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sábado, 9 de janeiro de 2021

Vacina para ontem – Folha de S. Paulo

Opinião

Após 200 mil mortos, Anvisa tem teste de fogo com licença para a Coronavac

O pedido de licença emergencial para a vacina Coronavac representa um teste de fogo para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Qualquer delonga manchará gravemente a reputação técnica da Anvisa enquanto durar a administração de Jair Bolsonaro —cuja irresponsabilidade contribuiu para que o país alcançasse na quinta-feira (7) a marca tenebrosa de 200 mil mortos pela Covid-19. Por mais que a cautela mande tomar com um grão de sal a divulgação de resultados científicos em entrevista coletiva, sem o crivo de especialistas não envolvidos, não há como deixar de regozijar-se com uma vacina capaz de impedir o desenvolvimento preocupante da doença em 78% dos inoculados.

[a cada dia que passa, mais inteligentes ficamos; 
agora estamos até adivinhando: - já tínhamos a certeza de que a vacina chinesa for barrada pela Anvisa - por razões técnicas - atribuirão a 'pretextos burocráticos', que buscam atender interesses políticos do presidente Bolsonaro, a motivação do atraso - esquecerão que a vacina chinesa tem se destacado por adiamentos, não apresentação de resultados, etc.
Destacamos dois pontos: 
- a competência técnica e isenção da Anvisa precisam ser respeitadas, acatadas e cumpridas  - ainda que implique na negativa de registro/autorização  para a Coronovac, a Astra Zenêca ou qualquer outro imunizante;
- considerando que o Pretório Excelso é formado por onze possuidores de notório saber jurídico, não tem sentido que interfira em um processo que precisa de notório saber científico medicinal, que nenhum dos ONZE possui.]

O Instituto Butantan e o governo paulista merecem cumprimentos por tornar o produto disponível [??? mesmo estando sob exame da Anvisa? Sem ser aprovada/autorizada o medicamento não existe.] em apenas oito meses de trabalho. Seu próximo passo deve ser a publicação de dados detalhados para escrutínio de cientistas.

Não se desconhece que o governador João Doria (PSDB) recorre à façanha do Butantan para projetar-se na cena nacional. Seria estranho se não o fizesse, embora se exijam cuidados no trato de questão tão crucial para a saúde pública. Sua administração apoiou de modo decidido o teste clínico com 12.476 profissionais de saúde em oito estados que atestou a eficácia do imunizante da Sinovac, do qual já se encontram em São Paulo 10,9 milhões de doses.

Deplorável tem sido a conduta de seu adversário político, o presidente Jair Bolsonaro, que só há poucos dias se curvou ao imperativo da vacinação. Seu errático ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, correu à TV para tentar desfazer a imagem de incompetência que angariou em quase oito meses de omissão diante do negacionismo sanitário do chefe.

A dupla inepta agora se atabalhoa na busca desesperada para importar da Índia 2 milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford, para a qual a Anvisa recebeu pedido de autorização nesta sexta (8). Na falta do produto, Pazuello finalmente anunciou contrato para sua pasta adquirir 100 milhões de doses da Coronavac —aquela que o presidente jurou jamais comprar.

Importa verificar se, nos próximos dias, a Anvisa cederá aos interesses políticos do presidente, atrasando a vacina do Butantan sob pretextos burocráticos. Nem ela nem o Ministério da Saúde cometerão a indecência, espera-se, de impedir o governo paulista de exercer o direito — já confirmado pelo Supremo Tribunal Federal— de deslanchar seu próprio programa de imunização.

Opinião - Folha de S.Paulo

 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

A logística da Fiocruz - Míriam Leitão

O Globo

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, trabalha de olho no calendário e nos números de produção. Sabe que a saúde e a economia dependem da capacidade de fornecimento de vacinas. Até sexta-feira o instituto deve entrar com o pedido emergencial de uso da vacina da Oxford-AstraZeneca. Até o dia 17, devem chegar as duas milhões de doses importadas da Índia. Em fevereiro, a Fiocruz entrega ao governo 10 milhões de doses e, em março, outras 15 milhões. Ao todo, o instituto vai produzir 100 milhões de doses. O país começará, com a vacinação, a entrar em outra fase. “O momento atual é de muita dor, muita desinformação”, lamenta.

Nísia conta que o espaçamento de doze semanas entre as duas aplicações foi, no caso da vacina da AstraZeneca, conclusão de pesquisa clínica. Com a primeira dose, a imunidade já é de 70%. - Uma coisa a nosso favor é esse intervalo de 12 semanas, porque, se essa estratégia for adotada pelo Plano Nacional de Imunização, permitirá que mais pessoas sejam imunizadas — diz Nísia Trindade.

Ela participou na segunda-feira de reunião com a Anvisa, para saber de todos os documentos que faltam para o pedido de autorização emergencial. São documentos que devem vir da Índia, onde são fabricadas as vacinas compradas prontas. Ela não tem dúvidas de que o Instituto Serum vai respeitar o contrato feito e mandar as doses: — Nós nem somos compradores de vacinas, somos produtores, mas neste momento de dor do país achamos bom fechar esse contrato. Ele deve servir para imunizar o pessoal da saúde, que está na frente de combate ao vírus.

A Fiocruz receberá as doses prontas da Índia. Depois passará a produzir com o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), importado da China. O IFA é o núcleo da vacina. A AstraZeneca produz globalmente, mas o lote que fornecerá ao Brasil está sendo produzido na China. No segundo semestre a Fiocruz, graças à transferência de tecnologia, passará a produzir tudo aqui de forma independente:A partir de agosto teremos autonomia de produção. A tecnologia da Oxford AstraZeneca é muito adequada para nós, porque será a primeira vacina do mundo a usar a tecnologia do vetor viral, do adenovírus. A tecnologia tradicional usa o vírus atenuado ou inativado. Essa usa o adenovírus que carrega parte da proteína do coronavírus. O organismo reconhece e produz anticorpos e células imunes. É um duplo mecanismo. A Oxford estava trabalhando nessa plataforma para o ebola e outros coronavírus. A tecnologia vai ser útil para outras vacinas.

A Fiocruz, já em abril do ano passado, saiu prospectando fornecedores. O que Nísia explica é que a produção é global, mas muito concentrada, por isso é fundamental que o Brasil invista em ciência e tecnologia. — É importante entender o fator econômico da vacina. E o geopolítico. Temos que nos preparar para o enfrentamento agora e no futuro investindo no desenvolvimento científico nacional. Está havendo desabastecimento até nos países desenvolvidos. No Brasil, os laboratórios que têm condições de suprir nossas necessidades são a Fiocruz e o Butantan.

Há grupos no Brasil pesquisando vacina para Covid. Não estão na fase de testes clínicos. A coordenação da Fiocruz em Minas Gerais está trabalhando com a UFMG. Há dois outros grupos de pesquisa na Bio-Manguinhos, um deles estudando a tecnologia do RNA mensageiro da Bio-Manguinhos, Existe outro núcleo na USP. — Alguém pode achar que isso não faz sentido porque já existem vacinas. Mas é fundamental acompanhar os aperfeiçoamentos — disse Nísia.

Se no mundo da política existe divisão entre as vacinas, na ciência, existe cooperação. A Fiocruz está participando dos testes clínicos da fase 3 da vacina da Janssen e também da Coronavac, do Butantan, no núcleo de pesquisas de Niterói.

