediato para a segurança dos demais cidadãos, ou que vão cometer crimes outra vez. É um disparate em estado puro, mas Moraes decretou que a prisão de Jefferson é “necessária e imprescindível” o que consegue ofender, ao mesmo tempo, a lógica e a gramática. É onde estamos.

A mídia, as classes intelectuais, os defensores dos direitos humanos e o restante do “Brasil democrático” não dizem uma sílaba sobre nada disso. Como Jefferson é um homem de direita, acham que ele não tem direito à proteção da lei. Talvez esteja aí, no fundo, a pior vergonha.

 J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


Alexandre diz que prisão preventiva de Roberto Jefferson é ‘imprescindível’ e nega colocar ex-deputado em liberdade - O Estado de S. Paulo

Investigado nos inquéritos das fake news e das milícias digitais, presidente afastado do PTB está preso desde agosto

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou nesta quinta-feira, 16, um pedido para reverter a prisão preventiva do ex-deputado federal Roberto Jefferson. A defesa tentava colocá-lo em liberdade ou em regime domiciliar.

Em sua decisão, Moraes disse que a prisão continua ‘necessária e imprescindível’ para o andamento das investigações que atingem o ex-deputado. “O quadro fático que tornou necessário o cerceamento da liberdade do requerente permanece inalterado, de modo que incabível, neste momento processual, a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares alternativas”, escreveu. É o segundo pedido de liberdade negado pelo ministro.

O ex-deputado Roberto Jefferson está preso desde agosto. 

FOTO:ANDRE DUSEK/ESTADÃO

 

Documento

Investigado nos inquéritos das fake news e das milícias digitais, Roberto Jefferson foi preso preventivamente em agosto, ao atacar as instituições democráticas e fazer ameaças aos ministro do STF, e denunciado em seguida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por incitação ao crime, homofobia e calúnia contra o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Ele também foi temporariamente afastado da direção do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) sob suspeita de usar a estrutura da sigla e recursos do fundo partidário para disparar notícias falsas e atacar instituições democráticas nas redes sociais. “A sua manutenção no exercício do respectivo cargo poderia dificultar a colheita de provas e obstruir a instrução criminal, direta ou indiretamente por meio da destruição de provas e de intimidação a outros prestadores de serviço e/ou integrantes do PTB. Além disso, o afastamento serviu para cessar a utilização de dinheiro público na continuidade da prática de atividades ilícitas por Roberto Jefferson, a exemplo do que ocorreu mesmo após a sua custódia preventiva”, reiterou Moraes na decisão desta quinta.

No início da semana, a PGR enviou ao Supremo parecer favorável à manutenção da prisão. A subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo disse que os ‘últimos comportamentos’ do ex-deputado demonstram a ‘ausência de comprometimento a cumprir as determinações judiciais que lhes são impostas’.

Rayssa Motta - O Estado de S. Paulo


Talibãs ordenam decapitação de manequins em lojas de Herat

Esta nova diretriz se soma a uma série de medidas já anunciadas pelo Talibã para impor no país sua visão rígida do Islã

Os talibãs ordenaram aos vendedores de roupas de Herat, no oeste do Afeganistão, que cortem as cabeças dos manequins em suas lojas, alegando que se opõem à sua interpretação da lei islâmica.

Esta nova diretriz se soma a uma série de medidas já anunciadas pelo Talibã para impor no país sua visão rígida do Islã, uma visão que limita as liberdades públicas, em especial para mulheres e meninas.

"Pedimos aos comerciantes que cortem a cabeça dos manequins, porque é contra a lei (islâmica) da 'sharia'", disse à AFP nesta quarta-feira (5) Aziz Rahman, chefe do serviço de Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, em Herat, cidade com cerca de 600 mil habitantes e terceira cidade do país. "Se se limitarem a cobrir suas cabeças, ou esconderem o manequim (totalmente), o anjo de Alá não entrará na loja, ou em sua casa, para abençoá-los", alegou.

Segundo ele, os comerciantes prometeram obedecer. Desde terça-feira, circula nas redes sociais um vídeo, no qual homens cortam cabeças de manequins femininos de plástico com serras. Por enquanto, os talibãs não emitiram nenhuma ordem nacional sobre essas figuras de plástico, que não têm lugar em sua interpretação estrita da lei islâmica, uma vez que esta proíbe representações humanas.

Durante seu primeiro regime à frente do país, nos anos 1990, os talibãs destruíram várias estátuas históricas de budas. A ação chocou o mundo. Desde que voltaram ao poder, eles prometem ser mais moderados para tentar mudar sua imagem internacional e receber ajuda humanitária. Por enquanto, porém, impuseram novas restrições, principalmente contra mulheres e meninas.

Mundo - Correio Braziliense

 

Decreto do governo argentino ajuda a nossa pecuária - VOZES - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia

Decreto que praticamente proíbe exportação de carne de gado da Argentina deve abrir mais mercado para o boi brasileiro.

Os pecuaristas brasileiros, que na segunda-feira (3) fizeram a manifestação "Segunda com carne", satirizando uma campanha mundial, oferecendo churrasco em frente a agências do Bradesco, foram premiados com um decreto do presidente Alberto Fernández, da Argentina, que praticamente está proibindo a exportação de carne. Talvez os pecuaristas argentinos não tenham a mesma militância que a nossa.

Foto: Michel Willian/Arquivo/Gazeta do Povo 
 
É proibido exportar o boi inteiro, ou pela metade, o quarto dianteiro, o quarto traseiro com osso, a costela com ou sem osso, a fraldinha, o matambre, uma outra parte da costela, coxa, paleta... eu acho que só estão permitindo exportar o filé.

Com isso sai ganhando a pecuária brasileira, que preserva o meio ambiente. Só a área de preservação do agronegócio, por conta própria, é maior que vários países europeus juntos. E tem mais, só para lembrar, carne vermelha, que fazem campanha contra, contém zinco, e em épocas de Covid, é muito importante, porque protege a célula contra a entrada de vírus.

 
Bolsonaro melhora aos poucos

O presidente Jair Bolsonaro está se recuperando após a internação no hospital a que foi submetido. A sonda nasogástrica foi retirada, mas ele ainda terá que seguir uma dieta que não provoque fermentação e gases no intestino, porque depois da facada, o intestino dele está sujeito a aderências que interrompem a passagem. Ele vai ter que se comportar mais com a boca daqui por diante.

Nesta terça-feira (4), Bolsonaro trabalhou do hospital e sancionou uma lei, que teve origem no Congresso, que obriga escolas, hospitais, repartições públicas, o Judiciário e os locais de trabalho a manter o sigilo sobre pessoas que têm tuberculose, hepatite, HIV e hanseníase. Eu acho muito justo. Agora não há esse respeito com os não-vacinados.