A presidente da Fiocruz disse que a produção num primeiro momento poderá imunizar os grupos mais vulneráveis que são 80 milhões de brasileiros. Explica que crianças, adolescentes e grávidas não poderão, por enquanto, ser imunizados com essa vacina da Fiocruz porque não foram feitos testes nesses grupos. Ela acha que o melhor é que a vacinação tenha coordenação federal e que os brasileiros tenham acesso à vacina pelo SUS.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo - Com Alvaro Gribel, de São Paulo

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Vacina e democracia - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

É melhor Bolsonaro arranjar vacina do que depois tentar ‘arranjar’ voto, como Trump

O último ato (espera-se) de Donald Trump na presidência da maior potência do planeta mostra um homem desesperado, desarticulado e fora da realidade, falando frases desconexas e ameaçadoras que configuram um atentado criminoso e imoral às instituições. Trata-se, claro, da pressão de Trump para que o secretário de Estado da Geórgia “arranjasse” uns votos para reverter a derrota dele para Joe Biden.

[curioso é que vale tudo quando os ataques  tem como alvo o presidente Trump ou Bolsonaro; 

Vale manifestação de EX-ministros da Defesa, ex-deputados, ex-presidentes, intelectual sem renda e tudo o mais. Todos esquecem que o democrata que pretende presidir os Estados Unidos - talvez consiga -  fará um governo pior do que o do Jimmy Carter = plantador de amendoins.]

É inacreditável, tão inacreditável quanto um tipo dessa natureza ter sido eleito nos Estados Unidos, ter presidido o país por quatro anos e conseguido 74 milhões de votos ao tentar a reeleição em 2020. Apesar da derrota e de Trump ter sido o primeiro presidente não reeleito desde 1992, é uma quantidade de votos incrível para um presidente tão absurdo. Ou melhor, uma pessoa tão absurda.

É um alíviomanifesto de dez ex-secretários de Defesa, em governos democratas e republicanos, defendendo o resultado eleitoral e desautorizando membros das Forças Armadas a reforçar a cruzada de Trump contra a vitória de Joe Biden: “Oficiais civis e militares que realizarem tais medidas (interferência eleitoral) podem ser punidos, incluindo de forma criminal, pelas graves consequências de suas ações em nossa república”, afirma o texto, após Trump encher o Pentágono de aliados no apagar das luzes. [o que autoriza Ex-secretários de Defesa a se manifestarem contra um presidente democraticamente eleito e em pleno exercício?
A intervenção além de descabida, é irrelevante.]

A reação a esses atos de Trump, barulhenta, serve de alerta inclusive no Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro bombardeia as pesquisas que não sejam a seu favor, acusa as eleições (até a dele) de fraudulentas e faz campanha a favor da cédula de papel e contra a urna eletrônica, assim como faz a favor da cloroquina e contra as vacinas. Contra o futuro.

Bolsonaristas ameaçavam melar a eleição de 2018 se ele não vencesse, ele próprio, já vitorioso, falou em fraude e generais reforçaram a descrença em pesquisas, eleições, urnas eletrônicas, mas ex-ministros da Defesa do Brasil também já lançaram manifesto: “Qualquer apelo e estímulo às instituições armadas para a quebra da legalidade democrática – oriundos de grupos desorientados – (...) constituem afronta inaceitável ao papel constitucional de Marinha, Exército e Aeronáutica, sob a coordenação da Defesa.”

Também já se uniram ex-ministros de Relações Exteriores, Meio Ambiente, Educação e Cultura, rechaçando o desmanche de suas áreas. Falta a manifestação em massa de ex-ministros e autoridades da saúde por seriedade, planejamento e negociação de vacinas de diferentes procedências, seringas, agulhas e frascos. E pelo cuidado de testes jogados por aí.

Trump e Bolsonaro são negacionistas, desdenharam da “gripezinha”, combateram o isolamento social, fizeram propaganda da cloroquina e pegaram a covid-19. Analistas da cena americana atribuem a derrota de Trump muito aos erros na pandemia. Bolsonaro continua jogando, nadando, sorrindo, provocando, mas as vacinas, ou a falta delas, podem custar caro. Até agora, há 10.800 milhões de doses da Coronavac, que nem sequer pediu registro na Anvisa. Há também acertos do Ministério da Saúde com a vacina Oxford/Astrazeneca, que está no mesmo pé. E, de repente, há uma corrida por míseros dois milhões de doses dessa vacina, mas produzidas na Índia. A impressão é que, para o Planalto, basta uma dose, uma só, para ser aplicada, fotografada e filmada antes da “vacina do Doria”.[quando a vacina do Doria chega? ou pelo menos quando o registro será solicitado (pedido devidamente fundamentado)?]

No centro do furacão está um general da ativa, pronto para virar bode expiatório, mas a lambança na pandemia, particularmente na vacina, pode custar caro em 2022, como custou a Trump em 2020. E não adianta jogar a culpa em “fraude” e em urna eletrônica, nem tentar “arranjar” na marra uns votos a mais. Os militares podem até ser coniventes com Bolsonaro e Eduardo Pazuello, mas a democracia não funciona só nos EUA. [qual democracia? a mais citada, cujos princípios só são válidos quando contrários ao presidente Bolsonaro? ou uma democracia isenta, verdadeiramente democrática?]   Aqui também.

 Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo

 

O ano que não começou - Nas entrelinhas

No calendário do Executivo, o terceiro ano de mandato é o das entregas. Pelo andar da carruagem, até aqui, Bolsonaro levou o governo no gogó

2021 é uma espécie de ano que ainda não começou, perdoem-me o trocadilho com o título do livro de Zuenir Ventura, 1968: o ano que não terminou. Talvez, o sinal mais emblemático de que ainda estamos vivendo no ano passado sejam os passeios do presidente Jair Bolsonaro em Guarujá (SP), nos quais voltou a provocar aglomerações e circular sem máscaras com assessores e seguranças da Presidência. Mais déjà-vu, impossível. 2020 foi um ano perdido, com 196 mil mortos pela covid-19, e parece que não quer acabar.

Para a maioria da população, o ano somente vai começar quando a vacina chegar. O negacionismo do presidente Jair Bolsonaro e suas declarações sobre a real necessidade de as pessoas se vacinarem são uma cortina de fumaça para a incompetência do seu governo no enfrentamento da crise sanitária. O aumento exponencial do número de casos no mês de dezembro é um recado claro de que é impossível restabelecer plenamente as atividades econômicas sem a imunização em massa da população. [indispensável ter presente: 
Até o presente momento não há nenhuma vacina disponível - até a indiana, algo do tipo: a genérica da genérica da similar, ainda não está disponível nem a Índia interessada em vender. 
A vacina, ou melhor, as vacinas contra a covid-19  são indispensáveis - aqui no Blog, por sermos antigos, tivemos o beneficio de receber todas as vacinas = sarampo, coqueluche, varíola, poliomielite, febre amarela, tétano, difteria  e outras = o que nos livrou de doenças terríveis.
Mas, nossa experiência como beneficiários dos efeitos benéficos das vacinas, nos deixa em dúvida, quanto ao tempo de proteção propiciado, o nível de eficácia, efeitos colaterais adversos, etc. 
Mas, máscara e vacinas contam com nosso apoio e usaremos da nossa condição de antiguidade para a prioridade.
Fazemos restrições à chinesa.]

 A chegada do vírus mutante da Inglaterra é uma preocupação a mais, pela velocidade de sua propagação. O tempo, porém, não corre igual para todo mundo. Por exemplo, para alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) — Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello —, que resolveram voltar a trabalhar em janeiro, em pleno recesso, o ano começou mais cedo. No Congresso, o ano só começará com a eleição das Mesas da Câmara e do Senado.

Entregas

No calendário do Executivo, o terceiro ano de mandato é o das entregas. Pelo andar da carruagem, até aqui, Bolsonaro levou o governo no gogó. Além da vacina, não entregou a reforma tributária, as privatizações, a reforma administrativa, a retomada do crescimento etc. [infelizmente o presidente da República não pode efetuar reformas sem o apoio do Poder Legislativo e do Judiciário. O legislativo fazendo sua função principal e que [e de sua competência exclusiva: legislando;
O Poder Judiciário não interferindo nas funções dos demais Poderes e se abstendo de conceder liminares que impedem muitas privatizações. 
Sem tal colaboração o Poder Executivo não consegue reformar.]

 anteve sua popularidade em plena pandemia muito mais em razão do auxílio emergencial do que das suas realizações, à custa da expansão exponencial do deficit fiscal. Como tem a pretensão de se reeleger, agora começará uma corrida contra o relógio, porque o tempo que lhe resta de mandato cada vez será o recurso mais escasso no governo.

No calendário das entregas, a vacina é a principal demanda da população. Seu ano de entregas somente vai começar quando as pessoas forem imunizadas. Mesmo assim, uma parcela enorme da população continuará desempregada, porque a economia somente deve entrar em recuperação no segundo semestre. Sem auxílio emergencial, a vida não será fácil para quase 68 milhões de brasileiros que receberam o benefício no ano passado. Muitos terão que se reinventar, porque as atividades econômicas estão passando por muitas transformações.

Com a pandemia, o trabalho remoto e a concentração de capital avançaram bastante. A maioria das empresas que sobreviveram mudou suas operações, em maior ou menor grau, impactando outras atividades. Por exemplo, o mercado imobiliário e as companhias de aviação sofreram impactos irreversíveis a curto prazo. A concentração de capital também é visível a olho nu, basta entrar num shopping center e ver as lojas que fecharam e as que estão sendo abertas. As empresas de logística também se beneficiaram tremendamente do comércio eletrônico.

Como em todo ano-novo, porém, somos passageiros da esperança. Toda crise é sinônimo de oportunidades. Elas aparecem e é preciso agarrá-las com as duas mãos. Ciência e tecnologia, ao longo da história, sempre abriram novos horizontes para a humanidade. Não será diferente agora. Que 2021 venha logo para todos.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense 


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Oxford: Anvisa aponta documentos que faltam para autorização emergencial

Agência realizou reunião com a Fiocruz nesta segunda, 4; Reino Unido já iniciou vacinação com o fármaco

 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma reunião com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) nesta segunda-feira, 4, sobre o pedido de uso emergencial da vacina da Universidade de Oxford e do laboratório AstraZeneca no país. A agência reguladora esclareceu que o pedido ainda não foi oficialmente protocolado, porém, disse ter recebido “dados já de posse da Fiocruz, bem como foram listados os dados que ainda são aguardados pela fundação”.

No mesmo documento, a Anvisa deu detalhes de quais dados espera para que dê início ao processo de autorização do uso emergencial do medicamento do país. Em resumo, o mais importante aqui são os estudos de comparabilidade entre a vacina do estudo clínico, fabricada no Reino Unido, com a vacina fabricada na Índia país de onde foram autorizada a importação de 2 milhões de doses. “É necessário entender se o produto do fabricante indiano é semelhante ao fabricado no Reino Unido e que teve os dados clínicos aprovados”, disse a agência em nota.

A Anvisa afirmou que não irá reavaliar dados já referendados por organizações internacionais — como, por exemplo, rever dados de eficácia e segurança. No Reino Unido, por exemplo, a vacinação foi iniciada nesta segunda-feira, 4. A ideia é focar no que é específico ao Brasil. A agência ressaltou dois pontos cruciais: 1. A vacina é a mesma da disponibilizada no exterior? 
O local, o método e os materiais utilizados são os mesmos? 
Se houver mudanças, essas mudanças impactam no desempenho da vacina? 
Caso haja diferenças, estudos de comparabilidade devem ser conduzidos, ou seja, estudos que mostrem que a vacina estudada é equivalente à vacina que será aplicada. 
2. Qual o plano de monitoramento dessa vacina aqui no Brasil? Como será garantido o acompanhamento dos vacinados em caso de eventos adversos?

A agência reguladora afirmou que a Fiocruz mostrou que “está empenhada para que essas informações sejam reunidas e apresentadas à Anvisa com a maior brevidade”.

Saúde - Revista VEJA

 

 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Minha oxigenação chegou a 92%. E agora? - VEJA - Utilidade Pública

Laryssa Borges

Desde que recebi a vacina experimental em novembro, um oxímetro passou a ser meu companheiro de todas as horas nesta pandemia

6 de dezembro, 8h41: Do lado da minha mesa tem um oxímetro. Ganhei dos pesquisadores do estudo clínico que tenta desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus. Como quase tudo que existe dentro das nossas casas, ele foi produzido na China, mais especificamente em Shenzhen, a cerca de 1.000 quilômetros de Wuhan, o epicentro da doença que alterou em definitivo nosso jeito de encarar o mundo em 2020. Coincidências da vida.

Há 19 dias, desde que tomei a vacina experimental do braço farmacêutico da Johnson & Johnson, meço o nível de oxigenação do sangue. No início, por ordens médicas, três vezes por dia. Agora, uma vez ou sempre que embarro no oxímetro dentro de casa. Tudo ia muito bem até o dia 20 de novembro, quando minha oxigenação no sangue bateu a casa dos 92%. E agora? Esse percentual poderia indicar insuficiência respiratória, poderia indicar que eu estava com uma queda alarmante da saturação de oxigênio no sangue, poderia indicar simplesmente que eu tinha colocado o aparelho de modo errado. Tudo ocorreu às 15h13 (sim, registro num diário minúcias como o exato momento em que aconteceu algo que possa estar relacionado à vacina). Paro, respiro e meço de novo: 99%. Acima de 95% de saturação de oxigênio o quadro é considerado normal.

A busca combinada das palavras oxímetro e Covid teve um “aumento repentino” nos últimos 12 meses, diz o Google Trends, a ferramenta de pesquisa que indica quais palavras-chave andamos pesquisando nas redes. Índia, Paquistão e Bangladesh são os países que mais têm recorrido a buscas com essas expressões. A ideia de procurar saber mais sobre oxímetros é justificada porque a Covid-19 reduz o nível de oxigênio no sangue e muitas pessoas, apesar de não se queixarem de falta de ar, podem ter uma diminuição silenciosa dos níveis de oxigenação no sangue. Daí a importância do aparelho, que não funciona como diagnóstico, mas exibe um parâmetro mínimo para se saber se está tudo bem. Tirei fotos do meu oxímetro, companheiro inseparável na pandemia, e enviei para amigos.

Vendo em retrospectiva aqueles segundos em que travei após o registro de 92% de oxigenação e pesquisando fatores que podem atrapalhar uma leitura acurada dos níveis de oxigênio no sangue, descobri que esmaltes, principalmente os escuros, ou unhas artificiais, e mãos frias no momento da medição podem levar a resultados falsos. Naquele dia, minhas unhas estavam pintadas de vermelho. Temos um culpado.