Cerca de 570 mil funcionários públicos estaduais de São Paulo não vão poder entrar em seu trabalho. Agora mesmo, o presidente do Superior Tribunal de Justiça não concedeu uma liminar num habeas corpus pedido por um funcionário que quer trabalhar. O servidor alegou o direito constitucional de livre locomoção e de acesso ao trabalho. E, no entanto, o ministro do STJ disse não.

Qual é a culpa dos cruzeiros
Tem outra injustiça aí
. O Procon disse que as empresas de cruzeiro, desses três navios que tiveram surtos de Covid-19, é que têm que arcar com os direitos do consumidor pelo ônus pelo qual passaram os passageiros. Interessante isso, porque eu acho que as empresas de cruzeiro e os passageiros cumpriram todos os requisitos estabelecidos pela Anvisa. De passaporte, de teste, cumpriram tudo, então a culpa não é deles. A responsabilidade não é nem dos cruzeiros nem dos passageiros, temos que procurar quem deveria pagar.

Audiência pública
Aliás, a propósito, nesta terça houve uma audiência pública sobre a vacinação em crianças.
É uma questão muito séria que os pais precisam pensar, porque a Anvisa autoriza a vacina, mas não se responsabiliza. O Ministério da Saúde coloca a vacina à disposição, vai pôr agora, a partir do dia 10 ou 15.

Os laboratórios, produtores da vacina, têm contrato com o governo brasileiro em que não assumem a responsabilidade jurídica. Então a responsabilidade é puramente dos pais e é uma senhora responsabilidade.

Um problema que também atinge os Estados Unidos, que está tendo um surto de Covid como nunca. Muito maior agora, com o presidente Joe Biden, do que aconteceu com o presidente Trump, inclusive com consequências políticas. Essa é uma discussão que está lá também. Aliás, um juiz proibiu a Marinha americana de punir quem não quisesse tomar a vacina. Se bem que na Marinha americana, segundo dados oficiais, mais de 98% já se vacinaram.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 


COMUNISMO, ESSE INSEPULTO - Percival Puggina

Diferentemente do que acontece com os socialismos e com o comunismo, as liberdades econômicas não tiveram um fundador, não tiveram um Marx com sinal trocado para concebê-las. Ninguém apareceu na humanidade para excitar, na mente da plebe, legítimos anseios de realização pessoal por meios próprios. Ninguém preconizou: "Monta tua empresa, cria teu negócio, põe tua criatividade em ação, persegue teus ideais!". No Rio Grande do Sul, 188 mil pessoas assim pensaram e decidiram nos primeiros nove meses do ano passado. Tais bens da civilização foram conquistas dos indivíduos, no mundo dos fatos, na ordem da natureza, e têm sido o eficiente motor do progresso econômico e social.

Autores esquerdistas querem fazer crer que a miséria de tantos no mundo de hoje é produto ou subproduto inevitável da economia de empresa. Deve-se supor, então, que os miseráveis da África e da Ásia viviam na abundância, na mesa farta e na prodigalidade dos frutos da natureza, até que o famigerado capitalismo aparecesse para desgraçar suas vidas. O fato de que nas regiões do mundo onde se perenizam as situações descritas não exista uma economia livre, não haja empresas, nem empregos, parece passar ao largo de tais certezas ideológicas. Vale o mesmo para a inoperância, nessas regiões, do braço do Estado, que o comunismo apresenta como sempre benevolente e eficiente.

São realidades esféricas, identificáveis sob qualquer ponto de observação
1) a fome era endêmica na Europa até meados do século passado e foi a economia de mercado que criou, ali, a prosperidade; 
2) sempre que os meios de produção viraram propriedade do Estado a fome grassou mesmo entre os que plantavam; 
3) enquanto as experiências coletivistas conseguiram, como obra máxima, nivelar a todos na miséria, a China, com o capitalismo mais rude de que se tem notícia, em poucas décadas, resgatou da pobreza extrema mais de meio bilhão de seres humanos
4) não é diferente a situação no Leste da Ásia, inclusive no Vietnã reunificado e comunista, no Camboja do Khmer-Vermelho, no Laos e na Tailândia;  
5) quem viaja pelo Leste Europeu sabe quanto as coisas melhoraram por lá desde que as economias daqueles países, infelicitados pelo dogmatismo comunista, se libertaram do tacão soviético.
A história mostra, enfim, que o comunismo é imbatível quando se trata de gerar escassez, miséria e aviltamento da dignidade humana. A nossa Ibero-América, onde as prescrições políticas e econômicas do Foro de São Paulo ditam regras para muitos países, parece nada aprender das constatações acima. 
Consequentemente, as coisas andam mal e é preciso botar a culpa em qualquer um que não nos vendedores de ilusões, nas utopias que se requebram como odaliscas, nos delírios do neocomunismo, nos corruptos e nos corruptores.

Decreta-se, então, para todos os males, a responsabilidade da economia de empresa, do capitalismo e, sim, claro, dos Estados Unidos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+

 

2022: VIVA CUBA LIBRE! - Jorge Hernández Fonseca

Não há outro futuro possível para Cuba do que ser livre novamente. A farsa "revolucionária" terminou em 11 de julho, com os cubanos na ilha clamando pela liberdade, em maiúsculas. O que as "viúvas" de Fidel Castro oferecem como futuro é continuar sua "pequena guerra" particular contra os Estados Unidos da América - a única "conquista" tangível da tardia e pestilenta "revolução cubana" - uma conquista que a nenhum cubano interessa, fora da liderança ditatorial.

Uma "revolução" que ofereceu "mundos e fundos" e que depois de 63 anos de enganos e mentiras, milhares de tiros e centenas de milhares de presos políticos, o que nos apresenta é a fome, a desesperança e o desenraizamento do melhor da juventude cubana: uma vergonha !

O único e grotesco argumento "teórico" da gangue que comanda tal "revolução" para permanecer no poder com sangue e fogo, é "para evitar o retorno do capitalismo explorador" e para isso, eles inventaram uma "sinecura" nacional para pague aos cubanos em pesos e venda o que eles precisam em dólares. Algo que nem mesmo o pior explorador do capitalismo ousou fazer.

Não há motivos políticos, econômicos e muito menos morais para continuar com o desenfreado mecanismo "revolucionário" de sacrificar cubanos dentro de Cuba, apenas para que os filhos de Raúl Castro ocupem as casas dos exilados, para que possam gozar férias no exterior - como filhos de reis - para que possam dirigir Mercedes enquanto os cubanos não têm ônibus. Não há razão e é por isso que eles têm que ir embora!