9h10: Pego o oxímetro para ter certeza de que as coisas vão bem. Primeira medição: 95%, segunda: 97%, terceira: 99%.

 

Laryssa Borges, jornalista - Diário da Vacina - VEJA

 

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Presidente Bolsonaro: "Quem for frouxo na hora da tribulação é sinal de que não tem força"

Bolsonaro voltou a divulgar, nesta quarta-feira(18/11), elogios recebidos de Putin durante a cúpula virtual do Brics sobre suas "qualidades masculinas": "coragem e força de vontade"

 Deslumbrado com um novo começo de amizade após a derrota [ainda não confirmada] de Donald Trump nas eleições americanas, o presidente Jair Bolsonaro comentou, na manhã desta quarta-feira (18/11), os elogios feitos pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. A apoiadores que o aguardavam na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro questionou se haviam assistido à fala de Putin ocorrida ontem (17) durante o término da Cúpula do Brics, encontro de chefes de Estado de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, realizado por videoconferência.
 

“Alguém tomou conhecimento do discurso do presidente da Rússia ontem? Alguém lembra do provérbio que traduz o que ele falou ontem? Quem for frouxo na hora da tribulação é sinal de que não tem força”, disparou, minutos antes de seguir para Flores de Goiás, em Goiás, onde participará da cerimônia de Entrega de Títulos de Propriedade Rural. A previsão é de que ele retorne ainda no meio da tarde para Brasília.

Mais cedo, o mandatário voltou a publicar um trecho da declaração de Putin que presidiu o encontro, acompanhado do provérbio bíblico que havia citado anteriormente. Putin enalteceu as “qualidades masculinas” do chefe do Executivo brasileiro, como “coragem e força de vontade”, em referência ao enfrentamento da pandemia e sobre Bolsonaro ter sido infectado pela covid-19.

 “Provérbios 24, 10: Se te mostrares frouxo no dia da angústia, sua força será pequena.
 
PUTIN: Muito obrigado, Sr. Presidente (Jair Bolsonaro), não foi fácil para nenhum de nós trabalhar durante este ano, e o senhor pessoalmente enfrentou essa infecção e passou por essa provação com muita coragem.
Quero lhe desejar tudo de melhor e, é claro, muita saúde. Sei que esse momento não deve ter sido fácil, mas o senhor enfrentou tudo como um homem de verdade e demonstrou possuir as melhores qualidades masculinas, tais como a coragem e a grande força de vontade, enfrentando todos os desafios com grande respeito e consideração pela vontade de seu povo e pelos interesses do seu país”.

Em outro trecho, o presidente russo afirma que Bolsonaro é um exemplo mundial. “Isso tudo faz do senhor um exemplo para todos nós, pois mostra como podemos ser corajosos no cumprimento dos nossos deveres profissionais, nos nossos deveres como chefes de Estado”, finalizou. Ontem, o presidente já havia postado nas redes sociais o vídeo do discurso traduzido.


Maricas
No último dia 10, em meio ao crescimento dos casos do novo coronavírus no país, Bolsonaro disse que o Brasil "tem que deixar de ser um país de maricas" e enfrentar a doença. "Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas", concluiu. 
 
Correio Braziliense

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Uma sombra sobre a internet – O Estado de S. Paulo

Opinião

Na pandemia o uso da rede se expandiu, mas as liberdades se deterioram.

A internet, como apoteose de um processo iniciado com o telégrafo e o telefone, materializou a utopia de um mundo sem distâncias onde cada ser humano o “animal que fala”, na definição de Aristóteles – pode, em tese, se comunicar instantaneamente com todos os outros ao toque de um botão. Mas na prática, segundo o monitoramento Freedom on the Net, do instituto Freedom House, a liberdade global na rede se deteriorou pelo 10.º ano consecutivo.

Na pandemia as atividades humanas – comércio, educação, saúde, política, socialização – se expandiram digitalmente. Mas agentes autoritários (governamentais ou não) também aproveitaram a oportunidade para manipular narrativas, censurar críticas e ampliar tecnologias de controle social, despertando os temores mais sombrios de um futuro distópico.

A pandemia serviu amplamente de pretexto para limitar o acesso à informação. “As autoridades frequentemente bloquearam sites independentes de notícias e aprisionaram indivíduos sob acusações espúrias de disseminar fake news”, aponta o estudo. “Em muitos lugares, os próprios agentes do governo e seus zelotas disseminaram informações falsas e enganosas.” Alguns Estados desligaram a conectividade para grupos marginalizados, alargando e aprofundando divisões digitais.

Sob o mesmo pretexto, muitas autoridades também capilarizaram seus aparatos de patrulha. Por meio da Inteligência Artificial, vigilância biométrica e ferramentas de big data, agências de segurança, mas também empresas e mesmo criminosos digitais ampliaram seu acesso a informações sensíveis, como históricos médicos, padrões faciais e vocais e até códigos genéticos.

A crise ainda acelerou a fragmentação da internet, com cada governo impondo suas próprias regulamentações de modo a restringir o fluxo de informações entre as fronteiras. Muitos manobraram mais ou menos incisivamente na direção de sua própria “internet nacional”, outrora uma ambição restrita a autocracias como Irã, Rússia e China.

A China figurou pelo 6.º ano consecutivo como o ambiente digital menos livre do mundo. Com a pandemia e a crise em Hong Kong, o Partido Comunista intensificou sua parafernália de controle, como censura automatizada, vigilância high-tech e detenções em massa. “Os agentes e a mídia governamental, apoiados por robôs e trolls, promoveram a desinformação domesticamente e em campanhas ao redor do mundo.”

A Índia está entre os cinco países que mais retrocederam em 2020. A maior democracia do mundo é líder em desativações da rede. No ano passado, pela primeira vez, o governo derrubou a conexão em grandes cidades, em retaliação aos protestos de minorias muçulmanas contra uma lei discriminatória. As autoridades aumentaram as pressões sobre as mídias sociais pela remoção de conteúdos críticos ao regime nacionalista hindu, e as evidências indicam um aumento da espionagem contra ativistas, jornalistas e advogados de grupos marginalizados.

Os EUA são o sétimo ambiente mais livre, mas regrediram pelo quarto ano consecutivo, seja por respostas desproporcionais a riscos genuínos apresentados por aplicativos nacionais e estrangeiros, seja pela sua evasão, quando não sabotagem, da cooperação internacional. “Como a covid-19 demonstrou, enfrentar os desafios de um mundo interconectado exige uma coordenação efetiva entre a esfera política e a sociedade civil”, alerta a Freedom House. Dada a natureza global da internet, “para questões relacionadas à competição, tributação e fluxo de informações transfonteiriço, a coordenação intergovernamental é plausivelmente mais eficaz do que a regulação ad hoc pelos Estados”.

A internet é um ativo inestimável para a democracia. Mas para que possa servir com todo o seu potencial à liberdade de expressão, ao engajamento comunitário e ao desenvolvimento econômico, Estados, corporações e sociedades civis precisam robustecer sua agenda para prover informação confiável e diversificada, proteger os direitos humanos da vigilância intrusiva e garantir o livre fluxo de informações contra a escalada do nacionalismo digital. 

Opinião - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Vacina chinesa, não! Percival Puggina

Discute-se se o Brasil deve, efetivamente, comprar milhões de doses da vacina chinesa. Sem a menor intenção de magoar a sensibilidade do governador João Doria, que tem revelado particular afeição pelos interesses chineses no Brasil, quero proclamar minha completa aversão a esse negócio. Aplica-se a ele a regra segundo a qual jamais compre mercadoria que venha empacotado por algum partido comunista.

Ao que se sabe, há duas hipóteses para a origem do coronavírus. Ou ele em suposta teoria da conspiração - é produto de algum laboratório chinês, ou ele surgiu daqueles hábitos alimentares em que seres humanos acabam metabolizando insetos e animais silvestres com constante risco de trazer à humanidade doenças para as quais não temos imunidade.

A origem desses péssimos costumes é conhecida. Eles foram adquiridos nos tétricos episódios de fome impostos pelo Partido Comunista da China ao povo chinês. Ainda que seja motivo de pesar, é imperdoável que, sabido o alto risco que eles representam, nada tenha sido feito para extingui-los. Num mundo globalizado, não há limites para a expansão de novas pandemias. Portanto, a responsabilidade do PCC é indiscutível, como indiscutível é sua condição de soberano senhor do povo de seu país. Pode-se discutir a maior ou menor responsabilidade moral do Partido numa e noutra hipótese. Mas não se pode pôr em dúvida a responsabilidade.

As suspeitas se foram tornando mais incisivas quando a revista Exame, em matéria do dia 1 de setembro (1), constatou que dezenas de economias nacionais estavam acusando quedas drásticas do PIB. Entre elas, Índia, Brasil, Estados Unidos, Japão e praticamente toda a Zona do Euro. Enquanto isso acontecia no mundo das vítimas, a China, “por haver controlado rapidamente a epidemia”, logo voltou a crescer. Em abril, o jornal El País (2), sobre cuja posição política não pairam incertezas, publicou matéria listando reações de governos europeus, notadamente França e Reino Unido, cobrando responsabilidades do governo chinês:

“Esperamos que a China nos respeite, como ela deseja ser respeitada”, declarou na segunda-feira o ministro francês de Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian. “Nada pode voltar a ser como antes” enquanto a China não esclarecer de forma cabal tudo o que está relacionado com o vírus, observou na semana passada seu homólogo britânico, Dominic Raab.

A interessante matéria destaca, ainda, uma guerra de narrativas, com a qual, propagandisticamente, a China exibe suas remessas de material médico e de enfermagem ao Ocidente, enquanto silencia o fato de haver o Ocidente feito o mesmo quando o problema se manifestou em Wuhan. A BBC, em 28 de julho, divulgou matéria em que médico chinês afirma haver, em 12 de janeiro, informado as autoridades chinesas sobre a transmissão humana do vírus. O alerta, contudo, só foi levado ao público em 19 de janeiro (3).

Por isso, penso que o PCC, soberano senhor do povo chinês, repito, deveria oferecer sua vacina de graça à humanidade. E a humanidade deveria devolver a mercadoria. Alias, gostaria que o presidente da República enviasse uma dose dela para os jornalistas que o recriminam por sua atitude de resistência. Quantos realmente iriam usá-la?
Enfim, a China deveria indenizar a humanidade pelo estrago que fez, deveria usar seu aparelho tecnológico para extinguir os riscos que provenientes dos maus hábitos alimentares de alguns de seus cidadãos, ou dos ensaios empreendidos por eventuais “doutores Nirvana” de seus laboratórios. Jamais, jamais, ganhar dinheiro vendendo vacina às vítimas do vírus que veio de lá.


Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Como a Carta de 1988, a Constituição do atraso, inviabiliza o desenvolvimento do país

Selma Santa Cruz

As distribuidoras de energia têm o direito de suspender o fornecimento do serviço a clientes inadimplentes durante os fins de semana?
 Os bancos do Estado de Santa Catarina devem ser obrigados a implantar sistemas de segurança
 Determinada obra de infraestrutura contestada pelo Ministério Público poderá ser retomada? 
E a delação premiada do corrupto da vez, será ou não homologada? 
O país já se habituou a depender das deliberações da Justiça para resolver praticamente qualquer assunto. Questões mais comezinhas até as que acarretam desdobramentos políticos ou econômicos relevantes, como mostram os exemplos acima, estiveram na pauta do Supremo Tribunal Federal nas últimas semanas. Embora já não cause espanto, em meio a tantos descalabros do nosso ordenamento jurídico institucional, esta é apenas uma das inúmeras consequências perversas da Constituição de 1988, que completa 32 anos neste mês e está na origem de boa parte das mazelas nacionais.

Por seu feitio exageradamente minucioso e dirigista, cujo propósito é regular na prática tudo na vida dos cidadãos, ela terminou por criar um ambiente de insegurança jurídica permanente, engessar a economia e dificultar a governabilidade. Além de ter corrompido a democracia, já que o modelo político esquizofrênico que adotou impede a efetiva participação da sociedade nas decisões sobre o país — contribuindo, ao contrário, para perpetuar no poder uma casta oligárquica de políticos profissionais.

Trata-se, portanto, de um aniversário que não mereceria sequer ser lembrado, considerando-se a quase unanimidade de críticas aos defeitos de nascença da Carta, e sobretudo o preço que o país tem pago por eles em termos de atraso econômico, político e social. A menos que se aproveite a data para retomar o debate sobre a necessidade de um arcabouço jurídico alternativo, a partir do diagnóstico dos malefícios provocados pelo atual. O qual tem sido questionado por uma respeitável lista de juristas e economistas praticamente desde sua criação. “Com quimeras e tolices, a Nova República e sua douta Constituinte meteram o povo brasileiro num trem-bala para Bangladânia”, lamentou à época, referindo-se à pobreza de Bangladesh e ao isolamento da então socialista Albânia, o falecido economista Mário Henrique Simonsen (1935-1997), um dos mais brilhantes de sua geração.

Uma Carta dirigista num momento em que países em desenvolvimento se abriam aos mercados globais

De 1988 para cá, à medida que o tempo escancara a gravidade dos equívocos da Carta, a advertência de Simonsen sobre “o risco de se optar pelo atraso”, e sua previsão de que ela poderia “levar o país ao colapso”, reverberam com cada vez mais força. Apenas dois anos depois, em 1990, o título de uma coletânea de artigos de notáveis, Constituição de 88: o Avanço do Retrocesso, reforçou o consenso sobre o espírito retrógrado da Carta, que já nascera provecta e na contramão da história. Pois optava pelo dirigismo estatizante e uma plataforma nacional-desenvolvimentista justamente num momento em que o mundo caminhava na direção oposta.

Sob a liderança de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, os Estados Unidos e o Reino Unido encerravam o longo domínio das políticas keynesianas do pós-guerra para destravar suas economias por meio de privatizações e desregulamentação. Na Ásia, países como Coreia do Sul e Singapura despontavam como “tigres” do crescimento, ao abraçar o livre mercado e abrir-se à globalização. E até os gigantes comunistas começavam a curvar-se aos benefícios do capitalismo, com a liberalização promovida por Mikhail Gorbachev na União Soviética e por Deng Xiaoping na China.

Já o Brasil, apenas dois anos antes do desmoronamento dos regimes comunistas e da Queda do Muro de Berlim, preferiu retomar a agenda esquerdista e populista da década de 1960, multiplicando encargos e benefícios trabalhistas de país rico, fechando-se ao capital estrangeiro, e chegando ao cúmulo de tentar controlar a taxa de juros por força de lei — essa última excrescência só seria abolida uma década e meia mais tarde, em 2003. O pensamento dominante entre os constituintes, como recordou mais tarde o então ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, guiava-se por uma série de “ismos” já então comprovadamente ineficientes: “socialismo, marxismo, estatismo, intervencionismo, patrimonialismo, assistencialismo, corporativismo e garantismo”.