A sobrevivência do regime ditatorial cubano não depende mais apenas das ideologias comunistas ou capitalistas. Outras forças internacionais aproveitam a opressão que a "revolução" tem contra os cubanos e ameaçam exportar seu sistema para outros países latino-americanos - um negócio lucrativo e em expansão, como evidenciado pelas vitórias da esquerda no Peru, Honduras, Chile e com risco de espalhar-se para a Colômbia e o Brasil - o que significa uma sobrevida à exploração comunista contra os cubanos da ilha.

A disposição demonstrada do povo da ilha para enfrentar as injustiças "revolucionárias", a divisão interna da ditadura e a pressão externa do exílio militante enfraquecerá o absurdo explorador dos comunistas de Castro para, mais cedo ou mais tarde, termos aquela Cuba Libre que todos os cubanos merecem e isso o castrismo agora limita.

 Jorge Hernández Fonseca - Acesse e saiba mais


Papa lamenta que animais domésticos substituam os filhos

"A negação da paternidade e da maternidade nos diminui, tira nossa humanidade, a civilização envelhece", disse ele

O papa Francisco elogiou a paternidade e a adoção, em seu discurso na audiência geral de quarta-feira (5), no Vaticano, e lamentou que os animais de estimação às vezes tomem o lugar dos filhos. "Hoje vemos uma forma de egoísmo. Vemos que alguns não querem ter filhos. Às vezes têm um (...) mas têm cães e gatos que ocupam esse lugar", afirmou o sumo pontífice em sua primeira audiência geral do ano, na sala Paulo VI.

Francisco também pediu às instituições que facilitem os processos de adoção, de modo que se tornem realidade o sonho das crianças que precisam de uma família e o dos casais que desejam acolhê-las. "A negação da paternidade e da maternidade nos diminui, tira nossa humanidade, a civilização envelhece", disse ele.

O papa voltou a criticar o chamado "inverno demográfico" e a "dramática queda na taxa de natalidade" registrada em muitos países ocidentais, convidando as pessoas a terem filhos, ou a adotá-los. "Ter um filho é sempre um risco, seja natural, ou adotado. Mas mais arriscado é não ter. Mais arriscado é negar a paternidade, negar a maternidade, seja ela real, ou espiritual", insistiu Francisco.

Como de costume, ao final da audiência, o papa assistiu a vários números preparados por um circo com palhaços, malabaristas, dançarinos e músicos, em um ambiente de festa.

Correio Braziliense 

 


Membro do PCC é espancado até a morte dentro da cela em presídio de Goiás

Jefferson Estâncio Messias estava preso no Presídio Estadual de Águas Lindas de Goiás (GO), unidade onde ficam detidos faccionados 

 Apontado como membro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o detento Jefferson Estâncio Messias foi espancado até a morte pelos próprios colegas de cela, no Presídio Estadual de Águas Lindas de Goiás (GO). O crime aconteceu na virada de ano-novo, madrugada de 31 de dezembro, enquanto policiais penais da unidade jantavam na cozinha, distante cerca de 100 metros dos blocos.
  
Jefferson era considerado um criminoso de alta periculosidade conhecido por dar ordens na unidade prisional. Ele tinha passagens por tráfico de drogas. Em fevereiro, o detento foi transferido da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia, para o presídio de Águas Lindas, após uma rebelião em que os internos chegaram a fazer uma transmissão ao vivo pela internet. A POG também já foi palco de outras outras rebeliões. Em uma delas, em 2018, presos tiveram as cabeças arrancadas.

O Presídio Estadual de Águas Lindas comporta apenas presos faccionados, como membros do PCC — oriunda de São Paulo — e Amigos do Estado (ADE), facção goiana. Jefferson era lotado no Bloco 2 e, na madrugada de 31 de dezembro, os policiais que faziam a vistoria nos blocos resolveram promover uma pequena confraternização e foram até a cozinha. Segundo fontes policias, foi nesse momento que presos aproveitaram da situação e começaram a espancar Jefferson.

Alguns detentos de outras celas chegaram a gritar pelas grades por socorro, mas os policiais teriam chegado somente depois, quando Jefferson estava sem vida. A reportagem questionou a Diretoria Geral de Administração Penitenciária (Dgap), mas não obteve retorno até o fechamento dessa reportagem.

Correio Braziliense


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O crepúsculo da União Soviética - Dagomir Marquezi

Em dezembro de 1991, a mais poderosa ditadura do mundo começou a se desmanchar de vez. E caiu sem praticamente nenhum tiro 

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) surgiu em outubro de 1917, a partir da implantação pioneira de uma ideologia — o comunismo. Fundada por Vladimir Ilich Lenin no fim da Primeira Guerra Mundial, cresceu até somar uma centena de nacionalidades vivendo em 15 repúblicas. Ocupava as terras do Leste Europeu até o Oceano Pacífico e do Círculo Polar Ártico até os desertos do sul da Ásia, cobrindo 22,4 milhões de quilômetros quadrados — o equivalente a 2,6 vezes o tamanho do Brasil.
                  Mapa político da URSS -  Foto: Shutterstock

A União Soviética ocupava um sexto da superfície terrestre. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o poder da URSS cresceu ainda mais. Sete países da Europa Oriental foram transformados em seus satélites no bloco comunista — Albânia, Hungria, Bulgária, Checoslováquia, Alemanha Oriental, Polônia e Romênia (a Albânia se descolou do grupo em 1968).

Uma máquina poderosa de propaganda internacional transformou esse bloco soviético no “paraíso do proletariado”. Lá, todos teriam os mesmos direitos, garantidos pelo sistema socialista. Os êxitos da URSS eram divulgados com orgulho por seus seguidores mundo afora — as conquistas esportivas, a bomba nuclear mais devastadora de todos os tempos, o primeiro satélite artificial, o primeiro astronauta em órbita, etc. Tudo indicava que o domínio do resto do mundo pelo comunismo soviético era apenas questão de tempo.

E, no entanto, o paraíso não era tão perfeito quanto os militantes da causa declaravam. O primeiro-ministro Nikita Khrushchev (entre 1958 e 1964) foi quem denunciou os crimes cometidos por seu antecessor, Josef Stalin, que deixou um rastro de 20 milhões de mortes.