Em retrospecto, parece difícil acreditar que essa Constituição tenha sido saudada como “Constituição Cidadã”, termo criado pelo presidente da Assembleia Constituinte, o falecido deputado Ulysses Guimarães (1916-1992), no estilo laudatório típico da demagogia da época. “Será luz, ainda que lamparina, na noite dos desgraçados”, exagerou ele, abusando da hipérbole. “Será redentor o caminho que penetrar nos bolsões sujos, escuros e ignorados da miséria.” Tratava-se, como se viu mais tarde, de puro ato de ilusionismo, já que não foi possível abolir a miséria nem promover o desenvolvimento apenas com uma vara de condão legiferante, como sonharam os constituintes.

Uma generosa coleção de direitos sociais e econômicos, como se o papel fosse capaz de torná-la realidade

Uma combinação heterogênea de perfis, que incluía artistas de televisão, banqueiros, sindicalistas e ex-guerrilheiros além de lobistas e políticos profissionais, como não poderia deixar de ser —, os eleitos para redigir a nova Constituição espelhavam o ambiente político exacerbado da época, após o Movimento das Diretas Já e o fim do regime militar. Trabalharam, nesse sentido, mais olhando para o passado, visando a contrapor-se à legislação de exceção do período, do que focalizando o futuro, o que exigiria uma visão estratégica, um projeto novo de país.

Em  clima de happening, preferiram ignorar a referência de Cartas Magnas consagradas, a exemplo da norte-americana, que se limitam basicamente às garantias dos direitos civis fundamentais e princípios gerais, a ser transformados em leis à luz das demandas de cada época. A pretexto de inovar, inscreveram minuciosamente no texto uma generosa coleção de direitos sociais e econômicos, como se a Constituição fosse capaz, por si mesma, de torná-la realidade. Embalados pela utopia de resgatar a histórica dívida social brasileira, contudo, esqueceram-se de levar em conta que seria preciso também prover os meios para a concretização desses direitos. O que pressupõe um ambiente de negócios propício ao crescimento econômico, muito diferente daquele desenhado pela Carta, com a infinidade de entraves à atividade empresarial que se conhece.

Tentou-se, em suma, de forma idealista e nada pragmática, criar um Estado de bem-estar social incompatível com a capacidade do país, como reconhece, entre outros, o constitucionalista Gustavo Binenbojm. “O Brasil precisa compreender que levar direitos a sério significa levar o problema da escassez de recursos a sério, o que impõe uma série de escolhas trágicas envolvidas na sua alocação, sem ceder às tentações populistas e à ilusão fiscal.” O resultado foi um calhamaço com 245 artigos e mais de 400 páginasa terceira mais longa Constituição do mundo, segundo o Comparative Constitutions Project, um estudo comparativo de 180 Cartas, ficando atrás apenas das da Índia e da Nigéria.

Para piorar as coisas, o igualmente extenso capítulo tributário criou um intrincado sistema de transferência de recursos da União para Estados e municípios, que ganharam competência para também arrecadar tributos. Como a descentralização das receitas não foi acompanhada por uma diminuição proporcional dos gastos federais, no entanto, o Executivo lançou mão da criação e majoração de alíquotas de tributos não partilhados — as famigeradas “contribuições”. Em decorrência, os brasileiros passaram a carregar o peso de duas camadas de Estado superpostas, como apontou o economista Eduardo Giannetti de Fonseca em outro artigo de título sugestivo sobre a Constituição: “Retrato do fracasso”, publicado em 2013.

Levando em conta que a Carta também impulsionou a proliferação desenfreada e oportunista de municípios, podemos considerar que se trata na verdade de três camadas superpostas. Desde 1990, mais de mil municípios foram criados, na maioria sem condições de bancar as próprias despesas, mas que foram responsáveis por aumentar, só com suas câmaras de vereadores, em pelo menos 200 mil o número de servidores públicos cujo salário é pago pelo contribuinte. Não surpreende que a carga tributária, que era da ordem de 24% do PIB antes da “Constituição Cidadã”, tenha explodido para os cerca de 35% de hoje. A Constituição transformou o Estado brasileiro em um monstro obeso, opressivo e inoperante.

A Constituição transformou a política no país em um negócio empresarial lucrativo

A disposição dos constituintes para invencionices estendeu-se também, e com consequências igualmente deletérias, ao modelo político adotado, um sistema híbrido que mistura características do presidencialismo norte-americano com as do parlamentarismo da tradição europeia. Criou-se o malfadado presidencialismo de coalizão, que dificulta a governabilidade e favorece negociações nem sempre republicanas entre o Legislativo e o Executivo, na conhecida prática do “é dando que se recebe”. Cujo exemplo mais escandaloso foi a compra de votos praticada pelo Partido dos Trabalhadores durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com pagamento aos parlamentares, em forma de mesada e dinheiro vivo, na boca do caixa bancário — o infame Mensalão.

Em paralelo, a Constituição de 88 beneficiou políticos e partidos com tantos privilégios que acabou por transformar a política no país em um negócio empresarial lucrativo, que raramente tem qualquer relação com os interesses da população ou o bem comum. Do voto proporcional — artifício pelo qual a maioria dos brasileiros geralmente não sabe sequer o nome de quem elegeu — à proibição de candidaturas independentes, passando pelo foro privilegiado e pela consolidação do Fundo Partidário, criado durante o regime militar, tudo tem se somado, ao longo das últimas três décadas, para impedir a efetiva  participação e representatividade da sociedade na política. Haja vista o absoluto descaso do Congresso com as demandas de mudanças expressas a partir das manifestações de 2013.

Por essa ótica, a Constituição que nasceu para consagrar a democracia, e cujo mérito inquestionável foi a garantia dos direitos civis fundamentais, hoje é vista, paradoxalmente, como falha também nesse aspecto. Em vez de uma democracia substantiva, fundada na isonomia de direitos e deveres entre todos os cidadãos, e que extrapola portanto a mera realização periódica de eleições, deu origem a uma democracia de fachada, como afirma o jurista Modesto Carvalhosa. “No Brasil, o Estado é hegemônico, não restando à cidadania nenhum papel em nossa construção civilizatória. A sociedade civil é dominada por um Estado que se estruturou para preencher todos os espaços.”

O constitucionalista norte-americano Bruce Ackerman, um dos mais respeitados do mundo e antigo estudioso da legislação brasileira, vê nesse descompasso uma das principais causas da crescente frustração da população com a democracia. E se alinha aos que defendem a convocação de uma nova Assembleia Constituinte. “Uma vez eleitos, os representantes deveriam reconsiderar as decisões-chave da Assembleia de 1988 já que elas, ao longo das décadas, geraram a atual crise de confiança pública”, justificou em artigo recente. Essa é também a proposta de Carvalhosa, que em novembro lançará um projeto de Constituição completo para promover o debate no livro Uma Nova Constituição para o Brasil: de um Ps de Privilégios para uma Nação de Oportunidades.