O paraíso dos trabalhadores era na verdade um inferno de incompetência e repressão. Quem reclamasse era mandado para os campos de concentração da Sibéria, chamados gulags. A KGB, polícia de Estado comandada pelo Partido Comunista, dominava cada detalhe da vida. Os desfiles militares e as medalhas olímpicas escondiam a realidade de um império paralisado pela própria inépcia. Pior: não havia esperança. A população vivia num estado de penúria e medo permanentes. E os figurões do PC tinham direito a uma vida de luxo e poderes absolutos.a

Glasnost & perestroika
Khrushchev foi substituído por outros burocratas carrancudos. Mas nada funcionava, a não ser para os altos funcionários do PCUS. Nos anos 1980, a URSS estava paralisada. O modelo centralizador comunista não conseguia tirar o império do ponto morto. Para piorar as coisas, seu grande rival, os EUA, vivia um momento econômico especialmente exuberante. Desde 1981, era presidido por um republicano convicto, o ex-ator Ronald Reagan.
                          Ronald Reagan -  Foto: Divulgação

Reagan percebeu que a URSS estava desabando. E resolveu acelerar o processo. Apostou numa série de avanços no campo do armamento nuclear e num improvável projeto de mísseis no espaço que ficou conhecido como Star Wars. A União Soviética não tinha fôlego para responder a mais esse desafio estratégico.

A catástrofe da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, havia mostrado quanto o regime estava apodrecido em todos os detalhes. O próprio Partido Comunista parecia ter reconhecido isso e permitiu que, em 1990, o reformista Mikhail Gorbachev virasse o líder máximo do império. Gorbachev, que sempre foi um comunista convicto, implantou no esclerosado aparelho de Estado duas palavras russas que logo se tornariam conhecidas no resto do mundo: glasnost e perestroika.

Glasnost quer dizer “abertura” e representava uma tentativa de dar um fôlego de liberdade de expressão e informação ao regime. Perestroika (“reestruturação”) ofereceu aos cidadãos alguma liberdade política, além de traços de livre mercado. Eram mudanças ousadas, mas limitadas. Mesmo assim foram boicotadas pelos burocratas do Partido Comunista, que temiam perder seus privilégios estatais.

Mikhail Gorbachev -  Foto: Reprodução/Facebook

A coragem de Gorbachev possibilitou que, em 1989, os países-satélites da Europa Oriental derrubassem suas ditaduras comunistas, uma após a outra. Sem sua visão de estadista, o Muro de Berlim não seria derrubado em 9 de novembro de 1989. Em 1990, Gorbachev não só aceitou que as Alemanhas Oriental e Ocidental se reunissem num só país como não se opôs a que a Alemanha reunida fizesse parte da organização militar antissoviética, a Otan. Propôs a extinção das armas nucleares até 2000 e anunciou profundos cortes na máquina militar soviética. Seus atos foram tão ousados que Gorbachev recebeu o Prêmio Nobel da Paz.


Dezembro de 1991
As repúblicas que formavam a URSS também começaram a se revoltar. A ordem rígida implantada por Lenin se diluía. E, quanto mais a realidade ficava exposta, mais os comunistas temiam perder o poder. Bateu o desespero.

Durante três dias de agosto de 1991, Gorbachev e sua família foram aprisionados por golpistas da linha dura do PC em sua “dacha” (casa de veraneio) na Crimeia. O império soviético havia se transformado numa república das bananas. O golpe, patético em sua execução, saiu pela culatra. Uma sensação surda de “basta” se espalhou pela maior nação do mundo. O comunismo estava sendo derrotado em seu berço.

A essa altura, o presidente da Rússia já era Boris Yeltsin (Gorbachev teoricamente tinha mais poder, pois era o presidente de toda a União Soviética). Yeltsin, rompido com o PC, era um político conhecido por: 1) não acreditar em nenhuma tentativa de ressuscitar o Partido Comunista; 2) ser corajoso o suficiente para criticar os privilégios da elite do partido; e 3) beber além da conta, mesmo para os padrões russos. Criou uma cena histórica ao enfrentar tanques nas ruas de Moscou e libertar Gorbachev.

Ao enfrentar os golpistas, Yeltsin ficou mais forte. Passou, na prática, a dividir o poder com Gorbachev, que se aferrou em sua concepção de que a URSS poderia viver para sempre, com alguns ajustes. A derrubada de um sistema político encastelado no poder do maior país do mundo havia sete décadas já seria difícil e perigosa. Mas havia um fator complicador: 27 mil armas nucleares prontas para lançamento. E ninguém sabia exatamente quem estava controlando o arsenal.

Esse xadrez se resolveu no mês em que o mundo virou de cabeça para baixo. Em dezembro de 1991, a mais poderosa ditadura do mundo começou a se desmanchar de vez. E caiu sem praticamente nenhum tiro. O mundo viveu durante um mês a sensação de que tudo era possível — o desastre e o sonho. Entre o caos e a possibilidade de uma convivência pacífica, livre, construtiva entre as maiores potências do mundo na época. Assim foi o mês mágico de dezembro de 1991, no distante mundo de 30 anos atrás:

(...)

4 dezembro 1991
Mikhail Gorbachev alerta: com a partida da Ucrânia, “a pátria (URSS) está ameaçada e o maior perigo é a crise de Estado”. O que ele diz já não importa muito.

6 dezembro 1991
O Pentágono declara que as 27 mil ogivas nucleares soviéticas aparentemente estão em mãos do governo central (chefiado por Mikhail Gorbachev). Mas a situação não está tão clara na recém-independente Ucrânia, que armazena 4 mil ogivas da URSS em seu território. O governo americano teme que, com o aparente caos político, armas soviéticas possam cair em mãos de “terroristas, ladrões ou países em guerra”.

9 dezembro 1991
Os governos da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia declaram o fim oficial da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. E o nascimento de uma nova “Comunidade de Estados Independentes”, mantendo ação coordenada em assuntos de defesa, relações internacionais e economia. “A URSS, como sujeito do direito internacional e da realidade geopolítica, está deixando de existir”, declaram os três governos nacionais. Mikhail Gorbachev afirma em entrevista a uma TV francesa que as consequências do desmantelamento da União Soviética vão fazer a sangrenta guerra civil na Iugoslávia parecer uma “piada”. “Neste fim de semana”, notou Celestine Bohlen, comentarista do New York Times, “três das repúblicas da União Soviética provaram que, ao contrário das repúblicas da Iugoslávia, estão dispostas e podem se encontrar e negociar sobre o futuro comum”.

(...)

18 dezembro 1991
Yeltsin declara ao jornal italiano Repubblica que espera a renúncia de Gorbachev do cargo de presidente da URSS. O Parlamento Soviético, já sem poder, se “reúne” com um único orador presente, um comunista linha-dura chamado Viktor Alksnis. E existe uma única pessoa ouvindo seu discurso: ele mesmo. Os comunistas passaram o dia bravos com o fato de Gorbachev ter arrumado tempo para tirar fotos com a banda de rock alemã Scorpions, e não para ressuscitar o comunismo.

19 dezembro 1991
Boris Yeltsin faz todos os gestos para evitar uma dualidade de poder na nova Rússia. Toma o controle do Ministério das Relações Exteriores, do Parlamento e até do escritório presidencial, ocupado por Mikhail Gorbachev. Com um decreto, institui a MSB, nova sigla que substitui a velha e temida KGB. E levanta a possibilidade impensável até então: que a Federação Russa aderisse à Otan. Justamente a organização militar criada para combater a União Soviética. Outros países, especialmente a Hungria e a Checoslováquia, querem seguir o mesmo caminho.

Bandeira da Federação Russa | Foto: Vyacheslav 
Evstifeev/Shutterstock

25 dezembro 1991
No Kremlin, às 19h32, a bandeira vermelha com a foice e o martelo da URSS é recolhida pela última vez. Mikhail Gorbachev renuncia a seu posto de presidente da URSS. Entrega os códigos de disparo dos mísseis nucleares a Boris Yeltsin. Gorbachev deixa o governo aos 60 anos, com direito a uma aposentadoria de 48 mil rublos por ano. Ironicamente, por causa do fracasso econômico de seu próprio governo, esse dinheiro equivale a meros US$ 40 mensais. Recebe também um apartamento em Moscou, uma dacha de férias, dois carros, 20 guarda-costas e acesso gratuito à rede de saúde.

A bandeira da União Soviética (URSS) com a estátua de Lenin ao fundo | Foto: Alek Seenko/Shutterstock

26 dezembro 1991
No Kremlin, é hasteada pela primeira vez a bandeira branca, azul e vermelha da nova Federação Russa. Gorbachev sugere que vai descansar um tempo e ressurgir para a vida pública por meio de uma ONG, a Green Cross, fundada dois anos depois.

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Dagomir Marquezi, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

MPF em 2021: contra o tratamento precoce e a favor do teleaborto - Vida e Cidadania

Leonardo Desideri

Ideologização do MPF

Em 2021, o viés ideológico de procuradores ficou escancarado em diversos atos do Ministério Público Federal (MPF), envolvendo, por exemplo, decisões contrárias ao tratamento precoce, favoráveis à prática do teleaborto e simpáticas ao indigenismo militante.

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No meio do ano, uma cartilha publicada por um hospital em Uberlândia (MG) ensinando mulheres a fazer aborto em casa, por telemedicina, tendo a pandemia como pretexto, foi apoiada pelo MPF. O órgão emitiu até uma nota técnica contra recomendações científicas e de autoridades da saúde e a favor do teleaborto.

O MPF foi ainda um dos algozes do Conselho Federal de Medicina (CFM) na polêmica sobre o tratamento precoce contra a Covid-19. O erro do conselho, para os procuradores envolvidos na perseguição, foi não se posicionar contra esse tipo de tratamento, cuja eficácia ainda está sendo estudada pela ciência.

Foi também o MPF o responsável por denunciar o jornalista Allan dos Santos, do Terça Livre, que teve sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em outubro, numa decisão questionável do ponto de vista da liberdade de expressão.

Na denúncia, o MPF disse que as críticas de Allan dos Santos a ministros do Supremo não estariam protegidas pelo direito de liberdade de expressão por desobedecerem a "proibições expressas dispostas no direito internacional dos direitos humanos".
 

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Em dois casos relacionados à etnia Munduruku, do Pará, o MPF usou o direito dos indígenas de preservarem suas tradições como pretexto para impedir o exercício pleno de suas liberdades. Em abril de 2021, o MPF "entrou em conflito" com um grupo de indígenas e alegou a intenção de protegê-los de empresários do ramo da mineração. Procuradores enviaram um pedido a órgãos do governo para que não recebessem uma comitiva de indígenas da etnia Munduruku, do Pará, que viajaram a Brasília para se manifestar a favor da mineração em suas próprias terras.

O MPF alegou que eles não representavam a totalidade dos Munduruku, e que seriam financiados por empresários que teriam cooptado os índios com o objetivo de promover a mineração com maquinário pesado dentro das reservas indígenas. Caso os órgãos descumprissem a recomendação, o MPF ameaçou “adotar as medidas judiciais cabíveis”. O MPF disse à Gazeta do Povo que não revelaria os nomes dos empresários acusados de financiar a comitiva dos Munduruku por conta do sigilo das investigações.

Mais recentemente, em novembro, o MPF arquivou uma investigação sobre o assassinato de um jovem de 16 anos também da etnia Munduruku, ocorrido em 2015. Na época, a mãe da vítima foi à delegacia de Itaituba (PA) para denunciar dois homens indígenas que teriam sido os responsáveis pelo homicídio, praticado com arma de fogo. Ela explicou que o filho foi morto no contexto da ”pajelança brava", uma tradição Murunduku de matar quem faz bruxaria.

Em novembro, o MPF pediu arquivamento do caso com a alegação de que a motivação do assassinato foi um ritual tradicional. Segundo o MPF, é “imperiosa a necessidade de resguardar a manifestação cultural da etnia”. O órgão embasou sua decisão em um parecer técnico de um analista de antropologia do Ministério Público da União (MPU).

A polêmica do teleaborto: MPF publica nota técnica favorável a cartilha abortista
Ao longo do segundo semestre de 2021, o Ministério Público Federal (MPF) agiu contra a legislação brasileira, as evidências científicas e as recomendações do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para facilitar no Brasil a prática do aborto em casa assistido por médicos por meios virtuais.

No começo do ano, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (MG) publicou, com o apoio do Instituto Anis – um dos maiores promotores do aborto no Brasil –, uma cartilha ensinando mulheres a realizarem em casa o aborto, com o pretexto de que, com a pandemia, é necessário buscar alternativas para a interrupção da gravidez em casos de estupro, anencefalia do bebê e risco de morte para a mulher.

Em maio, a Procuradoria da República em Minas Gerais e a Defensoria Nacional dos Direitos Humanos (DNDH) haviam pedido providências contra a cartilha. Em junho, o Ministério da Saúde emitiu uma nota informativa indicando que o aborto não faz parte dos procedimentos para os quais a prática da telemedicina, em caráter de exceção, estaria liberada durante a pandemia.