Seria essa mudança radical do ordenamento jurídico realmente a melhor solução? É fato que os próprios constituintes reconheceram as deficiências de sua criação, já que propuseram a revisão do texto num prazo de cinco anos — uma providência bizarra, visto que cartas constitucionais se pretendem por natureza duradouras. A revisão, contudo, acabou sendo superficial, devido à crise em que o país estava mergulhado em 1993, em função do impeachment do ex-presidente Fernando Collor.  Em vez disso, optou-se por corrigir alguns dos erros mais flagrantes, sobretudo no capítulo da economia, como as restrições ao capital estrangeiro, e por remendos pontuais por meio de emendas. Propostas de mudanças estruturais, por outro lado, vêm sendo seguidamente adiadas, ou desvirtuadas, já que a Constituição se autoblindou, tornando o processo da aprovação de emendas longo e dificultoso.

No momento, parece não haver condições políticas para uma Constituinte, embora o assunto volte à tona com frequência, já tendo sido defendido também à esquerda, pelos ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula. Mais recentemente, o presidente do Senado, David Alcolumbre, chegou a aventar essa possibilidade, quase como uma ameaça. Para alguns, como o consultor político Murillo de Aragão, seria mais recomendável aproveitar as crises para avançar nas reformas. Assim como ele, não falta quem alegue que a durabilidade da Constituição de 88, apesar das inúmeras crises que o país atravessou, comprovaria seu valor e resiliência. Para outros, como se viu, a Constituição é ela própria a origem da sucessão de crises.

Seria temerário tentar prever qual caminho prevalecerá. O que parece indiscutível é que o Brasil real no qual vivemos, com sua pesada carga de atribulações, não se parece nem um pouco com aquele idealizado pela Carta de 88. Este talvez seja o argumento definitivo contra ela. “Uma boa Constituição não é suficiente para proporcionar a felicidade de uma nação” resume o constitucionalista francês Guy Carcassonne. “Já a má Constituição pode levar à sua infelicidade.” Parece ser este o nosso caso.

Selma Santa Cruz, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 7 de julho de 2020

Resumo da ópera - Nas entrelinhas

“Enquanto uma parte da população corre do coronavírus e outra vai atrás do pão de cada dia, “como uma nau dos insensatos, o governo Bolsonaro continua sem ministros da Saúde e da Educação

O governo comemorou, ontem, os resultados da arrecadação de maio e junho, que indicam uma reação da economia.
Os analistas do mercado avaliam que o país já teria sido ejetado do fundo do poço. 
Em economia, otimismo faz muita diferença; por isso mesmo, esse é o tipo de avaliação que todo mundo torce para que seja verdadeira, exceto os adeptos do “quanto pior, melhor”, que torcem para tudo dar errado. [os adeptos do 'quanto pior, melhor', são os que também integram a 'turma do mecanismo', são inimigos do presidente Bolsonaro e, por extensão, inimigos do Brasil, da liberdade e da democracia verdadeira - defendem uma adaptada aos seus interesses que não são republicanos.] Segundo dados da Receita Federal, a emissão de notas fiscais no mês de junho chegou a R$ 23,9 bilhões em vendas/dia, o que representa um crescimento de 10% em relação a junho de 2019. Nas redes sociais, o Palácio do Planalto comemorou, lançando uma campanha no estilo “pra frente, Brasil”. [o Brasil é uma terra abençoada por DEUS, que é brasileiro;

vai se erguer, o agronegócio vai sustentar a recuperação econômica, a pandemia começa a arrefecer - não vai funcionar a tese que começam a ventilar, da transmissão aérea (a aérea, resultante de um espirro ou acesso de tosse de alguém contaminado, sempre existiu e pode ser contida pela máscara.

Mas, a aérea trazida pelo vento de centenas de metros do do local do espirro, não existe - se existisse o mundo já teria acabado com milhões e milhões de mortes.

Começa a ser divulgada por ser interessante a prolongação da pandemia por mais alguns meses ou mesmo anos.
Brasil, acima de todos! DEUS, acima de tudo!]

O aumento de arrecadação em maio (9,1%) e junho (15,6%) coincide com um aumento da produção industrial de 7% em maio, depois de um tombo acumulado de 26,3% em março e abril, o que já foi suficiente para os analistas reverem as projeções para a recessão deste ano, reduzindo-as para 6,4%, quando se dizia que seria de 9% a 12%. O boletim Focus do Banco Central, que avalia os humores do mercado financeiro, estimou a recessão em 6,5%. De qualquer maneira, uma recessão dessa ordem não é para fritar bolinho. A rápida adaptação dos setores de comércio e serviços ao home office e às vendas pela internet, a dinâmica do agronegócio e a manutenção de certo nível das atividades industriais, aliada à injeção de recursos no mercado por meio do auxílio emergencial de R$ 600, nos últimos três meses, contribuíram para que a economia não parasse.

Não se pode descartar o impacto do afrouxamento da política de distanciamento social nesses resultados, ainda que o outro lado da moeda seja o alto custo em termos de impacto no sistema hospitalar e no número de mortes. O Brasil já tem mais de 65 mil mortes, sendo o segundo do mundo em número de óbitos e infectados, com 1,6 milhão de casos confirmados, segundo a Universidade Johns Hopkins, atrás apenas dos Estados Unidos. Isso representa 12% das mortes e 14% dos casos no planeta, com grande número de mortes por milhão de habitantes: mais de 300. Com quase 700 mil casos de infecções pelo novo coronavírus, a Índia é o país que mais se aproxima de nós, com 24 mil novos casos nas últimas 24h. O número de mortes na Índia ainda é relativamente baixo: 19,6 mil. Desde 1º de junho, porém, a epidemia cresceu exponencialmente naquele país, por causa das medidas de relaxamento da quarentena. Mumbai, Nova Déli e Madras, as principais cidades indianas, são os centros de propagação exponencial da epidemia. Um templo da capital foi transformado em hospital de campanha para 10 mil pessoas. [Lamentavelmente a imprensa não destaca o número de recuperados - o governo estilo 'vacilão' também não divulga com destaque.
Tomando Brasília como referência o número de RECUPERADOS nas últimas 24 horas é SUPERIOR ao de infectados.

O número de recuperados, tomando como  referência os últimos dez dias, tem crescido em proporção maior do que o dos infectados, sendo que nas últimas 24 horas ultrapassou àquele número.
Considerando o total  geral de recuperados, se constata que  já supera os 80% do total geral de infectados.

EM TEMPO: se o presidente Bolsonaro estiver infectado, há grande possibilidade, que tenha sido contaminado no almoço realizado sábado, 4, na Embaixada dos EUA, comemorando a independência da terra do Trump.] 

Enquanto uma parte da população corre do coronavírus e outra vai atrás do pão de cada dia, o governo Bolsonaro continua sem ministro da Saúde: interino na pasta, o general Eduardo Pazuello é um capacete sobre a cadeira. A “imunização de rebanho” dispensa um ministro de verdade. A situação na Educação também é caótica, pois o governo ainda não tem um ministro para a pasta. O cargo é alvo de uma queda de braços entre os filhos de Bolsonaro, os militares e os partidos do Centrão. [é lamentável que o presidente Bolsonaro ainda aceite que seus filhos, que não tiveram votos para presidente - sequer foram candidatos, interfiram em  nomeações.
Mais triste  é o guru de Virgínia ainda ter voz no governo Bolsonaro.] São mais de 100 dias sem aulas, sendo que apenas 15 estados mantêm efetivo controle sobre a frequência dos alunos, que é muito baixa. Como no Sistema Unificado de Saúde (SUS), a pandemia também escancarou, na Educação, as abissais desigualdades sociais existentes no Brasil.