Em julho, mesmo diante das recomendações das autoridades e do laboratório que produz o medicamento, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) – órgão do Ministério Público Federal (MPF) – emitiu uma nota técnica contrária ao pedido da Procuradoria de Minas e da DNDH, e a recomendação contra a cartilha foi anulada. Ao mesmo tempo, um procurador do MPF entrou com uma ação civil pública para pedir o fim da Declaração de Óbito de fetos abortados, o que é visto pelos grupos pró-vida como um meio de facilitar o aborto em qualquer circunstância, sem deixar vestígios. Para especialistas consultados pela Gazeta do Povo, o aval dado pelo MPF ao teleaborto passa por cima não só das recomendações do Ministério da Saúde, da Anvisa e da bula do medicamento, mas também do Código Civil, da Lei 13.989/2020 – que trata da telemedicina durante a pandemia – e de evidências científicas em campos como a obstetrícia e a psicologia.


Tratamento precoce também é alvo do MPF

O Conselho Federal de Medicina e o seu presidente, Mauro Ribeiro, defenderam a autonomia dos médicos na decisão sobre usar ou não certos medicamentos para o tratamento precoce contra a Covid-19. Com isso, tornaram-se alvo de muitos influenciadores e de alguns órgãos do poder público, entre eles o MPF.

Em outubro, o MPF abriu um inquérito para apurar a conduta do CFM em relação ao tratamento precoce, alegando que o conselho “não se posicionou contra” este tipo de tratamento. Até hoje, o CFM não se manifestou favorável nem contrário ao uso de medicamentos para tratar pacientes com coronavírus nos primeiros dias de sintomas. Desde o ano passado, o órgão prefere dar autonomia a médicos para esse tipo de decisão.

Leonardo Desideri - Gazeta do Povo - VOZES


A AUTOPROCLAMADA CORAGEM DO STF - Percival Puggina

Ao longo do último ano esta Suprema Corte e o Poder Judiciário como um todo também enfrentaram ameaças retóricas, que foram combatidas com a união e a coesão dos ministros; e ameaças reais, enfrentadas com posições firmes e decisões corajosas desta Corte. (Ministro Luiz Fux no encerramento do ano

Pus-me a pensar sobre o que faz a virtude cardeal da Coragem nesse discurso. Não existe coragem, onde não existe o medo. Entre outras características, o ato corajoso representa, necessariamente, uma vitória sobre o medo.  Segundo Aristóteles, o ato de coragem envolve a aplicação da razão, a busca do bem e a disposição de superar o perigo presente na ação.

Tão nobre virtude, faz lembrar, isto sim, a professora Heley Abreu Batista, que em 5 de outubro de 2017 morreu queimada ao salvar as crianças de uma creche em chamas no município mineiro de Janaúba. Coragem teve o sargento Sílvio Delmar Hollenbach, que em agosto de 1977 pulou para a morte ao salvar um menino que caíra no poço das ariranhas. Coragem demonstraram os jovens que correram para a própria tragédia ao entrarem na boate Kiss em chamas para resgatar amigos que lá estavam caídos, pisoteados pelos que conseguiam escapar. Coragem tiveram todos os europeus que esconderam ou deram fuga a judeus na Europa tomada pelos nazistas. Coragem teve o padre Kolbe (São Maximiliano Kolbe), que se ofereceu para morrer por um chefe de família no campo de concentração de Auschwitz. E por aí segue um livro de muitas e nobres páginas.

Não vejo onde inscrever nelas os acontecimentos de 2021 no âmbito do STF. Não vejo coragem – e menos ainda motivos para coragem autoatribuída – por parte e arte de quem libertou corruptos e os devolveu à política nacional, efetuou insólitas prisões políticas, fechou meios de comunicação, inspirou medo, impôs censura, reivindicou para si mesmo uma fé religiosa e inibiu liberdades.

Que espécie de medo terá sido superado por quem assim procedeu? Em que dobras desse tempo se ocultaram a razão e o bem?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Próxima presidente do STF, Rosa Weber muda perfil e passa a proferir decisões mais contundentes - O Globo

Mariana Muniz

Magistrada vai comandar a Corte no auge da campanha eleitoral

Próxima presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Rosa Weber encerra 2021 como uma das autoras de decisões que mais impuseram reveses ao governo Jair Bolsonaro (PL) na Corte. Diferentemente de outros magistrados, que já travaram embates públicos com o titular do Palácio do Planalto, Rosa se limitou a mandar seus recados por meio dos despachos que proferiu. Discreta, avessa a declarações à imprensa e às articulações políticas, a ministra acaba de completar dez anos no Supremo, praticamente sem conceder entrevistas.[ministra uma opinião sugestiva: presida a Suprema Corte seguindo o exemplo do marechal Costa e Silva = SIGA O LIVRINHO = a CONSTITUIÇÃO FEDERAL.]

Ano eleitoral:  Governadores abrem o caixa para reajustes salariais a servidores

Rosa assumirá o tribunal mais importante do país em setembro de 2022, no auge da campanha presidencial. Internamente, a avaliação é que ela terá como principal desafio a tarefa de manter uma relação institucionalmente equilibrada com o Palácio do Planalto, sem que o tribunal esmoreça na condução dos processos que tenham como alvo integrantes e aliados do governo. Desde que assumiu, o presidente Jair Bolsonaro manteve uma agenda praticamente constante de ataques ao Judiciário, sobretudo ao Supremo.

De acordo com a percepção de quem acompanha de perto o trabalho da ministra, ela endureceu a caneta ao longo de sua trajetória no tribunal e, principalmente no último ano, passou a dar votos e decisões mais contundentes do que costumava fazer nos primeiros anos da Corte. Desde então, com frequência, ela é tratada nos bastidores como uma juíza insegura, pouco versátil e ainda muito vinculada à Justiça Trabalhista, sua área de origem.

Interlocutores do STF atribuem parte da mudança no perfil de Rosa à chegada em seu gabinete de parte da equipe que trabalhava com o ministro aposentado Celso de Mello. Durante anos, Mello foi o decano do Supremo e, em todo esse período, era conhecido no meio jurídico por votos elaborar longos e consistentes.

Eleições:PEC beneficia ao menos 22 partidos que burlaram cota feminina

Ao GLOBO, Celso de Mello elogiou a colega, a quem classificou como “notável magistrada, respeitada pela comunidade jurídica e por seus jurisdicionados, com longa experiência no desempenho —sempre seguro e brilhante — de suas funções”. A ministra, que hoje é vice-presidente do STF, presidiu o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quando comandou as eleições nas quais Bolsonaro saiu eleito. — Tenho plena convicção de que a ministra Rosa Weber será uma grande presidente do STF, consideradas as suas inúmeras e peregrinas virtudes que sempre revelou no desempenho da judicatura —, afirmou Mello, antes de listá-las: — Isenção, firmeza, discrição, independência, sólida formação jurídica, intelectual e humanística, fina sensibilidade e apurada aptidão administrativa, senso de colegialidade e inquestionável integridade pessoal, moral e profissional.