E la nave va [aos nossos dois leitores:
façam um favor a vocês mesmo e leiam o parágrafo abaixo.]
Como na alegoria de Federico Fellini sobre a nau dos insensatos (a sátira de Sebastian Brant), e la nave va. Lembrei-me do filme por causa da morte do grande compositor e maestro Ennio Morricone (Era uma vez no Oeste), o favorito do diretor Sérgio Leoni. O compositor preferido de Fellini era Nino Rota, que morreu em abril de 1979.

Em vez de chamar Morricone para fazer as músicas de sua obra-prima, Fellini optou por sua única trilha não-original. Deu à película um caráter de cortejo fúnebre, operístico, com personagens excêntricos como passageiros do navio Glória: matronas, palhaços, tenores, sopranos, pervertidos sexuais, uma equipe de jornalismo e um rinoceronte são embalados pela La Forza del Destino, de Giuseppe Verdi, e outras óperas, de Bellini, Tchaikovsky e Rossini. Diria Machado de Assis (Dom Casmurro), Deus criou o planeta para que Satanás encenasse a ópera.

Com febre alta e muitas dores, o presidente Bolsonaro está com suspeita de Covid-19. Pode ser dengue.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense





domingo, 5 de julho de 2020

Golpes à democracia - Lourival Sant'Anna

Rússia, China, Brasil e EUA assistem a processos de enfraquecimento da democracia ao longo do ano

A democracia sofreu golpes na Rússia, China e Estados Unidos na semana que passou, mas recebeu alentos na Europa e no Brasil. Um referendo aprovou mudanças constitucionais que permitem a Vladimir Putin se eleger para mais dois mandatos de seis anos, a partir de 2024, quando termina o atual. Muitos russos gostam de Putin, que identificam com a estabilidade, depois das rupturas traumáticas dos anos 90. 

[a democracia sempre nos pareceu um bom regime; 
só que de uns tempos para cá, não só no Brasil, muitos dos 'donos do poder', a pretexto de manter as vantagens da democracia - no conceito que eles entendem ser o modelo ideal de poder, de democracia - violam os direitos dos que discordam do modelo que eles pretendem impor, mesmo  que tais direitos estejam na democracia que eles dizem ter interesse em manter.]

Mas muitos não votaram exatamente pela sua perpetuação no poder. 
A consulta era sobre um pacote de emendas, que atrela o salário mínimo a um cálculo de renda mínima, corrige as aposentadorias pela inflação e declara casamento união entre homem e mulher. As opções eram sim ou não para o pacote todo. [convenhamos que as vantagens do pacote,compensam amplamente manter o seu autor até 2036.] 

A propaganda em torno do referendo focou nos benefícios salariais e no ataque ao casamento de homossexuais, numa Rússia que se tornou mais conservadora nas últimas duas décadas sob Putin, aliado da Igreja Ortodoxa. Ele governa a Rússia desde 1999. Em 2036, terá 83 anos.

O regime chinês emendou a Lei Básica de Hong Kong, introduzindo normas de segurança que, essencialmente, criminalizam os protestos, com prisões perpétuas por motivos vagos, como “subversão” ou “vinculação com estrangeiros”. Centenas de pessoas já foram presas. Na prática, deixa de existir o status de semiautonomia, e o modelo de “um país, dois sistemas”, consagrado no acordo da devolução do território à China pelo Reino Unido, que deveria durar 50 anos, até 2047.

O presidente Donald Trump deixou claro que investirá na divisão dos americanos para tentar se reeleger em novembro. Em um tuíte, por exemplo, ele disse que pode revogar uma lei que beneficia moradia de negros nos subúrbios, porque ela “desvaloriza” o patrimônio de “grandes americanos”. Noutro, afirmou que a frase “Vidas Negras Importam”, pintada pela prefeitura de Nova York na 5.ª Avenida, onde ele tem escritório, “denigre uma avenida luxuosa”.


Em contrapartida, a vitória dos Verdes nas eleições municipais francesas, domingo passado, representa um alento para a democracia: trata-se de uma corrente da esquerda europeia que se atualizou, entendeu a importância do papel das empresas na preservação ambiental, e se prontifica a fazer alianças com grupos conservadores. Essas alianças já aconteceram em seis Estados alemães, no governo da Áustria e, há uma semana, no da Irlanda. Os ambientalistas se tornam, assim, uma alternativa à extrema direita e à esquerda estatizante, na formação dos governos europeus.

A Alemanha assumiu a presidência de turno da União Europeia. No que poderá ser a última grande missão da chanceler Angela Merkel antes de se aposentar, a UE tem três desafios este semestre: levar adiante a discussão sobre o aprofundamento de sua integração, cujas falhas ficaram evidentes na gestão desigual e descoordenada da pandemia; repartir os custos das políticas de mitigação frente à crise sanitária; e negociar os termos finais da saída do Reino Unido, cujo prazo termina no fim do ano.

O liberalismo, a expressão da democracia na economia, também ganhou um ânimo, na reunião de cúpula do Mercosul. Brasil, Paraguai e Uruguai mantiveram-se alinhados no projeto de reduzir as tarifas do bloco e negociar acordos de livre-comércio com Canadá, Coreia do Sul, Cingapura, Índia e Líbano. A voz dissonante foi a do presidente argentino, Alberto Fernández.

A democracia brasileira demonstra vitalidade, com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal retomando a iniciativa, para colocar limites às extrapolações de integrantes do governo federal. O cuidado maior com as palavras no círculo do presidente Jair Bolsonaro e a demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação sugerem um reconhecimento da força dos freios e contrapesos. Nada está jamais garantido para a democracia. Ela é uma construção cotidiana.

Lourival Sant'anna, jornalista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Primeiro e segundo - Alon Feuerwerker

O presidente Donald Trump disse que os Estados Unidos estudam suspender os voos do Brasil para os Estados Unidos por causa da escalada aqui da Covid-19. A rigor, haveria mais razões ainda para Jair Bolsonaro suspender os voos de lá para cá. Basta comparar as estatísticas macabras. A diferença, parece, é eles estarem já ensaiando a descendente, enquanto nós aqui escalamos com vigor a montanha.

Bem, como os números de lá já mostram há algum tempo, e como os daqui começam a mostrar, ambos os países estão na luta por ouro e prata na tétrica contabilidade planetária das mortes por SARS-CoV-2Em valores absolutos, claro. Uma parte disso é por serem muito  populosos. Mas não explica tudo. Índia, Rússia e China estão aí para não me deixar mentir.

[o que o primeiro parágrafo  diz estar em estudos, já se tornou realidade.
Segundo Trump comunicou, bem ao seu estilo  - faz que vai, não vai,volta a ir e retorna - cidadãos não americanos que pretendam entrar nos USA, tendo passado no Brasil há menos de 14 dias não ingressarão naquele país.
Ótimo. Trump está certíssimo.
Só que o presidente Bolsonaro tem a obrigação, por  DEVER LEGAL e MORAL,  de proibir IMEDIATAMENTE o ingresso de pessoas procedentes dos Estados Unidos ou que lá tenham passado no mesmo prazo.
Exceto se, o Supremo for acionado por algum partideco querendo mostrar serviço e proíba o Poder Executivo de atuar no assunto.

A subestimação do problema e a descoordenação política interna são boas pistas. Agora deve começar por aqui mais pesadamente o blame game, que lá já vai à toda, até porque tem eleição presidencial este ano. Mas se você apostar que a ferocidade vai ser semelhante não corre risco de perder dinheiro.

Alon Feuerwerker, jornalista - Análise Política