Freios a Bolsonaro
Do gabinete de Rosa Weber saíram algumas das principais decisões que incomodaram o Planalto nos últimos tempos. Uma das mais importante delas foi a que a interrompeu o pagamento das emendas de relator, que compõem o chamado “orçamento secreto”. Tratava-se de um instrumento pelo qual o Executivo distribuía recursos da União por orientação de parlamentares aliados, sem que eles fossem identificados publicamente. [leia aqui para saber mais sobre a lei que cuidava do orçamento secreto, a ministra anulou, a Câmara ignorou a anulação e a lei foi desanulada.] Rosa também suspendeu os decretos que flexibilizam o porte e a posse de armas no país. Em outro despacho, ela determinou a abertura do inquérito que investiga as suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana contra a Covid-19 da Covaxin. Nesse caso, Bolsonaro é alvo por suposta prática de prevaricação.

Ela também impôs reveses ao governo durante a CPI da pandemia. Rosa negou que governadores pudessem ser convocados para prestar depoimento, contrariando o pleito de Bolsonaro e seus aliados no Congresso. Em junho, quando vetou o pedido do empresário bolsonarista Carlos Wizard para faltar à audiência da CPI, Rosa chamou de “fato gravíssimo” a existência de um “gabinete paralelo”, estrutura informal montada para aconselhar Bolsonaro, e da qual Wizard seria um dos integrantes.

Aos 73 anos, a ministra deve ser a próxima integrante da Corte a pendurar a toga. Pela regras vigentes, a aposentadoria compulsória dos membros do STF ocorre aos 75 anos.

Política - O Globo

 

domingo, 2 de janeiro de 2022

Larry Bird, Magic Johnson e 2022 - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Best of Enemies não só mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times espetaculares, mas mostra como a atual sociedade emburreceu

Mais um ano chega ao fim. Como de costume, durante a última semana do ano, meus filhos e marido perguntavam sem parar o que eu gostaria de ganhar de presente de Natal. Pensei, pensei e, finalmente, na sexta-feira dia 24 encontrei o presente perfeito. Depois de ligar para a minha família no Brasil na noite de Natal e desejar uma noite abençoada, desliguei o telefone. Não, não apenas me despedi e desliguei a chamada, desliguei o telefone. Deslizei o dedo pelo botão que aparecia para mim na tela: “TURN OFF”. Puf. Tela escura e desligada. E assim ela permaneceu — em OFF — até o domingo dia 26 à noite. Dois dias inteiros sem WhatsApp, sem redes sociais, sem notícias… Foi o melhor presente que eu poderia ter me dado nos últimos anos.

       Dividida entre Larry Bird e Magic Johnson - Foto: Reprodução/NBA 

Apostas sobre em quanto tempo eu ligaria o telefone foram feitas em casa e, diante da minha tranquilidade em não querer por um segundo ligar o telefone, no sábado à tarde, marido, enteada e filho resolveram fazer o mesmo. E a mágica aconteceu! Durante dois dias inteiros, o tempo pareceu passar mais devagar. Tortas de maçã, biscoitos e bolos foram feitos. Velas e mais velas cheirosas foram acesas, vinhos e bebidas foram degustados — e não apenas ingeridos —, jogos de tabuleiros foram jogados e muitas risadas foram dadas. 
E filmes, muitos filmes foram vistos, desde os clássicos It’s a Wonderful Life e Cantando na Chuva, até clássicos recentes como Gran Torino e Interestelar. E esse foi o melhor presente que os meus filhos e meu marido poderiam ter me dado nos últimos anos.

Dentre as muitas boas horas de filmes e séries a que assistimos juntos, um programa chamou a atenção de todos nós, e acabou alimentando um debate pertinente, saudável e importante em casa. A importância de dar importância ao que é realmente importante. Pode parecer uma frase redundante, mas um documentário sobre a clássica rivalidade entre Boston Celtics e Los Angeles Lakers, times da NBA, acabou trazendo uma boa reflexão a todos. Antes de mais nada, para os amantes do esporte, como eu, “Celtics/Lakers: Best of Enemies” mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times nos anos 1960 e 1980 não apenas espetaculares, mas históricos.

Os rivais Larry Bird e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

A saga do “Fla x Flu” do basquete profissional norte-americano mostra como Magic Johnson, Larry Bird, Kareem Abdul-Jabbar, Cedric Maxwell, James Worthy, Kevin McHale e muitas outras lendas mudaram o jogo para sempre. No entanto, as quase cinco horas de pura imersão no universo do esporte profissional não contam apenas a história de uma rivalidade esportiva como outras pelo mundo. Para quem gosta de análises estratégicas detalhadas de jogos clássicos, Best of Enemies  preenche esse requisito com muitas imagens estonteantes e muitas entrevistas internas cheias de detalhes. Mas a série vai além disso.

Em muitos momentos, o documentário também desnuda várias nuances da psicologia humana e de como a atual sociedade, tão polarizada política e intelectualmente, emburreceu e retrocedeu no campo da civilidade e do amadurecimento emocional. Não sei se os mais jovens sentirão certa nostalgia doída de quem viveu nos anos 1980 e 1990, quando o esporte dividia as tribos pelas cores dos uniformes de seus times, e não pela cor da pele ou pelas posições políticas, mas há muito o que ser explorado ouvindo homens de fibra.

Obviamente, a questão racial não é excluída da série. Especificamente, Best of Enemies aborda o assunto, tanto no preconceito intelectualizado de alguns repórteres esportivos — que elogiavam as virtudes do “basquete fundamental” (dos brancos) versus o “estilo playground” (dos negros) —, quanto nas tensas relações raciais dentro de Los Angeles e Boston. O diretor, Jim Podhoretz, também não esconde os problemas do mundo real que obscureciam o jogo, como drogas, mas foca em sua maior atração: o Boston Celtics liderado por Larry Bird e o Los Angeles Lakers liderado por Magic Johnson. Entre 1980 e 1989, o Lakers chegou às finais do Oeste oito vezes e conquistou cinco campeonatos, enquanto o Celtics representou o Leste cinco vezes, vencendo três finais. As duas equipes se enfrentaram apenas três vezes — em 1984, 1985 e 1987 —, mas cada série cativou a nação de maneira marcante até hoje, gerando personalidades e histórias que ajudaram a estabelecer a NBA como um verdadeiro passatempo nacional, pouco antes da chegada de Michael Jordan ao Chicago Bulls, época em que o jogo e a liga foram catapultados para outro nível.

O documentário, além de apresentar um elenco fabuloso de personagens que mudariam a NBA e abririam a mente coletiva da América, revive a década de 1980 com Larry Bird, Magic Johnson e todo o drama dessa época de ouro da NBA. O Celtics de Bird e o Lakers de Magic se enfrentaram por quatro anos até o encontro épico da final em 1984. Sem maiores spoilers, a última parte da série mostra as páginas logo depois das emocionantes finais da NBA de 1984 e, em seguida, explora a saga de 1985 a 1987 e como a rivalidade acabou solidificando, gradualmente, o respeito entre seus personagens. Ao final da última batalha, em 1987, enquanto ainda havia muita animosidade, eles também desenvolveram uma reverência mútua e profunda.

Há momentos preciosos na série, de lições valiosíssimas de humildade, decepção, tristeza, superação. Há frases que, normalmente ditas por palestrantes ou os chamadoscoaches, caem numa certa pieguice das platitudes de autoajuda. Mas quando são ditas — e acompanhadas de imagens espetaculares — por Magic Johnson, por exemplo, a reflexão é inevitável: “Autoavaliação é difícil, mas você tem de ser honesto consigo mesmo. Tive de entender que não era tão bom quanto pensava que fosse”.

O esporte, assim como o mundo, mudou muito com a tecnologia, com o acesso em tempo real a informações que podem mudar o rumo de uma partida ou o destino de um atleta. Programas de computação aplicados a treinamentos e jogos podem fazer toda a diferença. O talento individual e a incansável dedicação não são mais as únicas vias para o sucesso no âmbito do esporte profissional. Muito pode ser ensinado e desenvolvido em tempo recorde nos dias de hoje. No entanto, há talentos incrivelmente pertinentes a esse mesmo âmbito que não podem ser ensinados. Eles normalmente são pontos genéticos ou traços que foram desenvolvidos por meio de experiências importantes ao longo da vida. Estou falando do que esses líderes e rivais tinham em comum: acessibilidade, carisma, determinação com os pés no chão. Mesmo que pudesse haver o debate racial entre negros e brancos, a NBA dos anos 1980 mostrou que isso era secundário, que a espinha dorsal de união e paixão pelo esporte seguia seu caminho com propósito, como lembra Cedric Maxwell, ex-jogador do Celtics no documentário: “Depois de seu terceiro campeonato e terceiro MVP, o respeito por Larry Bird não podia ser negado. Quando vi a foto de Larry em uma barbearia de negros, disse — ele realmente cruzou a linha! Você via Jesus, Malcom-X, mas não uma foto de Larry Bird em uma barbearia de negros!”.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados, foi o esporte que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas

Em 2021, vimos, mais uma vez, as plataformas sociais — mesmo com todo o apreço que podemos ter pela democratização de opiniões através delas — terem um papel vital na segregação vil e ignorante da atual sociedade. Vimos esses espaços supostamente democráticos usando o esporte, um campo em que diferenças são abandonadas, em especial durante os Jogos Olímpicos, sofrer incansáveis tentativas de sequestros e desvirtuações. Qualquer desavença política ou diferença religiosa sempre foram tratadas como coadjuvantes no campo esportivo. Não importa se na NBA ou nas Olimpíadas, o roteiro fiel ao esporte sempre foi de histórias de superação e respeito, recheadas de enredos dramáticos com derrotas e vitórias espetaculares. A celebração na excelência atlética.

Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

Mas o que mudou? Infelizmente, já há alguns anos, algo vem atingindo o espírito esportivo. E isso vem sendo demonstrado da maneira mais estúpida possível, por uma sociedade repleta de analfabetos olímpicos e personalidades hedonistas. Depois de alguns anos e uma pandemia global que trouxeram não apenas a banalização da história e suas palavras, até quando vamos seguir com a politização de tudo? O esporte já dava sinais de que não ia escapar à “idiotização” política, com frases do Black Lives Matter sendo repetidas por atletas importantes, ou a visão distorcida e triste de jogadores em campeonatos como a NBA se ajoelhando — literalmente.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados norte-americanos, foi o esporte — mais uma vez — que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas. E a NBA foi parte fundamental nisso. Em uma sociedade em que movimentos como o Black Lives Matter usam o terrorismo e a violência contra negros e brancos para propagar suas ideias e demandas, em que políticos plantam a segregação racial ou em que ligas esportivas e atletas são sequestrados por grupos ideológicos, é gratificante assistir a um documentário como Celtics/Lakers: Best of Enemies. Ver a magnitude de uma obra que aborda a divisão racial de maneira madura, mas que também traz o melhor de todos nós, independentemente da cor da nossa pele ou de como votamos, não deixa de ser um sopro de esperança para 2022. Divisões sempre existirão, mas a vontade de fazer o correto pode sempre ser exaltada.

Em um ano em que o politicamente correto avançou de maneira violenta, linchando médicos, jornalistas e atletas que ousaram pensar fora das linhas da turba;  
em que o politicamente correto sufocou atletas femininas para proteger a injustiça de apoiar homens biológicos competindo com mulheres
em que o politicamente correto tentou nos obrigar a aplaudir a fraqueza de atletas egoístas que abandonaram suas equipes na última hora porque não conseguiram se manter sob os holofotes e não souberam olhar de frente para as adversidades, despeço-me de 2021 neste último artigo do ano com uma das frases finais de Magic Johnson no documentário: “Eu odiava o Celtics. Mas amei jogar, porque pude jogar contra Larry Bird e o Celtics. Nunca teria sido o jogador mais valioso (MVP), nunca teria sido o jogador que fui se não fosse por Larry Bird e o Celtics. Eles me fizeram alcançar a grandeza, a excelência. Nos anos finais dessa rivalidade entre Celtics e Lakers havia tantos afro-americanos que ovacionavam Larry Bird. Eles sabiam quão grande ele era. Não era sobre cor, sobre raça, era puro respeito por um cara corajoso”.

Que a boa e saudável divisão em 2022 volte, aquela em que a única raiva que tínhamos um do outro era por perder para rivais históricos no esporte. Enquanto isso não chega, que tal, como presente de ano novo, dois dias sem telefone? Recarregar sem estar plugado pode ser uma maneira antiga — porém eficiente — de dar valor ao que realmente importa. Obrigada pela companhia em 2021 e desejo um próspero 2022, com menos redes sociais e mais clássicos na TV. Happy New Year!

Leia também “A guilhotina do bem”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste